Nota de Repúdio Nós, organizações da sociedade civil e aliadas
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Nota de Repúdio Nós, organizações da sociedade civil e aliadas
Nota de Repúdio Nós, organizações da sociedade civil e aliadas, vimos relatar e protestar sobre a votação do Plano Estadual de Educação, ocorrida em 05 de maio último, na Assembleia Legislativa. O Plano incorporou propostas e emendas que contribuirão para a desconstrução das discussões sobre gênero na Escola, com reflexos importantes pro avanço do machismo no ambiente escolar. Da mesma forma o Plano, que norteará as diretrizes da Educação, no estado do Ceará, pelos próximos 10 anos, tornou invisíveis as comunidades e populações LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) e invisíveis outros aspectos que também estão hoje presentes no espaço educacional, como a homofobia, a lesbofobia e a transfobia, constatados em diversas pesquisas e estudos da UNESCO/ ONU e outras organizações e universidades. Ao retirar do Plano os itens que combatiam a evasão escolar, a baixa escolaridade e a violência contra LGBT, o documento se presta ao obscurantismo, e à omissão com setores historicamente discriminados/ estigmatizados, que colocam, por exemplo, o estado do Ceará e Fortaleza, como locais com alguns dos maiores índices de preconceito e exclusão dessas populações, na Escola, no país. Ao retirar do Plano o termo LGBT (usado mundialmente pela ONU, governos nacionais e locais, empresas e sociedade civil), substituindo-o por “orientação sexual e moral familiar” no eixo que trata das populações mais vulneráveis (além de indígenas, quilombolas e população do campo), bem como excluir as referências ao combate à evasão escolar e aumento de escolaridade dessas comunidades LGBT, estimadas em cerca de 10% da população, o documento aprovado espelhou as emendas advindas de deputados fundamentalistas religiosos, que querem impor sua interpretação restrita, obscura e autoritária da Bíblia. Esses parlamentares, ao pautarem a discussão religiosa, descumprem a Constituição Federal e fomentam o preconceito (o Estado brasileiro é laico, ou seja, as políticas públicas não devem ser regidas por dogmas e convicções religiosas, de qualquer credo). Os deputados/a Dra. Silvana (PMDB), Carlos Matos (PSDB) , David Duran (PRB), Audic Mota (PMDB) e Ely Aguiar (PSDC) foram autores de propostas que não contemplam as necessidades educacionais das populações LGBT e de meninas e mulheres. Defenderam uma Escola onde se discriminam as diferenças e não se enfrentam as vulnerabilidades de comunidades específicas, se omitindo (portanto, se corresponsabilizando) diante das agressões e violações diárias que afetam alunos/as LGBT, que, inclusive, atualmente, são objeto de preocupações e intervenções jurídicas do Ministério Público. Nessa mesma direção, os deputados Elmano de Freitas (PT), relator da matéria, e Evandro Leitão (PDT e líder do Governo estadual) ao promoveram um “acordo”, três dias antes da votação, barganhando os direitos LGBT, para a aprovação de outras matérias de interesse econômico do governo estadual, sem a participação e concordância da sociedade civil (que promoveu diálogos com o relator e outros deputados, inclusive em audiências públicas), contribuíram diretamente para a aprovação de um Plano de Educação misógino, LGBTfóbico e obscuro. O documento também invisibilizou, e configurou o não reconhecimento de identidades/ nomes sociais de sujeitos políticos historicamente marginalizados, as travestis e os/as transexuais. É entendimento pacífico, por organismos internacionais e universidades, que o reconhecimento e a garantia dos direitos LGBT podem ajudar a descrever o nível de democracia em um país, estado, etc. Ao se negociar e barganhar os direitos dessa população, na verdade, está se negociando, mesmo, é a própria democracia social. Defendemos uma Educação para todos/as, universal, pública, laica, de qualidade, e com equidade, sem discriminações e preconceitos, com respeito a todos os Direitos Humanos. A Escola deve se posicionar sempre como um espaço para a construção dos saberes, da liberdade, da solidariedade, dos projetos de vida, do humanismo e do acolhimento, nunca um espaço para a construção do ódio, das opressões, da segregação e do desrespeito às diferenças. Fortaleza, 17 de maio de 2016 (Dia Nacional de Combate a LGBTfobia). Assinam essa Nota de Repúdio: Fórum Cearense LGBT Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – ABGLT Rede Trans Brasil Associação Nacional de Travestis e Transexuais – ANTRA Rede Nacional das Religiões Afro-Brasileiras e Saúde Centro Popular de Cultura e Eco- Cidadania– FOR RAIBOW Associação Barraca da Amizade Grupo de Resistência Asa Branca – GRAB Fábrica de Imagens – Ações Educativas e Gênero Federação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal do Estado do Ceará - FETAMCE Fórum da Luta Antimanicomial Associação de Travestis do Estado do Ceará Associação da Parada pela Diversidade Sexual do Ceará e Orgulho LGBT Marcha Mundial de Mulheres Organização Frida Kahlo Coletivo Crewolos Conselho Regional de Serviço Social – CRESS Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza Programa Clínica, Estética e Políticas do Cuidado/UFC Damas Cortejam Outro Grupo de Teatro Juventude Negra Kalunga Frente de Juventude Kizomba Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares – RENAP-CE Coletivo URUCUM Associação Nordestina de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais ASTER – Associação Comunitária de Moradores e Amigos do Loteamento Santa Terezinha e Adjacências Instituto Brasileiro de Transmasculinidade – IBRAT/CE Núcleo de Pesquisa sobre Sexualidade, Gênero e Subjetividade – NUSS – Universidade Federal do Ceará Associação Afrocearense de Letras Sindicato dos Jornalistas do Ceará (SINDJORCE) Comitê pela Democratização da Comunicação no Estado do Ceará
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