silviculura preventiva

Transcrição

silviculura preventiva
SILVICULTURA GERAL
Silvicultura Preventiva
Defesa contra incêndios florestais
Mário Cunha FCUP
Textos dedicados a docência exclusivamente
para circulação interna dos alunos da
licenciatura em Engª Agronómica e Minor da
FCUP
SILVICULTURA PREVENTIVA
Conceitos
SILVICULTURA PREVENTIVA
REDE DE DEFESA DA FLORESTA
Intervenção na totalidade do
povoamento ou da formação
vegetal, através das práticas
silvicolas e de planeamento
normais.
Infraestruturação do território
com objectivos primordiais
de defesa contra incêndios,
em locais especialmente
seleccionados
-
Carácter Individual
O Povoamento
- Carácter colectivo
- A paisagem
Mário Cunha FCUP
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SILVICULTURA PREVENTIVA
Introdução
O fogo é o maior inimigo da floresta, mas a floresta sempre viveu com o
fogo. O fogo é por vezes considerado como um factor natural que contribui
para modelar as espécies e os ecossistemas, com marcada importância nos
sistemas florestais mediterrânicos. Todavia, o regime de fogo que
actualmente conhecemos nas nossas florestas, nada tem de natural.
Esta dupla acção do fogo está bem patente na etnografia e mitologia de
diversas sociedades. O provérbio Finlandês “o fogo é um mau patrão, mas
um bom criado”, ilustra bem o papel que o fogo tem tido ao longo do tempo
nas sociedades e as diferentes formas como a sua acção pode ser encarada.
O fogo é um patrão selvagem, destruidor, cruel que desbasta tudo à sua
passagem. Ver o fogo como agente de destruição (incêndio), espalhando
medo e representando pânico na sua versão colectiva, faz-nos esquecer as
práticas ancestrais e os serviços que presta actualmente. Assim, se for
domesticado é um criado eficaz e valioso (fogo como ferramenta) ,
nomeadamente para:
-Gestão de combustível e prevenção florestal (“fogo controlado” para
compartimentação da paisagem).
-Luta contra incêndios (“contra fogo” através da queima estratégica de
combustível, para controlar o avanço do fogo).
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SILVICULTURA PREVENTIVA
Introdução
Os incêndios em Portugal são umas das maiores ameaças para a nossa
floresta. Não só pela perdas de bens, serviços e vidas, custos de combate e
plantação que acarreta, mas também pela retracção do investimento na floresta
que originam.
A severidade e recorrência dos incêndios florestais em Portugal, comporta-se
como a figura mitológica Grega Phoenix, capaz de renascer das cinzas e pronta
a arder passado pouco tempo. Este regime dos incêndios no nosso país, são
provavelmente resultados da adaptação das espécies ao longo de muito anos a
um piroambiente que em tudo se conjuga para que o fogo surja com
frequência.
Todavia, este piorambiente favorável aos incêndios é, ainda, favorecido por
uma serie de debilidades de natureza estrutural e cultural. Este ultimo aspecto
é sempre realçado uma vez que perante a notícia de um incêndio ocorre(me)nos sempre o pensamento de que algo poderia ter sido feito para o evitar.
Os incêndios florestais sempre foram um grave problema relacionados com a
protecção florestal. Todavia, a sua excessiva mediatização não deve revelar
para segundo plano as pragas e doenças que actualmente atingem dimensões
problemáticas:
- Nematode do Pinheiro, declinio das quercineas, tinta e cancro do castanheiro,
pragas do eucalipto, invasão das acácias…
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SILVICULTURA PREVENTIVA
Fogo vs incêndio
Fogo:
•Combustão com chama (geralmente)
•Factor natural
•Selecção de espécies, modelação dos ecossistemas
•Diferentes serviços
Incêndio:
•Fogo utiliza combustíveis cuja queima não estava
prevista, o que leva a conjugação de esforços para a
sua extinção
•Factor cultural
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USO DO FOGO
•Baldios
•Área importante em Portugal (Norte e Centro)
•Problemas sociais
•Desaproveitamento dos recursos
• Intervenção fitotécnica:
• Fogo
• Pastoreio
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EFEITOS E CONSEQUÊNCIAS DOS INCÊNDIOS
Principais prejuízos
1) económicos, sociais e n/tangíveis
•Perdas de vidas
•Perda de valor: na floresta, na comunidade, na fileira
•Custos: combate e nova instalação
• ↑risco => retrai o investimento na floresta
•…
2) Ambientais
•Erosão do terreno e perda de solo fértil
• causas: falta de vegetação e cinzas (“camada hidrofóbica”)
• deposição em aquíferos
•Perda de fertilidade do solo
• oxidação da MO => perda de nutrientes
• pH >8,5 (libertação de bases soluveis: Ca, P, K..)
•↓Retenção de água
•Contaminação do ar => alteração do clima
•Impacto na paisagem
•Perda de diversidade => diminuição de habitats
•….
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SILVICULTURA PREVENTIVA
Elementos do “piroambiente” (ênfase na floresta portuguesa)
- Condições climáticas e topografia: secas, fortes ventos … estacionais
• Temperatura
> 30ºC,
• Velocidade do vento > 30 km/h,
• Humidade relativa
< 30%
- Tipo de vegetação: espécies (florestais) e combustíveis
• Espécies tolerantes
• Espécies facilitadoras
• Espécies invasoras
-Factores estruturais (passado e do presente)
• Politicas florestais erradas
• Gestão absentista
• Deficiente organização dos espaços florestais
• Prevenção vs Combate (++++)
- Actividade humana (agro-pastoril):
•Fogo como ferramenta (agricultores, silvicultores, pastores,
•Práticas tradicionais
- “Cultura florestal”
•Espectadores vs protagonistas
•Mistificação do problema
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CAUSAS DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS
- Causas naturais (Portugal 3%; Espanha 3,7%; Austrália %)
•Trovoadas, actividade vulcânica, faíscas originas por derrocadas
- Negligências, descuido no uso do fogo:
• regeneração dos pastos,
• eliminação de restos de colheitas (agrícolas e florestais)
• descuidos de excursionistas
• fumadores
- Acidentes
•Queda de linhas eléctricas
•Acidentes automóveis
- Fogos intencionados
• eliminação da cobertura florestal para outros usos: Pastoreio, Agricultura
• facilitar o exercício da caça,
• vinganças,
• eliminar animais que podem causar danos nas culturas,
• especulação imobiliária
• redução do preço da madeira
- Piromanos
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SILVICULTURA PREVENTIVA
Tipos de fogo
-De acordo com o piso de vegetação afectada
-Fogo de sub-solo
-Fogo de solo
-Fogo de copa
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SILVICULTURA PREVENTIVA
Propagação do fogo
“Triângulo do fogo”
OXIGÉNIO
FACTORES
INTERVENIENTES
•Todos os factores têm de existir em simultâneo
•Comportamento do fogo depende da relação entre os factores
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SILVICULTURA PREVENTIVA
Factores ambientais
O incêndio florestal comporta-se de acordo com o ambiente em
que se encontra
Os factores básicos deste ambiente são:
1- Topografia
(relacionados com a forma do terreno
interfere com os factores atmosféricos)
(humidade, chuva, temperatura e vento)
•Declive:
•Exposição e Relevo
• Altitude: calor e combustível
Não podem ser alterados
Considerados no planeamento
2- Tempo atmosférico
3- Combustível vegetal
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FACTORES TOPOGRÁFICOS
interferem com os factores atmosféricos através das características
relacionadas com a forma do terreno:
- Declive do terreno (ver adiante)
- Exposição (ver adiante)
- Relevo (ver adiante)
- Altitude
ALTITUDE:
- altitude:
•  temperatura
• precipitação
•  humidade relativa
-Influência os elementos do triângulo do fogo:
• Calor
• Combustível (< qtd em altitude)
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FACTORES TOPOGRÁFICOS
Declive e exposição
declive =>  velocidade de progressão das chamas:
-Combustível + próximo das chamas
-Pré-aquecimento do combustível
Exposição => altera as características do combustível
Efeito do declive
Aproximação
da coluna de ar
quente do
declive
Efeito da exposição
Insolação
Corrente
de ar
Exposição
SeW
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FACTORES TOPOGRÁFICOS
Efeito do declive
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FACTORES TOPOGRÁFICOS
Relevo
Vales fundos e estreitos actuam como “chaminés”:
- Activam o incêndio
- pré aquecimento do combustível
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FACTORES ATMOSFÉRICOS
Efeito do vento, temperatura e precipitação (nº dias)
Vento:
- transporta O2
- evapora H2O
- levanta fagulhas e brasas
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COMBUSTÍVEL VEGETAL
Tipos de combustíveis segundo a sua localização
aéreo
- Combustíveis subterrâneos
•Raízes das plantas
•Originam o fogo de sub-solo
- Combustíveis de solo
•Estrato herbáceo e arbustivo
•Altura < 1,5 metros
- Combustíveis aéreo
•Copas das árvores
•Altura > 1,5 metros
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ACTUAR SOBRE OS COMBUSTÍVEIS
Características do combustível
Qualidades que influenciam a sua facilidade para arder e propagar o fogo
Podemos actuar nas características dos combustível para influenciar
o comportamento do fogo:
•Composição do povoamento
•Quantidade
•Tamanho e forma
•Conteúdo de humidade
•Continuidade
•Vertical
•horizontal
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ACTUAR SOBRE OS COMBUSTÍVEIS
Características do combustível
- Quantidade
•Maior qtd combustível => Maior intensidade de fogo
•Qd se consome 50% do combustível a intensidade reduz-se a metade
- Tamanho
•Quanto menor for o tamanho, maior é a capacidade para absorver calor entrar
em combustão
- Humidade
•Determina o calor necessário para prender o combustível
•Quando inicia o incêndio o combustível liberta fumo devido à evaporação da
água
•1º é fumo branco, depois vai se tornando negro (os pneus tem pouca
humidade pelo que quando ardem libertam fumo branco).
-Continuidade
-Os combustíveis ocupam de modo natural toda a área desde a superfície do
do solo até ás copas das árvores
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SILVICULTURA PREVENTIVA
Engloba um conjunto de medidas que são aplicadas ao nível:
- Da composição especifica
- E dos seu arranjo estrutural
Medidas de silvicultura e infra-estruturação:
Gestão dos combustíveis
- Garantia de descontinuidade vertical e horizontal dos combustíveis
- Alternância de parcelas com distinta inflamabilidade
Dimensão das parcelas:
- Dimensões 20-50 ha e 1-20 ha (zonas com > risco)
- Povoamentos monoespecificos e equiénios:
• Superfície continua < 50 ha sendo compartimentados:
• Linhas de água, usos de solo c/ baixo risco de incêndio,
faixas de arvoredo de alta densidade.
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SILVICULTURA PREVENTIVA
Combustível
OBJECTIVO:
• Diminuir a ignição e propagação
• Máxima resistência dos povoamentos à passagem do fogo
• Reduzir a dependência do combate para a sua protecção
Como actuar
• Continuidades dos estratos de combustível nos povoamentos
• Inflamabilidade e ‘combustabilidade’ das espécies florestais ( arvoredo,
matos etc)
• ¾ gestão das continuidades dos combustíveis
• ¼ gestão das espécies
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ACTUAR SOBRE OS COMBUSTÍVEIS
Descontinuidades
•Propagação do incêndio
•Severidade do incêndio
-Continuidade vertical
-Continuidade horizontal
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ACTUAR SOBRE OS COMBUSTÍVEIS
Descontinuidades
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ACTUAR SOBRE OS COMBUSTÍVEIS
Descontinuidades: aceiros de meia encosta
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SILVICULTURA PREVENTIVA
gestão de combustível
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SILVICULTURA PREVENTIVA
Descontinuidades
Efeito da idade da parcela na intensidade do fogo em povoamento
estremes de eucaliptos
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ACTUAR SOBRE OS COMBUSTÍVEIS
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Silvicultura preventiva
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SILVICULTURA PREVENTIVA
Ordenamento das espécies
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SILVICULTURA PREVENTIVA
Ordenamento das espécies
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PROTECÇÃO CONTRA A
EROSÃO
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ANÁLISE DOS
INCÊNDIOS
- Nº de ocorrências
- Área ardida
Tipologia de incêndios
florestais
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ANÁLISE DOS
INCÊNDIOS
Susceptibilidade a
incêndios florestais
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