James Nachtwey, o fotógrafo de (Não) guerra.

Transcrição

James Nachtwey, o fotógrafo de (Não) guerra.
F otograf I A
a verdadeira armA
da liberdade
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A Fotografia é, nos dias que correm e cada vez mais, a forma
universal de partilhar arte e cultura e, simultaneamente, a
forma mais efémera e porventura fútil de captar momentos e
situações que a quase ninguém servem ou interessam, mas
que enchem diariamente e aos milhões as várias redes sociais em voga quase como uma missão.
Curiosamente é a mesma fotografia – na sua essência – que
continua a alimentar uma indústria ainda há pouco quase
moribunda mas que se reinventa e adapta aos novos tempos
o melhor que pode e sabe. Refiro-me à indústria da fotografia profissional e especialmente aos seus intérpretes, quais
dom quixotes do séc. XXI, perorando contra a inexorável
revolução tecnológica que confere a todos a possibilidade e
meios para num ápice se tornarem os Cartier Bressons da sua
rua, blogue, site ou página de media social, consoante o nível
que consigam alcançar.
Há poucos dias um importante diário de Chicago, EUA despediu mais de vinte fotógrafos profissionais e instou os repórteres a frequentarem um curso rápido de fotografia feita em
iPhone. A administração evocou redução de custos e sinais
dos tempos...
Portanto podemos talvez concluir que a fotografia é das actividades mais transversais e complexas à sociedade, já que
hoje serve múltiplos propósitos. E, servindo-se da Internet,
consegue ser o contributo visual da nova consciência global
por excelência, levando a todos os cantos mensagens de
todos os tipos, a toda a hora e momento.
Os profissionais continuarão a ser a referência de todos os
outros, e juntos têm em mãos a verdadeira arma da liberdade.
Só há que a saber sabiamente, cada um por si e todos juntos
pelo futuro da humanidade.
© António Homem Cardoso
Saúdo e dou as boas vindas ao People & Portraits Group, sediado no Facebook, que reina nesta edição. Um agradecimento
especial ao Jaycee Crawford pelo seu excelente trabalho de
selecção e coordenação.
Jorge Pinto Guedes
Director
[email protected]
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004 DP ARTEFOTOGRÁFICA
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Paulo Roberto
lança livro de crónicas e imagens na SNBA
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www.liquidimages.eu/revista.php
No passado dia 29 de Maio a Sociedade Nacional de Belas Artes recebeu fotógrafos, amantes de fotografia e amigos para o lançamento do livro “Crónicas
na revista DP- Arte Fotográfica” de Paulo Roberto, professor de fotografia, fotógrafo e colaborador desta revista desde o seu início, ainda intitulada Digital
Photographer (versão portuguesa).
Com chancela da Mindaffair Media House a obra foi apresentada por António
Homem Cardoso e Jorge Pinto Guedes.
DP - Arte Fotográfica | Ano 5 | Número 57
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Preço
€ 11,00 (UE) | € 15,00 (Resto do Mundo)
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capa
Cecile Baldewyns
título
Lifeline
Sociedade Gestora da Revista
Mindaffair, lda
NIF 509 462 928
Avª de Itália, nº 375-A-1º
2765- 419 Monte Estoril • Portugal
Tlf/Fax + 351 214 647 358
E-mail [email protected]
O livro encontra-se à venda em www.almalusa.org em impressão por encomenda.
Fotos © Carlos_Mateo
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Revista @ www.dphotographer.eu
E-Mail [email protected]
Correio dos Leitores [email protected]
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Direcção
Jorge Pinto Guedes
[email protected] | +351 969 990 343
Direcção Adjunta
Maria Rosa Pinto Guedes
[email protected] | +351 969 990 442
editorial
04
breves
Paulo Roberto lança livro de crónicas e imagens na SNBA
A novaTamron SP 90 mm F/2,8 Di VC USD MACRO 1:1
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08
Galeria Liquidimages.eu | Imagem do Mês
| Fotos do Mês
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12
Editorial
People & Portraits Group
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Publicidade
Jorge Pinto Guedes
[email protected] | +351 969 990 343
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Colaboração
Celestino Santos . Paulo Roberto . António Camilo
Marta Ferreira . Fátima Marques (Imagem com Palavras)
Opinião de António Camilo
Aquela sessão de estúdio...
Opinião de Paulo Roberto
James Nachtwey, o fotógrafo de (não) guerra.
94
Opinião de Celestino Santos
Crise na Fotografia?
96
Imagem com Palavras
de Fátima Marques
98
Coordenação Editorial
Florindo Silva | [email protected]
Paulo Roberto autografando
Assistente de Redacção
Matilde Pinto Guedes
Aspecto da sala
Paulo Roberto, Homem Cardoso e Jorge Pinto Guedes
Arte & Design
Marcelo Vaz Peixoto | +351 927744527
IT Manager
Frédéric Bogaerts
Informática & Web
Nuno Couto
Consultor Técnico
Tiago Cardoso Pinto
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Impressão Offset Digital
Snapbook em Xerox iGen4 /Fiery
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Periodicidade: Mensal
Registo ERC nº 125381
Depósito Legal n.º 273786/08
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É proibida a reprodução total ou parcial
de imagens ou textos inerentes a esta edição,
sem a autorização expressa do Editor.
As opiniões expressas nesta revista são
da exclusiva responsabilidade dos seus autores
e não têm que reflectir a opinião do editor.
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006 DP ARTEFOTOGRÁFICA
Aspecto da mesa de apresentação
A filha e esposa de Paulo Roberto com convidados
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DP ARTEFOTOGRÁFICA 007
A nova Tamron
SP 90 mm F/2,8 Di VC USD MACRO 1:1
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A nova objectiva macro de 90 mm da Tamron proporciona uma qualidade de imagem
superior e incorpora uma tecnologia óptica com estabilização de imagem inovadora.
Esta nova objectiva Di (Design Digital Integrado) para câmaras SLR digitais com
sensores Full Frame e sensores APS-C/APS-H. inclui para-sol e está disponível no
nosso país para Canon , Nikon e Sony.
A combinação de uma tecnologia óptica e de uma estabilização de imagem
inovadora constituem uma nova obra de arte: a objectiva macro de 90 mm que
proporciona imagens com uma nitidez impressionante realçadas com efeitos
naturais de desfoque. A objectiva de 90 mm clássica da Tamron renasce para
permitir-lhe tirar fotos ainda mais bonitas e requintadas. Compatível com câmaras Full Frame, esta nova objectiva macro de alta resolução permita ao fotografo capturar a atmosfera do momento.
Esta lente confere alta resolução com efeitos lindíssimos de desfoque já que possui dois cristais XLD (Dispersão Extra Reduzida) fabricados a partir de um cristal
especial de primeira qualidade combinado a um elemento LD (baixa dispersão)
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008 DP ARTEFOTOGRÁFICA
que em conjunto corrigem por completo
as aberrações cromáticas. Além disso, o
design recente da óptica e do diafragma
arredondado proporcionam um efeito
de desfoque excepcional.
Esta objectiva macro conserva o foco
nítido no alvo aliado a um desfoque
natural suave nos primeiros planos e no
fundo para obter uma sensação de cores
mais vivas e de profundidade.
A Tamron SP 90mm macro está equipada com um mecanismo de estabilização
de imagem VC que oferece imagens nítidas e vivas no visor. Mesmo em situações de pouca luz, os efeitos de vibração
da máquina são reduzidos para obter fotos sem ser tremidas tirando-as à mão.
A relação de ampliação máxima da nova objectiva macro de 90 mm é de
1:1, o que lhe permite reproduzir uma imagem no seu tamanho real do sujeito que seja do filme ou do sensor dessa imagem. Esta objectiva é adequada para fotografar primeiros planos de pequenos objetos e permite ao
fotógrafo capturar o mundo miniatura que não se consegue capturar de
outra forma.
A objectiva incorpora ainda um sistema IF, que foca movendo somente o grupo
de lentes internas. O comprimento total da objectiva não varia assim tanto ao
focar, o que permite ter uma distância de trabalho confortável. O resultado é
uma fotografia macro confortável.
O motor silencioso USD de alto desempenho assegura uma resposta rápida e
precisa do autofoco e simultaneamente permite ao fotógrafo ajustar manualmente o foco a qualquer momento mesmo estando em modo de autofoco.
Mais info em: www.tamron.es/pt
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DP ARTEFOTOGRÁFICA 009
The bride © Sofia Carvalho _
sem titulo © Daniel Palos | A oficina © António Carreira
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012 DP ARTEFOTOGRÁFICA
A hole in the sky © Olavo Azevedo | Trilhos © João Santos [aka ijpphoto]
Finding Your Way In The Dark © João Paca | Historias escondidas © João Carlos Madeira
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014 DP ARTEFOTOGRÁFICA
Alone © Nico Ouburg | The fencer © Hugo Borges
Quando os olhos falam © Sofia Azevedo | Sea Cloud II © Carlos Carvalho
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016 DP ARTEFOTOGRÁFICA
2642 Reflexos De Um Deus Maior_Fatima 15MAR13 © Eduardo Nunes Emeteesse | At The Top © Marco Raposo
Salt Flats © Sílvia Dias | Anônimo do Pere Lachaise II © Rubens de Olivei Rubão
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018 DP ARTEFOTOGRÁFICA
sem titulo © Telmo Keim | I love trees © Fátima Condeço
Santa Cruz © Paula Mendes | Mourisca © Arnaldo Oliveira
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020 DP ARTEFOTOGRÁFICA
The Famous Rock © Carlos Silva [aka Avlisilva] | Prima Vera © Mónica Carreira
sem titulo © Luciano Magno | Margem da Lagoa © Carlos Carvalho
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022 DP ARTEFOTOGRÁFICA
Latifundio © Gilberto Grosso | Conversas de calçada © Pedro Pargana
Todos caminhamos para algum lugar © João Carlos Madeira | Sem Titulo © Alexandre Mimoso
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024 DP ARTEFOTOGRÁFICA
Tripulação de memórias © Pedro Mesquita | sem titulo © Telmo Keim
A vida humana
através da lente
de uma câmera
Nós, os seres humanos, somos por natureza altamente sociáveis. Temos por costume agrupar-nos, entrelaçados no prazer
da companhia e faze-mo-lo para crescer e
nos desenvolver-mos, para procriar e o por
várias razões psicológicas que têm a ver
com a segurança e necessidade. Através
das nossas longas e duráveis relações, intercambiamos os nossos medos e expectativas, as nossas alegrias e tristezas, as
nossas conquistas e os nossos humildes
defeitos. E, agindo assim, acrescentamos e
retiramos simultaneamente algo ao infinito
mar que é a consciência global, ganhando
perspectiva e conhecimento do ser que somos, a nível individual e plural, para além
da miríade de similitudes e diferenças que
distiguem e caracterizam as pessoas, independentemente das suas culturas ou
nações.
Com grande parte da sociedade agora “armada” com uma camera moderna, estamos agora aptos a captar e partilhar quase
instantaneamente nos nossos cada vez
mais vastos círculos, todos os aspectos
da existência humana numa inovadora
forma de semi permanência digital. A vida
humana vista através da lente de uma
camera leva a um conjunto de significados
porventura mais profundos, complexos e
inéditos que desenham claramente evidências individuais ou gerais e as elevam
do espectro do mundano para o nível da
singularidade épica. Com cada momento
da vida agora ao nosso alcance para poder
ser capturado, editado e publicado para
posterior contemplação e desconstrução
visual, a infinita variedade de princípios
da natureza humana está, finalmente, em
completo alinhamento e harmonia.
Jaycee Crawford
People & Portraits Group
Bird Man1 © Neil Kremer
Desde muito novos que nos habituámos
a ver o mundo com um olhar abrangente
– observando, esperando, escutando, pensando – para compreender e calcular as
razões, causas e efeitos que fazem mover a
ordem natural da sociedade e o mundo em
geral. Observamos à distância necessária
os nossos familiares e amigos, os nossos
colegas de trabalho, os nossos vizinhos,
nós próprios e milhares de estranhos e
desconhecidos com quem partilhamos
transportes, passeios, lojas ou ruas – os nossos semelhantes com quem povoamos a
“Cidade Global”.
Eyelashes © Aimee Richmond
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028 DP ARTEFOTOGRÁFICA
Claudia_Armenia © Jaycee Crawford
FamilyPortrait © SharonWish
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030 DP ARTEFOTOGRÁFICA
You Can Not Save Me © Tamara Pruessner
Blossom in the Wind © Daniele Frison
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032 DP ARTEFOTOGRÁFICA
Food for Thought © Cho Tang
© Nelson Aguilar
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034 DP ARTEFOTOGRÁFICA
Between Two © Rudy Boyer
Hope © Michael Ken
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036 DP ARTEFOTOGRÁFICA
Poolside © Jay R. Houghton
Girl With Horse © Eleanor Pregger
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038 DP ARTEFOTOGRÁFICA
© Kelli Seeger Kim
Girl and her Horse © Monica Delport
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040 DP ARTEFOTOGRÁFICA
Spider © Pau Storch
The Dreamland Follies © Russel Haydn
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042 DP ARTEFOTOGRÁFICA
Portrait of Kelly © Shuwen Lisa Wu
Question Everything © AmyMedina [ DangRabbitPhotography ]
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044 DP ARTEFOTOGRÁFICA
Washed Ashore © AmyMedina [ DangRabbitPhotography ]
Fading into Darkness © Edward Khutoretskiy
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046 DP ARTEFOTOGRÁFICA
A Room With A View © Cecile Baldewyns
Portrait © Danile Sjöström
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048 DP ARTEFOTOGRÁFICA
Drummer Girl © Dani M Anderson
Portrait & People © Oji Blackwhite
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050 DP ARTEFOTOGRÁFICA
Make A Wish © JenniferEden
Day 93_Prayer © Michael Young
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052 DP ARTEFOTOGRÁFICA
Il Ritrattista © Nick Moore
Shoot the Breeze © Peggy Richardson
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054 DP ARTEFOTOGRÁFICA
© Moon River
© Robert Dietrich
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056 DP ARTEFOTOGRÁFICA
Chess Players © Peter J. Ansara
BusyBreakfast © RogerioBussad
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058 DP ARTEFOTOGRÁFICA
My Aeroplane © Sossa Bachtiar
Madoline © Peter Aikins
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060 DP ARTEFOTOGRÁFICA
How Many Days ‘Til Christmas © Simos Xenakis
© Robert Rivet
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062 DP ARTEFOTOGRÁFICA
Lollipop © Paula Layton
Napoli 2013 © David Kaplan
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064 DP ARTEFOTOGRÁFICA
Waiting © Joe hamel
Play © June Penn
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066 DP ARTEFOTOGRÁFICA
Dinner Prep © Edward Harding
Sunny Day © Keith Dixon
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068 DP ARTEFOTOGRÁFICA
SmokeyOldMan © Rina Bredie
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Lifeline © Cécile Baldewyns
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She Draws A Line © Manuel Mendoza
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Heaven & Hell © Matthew Jones
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re Self Portrait © Jeff E Smith
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Blue Steel © Lisa Provencher
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Frightened I Tear Alone © JasonJakober
Tim at Cafe Ipe Lounge © Alexander S Kunz
The Look © Elena García
Andy_Premonition © Jaycee Crawford
Connection © MylahNazario
Mysteriously Sensual © Orly Danieli
Grasping Life © Sarah Fitzgerald Jones
The Clue © Jonathan Hamel
Driven By Hate Consumed By Fear © JasonJakober
My Grandparents © Angelo di Tommaso
Platinum Joshua © Ray Still
Grey © Paul van de Loo
Self Portrait with Gun © Tom Sparks
Portrait of Tara © Magda Coulter
Ishika © Mystik Monk
A DP - Arte Fotográfica é a 1ª revista de fotografia
impressa em Offset Digital pela
no sistema
iGEN4, com RIP Fiery.
Para encomendar o seu exemplar
Preço: 11€ [Portugal & Europa]
15€ [resto do Mundo] + portes de envio
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ou pelos telefones: 214 647 358/ 969 990 442 / 919 959 066)
Janet at the Old Freight Station © Christopher Protz
Os meus colaboradores tinham-me marcado uma sessão de estúdio para as 17h daquele dia frio e chuvoso. Disseram-me que era um
homem perto dos 60 anos que queria um portefólio pessoal.
Depois de ter preparado o estúdio e limpo máquina e objectivas
fui beber um café. Quando voltei ao estúdio avisaram-me que o
senhor já tinha descido. Quando olho mais em pormenor para o
rosto dos meus colaboradores reparo que tinham um ar trocista
e de gozo. Quando começo a descer as escadas em direcção ao
estúdio começo ouvir risos meio abafados, eram os meus colaboradores! Quando me deparei com o tal senhor que ia ser
fotografado percebi imediatamente a razão dos ares de gozo e
dos risos abafados.
À minha frente estava um homem com ar acabado, muito velho,
mas completamente transfigurado. No piso de cima e através das
câmeras de vigilância os meus colaboradores seguiam o que se
passava e tentavam conter-se mas eu ouvia-os perfeitamente.
O meu modelo estava seminu, com lingerie vermelha feminina
e com umas mamas postiças. Muito sinceramente não esperava aquele “quadro”. Não sei se fiz algum tipo de expressão
demasiado “expressiva” perdoem-me o pleonasmo. Encaixei e
adaptei-me o mais rápido possível pois ao fim e ao cabo sou um
profissional. Depois de tentar perceber a ideia da pessoa para
aquela sessão lá a realizei.
Confesso que teve momentos únicos. Jamais imaginei fotografar algo parecido. O tal senhor estava extremamente maquilhado. Uns lábios esborratados de vermelho vivo e berrante. Os
olhos anarquicamente pintados. Até uma pinta preta na face
para simular um sinal. Se a pessoa fosse uma Drag Queen ou um
travesti eu entenderia mas aquilo era aberrante. Então quando
se começou a apalpar e a mordiscar os mamilos das mamas
postiças foi o fim da picada!
Acabada a sessão indagou-me se poderia repetir aquele tipo de
sessão mas acompanhado, respondi muito profissionalmente
que aquela não era bem a minha área e que o meu estúdio não
estava vocacionado para aquele tipo de trabalho.
Quando subimos e já depois de a pessoa sair os meus colaboradores Paula e Alberto quase rebentaram a rir. Jurei-lhes que me
iria “vingar”, na brincadeira claro.
António Camilo
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DP ARTEFOTOGRÁFICA 093
James Nachtwey,
o fotógrafo de (não) guerra.
“I used to call myself a war photographer. Now I consider myself as antiwar photographer. “
Como pessoa James Nachtwey é o oposto de tudo o que viveu enquanto fotógrafo. Encontramos uma pessoa afável nos seus modos, de voz suave e olhar intenso. Parece que nada
o afetou, que nenhuma das atrocidades horríveis que presenciou, fotografou e mostrou ao
mundo, o marcaram.
Tive o prazer de conhecer Nachtwey em Lisboa quando o fotógrafo esteve presente na
cerimónia de entrega do prémio Visão. Já antes tinha trocado correspondência com ele a
propósito de uma possível vinda de Nachtwey ao nosso país para dirigir um workshop.
James Nachtwey é um dos fotógrafos de guerra que mais admiro, não só pela sua extrema
coragem, mas também pela forma como fotografa. A fotografia de guerra e o fotojornalismo
devem reproduzir “realidades”. Nachtwey não se escusa a mostrar essa realidade: ele fá-lo
com a crueza que a mesma implica, mas bem. O que quero dizer é que muitas vezes os fotojornalistas deixam para segundo plano o “como fazer” para elegerem o primado do “o que
fazer”. É discutível se uma fotografia de conflito pode ser, ao mesmo tempo, uma “peça” com
estética ou grafismo. A questão, quanto a mim, não está na estética, mas na VERDADE. E aí,
Nachtwey não nos engana. Ele não mente, não “doura a pílula”, não suaviza a realidade. Só
que nos mostra essa vida (ou morte) de forma magistral.
Algumas das suas fotos ficarão para sempre no nosso imaginário colectivo.
A conhecida imagem do 11 de Setembro em que no meio dos destroços do World Trade Centre se vê um bombeiro é quase “bíblica”, se assim se pode chamar; ou a tão conhecida foto do
rapaz sobrevivente de um campo de morte no Rwanda, registada em 1994; ou a do menino
da guerra da Chechnya em 1996, entre as ruinas de Grozny.
Mas Nachtwey não se evidenciou exclusivamente com um trabalho sobre os conflitos de
guerra, a fome ou as ditaduras. Ele oferece-nos um trabalho fabuloso com a sua colaboração
na National Geographic. As suas imagens dos rituais iniciáticos adolescentes Xhosa, na Africa do Sul, são prova disso. A cor substitui o monocromático preto e branco, como se Nachtwey nos quisesse dizer que, apesar de tudo, há “outro mundo”, melhor do que aquele que
nos mostrou durante 20 anos.
Não é fácil escrever sobre tão enorme obra, nem tão pouco sobre este homem que nos deixa
tanto. Nachtwey é, ele próprio, “um mundo”. Os vídeos que mostram o fotógrafo em acção
– dos quais se destaca o famoso War Photographer, são um testemunho fantástico. James
Nachtwey tem dedicado muito seu tempo à denuncia dos conflitos, mas também dos caminhos que os media levam nas ultimas décadas: a não denuncia da miséria, desigualdades,
fome e guerra, são substituídos por entretenimento, fama e glamour..
Nachtwey é comparado a Robert Capa, segundo a Wikipedia. E nós concordamos.
«Fui uma testemunha e as minhas fotos são o meu legado. Os acontecimentos que fotografei
não devem ser esquecidos e nunca mais se deverão repetir», James Nachtwey
War Photographer – o filme
http://www.watchdocumentary.tv/war-photographer-documentary/
Em 2001 Christian Frei realizou um documentário em que utilizou micro-câmeras especiais
acopladas à máquina fotográfica de James Nachtwey. O documentário foi nomeado para o
Oscar da Academia, na categoria de Melhor Documentário. As filmagens decorreram durante os conflitos de Kosovo, Palestina e Indonésia, num período de 2 anos.
A vida
James Nachtwey nasceu em Syracuse (New York State) e foi criado em Massachusetts.
Estudou História da Arte e Ciências Políticas (1966-70), no Dartmouth College, onde se licenciou. Trabalhou a bordo de na marinha mercante e foi camionista.
Ele afirma no repetidamente que forma as imagens da guerra do Vietname – principalmente a conhecida foto de Nick Ut, com a menina vietnamita nua e queimada
pelo Napalm, após um bombardeamento da aviação americana - que mais o influenciaram na decisão de se tornar fotógrafo.
“Foi uma poderosa denúncia de guerra, da crueldade e da injustiça. Decidi seguir esta tradição”.
Em 1976 fotografou para jornais do Novo México e, em 1980, muda-se para Nova
Iorque. Começa então a fotografar para várias revistas. Em 1981 realiza o seu primeiro
trabalho internacional, quando é enviado para a Irlanda do Norte para documentar
os movimentos civis associados às greves de fome de membros do IRA.
Fotografou em inúmeros países como El Salvador, Nicarágua, Guatemala, Líbano,
Gaza, Afeganistão, Filipinas, Somália, Sudão, Ruanda, África do Sul, Bósnia Herzegovina, Chechênia e Kosovo, só para citar alguns.
James Nachtwey é fotógrafo da Revista Time desde 1984. Foi membro da agência
Magnum de 1986 a 2001. Em 2001, fundou juntamente com outros fotógrafos a agência VII. Expôs no International Center of Photography em Nova Iorque, na Bibliothèque Nationale de France em Paris, no Massachusetts College of Art em Boston, só
para citar as mais importantes.
Em 2003, ao trabalhar para a Time em Bagdad, foi gravemente ferido por uma granada,
ao acompanhar uma patrulha dos Marines. Recuperou após alguns dias inconsciente.
Recebeu diversos prémios tais como o Robert Capa Gold Medal (cinco vezes), o World
Press Photo Award (duas vezes), Magazine Photographer of the Year (sete vezes), o
International Center of Photography Infinity Award (três vezes), o Leica Award (duas
vezes), e o W. Eugene Smith Memorial Grant para Humanistic Photography.
Em 2007 foi galardoado com o TED Award (uma organização sem fins lucrativos). Da
sua palestra http://www.ted.com/talks/james_nachtwey_s_searing_pictures_of_war.html
fica-nos essa ideia magistral: James Nachtwey é daqueles que deu ao mundo muito
mais do que recebeu.
Paulo Roberto
Junho 2013
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DP ARTEFOTOGRÁFICA 095
Crise na Fotografia?
Existe uma enorme confusão na interpretação da crise fotográfica.
Quem ler “crise na fotografia”sem aprofundar as consequências ou a realidade verdadeira, está a enganar-se. Porque concretamente, nunca a fotografia esteve tão diversificada, rica e valorizada em termos quantitativos, variados e tecnológicos como nos
dias que correm. Nunca a tecnologia foi tão elevada e também, benefício disso nunca o “consumista” de fotografia teve tantos
poderes autónomos ao seu alcance.
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Usei atrás o termo “consumista” por, na realidade, a nobreza com que
os amantes da Arte Fotográfica usavam até há uns anos atrás o registo
fotográfico, a forma como guardavam momentos irrepetíves e a delicadeza como mostravam e expunham valores como esta Arte, me trás
hoje algum saudosismo e motiva-me a reflexão apreensiva...
Quantos gostam da Fotografia como eu não terão dificuldade em sentir e apreciar a forma desastrosa como ela hoje é usada e interpretada.
Está ao alcance de todos, desde as crianças aos adultos. Nunca se fizeram tantas fotografias, pelas mais variadas formas e por vezes piores
processos e nunca o amador fotográfico teve ascesso a tanta tecnologia
de registo fotográfico, nem nunca no tempo da fotografia analógica surgiram tantas vendas de maquinas Reflex, de modo a proporcionar que,
mesmo sem grandes conhecimentos, todo um vasto automatismo ao
dispor torne todos em potenciais fotógrafos dos mais variados eventos. Democraticamente e, esse é um direito inaleanável, todos podem
fotografar sem limites. Porém a desabrida forma como se faz o “click” e
se “apaga” e a forma como alguns concorrem no mercado com profissionais legalizados, aí sim, deixa-me muito por entender!..Estando em
vias de entrar a níveis superiores o debate bem estruturado, e alargado
a várias autoridades e agentes representativos.
É verdade, que eu andarei de candeias às avessas com tantas virtualidades e manipulações actuais. Não “entendo” facilmente, porque também não quero entender, certas coisas que nos servem formatadas
conforme as conveniências dos intervenientes e daí talvez a minha
perplexidade. Recentemente no meu Blog, “poe-teapauseculoxxi”, me
interroguei e, interroguei a propósito de uma gravação para uma série
televisiva, que está a ser captada na zona Oeste de Portugal onde resido, e prometi então, que desenvolveria o tema com mais detalhe, para
que possa enquanto fotógrafo que intervém com a fotografia, elucidar
e difundir com ela e com as palavras o meio que me circunda e atestar
também o poder das imagens e a sua ineficácia quando adulteradas.
É um registo na DP Arte Fotográfica, que fica como minha opinião.
Quem tem o privilégio de filmar determinadas zonas e maravilhas do
nosso País usufrui, de facto, de um poder que não está ao alcance de
todos e muito menos dos que apenas conhecem e acreditam no que
se lhes mostra. Sempre assim foi, já estivemos melhor, mas vivemos
acima das possibilidades! E vamos ter que voltar à “santa ignorância”?
Vendo e aprendendo com o que as “mágicas” caixas televisivas” nos
forem fazendo chegar, determinadas pelas suas edições mais ou menos convenientes para cada situação!?
A série que refiro, honra-me muito que aqui seja rodada, enquanto habitante desta zona do país. Há envolvimento. Há contacto com os actores
e criam-se expectativas de que se mostre aquilo que temos subtilmente
desta forma. Porém, os objectivos em tempos de manipulação, são fácilmente deturpados. Assim, quero registar aqui no escrito e forma de registo para memória futura, que “Beirais” é uma localidade do concelho de
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096 DP ARTEFOTOGRÁFICA
Valongo, do Distrito do Porto. Ou seja; A pitoresca aldeia do Carvalhal, do
Concelho do Bombarral, do Disrtito de Leiria, que abre a série da RTP1,
de 2ª a 6ª feira, com “Bem vindos a Beirais”, é localizada a pouco mais de
meia hora de Lisboa, a escassos 2 quilómetros da A8, cheia de riqueza
arquitetónica, património natural e de belezas raras, circundada por
vinhedos e pomares de pêra rocha, rota do vinho, produtos de eleição
que muito nos orgulha nesta região do País e, que esperamos trazer até
nós para reconhecimento o mais alargado numero de visitantes! O Carvalhal (agora titulado de Beirais?!) do Bombarral, fica ainda rodeado pelo
santuário do Senhor Jesus do Carvalhal, a Quinta dos Loridos, Jardim
Oriental Buddha Edén parque temático, e muito próximo das praias da
Consolação, Peniche, Baleal, Foz do Arelho,
S.Martinho do Porto e Nazaré.
Este magnifico roteiro, que vem desde o santuário da nossa Senhora de
Fátima, uma das salas capitais de turismo de Portugal, e onde há tanta
vida e estrangeiros todos os dias de visita, a linda vila de Óbidos! Aparentemente quanto aqui menciono, só terá importância para mim que
não gosto muito de “comer coelho por lebre” mas, se pensarmos bem,
não será de mau gosto quando escolhermos os locais, e gostarmos das
suas potencialidades e tradições, é bom não lhes tirarmos a identidade,
ainda que tal obrigue a alguma mudança de estratégia e acima de tudo
referências e contrapartidas acrescidas.
Algumas opiniões contrárias, ao que eu penso, também não me atormentam, porque continuarei a pugnar por um bairrismo genuino
e do “seu a seu dono”, deixando sempre o tal espaço para poderem
aproveitar para divulgarem, que é coisa que não tenho lido, nem visto
fazer!... Pouco me interessa a forma como induzimos as coisas, mas
sim as formas como as manipulam. As belezas que estão a vêr na série
“Bem vindos a Beirais” situam-se, na sua maioria, na freguesia do Carvalhal, do Concelho do Bombarra! Mal divulgadas?! Talvez!... Mas esta é
a verdade. Aqui fica um convite Nacional, a que visitem o País e as suas
estruturas e belezas, mas, se fôr possivel, sem fazermos busca de uma
coisa e depois irmos parar a outra por falta de rigor informativo, ou explicativo! Benvindos a toda a Zona Oeste!
Não termino, como tinha alinhado o pensamento ao titulo, mas falo-ei
nas próximas crónicas, onde abordarei a questão da fotografia profissional. E aí sim, vivemos na maior crise dos fotógrafos profissionais.
Abordarei “a importância do associativismo”. “Fotografia na escola e
fotografias escolares”. “Reportagens de casamentos divididas por tres
fases!” E “Congresso de Fotógrafos Profissionais Portugueses, já em embrião”. Temas quentes, em tempo de verão, que tarda em chegar.
(Anexo 2 fotos com lindos “Beirais!”. A torre da Igreja de S. Savador do
Mundo no Bombarral e uma fujida “com noivos” numa rua de Óbidos!)
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Bombarral _ 5 de junho de 2013
“A beleza da alma é a única coisa preciosa na vida. É difícil encontrá-la, mas quem consegue descobre tudo.”
Charles Chaplin
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Pesquisa e Coordenação Fátima Marques
Foto Jorge Pinto Guedes

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