Protocolo 212

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Protocolo 212
DESEMPENHO DO SISTEMA DE IRRIGAÇÃO EM
ÁREA CULTIVADA COM UVA NO PERÍMETRO
IRRIGADO VALE DO RIO GORUTUBA
K. B. da Silva1; R. O. Batista2; M. M. Torres3; A. de F. M. Oliveira4; S. B. Filho5
RESUMO: Objetivou-se avaliar a uniformidade de aplicação de água na irrigação por
microaspersão em área cultivada com uva (Vitis vinifera L.). O trabalho foi realizado no
perímetro irrigado Vale do Rio Gorutuba, localizado na região norte do estado de Minas Gerais,
à margem do rio homônimo, no município de Nova Porteirinha. Lote 1701, Colonização II,
Rede A5. Foram selecionadas quatro linhas laterais sobre a linha de derivação do sistema de
irrigação, depois selecionados quatro pontos ao longo da linha lateral. As medições das vazões
dos emissores foram realizadas em quatros emissores de cada lateral, com três repetições. Foi
calculado o coeficiente de uniformidade de aplicação de água por diferentes metodologias. A
classificação dos valores do desempenho de sistema de irrigação por aspersão foi dada em
função do CUC, Us e CUD. Concluiu-se que o sistema de irrigação avaliado apresentou boa
uniformidade de aplicação de água, apresentando de acordo com os critérios utilizados, valor
bom para Us e para o CUD. Para o CUC, o sistema de irrigação apresentou um valor excelente.
PALAVRAS-CHAVE: Uniformidade de distribuição, Microaspersão, Vitis vinifera L.
IRRIGATION SYSTEM PERFORMANCE IN UVA
GROWING AREA IN THE IRRIGATION
VALE DO RIO GORUTUBA
SUMMARY: The objective was to evaluate the uniformity of water application in micro
sprinkler irrigation in the area planted to grapes (Vitis vinifera L.). The work was carried out in
the perímetro irrigado Vale do Rio Gorutuba, located in the northern state of Minas Gerais, the
river of the same name, in Nova Porteirinha. Lote 1701, Colonização II, Rede A5. We selected
four lines on the side of the bypass line irrigation system after four selected points along the
1
Engenheiro Agrônomo, Bolsista CAPES, Mestrando em Irrigação e Drenagem na Universidade Federal Rural do
Semi-Árido (UFERSA) BR 110 - Km 47 Bairro Pres. Costa e Silva CEP 59625-900 Mossoró – RN. E-mail:
[email protected]
2
Dr. Prof. Adjunto I, Depto de Ciências Ambientais e Tecnológicas, Universidade Federal Rural do Semi-Árido
(UFERSA) BR 110 - Km 47 Bairro Pres. Costa e Silva CEP 59625-900 Mossoró – RN.
3
Engenheiro Agrônomo, Analista em Extensão Rural EMATER, Mestrando em Irrigação e Drenagem na Universidade
Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) BR 110 - Km 47 Bairro Pres. Costa e Silva CEP 59625-900 Mossoró – RN.
4
Graduanda em Agronomia, Bolsista de Projeto Extensão na Instituição, Depto de Ciências Vegetais, Universidade
Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) BR 110 - Km 47 Bairro Pres. Costa e Silva CEP 59625-900 Mossoró – RN.
5
Engenheiro Agrônomo, formado pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). Fone: (84) 9972 – 6102
K. B. da Silva et al.
sideline. Measurements of flow rates of emitters were performed in four stations on each side,
with three replications. We calculated the coefficient of uniformity of water application by
different methodologies. The classification of the values of the performance of sprinkler
irrigation system was given as a function of the CUC, CUD and Us. It was concluded that the
irrigation system evaluated showed good uniformity of water application, submitted in
accordance with the criteria used, good value for Us and for the CUD. For CUC, the irrigation
system had an excellent value.
KEYWORDS: Uniform distribution, micro, Vitis vinifera L
INTRODUÇÃO
A irrigação é uma prática que permite a produção de alimentos em períodos de secas ou
veranicos, também permite que o material genético expresse em campo todo o seu potencial
produtivo (Bernardo et al., 2008). Entretanto, para que a irrigação seja eficiente, é necessário
que os sistemas apresentem alta uniformidade de aplicação da água. Segundo Denículi et al.
(1980), os fatores que podem afetar a uniformidade de aplicação de água são as diferenças de
pressão na linha lateral devido a perdas localizadas e à fricção da água junto à parede do tubo, a
variação na fabricação dos emissores, ao espaçamento inadequado entre os emissores, à
variação na taxa de aplicação com o tempo de operação, ao sistema de irrigação operando com
pressão diferente da pressão estabelecida e ao entupimento de emissores.
Na realidade, a avaliação de sistemas de irrigação é um tema que os agricultores pouco têm
dado importância. Bernardo et al. (2008) afirma que a uniformidade da irrigação tem efeito no
rendimento das culturas, sendo considerado um dos fatores mais importantes na operação de
sistemas de irrigação. Neste contexto, o presente trabalho objetivou analisar a uniformidade de
aplicação de água na irrigação por microaspersão em área cultivada com uva (Vitis vinifera L.).
MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho foi realizado no perímetro irrigado Vale do Rio Gorutuba, localizado na região norte
do estado de Minas Gerais, à margem do rio homônimo, no município de Nova Porteirinha. Estende-se
por uma área aproximada de 5.286 ha e é abastecido pela água do reservatório Bico da Pedra por meio
de uma rede de canais de 127 km, com vazão equivalente a 6 m³ s-1 (Codevasf, 1996).
Foi avaliado o sistema de irrigação no lote 1701, Colonização II, Rede A5 de propriedade do
Sr. Mauro Padoin Felippe. A propriedade possuia uma área irrigada de 9,5 ha cultivada com uva
(Vitis vinifera L.). O sistema de irrigação foi o de microaspersão, onde os emissores foram
instalados no espaçamento de 5 m entre eles, e 3 m entre as linhas laterais, perfazendo um raio
efetivo irrigado de 2 m. A cultura estava instalada no campo no espaçamento de 3 x 2 m.
Para o sistema de irrigação foi utilizado: um sistema de filtragem com filtro de discos, além
de microaspersores.. O abastecimento do sistema foi de água vinda diretamente do reservatório
(canal) revestido de concreto. Foi verificado inicialmente se havia problemas no sistema com
relação a vazamentos e entupimentos, o que foi constatado que não houve ocorrência. O
conjunto foi abastecido por uma motobomba com potência equivalente a 15 cv.
K. B. da Silva et al.
Para a pressão de serviço tivemos um valor equivalente a 15 m.c.a. Os valores das vazões foram
dados em L h-1. Os resultados, foram utilizados nos cálculos das equações 1, 2 e 3, que serão
apresentadas no decorrer do trabalho.
Os equipamentos utilizados para avaliação foram: um cronômetro digital, uma proveta
graduada de 500 ml e manômetro. Para a avaliação foram selecionadas quatro linhas laterais sobre
a linha de derivação ou secundária em funcionamento, as quais se encontravam nas seguintes
posições: início; a 1/3 da linha secundária; a 2/3 da linha secundária e última. Após selecionar as
quatro linhas laterais ao longo da secundária, foram selecionados quatro pontos ao longo da linha
lateral, nas seguintes disposições: primeiro emissor, emissor a 1/3 do comprimento, emissor a 2/3
do comprimento e o último emissor, segundo Keller e Karmelli (1975).
As medições das vazões dos emissores foram realizadas em quatros emissores de cada
lateral, com três repetições de coleta para obtenção da média, com o tempo de 30 segundos para
cada coleta e as pressões medidas na entrada e saída das linhas laterais selecionadas durante a
avaliação. Na sequência, foi calculado o coeficiente de uniformidade de aplicação de água
proposto por Christiansen (1942), considerando o desvio médio e o valor médio das vazões dos
emissores, como apresentado na Equação 1.
(eq. 1)
em que: CUC - coeficiente de uniformidade de Christiansen, %; QI - vazão média observada em
cada microaspersor, L h-1; e QM - vazão média de todos os microaspersores, L h-1.
Keller e Karmeli (1975) sugerem a utilização da Equação 2 para obtenção da uniformidade
de aplicação de água de sistemas de irrigação por microaspersão.
(eq. 2)
em que: CUD - coeficiente de uniformidade de distribuição, %; Y25 - média de 25% do total dos
microaspersores com as menores lâminas, L h-1; e Ym - média das vazões de todos os
microaspersores, L h-1.
Foi também calculado a uniformidade estatística, onde de acordo com Bralts et al. (1987),
está relacionada ao coeficiente de variação dos emissores (V), conforme apresentado na
Equação 3.
(eq. 3)
em que: Us - Coeficiente de Uniformidade Estatística, em %; Sd - desvio-padrão dos dados de
vazão; e e Lm - média das vazões, L h-1.
A interpretação dos valores dos coeficientes de uniformidade (CUC, Us e CUD) baseou-se
na metodologia proposta por Mantovani (2002). Essa classificação divide-se em excelente (90 a
100%), bom (80 a 90%), razoável (70 a 80%), ruim (60 a 70%) e inaceitável (menor que 60%).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A vazão média no setor foi de 38,0 L.h-1. Para o cálculo do Coeficiente de Uniformidade de
Christiansen (CUC), o valor encontrado foi de 92%. De acordo com Mantovani (2002), este
valor foi classificado como excelente para o sistema de irrigação. Bernardo et al. (2008), afirma
que limite mínimo de Coeficiente de Uniformidade de Christiansen aceitável em um sistema de
irrigação por gotejamento é de 80%.
K. B. da Silva et al.
Segundo Bernardo et al. (2008), quanto maior o valor da CUC, menor é a Lâmina de
irrigação necessária para alcançar a produção máxima. Para a obtenção da uniformidade de
distribuição (CUD), o valor encontrado foi de 84%, onde de acordo com os mesmos critérios
estabelecidos por Mantovani (2002), foi classificado como bom. O CUD para culturas de alto
valor econômico e sistema radicular raso deve ser superior a 80%. Segundo Lopez et al.
(1992a), isso ocorre por que o primeiro coeficiente dá um tratamento mais rigoroso a problemas
de distribuição, que ocorrem ao longo da linha lateral.
De acordo com Bernardo et al. (2008), após a instalação do sistema de irrigação e durante o
primeiro ciclo, fazem-se necessárias à análise e a calibração do sistema, a fim de possibilitar sua
implementação, de modo que as demais irrigações sejam conduzidas com eficiência. Para a
obtenção da uniformidade estatística de aplicação de água (Us), o valor encontrado foi de 86%,
onde novamente de acordo com os mesmos critérios estabelecidos anteriormente, foi
classificado como bom. O valor de Us é de grande importância na avaliação de um sistema de
irrigação. Muitos pesquisadores o consideram como o coeficiente mais utilizado em relação aos
demais. Para Lopez et al. (1992b), isto ocorre pelo fato de possibilitar uma medida mais
rigorosa, dando maior peso às plantas que recebem menor quantidade de água.
CONCLUSÕES
Conclui-se que o sistema de irrigação avaliado apresenta boa uniformidade de aplicação de
água, apresentando de acordo com os critérios utilizados, valor bom para Us e para o CUD. Para
o CUC, o sistema de irrigação apresentou um valor excelente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERNARDO, S.; SOARES, A. A.; MANTOVANI, E. C. Manual de Irrigação. 8 ed. Viçosa-MG: Editora
UFV, 2008. 596p.
BRALTS, V. F.; EDWARDS, D. M.; WU, I. P. Drip irrigation design and evaluation based on the
statistical uniformity concept. Advances in irrigation, New York, v. 4, p. 67-117, 1987.
CODEVASF - Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco. Relatório anual do perímetro
Gorutuba. Brasília-DF: 49 p. 1996.
CHRISTIANSEN, J. E. Irrigation by sprinkling. Berkeley, University of California: Agricultural
Experiment Station, 1942. 124p. (Bulletin, 670).
DENÍCULI, W.; BERNARDO, S.; THIÁBAUT, J. T. L.; SEDYAMA, G. C. Uniformidade de
distribuição de água, em condições de campo num sistema de irrigação por gotejamento. Revista Ceres, v.
27, n. 50, p. 155-162, 1980.
KELLER, J.; KARMELI, D. Trickle irrigation desing. Glendora: Rain Bird Sprinkler Manufacturing, 1975. 133 p.
LOPEZ, J. R.; ABREU, J. M. H.; REGALADO, A. P.; HERNADEZ, J. F. G. Riego localizado. 2 ed.
Madrid: Centro Nacional de Tecnologia de Regadios, 1992a. p.217-229.
LOPEZ, J. R., ABREU, J. M. H.; REGALADO, A. P.; HERNÁNDEZ, J. F. G. Riego
Localizado. Madrid, Espana: Mundi-Prensa, 1992b. 405p.
MANTOVANI, E. C. AVALIA. Manual do usuário. Viçosa, MG: DEA/UFV–PNP&D/café EMBRAPA, 2002. 100 p.

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