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Revista
Multidisciplinar de
Licenciatura e
Formação Docente
ENSINO &
PESQUISA
CLIMOGRAMA LÚDICO: PROPOSTA DE RECURSO DIDÁTICO
PARA O ENSINO DO CLIMA NAS AULAS DE GEOGRAFIA
Vicente Pontes de Oliveira Neto1, Judite de Azevedo do Carmo2 e
Anderson Peretto3
1. Acadêmico do curso de licenciatura em Geografia – Unemat, campus Colíder. Bolsista do Pibid. email: [email protected]
2. Graduação, mestrado e doutorado em Geografia, Unesp, campus Rio Claro. Professora adjunta do
curso de licenciatura em Geografia da Unemat, campus Colíder. E-mail: [email protected]
3. Graduação em Geografia, Unemat, campus Cáceres, mestrado em Geografia pela UFMT. E-mail:
[email protected]
Resumo: O objetivo da Geografia escolar é contribuir para a formação do cidadão. Para
tanto, se faz necessário considerar o aluno como sujeito do processo de ensinoaprendizagem, o saber científico precisa estar acessível ao educando por meio de uma
linguagem que ele entenda. Porém, a falta de conhecimento e insegurança dos professores
em relação aos novos métodos de ensino, faz com que na atualidade ainda se encontre ações
pedagógicas fundamentadas na Geografia tradicional, onde o professor proporciona um
ensino baseado na mera transmissão de conteúdo. No ensino do clima é possível identificar
grandes dificuldades em tratá-lo de uma forma integrada ao cotidiano do estudante, bem
como, uma superficialidade em sua abordagem nos livros didáticos. Diante desta realidade,
procurou-se por meio de revisão bibliográfica e observação do dia a dia de sala de aula em
uma escola Estadual do município de Colider-MT, por intermédio do Programa Institucional
de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), apresentar o climograma lúdico como recurso
didático para as aulas de geografia, por entender que este proporciona ao aluno transformarse em protagonista do processo de ensino-aprendizagem.
Palavras-chave: Ensino de Geografia, metodologia de ensino, práticas pedagógicas, PIBID.
PLAYFUL CLIMATE DIAGRAM: A PURPOSE AS A TEACHING
RESOURCE OF THE CLIMATE IN GEOGRAPHY
CLASSES.
Revista Ensino & Pesquisa, v.13 n.01 p.213-226 jan/jun 2015 ISSN 2359-4381
Oliveira Neto, V.P.; do Carmo, J.A. e Peretto, A.
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Abstract: The goal of school Geography is to contribute to citizen formation. Therefore, it is
necessary to consider the student as the subject of the teaching-learning process; the scientific
knowledge needs to be accessible by the students through a language that they can
understand. However, the lack of knowledge and insecurity of teachers on new teaching
methods makes that in present days it is still found pedagogic actions based on traditional
geography, where the teacher provides a teaching method based on mere program content
transmission. On climate teaching is possible to identify major difficulties to manage it in an
integrated way to daily life of students, as well the superficiality of the approaching in
textbooks. Faced with this reality, attempted through literature review and observation of
day bay day in the classroom in a State School of the city of Colider-MT, through the
Institutional Program of Grant to Initiation of Teaching (PIBID in portuguese), to present the
Climate Diagram as a playful teaching resource for geography classes, by understanding that
it provides the student to become the leading figure in teaching-learning process.
Key-words: Geography Teaching, teaching methodology, pedagogical practicing, PIBID.
Introdução
A importância da análise do espaço geográfico de forma holística deve ser
promovida na educação básica com a finalidade de permitir ao aluno perceber os
fenômenos físicos e sociais como uma relação mútua, onde clima, relevo, vegetação e
sociedade se modificam na medida em que interagem.
Para o trabalho com os conteúdos geográficos de forma que eles se tornem
ferramenta do pensamento do educando, segundo Cavalcanti (2011), é necessário
buscar significados e sentidos para eles; e, isto se faz considerando em sua
abordagem a experiência vivida do estudante.
Porém, conforme Oliveira e Silva (2009), o que se percebe na prática escolar do
ensino de geografia, é o tratamento dos conteúdos essenciais e que servem de base
para o saber geográfico, de maneira desconexa e desmembrada, em especial o clima,
onde há uma grande dificuldade de transmitir esse conhecimento e aliá-lo ao
cotidiano e saber empírico dos alunos, por fatores como a superficialidade do tema
nos livros didáticos, além da escassez de recursos.
O estudo do clima no ensino de geografia possui papel determinante para a
compreensão da ciência ambiental, como fator intrínseco aos processos atmosféricos
que influenciam a biosfera, hidrosfera e litosfera (AYOADE, 1996).
Com as experiências vivenciadas na Escola Estadual “Coronel Antônio Paes de
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Barros” na cidade de Colider/MT, proporcionadas pelo Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação a Docência (PIBID), vinculado ao curso de Licenciatura em
Geografia da Universidade do Estado de Mato Grosso-UNEMAT, constatou-se a
dificuldade dos alunos do segundo ano do ensino médio, na compreensão do
conteúdo de climatologia e, especialmente, na interpretação dos climogramas
contidos no livro didático, no caso da turma citada o livro utilizado é de Fábio Bonna
Moreirão (2013).
O conteúdo de climatologia no livro didático supracitado está inserido na
unidade 1 “sociedade e paisagens naturais” no primeiro capítulo “dinâmica
climática”. A linguagem sobre os conceitos que envolvem o tema é clara e objetiva,
entretanto as orientações sobre como interpretar e construir um climograma
aparecem no livro somente ao final da unidade, de forma fragmentada fora do
capítulo destinado ao conteúdo climático, o que rompe com uma sequência lógica e
acaba por desestimular os alunos.
A obra não apresenta climogramas de todos os tipos climáticos, sendo que seria
mais enriquecedor que cada clima fosse contemplado com sua representação, pois
facilitaria a compreensão dos alunos sobre o comportamento e características de cada
tipo de clima. Tais circunstâncias demostram como essa importante representação
gráfica que auxilia de forma imensurável no entendimento da dinâmica climática é
colocada em segundo plano pelo livro didático. Corroborando com a análise Barbosa
(2005) aponta que:
Os climogramas são gráficos de extrema utilidade nos estudos
climáticos. Eles nos fornecem informações a respeito da distribuição
mensal de chuvas e das temperaturas médias para cada mês de
acordo com a escala temporal utilizada [...] Os Climogramas também
servem como modelos a respeito do tipo de clima de uma
determinada localidade. Assim, a partir do desenho da curva de
temperatura e das colunas de precipitação, criamos uma ideia a
respeito do clima, da distribuição sazonal de chuvas e de temperatura
(BARBOSA, 2005, p. 86).
É de suma importância que a interpretação do climograma fique clara para o
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educando por ser componente fundamental no entendimento da dinâmica climática,
pois a partir desse método de representação gráfica é possível determinar as
especificidades de cada clima, seu comportamento e os fenômenos que os
influenciam.
Neste sentido poderíamos acrescentar a possibilidade que o climograma oferece
para identificar os fatores de formação do clima, uma vez que apresenta tanto os
valores médios, como a temperatura e a precipitação, quanto o comportamento
destas variáveis durante o ano, de modo que, refletem claramente quais fatores
influenciam na formação dos tipos de clima, compreendendo assim à dinâmica
climática.
Segundo Lima (2010), é fundamental a utilização de recursos didáticos
alternativos que auxiliem no ensino de climatologia, com a finalidade de dinamizar
os conteúdos abordados. Tais instrumentos trazem interatividade ao processo
educativo, atuando como intermediador entre educando e educador.
Deste modo, o presente trabalho objetivou apresentar o Climograma Lúdico
como recurso didático para as aulas de geografia. Este adjetivo dado ao recurso
justifica-se porque, conforme Dias (2013), o termo lúdico refere-se às atividades que
através do aspecto de jogo desenvolvem a capacidade de atenção, memória e
percepção, aprimorando as habilidades cognitivas dos alunos de uma forma que aos
seus olhos são brincadeiras.
O recurso didático ao ser utilizado pelo professor proporciona ao aluno, através
do seu manuseio, se transformar em protagonista no processo ensino-aprendizagem,
tornando o conteúdo convidativo ao aluno. A construção do conhecimento se torna
conjunta elevando a autoestima do educando por perceber que sua participação é
preponderante para o desenvolvimento do conteúdo.
O instrumento em questão possibilita ao educando fazer a correlação entre os
dados de distribuições pluviométricas e de temperaturas com a identificação e
caracterização dos climas, além de fixar o entendimento dos elementos e fatores
determinantes do clima.
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Materiais e Métodos
Para a elaboração da proposta de inserção do climograma lúdico como recurso
didático, procedeu-se primeiramente à revisão bibliográfica buscando fundamentar a
reflexão acerca do climograma e do ensino de geografia, portanto o estudo realizado
apresenta-se como resultado de uma pesquisa bibliográfica, motivada em razão da
observação empreendida em uma escola estadual do município de Colider-MT,
observação esta proporcionada pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência (PIBID).
De posse das informações, buscou-se a confecção de um climograma lúdico
como material didático (figura 1, 2, 3 e 4), por entender que sua utilização
proporciona o desenvolvimento da aula de forma que o aluno possa interagir com a
ferramenta proposta e assim visualizar e compreender o fenômeno abordado.
O instrumento é feito de madeira e revestido por uma peça de metal para que
seja possível a colocação das peças imantadas do índice de temperatura e
pluviosidade de acordo com os dados de cada clima. As peças são móveis e podem
ser colocadas pelo professor ou pelos alunos conforme a necessidade em questão ou
a abordagem do tema em sala de aula.
Figura 1. Trabalho em sala com o climograma lúdico.
Foto: Vicente Pontes de Oliveira Neto
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Resultado e Discussões
Climograma e o Ensino do Clima nas Aulas de Geografia
Há séculos o homem se interessa pelas questões atmosféricas; seja atribuindo a
deuses ou por meio de observações empíricas, sempre buscou compreender o tempo
em função da significativa relevância em seu cotidiano. Entretanto a ciência
atmosférica só obteve expressivo desenvolvimento a partir do renascentismo com a
invenção do termômetro por Galileu em 1593, e pela descoberta do princípio do
barômetro de mercúrio por Torricelli em 1643 (AYOADE, 1996).
“A climatologia, estudo do clima e da sua variabilidade, analisa padrões do
tempo metereológico de longo prazo, no tempo e no espaço, além dos fatores que
produzem as condições climáticas” (Christopherson, 2012, p. 276). Os elementos do
clima são temperatura, umidade e pressão atmosférica que variam espacialmente e
temporalmente em função da influência exercida pelos fatores geográficos como
latitude, altitude, maritimidade, continentalidade e vegetação (MENDONÇA &
DANNI-OLIVEIRA, 2007).
Os elementos climáticos em interação com os fatores geográficos que variam a
partir da localidade resultam em diferentes climas. Com uma representação gráfica
denominada climograma que, utiliza o índice médio mensal de precipitação e
temperatura ao longo do ano, é possível a caracterização de cada clima bem como
compreender os elementos e fatores que o influenciam (CHRISTOPHERSON, 2012).
A superfície terrestre apresenta uma variedade de climas, a classificação
climática serve para sintetizar e agrupar os elementos climáticos similares em tipos
climáticos, permitindo a diferenciação e o mapeamento dos climas, proporcionando
também a compreensão dos padrões climáticos do mundo (AYOADE, 1996). Cada
tipo climático apresenta comportamento singular no climograma sendo possível
identificar as suas características, bem como a análise dos fatores e elementos que os
determinam.
É fundamental a utilização de gráficos no ensino escolar diante de sua extrema
relevância na sociedade contemporânea, pois, essa forma de representação é um
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instrumento interdisciplinar, onde vários campos do saber fazem uso da mesma para
representação de dados. Contudo, de acordo com Vygotsky (1994) o método gráfico
também se apresenta como instrumento cultural que fomenta a habilidade de
sistematização de dados e a correlação entre representação e realidade.
A geografia escolar necessita de métodos inovadores que transcendam o viés
pragmático, dicotômico e tecnocrata que está enraizado no âmbito geográfico
didático-educacional (Oliveira, 2008). Esse contexto aprofunda a lacuna que ocorre
muitas vezes entre conteúdo e realidade do aluno, exacerbado por uma abordagem
mecanicista que o coloca como passivo do saber, inibindo sua contribuição
resultando na concepção de algo antagônico a ele próprio como até mesmo o clima
tão presente no seu dia a dia.
A preocupação em apresentar significado aos conteúdos geográficos é
identificada em vários autores (CALLAI, 2006; STRAFORINI, 2004; MIRANDA, 2005;
PEREIRA GARRIDO, 2009, CAVALCANTI, 2011) que defendem a necessidade de
fazer ligações destes com o cotidiano, com a experiência vivida.
Portanto, o ensino do clima deve ser pautado em uma perspectiva de
construção em conjunto com o aluno, lhe concebendo a ideia de ciência dinâmica que
acompanha as transformações e não apenas reproduz conhecimento pré-estabelecido
de um espaço imutável. Segundo Fialho (2013, apud GEBRAN 2003, p. 82):
O professor deve assumir o seu papel na construção de
conhecimentos, possibilitando a análise do espaço numa visão
dialética que favorecerá a proposição de situações e atividades, no
decorrer do processo educativo, capazes de permitir ao aluno realizar
a tarefa de entender a Geografia como ciência que investiga e
pesquisa o espaço, buscando suas múltiplas relações, suas
contradições e concebendo-a em contínua transformação, dada pelo
próprio movimento da sociedade.
Nesta perspectiva é que se encontra a proposta de ensino para Geografia
pautada no trabalho com temas relevantes e da realidade cotidiana dos alunos, e
num processo de ensino-aprendizagem que procure desenvolver as competências e
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as habilidades dos mesmos, para poderem por si sós construírem seu saber, sendo o
professor apenas o mediador e facilitador desse processo.
A competência envolve diversos esquemas de percepção, pensamento,
avaliação e ação, já a habilidade é considerada menos ampla que a competência, esta
é constituída por várias habilidades, entretanto, uma habilidade não pertence a
determinada competência, uma vez que uma mesma habilidade pode contribuir para
competências diferentes (PERRENOUD,1999).
O processo de ensino-aprendizagem pautado nas competências e habilidades
deve valorizar, de acordo com Perrenoud (1999), situações de aprendizagens não
rotinizadas, às quais requerem uma reflexão, uma deliberação interna, identificação
de analogias, uma consulta até de referência ou de pessoas para que desenvolva ou
se recorde uma competência, pois uma competência mobiliza saberes.
As situações de aprendizagem desenvolvidas nas aulas de Geografia
objetivando a aquisição de habilidades e competências não podem se pautar em uma
lista interminável de conteúdos, mas sim na apropriação de um saber prático que
faça o aluno entender o lugar onde vive e suas relações de poder para compreender o
mundo que o cerca.
Para desenvolver as competências e habilidades é necessário que elas sejam
trabalhadas em conexão com algum conteúdo conceitual. Perrenoud (1999) diz que
para os alunos adquirirem uma competência é necessário que busquem os seus
próprios caminhos para alcançar este objetivo. Portanto o conhecimento não deve
chegar pronto para o aluno, ele precisa desenvolver a sua capacidade de obter
informações e construir o seu conhecimento.
Neste contexto entende-se que o climograma lúdico é um recurso didático que
propicia às aulas de geografia serem encaminhadas em direção a aquisição de
competências e habilidades.
Proposta de Trabalho com Climograma Lúdico
O climograma proposto apresenta uma abordagem antagônica a que os alunos
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estão habituados, ou seja, como meras representações estáticas no livro didático. A
participação do educando no processo de elaboração da representação de um
determinado clima, sendo os dados colocados mês a mês por ele próprio, contribui
de forma mais eficaz para apreensão da relação entre a variação de temperatura e
pluviosidade com os elementos e fatores que formam os climas, ficando evidente a
diferença de unidades polares, desérticas, tropicais e temperadas.
A linha de temperatura irá determinar em qual hemisfério o clima está situado,
caso as maiores temperaturas sejam de junho a agosto indicando o verão, a linha será
convexa, consequentemente o clima é do hemisfério norte. As menores temperaturas
se forem registradas de junho a agosto indica o inverno, a linha será côncava
portando o clima se encontra no hemisfério sul.
A amplitude térmica será bastante trabalhada, pois ao longo do ano a linha de
temperatura expõe a estabilidade, ou variação sazonal que o clima possa ter. Esse
dado, aliado à média de temperatura, possibilita a constatação de latitude, baixa,
média ou alta devido a cada unidade apresentar temperaturas características durante
o ano.
A maritimidade e continentalidade podem ser identificadas, pois regiões
próximas aos mares e oceanos não possuem amplitude térmica anual acentuada em
função da capacidade da água em reter calor proporcionando que a irradiação da
massa de água aqueça o ar em volta, também predomina a alta taxa pluviométrica
nessas regiões. A continentalidade pode ser percebida em razão de o solo ter menos
capacidade de absorção de calor e sua irradiação ser mais rápida possibilitando
invernos mais rigorosos e variação anual de temperatura significativa.
O índice pluviométrico indicará a quantidade de chuvas mensais, estabelecendo
se o clima é predominantemente chuvoso, árido, desértico e se possui estações secas.
A pluviometria de um dado local associada ao comportamento da temperatura é
determinante para diferenciação de zonas desérticas, polares, temperadas e
equatoriais, pois algumas apresentam igualdades pluviométricas; porém, os valores
de temperatura e sua amplitude são os fatores que as diferenciam.
A interpretação dos dados pluviométricos e de temperaturas em conjunto irá
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conceder ao aluno a autonomia interpretativa, pois o mesmo fará uma leitura dos
dados e identificará qual clima é resultante de tais características.
O climograma apresentado possibilita a representação de praticamente todos os
climas existentes. As fotos que seguem ilustram algumas representações climáticas e
logo abaixo as deduções que se espera que o aluno tenha.
Figura 2. Gráfico demonstrativo do Clima equatorial.
Foto. Vicente Neto Pontes de Oliveira Neto
Diante dessa representação hipotética (figura 2) se espera que o aluno obtenha a
seguinte constatação: o clima representado está localizado no hemisfério sul devido
as menores temperaturas serem de junho a agosto indicando o inverno, possui
latitudes baixas em função de a temperatura ser mais alta que 24° durante todo o
ano, pequena amplitude térmica não ultrapassando os 5° de variação, grande índice
pluviométrico entre 2500 mm e 3000 mm por ano sem estação seca definida. Portanto
é um clima equatorial.
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Figura 3. Gráfico demonstrativo do Clima Temperado Continental.
Foto. Vicente Pontes de Oliveira Neto
Por meio da figura 3 pretende-se que o aluno chegue a conclusão de que o clima
retratado está localizado no hemisfério norte em razão das maiores temperaturas
serem de junho a agosto evidenciando o verão, possui latitudes médias devido as
temperaturas serem predominantemente abaixo dos 15º e não ultrapassando os 30º
em nenhum momento no ano, amplitude térmica acentuada em torno dos 20º e
variação sazonal significativa o que indica a continentalidade. Índice pluviométrico
acima dos 1200 mm anuais com chuvas bem distribuídas durante todo o ano e
estação seca bem definida. Portanto é um clima temperado.
Através da figura 4, o estudante poderá fazer algumas conjecturas para
entender a que clima se refere. Conforme a representação, o clima é localizado no
hemisfério norte devido as maiores temperaturas serem de junho a agosto, latitude
baixa em função da alta temperatura durante todo o ano, amplitude térmica pequena
em torno dos 7º e índice pluviométrico extremamente baixo, não chegando a 250 mm
durante todo o ano, portanto concluirá que esta representação é do clima desértico.
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Figura 4. Gráfico demonstrativo do Clima Desértico.
Foto. Vicente Pontes de Oliveira Neto
Como se pode perceber a utilização do climagroma lúdico exige criatividade
por parte do professor e do aluno. Para Lima et al. (2012, p. 4) a “criatividade é um
ponto imprescindível na construção e relação com o saber, pois permite a quebra de
obstáculos e proporciona a inserção de outras linguagens e o trabalho
interdisciplinar”.
O recurso didático apresentado vai ao encontro das exigências do ensino de
Geografia que prioriza o despertar nos alunos de habilidades para perceber o espaço
a partir de referências concretas. Este ensino vai além dos conteúdos, procura formar
cidadão aptos a interpretarem a sua realidade.
Considerações Finais
Os professores devem contornar o senso comum sobre os métodos de ensino e
buscar formas alternativas de construírem o saber em conjunto com o aluno. Diante
da escassez de recursos e materiais para desenvolver atividades que fujam ao
modelo, muitas vezes arcaico, de apenas reprodução do livro didático, a criatividade
se mostra fundamental para a concepção de ferramentas que, por mais que pareçam
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simples, fazem a diferença no ensino e são determinantes para uma nova perspectiva
educacional.
O livro didático é uma ferramenta importante que auxilia o docente, entretanto
por si só não abrange a totalidade do saber, o emprego de recursos metodológicos
alternativos se mostra eficaz na construção de um conhecimento concreto, palpável
ao aluno, fugindo do abstrato, não proporcionando apenas o aprender, mas também
o apreender.
A inovação no ensino geográfico e a incorporação de novas tecnologias não
devem ser apenas sinônimas de dispositivos eletrônicos, pois há ferramentas que são
eficazes e mais acessíveis financeiramente que estes dispositivos, tanto para a escola
como para os alunos.
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