NTD News for Africa

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NTD News for Africa
NTD News for Africa
Julho de
2013
O controle do vector da malária pode acelerar a interrupção da filiariose
linfática em África, aproveitando uma janela de oportunidade?
Kelly-Hope LA, Molyneux DH, Bockarie MJ. Parasit Vectors. 2013 Feb 22;6:39. [full article can be
accessed at http://www.parasitesandvectors.com/content/6/1/39]
Introdução
O Programa Global de Eliminação da Filariose Linfática (GPELF) foi lançado em 2000, e quase todos
países endémicos na região da Ásia-Pacífico, do Mediterrânio Oriental e das Américas já iniciaram, tal
como recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a campanha de administração em massa
de medicamentos (MDA) para interrupção da transmissão do parasita. Contudo, quase metade dos 34
países em África com endemia de FL ainda não começaram a implementar a estratégia de administração
em massa de medicamentos (MDA), que não inclui o controle do vector.
O continente africano carrega o pesado fardo da filariose linfática (FL), que é causada pelo parasita
Wuchereria bancrofti e é predominantemente transmitido pelos mosquitos Anopheles nas áreas rurais e
pelos mosquitos Culex nas áreas urbanas e nas áreas costeiras da África Oriental. Muitos dos países
africanos que ainda não começaram a implementar a administração em massa de medicamentos (MDA)
têm sistemas de saúde frágeis, inadequadas infra-estruturas de transporte, populações em locais de
difícil acesso. Além disso, muitos destes países sofrem de co-endemia de Loa loa, outro parasita filarial
que pode causar eventos adversos graves (SAEs) após tratamento com ivermectin. Estes desafios
constituem barreiras difíceis de ultrapassar para os programas nacionais de FL.
Para tentar resolver estes problemas a OMS tem defendido a utilização da gestão integrada do vector
(IVM), encorajando melhores ligações entre a FL e os programas de combate à malária, e para o efeito a
OMS criou recentemente estratégias provisórias de interrupção da FL em áreas com endemia de loiasis, o
que envolve o controle do vector. É possível que o recente incremento na utilização de redes tratadas
com insecticida/redes de longa duração (ITNs/LLINs) e pulverização residual no interior das habitações
(IRS) no combate da malária em África, possa ter impacto significativo na transmissão da FL porque o
parasita é transmitido principalmente pelos mosquitos Anopheles.
O objectivo deste estudo foi o de examinar a magnitude, extensão geográfica e potencial impacto do
controle do vector nos 17 países africanos que ainda não iniciaram ou iniciaram recentemente a
administração em massa de medicamentos (MDA). Isto ajudará a determinar o potencial impacto aditivo
das intervenções de controle do vector na FL e o seu potencial contributo para o objectivo global de
eliminação da FL em 2020.
Métodos e Mapas
Os dados nacionais sobre as populações em risco de contrair FL e sobre os níveis de co-endemicidade L.
loa foram obtidos através do Relatório de Progresso da OMS. O mapa Africano da FL criado por Lindsay
and Thomas em 2000, foi utilizado para realçar a distribuição da prevalência de microfilária (Mf) e o
mapa recente de risco de loiasis para África, definido a partir de extensas pesquisas de campo sobre o
historial de parasitas nos olhos (RAPLOA - procedimento de avaliação rápida para a Loiasis), foi utilizado
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para identificar os níveis de prevalência da L.loa, incluindo o risco de eventos adversos graves (SAEs).
Dados nacionais sobre redes mosquiteiras, redes tratadas com insecticida/redes de longa duração
(ITNs/LLINs), foram obtidos através de literatura publicada, relatórios nacionais, pesquisas e conjuntos
de dados de fontes públicas tais como Inquéritos Demográficos e de Saúde, Inquéritos Indicadores de
Malária, Inquérito por Conglomerados de Indicadores Múltiplos, Relatório sobre a Malária, Fazer Recuar a
Malária e websites da iniciativa o Presidente da Malária. O tipo, número e distribuição das intervenções
foram resumidas e cartografadas até ao nível provincial e comparados com distribuições de FL e L. loa
conhecidas ou potenciais.
Resultados
Concluiu-se que a estimativa da população colectiva em risco de FL nestes 17 países foi superior a 100
milhões de pessoas, representando aproximadamente metade do peso estimado para toda África.
Geograficamente os países cobrem uma vasta área do continente, superior a 10 milhões de km2. Os
mapas da FL sublinham que a doença está muito espalhada, sendo que a maioria dos países tem elevada
endemia. A distribuição de L. loa está principalmente concentrada na África Central e Ocidental e 8 países
possuem co-endemia de W. bancrofti e L.loa.
Análises das actividades de controle do vector revelaram um aumento significativo desde 2005, tendo
triplicado o número de pessoas que têm redes tratadas com insecticida (ITN), tendo aumentado também
a cobertura da pulverização residual no interior das habitações (IRS). Contudo, a cobertura variou
dramaticamente nos países, com algumas regiões a reportarem >70% em redes tratadas com insecticida
e actividade regular de pulverização residual (IRS), enquanto que outras não reportaram actividade de
cobertura nas zonas rurais remotas, onde o risco de FL era potencialmente elevado e co-endémico, com
elevado risco de L.loa. Foram registadas diferenças importantes entre populações urbanas e rurais em
termos de percentagem de famílias com pelos menos uma rede mosquiteira (qualquer tipo), uma redes
mosquiteira impregnada (ITN) e crianças <5 anos de idade que tinham dormido protegidas por qualquer
tipo de rede.
Dados de conglomerados geo-referenciados com informação sobre a percentagem de famílias sem rede
mosquiteira (qualquer tipo) e duas redes msquiteira (qualquer tipo) foram disponibilizados relativamente
a seis países: Angola, RDC, Guiné, Libéria, Zâmbia e Zimbabué. No geral as tendências foram
semelhantes nestes países, com elevada percentagem (>50%) de famílias reportando não possuírem
nenhuma rede mosquiteira. A Zâmbia também realizou extensas actividades de pulverização residual
(IRS), assim como o Zimbabué, Angola, São Tomé e Príncipe, Ilha de Bioko da Guiné Equatorial.
Conclusões
Este estudo apresenta uma importante perspectiva geral das actividades de controle do vector nos países
africanos que ainda não iniciaram ou iniciaram recentemente a implementação da administração em
massa de medicamentos (MDA) para a eliminação da FL. No geral, é prometedor o aumento do número
de redes mosquiteiras impregnadas (ITNs) e em menor escala a pulverização residual no interior das
habitações (IRS), e é provável que estas intervenções que têm como alvo a transmissão da malária,
tenham tido também impacto na transmissão de W. bancrofti em muitas áreas co-endémicas.
Registou-se uma variação considerável no controle do vector nos diferentes países, talvez devido a vários
factores, incluindo a dimensão geográfica e a relativa riqueza, e também a estabilidade política. Pode
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também ter a ver com o facto do país ter um programa de controle da malária estabelecido ou ter
recebido do governo e dos doadores internacionais fundos substanciais destinados ao controle da
malária. Estes factores são complexos e interagem, e é necessário considerar a melhor forma do
Programa Global de Eliminação da Filariose Linfática (GPELF) utilizar esta informação para fazer o melhor
uso possível destas intervenções, sendo para isso importante tomar em conta o contexto da
endemicidade da FL e a capacidade programática de cada país.
Estes estudo também revela que é possível que vários países, tais como, Gâmbia, Eritreia e São Tomé e
Príncipe possam não vir a necessitar criar um Programa de Eliminação da FL ou implementar a MDA de
todo, uma vez que são países de pequena dimensão, politicamente estáveis, já criaram programas
activos de controle da malária, possuem uma cobertura relativamente extensa de redes mosquiteiras e
mostraram poucas ou nenhumas evidências de transmissão da FL na última década. Por exemplo, a
Gâmbia tinha evidências históricas de elevada transmissão de FL, também possui uma longa história de
distribuição de redes mosquiteiras em grande escala, e relatórios recentes apontam para o facto da FL já
não constituir um problema de saúde pública.
O facto importante neste estudo é que ele mostra que apesar de muitos países africanos iniciarem
lentamente a administração em massa de medicamentos (MDA) visando a eliminação da FL, o empenho
e apoio financeiro para as DTNs e a simultânea expansão das actividades de controle do vector da
malária é prometedor. Logo, não está além da capacidade do Programa Global de Eliminação da Filariose
Linfática (GPELF) alcançar o objectivo global de eliminação da FL até 2020, mas será crucial monitorar e
avaliar o impacto destas actividades na próxima década para garantir o seu sucesso.
O “NTD News for Africa” é uma publicação electrónica mensal que procura
divulgar pelos cientistas, planificadores de programas, decisores politicos e líderes de
opinião que trabalham no controlo das DTN em África, resultados das mais recentes
pesquisas e artigos publicados. É uma iniciativa conjunta da Liverpool School of
Tropical Medicine, Centro para Doenças Tropicais Negligenciadas, Sightsavers e
Helen Keller International, Escritório Regional para a África. Nós encorajamos os
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