Cardeal Robert Sarah Conselho Cor Unum

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Cardeal Robert Sarah Conselho Cor Unum
Cardeal Robert Sarah
Conselho Cor Unum
Saudação aos participantes do encontro de Bispos Presidentes das Conferências episcopais
e das Caritas em África.
Kinshasa (RDC), 20 de Novembro de 2012
Sr. Cardeal Dom Laurent Mossengwo,
Sua Excelência Reverendíssima Núncio Apostólico na Republica Democrática do Congo,
Caros Irmãos no Episcopado,
Sua Excelência O Sr. Primeiro-Ministro,
Reverendos Padres,
Senhores Directores de Caritas,
Caros irmãos e irmãs em Cristo,
Estou muito feliz e agradeço-vos do privilégio que me fazem de endereçar-vos a alocução de
boas vindas por ocasião deste encontro organizado em conjunto pelo nosso decasterio e Caritas
África. Este encontro quer reunir os Bispos Presidentes das Conferências Episcopais e o Bispos
Presidentes das Caritas nacionais. É para mim uma alegria reencontrar-me entre vós nesta terra
de África, que também é a minha própria, para reflectir convosco sobre a “Identidade e Missão
de Caritas à luz da Encíclica DEUS CARITAS EST”.
Saúdo a Sua Excelência o Primeiro-Ministro e as autoridades politicas que nos honram pela sua
presença, traduzindo-nos assim o interesse e a estima do Estado, perante as obras da Igreja a
favor da pessoa humana e sobretudo, a favor dos mais pobres e os mais sofridos da nossa
sociedade.
Quisemos vivamente que este encontro fosse especialmente dirigido aos Bispos. Com efeito, se o
Bispo é responsável da acção pastoral da Igreja no seu todo, é particularmente responsável da
pastoral da caridade. Desde a minha chegada a Cor Unum, pude entender a importância de
realçar e de insistir sobre essa responsabilidade do bispo no exercício da caridade.
Agradeço a Caritas África e sobretudo o Presidente, Sua Excelência Reverendíssimo Bispo
Francisco João Silota, que partilhou comigo o anseio de reenquadrar e redefinir este munus
episcopal da diakonia e trabalhou de maneira determinante na organização deste encontro.
Agradeço todos Vós que pudestes responder ao convite permitindo assim viver a comunhão
episcopal através da encíclica Deus Caritas est, evento que penso é o primeiro.
O tema escolhido para este encontro é capital para ajudar-nos a compreender, hoje, quem somos
e qual é o propósito do nosso trabalho, perante os demais desafios, por vezes maiores, que deve
enfrentar a pastoral caritativa da Igreja.
Como sabem, fui Secretário na Congregação para Evangelização dos Povos (Propaganda Fide)
durante nove anos, onde pude viver de perto a realidade do anúncio do evangelho, não somente
em países de missão, mas também em locais e situações sociais novas que chamamos hoje
areópagos, isto é, novos locais onde deve se proclamar o evangelho (vide Ac 17). Há dois anos,
o Santo Padre fez-me a honra de me indicar para dirigir o Conselho Pontifício Cor Unum. É
como Presidente do Conselho Pontifício que venho dialogar convosco, durante estes dias para
caminharmos juntos para a compreensão da pastoral caritativa da Igreja.
O nosso Decastério Cor Unum, isto é, “um coração único” retoma as palavras que o Novo
Testamento usa para definir a Igreja primitiva: “A multidão de crentes tinha um coração único e
uma alma única. Ninguém dizia seu o que lhe pertencia, mas entre eles tudo era comum ” (Ac 4,
32). Nesta multidão de crentes, isto é, nessa Igreja primitiva, o coração de que se trata deve ser
compreendido como um impulso de profunda comunhão de espíritos e de sentimentos que tem
como origem a nossa pertença a Cristo, porque, como o diz São Paulo: “tudo é a vosso, mas Vos
sois de Cristo e Cristo é de Deus” (I Cor, 22-23). Isto dá uma cor, uma forma específica à
pastoral caritativa da Igreja, porque dizendo “cor unum”, não entendemos expressar simples
bons sentimentos humanos ou uma certa filantropia, mas a necessidade de amar, porque em cima
houve o encontro e a experiência pessoais e íntimas com Cristo vividas na fé, a esperança e a
caridade. Assim, na fonte de toda acção pastoral, há Cristo. E por isso que a Igreja, se ela quiser
preservar a identidade cristã da missão caritativa, deverá constantemente fixar o seu olhar nele.
O Conselho Pontifício Cor Unum foi criado em 1971, com a decisão do Papa Paulo VI que
afirmara que “a responsabilidade do testemunho de Cristo pertence à Igreja e o testemunho
somente tem o seu sentido quando é feito em nome de Cristo na Igreja (…). As Vossas
competências não têm o seu sentido cristão se não fizerem referência às dimensões do Corpo de
Cristo que é a Igreja”1
Na sua Encíclica Deus Caritas est, Bento XVI declare que “Está desde já claramente visto que o
verdadeiro tema das diferentes Organizações católicas que cumprem com o serviço de caridade
é a Igreja própria, e isso a todos os níveis, começando pelas paróquias passando pelas Igrejas
11
Doc. Católico, 7 de Janeiro de 1973
particulares, até à Igreja Universal. É por isso que foi muito oportuno que o meu Venerado
Antecessor Paulo VI tenha instituído o Conselho Pontifical Cor Unum como uma instância da
Santa Sé, responsável pela orientação e coordenação entre as organizações e as actividades
caritativas promovidas pela Igreja universal. Da estrutura episcopal da Igreja se toma
providencia para que nas Igrejas particulares, os Bispos, na qualidade de sucessores dos
Apóstolos, tenham a responsabilidade de implementar, até hoje, o programa referido nos Actos
dos Apóstolos (vide 2, 42-43” DCE n.32
Existem três áreas que se espelham muito nitidamente na missão dada a Cor Unum:
A primeira consiste em realçar os múltiplos organismos caritativos católicos dando a
oportunidade aos que trabalham no seio destes, de ter um lugar de referência e de encontro junto
da Santa Sé. O nosso primeiro trabalho consiste então em encorajar e acompanhar os organismos
católicos de caridade. Este ano, o Santo Padre deu-nos a missão de acompanhar de perto a
Confederação Caritas Internationalis que adquiriu um papel particular no seio da comunidade
eclesial. “Ela é chamada, diz Bento XVI, para partilhar, com a Hierarquia eclesiástica, graças a
sua personalidade jurídica pública, a missão da Igreja através da caridade vivida, esse amor que é
o próprio Deus” 2 Monsenhor Giampietro Dal Toso, Secretario de Cor Unum, fará uma
intervenção nesse tema.
A segunda área dá missão a Cor Unum de manifestar presença de amor e compaixão do Santo
Padre a todos os que sofrem das consequências de uma catástrofe natural ou humana. A esse
respeito duas fundações nasceram: A Fundação João Paulo II para o Sahel cujo objectivo é
ajudar os países do Sahel muito afectados pelo grave défice de chuvas e ameaçados pela
desertificação e a Fundação Populorum Progressio em socorro das populações desfavorecidas na
América Latina e nas Caraíbas. Tenho que sublinhar que Cor Unum não é um organismo de
financiamento de projectos. O seu papel é de manifestar a solicitação do Santo Padre junto dos
que mais sofrem e dos mais desfavorecidos graças a doações de fiéis que se uniram no anseio da
fé profunda para responder aos apelos do Santo Padre e expressar, em comunhão com ele, a
caridade da Igreja.
O terceiro aspecto que gostaria de sublinhar é que o nosso Conselho Pontifical tem a missão de
promover a catequese da caridade. Esta catequese da caridade tem muitas implicações. Um
número crescente de pessoas e organismos, mesmo internacionais, estão preocupados com os
problemas humanitários. E por isso que é necessário de insistir sobre a origem, as motivações e
as características da pastoral caritativa da Igreja. Temos que compreender igualmente que a
caridade da Igreja é uma grande força de testemunho: é a via privilegiada do anúncio de Deus
Amor que se realiza através do esplendor da beleza do coração nas acções de compaixão, de
2
Discurso do Papa Bento XVI aos participantes na Assembleia Geral da Caritas internationalis,
27 de Maio de 2011
comunhão e de amor do discípulo de Cristo. Não visa unicamente o progresso social mas quer
aproximar o homem de Deus, fonte de todo o bem. Ela permite, com a luz de Cristo, entrar no
mundo. O nosso encontro deverá cingir-se nessas temáticas, aprofunda-las, e pô-las em pratica
na esteira do recente sínodo sobre a “Nova Evangelização para a transmissão da fé crista”, com
um olhar particular sobre o nosso continente que, apesar de assolado por muitas pobrezas, possui
ricos e vários recursos.
Nesta vigília da festa da “Apresentação de Maria no templo”, gostaria de confiar o nosso
encontro a esta menina jovem de Nazaré que, pelo seu total abandono e a sua profunda
cooperação à vontade do Pai, permitiu ao amor de Deus de se manifestar no mundo.
Que Deus, pelo seu Espírito iluminante nos assista e abençoe os nossos trabalhos.

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