LVR Guia Tart. Marinha IBAP 2012

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LVR Guia Tart. Marinha IBAP 2012
TARTARUGAS MARINHAS O GUIA O Guia das Tartarugas Marinhas foi elaborado por Betânia
Ferreira, com os comentários de ....
TARTARUGAS MARINHAS O GUIA TARTARUGAS MARINHAS NOS BIJAGÓS GUINÉ-­‐BISSAU © Betânia Ferreira Mais… As 5 espécies na Guiné Bissau Cinco das sete espécies de tartarugas marinhas que ocorrem em todo o mundo são encontradas no arquipélago dos Bijagós na Guiné-­‐
Bissau. 2 O que são Tartarugas Marinhas? As tartarugas marinhas são répteis e respiram ar pelos pulmões como outros animais terrestres ou como as pessoas. 8 Cinco das sete espécies de tartarugas marinhas que ocorrem em todo o mundo são encontradas no arquipélago dos Bijagós na Guiné Bissau. São elas a tartaruga verde, etchunko (Chelonia mydas), oliva ou ridley, emvara (Lepidochelys olivacea), a tartaruga de escamas, djassaka (Eretmochelys imbricata), a tartaruga de couro (Dermochelys coriacea) e a tartaruga cabeçuda (Caretta caretta). A população de tartarugas verdes é muito importante para o nosso país. Mais de 30 mil ninhos por ano são colocados pelas tartarugas verdes na ilha de Poilão, que faz parte do Parque Nacional Marinho de João Vieira e Poilão. Isto significa que esta é a mais importante área de desova de tartarugas verdes em toda a África, e a terceira mais importante do Atlântico, depois da Costa Rica e Ilha de Ascensão. Além disso, várias centenas ou mesmo milhares de ninhos de tartarugas verdes são colocados em outras praias dos Bijagós. A população de tartarugas oliva também é muito importante para a Guiné, com algumas centenas de ninhos por ano no Parque Nacional de Orango. Menor número de tartarugas de escamas, de couro e cabeçuda também nidificam nas ilhas. 1 1
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O Guia das Tartarugas Marinhas IBAP História da Pesquisa e da Conservação das Tartarugas Marinhas na Guiné-­‐Bissau © J.F. Hellio & N. Van Ingen / IBAP Há mais de 20 anos atrás, além de alguns registos antigos conseguidos para coleções científicas, pouco se sabia sobre as tartarugas marinhas da Guiné Bissau. Em 1989, foi realizado um levantamento inicial no arquipélago dos Bijagós, como parte de um esforço em se realizar o primeiro inventário da biodiversidade e das áreas de maior valor para a conservação no país. Tal esforço, realizado pelo Ministério da Agricultura, com o apoio da UICN e da cooperação da Suiça e do Canadá, resultou na informação de base utilizada para implementar uma rede de áreas protegidas, que não existiam na época. Durante este levantamento inicial, Poilão foi descoberto como um importante local de nidificação para as tartarugas marinhas. As praias do grupo de Orango também foram identificadas como sendo potencialmente importantes. Alguns anos mais tarde, foram realizadas algumas missões de monitorização nas praias de Orango e também na ilha de Poilão e praias vizinhas. Muitas tartarugas foram marcadas e mais tarde recapturadas em países vizinhos da sub-­‐região, como a Mauritânia, demonstrando 2 a importância destes zonas costeiras como áreas de alimentação para as tartarugas verdes que desovam na Guiné Bissau. Em 2000, um estudo mais completo da população das tartarugas verdes que desovam em Poilão confirmou a sua importância internacional. Desde então até ao presente, as atividades de monitorização no grupo de João Vieira e Poilão continuaram, e desde 2004 desenvolvidas pelo IBAP. Equipas permanecem em Poilão, durante os meses de Agosto a Novembro para contagem dos rastos e recolha de informação para pesquisa. Durante essas pesquisas, as ilhas de Unhocomo e Unhocomozinho foram identificadas como um sítio importante para as jovens tartarugas verdes, que usam os recifes rochosos não só para se alimentarem mas também para descansarem. Estas ilhas são também uma importante área de desova de várias espécies, como a tartaruga verde, a de pente e a de couro. Nas ilhas do grupo Orango e também nas ilhas de Unhocomo e Unhocomozinho as atividades de monitorização são menos intensivas. Mas o IBAP tem feito esforços para reverter essa situação. IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas AS 5 ESPÉCIES © Raziel Levi Méndez 2004 / Defenders © Betânia Ferreira TARTARUGA VERDE Chelonia mydas Crioulo: Tartaruga preto Bijagós: Etchunko Onde desovam? Desovam em quase todas as ilhas dos Bijagós, Formosa, Caravela, Unhocomo, Orango, Bubaque, Canhabaque, no grupo de João Vieira e até nas ilhas de Jeta e Pecixe. Também podemos encontrar alguns ninhos ao longo do litoral continental, desde o Cabo Roxo e a zona de Varela no norte, até à ilha de Melo, no sul. Mas apesar de desovarem em todos estes lugares a maior parte das tartarugas verdes concentra-­‐se numa única e pequena ilha, Poilão. A tartaruga verde é a segunda maior espécie, depois da tartaruga de couro. Pode medir entre 100 e 125 cm de comprimento e pesar entre 100 e 230 kg. A maior tartaruga verde encontrada no mundo tinha 395 kg. A cabeça é redonda com uma boca estreita. A sua carapaça tem 4 pares de placas laterais e a sua cor varia bastante, entre o castanho e o verde. O nome de tartaruga verde foi dado por causa da cor da gordura interna. Tem um crescimento lento e podem atingir a idade de reprodução apenas com cerca de 30 a 50 anos. São herbívoras, ou seja, comem algas e ervas marinhas, mas podem comer outros animais bentónicos que vivem no fundo do mar, como alguns peixes, ovos de peixe, choco, esponjas, etc. Mas as tartarugas jovens têm uma alimentação mais variada, comem algas, peixes, crustáceos e moluscos. As tartarugas verdes vivem nos mares tropicias e temperados em águas costeiras e ao redor de ilhas. Por exemplo, as tartarugas juvenis (jovens) gostam muito de se alimentar e descansar ao redor de ilhas como as de Unhocomo e Unhocomozinho. © Angela Formia © Katie Fuller 2009/Marine Photobank Quando desovam? Na Guiné, a tartaruga verde desova na época das chuvas. Em Poilão, as desovas são mais abundantes de Julho a Novembro, mas ocorrem durante todo o ano, com menores números entre Abril e Junho, período em que mesmo assim é possível observar algumas fêmeas a desovar. 3 O Guia das Tartarugas Marinhas IBAP © Luciano Zandoná AS 5 ESPÉCIES © Raziel Levi Méndez 2004 / Defenders Têm uma carapaça arredondada, a largura é quase igual ao comprimento. O nome desta espécie provém da cor da sua carapaça, um verde azeitona ou acizentado. Está entre as mais pequenas tartarugas marinhas, com cerca de 70 cm de comprimento de carapaça nos adultos, e com um peso que varia entre 35 e 50 kg. O número de placas laterais é diferente em cada lado da carapaça (assimétrico) e pode ir de 5 a 9 de cada lado. Na Guiné, a maioria das tartarugas olivacea têm 5 ou 6 placas em cada lado. As tartarugas oliva, vivem e alimentam-­‐se em mar aberto, frequentemente flutuando à superfície, mas podem mergulhar até aos 200 m. Mas outras preferem ficar perto da costa rica em animais bentónicos para se alimentarem. Podem ter uma alimentação vasta composta por peixes, moluscos, crustáceos, etc. A tartaruga oliva é possivelmente a segunda espécie mais numerosa na Guiné Bissau. E apesar de existir pouca informação sobre a sua distribuição, pensa-­‐se que o sitio mais importante para a desova da espécie seja nas ilhas do grupo Orango. Na Guiné, a tartaruga oliva desova durante a época seca (ao contrário da tartaruga verde e da tartaruga de escamas). Existem registos de desovas confirmados pelo menos de Dezembro a Maio, inclusivé. Janeiro © Projeto Tamar e Fevereiro destacam-­‐se como sendo os meses com maior intensidade de desova. 4 TARTARUGA OLIVA Lepidochelys olivacea Outros em Português: Olivacea, Ridley Crioulo: Pikinino Bijagós: Emvara Curioso! A tartaruga oliva pode pôr ovos em grandes grupos, chamados de arribada, onde se juntam quase 150 mil tartarugas fêmeas para desovar ao mesmo tempo. Ninguém sabe como começam as arribadas mas talvez estejam relacionadas com certas condições climáticas, como as marés ou a lua, ou algum outro fenómeno. Mas este comportamento de arribada só acontece em alguns locais no mundo, como na costa do Pacifico da América Central ou na Índia. IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas © Karl Phillips AS 5 ESPÉCIES TARTARUGA DE ESCAMAS Eretmochelys imbricata Outros em Português: de pente, verdadeira Crioulo: Burmedjo Bijagós: Djassaka Em que praias põem ovos? Estas tartarugas também desovam na ilha de Poilão e podem ser encontradas em algumas praias do Parque Nacional de Orango e nas ilhas de Unhocomo e Unhocomozinho. No entanto, apenas algumas poucas tartarugas desovam nos Bijagós. A principal época de desova coincide com a época das chuvas, entre Julho e Outubro, no entanto mesmo na época seca já foram encontradas a desovar. © Raziel Levi Méndez 2004 / Defenders Distingue-­‐se das outras espécies por ter uma cabeça pequena e estreita, dois pares de escamas pré-­‐frontais e um bico, como o de um papagaio. É uma tartaruga de tamanho pequeno a médio, com cerca de 80 a 95 cm de comprimento de carapaça e pode pesar entre 40 e 85 kg na idade adulta, mas pode chegar aos 100 quilos. A sua carapaça é de cor castanho-­‐amarelado e possui quatro placas laterais que se sobrepõem como telhas num telhado, com cores muito exuberantes o que a diferencia das outras espécies. Antigamente era muito procurada para o comércio de produtos, sendo a principal ameaça para sua sobrevivência. É considerada a mais tropical de todas as tartarugas marinhas. As áreas de desova são geralmente próximas a recifes de corais e dispersas em praias de todo o Mundo. Vive preferencialmente em áreas de recifes de coral e águas rasa, onde consegue encontrar o seu alimento favorito. A cabeça estreita e as “mandíbulas de falcão” formam um bico que permite buscar alimentos nas fendas dos recifes de corais. Comem esponjas, anémonas, lulas e camarões, o que faz desta espécie, um dos raros animais que podem digerir este tipo de presas. 5 © Projeto Tamar O Guia das Tartarugas Marinhas IBAP AS 5 ESPÉCIES © Projeto Tamar © Raziel Levi Méndez 2004 / Defenders Tem uma carapaça única e diferente de todas as outras tartarugas marinhas, pois é composta por uma fina camada de pele muito resistente, e em baixo da pele milhares de pequenas placas ósseas formam a sua carapaça grande, alongada e flexível. A carapaça tem normalmente cinco quilhas distintas que se localizam ao longo do seu comprimento, de cor preta com pontos brancos. Mede em média 180 cm de comprimento de carapaça e pesa em média 500 quilos. A maior tartaruga de couro alguma vez registada, pesava cerca de 915 quilos. Esta espécie gosta de viver em alto mar, mas podem ser encontradas em baías e estuários e alimentar-­‐se em águas muito rasas. Medusas, alforrecas e outros organismos gelatinosos, são em geral o seu alimento preferido. Esta espécie apresenta a mais ampla distribuição pelos oceanos, pois os adultos estão melhor adaptados a águas frias do que as restantes espécies, devido à espessa camada de gordura. Mas mesmo assim preferem desovar em regiões tropicais. Fazem migrações de milhares de quilómetros que as leva de um lado ao outro do oceano, das águas tropicais ao limite das regiões polares. Em África, a tartaruga de couro pode ser encontrada a desovar desde a Mauritânia até Angola, mas os principais locais de desova situam-­‐se na Guiné Equatorial e no Gabão, onde milhares de tartarugas de couro sobem às praias para desovar. Na Guiné ela desova preferencialmente nas ilhas do Parque Nacional de Orango e nas ilhas de Unhocomo e Unhocomozinho, durante a época seca. Mas também já foram registadas em outras ilhas dos Bijagós. 6 TARTARUGA DE COURO Dermochelys coriacea Outros em Português: gigante Crioulo: Gigante Bijagós: Djummeme Sabia que... As tartarugas de couro são a espécie que faz mergulhos mais profundos. Podem ir a mais de 1.000 metros de profundidade à procura da sua comida preferida. IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas AS 5 ESPÉCIES © SOS Tartarugas TARTARUGA CABEÇUDA Caretta caretta Outros em Português: comum ou vermelha Na Guiné... É uma espécie rara na Guiné Bissau, e as poucas observações alguma vez registadas, ocorreram nas ilhas de Unhocomozinho. Mas não há certeza de que ali desovem. O seguimento de tartarugas cabeçuda que desovam em Cabo Verde revelou que algumas vêm até às águas da Guiné Bissau, para se alimentarem ou apenas de passagem. © Raziel Levi Méndez 2004 / Defenders Esta espécie caracteriza-­‐se pela sua grande cabeça, e por isso é chamada de cabeçuda. É a única espécie que possui cinco pares de placas laterais, de cor castanho avermelhado, o que define a espécie em comparação com as restantes. As tartarugas desta espécie são de tamanho médio podem ter entre 70 a 120 cm de comprimento curvilíneo de carapaça e podem pesar entre 80 e 200 Kg. Podem ser encontradas nos oceanos Atlântico, Índico, Pacífico e no mar Mediterrâneo. A terceira maior área de reprodução das cabeçudas é localizada em Cabo Verde, a seguir às outras principais áreas de reprodução do Atlântico, Estados Unidos e Brasil. São animais preferencialmente carnívoros, e graças às suas poderosas maxilas, comem essencialmente caranguejos, moluscos, mexilhões e outros invertebrados. © SOS Tartarugas 7 O Guia das Tartarugas Marinhas IBAP Tartarugas Marinhas Ciclo de Vida Sabias que… Da Terra ao Mar As tartarugas marinhas existem à mais de 200 milhões de anos e conseguiram sobreviver a todas as mudanças ocorridas no planeta. As tartarugas ou quelónios são répteis que se caracterizam por ter o corpo protegido por uma carapaça óssea. Enquanto alguns vivem em ambientes terrestres, outros procuraram água doce ou aventuraram-­‐se para o mar, evoluindo e diferenciando-­‐se de outros répteis. Várias foram as modificações que permitiram aos quelónios sobreviver durante tanto tempo e adaptar-­‐se a novos ambientes. O número de vértebras diminuiu e as que sobraram se fundiram às costelas, formando uma carapaça resistente, mas leve e achatada. Possuem grandes barbatanas anteriores, parecem “voar” enquanto nadam, e deslocando-­‐se com rapidez e agilidade. As barbatanas traseiras funcionam como um remo. A cabeça é relativamente grande e não pode ser escondida dentro da carapaça, como acontece com outras espécies de tartarugas. 1 As tartarugas marinhas são diferentes das outras tartarugas, pois não conseguem esconder a sua cabeça dentro da carapaça. 2 Muitas vezes parece que as tartarugas choram, mas na verdade as suas lágrimas servem para lubrificar os olhos fora da água. 3 Têm um corpo adaptado ao meio marinho permitindo que fiquem muito tempo debaixo de água, até 2 ou mais horas e mergulham a grandes profundidades, até cerca de 1000 m. 4 A passagem para a idade adulta pode ocorrer entre os 15 e os 50 anos, dependendo da espécie e da área geográfica. Só é possível distinguir os machos das fêmeas quando adultos -­‐ os machos desenvolvem uma longa cauda. Archelon é o nome de uma tartaruga marinha que viveu na Terra à mais de 70 milhões de anos. O seu fóssil (ossos), tinha quase 6 metros de comprimento, como se vê na foto ao lado. IBAP São répteis de pele seca, coberta por placas, regulando a temperatura do corpo pela temperatura ambiente. Respiram ar pelos pulmões, como nós humanos, e podem ficar um longo período debaixo de água, quer em repouso quer em busca de alimento, e mergulhar a grandes profundidades. Para tal, o organismo funciona lentamente, o coração bate devagar. Bebem água do mar, mas possuem órgãos e fisiologia especializados para manter o balanço de sais dentro do corpo. As tartarugas não são animais de cérebro evoluído, mas têm a visão, o olfato e a audição extremamente desenvolvidos, além de uma fantástica capacidade de orientação. O Guia das Tartarugas Marinhas Tudo para se adaptarem à vida no mar. São espécies de vida longa, embora não se saiba ao certo a idade que podem atingir. A maturidade sexual pode ocorrer entre os 15 e os 50 anos, ou mais, dependendo da espécie e da área geográfica. Migradoras em potencial e excelentes navegadoras, nadam centenas de quilómetros durante as migrações entre as áreas de alimentação e as de reprodução e passam a maior parte da sua vida no mar, excepto as fêmeas quando sobem às praias para pôr os seus ovos. 9 O Guia das Tartarugas Marinhas IBAP Atividades Diárias, Migração e Navegação As tartarugas marinhas são solitárias e permanecem submersas durante muito tempo, o que as torna extremamente difíceis de estudar e de descobrir fatos sobre seu comportamento. Muitos anos de pesquisa, incluindo observações no mar, permitiram conhecer um pouco mais sobre as tartarugas marinhas, principalmente sobre a sua reprodução. Mesmo vivendo dispersas na imensidão dos mares, sabem o momento e o local exato de se reunirem para a reprodução. Fora da época reprodutiva, as tartarugas marinhas podem migrar centenas ou milhares de quilômetros. Podem dormir na superfície quando estão em águas profundas ou no fundo sob rochas em áreas próximas à costa. Após seu nascimento, os filhotes de tartaruga marinha emergem do ninho e correm para o mar, passando as horas seguintes a nadar para regiões oceânicas, onde estão mais seguros de predadores e conseguem alimentar-­‐se. Pensa-­‐se que os filhotes realizem durante vários anos grandes migrações, com a ajuda das correntes marinhas e associados a bancos de algas. Após alguns anos, quando as tartarugas já estão grandes o suficiente e em idade jovem retornam às águas costeiras, onde permanecem a alimentar-­‐se em águas costeiras. Quando adultos durante as temporadas reprodutivas, quando é a época de acasalamento e desova, ambos machos e fêmeas, migram de suas áreas de alimentação para as praias de desova, onde ocorre o acasalamento e as fêmeas sobem a praia para desovar. Estas migrações realizadas entre as áreas de desenvolvimento, alimentação e desova, duram por toda a sua vida, e podem significar grandes deslocamentos, bem como a entrada e saída de diferentes habitats costeiros e oceânicos. No mar, as tartarugas marinhas encontram fortes correntes, e são capazes de navegar regularmente por longas distâncias para encontrar suas praias de desova. Elas são capazes de detectar o ângulo e a intensidade do campo magnético terrestre, e utilizando estas duas características, as tartarugas marinhas conseguem determinar a sua latitude e longitude, e assim sua posição. © Projeto Tamar 10 © Nuno Sá IBAP A Desova Machos e fêmeas migram para áreas de reprodução e a cópula ocorre no mar. A fêmea pode copular com vários machos, assim como os machos podem copular com várias fêmeas. As fêmeas têm a capacidade de armazenar o sêmen dos machos no oviduto e a fecundação dos óvulos pode dar-­‐se apenas um ou dois meses depois. O comportamento de desova varia um pouco de acordo com a espécie e com a área em questão, mas sabe-­‐se que em uma temporada de desova a mesma fêmea pode realizar entre 3 a 7 desovas com um intervalo entre desovas de 10 a 20 dias. As fêmeas normalmente não se reproduzem em anos consecutivos. A duração entre dois períodos reprodutivos é definida como intervalo de remigração. Este período varia entre espécies e entre populações da mesma espécie, podendo aumentar ou diminuir devido à quantidade e qualidade de alimento, mudanças ambientais e distância das áreas de alimentação e reprodução. De um modo geral as fêmeas podem vir desovar com intervalos entre 1 a 9 anos. Para desovar, as fêmeas procuram praias desertas e normalmente esperam o anoitecer, uma vez que o calor da areia, durante o dia, dificulta a postura e a escuridão as protege de vários perigos. Em algumas situações, porém, são observadas desovas diurnas, geralmente condicionadas aos horários de maré-­‐alta, em locais circundados por barreiras de recifes, que impedem a subida das fêmeas em marés baixas, como acontece na ilha de Poilão. Quando a noite vem, as tartarugas escolhem preferencialmente uma praia livre de obstáculos e que garanta o desenvolvimento dos seus ovos com sucesso e com o menor risco de mortalidade. Situações como a presença de lixo na areia, vegetação alta, barulho e iluminação, assim como outros fatores ambientais, podem fazer com que O Guia das Tartarugas Marinhas a fêmea desista de desovar e provocar o seu retorno imediato ao mar. Nestas situações, a fêmea pode voltar pouco tempo depois noutros locais próximos para desovar, na mesma noite ou nas noites seguintes. A fêmea desloca-­‐se solitária e vagarosamente na areia, deixando um rastro característico. Ao encontrar um local apropriado, com as nadadeiras anteriores e com movimentos que envolvem todo o corpo, como se de uma dança se tratasse, a fêmea escava um grande buraco redondo, de mais ou menos dois metros de diâmetro, a cama, onde se vai alojar para iniciar a confecção do ninho. Assim, toda a areia solta e seca é retirada e é mais fácil de fazer o ninho. Elas podem fazer várias camas, até escolherem o local ideal para pôr os seus ovos, tudo tem de ficar perfeito. Feita a cama, é preciso elaborar o ninho onde vão ser colocados um a um, os seus ovos. Todo o processo é delicado. Cavam em movimento sincronizado cuidadosamente, e com as suas nadadeiras traseiras em forma de concha, alternando entre uma e outra, a tartaruga cava o ninho, com cerca de meio metro de profundidade. Quando o ninho está perfeito, os ovos são colocados, e ficam perfeitamente encaixados uns nos outros. Por terem uma casca flexível, não quebram ao caírem uns em cima dos outros. Os ovos ficam protegidos, cobertos por uma espécie de muco e pela areia com que a tartaruga cobre o ninho. Após a postura a fêmea cobre o ninho e elabora a camuflagem do ninho, utilizando os membros posteriores e anteriores, tentando disfarçar o local de postura de eventuais predadores. Após a camuflagem retorna ao mar. O Guia das Tartarugas Marinhas IBAP O nascimento dos filhotes Depois da postura a mãe tartaruga volta para o mar e depois de 45 a 60 dias, dependendo da temperatura da areia da praia, os cerca de 120 ovos rompem-­‐se e nascem os filhotes. Temperaturas da areia mais baixas geram machos (em média abaixo dos 29°C) e temperaturas mais elevadas geram fêmeas (em média acima dos 29°C). As tartaruguinhas nunca chegam a conhecer a sua mãe. Um filhote ajuda o outro, com movimentos sincronizados, num comportamento chamado de facilitação social, até alcançarem a superfície do ninho. Saem assim do ninho quase todos ao mesmo tempo, diminuindo o risco de predação individual. O nascimento ocorre geralmente à noite, pois as temperaturas são mais baixas e também estão mais protegidos contra predadores. Na sua maioria os filhotes têm cor escura, e durante o dia tornam-­‐se facilmente avistados na areia branca da praia. Além disto, a temperatura da superfície da areia pode atingir temperaturas muito altas o que pode ser mortal para os recém nascidos. © Caribbean Conservation Corporation Os filhotes são pequenos e frágeis, medindo apenas cerca de cinco centímetros. Muitos são devorados por craques, aves marinhas, polvos e principalmente peixes. Outros morrem de fome e de doenças naturais. Estima-­‐se que de cada mil tartarugas que nascem, apenas uma ou duas vão chegar à idade adulta. Depois de adultas, poucos animais conseguem ameaçá-­‐las – com exceção do Homem. Os filhotes que conseguem chegar ao mar, nadam sem parar para além das ondas e da rebentação. Possuem quantidade de energia suficiente para nadar várias horas sem descanso. Desta forma, afastam-­‐se rapidamente da costa, diminuindo a possibilidade de predação e aumentando as probabilidades de sobrevivência. Os filhotes recém-­‐nascidos consomem as suas reservas de vitelo durante os primeiros dias, possibilitando que nadem continuamente. Somente na fase subadulta vão se tornar visíveis as diferenças entre machos e fêmeas. A cauda do macho, torna-­‐se mais grossa e chega a ultrapassar as nadadeiras posteriores. Até alcançarem a idade adulta, entram e saem de uma variedade ampla de habitats oceânicos e costeiros, o que dificulta o estudo e o maior conhecimento destes animais. IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas As Ameaças © Betânia Ferreira Predadores naturais As tartarugas marinhas pertencem à mais antiga linhagem de répteis vivos e ainda que tenham resistido e se adaptado a drásticas mudanças ambientais, têm encontrado muitas dificuldades para manter a sua existência. Nos últimos duzentos anos, a sobrepesca comercial, a captura incidental nas redes de pesca, a destruição das áreas de alimentação, de desova e de repouso, e mais recentemente, a poluição dos mares e as alterações climáticas, vêm provocando o declínio das populações de tartarugas marinhas, frequentemente a níveis críticos. Na natureza, as tartarugas marinhas enfrentam uma série de perigos na luta pela sobrevivência. Os predadores tais como aves, mangusto, linguana, craque e até formigas, comem ovos e filhotes ainda no ninho ou quando nascem. Uma série de outros predadores quando iniciam a sua longa caminhada pelo oceano. Após atingirem a maturidade, as tartarugas marinhas apenas podem ser predadas por tubarões ou orcas. É na época da desova, que as tartarugas se tornam mais frágeis e vulneráveis, podendo ser atacadas pelo homem ou por animais terrestres. No entanto, existem muitas outras ameaças além das naturais, que poderão provocar a extinção das espécies. Para compreender o que realmente ameaça a sobrevivência das tartarugas marinhas, é importante controlar as ações dos seres humanos. Muitas populações de tartarugas marinhas já desapareceram do nosso planeta. © Jeane Nevarez IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas AMEAÇAS:
Exploração direta
O Homem como Predador © Projeto Tamar © Angela Formia © Projeto Tamar 14 Em muitos lugares no Mundo é hábito comum matar tartarugas marinhas para se consumir a carne. Geralmente as tartarugas eram capturadas quando subiam à praia para desovar. Também os ovos são retirados pelos habitantes dessas praias, para alimentação. Hoje essas práticas já não acontecem em algumas partes do Mundo. No entanto em muitos outros países, as tartarugas marinhas ainda são predadas, para consumo ou comércio dos seus ovos ou carne. As tartarugas marinhas têm sofrido inúmeras ameaças, principalmente por causa do homem, desde a pesca incidental, a ocupação e desenvolvimento do litoral, a degradação do meio ambiente, como o lixo no solo, na atmosfera e nos oceanos. O crescimento de áreas urbanas próximas às praias, têm vindo a provocar grandes alterações nas condições naturais das áreas de desova. Os principais problemas gerados por este tipo de ocupação são a iluminação artificial, as sombras na praia, o trânsito de veículos, ou a criação de animais domésticos, e a extração de areia. A degradação do meio marinho, pode provocar o desaparecimento de espécies que fazem parte da dieta das tartarugas marinhas. A presença de luzes na praia é uma ameaça para as fêmeas que sobem às praias para desovar, assim como para os filhotes recém saídos do ninho. As tartarugas marinhas utilizam a luz do horizonte em alto mar ou reflexo da lua no mar para se orientarem, da praia para a linha de água. Pontos de luz, que sejam mais fortes que a luz natural refletida no mar, desorienta as tartarugas, não as permitindo alcançar o mar. Podem se perder e serem predados, ou morrerem por desidratação. IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas A Pesca A modernização e a intensificação da atividade pesqueira, e o consequente aumento no esforço de captura, além de pressionar os ecossistemas marinhos tem acentuado os índices de captura incidental e a mortalidade das tartarugas marinhas. Talvez a maior ameaça para juvenis e adultos de tartarugas marinhas no mundo seja a sua captura incidental pela pesca. Muitas vezes as tartarugas ficam presas nas redes de pesca e, sem poderem vir à superfície para respirar, acabam por morrendo afogadas ou mutiladas pelas redes ou mesmo pela ingestão de anzóis. A colisão de tartarugas marinhas com embarcações também pode ser um problema para as tartarugas marinhas. Hélices de barcos e os próprios barcos pode provocar ferimentos graves e até levar à morte dos indivíduos. A pesca é uma das principais fontes de recursos e também um meio de subsistência para muitas comunidades costeiras. Portanto, há ao redor dessas áreas uma significativa interação das tartarugas marinhas com as pescarias utilizadas. Em outros países do mundo existem já medidas criadas de forma a reduzir a captura e a mortalidade das tartarugas marinhas na pesca. © Turtle Foundation © Angela Formia © Betânia Ferreira IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas Poluição A poluição das águas do mar por lixo, petróleo, esgotos, entre outros, interfere na alimentação e locomoção e prejudica o ciclo de vida das tartarugas marinhas, assim como de outros animais. A ingestão de sacos plásticos (confundidos muitas vezes com o alimento), ou o aprisionamento das tartarugas nas redes de pesca abandonadas, pode causar a morte destes animais. Fibropapilomas Os fibropapilomas podem ser causados por doenças infecciosas ou por influências ambientais tais como poluição química ou física. Caracteriza-­‐se pelo crescimento de tumores, podendo afetar a saúde das tartarugas marinhas e até levar à morte. Ocorrem essencialmente nas tartarugas verdes e geralmente nas partes moles do corpo, como nas barbatanas, nos olhos e no pescoço. 16 © Projeto Tamar IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas O que é a Extinção? © Nuno Sá Porquê nos preocuparmos com as tartarugas marinhas? Uma planta ou animal torna-­‐se extinto quando o último indivíduo da sua espécie morre, desaparecendo da face da terra para sempre. A extinção das espécies é algo que acontece há milhões de anos, e faz parte do processo natural e de evolução. Por exemplo, a maioria das espécies que existiam na época dos dinossauros extinguiram-­‐se, muito provavelmente devido a mudanças súbitas geológicas e climáticas. Hoje, porém, a extinção das espécies acontece maioritariamente devido a mudanças provocadas pelos seres humanos. A destruição do habitat, a poluição e excesso de consumo, têm vindo a causar a diminuição das espécies a um ritmo nunca antes visto na história. Esta perda de diversidade pode tornar toda a vida na Terra vulnerável. Muito se pode aprender sobre a condição do meio ambiente através das tartarugas marinhas. Existem há mais de 200 milhões de anos, e viajam por todos os oceanos do mundo. Nós ser humano apenas existimos à cerca de 150 mil anos. Como consumidores, controlam populações de outros animais como esponjas, medusas ou algas. Durante a sua vida alimentam-­‐se de mais de 200 espécies. Como presas, fazem parte da alimentação de vários animais, como raposas, formigas, lagartos, corvos, polvos, peixes, crocodilos e muitos outros. E os seus ovos podem também ser consumidos por raízes de plantas nas praias de desova. Tradicionalmente são parte fundamental no desenvolvimento social, cultural e económico, e elementos centrais nos costumes e tradições de comunidades costeiras. Por exemplo nos Bijagós, as tartarugas marinhas são muito utilizadas para alimentação, na medicina tradicional e em cerimónias. Mas hoje as tartarugas marinhas lutam pela sobrevivência, e em grande parte devido a nós, ser humano. Mas o que pode significar para nós a extinção das tartarugas marinhas? É possível que um mundo em que as tartarugas marinhas não possam sobreviver poderá em breve tornar-­‐se um mundo no qual os humanos lutem também para sobreviver. No entanto, se aprendermos com os nossos erros e começarmos a mudar o nosso comportamento, ainda há tempo de salvar as tartarugas marinhas da extinção. IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas Porquê a recolha de dados? A presença e a monitorização das praias de desova, permite-­‐nos não só proteger as tartarugas marinhas que sobem à praia para desovar e os seus ninhos, mas também permite-­‐nos conhecer melhor a sua biologia e o seu comportamento, que são essenciais para a sua proteção e conservação. Monitorização Pesquisa Conservação Importante: © Gonçalo Rosa © Betânia Ferreira © Betânia Ferreira Ser curioso e crítico, questionar-­‐se quando algo de novo surge, discutir com os colegas, ler informação existente, perguntar e esclarecer dúvidas com alguém que possa ter mais conhecimento e que possa ajudar. E o mais importante de tudo: aprender com as tartarugas marinhas, observar cada detalhe do seu comportamento, só assim as conhecemos verdadeiramente! IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas © Linda Schonknecht / Marine Photobank Monitorização Noturna Nas praias de desova é possível estudar o comportamento das fêmeas, a evolução das populações, o sucesso de nascimento dos filhotes, os efeitos e os níveis de predação, as condições de incubação dos ninhos, entre outros. Seguimento durante a noite O seguimento durante a noite é importante para proteger as fêmeas que sobem às praias para pôr os seus ovos e também para colectar dados e informações sobre elas e compreender melhor o seu comportamento de desova. IMPORTANTE • Andar próximo da água para evitar de passar muito próximo das tartarugas; • Falar em voz baixa e de preferência utilizar roupas escuras; • Aproximar sempre da tartaruga por trás e sem luzes ou ruído de forma a não assustá-­‐la; • A tartaruga só deve ser abordada quando está a desovar, pois fica mais calma, mas sempre com cuidado; • Apenas se deve medir e marcar a tartaruga enquanto coloca os ovos ou enquanto tapa o ninho. NÃO ESQUECER que devemos respeitar a fêmea pois é um momento de muito esforço! Aproveita o momento da desova! DADOS IMPORTANTES Identificar a espécie; contar o número de placas; medir a carapaça; verificar se tem fibropapilomas ou epibiontes; colocar as anilhas metálicas; se tiver um GPS retirar as coordenadas; medir a largura do rasto; medir a distância do ninho à maré alta e à vegetação. 19 IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas © José da Costa / Colaborador Praia de An-­‐ôr / IBAP Monitorização Diurna Seguimento durante a manhã Importante para a contagem dos rastos, marcação dos ninhos e transferência caso necessário, e também para o seguimento das eclosões dos ninhos. Deverá ser feito preferencialmente de manhã cedo, antes da maré-­‐alta, para que os rastos das tartarugas que desovaram na noite anterior sejam visíveis. IMPORTANTE • Só nos casos em que o seguimento não pode ser feito todos os dias, é importante distinguir ninhos novos de velhos; • Um ninho é novo quando não tem mais de 24 horas. Depois já é considerado velho. • Isto é importante porque a contagem de ninhos novos permite saber o número de tartarugas que vieram desovar nessa noite e a contagem de ninhos velhos permite definir a distribuição e altura em que cada espécie vem desovar. • Se um ninho foi predado é importante anotar o tipo de predador e se predou só alguns ovos ou todo o ninho; DADOS IMPORTANTES Localizar e marcar os ninhos; identificar a espécie pelo rasto; medir a largura do rasto; se tiver um GPS e se for importante tirar as coordenadas; medir a distância do ninho à maré alta e à vegetação; e não esquecer de apagar o rasto! Observar os ninhos antigos e qualquer outra situação diferente deve ser anotada como inundação de ninhos; erosão da praia; tartarugas mortas; rastos de outros animais observados; e qualquer outra observações importante. 20 Durante a época de desova, as patrulhas diárias durante a noite e de manhã muito cedo, permitem encontrar fêmeas em desova, ninhos colocados pelas fêmeas ou já eclodidos. IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas Monitorização Barcos e Redes de Pesca Algumas tartarugas poderão ser capturas intencionalmente ou acidentalmente por pescadores, ou achadas mortas nas praias. Nestes casos, é importante anotar todas as informações importantes. Se a tartaruga estiver viva, deve fazer com que o pescador liberte a tartaruga, mas antes é importante retirar todos os dados relativos à tartaruga (espécie, medir, verificar se já está marcada e se não deve-­‐se marcar). Se a tartaruga está morta, devem ser retirados todos os dados relativos ao animal e identificar a causa de morte (tipo de rede, se morreu na rede ou pescador matou). © Betânia Ferreira IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas Seguimento Eclosões © Betânia Ferreira IMPORTANTE: 1. Abrir um ou mais dias depois de eclodir; 2. De preferência de manhã cedo ou no final da tarde por causa do calor; © Betânia Ferreira © Bucar Indjai 3. Identificar a espécie; 4. Contar número de cascas; não eclodidos; natimortos (mortos dentro do ninho); vivos dentro do ninho; © Betânia Ferreira © SOS Tartarugas 22 © Projeto Tamar © J.F. Hellio & N. Van Ingen / IBAP 5. Os filhotes encontrados vivos dentro do ninho devem ser imediatamente libertados, mas se não for possível, colocar num balde com areia do ninho à sombra e num local protegido e soltá-­‐los assim que possível; 6. Nunca deixar os filhotes vivos, dentro de um balde com água, pois perdem toda a energia necessária para nadar no mar! IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas Transferir os ninhos? © Betânia Ferreira A transferência dos ninhos deve ser bem avaliada, deve ser feita apenas por pessoas treinadas e só deve ser feita quando é mesmo necessário, pois pode trazer consequências muito graves para as populações de tartarugas marinhas. MOTIVOS A CONSIDERAR: 1. Inundação pelas marés; 2. Predação humana; 3. Predadores naturais; 4. Educação ambiental e sensibilização. RISCOS • Alteração nas taxas de eclosão; • Alteração na relação machos/fêmeas; • Interferência no ciclo natural (orientação dos filhotes); Para onde transferir? 1. Para a mesma praia Se possível deve-­‐se transferir o ninho para um local próximo e com as mesmas condições, que o local onde a tartaruga colocou os seus ovos, livre de ameaças: • Sempre verificar onde está a linha de maré alta para evitar de transferir o ninho para um local onde a mare possa inundar o ninho. • Ter atenção à forma da praia por causa da erosão causada pelas marés, normalmente vai variando com o tempo; • Normalmente a mais de 5 metros acima da maré alta o ninho estará seguro. 2. Para um cercado de incubação Os cercados de incubação, normalmente trazem mais custos, precisam de um seguimento frequente e de pessoas treinadas. Pode trazer muitos problemas para as tartarugas marinhas, pois deve-­‐se ter muitos cuidados, principalmente com o local: • Deve o mais possível igual com as áreas naturais; • Deve estar perto da área de desova, para evitar transporte de longa duração; • Construído de forma a não deixar a entrada de predadores, sejam naturais ou não. • Interferência na seleção natural. 23 IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas © Meera Anna Oommen Cuidados ao Transferir © SOS Tartarugas 1. Transporte dos ovos •
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Deve ser feito no máximo até 6 horas depois da tartaruga colocar os seus ovos; Os ovos não devem ser NUNCA rodados, sempre movê-­‐los com muito cuidado; Deve ser feito com a ajuda de um balde ou cesta; primeiro uma camada de areia; depois colocar os ovos um a um dentro do balde ou cesta sem rodar; e no fim pôr mais areia por cima dos ovos para durante o transporte os ovos estarem em segurança. © SOS Tartarugas 2. O ninho •
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24 Não esquecer de tirar as medidas do ninho que a tartaruga fez para fazer o ninho igual; Os ninhos devem sempre ter uma distância entre eles de no mínimo 1 metro a toda a volta; Quando o ninho tem cerca de 40 dias, colocar uma rede à volta, para quando os filhotes nascerem sabermos de que ninho é; Os filhotes devem ser soltos logo após o nascimento. © SOS Tartarugas IBAP Conhecer as Espécies O Guia das Tartarugas Marinhas ? 25 IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas Tartaruga verde (Chelonia mydas) © SWOT VI 2011 Características gerais: © Juergen Freund © Projeto Tamar © Hugo Oliveira © Betânia Ferreira 26 Carapaça: -­‐ geralmente oval e a margem às vezes pode ser recortada mas não serrilhada, como nas tartarugas de escamas; -­‐ 4 pares de placas laterais; -­‐ comprimento de carapaça pode ir até aos 125 cm ou mais. Cabeça: -­‐ pequena e arredondada, com cerca de 15 cm; -­‐ tem 2 escamas entre os olhos (pré-­‐
frontais) e 4 escamas abaixo dos olhos em cada lado. Membros: -­‐ 1 unha em cada barbatana; -­‐ os filhotes podem ter 2 unhas em cada barbatana. Cor: -­‐ os filhotes têm uma carapaça preta com uma margem branca e o plastrão branco; -­‐ os juvenis a cor torna-­‐se castanha com listras verdes ou castanho claro; -­‐ quando adultos podem ter cores muito variadas, desde o cinzento escuro, verde escuro ou claro, amarelo, castanho ou preto, com estrias ou manchas pretas. Peso: -­‐ podem pesar até 230 kg. Rasto: -­‐ rasto profundo e simétrico; -­‐ com cerca de 90 a 130 cm de largura; -­‐ marca da cauda tracejada ou contínua. IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas Tartaruga oliva (Lepidochelys olivacea) © Betânia Ferreira Características gerais: Carapaça: -­‐ carapaça arredondada, lisa e alta, quase em forma de tenda; -­‐ 6 ou mais pares de placas laterais, e normalmente assimétricas, ou seja diferente número em cada lado; -­‐ comprimento de carapaça é de cerca de 70 cm. Plastrão: -­‐ no plastrão (barriga da tartaruga) têm 1 poro (espécie de buraco) perto da margem em cada uma das 4 (pares) placas inframarginais. Cabeça: -­‐ grande e triangular com cerca de 15 cm; -­‐ tem 4 escamas entre os olhos (pré-­‐
frontais). Membros: -­‐ 2 unhas em cada barbatana ( alguns adultos podem ter apenas 1). Cor: -­‐ verde azeitona ou acinzentado. Peso: -­‐ podem pesar entre 35 e 50 kg. Rasto: -­‐ rasto pouco profundo e assimétrico; -­‐ com cerca de 50 a 80 cm de largura; -­‐ marca da cauda na maioria das vezes ausente; -­‐ por vezes difícil de distinguir da tartaruga de escamas ou cabeçuda. © Projeto Tamar © Gopi G.V. 27 IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas Tartaruga de escamas (Eretmochelys imbricata) © Karla Barrientos Características gerais: © Projeto Tamar © Projeto Tamar © Projeto Tamar 28 Carapaça: -­‐ geralmente oval com uma margem serrilhada e às vezes com sobreposição das placas, como num telhado de uma casa; -­‐ 4 pares de placas laterais; -­‐ comprimento de carapaça entre os 80 e os 95 cm. Cabeça: -­‐ pequena e estreita, com cerca de 10 cm de largura; -­‐ bico como um papagaio; -­‐ tem 4 escamas entre os olhos (pré-­‐
frontais) e 3 escamas abaixo dos olhos em cada lado. Membros: -­‐ 2 unhas em cada barbatana. Cor: -­‐ carapaça de cor castanho-­‐amarelado, às vezes com manchas pretas. Peso: -­‐ podem pesar até cerca de 85 kg. Rasto: -­‐ rasto pouco profundo e assimétrico; -­‐ com cerca de 70 a 90 cm de largura; -­‐ marca da cauda presente ou ausente; -­‐ por vezes difícil de distinguir da tartaruga oliva ou cabeçuda. IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas Tartaruga de couro (Dermochelys coriacea) © Projeto Tamar Características gerais: Carapaça: -­‐ carapaça alongada e pele lisa como um couro; -­‐ 5 quilhas ao longo da carapaça desde a cabeça até à cauda; -­‐ comprimento de carapaça é de cerca de 180 cm. Cabeça: -­‐ grande e triangular com cerca de 25 cm de largura; Membros: -­‐ barbatanas da frente muito longas; -­‐ pele sem escamas e sem unhas. Cor: -­‐ cinzento escuro ou preto com manchas brancas; -­‐ pode ter manchas azuladas ou rosa nas barbatanas e pele do pescoço. Peso: -­‐ podem pesar até 500 kg. Rasto: -­‐ rasto profundo, largo e simétrico; -­‐ com cerca de 150 a 230 cm de largura; -­‐ marca da cauda presente e profunda. © Projeto Tamar © Projeto Tamar © Projeto Tamar 29 IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas Tartaruga cabeçuda (Caretta caretta) Características gerais: © Projeto Tamar © Projeto Tamar © Nuno Sá © Projeto Tamar 30 Carapaça: -­‐ carapaça larga; -­‐ nos juvenis a margem é um pouco serrilhada; -­‐ 5 pares de placas laterais, o primeiro par de placas são mais pequenas que as outras; -­‐ comprimento de carapaça entre os 70 e os 120 cm. Cabeça: -­‐ cabeça grande e triangular, com cerca de 28 cm de largura; -­‐ tem 4 escamas entre os olhos (pré-­‐
frontais). Membros: -­‐ barbatanas da frente mais curtas que as outras espécies; -­‐ 2 unhas em cada barbatana. Cor: -­‐ carapaça de cor castanho avermelhado. Peso: -­‐ podem pesar até cerca de 200 kg. Rasto: -­‐ rasto profundo e assimétrico; -­‐ com cerca de 70 a 90 cm de largura; -­‐ marca da cauda normalmente ausente; -­‐ por vezes difícil de distinguir da tartaruga oliva ou de escamas. IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas © Rogério Ferreira Medir Pesar IMPORTANTE PARA: • Saber o tamanho e a idade de reprodução; • Saber o tamanho mínimo e máximo das fêmeas; • Taxas de crescimento; • Uso do habitat; • Saúde das tartarugas. Usar sempre uma fita-­‐métrica mole e flexível. Para o comprimento medir desde o bordo da carapaça perto da cabeça até ao bordo da carapaça perto da cauda, em cima das placas centrais. Para a largura medir em cima da placa central do meio, na parte mais larga da carapaça de um bordo ao outro. © Angela Formia © Betânia Ferreira © Manjula Tiwari © Projeto Tamar 31 IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas © Projeto Tamar As Anilhas Metálicas IMPORTANTE PARA: • Saber mais sobre tartarugas marinhas; •
32 as Conhecer as suas migrações e para onde vão as tartarugas depois das áreas de desova ou alimentação. Muitas tartarugas que são marcadas com anilhas metálicas e que desovam ou alimentam-­‐se na Guiné Bissau fazem grandes viagens e podem ser encontradas em outros países do Mundo com as nossas anilhas! ANTES DE MARCAR verificar sempre todas as barbatanas para ver se não está já marcada ou se há vestígios de outras anilhas. IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas OUTRAS P ESQUISAS Existem muitas pesquisas que podem ser feitas para melhor conhecermos as tartarugas marinhas, estas são só algumas delas: Marcação com PIT Tag Um PIT Tag é um transmissor passivo integrado, ou seja uma marca interna. Coloca-­‐
se com uma agulha e é injetado no músculo do ombro ou debaixo das escamas nas barbatanas das tartarugas. É uma marca segura porque nunca cai, mas de alto custo e a leitura é impossível sem o leitor. Pedaço de pele da tartaruga Para estudar de que família pertencem as tartarugas (genética) ou até descobrir o que comem (isótopos estáveis), basta retirar um pedaço de pele da tartaruga que é depois analisado em laboratório por especialistas. Transmissor de Satélite Estes aparelhos têm um GPS e permitem saber por onde viajam as tartarugas. Temperatura da areia e sexo dos filhotes Para saber se numa praia nascem mais machos ou fêmeas há dois estudos que são feitos: medir a temperatura da areia e determinar o sexo dos filhotes. A temperatura da areia é medida com um termómetro que se enterra na areia à mesma profundidade onde estão os ovos. Estes termómetros fazem a leitura da temperatura da areia durante todo o dia pelo tempo necessário. O sexo dos filhotes pode ser determinado através das gónadas das tartaruguinhas, que são retiradas de filhotes mortos e depois analisadas num laboratório. © Mathew Godfrey © Betânia Ferreira © Projeto Tamar 33 IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas Sensibilização Educação Conservação © Betânia Ferreira Sensibilização e educação ambiental de todos os sectores da sociedade, desde os pescadores, estudantes, políticos entre outros. Envolvimento dos habitantes das tabancas das ilhas Bijagós e das zonas costeiras onde as tartarugas se alimentam ou desovam é fundamental para a sobrevivência das tartarugas marinhas. Evitar os impactos sobre as praias de desova protegendo os ninhos até à eclosão, diminuindo os impactos humanos nas praias onde as tartarugas fazem os seus ninhos. Diminuir a mortalidade das tartarugas marinhas não só nas praias onde as tartarugas desovam, mas também diminuir a mortalidade pela pesca artesanal nas áreas de alimentação. Legislação na Guiné Bissau protege as tartarugas marinhas. São proibidas a pesca, a captura e a detenção de tartarugas marinhas, assim como a coleta de ovos (Art.27º, Decreto-­‐Lei NQ 6-­‐Al2000 de 22 de Agosto). Qualquer pessoa flagrada no exercício da caça e ou capturar tartarugas marinhas e seus respectivos ovos, pagará uma multa que vai de 50.000,00 a 200.000,00 FCFA e poderá sofrer 2 dias de prisão preventiva por entidade competente, nos Parque Nacional Marinho de João Vieira e Poilão e no Parque Nacional de Orango. As Tartarugas Marinhas desempenham um papel fundamental no equilíbrio da natureza. Por isso é tão importante protegermos as TARTARUGAS MARINHAS e o nosso MEIO AMBIENTE. É também tua função passar a mensagem, ensinar os seus vizinhos, amigos, filhos, familiares e alunos, aquilo que aprendeste! A participação de todos é muito importante! As tartarugas marinhas são um recurso natural partilhado por todos os guineenses e deve ser protegido! 34 IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas Ecoturismo Como agir? © Projeto Tamar Porque o Turismo é importante? A EXPERIÊNCIA DOS TURISTAS DEVE SER INCRÍVEL E MEMORÁVEL! • Valorização do património natural e cultural da Guiné Bissau; • Receita para os parques, as comunidades das tabancas e para a Guiné Bissau; • Sensibilização e educação dos turistas. Se não aceitarmos turistas? • Falta de compreensão sobre o trabalho desenvolvido e sobre a importância dos recursos naturais da Guiné Bissau; • Menos receitas para os parques, as comunidades das tabancas e para a Guiné Bissau. Porque os turistas vêm ver as tartarugas marinhas e outros animais? •
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Porque querem contribuir; Porque querem aprender; Para terem uma experiência única. •
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Vocês são os guardas e eles devem respeitar as vossas indicações; Mostrar o código de conduta; Explicar como será feito o seguimento e como agir perante uma tartaruga marinha; Contar o que sabem sobre a importância das tartarugas para o meio ambiente e para a Guiné Bissau; Explicar a importância do turismo para a sustentabilidade dos programas de conservação; Contar histórias sobre a vossa cultura; Envolver os turistas nas atividades de campo e ajudar na marcação e biometria das tartarugas marinhas! Como agir com os turistas? •
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IBAP O Guia das Tartarugas Marinhas © Betânia Ferreira Ilha de Poilão Código de Conduta 36 O presente Guia das Tartarugas Marinhas foi preparado no quadro do Projeto de Conservação e Monitorização das Tartarugas Marinhas do arquipélago dos Bijagós, coordenado pelo Centro de Pesquisa do ISPA, Instituto Universitário de Portugal em parceria com o IBAP, Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas da Guiné Bissau, e com o apoio financeiro da U.S. Fish and Wildlife Service. A biodiversidade da
Guiné-Bissau é
conservada de forma
sustentável em benefício
do desenvolvimento das
gerações presentes e
futuras.
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tartarugasdosbijagos/

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