Estudo Piloto com Administração de Altas Doses de Sirolimus por

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Estudo Piloto com Administração de Altas Doses de Sirolimus por
Rev Bras Cardiol Invas 2004; 12(4): 172-177.
Chaves ÁJ, et al. Estudo Piloto com Administração de Altas Doses de Sirolimus por Via Oral para Prevenção da Reestenose IntraStent em Lesões de Novo: Avaliação Seriada por Meio do Ultra-Som Intracoronário. Rev Bras Cardiol Invas 2004; 12(4): 172-177.
Artigo Original
Estudo Piloto com Administração de Altas Doses de
Sirolimus por Via Oral para Prevenção da Reestenose
Intra-Stent em Lesões de Novo: Avaliação Seriada
por Meio do Ultra-Som Intracoronário
Áurea J. Chaves1, Amanda G. M. R. Sousa1, Fausto Feres1, Alexandre Abizaid1, Luiz A. Mattos1,
Rodolfo Staico1, Marinella Centemero1, Luiz F. Tanajura1, Andrea C. Abizaid1, Arilson Rodrigues1,
Ângela Paes1, Gary S. Mintz2, J. Eduardo Sousa1
RESUMO
SUMMARY
Este estudo piloto avaliou a segurança e a eficácia do
tratamento com altas doses de sirolimus por via oral (dose
de 15 mg, 24 horas antes da intervenção coronária percutânea,
seguido por dose diária de 5 mg, durante quatro semanas),
em 15 pacientes submetidos a implante eletivo de stents
metálicos convencionais em lesões de novo. A média de
idade dos pacientes do estudo era 59±9 anos, sendo 73% do
sexo masculino e 13% diabéticos. O diâmetro de referência
foi 3,04±0,38 mm e a extensão da lesão 14±2 mm. A análise
angiográfica e volumétrica por meio do ultra-som intravascular foi obtida em todos os pacientes aos 6,0±0,2 meses.
Dois (13%) pacientes apresentaram reestenose binária, com
perda tardia intra-stent e intra-segmento de 0,61±0,31 mm
e 0,67±0,45 mm, respectivamente; o volume de obstrução
de neoíntima foi de 28,5±15,8%. Nos segmentos de referência
adjacentes não se observou aumento significativo de placa,
nem remodelamento vascular constritivo. Não foram registrados
óbitos, infartos do miocárdio ou revascularizações de lesõesalvo, no acompanhamento de 24 meses. O nível sangüíneo
médio de sirolimus foi de 13±7 ng/ml. Não foram encontradas
correlações entre os níveis da medicação do estudo e a
perda tardia (r=0,15, p=0,59) ou o volume de obstrução da
neoíntima (r=0,23, p=0,47). Os efeitos colaterais foram freqüentes (80%), resultando na redução da dose em quatro pacientes e a interrupção da administração do fármaco em um. Os
resultados deste estudo piloto sugerem que a administração
de altas doses de sirolimus por via oral não mostra melhora
relevante dos parâmetros angiográficos ou ultra-sonográficos
da reestenose, após o implante de stents convencionais em
lesões de novo, quando comparados a controles históricos.
Considerando-se a relação eficácia/segurança, nossos resultados
não encorajam novos estudos para avaliação do protocolo
atual para a prevenção de reestenose intra-stent.
Pilot Study With an Intensified Oral Sirolimus Regimen
for the Prevention of In-Stent Restenosis in de Novo
Lesions: A Serial Intravascular Ultrasound Study
This pilot study evaluated the safety and efficacy of an
intensified oral sirolimus regimen (15 mg loading dose 24
hours before PCI, followed by a daily dose of 5 mg for 4
weeks) in 15 patients submitted to elective bare metal
coronary stent implantation for de novo lesions. Mean patient
age was 59±9 years; 73% were male, and 13% were
diabetics. The reference diameter was 3.04±0.38 mm, and
lesion length was 14±2 mm. Angiographic and volumetric
intravascular ultrasound (IVUS) analysis was obtained in all
patients at 6.0±0.2 months. Two patients met the definition
of in-segment binary restenosis (13%); in-stent and in-segment
angiographic late loss was 0.61±0.31 mm and 0.67±
0.45 mm, respectively, and the percent neointimal volume
was 28.5±15.8%. Neither significant plaque increase nor
constrictive vascular remodeling were found in adjacent
reference segments. At 24-month follow-up no deaths, myocardial infarctions, or target lesion revascularizations were
detected. Mean sirolimus blood level was 13±7 ng/ml; no
correlations were found between drug levels and late loss
(r=0.15, p=0.59) or IVUS percent neointimal volume (r=0.23,
p=0.47). Side effects were frequent (80%) leading to dose
reductions in four patients, and drug discontinuation in one.
The results of this pilot study suggest that an intensified
5-mg oral sirolimus regimen resulted in no relevant improvements in the angiographic and IVUS parameters of restenosis
after stent implantation in de novo lesions when compared
to historic controls. Considering the efficacy/safety balance,
our results do not encourage further trials evaluating the
current protocol for the prevention of in-stent restenosis.
DESCRITORES: Reestenose coronária. Contenedores. Ultrasom. Sirolimo.
DESCRIPTORS: Coronary restenosis. Stents. Ultrasonics. Sirolimus.
1
Serviço de Cardiologia Invasiva, Instituto Dante Pazzanese de
Cardiologia, São Paulo, Brasil.
2
Cardiovascular Research Foundation, New York, New York.
Correspondência: Áurea J. Chaves. Serviço de Cardiologia Invasiva.
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Av. Dr. Dante Pazzanese, 500
- São Paulo - SP - Brasil - CEP 04012-180
Tel.: (11) 5085-4215 - Fax: (11) 5549-7807 • e-mail: [email protected]
Recebido em: 11/10/2005 • Aceito em: 31/10/2005
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C
omparada aos stents revestidos com sirolimus, a
administração oral de sirolimus foi proposta como
uma estratégia de baixo custo para a prevenção
da reestenose coronária intra-stent. No entanto, estudos
recentes têm demonstrado resultados controversos, que
podem ser explicados por diferenças nos subgrupos
de lesões tratadas (de novo, reestenóticas) ou nos regimes
de administração do fármaco (doses pré e pós-intervenção percutânea, tempo de administração do sirolimus)1-7.
À luz destes dados, conduzimos um estudo piloto
para avaliar a segurança e a eficácia de um protocolo
com altas doses de sirolimus por via oral, para pacientes submetidos ao implante de stents metálicos convencionais em lesões de novo.
MÉTODO
Seleção de pacientes e protocolo do estudo
Os pacientes considerados qualificados para este
estudo piloto foram aqueles que apresentassem uma
lesão de novo , acompanhada por sintomas ou por
prova funcional detectora de isquemia positiva em
uma artéria coronária nativa. Os critérios de exclusão
foram infecção sistêmica, contagem de leucócitos
<4.000/mm3, hemoglobina <10 g/dl, contagem de plaquetas <100.000/mm3, triglicérides >400 mg/dl ou creatinina >2,0 mg/dL. As exclusões angiográficas incluíram diâmetro do vaso alvo <2,5 mm e >3,5 mm,
extensão da lesão >18 mm, estenose não-protegida de
tronco de artéria coronária esquerda >50%, lesões
ostiais, evidência angiográfica de trombo, lesões reestenóticas, oclusões totais, ou fração de ejeção ventricular
esquerda <30%. Foi requerido um teste negativo para
gravidez para pacientes em idade fértil, antes da administração da medicação do estudo, assim como práticas de controle de natalidade aprovadas cientificamente
durante o estudo.
O sirolimus, disponível em solução oral (1 mg/mL,
Wyeth-Ayerst Laboratories, Rouses Point, NY), foi administrado na dose de 15 mg, 24 horas antes da intervenção percutânea, seguido por doses diárias de 5 mg
durante quatro semanas. Os níveis de sirolimus no
sangue, hemograma completo e níveis de colesterol e
de triglicérides em jejum foram obtidos semanalmente
durante a administração da medicação do estudo. As
concentrações sangüíneas de sirolimus foram medidas
por cromatografia líquida de alta performance, pelo
método de detecção ultravioleta8. O estudo foi conduzido em observância aos princípios da Declaração de
Helsinque e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
da Instituição. Todos os pacientes assinaram o termo
de consentimento livre e esclarecido antes de serem
incluídos no estudo.
Procedimento intervencionista e análise
angiográfica e ultra-sonográfica
Os pacientes receberam 200 mg de aspirina e
250 mg de ticlopidina duas vezes ao dia, iniciando
>24 h antes do procedimento. A ticlopidina foi mantida
durante quatro semanas, e a aspirina, indefinidamente.
Os pacientes receberam uma dose inicial de 100 UI/
kg de heparina em bolus (máximo de 10.000 UI), com
doses suplementares para se atingir o tempo de coagulação ativado >250 segundos. Os stents metálicos
convencionais foram implantados de acordo com o
protocolo padrão.
Foram realizados angiogramas após a administração de 200 mcg de nitroglicerina antes e depois do
procedimento, e também no acompanhamento. As imagens angiográficas e ultra-sonográficas foram obtidas
durante o procedimento e no 6º mês de evolução. A
angiografia pós-procedimento foi realizada em pelo
menos duas projeções ortogonais, sendo que as mesmas projeções foram repetidas nos estudos de acompanhamento. A angiografia coronariana quantitativa foi
realizada com equipamento de detecção automática
de bordas (CMS, MEDIS - Cardiovascular Measuring
System). O diâmetro de referência, o diâmetro luminal
mínimo, o porcentual do diâmetro de estenose e o
diâmetro do balão durante inflação máxima foram analisados e medidos. A reestenose angiográfica binária
foi definida como o estreitamento do diâmetro ≥50%
dentro do stent (análise intra-stent) e do segmento,
incluindo os 5 mm proximais e distais ao stent (análise
do segmento).
Os segmentos dos vasos com stent foram examinados com transdutor de ultra-som de 40 MHz (ClearView,
CVIS, Boston Scientific Corp.) com uma velocidade de
recuo do cateter de 0,5 mm/s. As imagens do ultrasom foram analisadas por meio de um software de
reconstrução 3D (EchoPlaque 2, Indec Systems Inc.).
O stent e os segmentos de referência foram medidos
a cada 1 mm por planimetria computadorizada. As
áreas da membrana elástica externa (MEE), da luz, da
placa e média (P&M=MEE-luz) foram medidas nos
5 mm adjacentes às bordas do stent e, então, calculados
seus valores médios. Os volumes do stent, do lúmen
e de hiperplasia intimal (stent-lúmen) foram medidos
dentro do stent. Para o ajuste das diferentes extensões
dos stents, índices de volume foram calculados, dividindo-se os volumes pela extensão do stent (IVS=índice
do volume do stent; IVL=índice do volume da luz; e
IVN=índice do volume neointimal). O volume de
obstrução neointimal (VON) foi definido como IVN
dividido pelo IVS.
Resultados finais e definições
Após o procedimento, todos os pacientes foram
acompanhados por pelo menos um ano, avaliando-se
os eventos cardíacos adversos maiores, definidos como
óbito por qualquer causa, infarto não-fatal do miocárdio
ou revascularização da lesão-alvo. Infarto do miocárdio
foi definido como novas ondas Q patológicas em duas
ou mais derivações contíguas ou a elevação da creatinoquinase (CK) ou sua isoenzima MB ≥3 vezes o
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limite superior ao normal quando da hospitalização
ou ≥2 vezes o limite superior ao normal a partir de
então. Foram determinados os valores para CK e CKMB antes, 8-12 e 18-24 horas após o tratamento e, a
partir de então, diariamente até a data da alta hospitalar.
As reações adversas associadas à medicação do
estudo foram classificadas como leves (perceptíveis,
porém com sintomas bem tolerados), moderadas (desconforto com interferência nas atividades diárias) e
graves (impossibilidade de realizar atividades diárias
ou risco de vida).
Análise estatística
Os dados foram analisados pelo programa SAS
(versão 8.01, SAS Institute). As variáveis categóricas
foram expressas em porcentagens e as variáveis contínuas em média ± DP. ANOVA foi utilizada para medidas repetidas e a correlação de Pearson avaliou as
correlações entre os níveis de sirolimus e a perda
tardia intra-stent e o volume de obstrução da neoíntima.
A significância estatística foi aceita para valores de
p<0,05.
RESULTADOS
Foram incluídos 15 pacientes (15 lesões /15 stents),
no período entre setembro de 2002 e janeiro de 2003.
A média de idade dos pacientes foi 59±9 anos; sendo
73% do sexo masculino e 13% diabéticos. O diâmetro
de referência foi 3,04±0,38 mm e a extensão da lesão
14±2 mm. Não foram registrados eventos durante a
hospitalização. A análise angiográfica e volumétrica pelo
ultra-som foi realizada aos 6,0±0,2 meses, em todos os
pacientes. A perda angiográfica tardia intra-stent e no
segmento foi 0,61±0,31 mm e 0,67±0,45 mm, respectivamente (Tabela 1). Dois (13%) pacientes apresentaram reestenose binária, porém ambos mostraram à
angiografia coronária quantitativa (QCA) lesão<70%.
Nenhum paciente apresentou sintomas ou teste funcional
isquêmico positivo. O volume de obstrução da neoíntima foi de 28,5±15,8% (Tabela 2). Nos segmentos
de referência, não se registrou aumento significativo
de placa, nem remodelamento vascular constritivo (Tabela 3). Tampouco foram observadas evidências de
mau posicionamento das hastes do stent ou formação
de aneurisma. O acompanhamento clínico subseqüente
foi realizado em 100% dos pacientes, com uma duração média de 24±4 meses. Não foram registrados óbitos,
infartos do miocárdio ou revascularizações da lesãoalvo durante o período de acompanhamento. Também
não foram detectadas neoplasias neste período.
Os níveis de sirolimus no 7º, 14º, 21º e 28º dias
de tratamento estão demonstrados na Tabela 4; o valor
médio foi de 13±7 ng/ml. Não foram encontradas correlações entre o nível de sirolimus e a perda tardia
(r=0,15, p=0,59) ou o volume de obstrução da neoíntima (r=0,23, p=0,47). Foi realizada uma análise retrospectiva das correlações entre os níveis semanais
de sirolimus e as duas medidas de reestenose; nenhuma delas significante (dados não estão demonstrados).
Os níveis de hemoglobina, assim como de leucócitos
e a contagem de plaquetas, mostraram-se mais baixos
durante a administração de sirolimus, porém, nenhuma
destas alterações laboratoriais foi considerada clinicamente relevante. Não foram observadas diferenças significativas para os níveis de colesterol e de triglicérides
durante as quatro semanas de tratamento.
Os efeitos adversos ocorreram em 12/15 pacientes
(80%), resultando reduções da dose em quatro pacientes
e a interrupção da administração da medicação em
um. Efeitos colaterais múltiplos foram relatados por
quase metade da população do estudo (7/15). A taxa
de sintomas considerados leves, moderados e graves
foi de 59%, 32% e 9%, respectivamente (Tabela 5). A
queixa mais comum foi a toxicidade gastrointestinal,
manifestada como dor abdominal, náuseas e vômitos,
úlceras orais ou diarréia. Todos os efeitos colaterais
desapareceram com a interrupção da medicação.
DISCUSSÃO
Este estudo piloto foi realizado para avaliar a segurança e a eficácia da administração de uma alta dose
de sirolimus por via oral na prevenção da reestenose
coronária intra-stent. Nossos resultados não confirmam
a hipótese de que a dose administrada de 15 mg de
sirolimus, 24 horas antes da intervenção percutânea,
TABELA 1
Análise angiográfica quantitativa
Diâmetro de referência (mm)
Extensão da lesão (mm)
Relação balão/artéria
Diâmetro luminal mínimo (mm)
Pré-procedimento
Pós-procedimento (intra-stent)
Pós-procedimento (no segmento)
Tardio intra-stent
Tardio (no segmento)
Estenose do diâmetro (%)
Pré-procedimento
Pós-procedimento (intra-stent)
Pós-procedimento (no segmento)
Tardio intra-stent
Tardio (no segmento)
Ganho agudo (mm)
Perda tardia intra-stent (mm)
Perda tardia no segmento (mm)
Reestenose intra-stent (%)
Reestenose de borda (%)
Reestenose no segmento (%)
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3,04±0,38
14±2
1,11±0,08
0,81±0,21
2,90±0,32
2,36±0,39
2,29±0,49
2,00±0,50
73±6
7±2
14±5
25±10
34±15
2,09±0,27
0,31±0,31
0,37±0,45
1 (6,3)
1 (6,3)
2 (13,3)
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TABELA 2
Medidas ultra-sonográficas intra-stent
Lesão alvo
Stent
mm
IVS
mm3/mm
IVL
mm3/mm
IVN
mm3/mm
VON
(%)
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
Média ± DP
3,5 x 15
3,0 x 18
3,0 x 13
4,0 x 12
3,0 x 18
3,5 x 16
3,5 x 15
3,0 x 18
3,0 x 18
3,0 x 18
3,0 x 18
3,5 x 18
3,0 x 15
3,5 x 18
3,0 x 18
09,1
05,5
09,1
11,7
08,3
08,9
08,7
06,7
07,3
09,7
10,9
09,9
08,9
14,2
06,3
9,0 ± 2,2
06,9
04,3
05,3
10,3
02,3
06,3
05,0
03,4
05,9
07,1
07,3
07,8
07,7
13,3
04,3
6,3 ± 2,7
2,2
1,2
3,5
1,4
5,7
2,3
3,7
3,3
1,4
2,5
3,3
2,1
1,2
1,0
1,3
2,4 ± 1,3
24,4
21,7
38,4
12,1
68,5
26,1
42,8
49,1
19,8
26,3
30,5
21,3
13,3
06,8
25,8
28,5 ± 15,8
IVS= índice de volume do stent; IVL= índice de volume da luz; IVN= índice do volume neointimal; VON= volume de obstrução da
neoíntima.
TABELA 3
Análise das bordas pelo ultra-som intracoronário
Borda proximal
Lumen (mm2)
Placa (mm2)
Vaso (mm2)
Carga de placa (%)
Borda distal
Lumen (mm2)
Placa (mm2)
Vaso (mm2)
Carga de placa (%)
Pós-procedimento
6 meses
Valor de p
8,3 ± 3,4
7,1 ± 2,1
15,7 ± 4,2
46 ± 11
8,8 ± 4,5
7,4 ± 1,7
16,2 ± 5,0
48 ± 13
0,771
0,441
0,461
0,491
6,1 ± 2,2
6,2 ± 2,7
12,3 ± 3,8
50 ± 13
6,1 ± 2,9
5,9 ± 2,9
12,0 ± 4,3
49 ± 17
0,948
0,352
0,584
0,784
Valores expressos em médias ± DP
seguida por uma dose de manutenção de 5 mg durante
quatro semanas, reduza de maneira consistente a perda
tardia e o volume de obstrução da neoíntima observados aos seis meses. Os efeitos colaterais foram freqüentes, especialmente os sintomas gastrointestinais.
O sirolimus (rapamycin, RAPAMUNE) – uma lactona
macrocíclica natural - é um agente antiproliferativo e
imunossupressor potente, que se liga à proteína FK
(FKBP12); seu complexo faz uma ligação subseqüente
com uma proteína específica reguladora do ciclo celu-
lar chamada mTOR (mammalian Target of Rapamycin),
inibindo sua ativação e prevenindo a redução do p27,
um inibidor da quinase ciclino-dependente, levando,
em última instância, à inibição do ciclo celular no
estágio final da fase G19. O sirolimus apresenta uma
ampla distribuição tecidual, uma grande variabilidade
intra e interindividual do seu clearance e uma correlação abaixo de ótima, entre as concentrações do sangue
total e a dose da medicação ou as características do
paciente. A meia-vida longa para a eliminação do
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TABELA 4
Valores laboratoriais
Sirolimus (ng/ml)
Colesterol (mg/dl)
Triglicérides (mg/ml)
Hemoglobina (g/dl)
Leucócitos (x103/ml)
Plaquetas (x103/ml)
Pré
7 dias
14 dias
21 dias
28 dias
6 meses
210±38
201±116
14,2±1,2
7,0±1,4
295±77
13,3 ± 4,9
206±33
244±122
14,0±1,3
7,0±1,3
265±75
13,2 ± 8,1
224±25
232±87
13,9±1,5
5,9±1,3†
244±104†
15,2 ± 7,9
228±30
261±114
13,0±2,0†
5,7±1,3†
275±93
10,3 ± 8,3
224±29
221±95
13,1±1,8†
5,7±1,2†
279±74
178±45*
144±73*
13,7±1,4
7,0±2,0
234±61
*
p<0,05 e † p=0,001 vs. valores de referência correspondentes.
TABELA 5
Efeitos colaterais e gravidade
Sintomas*
Leve
Dor abdominal
Náusea & vômito
Úlceras orais
Diarréia
Pneumonia
Infecção do trato
respiratório superior
Infecção do trato urinário
Perda de peso corporal
Erupções cutâneas
Leucopenia
Total, n (%)†
13
Moderado
Grave
2
2
0
2
0
1
0
0
0
0
2
0
2
2
3
1
0
0
1
2
1
1
(59%) 7
0
0
0
0
(32%)
0
0
0
0
2 (9%)
*
Os efeitos colaterais foram contados separadamente; † Porcentagens expressas em relação ao número total de sintomas.
sirolimus exige uma dose de ataque que atinja concentrações terapêuticas rapidamente e níveis sangüíneos
entre 5 e 20 µg/L mostram uma imunossupressão potente
na prática clínica10. Uma dose de ataque três vezes
maior que a dose de manutenção resultará concentrações
estáveis no prazo de 24 horas para a maioria dos
pacientes11. Os dados clínicos sugerem que a eficácia
imunossupressiva e a ocorrência de efeitos adversos se
correlacionam às concentrações sangüíneas, com níveis
aumentados de triglicérides, redução dos níveis de hemoglobina, dos leucócitos ou da contagem das plaquetas
como as principais reações adversas observadas. Uma
maior susceptibilidade à infecção e ao desenvolvimento de malignidades pode advir da imunossupressão10,12.
Recentemente, o estudo ORBIT5 foi a única publicação que avaliou a administração de 5 mg de sirolimus
para prevenção da reestenose exclusivamente em pacientes com lesões de novo. As duas estratégias de
administração – de 2 e de 5 mg/dia de sirolimus durante
30 dias (com dose de 5 mg administrada imediata-
mente antes ou após a intervenção) – resultaram em
taxas equivalentes de perda tardia e de obstrução do
volume da neoíntima pelo ultra-som. A perda tardia
intra-stent foi de 0,60±0,54 mm e 0,71±0,49 mm e a
obstrução do volume da neoíntima foi de 29% e 24%,
respectivamente. Em nosso estudo, as duas medidas
de reestenose, a perda tardia intra-stent (0,61±0,31 mm)
e o volume neointimal pelo ultra-som (28,5±15,8%),
apresentaram valores próximos aos relatados recentemente para stents metálicos convencionais (0,7-1,0 mm
e 29-33%, respectivamente)13-17. Além do mais, nossos
resultados complementam os achados do estudo ORBIT,
demonstrando que o pré-tratamento 24 horas antes do
procedimento e uma dose de ataque mais alta de
15 mg acrescentada à estratégia da dose diária de 5 mg
não melhoram a evolução das lesões de novo tratadas
com stents convencionais.
O presente estudo não achou correlações entre
os níveis de sirolimus e a perda tardia ou o volume de
obstrução da neoíntima pelo ultra-som. Ao contrário
do estudo piloto ORAR2, os níveis sangüíneos de sirolimus não discriminaram pacientes com e sem reestenose.
Na verdade, os casos de reestenose intra-stent e de
borda desta série apresentaram níveis sangüíneos médios
de sirolimus de 15,3 e 16,6 ng/ml, respectivamente.
Os altos níveis de sirolimus tecidual requeridos para
a efetiva inibição da hiperplasia intimal, dados pelo
stent com liberação de sirolimus (140 µg de sirolimus
por cm2 de área de superfície)18 e os freqüentes efeitos
adversos com concentrações sistêmicas bem menores
(10-20 ng/ml), enfatizam as vantagens de um sistema
de administração de fármacos com uma dose local
alta e baixa concentração sistêmica, encontrados nos
stents farmacológicos.
Neste estudo, os efeitos adversos à medicação
foram freqüentes e sabidamente estão relacionados às
concentrações de sirolimus no sangue10. Muito embora
os efeitos colaterais tenham apresentado uma resposta
pobre a tratamentos paliativos, todos, com exceção de
um paciente, completaram o protocolo de quatro semanas. Os efeitos adversos desapareceram com a interrupção da medicação e nenhuma conseqüência danosa
foi observada no acompanhamento de até 24±4 meses.
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Deve-se ressaltar que as preocupações relativas à
toxicidade do vaso com o stent de liberação de sirolimus
têm desaparecido gradualmente, com a observada evolução de longo prazo da primeira série de pacientes
tratados há mais de quatro anos, livre de eventos
clínicos, angiográficos e ultra-sonográficos19.
CONCLUSÕES
Os resultados deste estudo piloto sugerem que o
tratamento intensificado com 5 mg de sirolimus via
oral não mostrou melhora relevante nos parâmetros
angio e ultra-sonográficos de reestenose, após o implante
de stents metálicos convencionais em lesões de novo,
quando comparados a controles históricos. Considerando-se o balanço eficácia/segurança, nossos resultados
não encorajam estudos futuros para se avaliar o protocolo atual na prevenção de reestenose intra-stent.
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