cor da pele
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cor da pele
A Sempre a cor da pele PROPÓSITO Franklin Rumjanek Instituto de Bioquímica Médica, Universidade Federal do Rio de Janeiro [email protected] E m seu excelente livro Armas, germes e aço, o mento e exposição prévia aos problemas apresentabiólogo e historiador norte-americano Jared dos. Em outras palavras, quanto mais testes de QI uma pessoa fizer, melhor será o seu resultado, sem que isso Diamond retorna ao debate sobre as desigualdasignifique necessariamente que a pessoa está se tordes do mundo moderno. Por que algumas nações nando mais inteligente com a prática. Em segundo se desenvolveram e outras não? Diamond pondelugar, como já foi amplamente discutido, a cor da pele ra que, além de politicamente incorreto, é errado depende de vários genes e corresponde apenas a uma atribuir a falta de homogeneidade de progresso adaptação seletiva à exposição solar. no planeta a fatores genéricos – como diferenças Sem entrar em muitos detalhes sobre o terceiro entre etnias – e ao clima. Ele afirma que tanto o parâmetro (a renda per capita), talvez o equívoco mais viés racista quanto a visão de que o clima frio insistemático do trabalho tenha sido a fé inabalável nas duz a criatividade humana e o clima quente a inibe são hipóteses sobretudo simplistas e paternalistas. Assim como muito outros, Diamond apreO bordão de que os genes determinam o atraso senta argumentos sólidos, com base no método científico, no e mantêm incivilizados os habitantes dos trópicos bom senso e na história. Apesar fere o método científico, o bom senso e a história disso, a implacável sociobiologia insiste no bordão de que os genes determinam o atraso e mantêm incivilicorrelações. Ainda nesse contexto, outro trabalho rezados os habitantes dos trópicos e adjacências. cente, publicado pelo neurocientista norte-americaO mais novo ataque nesse sentido, que já estino Philip Shaw e outros na revista Nature (v. 440, p. mulou forte polêmica, foi lançado pelos psicólo676, 2006), também centraliza a pesquisa no teste de gos norte-americanos Donald I. Templer e Hiroko QI, mas estabelece outra correlação, desta vez anaArikawa, em trabalho publicado recentemente tômica. Os autores sugerem que variações na espessu(Intelligence, v. 34, p. 121, 2006), cujo título já ra do córtex cerebral em várias idades das crianças diz tudo: ‘Temperatura, cor da pele, renda per caestariam correlacionadas com a inteligência. Para pita e QI: uma perspectiva internacional’. Os auchegar a essa conclusão, apresentam resultados baseatores apontam, nesse trabalho, correlações diredos em ressonância magnética e no inevitável teste de tas entre os vários parâmetros citados no título e o QI. Onde está a verdade? Embora não seja possível desempenho intelectual revelado pelo teste de QI afirmar nada, por que não estabelecer nossas próprias (quociente de inteligência). E concluem que os correlações? Por exemplo, podemos correlacionar os países mais atrasados só se encontram nessa situaíndices de impacto de cada uma das revistas com a ção porque as populações locais são intelectualqualidade dos dados e das interpretações. Essencialmente comprometidas, o que acaba levando à inmente, o índice de impacto de cada periódico ciensolvência econômica. E, surpresa: essas pessoas tífico mede o número de citações que este consegue são negras! por ano. A grosso modo, isso reflete o grau de confiaFelizmente para a ciência, os críticos desse e bilidade que os cientistas depositam na revista. Quande outros trabalhos do mesmo calibre invariavelto mais alto o índice, maior o prestígio do periódico. O mente apontam erros metodológicos e conceituais. índice de impacto da Intelligence é de 2,2 e o da Nessa plataforma dialética, os opositores do raNature está em torno de 30. Podemos então concluir cismo-paternalismo ressaltam, em primeiro luque o artigo da primeira não vale muita coisa e o da gar, que o teste de QI não independe de cultura. segunda representa o estudo mais correto? É claro que Esse teste mede principalmente a proficiência não. Diante dessa situação, só podemos ajustar a céleverbal e o raciocínio numérico e espacial. Assim, bre frase do humorista Millôr Fernandes: “Livre correo bom desempenho certamente envolve treinalacionar é só correlacionar!” ■ junho de 2006 • CIÊNCIA HOJE • 15