Teoria da Contingência

Transcrição

Teoria da Contingência
Gestão Contemporânea
Unidade 7
Celina Martins
Teoria da Contingência
152
UNIDADE 07
Teoria da Contingência
Gestão Contemporânea
Introdução ........................................................................................................ 154
Objetivos...........................................................................................................
155
Estrutura da Unidade ......................................................................................
155
Unidade 7: Teoria da Contingência
Tópico 1: Origens da Teoria da Contingência ..................................................
156
Tópico 2: Contribuições dos Autores e suas Pesquisas....................................
158
2.1 Contribuições da Pesquisa de Burns e Stalker .................................... 158
2.2 Contribuições da Pesquisa de Lawrence e Lorsch .............................. 161 2.3 Contribuições da Pesquisa de Alfred Chandler .................................... 163
2.4 Contribuições da Pesquisa de Joan Woodward ....................................
165
Tópico 3: Fatores Organizacionais que são Influenciados pela Contingência..
167
167
3.1 Ambiente ...............................................................................................
3.1.1 Ambiente Geral .......................................................................
170
3.1.2 Ambiente de Tarefa .................................................................
172
3.2 Tecnologia .............................................................................................
174
3.3 Tamanho Organizacional ......................................................................
177
Tópico 4: Crítica da Teoria da Contingência .....................................................
179
Resumo ............................................................................................................
180
Conteúdo de Fixação ......................................................................................
181
Leitura Complementar ....................................................................................
182
Referências Bibliográficas .............................................................................
183
Teoria da Contingência
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Sumário
Gestão Contemporânea
UNIDADE 07
Uma organização não pode agir e tomar decisões deliberadamente. Para obter o
sucesso é preciso que a mesma adapte-se constantemente às mudanças decorrentes
dos ambientes externo e interno. Na atualidade, as organizações precisam estar atentas
às mudanças no seu mercado decorrentes dos clientes, fornecedores, concorrentes,
agências reguladoras; além das políticas, leis, economia, tecnologia, sociedade, ecologia
e demografia. A Teoria da Contingência surge para tentar explicar a relação entre o
ambiente e a estrutura da organização.
Nesta unidade, veremos as origens da Teoria da Contingência e contribuições de
autores como Burns e Stalker, Lawrence e Lorsch, Alfred Chandler e Joan Woodward
para a formulação desta teoria. Por último, apresentaremos os tipos de ambientes, as
influências do tamanho e da tecnologia na estrutura organizacional segundo a Teoria da
Contingência.
Vamos estudar este conteúdo!
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Gestão Contemporânea
UNIDADE 07
Após completar esta unidade, você estará apto a:
1. Reconhecer as origens da teoria;
2. Identificar as contribuições de diversos
autores (Burns e Stalker, Lawrence e Lorsch,
Alfred Chandler, Joan Woodward) para a
formulação da teoria;
s
o
v
i
t
e
j
Ob
3. Compreender os tipos de ambientes, bem
como as influências do tamanho e da tecnologia
na estrutura organizacional segundo a teoria;
4. Apresentar críticas à teoria.
Estru
da Un
tura
idade
1. Origens da Teoria da Contingência
2. Contribuições dos Autores e suas Pesquisas
2.1 Contribuições da Pesquisa de Burns e
Stalker
2.2 Contribuições da Pesquisa de Lawrence e
Lorsch
2.3 Contribuições da Pesquisa de Alfred
Chandler
2.4 Contribuições da Pesquisa de Joan
Woodward
3. Fatores
Organizacionais
Influenciados pela Contingência
que
são
3.1 Ambiente
3.1.1 Ambiente Geral
3.1.2 Ambiente de Tarefa
3.2 Tecnologia
3.3 Tamanho Organizacional
4. Crítica da Teoria da Contingência
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Gestão Contemporânea
UNIDADE 07
Vamos iniciar
conhecendo as origens
e o objetivo da Teoria
da Contingência?
1. Origens da Teoria da Contingência
Segundo Andrade e Amboni (2007), as origens da Teoria da Contingência são:
• Pesquisas de diversos autores voltadas para a análise da relação entre as
estruturas organizacionais e a realidade das indústrias;
• Utilização de algumas ideias da Teoria de Sistemas, tais como: as partes da
organização são interdependentes; a organização como um sistema aberto que
interage constantemente com o ambiente.
O principal objetivo da Teoria da Contingência é a
compreensão das relações existentes entre a organização e
o ambiente, assim como a análise de que a integração entre
as condições do ambiente e as técnicas administrativas são
fundamentais para o sucesso da organização.
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Gestão Contemporânea
Perrow, James Thompson, Joan Woodward, Lawrence, Lorsch, Burns, Stalker
e Afred Chandler) concluíram que não há uma forma única para desenvolver e
planejar as ações e atividades de uma organização, pois características internas
organizacionais devem acompanhar as mudanças ocorridas no ambiente externo
(ANDRADE; AMBONI, 2007).
Para evidenciar esta realidade de que tudo é relativo dependendo
do ambiente em que a organização está inserida, sugerimos que
assista ao vídeo que se encontra na seção de “Conteúdo de
Fixação” página 181.
Cada um dos autores citados desenvolveu
pesquisas próprias identificando as relações
da organização com o ambiente. Vamos
estudar as contribuições de cada uma?
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Diante dos estudos realizados, diversos pesquisadores desta teoria (como Charles
Gestão Contemporânea
2.1 Contribuições da Pesquisa de Burns e Stalker
Burns e Stalker (ANDRADE; AMBONI, 2007) fizeram uma pesquisa com 20 indústrias
localizadas na Inglaterra. A pesquisa teve como objetivo analisar as relações existentes
entre as práticas administrativas e o ambiente externo de investigação. Nesta pesquisa,
eles visualizaram alguns procedimentos administrativos e os classificaram em dois grupos:
organizações mecanísticas e organizações orgânicas (CHIAVENATO, 2003). Conheça
cada uma delas:
Organizações Mecanísticas
As organizações mecanísticas, segundo Chiavenato (2003), possuem as seguintes
características:
• Estrutura burocrática com muita divisão do trabalho;
• Cargos e atividades desenvolvidos por especialistas
que têm funções definidas pela organização;
• Decisões centralizadas e concentradas no nível
estratégico;
• Comando único e hierarquia rígida;
• As informações que chegam à alta direção passam por
um filtro e um sistema rígido de controle;
• Interação vertical entre superiores e subordinados;
• Foco nas regras e procedimentos formais;
• Foco na Teoria Clássica.
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2. Contribuições dos Autores e suas Pesquisas
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Já as organizações orgânicas, segundo Chiavenato (2003), possuem as características
abaixo:
• Estrutura flexível com pouca divisão do trabalho;
• Cargos e atividades desenvolvidos por meio do relacionamento com outras pessoas;
• Decisões descentralizadas e voltadas para o nível operacional;
• Controle e execução das tarefas baseados no conhecimento sobre a empresa;
• Comunicação informal sendo motivada;
• Foco nos princípios da Teoria das Relações Humanas.
Diante dessas práticas administrativas, Burns e Stalker (CHIAVENATO, 2003)
sugeriram que havia dois tipos de sistemas que variavam de acordo com o ambiente
no qual as organizações estavam localizadas. O sistema mecanicista é o ideal para
organizações situadas em ambientes estáveis; e o sistema orgânico, para empresas que
atuam em ambientes de constantes mudanças. Conheça cada um deles:
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Organizações Orgânicas
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As tarefas são realizadas individualmente por especialistas. Os responsáveis do
nível estratégico definem os relacionamentos entre as tarefas e as atividades a serem
desenvolvidas por cada funcionário. A hierarquia e o comando é vertical, isso é, do superior
para o subordinado. Todas as informações, regras e decisões estão situadas na cúpula.
Sistemas Orgânicos
As tarefas são desenvolvidas a partir da percepção que cada indivíduo possui da
organização e em conjunto. As atividades e os trabalhos são flexíveis e definidos em função
das interações entre as pessoas. Essa interação é lateral e vertical. Já a comunicação é
realizada através de consultas laterais.
As ideias destes autores foram ampliadas por Lawrence e Lorsch
(ANDRADE; AMBONI, 2007).
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Sistemas Mecanicistas ou Mecanistas
Gestão Contemporânea
O objetivo de Lawrence e Lorsch era verificar o grau de diferenciação¹ e interação²
das organizações com o ambiente externo. Para tanto, fizeram uma pesquisa com 10
empresas de três setores diferentes (plásticos, alimentos empacotados e recipientes)
(ANDRADE; AMBONI, 2007).
A questão básica do estudo era: “o que a organização faz para lidar
com as diversas condições econômicas e de mercado?” (SILVA, 2001, p.
375).
Antes de realizar a pesquisa, os autores definiram algumas hipóteses (ANDRADE;
AMBONI, 2007):
¹A diferenciação está relacionada às ações que cada subsistema da empresa possuía individualmente, visto as mudanças
existentes nos ambiente externo e interno. Por exemplo: cada departamento necessita de um fator diferencial, tais como:
tamanho, quantidade de funcionários, níveis hierárquicos, entre outros (ANDRADE; AMBONI, 2007).
²A integração ficou evidente nas respostas relacionadas ao espírito de equipe e de cooperação para alcançar os objetivos
organizacionais (ANDRADE; AMBONI, 2007).
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2.2 Contribuições da Pesquisa de Lawrence e Lorsch
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HIPÓTESES DE ANDRADE E AMBONI
3
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4
A cooperação e a coordenação,
se executadas de forma
eficaz, contribuíam para o
sucesso organizacional.
As organizações com melhor
desempenho teriam maior grau de
integração do que as empresas
com menor desempenho.
Os departamentos apresentariam
2
diferentes tipos de estruturas,
pois a influência dos ambientes
estáveis não era igual em
todos os departamentos.
Os departamentos das empresas
1
que estavam em ambientes
instáveis3 eram diferenciados
daquelas com ambientes
estáveis4.
³Ambiente instável – é aquele que ocorre mudanças constantes nas ações desenvolvidas pelo mercado, nas inovações e
diversificação de produtos, fazendo com que as organizações sejam mais diferenciadas, isso é, modificando seus produtos
e seus processos de acordo com as atividades do ambiente. Por exemplo: setor de plásticos tinha como característica o
desenvolvimento de produtos e processos, evidenciando mudanças (SILVA, 2001).
4
Ambiente estável – é aquele que ocorre nenhuma ou pouca mudança desenvolvida no mercado, exigindo, assim, que as
empresas sejam menos diferenciadas. Por exemplo: setor de containers possuía poucas mudanças (SILVA, 2001).
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Gestão Contemporânea
Os resultados desta pesquisa ajudaram a formular a Teoria da
Contingência, em que “não existe a melhor maneira para se gerenciar e
organizar uma empresa, esta precisa estar em constantes ajustes com o
ambiente externo” (AMBONI; ANDRADE, 2007, p. 186).
Os autores concluíram que, se estiver em um ambiente de constantes mudanças
(instável), a organização deve ajustar-se ao meio através de estratégias. Se estiver
em um ambiente com pouca ou nenhuma mudança (estável), a organização deve
adotar perspectivas diferentes das atuantes em ambientes instáveis adequandose ao meio somente se necessário. Contudo, esta análise não pode ser aplicada em
todas as situações. Neste caso, por exemplo, foram estudadas empresas do setor de
plástico, com um ambiente instável e que exigia maior diferenciação e integração das
empresas (ANDRADE; AMBONI, 2007). 2.3 Contribuições da Pesquisa de Alfred Chandler
O objetivo do estudo de Alfred D. Chandler foi analisar as relações entre a estrutura
da organização e a estratégia gerencial. Para tanto, utilizou quatro grandes empresas
norte-americanas: DuPont, General Motors, Standard Oil e Sears-Roebuck. Verificou que
as quatro empresas adotaram uma estrutura de organização descentralizada por diversos
motivos (SILVA, 2001, p. 377), sendo:
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Após as pesquisas, os resultados corroboraram suas hipóteses. Os autores
perceberam que as empresas em um ambiente instável eram mais diferenciadas do que
as situadas em um ambiente estável. Também verificaram que o desempenho influenciava
e era influenciado pelo grau de integração (ANDRADE; AMBONI, 2007).
Gestão Contemporânea
A General Motors, nos primeiros anos, possuía um controle totalmente
centralizado decorrente da administração de William C. Durant. Com a
administração de Alfred P. Sloan, em 1920, desenvolveu o “controle centralizado
sobre operações descentralizadas”, o que guiou a GM para seu sucesso;
A Standard Oil não teve uma mudança repentina como a DuPont e a GM,
sua estratégia de descentralização ocorreu gradativamente. Porém, Chandler
acreditava que existiu uma estratégia de administração antes da descentralização;
A Sears-Roebuck começou por um modelo descentralizado de organização,
contudo, não teve sucesso por causa dos problemas de autoridade, comunicação
e um planejamento ruim. Então, tentou uma estrutura centralizada que também
não funcionou. Teve sucesso adotando, gradativamente, uma estrutura
descentralizada.
Apesar de focar a relação existente entre a
estratégia e estrutura organizacional, Chandler
descreve que algumas estratégias e estruturas
dependem do ambiente em que a organização está
estabelecida. Para tanto, descreveu
que “se a organização opera num
ambiente relativamente dinâmico e
específico (concorrência, clientes e
fornecedores), então uma estrutura
flexível de organização seria mais
eficaz” (SILVA, 2001, p. 378).
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A DuPont adotou essa estrutura porque necessitou desenvolver uma estratégia
administrativa baseada na diversificação, ampliando seu portfólio e sua gama de
produtos; Gestão Contemporânea
O aumento do portfólio de produtos e o crescimento da organização
para um novo território fazem com que as organizações criem ou
modifiquem sua estrutura e estratégia (SILVA, 2001). 2.4 Contribuições da Pesquisa de Joan Woodward
O estudo de Joan Woodward teve como objetivo verificar a relação entre o sucesso
da organização e os princípios de administração definidos em diversas teorias. Foram
pesquisadas 100 empresas, com o quadro de funcionários variando de 100 a 8 mil
empregados (ANDRADE; AMBONI, 2007).
Esses autores classificaram a empresa em três tipos. Veja a seguir:
Produção Unitária:
Para as empresas que possuíam
fabricação em pequenas quantidades;
uma
Produção de Massa:
Para as empresas que possuíam uma
fabricação em grandes quantidades;
Produção de Processo ou Automatizada:
Para as empresas que possuíam uma fabricação
contínua.
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Chandler também percebeu que algumas variáveis ambientais internas, como
expansão territorial, diversificação de produto e taxa de crescimento, influenciavam a
estrutura e a estratégia administrativa da organização. Em outras palavras:
Gestão Contemporânea
As conclusões da autora, segundo Andrade e Amboni (2007), foram:
Estrutura Organizacional:
Quanto mais tecnologias5, maiores são as
estruturas organizacionais e maior é o nível de
supervisão, coordenação e administração.
Alcance da Administração:
Quanto maior a complexidade da
tecnologia, maior será a complexidade do
trabalho. E para uma quantidade maior de
chefes, mais pessoas responsáveis pelo
serviço de apoio serão necessárias.
Sucesso das Empresas:
As empresas bem-sucedidas em
cada tipo de produção tinham níveis
diferentes.
Estrutura, Tecnologia e Sucesso:
Para cada tipo de tecnologia é
necessário um tipo de estrutura para
atingir o sucesso organizacional.
Os estudos dos autores descrevem que não existe uma maneira certa
de obter o sucesso da organização. Este depende do contexto interno
e externo e suas influências na estrutura organizacional (ANDRADE;
AMBONI, 2007).
5
Tecnologia – “Conjunto de conhecimentos, especialmente princípios científicos, que se aplicam a um determinado ramo
de atividade” (FERREIRA, 2001, p. 664).
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Gestão Contemporânea
Para obter mais detalhes sobre as Contribuições destas Teorias,
sugerimos a leitura que se encontra na seção “Conteúdo de Fixação”,
na página 181.
Diante destas pesquisas, alguns fatores
organizacionais devem ser considerados pelas
organizações que atuam diante da contingência.
São eles: ambiente, tecnologia e tamanho
organizacional. Vamos conhecer cada um?
3. Fatores Organizacionais que são Influenciados
pela Contingência
3.1 Ambiente
O ambiente é o local no qual a organização está inserida. Sendo um sistema aberto,
a organização está em constantes relações com o ambiente em mudança. Dessa forma,
tudo que ocorre externamente no ambiente influencia a organização internamente
(CHIAVENATO, 2003).
De acordo com esse autor, para conhecer e adaptar-se rapidamente ao ambiente, a
organização precisa seguir algumas etapas:
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Os estudos dos autores descrevem que não existe uma maneira certa de obter o
sucesso da organização. Este depende do contexto interno e externo e suas influências
na estrutura organizacional (ANDRADE; AMBONI, 2007).
Gestão Contemporânea
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2
3
1
5
4
1
Mapeamento Ambiental
O ambiente interfere nas ações da organização de diferentes formas. Para tanto,
é preciso que a mesma se proponha a explorar, conhecer e mapear o seu ambiente,
reduzindo, assim, as incertezas. Esse mapeamento deve ser feito por seus dirigentes.
Exemplo: uma indústria de fabricação de eletrodomésticos, denominada
XYZ, deve entender e conhecer as ações do mercado que a influenciam ou podem
influenciar. Para tanto, é necessário mapeá-lo.
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Gestão Contemporânea
Seleção Ambiental
As organizações não conseguem mapear o ambiente como um todo devido a sua
complexidade. Sendo assim, a organização seleciona e estuda apenas algumas das
muitas variáveis existentes.
Exemplo: os dirigentes da XYZ identificaram que a organização é influenciada
pela economia e pela ecologia e, portanto, irão voltar seus estudos e tomadas de
decisão com base nessas duas variáveis.
3
Percepção Ambiental
As organizações analisam o ambiente de acordo com as suas expectativas,
experiências, problemas, convicções e motivações. Uma variável pode ser interpretada
de uma maneira por uma organização e de outro modo por outra organização. Essa
percepção ocorre em função das análises realizadas pelos seus gestores.
Exemplo: o clima pode influenciar a XYZ, indústria de eletrodomésticos, de
uma forma e uma indústria têxtil de outra forma.
4
Consonância e Dissonância
A consonância ocorre quando as análises feitas no ambiente estão totalmente de
acordo com a prática e o cotidiano organizacional. Já a dissonância acontece quando
as análises refletem a existência de um desvio ou de uma problemática. Dessa forma, a
organização modifica-se para atender o desvio ou tenta desacreditar a nova informação.
Exemplo: a partir da análise feita pelos dirigentes é importante avaliar se as
decisões organizacionais estão sendo definidas em função do que é observado no
ambiente. Se afirmativo, é importante continuar com este processo. Se negativo, é
fundamental avaliar o que a organização deve mudar.
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2
Gestão Contemporânea
Desdobramentos do Ambiente
O ambiente é extremamente complexo e é preciso analisá-lo levando em consideração
todas as suas variáveis. Para tanto, é necessário conhecer o ambiente geral e o ambiente
de tarefa.
Exemplo: os dirigentes XYZ devem analisar quais são as variáveis do ambiente
geral e do ambiente de tarefa que influenciam as decisões organizacionais. A seguir,
serão citados cada um dos fatores desses ambientes.
3.1.1 Ambiente Geral
O ambiente geral é aquele que afeta todas as organizações, direta ou indiretamente,
e a mesma não pode influenciar, sendo, de acordo com Chiavenato (2003):
Condições Tecnológicas: são as inovações e as novas
tecnologias que surgem constantemente;
Condições Legais: são as leis e a legislação existentes que
auxiliam ou restringem as atividades organizacionais;
Condições Políticas: são as decisões dos políticos em nível
federal, estadual e municipal;
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5
Gestão Contemporânea
Condições Demográficas: são os aspectos relacionados à taxa
de crescimento, população, renda, raça, religião, distribuição
demográfica, distribuição por sexo;
Condições Ecológicas: são as condições relacionadas ao
ecossistema da organização, como poluição, clima e meio
ambiente;
Condições Culturais: são os aspectos relacionados à cultura de
um povo.
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Condições Econômicas: são as ações de desenvolvimento ou
retração da economia, como inflação e distribuição de renda;
Gestão Contemporânea
O ambiente de tarefa é aquele mais próximo da organização. É o ambiente em que
as organizações extraem suas entradas6 e depositam suas saídas7. Sendo composto,
segundo Chiavenato (2003), por:
Fornecedores de Entradas: são aqueles que proveem todas as
matérias-primas, insumos e recursos financeiros que a organização
necessita;
Clientes ou Usuários: são os consumidores da organização;
Concorrentes: são as organizações que disputam os clientes e os
fornecedores;
Entidades Reguladoras: são as organizações que regulam as
atividades a serem desenvolvidas pela empresa como sindicatos,
associações de classe, órgãos regulamentadores;
6
7
Entradas – insumos para o início da produção como matéria-prima e energia.
Saídas – produto ou serviço final.
Teoria da Contingência
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UNIDADE 07
3.1.2 Ambiente de Tarefa
Gestão Contemporânea
AMBIENTE GERAL
Variáveis
Tecnológicas
AMBIENTE DE TAREFA
Cliente
Variáveis
Econômicas
Variáveis
Políticas
Fornecedores
Variáveis
Legais
EMPRESA
Grupos
Reguladores
Concorrentes
Variáveis
Sociais
Variáveis
Ecológicas
Variáveis
Demográficas
Para obter mais informações sobre este ambiente, sugerimos a
leitura que se encontra na seção “Conteúdo de Fixação”, página
181.
Teoria da Contingência
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UNIDADE 07
Para melhor compreensão a respeito dos conceitos de Ambiente Geral e Ambiente de
Tarefa, bem como de que maneira a empresa está inserida na aplicabilidade dos mesmos,
analise a figura a seguir:
Gestão Contemporânea
O conceito de tecnologia na organização envolve mais do que simplesmente
maquinário8 e equipamento9, como alguns autores descrevem. Woodward é a primeira
a avaliar como as estruturas organizacionais podem estar relacionadas à tecnologia
(ANDRADE; AMBONI, 2007). Essa autora afirma que:
Na produção em massa (produção em grande quantidade independente dos pedidos
e das necessidades dos clientes, por exemplo: Modelo T de Ford) prevalecia a estrutura
mecanicista. Na produção por processo, o cumprimento da linha de comando aumentava
à medida que a tecnologia motivava a modificação da produção unitária (produção de uma
unidade ou em pequenos lotes, por exemplo: artesãos) para a produção por processo
(produção determinada pela situação do mercado com pouca participação humana na
fabricação do produto, por exemplo: petróleo); Uma das características por processo são as hierarquias alongadas, em que a
administração por comitê predomina sobre a autoridade de linha;
As organizações não são iguais e diferem conforme a tecnologia empregada;
Para obter o sucesso é necessário alinhar uma forma particular de estrutura para
cada tipo de tecnologia;
As relações existentes entre a organização, a tecnologia e o êxito da empresa
descrevem que o sistema de produção é muito importante na estrutura da organização,
mas existe uma forma de organização para cada sistema.
8
Maquinaria
9
– “conjunto de máquinas” (FERREIRA, 2001, p. 446).
Equipamento – “conjunto dos instrumentos necessários à determinada função” (FERREIRA, 2001, p. 276).
Teoria da Contingência
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UNIDADE 07
3.2 Tecnologia
Gestão Contemporânea
As estruturas são
consequências da
tecnologia.
A estrutura depende da tecnologia e
da política intraorganizacional.
A rentabilidade,
a tecnologia e a
política influenciam
o desempenho
organizacional.
Coelho fez uma análise entre as relações da tecnologia, da razão capital/trabalho e
a estrutura organizacional. Verificou que substituir direta ou indiretamente o trabalho pelo
capital gera uma estrutura mais descentralizada, mais profissionalizada e mais complexa.
Andrade e Amboni (2007) afirmam que Thompson desenvolveu uma estrutura para todas
as organizações, sendo:
Teoria da Contingência
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UNIDADE 07
Outros autores colocaram a tecnologia em evidência na análise organizacional.
Rodrigues e Sá analisaram as relações existentes entre a tecnologia, a estrutura, a
dinâmica organizacional e a rentabilidade em empresas brasileiras. As conclusões
(ANDRADE; AMBONI, 2007) foram que:
Gestão Contemporânea
Em que as tarefas de um determinado indivíduo só podem ser executadas à medida
que a tarefa do indivíduo anterior estiver terminada. Por exemplo: uma linha de montagem;
• Tecnologia de Mediação:
Em que os clientes são a base para desenvolver a atividade da organização. Por
exemplo: companhias telefônicas e bancos;
• Tecnologia Intensiva:
Em que é aplicada uma série de técnicas para desenvolver uma mudança, contudo, a
ordem e a seleção das mudanças é feita mediante o feedback do objeto. Por exemplo:
hospitais.
Thompson descreve que todas as ações desenvolvidas pelas organizações estão
baseadas em uma dessas tecnologias. A tecnologia a ser utilizada depende da
matéria-prima que a organização utiliza e das rotinas da organização (ANDRADE;
AMBONI, 2007).
Teoria da Contingência
176
UNIDADE 07
• Tecnologia de Longo Vínculo:
Gestão Contemporânea
O segundo estudo foi feito por Pugh et al. analisando a tecnologia como uma variável
de contexto como o ambiente, o tamanho e a estratégia. A partir das pesquisas em torno
da tecnologia, o Grupo de Aston chegou à conclusão de que se a organização é menor,
a estrutura é influenciada pela tecnologia de operações; já em organizações maiores as
variáveis influenciadoras estão relacionadas ao fluxo de trabalho (ANDRADE; AMBONI,
2007).
3.3 Tamanho Organizacional
A relação entre o tamanho e a estrutura da organização não é algo novo.
Na Teoria da Contingência, o tamanho não influencia diretamente na estrutura
organizacional, contudo afeta a complexidade organizacional e suas práticas
administrativas, como a delegação da autoridade e a flexibilidade nas atribuições
do pessoal (ANDRADE; AMBONI, 2007).
Teoria da Contingência
177
UNIDADE 07
Há ainda dois estudos desenvolvidos no grupo da Universidade de Aston. O primeiro foi
feito por Emery e Trist e analisou a relação entre estruturas e tecnologia e criou o enfoque
sociotécnico, no qual uma organização é um sistema aberto que funciona através de um
sistema de atividades. Podem ser operativo (contribuem diretamente para o processo
de transformação), de manutenção (abastecem as demais atividades) e reguladoras
(relacionam todas as atividades internas da organização) (ANDRADE; AMBONI, 2007).
Gestão Contemporânea
A segunda teoria
02
descreve que o tamanho
da empresa está pouco
01
O tamanho e a
tecnologia estão
totalmente interligados
devido à presença de
indivisibilidades;
ligado à tecnologia, pois
depende do tamanho
da planta da empresa;
03
A terceira afirma que
não existe nenhuma
ligação entre os dois,
pois cada um possui suas
particularidades e restrições
quando aplicados às
diversas áreas da atividade
organizacional.
Esses três argumentos evidenciam que a estrutura
organizacional depende de fatores contextuais e que,
para sobreviver no mercado, a organização necessita
do alcance em certos níveis de perfomance. Isso é, “se
a estrutura organizacional não é adaptada ao contexto,
muitas oportunidades acabam perdidas, ocorrendo, com
isso, o crescimento dos custos e colocando sob ameaça
a manutenção da organização” (ANDRADE; AMBONI,
2007, p. 194). Teoria da Contingência
Assim como outras
teorias, esta também
possui críticas. Vamos
conhecê-las?
178
UNIDADE 07
Outro fator importante a ser considerado é a relação existente entre o tamanho e a
tecnologia. Existem diversas teorias descrevendo essa possível relação. Vejamos a teoria
de Andrade e Amboni (2007):
Gestão Contemporânea
UNIDADE 07
4. Crítica da Teoria da Contingência
De acordo com Oliveira (2008), as críticas são:
1
Seu foco é mais nas diferenças entre as organizações do que
nas semelhanças;
Dificuldade em verificar as mudanças nos fatores externos e não
2
3
controláveis que foram minimizadas com o desenvolvimento de diversas
metodologias e técnicas de análise;
Dificuldade em definir a frequência, a velocidade e a intensidade
de mudanças;
4
Dificuldade em definir as variáveis externas e a integração entre
elas;
5
Dificuldade em desenvolver estruturas de poder em organizações
que interagem com o ambiente externo;
6
Dificuldade em avaliar os efeitos e o desempenho das organizações
que interagem com o ambiente externo;
7
Dificuldade em planejar a mudança para interagir com as
alterações nas variáveis externas.
Teoria da Contingência
179
Gestão Contemporânea
Em suas pesquisas, Burns e Stalker analisaram a relação entre as práticas
administrativas e o ambiente externo de investigação e verificaram a existência de dois
tipos de organizações: as mecanísticas e as orgânicas. Em suas pesquisas, Lawrence e
Lorsch investigaram o grau de diferenciação entre as organizações e o seu ambiente, e
verificaram que as empresas em ambiente instável eram mais diferenciadas do que as
situadas em ambiente estáveis, e que o desempenho influenciava e era influenciado pelo
grau de integração. Foi através da pesquisa desse autores que percebeu-se não existir
uma maneira ideal de gerenciar uma organização, precisando de um constante ajuste.
Alfred Chandler analisou a relação entre a estrutura da organização e a estrutura gerencial
e verificou que uma organização que opera em um ambiente dinâmico e específico
necessita de uma estrutura flexível e estratégias organizacionais que correspondam a
essa estrutura. Já Joan Woodward analisou o sucesso da organização frente à aplicação
de princípios de administração e percebeu que não existe uma maneira certa para atingir
o sucesso organizacional, pois este depende das influências dos contextos interno e
externo na estrutura organizacional.
Esta unidade ainda trata do ambiente externo (condições tecnológicas, legais, políticas,
econômicas, demográficas, ecológicas, culturais) e do ambiente de tarefa (fornecedores
de entradas, clientes ou usuários, concorrentes e entidades reguladoras). É destacada
a influência da tecnologia e do tamanho das estruturas organizacionais e das mudanças
das organizações.
Por fim, são apresentadas as críticas a essa teoria, dentre as quais destacamos: o
foco maior nas diferenças entre as organizações; dificuldade em verificar as mudanças
nos fatores externos e não controláveis que foram minimizadas com o desenvolvimento
de diversas metodologias e técnicas de análise; dificuldade em definir a frequência, a
velocidade e a intensidade de mudanças; dificuldade em definir as variáveis externas e a
integração entre elas; dificuldade em desenvolver estruturas de poder em organizações
que interagem com o ambiente externo; dificuldade em avaliar os efeitos e o desempenho
das organizações que interagem com o ambiente externo; dificuldade em planejar a
mudança para interagir com as alterações nas variáveis externas.
Teoria da Contingência
180
UNIDADE 07
A Teoria da Contingência surge a partir de pesquisas de diversos autores voltados
para a análise entre as estruturas organizacionais e as indústrias. Esta teoria tem como
objetivo compreender as relações existentes entre a organização e o ambiente e analisar
a integração entre as condições do ambiente e as técnicas administrativas.
Gestão Contemporânea
UNIDADE 07
Tópico 1 (Origens da Teoria da Contingência):
Vídeo “Apresentação da Teoria das Contingências”:
http://www.youtube.com/watch?v=WT0L7_jf4C4.
Tópico 2.4: Contribuições da Pesquisa de Joan Woodward
Capítulo 14 (A Abordagem Contingencial), do livro AMBONI, Nério; ANDRADE, Rui
Otávio Bernardes de. Teoria geral da administração: das origens às perspectivas
contemporâneas. São Paulo: M. Books, 2007.
Tópico 3.1.2: Ambiente de Tarefa
Capítulo 3 (O Ambiente Organizacional), do livro PECI, Alketa; SOBRAL, Filipe.
Administração: teoria e prática no contexto brasileiro. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2008.
Teoria da Contingência
181
Gestão Contemporânea
FERREIRA, Vanessa de Lima; LOURENCAO, Paulo Tadeu de Mello; SALERNO, Mario
Sergio. As estratégias na relação com fornecedores: o caso Embraer. Gestão &
Produção [online]. 2011, vol.18, n.2, pp. 221-236. Disponível em: <http://www.scielo.br/
pdf/gp/v18n2/01.pdf>. Acesso em: 08 fev. 2014.
E para visualizar uma aplicação da Teoria Contingencial, sugerimos a leitura do
seguinte texto, que realiza essa aplicação em uma rede de supermercados:
PITALUGA, Christiane M.; SANTOS, Eder Pereira dos; FERNANDES, Franc; BRUEL,
Luiz; PIRES, Guilherme. Aplicabilidade da Teoria Contingencial em Redes de
Supermercados. In: JORNADA CIENTÍFICA DO CENTRO-OESTE DE ECONOMIA E
ADMINISTRAÇÃO, 5, Campo Grande, MS, Brasil, 6 a 8 de outubro de 2004. Disponível
em: < http://www.ufms.br/dea/oficial/HTM/artigos/administra%E7%E3o/Pol%EDtica%20
de%20Neg%F3cios%20e%20Economia%20de%20Empresas/contingencial.pdf>.
Acesso em: 08 fev. 2014
Teoria da Contingência
182
UNIDADE 07
Para compreender melhor como as contingências podem influenciar à organizações
e suas relações, sugerimos a leitura do texto abaixo, contendo o caso da Embraer e suas
contingências na relação com os fornecedores:
Gestão Contemporânea
UNIDADE 07
AMBONI, Nério; ANDRADE, Rui Otávio Bernardes de. Teoria geral da administração:
das origens às perspectivas contemporâneas. São Paulo: M. Books, 2007.
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 7ª ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2003.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini-Aurélio Século XXI Escolar: o
minidicionário da língua portuguesa. 4 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças de. Teoria geral da administração: uma
abordagem prática. São Paulo: Atlas, 2007.
PECI, Alketa; SOBRAL, Filipe. Administração: teoria e prática no contexto brasileiro.
São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.
SILVA, Reinaldo Oliveira da. Teorias da administração. São Paulo, SP: Pioneira, 2001.
Teoria da Contingência
183

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