biociências tei
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biociências tei
Inovação: Pesquisa da Fundação Biominas mostra que em dois anos foram criadas 30 companhias no setor Uma alternativa aos caros tratamentos de imunossupressão para diabéticos que fizeram transplante de Ricardo Benichio / Valor células do pâncreas começa a ganhar forma dentro do campus da Universidade de São Paulo (USP). A Cell Protect, uma empresa incubada no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec, que fica dentro da Cidade Universitária), desenvolve uma microcápsula gelatinosa para proteger as chamadas ilhotas pancreáticas, responsáveis pela produção de insulina. As microcápsulas, afirma o sócio-diretor Thiago Mares Guia, impedem que o organismo do paciente rejeite as novas células, dispensando dessa forma o uso de imunossupressores, que custam não menos de R$ 100 mil por ano por paciente. "As microcápsulas também protegem as células de danos que podem ser causados no seu manuseio pela indústria farmacêutica", observa. A Cell Protect é uma das 30 empresas de biotecnologia fundadas entre 2007 e 2008 e que contribuíram para ampliar e diversificar o mercado brasileiro de biociências. Um levantamento realizado pela Fundação Biominas, uma entidade privada sem fins lucrativos, revela que as empresas faturaram e contrataram mais nos últimos dois anos. E a pesquisa voltada à saúde humana supera o interesse antes majoritário em agricultura. Para este ano, a expectativa é de expansão de 27% no faturamento das empresas, superando pela primeira vez R$ 1 bilhão. A previsão é de que os investimentos vão crescer 9,8% sobre os R$ 288,5 milhões Sogayar e Thiago Mares Guia, sócios da registrados em 2008. A segunda edição do estudo contempla, além das empresas focadas em Meire Cell Protect, apostam no incipiente mercado de biofármacos biotecnologia, as companhias que desenvolvem insumos. De acordo com o levantamento, no ano passado havia no país 253 empresas de biociências, 13,5% a mais que o apurado em 2006. Desse total, 30,8% dedicam-se ao desenvolvimento de produtos e serviços voltados à saúde humana, quase o dobro da participação verificada dois anos antes (de 16,9%). As empresas de pesquisa agrícola, que na medição anterior lideravam o setor (22,5%), representaram no ano passado 18,8% do total. "Na década passada eram criadas de cinco a sete empresas de biotecnologia no Brasil por ano. Na atual década, a média está entre 15 e 17 e a tendência é de expansão", afirma o diretor-presidente da Fundação Biominas, Eduardo Emrich Soares. Ele observa que, além da saúde humana, também ganham peso em número de projetos desenvolvidos as áreas ambiental e de bioenergia. A Cell Protect é um exemplo das novas tendências do setor. Criada em 2008 por Mares Guia e sua sócia Meire Sogayar, a empresa atualmente tem nove funcionários e pretende ser a primeira a lançar a tecnologia de microcápsulas no Brasil, em dois anos. "As indústrias brasileiras começam agora a investir no mercado de biofármacos. Hoje quase tudo é importado e existe um potencial enorme de vendas, não só no mercado interno, mas em nível global." Por enquanto, a maioria das empresas de biociências têm se instalado em São Paulo (37,5%) e Minas Gerais (27,7%), principalmente em polos como Campinas, Ribeirão Preto, Zona da Mata e Triângulo Mineiro. A região Sul do país, porém, teve maior geração de empresas, respondendo por 15% do total de companhias em 2008, ante 8,5% em 2006. Outro destaque foi a região Norte, que aparece pela primeira vez no mapa brasileiro das biociências, com 1,6% de participação. À medida que consolidaram seus negócios, as empresas de biociências ampliaram seu quadro de funcionários. Entre 2006 e 2008, mostra o estudo, o percentual de empresas com mais de 10 funcionários passou de 46,6% para 49,2% do total. A maior expansão deu-se na participação de companhias com 21 a 50 funcionários, que passou de 10,7% para 14,3% do total. A FK-Biotec, sediada em Porto Alegre, contratou cinco pessoas neste ano, ampliando o seu quadro para 28 funcionários. Em 2008, a empresa registrou faturamento de R$ 1,4 milhão e prevê para este ano receita de R$ 2 milhões. Por enquanto, a principal fonte de renda é a produção e venda de reagentes para exames laboratoriais, afirma o diretor-presidente da empresa, Fernando Thome Kreutz. "No ano passado, o Brasil importou US$ 242 milhões FOB em anticorpos monoclonais. É um mercado extremamente importante e que praticamente não possui produção local", observa o executivo. A expectativa é de expansão geométrica da receita. A empresa espera da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovação para o lançamento de um larvicida biológico atóxico usado para o controle do mosquito vetor da dengue, criado para atender os serviços públicos de saúde e o consumidor final. O mercado potencial para o produto é estimado em R$ 50 milhões. "A empresa também avalia a possibilidade de exportar para países da Ásia, África e América do Norte", afirma Kreutz. A grande virada da empresa, porém, virá com o lançamento de uma vacina para tratamento do câncer de próstata, por enquanto em fase de testes laboratoriais. A companhia também aposta no lançamento, previsto para ocorrer até janeiro, de testes rápidos de gravidez (tecnologia que hoje é importada e apenas embalada no Brasil). "Só as vendas em farmácia giram em torno de 4 milhões de testes por ano, com preços entre R$ 5 e R$ 36. A meta é conseguir uma parcela de 20% desse mercado", diz Kreutz. A FK-Biotec também está entre as empresas que ampliaram o seu faturamento acima de R$ 1 milhão em 2008. De acordo com a Fundação Biominas, 31,1% das empresas pesquisadas fecharam o ano com receita superior a esse patamar. Em 2006, elas representavam 22,3% do total. A maioria (49,2% na pesquisa mais recente versus 59,2% na leitura anterior) registrou faturamento de até R$ 1 milhão. O percentual de companhias sem receita de vendas variou 1,2 ponto percentual, para 19,7%. Outro indicador de avanço das empresas de biociências é o registro de patentes. No ano passado, 43,7% das empresas possuíam patentes registradas ou em processo de registro. Dois anos antes, o percentual era de 15,5%. A Bionext Produtos Biotecnológicos, que tem sede administrativa em São Paulo e fábrica em São José dos Pinhais (PR), possui duas patentes registradas no Brasil e faz uma peregrinação para registrar um produto no Canadá, no Peru, no Chile e na Turquia. Recentemente, a empresa obteve registro na Food and Drug Administration (FDA), a agência regulatória dos Estados Unidos, e no México. A Bionext dominou o processo de produção de nano fibras de celulose via fermentação de bactérias. Com as fibras, a empresa desenvolveu uma "manta" de celulose que funciona como pele artificial. "A celulose adere à pele, impedindo a passagem de bactérias e de água. Dessa forma, ela protege uma área com queimadura de terceiro grau e reduz a dor porque os ligamentos nervosos ficam protegidos", diz o presidente da Bionext, Gerardo Mendoza. A empresa lançou o produto no Brasil no fim de 2008 e começou a vendê-lo neste ano para Colômbia, Costa Rica, Indonésia, Taiwan, Canadá e Oriente Médio. Mendoza espera um faturamento de US$ 250 mil com as vendas do produto em 2009. As projeções para o futuro são de receita de US$ 10 milhões até 2013 e de US$ 54 milhões até 2020.