Uma Re-Aculturação entre os Teutos

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Uma Re-Aculturação entre os Teutos
des-encuentros, 2014,
Vol 11, P 52-59
O Turnen Escolar: Uma Re-Aculturação entre
os Teutos-Brasileiros e Alemães no RS/Brasil
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O Turnen Escolar:
Uma Re-Aculturação entre os
Teutos-Brasileiros e Alemães no RS/Brasil
Leomar Tesche 1
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1 - Unijui-campus Santa Rosa/RS, Brasil - [email protected]
des-encuentros, 2014,
Vol 11, P 52-59
Resumo: Após levas imigratórias os teutos-brasileiros
estavam perdendo suas identidades. Com a vinda dos
legionários, estes na sua maioria com um nível cultural
e intelectual elevado, fomentaram a re-aculturação dos
descendentes através das práticas da língua, fundação
de escolas e o que caracterizava a cultura alemã como a
prática do turnen e a construção de espaços para o lazer
como as Sociedades de Ginástica.
Después de olas de inmigración los teutones-brasileños
estaban perdiendo su identidad. Con la llegada de los
legionarios, se trata en su mayoría con alto nivel cultural
e intelectual, promovieron la re-aculturación de los descendientes a través del lenguaje práctico, fundación de la
escuela y lo que caracteriza la cultura alemana como la
práctica de turnen y construcción espacios para el ocio
como Sociedades de Gimnasia.
After immigration waves the Teuton-Brazilians were losing their identities. With the coming of the Legionaries, these mostly with high cultural and intellectual level,
promoted the re-acculturation of descendants through
practical language, establishment of schools and what
characterized the German culture as the practice of turnen and building spaces for leisure as Gymnastics Societies.
Palavras-chave: Turnen Escolar, Teutos-Brasileiros,
Aculturação.
O Turnen Escolar: Uma Re-Aculturação entre
os Teutos-Brasileiros e Alemães no RS/Brasil
Tesche, L. des-encuentros, 2014,
Vol 11, P 52-59
Introdução
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A entrada oficial de levas de imigrantes alemães
no RS/Brasil, iniciou-se em 1824, concomitante
aos assentamentos o que era preocupação principal pois havia essa promessa. Muito tempo levou para que estes imigrantes pudessem pensar
em discutir aspectos da sua cultura, necessidades secundárias, mas não menos importantes.
Entendendo cultura como: ".. no geral passa a
ser entendida como produção e criação da linguagem, religião, dos instrumentos de trabalho,
das formas de lazer, da música, da dança,dos
sistemas e relações sociais e de poder". Neste
caso a cultura, para Fenelón (1993), "passa a ser
também o campo no qual a sociedade inteira
participa, elaborando seus símbolos e signos,
suas práticas e seus valores". Por isso a partir
de 1850 iniciaram-se com maior ênfase a construção de escolas e igrejas afirma Tesche (1996),
e mais tarde os clubes (Vereins) puderam estimular encontros e a praticarem aquilo que fazia
parte da sua cultura: o cantar, o teatro, o Turnen (1996). Outro acontecimento subsequente,
anos após, foi a entrada dos 1770 Legionários
alemães, os Brummer. Estes intelectuais, liberais, fomentaram uma re-aculturação com o estímulo dos mesmos aos imigrantes e já muitos
teuto-brasileiros a se sentirem alemães no Brasil, e que deveriam praticar a sua cultura. Neste
aspecto o Turnen teve um papel importante,
primeiramente nos Clubes e após nas escolas
evangélicas luteranas, conforme Tesche (2002).
O enfoque que daremos, ao longo deste estudo,
é o de identificar, acompanhar e analisar o esforço de um povo em preservar sua identidade
étnica, o germanismo, através do Turnen. Nesse sentido, faremos o estudo de uma Sociedade, de uma Liga de Ginástica teuto-brasileira/
Turnenrbund, denominada, hoje, de Sogipa
em Porto Alegre/RS, Brasil. Esta Sociedade,
em particular, é uma das mais antigas do Brasil em atividade e a mais antiga do Rio Grande do Sul. Ela procurou manter unidos os seus
sócios através de intensas atividades e os manteve constantemente informados, publicando
idéias, pensamentos e objetivos em relação ao
Turnen. Ao mesmo tempo as escolas existente
naquele período e adiante cooptaram em seguir
esta atividade dentro das Sociedades. Portanto,
a pergunta norteadora é como aconteceu essa
re-aculturação e como a prática do Turnen se
solidificou na vida dos Clubes/Sociedades e nas
escola, tendo em vista que esta modalidade foi
a pedra fundamental para uma "cultura esportiva" no estado do Rio Grande do Sul (RS), Brasil
no meio escolar? Qual foi o discurso utilizado
para argumentar essa intenção?
Inicio contextualizando um momento muito
importante no Brasil e no Rio Grande do Sul
quando chegam a esta terra um contingente de
1770 soldados de legionários ou diríamos mercenários.
Em nosso estudo é importante considerar a
questão dos legionários e a sua contratação e
seus aspectos de formação cultural nos anos
pós 1850. No texto de Schmid (1951), traduzido
pelo general Klinger em 1951, o autor relata que
o Brasil sentindo-se ameaçado por Rosas em
sua fronteira meridional e ocidental elaborou
um tratado com o Uruguai e o general Urquiza
na defesa de seus interesses. A guerra veio e a
derrota de Rosas se deu na batalha em Monte
Caseros em 3 de fevereiro de 1852.
Fazia parte do exército brasileiro a referida legião de alemães composta de 1770 homens tanto da infantaria, artilharia e sapadores2, todos
aliciados em Hamburgo na Alemanha.
2 - Sapadores - soldado da arma de engenharia. Origem do vocábulo SAPA (pá metálica).
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Mas na história brasileira este seria o terceiro
ato no intuito de fortalecer o poderio militar
brasileiro por meio de mercenários europeus
nas guerras platinas. No ano de 1823, após a
declaração da independência do Brasil, o imperador D. Pedro I, pretendia exatamente por
meio das legiões substituir as tropas portuguesas repatriadas e incrementar um novo modelo
de exército brasileiro. Conforme anotações do
referido autor havia ainda tido um emprego de
tropas estrangeiras em 1838.
3
Na revolta de cabanos no Pará , 1835 a 1840, a
regência mandou contratar em Hamburgo/Alemanha 500 mercenários por intermédio do cônsul do Brasil e de um Dr. Schmidt. Na chegada
ao Pará a revolta já havia findado e os mercenários se viram enganados, traídos, abandonados
sem subsistência e sem terras. Alguns foram
admitidos a servir em unidades brasileiras, outros cometeram o suicídio e ou morreram por
doenças (1932), veremos no seu original (1949):
Foe por ocazião da revolta dos cabanos, no Pará.
A “rejêmsia” brazileira mandou então contratar, em
HAMBURGO, 500 mersenârios, por intermédio do
cômsul do BRAZIL edum Dr.SCHMIDT. Cuando xegaram ao PARÁ, a revolta já fora dominada,e então
os imfelizes estranjeiros se viram torpemente emganados, traídos: não apenas foram abandonadosá
sua sorte,sem meios eem terra estranha de límgua
desconhesida,mas postos em prizão a bórdo de navios, maltratados, afinal soltos, ums poucos, ce dezesperados aseitaram , foram admitidos a servir em
unidades brazileiras: outros poucos, ce tiveram meios
ou corajem, se escaparam do teatro de sua dezgrasa,
tanto mães ce reinava fome da terra; e na maeoria
sucumbiram de mizéria e doemsa, levados algums ao
suisídio.
As discussões referentes ao envolvimento dos
agentes de D. Pedro II para recrutamento dos
soldados4 nem sempre tiveram acontecimentos
tranqüilos. Autores diversos tratam do tema,
mas o que foi a questão principal e desencadeadora para a vinda dos mercenários foi a
dissolução do exército de Schleswig-Holstein,
podemos acompanhar, em anexo, os trâmites
de Rego Barros nas tratativas de levar os legionários ao Brasil.
Havia toda uma preparação para um futuro
conflito armado contra a Argentina de Rosas.
Pelo lado brasileiro foi enviado a Europa, para
contratar/recrutar oficiais prussianos, Sebastião
do Rego Barros. Pelo outro lado, o governo argentino articulou de todas as formas possíveis
de impedir a atitude brasileira, mas não teve
êxito. Destacamos o que escreve o jornal Allgemeine Auswanderer Zeitung, o qual não era
favorável aos recrutamentos e à autorização do
Senado de Hamburgo, em 04 de março de 1851,
citado por Schröder (2003):
Dos fatos a seguir relatados, infelizmente temos que
concluir que as autoridades daqui concordam com os
continuados recrutamentos do Brasil. O ex-ministro
Rego Barros instalou-se aqui em suíte no Hotel Victoria, ao que parece para longo tempo.
Concomitante àquele ano, 1851, fora dissolvido, o exército de Schleswig-Holstein e pouco a
pouco, os soldado e oficiais foram desincorporados e muitos deles foram a Hamburgo/Alemanha tentar ali um novo emprego e de fato,
Hamburgo e Bremen empregaram alguns deles.
Ainda em 1851 é constituído um comitê para o
exército de Schleswig-Holstein para auxiliar este
3 - A revolta dos cabanos, Cabanagem, foi uma revolta popular acontecido na província do Grão-Pará. nome dado pois havia um grande número dos revoltosos de pessoas pobres (mestiços e índios) que moravam em cabanas nas beiras dos rios da região, a eles se somavam os fazendeiros e comerciantes
cada um com seus interesses.
4 - A nota de rodapé do refiro texto trata do seguinte: O contrato da legião alemã de 1851 obedeceu a Lei nº 586 de 6-IX-1850. Estabelecia ela, no art 17º:
Fica o governo autorizado:...§ 4º. Para, em circunstâncias extraordinárias, fazer as despesas necessárias afim de elevar a 26 000 homens a força de 1ª
linha, podendo contratar nacionais e estrangeiros e distribuir-lhes terras, segundo contrato. Os estrangeiros só podem ser empregados nas fronteiras.
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Tesche, L. Tesche, L. grupo sendo que muitos emigraram para os Estados Unidos.
Para o caso da vinda e sua legalidade ao Brasil,
havia um primeiro momento em que o candidato deveria se apresentar ao cônsul-geral, este
os encaminhava ao escritório de Rego Barros,
recebiam identificação e se estavam desprovidos de meios, recebiam alimentação e moradia
gratuita na casa de boarding junto ao Bastião de
São João, conforme dados de Schröder (2003).
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No relato da obra de Torres (2005) sobre a vida
de um dos Brummer, Joseph Wilt Meurers, o
autor observa que após a guerra contra a Dinamarca muitos jovens revolucionários implicados por idéias liberais que tinham ingressados
no exército prussiano viviam sem causa e sem
trabalho, mas nem por isso atento às oportunidades na América. Joseph sabia da contratação
pelo Brasil de voluntários para aumentar seu
exército e enfrentar a Argentina e para tanto o
governo brasileiro prometia, além de dinheiro,
terras (22.500 braças quadradas) àqueles soldados que se alistassem e defendessem o Brasil.
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A maioria dos soldados não poderiam retornar e
foram tolerados pelas autoridades. Alguns emigraram ou passaram a ser mendigos. Ex-oficiais
tiveram melhor sorte, pois poderiam começar
como tutores ou jornalistas. Alguns estavam à
beira da inanição. Os primeiros rumores sobre
a fundação da Legião alemã, nestes círculos, foram recebidos com entusiasmo5.
Na Alemanha o recrutamento era oficialmente proibido, devendo por isso ser organizado a
partir da Helgolândia britânica (ilha no norte
da Alemanha). Com isso a atenção se voltou às
cidades hanseática, repletas de emigrantes políticos, onde persistiam maiores agrupamentos
do dissolvido exercito de Schleswig-Holstein.
Com essas reservas fora formado já 1851 uma
legião de estrangeiros para o serviço no Brasil –
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os “Brummer”. Desses, no entanto, justamente
os elementos mais irrequietos haviam retornado frustrados, aguardando nova oportunidade6.
Dados de Stolz (1996) são de que através do
porto de Hamburgo7 deixaram Schleswig-Holstein no ano de 1851, 1467 pessoas, nos anos de
1852 deixaram 2722 pessoas. Aproximadamente
10% dos oficiais da força armada de SchleswigHolstein foram para os USA; desses 218 tenentes, de origem prussiana, 52 imigraram dos 131
tenentes das diversas 23 regiões alemãs. Certo
de que partes prestaram serviço militar em outros exércitos e foram para o Brasil e África do
Sul. O levantamento dos navios e seus passageiros com destino ao Brasil foram os seguintes,
conforme Stolz (1987):
Ano- 1851/Data
Navio
Nº de Soldados
7.4......................... Hamburg.....................270
14.4........................... Danzig.......................246
4.5...................Caesar Godeffroy..............340
11.5.......................... Colonist......................158
3.6............................ Maria........................139
5.6............................. Elbe.........................189
22.6.......................... Heinrich......................156
4.7........................ Freihandel......................61
18.7................... Flying Dutchman...............147
26.7..........................Mathilde........................64
Total........................ 1770
Para Schmid (1951), Rego Barros alcançou o
seu objetivo após seis meses. Muito lhe auxiliou
na tarefa o fato ou a circunstância de ter sido
dissolvido o exército de Schleswig-Holstein. Foi
recrutado parte dos que compunham o referido
exército, voluntários que se incorporaram por
idealismo ou por espírito de aventura ou por
outros motivos. Muitos deles haviam participado como livres atiradores na revolução de 1848
e ficaram sem meio de vida, milhares de jovens,
com treinamento de campanha e espírito empreendedor a procura de novo emprego. Estes
não podiam regressar a Pátria, nem encontra-
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vam serviços de bom grado, portanto, se deixaram aliciar pela proposta brasileira, pois fora
como um presente dos céus. Não havia perspectivas para eles. E como se tratasse de soldados e oficiais veteranos de guerra eram bem
vindos para Rego Barros.
posuiam cultura e imstrusão superiores á de muintos dos
ofisiaes, os cuaes aviam obtido as imsignias sem saber
como. Emfim, era um verdadeiro pot-porri (sic) dos maes
diversos elementos. Algums dos lejionários tinham sérios
motivos para ocultar seu pasado e poriso figuraram sob
nome falso no alistamento e nos asentamentos individuaes....
Estes legionários eram homogêneos, entre 17
a 50 anos de idade, de várias instruções e de
caráter. Alguns se alistaram sem conhecimento
do serviço militar, talvez por simples aventura
como, por exemplo, Cristovam Lenz um dos
autores da obra Memórias de Brummer.
Torres (2005) relata que o Brummer Joseph
carregava poucas coisas quando embarcou no
navio Danzig, no porto de Hamburgo. Integrava a 2º Cia.com 246 soldados e chefiado pelo
capitão Hormeyer e chegando ao Rio de Janeiro
em 6 de junho de 1851. Estes Brummer sofreram muito antes de embarcar ao Brasil como escárnio de seus conterrâneos, qualificados como
escravos pois lutariam para um regime monárquico e escravocrata.
O Brummer Joseph, citado por Torres (2005),
era integrante nos pontoneiros, combatentes
que vão à frente da tropa de ataque.Seu aprendizado no exército prussiano fora curto e aos
21 anos já integrava como voluntário a segunda
Companhia em 1848 lutando contra a Dinamarca.
Ainda em sua obra, Schmid (1951) cita uma
palestra de Karl Von Koseritz, “Senas da vida
militar brazileira”, na qual este fala sobre os legionários, vejamos:
Figuravam velhos lamscenetes, ce aviam militado na
África, na Índia, na Polônia, até na Espanha, de par com
temros cadetes, bem como educandos forajidos das
Reaes Escolas Militares, etc. Lejionários ce aviam sido
oficiaes, davam grasas a Deus se comsegiam emgajarse
como sarjentos; outros resebiam pó superiores ierarcicos omens ce aviam sido seus subordinados; já outros
Kahle (1993) igualmente descreve que contratados por quatro anos estes legionários receberiam terras e não somente salário decente e que
a expectativa pelos brasileiros, inicialmente, não
eram boas e com a vinda da guerra lutaram pelo
Brasil, como já descrito por outros autores.
Quanto a Organização Escolar
A preocupação dos imigrantes com relação à
instrução de seus filhos era grande, pois “entendiam que a escola era uma parte importante ou
fundamental do processo educacional”, afirma
Kreutz (1998). Era um componente da sua tradição do século 16, a partir da Reforma e Con-
5 - Gelegenheit. Die meisten dieser Ex-Soldaten konnten nicht mehr zurück und wurden von den Behörden nur widerwillig geduldet. Manche wanderten
aus oder bettelten. Ehemalige Offiziere waren froh, wenn sie sich als Hauslehrer oder Journalist durchschlagen konnten. Einige standen kurz davor zu
verhungern. Die ersten Gerüchte über die Gründung einer Deutschen Legion wurden deshalb in diesen Kreisen geradezu Enthusiastisch aufgenommen.
Kanonenfutter für die Krim. Grossbritanniens Fremdenlegionen. In: Das e-zine MIT der Sozialgeschichte der Söldner und Abenteurer.- www.kriegreisende.de
6 - In Deutschland war die Werbung offiziell verboten und sollte deshalb vom britischen Helgoland aus organisiert werden. Damit richtete sich die Aufmerksamkeit auf die Hansestädte, in denen es von politischen Emigranten wimmelte und sich immer noch größere Reste der aufgelösten schleswig-holsteinischen Armee aufhielten. Mit diesem Reservoir war bereits 1851 eine Fremdenlegion für den Dienst in Brasilien gebildet worden– die so genannten
"Brummer". Von diesen waren inzwischen jedoch gerade die unruhigsten Elemente wieder frustriert zurückgekehrt und warteten auf eine neue Gelegenheit.
7 - ...Über den Hafen Hamburg verlissen Schleswig-Holtein im Jahre 1851 1467 Menschen, im Jahre 1852 2722 Menschen. Etwa 10% der Offiziere der
Schleswig-Holteinischen Armee gingen in die USA; von 218 Leutnants, die aus Preussen stammten, wanderten 52 aus, von den 131 Leutnants aus den
übrigen deutschen Ländern 23. Geschlossene Teile zum Militärdienst in einem anderen Heer gingen nach Brasilien und Südafrika.
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Tesche, L. Tesche, L. tra-Reforma. E mais, a escola também era um
local de encontro dos imigrantes e a sua função
específica era alfabetizar, educar e doutrinar os
filhos dos imigrantes. Na realidade, a origem
dessa tradição escolar entre os alemães imigrados inicia por volta do século XVIII, baseado
no motivo religioso. No jornal Lehrerzeitung
(1911) encontramos uma passagem pertinente
a esse assunto: “...a escola era concebida como
uma instância de apoio à formação religiosa,
como um pórtico da igreja, a sementeira da comunidade, devendo ser tida como o laboratório
primeiro para formar o cristão”. O imigrante
veio com essa mentalidade, pois na sua terra natal o Estado era o responsável pela educação e
aqui não se podia esperar nada dele.
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Tesche (2001) apresente seu estudo sobre as escolas e a Turnen como um componente importante no currículo escolar. O currículo foi construído sempre pelo interesse em dar o melhor
aos filhos. Kreutz (1998) relata que “nos anos
de 1930 havia uma rede de 1.041 escolas comunitárias, com 1.200 professores, sendo que quase não havia analfabetos nessas regiões”. Havia
um projeto de estrutura com uma vinculação
liderada pelas Igrejas católica e luterana.
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O currículo era organizado pelos imigrantes alemães, pela escola, que pensavam dar aos alunos
o essencial para a sua aprendizagem, sempre de
acordo com interesses locais, podendo utilizar
os conhecimentos adquiridos no seu cotidiano
e a isto estava vinculada a impressão do seu material didático, atendendo às necessidades regionais. Além de que as “escolas eram supridas por
leigos ou pastores e professores formados na
Alemanha”, destaca Hoppen (s/d). No entanto,
para Kreutz (1998),
[...] O Rio Grande do Sul tornou-se, já a partir de 1900,
o Estado com o maior número de escolas comunitárias da imigração alemã, e também se firmou como
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um centro de referência para a produção de material
didático e a criação de estruturas de apoio à escola
tanto para os outros Estados brasileiros, quanto para
os países latino - americanos (...) Além de ter o maior
número de escolas, o Rio Grande do Sul também tornara-se o centro tanto para a produção de material didático quanto para a formação de estruturas de apoio
para as escolas da imigração alemã.
Muitos dos legionários foram responsáveis por
escolas no interior do Rio Grande do Sul e nas
cidades maiores as escolas se valiam da estrutura e de professores dos Clubes (Verein), como
por exemplo Georg Black Sen. Quando nos
referimos a Black não podemos de mencionar
de que tinha uma formação e foi o maior incentivador de práticas de diversas modalidades.
Foi professore de escola em diversas escolas da
grande Porto Alegre.
No Turnerbund, Sociedade Ginástica Porto
Alegre (SOGIPA), a primeira modalidade a despontar foi o Turnen, mais tarde denominaram
de ginástica. A esgrima foi iniciada precariamente em 1899. O futebol também teve seu espaço mas logo fora suspenso das atividades do
Clube. Há confirmação de que se praticava sete
diferentes modalidades como, além do futebol,
tamborim, bola com alça, bola dentro de um
círculo, três-corta e Krokett. No ano de 1926
fora introduzido o basquete e o voleibol e mais
tarde o atletismo teve um espaço para a sua prática na construção de um estádio. Em 1885 foi
inaugurado uma piscina fluvial no rio Guaíba.
Ainda fora introduzido o Bolão, e o Punhobol
modalidades típicas da cultura alemã.
Todas as modalidades enumeradas e praticadas
nas Sociedades de Ginástica eram igualmente
praticadas nas escolas. O currículo sugeria o
Turnen como atividade física aos alunos, entendendo de que Turnen era um nome abrangente
e por isso as modalidades eram diversas.
Tesche (2001) levanta a hipótese de que há vínculos entre a sociedade/clube, a escola, a igreja
e a maçonaria nas idéias liberais de um grupo,
este que já discutimos, a dos legionários. Sua
preocupação em construir entidades que fossem direcionadas e utilizadas pelos imigrantes
e teuto-brasileiro e de uma forma de preservar
sua identidade seria a pratica do Turnen. Telles
(1974) cita uma passagem do Deutscher Hilsverein/Colégio Farroupilha e que demonstra o
quanto a prática foi importante:
A princípio cada pai de aluno era livre para permitir a
participação do filho nas aulas de ginástica ministradas pelo professor Herrmann Englert, no Turnerbund.
Mas, como poucos faziam uso disso, a direção do Turnerbund solicitou ao Conselho Escolar reforçar a participação, o que foi feito através da obrigatoriedade das
aulas de ginástica, ministradas agora, conjuntamente,
por um professor do Turnerbund e da Hilfsverein, sendo a parte desta última lecionada pelo Prof.Knorre.
Apresentamos as primeiras dificuldades que os
imigrantes tiveram ao chegarem à nova terra. O
transplante cultural foi inevitável e o despertar
para o “novo mundo” no qual estavam vivendo
chegou, para alguns imigrantes, tardiamente. A
sua inserção neste novo ambiente foi retardada
e quase perdida, a sobrevida aconteceu com o
discurso desses legionários/Brummer que modificaram toda a forma de pensamento, do agir
e da autoconfiança ao teuto-brasileiro e a escola
foi um dos espaço para que isto acontecesse. A
questão da sobrevivência foi a necessidade primeira para, somente mais tarde, poderem dar
importância à necessidade cultural/política/social/educacional. Essas características são aquelas que hoje fazem parte da cultura brasileira,
ou seja, os alunos/atletas tem as suas primeiras
experiências com os esportes/modalidades nas
escolas e mais tarde nos clubes e no sul do Brasil esta é a marca até os dias de hoje.
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