Boletim Ativos do Leite

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Boletim Ativos do Leite
Edição 37 - Novembro de 2015
Com receita abaixo dos custos, margem de produtor
de Cascavel cai 20% no ano
Por Isadora Trouva Vieira, estagiária da equipe Leite Cepea
Desde outubro de 2014, a receita obtida
por produtores típicos de leite de Cascavel (PR) vem se mantendo abaixo dos
custos, o que pode inviabilizar a atividade no médio e no longo prazo. No acumulado de 2015 (de janeiro a agosto), o
faturamento está 9% inferior ao do mesmo período do ano passado. Em igual
comparativo, o Custo Operacional Efetivo
(COE) subiu 2,37% e o Custo Operacional Total (COT), 2,97%. Como resultado,
a margem bruta do pecuarista leiteiro da
propriedade típica de Cascavel caiu 19%
em termos nominais.
A redução da margem ocorreu em função da menor receita obtida na venda
do leite, por conta da retração das cotações neste período (gráfico 1). Segundo
dados do Cepea, o preço do leite pago
ao produtor do oeste do Paraná registrou quedas consecutivas de junho/2014
a março/2015, apresentando variação
acumulada negativa de 24,5% em termos reais (deflacionando-se pelo IPCA
de julho/2015). Ainda que os preços tenham reagido a partir de abril/2015, em
decorrência do período de entressafra,
os patamares continuam abaixo dos verificados há um ano, uma vez que a demanda não acompanhou o aumento da
produção. O preço médio pago ao produtor de janeiro/2015 a agosto/2015 está
7,4% menor que o praticado no mesmo
período do ano anterior.
Embora os custos tenham variado menos que a receita, estes também apresentaram alta. O item que mais pesou
no aumento dos custos de produção em
Cascavel de janeiro a agosto deste ano
foi a mão de obra, com valorização de
8,2% frente ao mesmo período de 2014.
Em seguida, destacam-se as elevações
nos custos de silagem (6,3%) e energia e
combustível (3,3%).
Localizado no oeste paranaense, o município de Cascavel é um importante produtor de leite do estado, com uma produção modal média de 1.200 litros/dia.
Segundo números do IBGE, em 2013,
a bacia leiteira da região representou
23,9% da produção estadual, que, desde
2003, cresceu expressivos 81,6%. Destaca-se, assim, a relevância da atividade
leiteira para a região e a utilidade em se
acompanhar os custos de produção. Os
dados negativos de margem do pecuarista típico chamam atenção para a necessidade de melhorias na gestão da propriedade, permitindo diagnósticos prévios
de possíveis falhas estruturais e planejamentos futuros. Tais medidas são importantes para maximizar a rentabilidade e a
eficiência com os menores custos possíveis, a fim de assegurar a lucratividade da
atividade em médio e longo prazo.
Gráfico 1. Comparativo da receita bruta e dos custos de Cascavel (PR) de abril/14 a agosto/15
(Dados na base 100=abr/14).
Em cinco anos, produção de leite cresce 33%
em Cruz Alta (RS)
Ana Paula Negri, analista de mercado da equipe Leite Cepea
Levantamentos do Cepea, em parceria
com a CNA, mostram que a propriedade
típica de leite de Cruz Alta (RS) teve ganhos de 33% na produção desde 2010.
Naquele ano, a produção média diária de
leite era 1.500 litros, volume que saltou
para 2.000 litros/dia em 2015. No mesmo intervalo, o número de vacas em lactação aumentou 18%. Do rebanho atual,
que soma 93 vacas, 80 animais estão em
lactação nesse período. Em 2010, das 87
vacas, 68 estavam em lactação. Os resul-
tados apontam, ainda, que a produtividade diária dos animais, que era 22 litros/
vaca em 2010, evoluiu para, em média,
25 litros este ano, aumento de 14%.
Esse avanço na produtividade decorreu
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da mudança do perfil da propriedade
típica da região, que cresceu de 50 hectares para 76 hectares em cinco anos. A
área de pastagem cresceu de 4 hectares
para 5 hectares. O fornecimento de concentrado para as vacas em lactação subiu
17% por vaca/dia. Além disso, houve uma
mudança na composição dos alimentos
que integram a dieta dos animais. Com
tais melhorias, a receita obtida pelos pecuaristas típicos de Cruz Alta em 2015 foi
suficiente para cobrir tanto o Custo Operacional Efetivo (COE) como o Custo Operacional Total (COT), gerando margem
líquida positiva – o que não ocorreu no
cenário de 2010.
divulgado), a produção de leite no Brasil
cresceu devido ao aumento da produtividade por animal (litros de leite por vaca
ordenhada). Em média, o volume produzido aumentou 4,4% ao ano, enquanto o
número de vacas ordenhadas subiu 1,8%.
Como resultado, a produtividade por ani-
mal registrou aumento de 2,6% ao ano.
Considerando-se somente o município
de Cruz Alta, os ganhos médios foram de
2,7% na produção e de 0,4% no número de vacas ordenhadas, gerando crescimento de 2,2% na produtividade por
animal.
A propriedade típica de Cruz Alta está localizada em uma região agrícola do Noroeste do Rio Grande do Sul, com alto nível
tecnológico, acima da média de outras
bacias leiteiras do país. O seu custo de
oportunidade da terra é elevado, tornando essenciais ganhos de produtividade
para viabilizar a atividade.
IBGE - De acordo com dados do IBGE,
de 2003 a 2013 (último levantamento
Gráfico 2. Número de vacas ordenhadas e produção de leite (litros) em Cruz Alta – RS Fonte: Cepea/CNA/IBGE –
elaborado pelo Cepea-Esalq/USP.
Custo com energia elétrica rural sobe 50,1%
em um ano
Wagner H. Yanaguizawa, analista de mercado da equipe Leite Cepea
Item essencial na atividade diária do
produtor de leite, a energia elétrica é
necessária para a ordenha dos animais,
principalmente nas propriedades com
equipamentos de ordenha mecânica,
para o preparo da alimentação do rebanho por meio das “picadeiras”, para
o resfriamento do leite e tantas outras
atividades envolvidas. Devido a sua importância operacional na propriedade,
inclusive pela parte de iluminação dos
ambientes, este insumo também merece
atenção nos custos de produção.
O gasto com o grupo energia elétrica e
combustível representou 3,1% do Custo Operacional Efetivo (COE) no mês de
agosto/2015, considerando-se a média
ponderada dos estados de GO, MG, PR,
RS, SC, SP e BA. São Paulo e Goiás foram
os estados onde este grupo de custo teve
maior peso, de 6,4%, e Paraná onde possui a menor ponderação, de 1,9%.
No último ano, a média nacional do pre-
Gráfico 3. Evolução da tarifa média de fornecimento de energia elétrica para uso rural e rural irrigante.
Fonte: ANEEL
ço da energia elétrica das classes de consumo Rural Irrigante e Rural (considerando-se os dados da ANEEL das regiões Sul,
Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte) sofreu grandes alterações, registrando variações de 129,7% e 50,1%, respectivamente, e fechando o ano com médias
de R$ 0,1056/kWh e R$ 0,1928/kWh. A
região Sul do país apontou a maior alta
com relação ao ano passado, de 41,36%,
e a região Norte a menor alta, de 20,78%.
Já em 2015, os problemas com a estiagem que atingiu o Brasil como um todo
reduziu consideravelmente a oferta de
energia elétrica, uma vez que o país de-
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pende da gestão dos estoques de água
nos seus reservatórios para atender a
demanda interna. Assim, foram acionadas as usinas termoelétricas e inevitavelmente ocorreram os reajustes nas tarifas.
Esse aumento impactou diretamente nos
custos de produção das mais diversas cadeias do agronegócio.
Considerando todas as classes de consumo, o preço médio nacional (até o mês de
setembro/15) fechou em R$ 0,3317/kWh.
Comparando o preço médio de 2014 com
2015, a energia elétrica está 52,3% mais
valorizada este ano. E a energia elétrica
mais cara, por enquanto, está com o Sudeste, a R$ 0,3587/kWh, e a mais barata
com o Nordeste, a R$ 0,2962/kWh.
Tabelas
Fonte: Cepea/USP-CNA
Fonte: FGV; IBGE; Elaborado pelo Cepea
Fonte: Cepea/USP-CNA
Mais de 99% das exportações brasileiras de leite
em pó se concentram na Venezuela
Natália Salaro Grigol, analista de mercado da equipe Leite Cepea
Desde dezembro de 2013, a Venezuela
vem demandando grandes quantidades
do leite em pó brasileiro1, tornando-se
praticamente a única importadora do
1
produto, que é o principal item da pauta de lácteos. No acumulado de julho
de 2014 a agosto de 2015, o país vizinho recebeu 99,5% do volume de leite
em pó exportado pelo Brasil (gráfico 4).
Outros clientes, com participação bem
menor e esporádica, são Bolívia, Congo,
França, Angola, Chile, Guiné Equatorial
Considera-se a categoria leite em pó, composta pelos NCM 4021010, 4021090, 4022110, 4022120, 4022910, 4022920 da Secex.
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e Paraguai. Ao mesmo tempo em que a
concentração das vendas preocupa o setor, as negociações com a Venezuela contribuem com a receita de exportadores
neste momento de preços domésticos
do leite em queda em relação aos anos
anteriores.
A Venezuela tem realizado compras que
resultam em um dos maiores valores recebidos pelos produtos lácteos. No caso
do leite em pó integral2, por exemplo,
dados da Secretaria de Comércio Exterior
(Secex) apontam que o preço médio do
produto brasileiro adquirido pelos venezuelanos foi de US$ 5,83/kg em agosto,
quase quatro vezes mais que a cotação
média negociada na Oceania, de US$
1,54/kg no mesmo período.
De qualquer forma, é fundamental que
sejam estruturadas estratégias de ampliação de acordos comerciais e abertura
de mercados para diversificar os destinos
dos lácteos exportados pelo Brasil. Em
setembro, o Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA) anunciou que a Rússia habilitou 26 plantas
brasileiras de lácteos para exportação e
que a China aprovou o certificado sanitário brasileiro, abrindo pela primeira vez
seu mercado aos produtos nacionais. A
expectativa é que essas medidas contribuam para elevar as exportações brasileiras, embora ambos os países (China e
Rússia), que são os maiores consumidores mundiais de lácteos, estejam demandando menos no mercado internacional.
Segundo relatórios do Departamento de
Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e
do Rabobank, enquanto a Rússia conta
com menor poder de compra, em decorrência da queda nos preços do petróleo.
Na China, os estoques de leite em pó estão elevados.
Gráfico 4. Exportações de leite em pó com destino à Venezuela em comparação com o volume total embarcado. Considera-se a categoria leite em pó, composta pelos NCM 4021010 (fator de correção: 11), 4021090
(fator de correção: 11), 4022110 (fator de correção: 8,2), 4022120 (fator de correção: 9), 4022910 (fator de
correção: 8,2), 4022920 (fator de correção: 9). Fonte: Secex / elaborado pelo Cepea.
Gráfico 5. Preços do leite pago ao produtor na Argentina, Europa, Brasil, Estados Unidos, Uruguai e Nova Zelândia
(valores nominais). Fonte: MAGPya, INALE, LTO Netherlands, Cepea, USDA, Clal.it/ elaborado pelo Cepea.
Dólar – A contínua valorização do dólar
frente ao Real também tem contribuído
para a maior competitividade do produto brasileiro. Em agosto, o preço do leite
pago ao produtor foi de US$ 0,3087/litro,
ante o US$ 0,33/l no mês anterior. Os valores só ficam acima dos da Nova Zelândia e do Uruguai (Gráfico 5).
Apesar do efeito positivo da taxa de
câmbio sobre a competitividade brasileira, este não é o cenário desejado para
o setor. São necessárias ações de longo
prazo para assegurar a inserção do Brasil
no mercado internacional, que englobam
investimentos em aumento de produtividade e melhoria da qualidade do leite,
bem como na redução dos custos de produção.
Em volume, os embarques brasileiros totais de lácteos caíram 12% de julho para
agosto deste ano, passando de 61,8 milhões de litros para 54,3 milhões de litros,
em equivalente leite. Desse total, 45,5
milhões de litros, ou 84%, correspondeu
aos embarques de leite em pó, um recuo
de 15% em igual comparativo – dados
Secex. A queda se deve principalmente à
menor demanda venezuelana pelo produto.
Há de se considerar que a situação político-econômica bastante instável daquele
país interfere nas quantidades adquiridas. Conforme os últimos volumes comprados pela Venezuela, percebe-se que a
demanda oscila de um mês para outro,
não sendo comum que se repitam dois
meses com altas. Vale lembrar que a Venezuela também demanda leite em pó
de outros países, como o Uruguai.
Leite em pó integral, definido pela Secex pelo NCM 4022110 como: “leite integral, em pó, com um teor, em peso, de matérias gordas, superior a 1,5 %, sem adição de
açúcar ou de outros edulcorantes”.
2
Boletim Ativos do Leite é elaborado
pela Superintendência Técnica da CNA
e Centro de Estudos Avançados em
Economia Aplicada - Cepea/Esalq - da
Universidade de São Paulo.
Reprodução permitida desde que citada a fonte
CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E
PECUÁRIA DO BRASIL
CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM
ECONOMIA.APLICADA.-. ESALQ/USP
SGAN - Quadra 601 - Módulo K CEP: 70.830-021
Brasília/DF
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