PDF - jorge santos

AUTUMN
HOUSE
Autumn House começou por ser um livro
composto por imagens recortadas de revistas e por fotografias tiradas pelo artista. Após
terminar de preencher todas as páginas do
livro, Jorge Santos sentiu que o projecto ainda estava incompleto. Decide então efectuar
uma versão em diapositivos, a expô-la em
formato de um dupla projecção. Este trabalho
revelar-se-ia decisivo na sua produção, pois
marcou o fim da criação em pintura e o início das suas pesquisas lumínicas. O físico da
superfície pictórica transformava-se então no
etéreo da luz associada à imagem projectada.
É também um momento marcante no seu
percurso por ser o início de uma conversa
com o espaço no qual se exibe a peça. Este,
que vira a ser um elemento estruturante do
seu trabalho, ganha em Autumn House, uma
preponderância especial.
Tal como o título o indicia, Autumn House
centra-se em torno da ideia da casa, ou pelos menos uma ideia construída do que uma
casa deveria ser. Relembre-se aqui que as
imagens são muitas delas provenientes de revistas de decoração. A sequência de imagens
projectadas leva o observador a deambular
por um espaço, a percorrê-lo infinitamente.
Este constitui-se numa espécie de lugar sem
lugar, pois existe apenas através do cruzamento da realidade fotografada com a imaginação do espectador, assim transformado
em elemento essencial à construção da obra.
É ele quem é chamado a arquitectar significados suscitados pelo que vê.
Na dinâmica de Autumn House é igualmente
capital a dimensão narrativa. A concepção da
instalação da obra enquanto dispositivo cénico evoca uma experiência cinematográfica
na qual a narrativa é estruturante (a própria
obra se socorre do uso da linguagem cinematográfica, e implicitamente da narrativa,
na sua construção).
Esta é uma obra sobre a memória, sobre a
sua visualização e ficção. As imagens recolhidas pelo artista, as vivências que simbolizam,
firmam-se numa memória simultaneamente
colectiva e individual. A casa que a obra apresenta, fundamenta-se num cruzamento entre
as memórias pessoais do artista e um ficcionar dessas (através da intersecção com
imagens de “casa perfeitas”). Este cariz autobiográfico é condensado no aparecimento
esporádico da silhueta do próprio artista.
A dimensão de memória colectiva emerge
quando Jorge Santos suscita, no espectador,
um movimento comparativo entre a sua casa
e a casa ficcionada da obra.
JORGE
SANTOS
Autumn House began by being a scrapbook
with magazine clippings and photographs
taken by the artist. After filling all the pages
of the book, Jorge Santos felt that the project
was still incomplete. He then decides to make
another version, in slideshow, and exhibit it in
a double projection format. This work would
reveal itself decisive in his artistic production, because it closed his painting period and
opened the beginning of his luminic research
work. What was physical in the pictorial surface became ethereal in light association with
the projected image. This is also a determinant moment in his artistic growth because
it is also the beginning of a dialogue with the
space where the work is to be exhibited. In
Autumn House, this relationship, which would
later become a structuring element in his
work, obtains a special prominence.
Just as the title unveils, Autumn House focuses on the idea of house, or at least on an
established idea of what a house should be.
Let us recall here that many of the images are
clippings from interior decoration magazines.
The sequence of projected images leads the
observer to wander around a certain space, to
walk through it infinitely. This becomes a kind
of place without place, for it only exists in the
crossing of photographed reality and the observer imagination, and is thus transformed
into an essential element for the construction
of the work of art. He/she is asked to draw out
meanings from what he/she sees.
The narrative dimension is also crucial for the
dynamics of Autumn House. The concept of
the work installation as a scenic device evokes
a cinematographic experience in which narrative is structure (the work itself uses in its
construction the cinematographic language
and, implicitly, narrative)
This is a work on memory, on the visualisation
of memory and fiction. The images gathered
by the author, the experiences they stand for
as symbols, fixate on a both individual and collective memory. The house shown in the work
stands on a crossway between the author personal memories and their fiction (by the intersection with images of “perfect houses”).
This autobiographical feature is condensed in
the occasional appearance of the silhouette of
the artist himself. The collective memory dimension emerges when Jorge Santos incites
in the spectator a comparative movement between his/her own house and the work’s fiction house.
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