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O lugar do letramento digital na escola pública Tatiana do Nascimento Cavalcante (ELMC-UFMG/SME-GO) Resumo: Partindo da premissa de que as TIC’s ocupam um espaço significativo na organização da sociedade moderna e nas relações que nela se estabelecem, faz-se inadiável a tarefa de conferirmos às TIC’s o seu devido lugar na educação e de criarmos mecanismos eficazes para que a escola (pública) explore amplamente os recursos que tem à sua disposição para que possa (a) instrumentalizar seus alunos a lidar com tais ferramentas e (b) promover a inclusão sociodigital por meio das práticas escolares. Palavras-chave: Educação. Tecnologia. Inclusão sociodigital. Introdução: Considerar a necessidade premente de promovermos o letramento digital dos alunos da escola pública é aceitar que, enquanto professores, temos o compromisso de propiciar condições para que esses alunos consigam ressignificar em sua vida a função dos dispositivos eletrônicos, que talvez eles possuam e usem corriqueiramente de modo intuitivo. Desse modo, o letramento digital precisa ser compreendido como uma “prática discursivo-social de letramento das populações carentes e/ou marginalizadas via instituição escolar, a partir da ação pedagógica do professor” (COSTA, 2009, p. 2009), que possibilita tanto a renovação das práticas pedagógicas quanto as práticas sociais da comunidade em que os indivíduos estão inseridos. Cabe destacarmos aqui o entrelaçamento existente entre a condição de ser letrado digitalmente e de ser um indivíduo incluído sociodigitalmente, uma vez que tal letramento faculta, por si, a possibilidade de o indivíduo participar plenamente das relações discursivas que se estabelecem em UEADSL 2015.1 variados espaços sociais, inclusive o midiático digital. E isso é também um dos aspectos do exercício da cidadania. Outro fator a ser considerado é que tomar por verdadeira a assertiva de que temos em nossas salas de aula a primeira geração de “nativos digitais” significa querer validar uma representação falseada da realidade frequentemente veiculada em campanhas publicitárias. O que nossos alunos revelam, de fato, é que questões como o lugar sociocultural ocupado por esses sujeitos acabam por justificar a sua maior ou menor distância do uso das tecnologias da informação e comunicação, doravante aqui denominadas TIC’s, no seu dia a dia. Quando consideramos o contexto de uma sala de aula, facilmente percebemos que o uso da tecnologia, enquanto recurso didático, atua como ferramenta motivadora da aprendizagem, uma vez que a mesma tende a agregar diversão e prazer à execução do que é proposto pelo professor. No entanto, discussões recentes sobre os usos pedagógicos das TIC’s têm agregado a eles bem mais do que diversão e prazer às situações de aprendizagem. Há que se pensar também na promoção da inclusão sociodigital por meio das práticas escolares, bem como no perfil que está sendo construído daqueles aprendizes uma vez que “a escola aparece no contexto atual das políticas públicas como espaço de excelência para os processos de inclusão sociodigital e, consequentemente, de democratização social” (FIGUEIREDOECHALAR e PEIXOTO, 2014). Partindo, então, da premissa de que as TIC’s ocupam um espaço significativo na organização da sociedade moderna e nas relações que nela se estabelecem, faz-se inadiável a tarefa de conferirmos às TIC’s o seu devido lugar na educação e de criarmos mecanismos eficazes para que a escola explore amplamente os recursos que tem à sua disposição para instrumentalizar seus alunos a lidar com tais ferramentas. Isso porque a “escola pública – ainda delimitada por fronteiras físicas e concretas - aparece como um ambiente potencial para a inserção dos novos conhecimentos e práticas deste universo que aos poucos vai se adentrando na vida das pessoas: o universo on-line” (BESKOW, 2015). Pensando nisso, apresentamos aqui um projeto, que ainda está sendo desenvolvido, de ensino híbrido de língua estrangeira em uma escola pública municipal da cidade de Goiânia – Goiás, em que o uso das TIC’s se dá de modo alternado, ora presencialmente ora como parte de uma atividade que deve ser executada extraclasse. UEADSL 2015.1 O projeto tem como objetivo principal promover a suficiente e necessária apropriação do conhecimento tecnológico pelos alunos participantes da pesquisa por meio do letramento digital. Para tanto, foram definidos alguns objetivos específicos dos quais destacam-se (A) o estímulo ao uso cotidiano das TIC’s, por parte dos alunos, com o propósito de aprendizagem e não apenas de diversão; (B) possibilitar que os alunos desenvolvam a capacidade de trabalhar de modo cooperativo fazendo uso das TIC’S de forma crítica e reflexiva; e (C) viabilizar uma prática pedagógica mais eficaz no ensino de língua estrangeira utilizando recursos midiáticos diversificados em situação híbrida de ensinoaprendizagem – presencial e à distância. Dados iniciais: Um pequeno recorte dos dados coletados na entrevista feita em uma turma com 27 alunos revelou que o primeiro acesso deles ao computador ocorreu, na maior parte das vezes, fora do ambiente escolar. 13 alunos disseram que a primeira vez que usaram o computador foi em sua própria casa, 6 disseram que foi na casa de parentes, 6 disseram que foi em uma lan house e 2 disseram que foi na escola. Desses alunos, 25 afirmaram fazer uso do computador fora da escola. E a finalidade desse uso foi bastante diversificada: Você costuma usar o computador para fazer o quê? Jogos 26 Pesquisas 17 Redes sociais 13 Assistir a filmes e vídeos 5 Ouvir música 4 Digitar 2 Acessar blogs 1 Considerações finais: Verificamos que, para a maior parte dos alunos envolvidos nesta investigação, a escola não é o ambiente em que se dá o primeiro contato com o ciberespaço. No entanto, é nesse ambiente em que se faz necessário o aprendizado de outras funções das TIC’s, e de modo mais específico da internet, que UEADSL 2015.1 não apenas a diversão já exercitada por esses indivíduos em outros espaços. Isso porque o letramento digital no âmbito das práticas de leitura e escrita escolar acaba por sinalizar outro caminho legítimo de inclusão social de uma parcela da população que costuma estar à margem das relações econômicas de nossa sociedade. O que significa dizer que “essas pessoas estão cada vez mais distantes do polo de riqueza que domina o mundo e, caso não sejam inseridas digitalmente, a tendência é que seu estado de exclusão aumente cada vez mais” (BESKOW, 2015). Percebemos, contudo, que o uso das novas tecnologias na sala de aula ainda é insatisfatório quando consideramos os objetivos que almejamos alcançar. E, dentre as dificuldades encontradas para que essa realidade adquira novos contornos, identificamos a resistência de alguns professores ao uso das novas tecnologias no ensino – por falta de capacitação, principalmente – como mais importante fator. É necessário destacar que as condições de acesso à rede de internet disponibilizada algumas vezes inviabiliza a realização de atividades on line por não suportar o acesso simultâneo de vários usuários – alunos – no ambiente informatizado da escola. O laboratório de informática da escola tem instalado em seus computadores o sistema operacional Linux Educacional 5.0 que, a despeito de as máquinas serem antigas, é leve e de boa usabilidade. Concluímos afirmando que, de fato, a simples presença de computadores na escola não garante que a inclusão digital aconteça. É preciso, antes de tudo, que, ao invés de ações isoladas, tenhamos o comprometimento da instituição escolar como um todo materializado em planejamentos de aulas e projetos que acomodem em si o uso das TIC’s em seu desenvolvimento. Referências bibliográficas: COSTA, Angela Maria Plath da. A Inclusão Digital na Escola Pública. Trabalho apresentado no III Encontro Nacional Sobre Hipertexto, Belo Horizonte, 2009. BESKOW, Cristina Alvares. Inclusão Digital Na Escola Pública: Relacionando comunicação, tecnologia e educação. Disponível em: <http://escoladeredes.net/profiles/blogs/inclusao-digital-na-escola>. Acesso em: 19 de mai. 2015. FIGUEIREDO-ECHALAR, A. D. L.; PEIXOTO, J. Possibilidades democráticas para a inclusão sociodigital via ambiente escolar. In: Araújo, Adelmar Santos de; Zacariotti, Marluce; Andrade, Tatiana Carilly Oliveira; Ternes, José. (Org.). Filosofia e educação: diálogos epistemológicos. 1ed. Goiânia: Kelps, 2014, v. 1, cap. 8, p. 137-148. UEADSL 2015.1