Uma Re-Aculturação entre os Teutos
Transcrição
Uma Re-Aculturação entre os Teutos
des-encuentros, 2014, Vol 11, P 52-59 O Turnen Escolar: Uma Re-Aculturação entre os Teutos-Brasileiros e Alemães no RS/Brasil 52 O Turnen Escolar: Uma Re-Aculturação entre os Teutos-Brasileiros e Alemães no RS/Brasil Leomar Tesche 1 53 1 - Unijui-campus Santa Rosa/RS, Brasil - [email protected] des-encuentros, 2014, Vol 11, P 52-59 Resumo: Após levas imigratórias os teutos-brasileiros estavam perdendo suas identidades. Com a vinda dos legionários, estes na sua maioria com um nível cultural e intelectual elevado, fomentaram a re-aculturação dos descendentes através das práticas da língua, fundação de escolas e o que caracterizava a cultura alemã como a prática do turnen e a construção de espaços para o lazer como as Sociedades de Ginástica. Después de olas de inmigración los teutones-brasileños estaban perdiendo su identidad. Con la llegada de los legionarios, se trata en su mayoría con alto nivel cultural e intelectual, promovieron la re-aculturación de los descendientes a través del lenguaje práctico, fundación de la escuela y lo que caracteriza la cultura alemana como la práctica de turnen y construcción espacios para el ocio como Sociedades de Gimnasia. After immigration waves the Teuton-Brazilians were losing their identities. With the coming of the Legionaries, these mostly with high cultural and intellectual level, promoted the re-acculturation of descendants through practical language, establishment of schools and what characterized the German culture as the practice of turnen and building spaces for leisure as Gymnastics Societies. Palavras-chave: Turnen Escolar, Teutos-Brasileiros, Aculturação. O Turnen Escolar: Uma Re-Aculturação entre os Teutos-Brasileiros e Alemães no RS/Brasil Tesche, L. des-encuentros, 2014, Vol 11, P 52-59 Introdução 54 A entrada oficial de levas de imigrantes alemães no RS/Brasil, iniciou-se em 1824, concomitante aos assentamentos o que era preocupação principal pois havia essa promessa. Muito tempo levou para que estes imigrantes pudessem pensar em discutir aspectos da sua cultura, necessidades secundárias, mas não menos importantes. Entendendo cultura como: ".. no geral passa a ser entendida como produção e criação da linguagem, religião, dos instrumentos de trabalho, das formas de lazer, da música, da dança,dos sistemas e relações sociais e de poder". Neste caso a cultura, para Fenelón (1993), "passa a ser também o campo no qual a sociedade inteira participa, elaborando seus símbolos e signos, suas práticas e seus valores". Por isso a partir de 1850 iniciaram-se com maior ênfase a construção de escolas e igrejas afirma Tesche (1996), e mais tarde os clubes (Vereins) puderam estimular encontros e a praticarem aquilo que fazia parte da sua cultura: o cantar, o teatro, o Turnen (1996). Outro acontecimento subsequente, anos após, foi a entrada dos 1770 Legionários alemães, os Brummer. Estes intelectuais, liberais, fomentaram uma re-aculturação com o estímulo dos mesmos aos imigrantes e já muitos teuto-brasileiros a se sentirem alemães no Brasil, e que deveriam praticar a sua cultura. Neste aspecto o Turnen teve um papel importante, primeiramente nos Clubes e após nas escolas evangélicas luteranas, conforme Tesche (2002). O enfoque que daremos, ao longo deste estudo, é o de identificar, acompanhar e analisar o esforço de um povo em preservar sua identidade étnica, o germanismo, através do Turnen. Nesse sentido, faremos o estudo de uma Sociedade, de uma Liga de Ginástica teuto-brasileira/ Turnenrbund, denominada, hoje, de Sogipa em Porto Alegre/RS, Brasil. Esta Sociedade, em particular, é uma das mais antigas do Brasil em atividade e a mais antiga do Rio Grande do Sul. Ela procurou manter unidos os seus sócios através de intensas atividades e os manteve constantemente informados, publicando idéias, pensamentos e objetivos em relação ao Turnen. Ao mesmo tempo as escolas existente naquele período e adiante cooptaram em seguir esta atividade dentro das Sociedades. Portanto, a pergunta norteadora é como aconteceu essa re-aculturação e como a prática do Turnen se solidificou na vida dos Clubes/Sociedades e nas escola, tendo em vista que esta modalidade foi a pedra fundamental para uma "cultura esportiva" no estado do Rio Grande do Sul (RS), Brasil no meio escolar? Qual foi o discurso utilizado para argumentar essa intenção? Inicio contextualizando um momento muito importante no Brasil e no Rio Grande do Sul quando chegam a esta terra um contingente de 1770 soldados de legionários ou diríamos mercenários. Em nosso estudo é importante considerar a questão dos legionários e a sua contratação e seus aspectos de formação cultural nos anos pós 1850. No texto de Schmid (1951), traduzido pelo general Klinger em 1951, o autor relata que o Brasil sentindo-se ameaçado por Rosas em sua fronteira meridional e ocidental elaborou um tratado com o Uruguai e o general Urquiza na defesa de seus interesses. A guerra veio e a derrota de Rosas se deu na batalha em Monte Caseros em 3 de fevereiro de 1852. Fazia parte do exército brasileiro a referida legião de alemães composta de 1770 homens tanto da infantaria, artilharia e sapadores2, todos aliciados em Hamburgo na Alemanha. 2 - Sapadores - soldado da arma de engenharia. Origem do vocábulo SAPA (pá metálica). O Turnen Escolar: Uma Re-Aculturação entre os Teutos-Brasileiros e Alemães no RS/Brasil Mas na história brasileira este seria o terceiro ato no intuito de fortalecer o poderio militar brasileiro por meio de mercenários europeus nas guerras platinas. No ano de 1823, após a declaração da independência do Brasil, o imperador D. Pedro I, pretendia exatamente por meio das legiões substituir as tropas portuguesas repatriadas e incrementar um novo modelo de exército brasileiro. Conforme anotações do referido autor havia ainda tido um emprego de tropas estrangeiras em 1838. 3 Na revolta de cabanos no Pará , 1835 a 1840, a regência mandou contratar em Hamburgo/Alemanha 500 mercenários por intermédio do cônsul do Brasil e de um Dr. Schmidt. Na chegada ao Pará a revolta já havia findado e os mercenários se viram enganados, traídos, abandonados sem subsistência e sem terras. Alguns foram admitidos a servir em unidades brasileiras, outros cometeram o suicídio e ou morreram por doenças (1932), veremos no seu original (1949): Foe por ocazião da revolta dos cabanos, no Pará. A “rejêmsia” brazileira mandou então contratar, em HAMBURGO, 500 mersenârios, por intermédio do cômsul do BRAZIL edum Dr.SCHMIDT. Cuando xegaram ao PARÁ, a revolta já fora dominada,e então os imfelizes estranjeiros se viram torpemente emganados, traídos: não apenas foram abandonadosá sua sorte,sem meios eem terra estranha de límgua desconhesida,mas postos em prizão a bórdo de navios, maltratados, afinal soltos, ums poucos, ce dezesperados aseitaram , foram admitidos a servir em unidades brazileiras: outros poucos, ce tiveram meios ou corajem, se escaparam do teatro de sua dezgrasa, tanto mães ce reinava fome da terra; e na maeoria sucumbiram de mizéria e doemsa, levados algums ao suisídio. As discussões referentes ao envolvimento dos agentes de D. Pedro II para recrutamento dos soldados4 nem sempre tiveram acontecimentos tranqüilos. Autores diversos tratam do tema, mas o que foi a questão principal e desencadeadora para a vinda dos mercenários foi a dissolução do exército de Schleswig-Holstein, podemos acompanhar, em anexo, os trâmites de Rego Barros nas tratativas de levar os legionários ao Brasil. Havia toda uma preparação para um futuro conflito armado contra a Argentina de Rosas. Pelo lado brasileiro foi enviado a Europa, para contratar/recrutar oficiais prussianos, Sebastião do Rego Barros. Pelo outro lado, o governo argentino articulou de todas as formas possíveis de impedir a atitude brasileira, mas não teve êxito. Destacamos o que escreve o jornal Allgemeine Auswanderer Zeitung, o qual não era favorável aos recrutamentos e à autorização do Senado de Hamburgo, em 04 de março de 1851, citado por Schröder (2003): Dos fatos a seguir relatados, infelizmente temos que concluir que as autoridades daqui concordam com os continuados recrutamentos do Brasil. O ex-ministro Rego Barros instalou-se aqui em suíte no Hotel Victoria, ao que parece para longo tempo. Concomitante àquele ano, 1851, fora dissolvido, o exército de Schleswig-Holstein e pouco a pouco, os soldado e oficiais foram desincorporados e muitos deles foram a Hamburgo/Alemanha tentar ali um novo emprego e de fato, Hamburgo e Bremen empregaram alguns deles. Ainda em 1851 é constituído um comitê para o exército de Schleswig-Holstein para auxiliar este 3 - A revolta dos cabanos, Cabanagem, foi uma revolta popular acontecido na província do Grão-Pará. nome dado pois havia um grande número dos revoltosos de pessoas pobres (mestiços e índios) que moravam em cabanas nas beiras dos rios da região, a eles se somavam os fazendeiros e comerciantes cada um com seus interesses. 4 - A nota de rodapé do refiro texto trata do seguinte: O contrato da legião alemã de 1851 obedeceu a Lei nº 586 de 6-IX-1850. Estabelecia ela, no art 17º: Fica o governo autorizado:...§ 4º. Para, em circunstâncias extraordinárias, fazer as despesas necessárias afim de elevar a 26 000 homens a força de 1ª linha, podendo contratar nacionais e estrangeiros e distribuir-lhes terras, segundo contrato. Os estrangeiros só podem ser empregados nas fronteiras. 55 des-encuentros, 2014, Vol 11, P 52-59 Tesche, L. Tesche, L. grupo sendo que muitos emigraram para os Estados Unidos. Para o caso da vinda e sua legalidade ao Brasil, havia um primeiro momento em que o candidato deveria se apresentar ao cônsul-geral, este os encaminhava ao escritório de Rego Barros, recebiam identificação e se estavam desprovidos de meios, recebiam alimentação e moradia gratuita na casa de boarding junto ao Bastião de São João, conforme dados de Schröder (2003). des-encuentros, 2014, Vol 11, P 52-59 No relato da obra de Torres (2005) sobre a vida de um dos Brummer, Joseph Wilt Meurers, o autor observa que após a guerra contra a Dinamarca muitos jovens revolucionários implicados por idéias liberais que tinham ingressados no exército prussiano viviam sem causa e sem trabalho, mas nem por isso atento às oportunidades na América. Joseph sabia da contratação pelo Brasil de voluntários para aumentar seu exército e enfrentar a Argentina e para tanto o governo brasileiro prometia, além de dinheiro, terras (22.500 braças quadradas) àqueles soldados que se alistassem e defendessem o Brasil. 56 A maioria dos soldados não poderiam retornar e foram tolerados pelas autoridades. Alguns emigraram ou passaram a ser mendigos. Ex-oficiais tiveram melhor sorte, pois poderiam começar como tutores ou jornalistas. Alguns estavam à beira da inanição. Os primeiros rumores sobre a fundação da Legião alemã, nestes círculos, foram recebidos com entusiasmo5. Na Alemanha o recrutamento era oficialmente proibido, devendo por isso ser organizado a partir da Helgolândia britânica (ilha no norte da Alemanha). Com isso a atenção se voltou às cidades hanseática, repletas de emigrantes políticos, onde persistiam maiores agrupamentos do dissolvido exercito de Schleswig-Holstein. Com essas reservas fora formado já 1851 uma legião de estrangeiros para o serviço no Brasil – O Turnen Escolar: Uma Re-Aculturação entre os Teutos-Brasileiros e Alemães no RS/Brasil os “Brummer”. Desses, no entanto, justamente os elementos mais irrequietos haviam retornado frustrados, aguardando nova oportunidade6. Dados de Stolz (1996) são de que através do porto de Hamburgo7 deixaram Schleswig-Holstein no ano de 1851, 1467 pessoas, nos anos de 1852 deixaram 2722 pessoas. Aproximadamente 10% dos oficiais da força armada de SchleswigHolstein foram para os USA; desses 218 tenentes, de origem prussiana, 52 imigraram dos 131 tenentes das diversas 23 regiões alemãs. Certo de que partes prestaram serviço militar em outros exércitos e foram para o Brasil e África do Sul. O levantamento dos navios e seus passageiros com destino ao Brasil foram os seguintes, conforme Stolz (1987): Ano- 1851/Data Navio Nº de Soldados 7.4......................... Hamburg.....................270 14.4........................... Danzig.......................246 4.5...................Caesar Godeffroy..............340 11.5.......................... Colonist......................158 3.6............................ Maria........................139 5.6............................. Elbe.........................189 22.6.......................... Heinrich......................156 4.7........................ Freihandel......................61 18.7................... Flying Dutchman...............147 26.7..........................Mathilde........................64 Total........................ 1770 Para Schmid (1951), Rego Barros alcançou o seu objetivo após seis meses. Muito lhe auxiliou na tarefa o fato ou a circunstância de ter sido dissolvido o exército de Schleswig-Holstein. Foi recrutado parte dos que compunham o referido exército, voluntários que se incorporaram por idealismo ou por espírito de aventura ou por outros motivos. Muitos deles haviam participado como livres atiradores na revolução de 1848 e ficaram sem meio de vida, milhares de jovens, com treinamento de campanha e espírito empreendedor a procura de novo emprego. Estes não podiam regressar a Pátria, nem encontra- O Turnen Escolar: Uma Re-Aculturação entre os Teutos-Brasileiros e Alemães no RS/Brasil vam serviços de bom grado, portanto, se deixaram aliciar pela proposta brasileira, pois fora como um presente dos céus. Não havia perspectivas para eles. E como se tratasse de soldados e oficiais veteranos de guerra eram bem vindos para Rego Barros. posuiam cultura e imstrusão superiores á de muintos dos ofisiaes, os cuaes aviam obtido as imsignias sem saber como. Emfim, era um verdadeiro pot-porri (sic) dos maes diversos elementos. Algums dos lejionários tinham sérios motivos para ocultar seu pasado e poriso figuraram sob nome falso no alistamento e nos asentamentos individuaes.... Estes legionários eram homogêneos, entre 17 a 50 anos de idade, de várias instruções e de caráter. Alguns se alistaram sem conhecimento do serviço militar, talvez por simples aventura como, por exemplo, Cristovam Lenz um dos autores da obra Memórias de Brummer. Torres (2005) relata que o Brummer Joseph carregava poucas coisas quando embarcou no navio Danzig, no porto de Hamburgo. Integrava a 2º Cia.com 246 soldados e chefiado pelo capitão Hormeyer e chegando ao Rio de Janeiro em 6 de junho de 1851. Estes Brummer sofreram muito antes de embarcar ao Brasil como escárnio de seus conterrâneos, qualificados como escravos pois lutariam para um regime monárquico e escravocrata. O Brummer Joseph, citado por Torres (2005), era integrante nos pontoneiros, combatentes que vão à frente da tropa de ataque.Seu aprendizado no exército prussiano fora curto e aos 21 anos já integrava como voluntário a segunda Companhia em 1848 lutando contra a Dinamarca. Ainda em sua obra, Schmid (1951) cita uma palestra de Karl Von Koseritz, “Senas da vida militar brazileira”, na qual este fala sobre os legionários, vejamos: Figuravam velhos lamscenetes, ce aviam militado na África, na Índia, na Polônia, até na Espanha, de par com temros cadetes, bem como educandos forajidos das Reaes Escolas Militares, etc. Lejionários ce aviam sido oficiaes, davam grasas a Deus se comsegiam emgajarse como sarjentos; outros resebiam pó superiores ierarcicos omens ce aviam sido seus subordinados; já outros Kahle (1993) igualmente descreve que contratados por quatro anos estes legionários receberiam terras e não somente salário decente e que a expectativa pelos brasileiros, inicialmente, não eram boas e com a vinda da guerra lutaram pelo Brasil, como já descrito por outros autores. Quanto a Organização Escolar A preocupação dos imigrantes com relação à instrução de seus filhos era grande, pois “entendiam que a escola era uma parte importante ou fundamental do processo educacional”, afirma Kreutz (1998). Era um componente da sua tradição do século 16, a partir da Reforma e Con- 5 - Gelegenheit. Die meisten dieser Ex-Soldaten konnten nicht mehr zurück und wurden von den Behörden nur widerwillig geduldet. Manche wanderten aus oder bettelten. Ehemalige Offiziere waren froh, wenn sie sich als Hauslehrer oder Journalist durchschlagen konnten. Einige standen kurz davor zu verhungern. Die ersten Gerüchte über die Gründung einer Deutschen Legion wurden deshalb in diesen Kreisen geradezu Enthusiastisch aufgenommen. Kanonenfutter für die Krim. Grossbritanniens Fremdenlegionen. In: Das e-zine MIT der Sozialgeschichte der Söldner und Abenteurer.- www.kriegreisende.de 6 - In Deutschland war die Werbung offiziell verboten und sollte deshalb vom britischen Helgoland aus organisiert werden. Damit richtete sich die Aufmerksamkeit auf die Hansestädte, in denen es von politischen Emigranten wimmelte und sich immer noch größere Reste der aufgelösten schleswig-holsteinischen Armee aufhielten. Mit diesem Reservoir war bereits 1851 eine Fremdenlegion für den Dienst in Brasilien gebildet worden– die so genannten "Brummer". Von diesen waren inzwischen jedoch gerade die unruhigsten Elemente wieder frustriert zurückgekehrt und warteten auf eine neue Gelegenheit. 7 - ...Über den Hafen Hamburg verlissen Schleswig-Holtein im Jahre 1851 1467 Menschen, im Jahre 1852 2722 Menschen. Etwa 10% der Offiziere der Schleswig-Holteinischen Armee gingen in die USA; von 218 Leutnants, die aus Preussen stammten, wanderten 52 aus, von den 131 Leutnants aus den übrigen deutschen Ländern 23. Geschlossene Teile zum Militärdienst in einem anderen Heer gingen nach Brasilien und Südafrika. 57 des-encuentros, 2014, Vol 11, P 52-59 Tesche, L. Tesche, L. tra-Reforma. E mais, a escola também era um local de encontro dos imigrantes e a sua função específica era alfabetizar, educar e doutrinar os filhos dos imigrantes. Na realidade, a origem dessa tradição escolar entre os alemães imigrados inicia por volta do século XVIII, baseado no motivo religioso. No jornal Lehrerzeitung (1911) encontramos uma passagem pertinente a esse assunto: “...a escola era concebida como uma instância de apoio à formação religiosa, como um pórtico da igreja, a sementeira da comunidade, devendo ser tida como o laboratório primeiro para formar o cristão”. O imigrante veio com essa mentalidade, pois na sua terra natal o Estado era o responsável pela educação e aqui não se podia esperar nada dele. des-encuentros, 2014, Vol 11, P 52-59 Tesche (2001) apresente seu estudo sobre as escolas e a Turnen como um componente importante no currículo escolar. O currículo foi construído sempre pelo interesse em dar o melhor aos filhos. Kreutz (1998) relata que “nos anos de 1930 havia uma rede de 1.041 escolas comunitárias, com 1.200 professores, sendo que quase não havia analfabetos nessas regiões”. Havia um projeto de estrutura com uma vinculação liderada pelas Igrejas católica e luterana. 58 O currículo era organizado pelos imigrantes alemães, pela escola, que pensavam dar aos alunos o essencial para a sua aprendizagem, sempre de acordo com interesses locais, podendo utilizar os conhecimentos adquiridos no seu cotidiano e a isto estava vinculada a impressão do seu material didático, atendendo às necessidades regionais. Além de que as “escolas eram supridas por leigos ou pastores e professores formados na Alemanha”, destaca Hoppen (s/d). No entanto, para Kreutz (1998), [...] O Rio Grande do Sul tornou-se, já a partir de 1900, o Estado com o maior número de escolas comunitárias da imigração alemã, e também se firmou como O Turnen Escolar: Uma Re-Aculturação entre os Teutos-Brasileiros e Alemães no RS/Brasil um centro de referência para a produção de material didático e a criação de estruturas de apoio à escola tanto para os outros Estados brasileiros, quanto para os países latino - americanos (...) Além de ter o maior número de escolas, o Rio Grande do Sul também tornara-se o centro tanto para a produção de material didático quanto para a formação de estruturas de apoio para as escolas da imigração alemã. Muitos dos legionários foram responsáveis por escolas no interior do Rio Grande do Sul e nas cidades maiores as escolas se valiam da estrutura e de professores dos Clubes (Verein), como por exemplo Georg Black Sen. Quando nos referimos a Black não podemos de mencionar de que tinha uma formação e foi o maior incentivador de práticas de diversas modalidades. Foi professore de escola em diversas escolas da grande Porto Alegre. No Turnerbund, Sociedade Ginástica Porto Alegre (SOGIPA), a primeira modalidade a despontar foi o Turnen, mais tarde denominaram de ginástica. A esgrima foi iniciada precariamente em 1899. O futebol também teve seu espaço mas logo fora suspenso das atividades do Clube. Há confirmação de que se praticava sete diferentes modalidades como, além do futebol, tamborim, bola com alça, bola dentro de um círculo, três-corta e Krokett. No ano de 1926 fora introduzido o basquete e o voleibol e mais tarde o atletismo teve um espaço para a sua prática na construção de um estádio. Em 1885 foi inaugurado uma piscina fluvial no rio Guaíba. Ainda fora introduzido o Bolão, e o Punhobol modalidades típicas da cultura alemã. Todas as modalidades enumeradas e praticadas nas Sociedades de Ginástica eram igualmente praticadas nas escolas. O currículo sugeria o Turnen como atividade física aos alunos, entendendo de que Turnen era um nome abrangente e por isso as modalidades eram diversas. Tesche (2001) levanta a hipótese de que há vínculos entre a sociedade/clube, a escola, a igreja e a maçonaria nas idéias liberais de um grupo, este que já discutimos, a dos legionários. Sua preocupação em construir entidades que fossem direcionadas e utilizadas pelos imigrantes e teuto-brasileiro e de uma forma de preservar sua identidade seria a pratica do Turnen. Telles (1974) cita uma passagem do Deutscher Hilsverein/Colégio Farroupilha e que demonstra o quanto a prática foi importante: A princípio cada pai de aluno era livre para permitir a participação do filho nas aulas de ginástica ministradas pelo professor Herrmann Englert, no Turnerbund. Mas, como poucos faziam uso disso, a direção do Turnerbund solicitou ao Conselho Escolar reforçar a participação, o que foi feito através da obrigatoriedade das aulas de ginástica, ministradas agora, conjuntamente, por um professor do Turnerbund e da Hilfsverein, sendo a parte desta última lecionada pelo Prof.Knorre. Apresentamos as primeiras dificuldades que os imigrantes tiveram ao chegarem à nova terra. O transplante cultural foi inevitável e o despertar para o “novo mundo” no qual estavam vivendo chegou, para alguns imigrantes, tardiamente. A sua inserção neste novo ambiente foi retardada e quase perdida, a sobrevida aconteceu com o discurso desses legionários/Brummer que modificaram toda a forma de pensamento, do agir e da autoconfiança ao teuto-brasileiro e a escola foi um dos espaço para que isto acontecesse. A questão da sobrevivência foi a necessidade primeira para, somente mais tarde, poderem dar importância à necessidade cultural/política/social/educacional. Essas características são aquelas que hoje fazem parte da cultura brasileira, ou seja, os alunos/atletas tem as suas primeiras experiências com os esportes/modalidades nas escolas e mais tarde nos clubes e no sul do Brasil esta é a marca até os dias de hoje. O Turnen Escolar: Uma Re-Aculturação entre os Teutos-Brasileiros e Alemães no RS/Brasil Referências - FENELÓN, Déa Ribeiro (1993). Cultura e história social: historiografia e pesquisa. Revista Projeto História. Programa de Estudos Pós-Graduação em História e Departamento de História, São Paulo, Puc, nº10,dezembro, p.73-90. - HANDELMANN H. História do Brasil (1932). Trad: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Tomo 108.Vol: 162, p. 316, nota de rodapé, citado por SCHMID, Albert.1949, p.133. - HOPPEN, Arnildo.(s/d). Formação de Professores Evangélicos no Rio Grande do Sul.I parte (1909 1939).São Leopoldo: Sinodal. p. 9. - KAHLE, Günter.(1993). Deutsche Landsknechte, Legionäre und Militärinstrukteure in Lateiamerika. Jahrbuch für Geschichte in Lateiamerika, p.355 - 362, Alemanha. - Kanonenfutter für die Krim. Grossbritanniens Fremdenlegionen. In: Das e-zine MIT der Sozialgeschichte der Söldner und Abenteurer. www.kriegreisende.de. acessado em 20/07/2012. - KREUTZ, Lúcio. (1998).Muito empenho pelas escolas. In: Nós, os teuto-gaúchos.Coord. FISCHER, Luis Augusto; GERTZ, René E. 2.ed Porto Alegre: Ed.Universidade Op. cit. p.145. - Lehrerzeitung. Vereinsblatt des Deutschbrasilianischen Lehrervereins in Rio Grande do Sul.(1911). Porto Alegre: Typografia do Centro. P.113. - SCHMID, Albert.(1951). Os Rezimgões. In: A Nação. Nº 15683-15690. Trad: General Klinger. Porto Alegre, 1949. Fotocópia. - SCHRÖDER, Ferdinand.(2003). A imigração alemã para o sul do Brasil até 1859. 2ª edição. Traduzido: Martin N.Dreher. São Leopoldo:Editora da Unisinos e Pucrs.P.145 e 146. - STOLZ, Gerd.(1996) Die Schleswig-holteinische Erhebung. Die nationale Auseinandersetzung in und um Schleswig-Holtein von 1848/51.Husum: Husum. - STOLZ, Gert. (1987).Die Deutsche Legion in Brasilien 1850-1852 – Schleswig-Holsteiner in brasilianischen Diensten-. Zeitschrift für Heereskunde 51s.52/55. - TELLES, Leandro.(1974). Do deutscher Hilfsverein ao Colégio Farroupilha 1858/1974.Porto Alegre: Globo. - TORRES, Euclides.(2005). A patrulha de sete João. Porto Alegre: Já Editores, p.20 - 21. - TESCHE, Leomar. (1996). A Prática do Turnen entre Imigrantes Alemães e seus Descendentes no Rio Grande do Sul:1867 - 1942.Ijuí: Unijuí. - TESCHE, Leomar. (2002).O Turnen, a Educação e a Educação Física na Escolas Teuto-brasileiras, no Rio Grande do Sul:1852 - 1940. Ijuí: Unijuí. 59 des-encuentros, 2014, Vol 11, P 52-59 Tesche, L.