a relação entre agências de turismo e escolas
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a relação entre agências de turismo e escolas
UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI ROBERTA MONTEIRO DE OLIVEIRA TURISMO PEDAGÓGICO: A RELAÇÃO ENTRE AGÊNCIAS DE TURISMO E ESCOLAS São Paulo 2008 ROBERTA MONTEIRO DE OLIVEIRA TURISMO PEDAGÓGICO: A RELAÇÃO ENTRE AGÊNCIAS DE TURISMO E ESCOLAS Dissertação de Mestrado apresentado à Banca Examinadora, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre do Programa de Mestrado em Hospitalidade, área de concentração em Planejamento e Gestão Estratégica em Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação do Prof. Dr. Raul Amaral Rego. São Paulo 2008 FICHA CATALOGRAFICA O51 Oliveira, Roberta Monteiro de Turismo pedagógico: a relação entre agências de turismo e escolas / Roberta Monteiro de Oliveira 2008. 107f.: il.; 30 cm. Orientador: Raul Amaral Rego. Dissertação (Mestrado em Hospitalidade) Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2008. Bibliografia: f.85-99. 1. Hospitalidade. 2. Turismo pedagógico. 3. Agências de turismo. 4. Serviços. 5. Educação. I. Título. CDD 647.94 ROBERTA MONTEIRO DE OLIVEIRA TURISMO PEDAGÓGICO: A RELAÇÃO ENRE AGÊNCIAS DE TURISMO E ESCOLAS Dissertação de Mestrado apresentado à Banca Examinadora, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre do Programa de Mestrado em Hospitalidade, área de concentração em Planejamento e Gestão Estratégica em Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação do Prof. Dr. Raul Amaral Rego. Aprovado em 13 de outubro de 2008 Prof. Dr. Raul Amaral Rego (orientador) Prof. Dr. Mário Carlos Beni Profa. Dra. Mirian Rejowski Dedico este trabalho a todas as pessoas que acreditam que as limitações podem ser transformadas em superação e os obstáculos são lições a serem aprendidas. Agradeço A Deus pela fé que rege os meus dias e por me fazer acreditar que os sonhos podem se tornar realidade. Ao Junior, meu companheiro de todos os momentos, pelo carinho e compreensão e principalmente por me incentivar e acreditar nos meus objetivos. Ao Arthur, meu amado filho, por ser meu raio de sol e pela infindável energia que auxiliou no término desta etapa de minha vida, o mestrado, e o início de outra, ser mãe. A minha mãe por ser o exemplo de coragem e determinação e por me ensinar que a paciência e o amor são os alicerces da vida. Ao meu pai que me ensinou que devemos transformar os percalços que a vida nos apresenta em aprendizado. As minhas irmãs Rosemeire, Rosana, Regina e aos meus cunhados Philippe, Lage, Casagrandi, Renata e Fabiano agradeço pelas palavras de incentivo e carinho nos momentos de desalento. Aos meus sobrinhos pelo carinho e alegria por tornarem os meus dias mais coloridos e aos meus sogros Rosa Maria e Mauro por compreenderem e assim abdicaram de preciosos momentos em família. Aos amigos, Ana Chaves pela sabedoria e paciência em entender minhas dificuldades e me incentivar nos momentos mais incertos; ao Renê por ter acreditado em meu potencial enquanto professora e a Luciane pela cumplicidade. Aos meus alunos que são a essência do meu aperfeiçoamento, enquanto educadora e profissional. Aos professores do Curso de Mestrado por compartilharem o conhecimento intelectual e os inesquecíveis momentos de convívio social e principalmente ao Prof. Raul pelas sábias orientações e por me mostrar as diferentes possibilidades de ampliar o meu conhecimento científico. Aos mestres Mário Beni, Mirian Rejowski e Maria do Rosário que me concederam imprescindíveis informações, auxiliando-me no aprimoramento da minha pesquisa. A Milena da Escola Carandá, ao Silvio do Colégio Santa Cruz, ao José da Agência Ambiental, ao Marcelo da Agência Quíron e as demais pessoas que contribuíram com preciosas informações sobre o planejamento, realização e avaliação do estudo do meio, tema desta pesquisa. LISTA DE FIGURAS Figura 1 Estrutura dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino fundamental...................................................................................................30 Figura 2 Diagrama de Serviços - Agência de turismo especializada em turismo pedagógico....................................................................................................56 Figura 3 Natureza e determinantes das expectativas do cliente em relação aos serviços........................................................................................................................58 Figura 4 Ginásio Santa Cruz, em 1952........................................................................63 Figura 5 Colégio Santa Cruz, em 2007........................................................................64 Figura 6 Fotografia tirada em 05/06/2007 – Sr. Valdomiro e Sra. Valquíria..............78 Figura 7 Fotografia tirada em 05/06/2007 – alunos entrevistando meeiro..................79 Figura 8 Fotografia tirada em 05/06/2007 – Representantes do MST.........................79 LISTA DE QUADROS Quadro 1 Escola: Plano de visitas técnicas e viagens de estudos do meio – Visita ao Assentamento do MST.................................................................................................38 Quadro 2 Circuitos de distribuição..............................................................................45 Quadro 3 Agência de Turismo: Plano de visitas técnicas e viagens de estudo do meio – Visita ao Assentamento do MST..............................................................................60 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABAV- Associação Brasileira de Agências de Viagens IFTA – Federação Internacional das Agências de Viagens EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo GDS - Global Distribution Systems MEC – Ministério da Educação MST - Movimento dos trabalhadores rurais sem terra PCNs - Parâmetros Curriculares Nacionais SUMÁRIO INTRODUÇÃO........................................................................................................................10 1 CAPÍTULO 1 – EDUCAÇÃO, VIAGENS E O ESTUDO DO MEIO................ .................17 1.1 Propostas pedagógicas e o estudo do meio.....................................................................17 1.2 O estudo do meio no cenário brasileiro..........................................................................20 1.3 O uso do estudo do meio como atividade pedagógica....................................................24 1.4 A inserção do estudo do meio nos Parâmetros Curriculares Nacionais..........................27 1.5 A inserção do estudo do meio no planejamento pedagógico..........................................34 1.6 Principais questões identificadas para pesquisa..............................................................39 2 CAPÍTULO 2 – AGÊNCIAS DE VIAGENS........................................................................40 2.1 Breve caracterização das agências de viagens................................................................40 2.2 Os serviços prestados pelas agências de viagens............................................................44 2.3 A especialização das agências de viagens em turismo pedagógico................................50 2.4 O planejamento dos serviços de turismo pedagógico.....................................................54 2.5 A análise das necessidades e expectativas da escola......................................................57 2.6 Principais questões identificadas para pesquisa..............................................................61 3 CAPÍTULO 3 – RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO..........................................62 3.1 Colégio Santa Cruz.........................................................................................................63 3.2 Escola Carandá................................................................................................................67 3.3 Quíron Turismo Educacional..........................................................................................71 3.4 Agência Ambiental Expedições......................................................................................74 3.5 Visita ao Assentamento – MST - realizada pela Escola Carandá e Quíron Turismo Educacional...........................................................76 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................... ...82 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................85 BIBLIOGRAFIA AMPLIADA................................................................................................90 APÊNDICES – Roteiros Entrevista........................................................................................100 ANEXOS – Termos de Consentimento...............................................................................103 RESUMO A presente pesquisa tem como objetivo estudar o relacionamento entre as escolas particulares e as agências de turismo especializadas em turismo pedagógico, no que diz respeito ao planejamento, realização e avaliação de viagens para estudos do meio, verificando as atribuições das agências de turismo e das instituições escolares. Do ponto de vista das escolas, buscou-se compreender as teorias pedagógicas que perpassam a educação contemporânea, bem como as metodologias utilizadas no processo ensino-aprendizagem, com destaque para as formas de inserção dos estudos do meio no planejamento de ensino. Do lado das agências, buscou-se, na teoria, a compreensão das características dos serviços prestados pelas agências de turismo no segmento educacional, com ênfase no processo de desenvolvimento do roteiro turístico com finalidade pedagógica, analisando as formas pelas quais as agências desenham este tipo de roteiro. Para isso recorreu-se à literatura específica sobre agências de turismo e à literatura sobre marketing de serviços, principalmente quanto ao uso de diagramas de serviços. O trabalho abrangeu uma pesquisa de campo a partir de um estudo comparativo entre duas escolas do ensino fundamental e duas agências especializadas em turismo pedagógico. O instrumento utilizado foi roteiro de entrevista semi-estruturado com coordenador pedagógico e com orientador educacional, além dos agentes de viagens que organizam essas atividades de campo. Nos resultados de pesquisa apresentados, procurou-se identificar as formas pelas quais as escolas e agências interagem na formatação das viagens, destacando as atribuições de cada uma no processo de planejamento, elaboração, realização e avaliação dos serviços. Verificou-se que as agências pesquisadas desenham os roteiros à luz das diretrizes pedagógicas, oferecendo soluções compatíveis com os requisitos e restrições impostas pelas escolas. Em relação às escolas analisadas, os resultados evidenciaram um bom grau de satisfação com os serviços prestados. Palavras -chave Turismo Pedagógico. Estudo do Meio. Agências de Turismo. Serviços. Educação. ABSTRACT The present research aims at studying the relationship between private schools and travel agencies specialized in pedagogical tourism, regarding planning, accomplishment and evaluation of the traveling by means of study, verifying the attributions of the travel agencies and the school institutions. From the school's point of view, the search was to comprehend the pedagogical theories that postpone the contemporary education, as the methodologies used in the teaching-learning process, with emphasis for the insertion forms by means of study in the teaching planning. On the other hand, the travel agencies searched, in theory, the characteristics comprehension of the service given by the travel agencies on the educational segment, with emphasis in the developing process of a touristic guide with pedagogical finality, analyzing the forms which the agencies draw this kind of guide. For this, specific literature was overrun about travel agencies and service marketing, especially as the use of service diagrams. The labor included a field research from a comparative study between two elementary teaching schools and two travel agencies specialized in pedagogical tourism. The used instrument was a semi-structured interview guide with a pedagogical coordinator and with an educational guider, besides the travel agents who organize these field activities. The presented research results were to search identification of forms which the schools and agencies interact on the definition of the trips, emphasizing the attribution of each one in the planning process, elaborating, accomplishment and evaluation of the services. It was verified that the searched agencies design the guides based on pedagogical discernment, offering compatible solutions with the requirements and restrictions imposed by the schools. Regarding the analyzed schools, the results attested a good grade of satisfaction with the services given. Key words Pedagogical Tourism. By means of study. Travel Agencies. Services. Education. 10 INTRODUÇÃO O ato de ensinar e aprender faz parte da evolução humana, considerando-se que desde sempre o homem utilizou técnicas para suprir suas necessidades de sobrevivência e que são passadas de geração à geração por meio do senso comum ou da ciência. Nesse sentido, Rubem Alves (2000) menciona que a construção do conhecimento implica no despertar do interesse, dúvida, indagação, ocasionando assim a investigação sobre um determinado assunto, visando a descobrir soluções e respostas. Assim, o senso comum corresponde àquilo que as pessoas acreditam, almejam, seja por meio de crenças ou idéias. Já a ciência apesar de ter início no senso comum, tem como objetivo especializar-se em um determinado assunto, comprovando-o por meio de métodos e técnicas no âmbito da investigação, reflexão e experimentação, possibilitando legitimar as hipóteses teóricas. Tanto o senso comum como a ciência podem ser instigados por meio do processo de educação, que contempla o ato de ensinar e aprender, sendo preciso a participação do emissor e receptor para que ele aconteça no universo que condiz à relação entre pai e filho, professor e aluno, mestre e aprendiz, preceptor e discípulo etc. Nessa conexão o importante é o aprendizado mútuo, socializando conhecimentos, tendo como cenário o núcleo familiar, escolar, profissional; independentemente do nível social ou núcleo cultural em que o indivíduo se encontra. Para Brandão (2006) a educação ajuda a pensar tipos de homens, guerreiros ou burocratas, passando o saber uns aos outros, dando continuidade ao processo de produção de crenças e idéias que envolvem as trocas de símbolos, bens e poderes, construindo, assim, tipos de sociedades, sendo que não há uma única forma, nem um único modelo de educação. Assim, a escola não é apenas o lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor. O saber tribal, que vai do fabrico do arco e flecha à recitação das rezas sagradas aos deuses da tribo, não é aprendido na escola. Tudo o que se sabe, aos poucos se adquire, por viver muitas e diferentes situações de trocas entre pessoas, com o corpo, com a consciência. As pessoas convivem umas com as outras e o saber flui, pelos atos de quem sabe-e-faz, para quem não-sabe-eaprende. São situações de aprendizado. A criança vê, entende, imita e aprende com a sabedoria que existe no próprio gesto de fazer a coisa. (BRANDÃO, 2006. p. 17-18). 11 Podemos constatar essa afirmação no trecho da carta1 escrita pelos Índios das Seis Nações para os governantes de Virgínia e Maryland, Estados Unidos (Estes queriam que os índios enviassem alguns de seus jovens às escolas dos brancos). Os chefes agradecendo e recusando escreveram o seguinte: [...] nós estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para nós e agradecemos de todo o coração. Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa idéia de educação não é a mesma que a nossa. [...] Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltavam para nós, eles eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportarem o frio e a fome. Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não seriam como guerreiros, como caçadores ou como conselheiros. Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos aceitá-la, para mostrar a nossa gratidão oferecemos aos nobres senhores de Virgínia que nos enviem alguns dos seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos, deles, homens”. (BRANDÃO, 2006 P. 8). Cada grupo tem sua cultura; não podemos dizer que a educação de determinado povo é melhor do que a outra, pois cada qual tem as suas especificidades. Assim, não devemos e nem podemos ser etnocêntricos2. Na educação não há verdade absoluta. A educação escolar, eixo norteador desta pesquisa, pode ser aprendida tanto em sala de aula por meio da teoria, como também, em muitos casos é importante que a prática, ou seja, o ato de fazer, vivenciar ou mesmo observar estejam inseridos no processo de aprendizagem do aluno. Há diferentes maneiras de se utilizar a prática como aprendizado, por exemplo, as atividades realizadas em laboratórios, podendo ser na esfera escolar (laboratório de química), social (entrevistas com a comunidade), atividades de campo (visitas técnicas em museus, teatros, centros comerciais, indústrias, bairros etc.) ou mesmo viagens para outros lugares, sejam tradicionais ou emergentes. É importante salientar que as escolas utilizam diferentes 1 texto retirado do livro O que é educação de Carlos Rodrigues Brandão, 2006 p. 8 Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc. (ROCHA, 1999. p. 7) 2 12 denominações para o estudo do meio, sendo elas: “atividades extraclasse”, “visitas técnicas”, “trabalhos de campo”, “viagens de estudo” de um dia ou mais, “vivência extraclasse”, etc. As atividades de campo, há muito tempo, acontecem em diversos lugares do mundo. Nos Estados Unidos as viagens de estudo do meio são conhecidas como viagens de campo (field trips); no Reino Unido como viagem escolar (school trip). No Brasil, o estudo do meio teve início por volta de 1910, durante a Escola Moderna, tendo Ferrer3 como idealizador e a pedagogia libertária como referência. Ainda hoje há muitas escolas que contemplam essas atividades de campo em seus currículos, tendo como referências os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, articulando assim o conhecimento teórico e prático, possibilitando que o aluno, por meio desse aprendizado, desenvolva conhecimento intelectual, e que a escola traga, à luz da sua formação, aspectos sociais, ambientais e culturais, formando cidadãos mais conscientes. É importante que os professores conheçam a política de educação e os projetos educacionais que fazem parte do sistema, pois é a partir do conhecimento global que será possível fazer um adequado planejamento educacional e curricular, o plano de ensino, de curso, de unidade e de aula. Foi então que se constatou a necessidade de elaborar um instrumento denominado “plano de estudo do meio como” demostrado no capítulo 1. Com base nesse cenário, verificou-se a necessidade de estudar e compreender um pouco mais deste universo, aspirando-se que este trabalho sirva como referência teórica para as escolas, agências de turismo e também para a academia, pois constatou-se que este nicho de mercado ainda é emergente e que há pouca bibliografia específica sobre o assunto. Desta maneira, entende-se que há muito que ser produzido e desenvolvido, sendo este o início de um longo caminho. Os orientadores educacionais poderão utilizar essa pesquisa para compreender quais são as atribuições e responsabilidades de uma agência de turismo, bem como entender a função do agente de viagem no processo de formatação de pacotes turísticos. Por outro lado, as agências de turismo encontrarão informações sobre o universo escolar, ou seja, aspectos relevantes sobre a finalidade de documentos como os PCNs, o projeto pedagógico da escola, o currículo escolar, os conteúdos básicos e as metodologias de ensino. 3 O educador espanhol Francisco Ferrer Guardiã (1859-1909) fundador da escola moderna, nacionalista e libertária, foi o mais destacado crítico da escola tradicional, apoiando-se no pensamento iluminista. Ferrer foi um revolucionário que acreditava no valor da educação como remédio absoluto para os males da sociedade. (GADOTTI, 2001. p. 174) 13 O interesse pelo tema foi despertado com base na atuação no ensino superior, no processo de realização de viagens e visitas técnicas com alunos do Curso de Turismo, bem como na necessidade de ampliar conhecimentos relacionados às áreas concernentes à Hospitalidade e Turismo. Desse modo, o objetivo principal desta pesquisa foi compreender as relações existentes entre as escolas e as agências de turismo (operadoras), verificando a especialização das viagens de estudos do meio. Os objetivos específicos da pesquisa são: verificar os fundamentos das atividades de estudos do meio no cenário educacional brasileiro; entender a importância do estudo do meio como método de ensino; conhecer e compreender as funções das agências de turismo; verificar os procedimentos das agências de turismo, especializadas em turismo pedagógico, e das escolas no processo de planejamento, realização e avaliação das viagens de estudos do meio. Algumas questões foram pensadas, tais como: • As agências de turismo oferecem pacotes e roteiros desenvolvidos de acordo com as diretrizes pedagógicas das escolas? • As agências de turismo têm contribuído para que os estudos do meio cumpram plenamente com os objetivos contemplados no planejamento curricular? Para uma melhor compreensão do tema, buscaram-se como referenciais teóricos obras de alguns autores, tais como: Ghiraldelli (1992) e Gadotti (2001) que fundamentaram os estudos sobre educação aqui apresentados; Pontuscka (1994) e Haydt (2003) no que se refere ao estudo do meio como método de ensino; Rejowski (2001; 2002; 2008), Cordeiro (2008) e Beni (2006) sobre a evolução, tipologia e conceitos das agências de turismo no mundo e no Brasil; Piza (1982) sobre a utilização do Turismo como possibilidade de aprendizagem no âmbito escolar – Turismo Pedagógico; Lovelock; Wright (2001), Zeithaml; Bitner (2003), Cobra (2001) como base para o entendimento e compreensão dos aspectos inerentes a marketing de serviços; bem como Dencker (1998), Schlütler (2003) e Yin (2001), colaborando no contexto metodológico da pesquisa científica. É importante ressaltar que a nomenclatura utilizada para agências de turismo, neste estudo, tem como base a pesquisa realizada pela autora Rejowski, (2008, p.3) da qual se utiliza o termo “agências de viagens” para designar a trajetória dessas empresas no mundo, termo mais usual, e “agências de turismo” ao referir-se a essas empresas no cenário brasileiro, termo legalmente utilizado. Este estudo está estruturado em três capítulos. No primeiro, constam algumas questões sobre a função do estudo do meio como recurso pedagógico em diferentes linhas, a trajetória 14 desse método de ensino no Brasil, bem como o estudo do meio no contexto que se refere ao planejamento educacional. O segundo capítulo refere-se a alguns aspectos evolutivos das agências de turismo no mundo e no Brasil, tipos de serviços oferecidos por essas agências e as diferentes denominações das viagens, com o objetivo de aprendizagem. No terceiro capítulo foram apresentados os resultados obtidos dos estudos de casos, a partir da análise das entrevistas realizadas, visando a compreender as atribuições de cada um no processo de planejamento, realização e avaliação das atividades relacionadas ao estudo do meio. A metodologia utilizada nesta pesquisa foi o estudo comparativo entre duas escolas do ensino fundamental e duas agências de turismo, especializadas em turismo pedagógico, pretendendo-se compreender os fenômenos que envolvem aspectos relacionados ao Turismo Pedagógico, tanto no contexto das instituições escolares, quanto das operadoras turísticas. Segundo Yin (2001, p.21) o estudo de caso tem algumas características principais como: [...] permite uma investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos eventos da vida real – tais como ciclos de vida individuais, processos organizacionais e administrativos, mudanças ocorridas em regiões urbanas, relações internacionais e a maturação de alguns setores. De acordo com Dencker (1998, p. 127) o estudo de caso é “estudo profundo e exaustivo de determinados objetos ou situações. Permite o conhecimento em profundidade dos processos e relações sociais”. A autora enfatiza ainda que esse estudo pode envolver exame de registros, observação de ocorrência de fatos, entrevistas estruturadas e nãoestruturadas ou qualquer outra técnica de pesquisa. O objetivo do estudo de caso, por sua vez, pode ser um indivíduo, um grupo, uma organização, um conjunto de organizações ou até mesmo uma situação. Nesse sentido, Yin (2001, p. 27) ressalta que “o estudo de caso é a estratégia escolhida ao se examinarem acontecimentos contemporâneos, mas quando não se podem manipular comportamentos relevantes” tendo como questões do tipo “como” ou “por que” sobre o qual o pesquisador tem pouco ou nenhum controle. Schramm apud Yin (2001, p.31) cita que: [...] a essência de um estudo de caso, a principal tendência em todos os tipos de estudo de caso, é que ela tenta esclarecer uma decisão ou um conjunto de decisões: o motivo pelo qual foram tomadas, como foram implementadas e com quais resultados. 15 Assim, pretendeu-se verificar, por meio do estudo de caso, questões que envolvam todo o processo das viagens, desde a escolha do destino até os resultados obtidos, bem como as decisões de cada um, pedagogos e agentes de viagens em todo o processo da viagem. O objetivo principal deste estudo foi compreender as relações existentes entre o papel desempenhado pelas escolas e agências de turismo, no processo de elaboração de roteiros turísticos de interesse pedagógico, tendo como base: Como é o processo de planejamento, realização e avaliação das viagens de estudos do meio, considerando as atribuições das instituições escolares e turísticas? Para realizar tal análise foi preciso entender aspectos no âmbito da educação, estudos do meio, propostas pedagógicas, agências de viagens, funções do agente de viagem, expectativas dos clientes, roteiros turísticos etc. Para tanto, algumas questões foram indagadas por meio de entrevistas aos orientadores pedagógicos e aos agentes de viagens, tais como: quais critérios a escola utiliza para a realização da escolha dos destinos a serem visitados? De que maneira a agência de turismo colabora com a escola durante o processo de planejamento das viagens de estudos do meio? Segundo Yin, para a entrevista ter êxito, o entrevistador [...] tem que ser bom ouvinte e não ser enganado por suas próprias ideologias e preconceitos, ser adaptável e flexível; ter noção clara sobre as questões que estão sendo estudadas, ser imparcial em relação a noções preconcebidas, incluindo aquelas que se originam de uma teoria. (2001 p. 81). Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas4 com a coordenadora pedagógica da Escola Carandá e com o orientador educacional do Colégio Santa Cruz, ambos profissionais responsáveis pelas viagens de estudo do meio, no ensino fundamental. A escolha para realizar a pesquisa no Colégio Santa Cruz deu-se pelo fato de ser um das primeiras escolas a realizar o estudo do meio, utilizando-se dos serviços de uma Agência de Turismo, como cita em seu artigo Piza (1992) “em 1962, três colégios realizaram esse roteiro: “Sion”, “Santa Cruz” e o “Deux Oiseaux”. O destino escolhido foi Cidades Históricas – Minas Gerais”. E também por esta escola ser considerada uma das mais tradicionais da cidade de São Paulo atuando na área educacional há 56 anos. 4 Os roteiros das entrevistas semi-estruturadas aplicados nas escolas e agências de turismo encontram-se no apêndice 1. 16 O Colégio Carandá foi escolhido por realizar atividades de campo há mais de 30 anos e, também, por realizar atividades de estudo do meio em assentamentos do MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. A escola também conta com os serviços de uma agência especializada em Turismo Pedagógico. As agências de turismo (operadoras) Quíron Turismo Educacional e a Agência Ambiental Expedições foram escolhidas por serem especializadas em Turismo Pedagógico e por ambas prestarem serviços ao Colégio Santa Cruz, sendo que a Quíron também presta serviços ao Colégio Carandá. As entrevistas foram realizadas com o Sr. Sílvio Hotimsky, orientador educacional, (Colégio Santa Cruz) e Srta. Milena Terron, coordenadora pedagógica, (Escola Carandá) que planejam, juntamente com os professores, as atividades de campo e com os agentes de viagens Sr. José Zuquim (Agência Ambiental) e o Sr. Marcelo Salum (Agência Quíron) responsáveis pelo processo de elaboração, realização e avaliação das viagens de estudos do meio. A pesquisadora realizou visita ao assentamento do MST na cidade de Sumaré - SP. Os métodos utilizados foram de observação e entrevistas não estruturadas, sendo que os entrevistados foram: o professor, a orientadora educacional, os alunos, o monitor e os anfitriões. O objetivo era compreender a opinião de cada um referente aos aspectos que envolvem atividades de estudo do meio. Para tanto, foi utilizado caderno de campo, máquina fotográfica e gravador. De acordo com Schütler as entrevistas não estruturadas “consistem em uma conversa sem restrições entre o pesquisador e o entrevistado sobre temas relacionados com o objeto de estudo” (2003, p. 107). 17 CAPÍTULO 1 – EDUCAÇÃO, VIAGENS E O ESTUDO DO MEIO 1.1 Propostas pedagógicas e o estudo do meio Com o objetivo de aprimorar a educação, tornando-a um aprendizado flexível, dinâmico e mútuo entre professores e alunos, muitos educadores começaram tratar o aluno como o centro do processo de ensino, um ser pensante que tem condições de dar a sua opinião e expressar seus interesses, contrariando a educação tradicional. Nesse sentido, há muito tempo a educação vem sendo estudada por diferentes nações, tendo diversos pensadores de renome, que a partir de idéias pedagógicas propuseram-se compreender, analisar e discutir a Educação e as suas influências na evolução humana. No âmbito do pensamento pedagógico, serão abordadas as idéias de alguns educadores que ressaltaram o estudo do meio como recurso de aprendizagem e que muitas escolas se inspiraram, tendo-as como referência. Dentre esses educadores citaremos Ferrer e a Escola Moderna como movimento da pedagogia libertária; Freinet, abordando a educação pelo trabalho e a pedagogia do bom senso; Dewey, instigando o aprendizado por meio do aprender fazendo; Montessori, defendendo métodos ativos; Piaget, com a psicopedagogia e a educação para a ação; Nidelcolff, discutindo a formação do professor e a escola para o povo e os educadores brasileiros, Paulo Freire com a concepção dialética de aprendizagem e Maurício Tragtenberg. Segundo Ghiraldelli (1992), Francisco Ferrer5 foi um livre pensador espanhol, criador da Escola Moderna, considerada um movimento da pedagogia libertária cartacterizada por abordar a questáo pedagógica a partir de uma perspectiva libertária e igualitária, eliminando relações autoritárias presentes no modelo educacional e tradicional. Preocupado em desenvolver um outro tipo de formação pedagógica em oposição a formação educacional gerida pelo Estado ou pela Igreja, esse educador foi relevante na inserção do estudo do meio no Brasil, como veremos mais adiante. Outro educador, Celéstin Freinet6, de acordo com Gadotti (2001, p. 178) foi um dos precursores da Escola Nova, sendo que seus princípios pedagógicos eram baseados na 5 6 (1859-1909) (1886-1966) 18 valorização do trabalho manual, tendo destaque tanto na prática quanto na teoria da educação. Para o autor, Freinet: [...] centrava a educação no trabalho, na expressão livre, na pesquisa. O estudo do meio, o texto livre, a imprensa na escola, a correspondência interescolar são algumas das técnicas que empregava. Para ele a escola popular do futuro seria a escola do trabalho. (GADOTTI, 2001, p. 178). Deste modo, percebe-se que o estudo do meio é apresentado como instrumento de aprendizagem, possibilitando que o aluno vivencie o meio social e se prepare para adaptar-se à vida comunitária. Freinet dava à criança consciência de sua capacidade a fim de convertê-la em autora de seu próprio futuro em meio à grande ação coletiva. Já Maria Montessori7, nascida na Itália, também pioneira da educação pré-escolar e da Escola Nova, utilizava-se de métodos ativos, a partir dos quais propunha: [...] despertar a atividade infantil através do estímulo de promover a autoeducação da criança, colocando meios de trabalhos adequados à sua disposição. Portanto, o educador não atuaria diretamente sobre a criança, mas ofereceria meios para a sua auto-formação, pois ela acreditava que só a criança é educadora da sua personalidade. (GADOTTI, 2001, p. 151). O mesmo autor informa que o material criado por Montessori teve papel preponderante no seu trabalho educativo, pressupondo a compreensão das coisas a partir delas mesmas, tendo como função estimular e desenvolver na criança um impulso interior que se manifestasse no trabalho espontâneo do intelecto. Essa pedagogia foi inicialmente praticada com crianças da educação infantil e das primeiras séries do ensino fundamental, sendo que o material utilizado era composto por peças sólidas de diversos tamanhos, formas e cores com a finalidade de prepará-las para resolver “problemas” por meio da concentração e, ao finalizarem as atividades, socializarem os resultados com o grupo. Dessa forma, percebe-se que as escolas que utilizam a educação, inspiradas em Montessori, possuem ambientes com inúmeras opções de atividades lúdicas, fazendo com que a criança utilize a criatividade e a reflexão para resolver situações e compartilhar os resultados com o grupo. Segundo Gadotti (2001, p. 148), o filósofo e pedagogo norte-americano, John Dewey8, também exerceu grande influência sobre toda a pedagogia contemporânea, pois foi defensor 7 8 (1870-1952). (1859-1952) 19 da Escola Nova, na qual propunha aprendizagem por meio da atividade pessoal do aluno. “Através dos princípios da iniciativa, originalidade e cooperação, pretendia liberar as potencialidades do indivíduo rumo a uma ordem social que, em vez de ser mudada, deveria ser progressivamente aperfeiçoada”. O estudo do meio era utilizado para que o aluno verificasse realmente a realidade, pois nessa pedagogia acreditava-se que o papel do educador era mostrar um caminho e não se omitir, pois a omissão é também uma forma de intervenção. Jean Piaget9 ganhou renome mundial com seus estudos sobre os processos de construção do pensamento nas crianças. Fosnot (1998) enfatiza que a idéia mais importante da teoria desse psicólogo suíço é ter considerado que a aprendizagem não é um processo passivo, sendo preciso buscar meios para despertar o interesse dos alunos e dar a eles um papel mais ativo, assim: Não nascemos sabendo das coisas e não aprendemos nos impregnando do mundo. Construímos ativamente nossos conhecimentos em nossas interações com pessoas e objetos, de acordo com nossas possibilidades e interesses. Apesar de todas as suas ramificações, essa é a idéia central do construtivismo. (FOSNOT, 1998, p. 46). A partir desta concepção, percebe-se que o estudo do meio é utilizado como forma de conhecer o mundo e fazer parte atuante dele. Ainda de acordo com Gadotti (2001), a educadora Maria Teresa Nidelcoff desenvolveu suas atividades práticas com crianças da classe trabalhadora nos bairros operários de Buenos Aires (Argentina). Sua obra situa-se entre aquelas que buscam o estudo da própria realidade como técnica de transformação e mudança, utilizando-se o estudo do meio como instrumento de aprendizagem. No Brasil há também alguns nomes que merecem destaque, como o educador Paulo Freire10. A obra desse autor fundamenta-se no aprendizado mútuo, ou seja: [...] na teoria do conhecimento aplicado à educação, sustentada por uma concepção dialética em que educador e educando aprendem juntos numa relação dinâmica na qual a prática, orientada pela teoria, reorienta essa teoria, num processo constante de aperfeiçoamento. (GADOTTI, 2001, p. 253). 9 (1896-1980) (1921-1997). Paulo Freire natural de Recife, considerado um dos grandes pedagogos da atualidade e respeitado mundialmente, ganhou diversos prêmios tendo como destaque o Prêmio Educação para Paz da Unesco, em 1986. 10 20 Percebe-se, portanto, que esse educador acreditava na prática como processo de aprendizagem, evidenciando conceitos como compartilhar conhecimentos entre o professor e aluno. Gadotti (2001, p. 261) cita também Maurício Tragtenberg como um dos poucos pensadores anarquistas contemporâneos. As propostas desse autor são contextualizadas nas “lutas das classes subalternas e de participação política do trabalhador na empresa e na escola, visando a reeducação dos próprios trabalhadores em geral e dos trabalhadores em educação, em particular”. Esse autor chama a atenção dos estudantes para aspectos sociais, informandoos sobre seus direitos utilizando-se da corrente de pensamento influenciada pela ação políticopedagógica. Esses são alguns nomes que ressaltaram a importância do estudo do meio como processo de aprendizagem, contribuindo na formação sócio-cultural do aluno. Muitas escolas brasileiras fundamentam-se nesses ideais pedagógicos. 1.2 O estudo do meio no cenário brasileiro Compreende-se que, atualmente, no cenário brasileiro, há inúmeros problemas na educação que precisam ser sanados; muitos deles poderiam ser resolvidos se houvesse maior envolvimento dos gestores na melhoria da qualidade de ensino no nível fundamental e médio. É notório que estas deficiências são reflexo da desigualdade social, tendo suas origens no Brasil do século XIX. A educação no Brasil passou e ainda passa por diferentes desafios. Durante a Primeira República11, dois movimentos ideológicos tiveram grande destaque, sendo eles: o entusiasmo pela educação e o otimismo pedagógico liderados pelos intelectuais das classes dominantes. Nesse período, o país precisava se adequar à nova fase; diante dos acontecimentos da época, como por exemplo, o fim do regime de escravidão, a adoção do trabalho assalariado e a expansão da lavoura cafeeira. A modernização estava acontecendo naquele momento e a educação precisava passar por mudanças e adequações. Muitas famílias queriam uma melhor escolarização para seus filhos, através de carreiras burocráticas e intelectuais que proporcionassem caminho mais promissor (Ghiraldelli, 1992). 11 (1889 – 1930) 21 Um dos momentos importantes na história da educação aconteceu na Primeira Guerra Mundial12, quando surgiu significativo entusiamo pelo patriotismo e nacionalismo. Os intelectuais almejavam o desenvolvimento do país e sabiam da importância da educação popular, que era na época considerada caótica, pois o analfabetismo era generalizado13. Nesse momento, surgiram as “ligas contra o analfabetismo” que se multiplicaram pelo país - Liga de Defesa Nacional (1916) e Liga Nacionalista do Brasil, (1917) – fundadas por intelectuais que, imbuídos pelo fervor nacionalista, pregavam o civismo, o escotismo, um patriotismo exacerbado, desenvolvendo campanhas com o objetivo de erradicar o analfabetismo. Foi nessa época que três correntes pedagógicas distintas formaram o cenário das lutas políticopedagógicas: Pedagogia Tradicional, Pedagogia Nova e Pedagogia Libertária. A Pedagogia Tradicional era gerida por intelectuais ligados às oligarquias dirigentes e pela Igreja. A Pedagogia Nova emergiu no interior de movimentos da burguesia e das classes médias que buscavam a modernidade do Estado e da sociedade. Já a Pedagogia Libertária teve a sua origem com os intelectuais ligados aos projetos dos movimentos sociais populares. É essencial enfatizar que essas correntes tiveram que enfrentar ou assimilar os preceitos de uma herança pedagógica constituída pela pedagogia Jesuítica, a partir do documento Ratio Studiorum14. A educação dos jesuítas destinava-se à formação das elites burguesas, para prepará-las a exercer a hegemonia cultural e política. Eficientes na formação das classes dirigentes, os jesuitas descuidaram completamente da educação popular. (GADOTTI, 2001, P. 72). Assim, com base nesse cenário, onde a educação era para poucos, havia grande número de analfabetos, pois, com se deduz as escolas eram destinadas aos filhos das classes sociais mais abastadas. Os jovens pobres, desde cedo, eram obrigados a trabalhar para ajudar os pais. Os empresários não sentiam necessidade de que o trabalhador fosse alfabetizado, pois o trabalho realizado na fábrica era braçal, havendo entretanto, resistências. Os anarquistas não concordavam com essa concepção. A filosofia desse grupo fundamentava-se no fato de que “ninguém nasce escravo, pobre, rico, trabalhador, doutor, político ou presidente. As diferenciações existentes foram criadas por uns poucos, por uma minoria, ocasionando deveres sem direitos, obrigações sem possibilidades iguais, situações que o tempo 12 (1914 – 1918) Em 1920, 75% da população era analfabeta. (GHIRALDELLI, 1992, P. 18) 14 Ratio Studiorum é o plano de estudos, de métodos é a base filosófica dos jesuítas. Representa o primeiro sistema organizado de educação católica. Ela foi promulgada em 1599, depois de um período de elaboração e experimentação. (GADOTTI, 2001, p. 72) 13 22 consolidou, tornou costume convertendo em leis, em normas de vida” (RODRIGUES apud PONTUSCHKA p. 166). A Pedagogia Libertária chegou ao Brasil pelas mãos dos imigrantes e duas vertentes foram divulgadas pela imprensa ligada ao movimento operário da Primeira República: Educação Racionalista ligada ao nome do anarquista Raul Robim15 e a Educação Racionalista ligada às obras de Ferrer. Para Ghiraldelli (1992) essa pedagogia buscava moldar o ensino para a construção de um novo homem, sem divisão de classes, sem hierarquia burocratizada, sem centralização de poder, baseando-se na transformação social contida nas propostas do movimento operário de linha anarquista. Para que acontecessem as reflexões e análises críticas era necessário que os alunos vivenciassem como as coisas de fato aconteciam. Este método resultou no surgimento do estudo do meio. As escolas anarquistas foram as primeiras no Brasil a introduzir atividades semelhantes ao estudo do meio nas escolas que seguiam a pedagogia de Ferrer, fundador da Escola Moderna de Barcelona, Espanha. (TRAGTEMBERG apud PONTUSCHKA, 1994, p. 165). Foi então, por volta de 1910, que surgiram as escolas livres, chamadas de Escolas Modernas, tendo Ferrer como idealizador. Era um local de debates, diálogos e reflexões que levaram o aluno a pensar de forma crítica, tornando-o consciente de seus direitos e deveres como aluno e cidadão. A Escola Moderna era laica, não havia distinção de sexo ou classe social, também não era gratuita, recebendo sustento diferenciado de cada família. O objetivo era desenvolver a educação em amplo sentido: livre expressão, produção de textos críticos, contato com métodos experimentais. Escola Racionalista de Ferrer é mista e prega a coeducaçao sexual e das classes. Na medida em que não é financiada pelo Estado ou Igreja ela é paga, conforme as possibilidades financeiras do aluno; preocupa-se com a difusão da cultura junto ao povo, estabelece o curso noturno e uma Universidade Popular. (TRAGTENBERG, 1982, p. 102). As escolas das primeiras décadas do século XX tinham como objetivo oferecer um ensino fundamentado na observação e formação do espírito crítico. Os trabalhos realizados fora da sala por tais escolas tinham como objetivo que os alunos, observando, descrevendo o 15 (1837-1912) 23 meio, dito natural, e o social do qual eram parte, pudessem refletir sobre desigualdades e injustiças, promovendo mudanças na sociedade, no sentido de saná-las. De acordo com Pontuscka (1994), o estudo do meio era uma forma dos anarquistas estudarem o meio em que viviam, visando a modificá-lo. Conhecer os problemas e buscar soluções era o que queriam. Afinal, não eram simples coadjuvantes, mas os atores principais de uma história real, porém desleal. Assim, já em 1900, Luigi Basile fundou a Escola Dante Alighieri, situada no bairro do Brás em São Paulo, sendo o reduto de imigrantes, principalmente italianos anarquistas. Os cidadãos, na época das Escolas Modernas, estavam buscando seus direitos e, claro, incomodando os políticos e patrões que os tratavam de forma limitada e preconceituosa, visto que, para muitos, o saber significava uma forma de poder. Foi então que no final da década de 1920, o movimento foi frontalmente combatido. As escolas foram fechadas e os líderes mortos. Desta forma, as Escolas Modernas utilizavam o estudo do meio como instrumento para conhecer a realidade, visando a transformá-la em uma sociedade mais justa. Com o término das mesmas, esse método sofreu mudanças no movimento da Escola Nova. Isso veremos com mais detalhes a seguir. Com o fim da Primeira Guerra, o cenário financeiro e mercantil internacional passava por transformações. A Inglaterra perdeu espaço para os Estados Unidos, e o Brasil, tradicional cliente dos bancos ingleses, estreitou parcerias com os norte-americanos, refletindo mudanças, não apenas na vida econômica do brasileiro, mas também, na área cultural que se estendeu para o campo educacional pedagógico. Em 1896, nos Estados Unidos, o professor universitário John Dewey (18591952) criou a University Elementary Scholl, acoplada à Universidade de Chicago. Dewey foi sem dúvida o maior filósofo da educação nos EUA. Seus textos causaram grande impacto na sociedade americana. A partir dos anos 20 os textos de Dewey, e também de escolanovistas europeus, começaram a conquistar a intelectualidade jovem no Brasil preocupada com questões educacionais. O imperialismo americano impôs não só padrões novos de consumo de bens materiais, mas também padrões novos de consumo de bens culturais, que trouxeram ao país as teorias pedagógicas do Movimento da Escola Nova. (GHIRALDELLI, 1992, p.25). Sendo assim, o movimento da Escola Nova colocava a criança, e não mais o professor, no centro do processo educacional, refletindo sobre a liberdade e interesse do educando. Adotava métodos de trabalho em grupo, incentivava a prática de trabalhos manuais, 24 valorizava os estudos de psicologia experimental. Dewey formulou cinco passos para o funcionamento do raciocínio indutivo: tomada de consciência do problema, análise de elementos e coleta de informações, sugestões para a solução de problemas – hipóteses, desenvolvimento das sugestões apresentadas e experimentação e recusa ou aceitação das soluções. O Brasil passava por um processo de urbanização, industrialização e modernização na década de 1920. Muitos jovens intelectuais como Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, Francisco Campos, etc, promoveram reformas educacionais fundadas nos princípios da Pedagogia Nova, que era vista como pensamento educacional completo, pois possuía uma política educacional, organizacional e metodológica própria. Essas características foram fundamentais para que as reformas educacionais fossem realizadas e, além de combater a Pedagogia Tradicional, sufocou as possíveis transformações que estavam sendo defendidas pela Pedagogia Libertária. Portanto, os escolanovistas resgataram o estudo do meio das Escolas Modernas, embora com outros objetivos, pois os anarquistas almejavam conhecer o meio, propondo-se transformar a sociedade, já o movimento escolanovista desejava estudá-lo para integrar o aluno ao seu meio. 1.3 O uso do estudo do meio como atividade pedagógica A educação na esfera escolar compõe-se de dois pilares fundamentais que dão alicerce ao aprendizado: teoria e prática. Esses dois elementos se completam e ambos são importantes na vida do aluno. Aranha (1989, p. 27) ressalta que a “teoria não é anterior nem superior à prática, ou vice-versa, porque ambas estão presentes numa constante relação de troca mútua”. De acordo com Ponstuschka (1994, 249) o estudo do meio é “desde uma saída de alunos e professores, cujo objetivo principal seja entretenimento, até trabalhos interdisciplinares que demandem pesquisas de campo, bibliográfica, iconográfica e portanto, investimento em trabalho individual e coletivo”. Já Mendonça e Neiman (2003) enfatizam que para atingir os objetivos desse tipo de estudo, deve ser organizado e ter como princípio a realização de um trabalho educacional completo, no qual o lazer tem um caráter fundamental, pois eles abordam que a aprendizagem 25 por intermédio do lúdico pode ser mais marcante, por ser social e natural, do que as tradicionais tentativas de transmitir conhecimento. Segundo Nérici (1981, p. 350) “o estudo do meio representa o estudo dos diversos conjuntos significativos da natureza e da sociedade, que interessam à vida do educando, a fim de torná-lo mais consciente da realidade que o envolve e da qual tem de participar”. Sendo assim, esse encontro entre o aluno e o meio favorece a descoberta ou constatação de assuntos abordados inicialmente na teoria, mas que podem ser observados, analisados e questionados, tendo como base o cenário real, contribuindo assim com a construção do conhecimento. Essas atividades possibilitam também a interação entre alunos, professores, comunidade local, sendo, portanto, um aprendizado não só escolar, mas pessoal e social. O estudo do meio por tratar-se de uma atividade que possibilita o envolvimento de diversas disciplinas como geografia, história, ciências naturais etc precisa ser bem articulado entre os professores, sendo necessário um adequado planejamento, realização e avaliação. Desta forma, Haydt (2003) salienta que é importante ter objetivos bem definidos, deixando claro aos alunos a razão pela qual foi escolhido aquele destino, os aspectos que serão analisados e como os alunos serão avaliados. Ao final de cada atividade de campo, é essencial que o professor encontre propostas para que os alunos organizem as informações obtidas, sistematizando interpretações, teorias, dados, materiais e propostas para problemas detectados, atribuindo a esse trabalho uma função social, como conhecimentos que possam ser socializados e compartilhados com outras pessoas. No processo de avaliação, o aluno poderá apresentar os dados de diferentes maneiras de expressão com o objetivo de descrever o que foi observado e estudado, sendo por meio de apresentação de peça teatral, elaboração de jornal, contendo fotos e relatos dos moradores entrevistados, painel de discussão, etc, possibilitando que os professores realizam uma avaliação adequada. Krasilchik salienta que “A avaliação dá ao professor informações sobre o seu ensino, permintindo identificar onde seu trabalho deixou de dar resultados esperados, como e onde os estudantes tiveram dificuldade, permitindo que falhas possam ser reparadas". (KRASILCHIK, 2002, p.168). Assim, entende-se que estudar o meio possibilita que o aluno traga para o debate as observações vivenciadas, ampliando os seus conhecimentos. Por exemplo, quando a professora pede que o aluno entreviste o carteiro do seu bairro ou seus familiares, ao compartilhar as respostas com os colegas, ele está inserindo a sua realidade em sala de aula, 26 pois todos, juntamente com a professora, elaboram as questões, baseadas na teoria, e transpõem os muros escolares para obter as respostas, utilizando-se do saber fazer, correlacionando, assim, a teoria com a prática. Nesse sentido, Veiga ressalta que: No processo escolar, o pedagógico e o social necessitam ser trabalhados de forma interativa para não se incorrer na negação do próprio ato educativo. O tratamento simultâneo do pedagógico e do social exige o emprego de uma metodologia processual-dialética em todo o continuum do processo educativo. (VEIGA, 2006, P. 47). Haydt (1999) evidencia que a escola, que utiliza o estudo do meio como método pedagógico, deve apresentar diretrizes e condições por meio das quais os alunos possam entrar em contato com a realidade, tanto circundante como mais distante, promovendo o estudo do meio de forma direta, objetiva e ordenada, propiciando, assim, a aquisição de conhecimentos geográficos, históricos, econômicos, sociais, políticos, científicos, artísticos. Esse recurso pedagógico possibilita que o aluno desenvolva habilidades como observar, pesquisar, entrevistar, organizar e sistematizar os dados coletados para, assim, analisá-los e tirar suas próprias conclusões, utilizando-se de diferentes formas de expressão para descrever o que foi observado e estudado, sendo assim: [...] pedagogos e professores de disciplinas específicas continuam a conceituar o Estudo do Meio como técnica ou um conjunto de técnicas, no entanto, ele somente atingirá os objetivos para uma possível transformação se for utilizado como método, superando conhecimentos puramente escolares, levando aluno e professor a um compromisso com a sociedade e suas transformações e mesmo despertando a consciência de não utilizar o Estudo do Meio somente como forma de consumo das informações, considerando as pessoas como objeto, mas como sujeitos que em suas diferenças podem crescer mutuamente, podem trocar, podem ensinar e aprender. (PONTUSCHKA, 1994, p. 173). Para Giaretta o estudo do meio é: [...] um método de ensino que estabelece uma relação entre teoria e prática, utilizando um objeto de estudo para que o aluno possa continuar o processo de aprendizado, iniciado em sala de aula. (GIARETTA, 2003, p. 45). Portanto, entende-se que o foco principal das atividades, que têm como propósito estudar o meio, contribui com as necessidades de aprendizagem do aluno, sendo essencial que os professores conheçam o perfil do grupo, bem como os conteúdos que serão ministrados no curso durante o ano letivo, para assim optarem pelo melhor destino, levando em consideração 27 aspectos pedagógicos, organizacionais e financeiros. Nesse sentido, o coordenador pedagógico pode contar com o auxílio de agências de viagens especializadas, pois estas conhecem os serviços e infra-estrutura adequadas para melhor atendê-los. 1.4 A inserção do estudo do meio nos Paramêtros Curriculares Nacionais A educação tem papel primordial no desenvolvimento das pessoas, pois nela está contida a possibilidade de transformar alunos em profissionais atuantes, que farão parte de um mercado globalizado exigindo, cada vez mais, jovens capazes de adaptar a era da tecnologia, competitividade e avanços científicos. Com base nesse contexto, as escolas, procurando atender as necessidades educacionais e humanísticas dos alunos, precisaram adequar-se, utilizando o planejamento educacional e curricular, como referência. Nesse sentido, foram elaborados os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs - para orientar os educadores, sendo que estes parâmetros “procuram, de um lado, respeitar diversidades regionais, culturais, políticas existentes no país e, de outro, considerar a necessidade de construir referências nacionais, comuns ao processo educativo em todas as regiões brasileiras” (BRASIL, 1998, p. 5). Sendo assim, a escola é um dos locais onde o jovem tem condições de ter acesso ao conjunto de conhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos como necessários ao exercício de cidadania. Os PCNs foram elaborados, coletivamente, por grande número de pedagogos e publicados no final do século XX pelo MEC – Ministério da Educação. Seu objetivo é servir como referência para o trabalho das escolas de ensino fundamental e médio da rede pública. No entanto, muitas escolas da rede particular também os utilizam. Desta forma, estes documentos têm de estar atualizados, correspondendo às necessidades educacionais referentes aos conteúdos e técnicas, seja em função de avanços da ciência acadêmica, seja por vontade de reformular os métodos de ensino, tendo como contribuição “ampliar e aprofundar um debate que envolva escolas, pais, governos e sociedade e dê origem a uma transformação positiva no sistema educativo brasileiro” (BRASIL, 1998, p. 5). Os PCNs orientam de que maneira os alunos podem ser capazes de compreender os seus direitos e deveres perante a sociedade, utilizando-se do diálogo como forma de mediar conflitos, conhecer não só o Brasil, mas diferentes dimensões de seu patrimônio sócio-cultural e ambiental, como também outros povos e nações, reconhecendo-se como cidadão e 28 utilizando-se de diferentes linguagens, informações e recursos tecnológicos, como meios para produzir, expressar e comunicar suas idéias e construir conhecimentos. Seguem os objetivos que estão contemplados nos PCNs do ensino fundamental do terceiro e quarto ciclos: • compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no diaa-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito; • posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas; • conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao país; • conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações, posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais; • perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente; • desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de confiança em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania; • conhecer o próprio corpo e dele cuidar, valorizando e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva; • utilizar as diferentes linguagens — verbal, musical, matemática, gráfica, plástica e corporal — como meio para produzir, expressar e comunicar suas idéias, interpretar e usufruir das produções culturais, em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação; • saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos; • questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e verificando sua adequação. (BRASIL, 1998, p. 7-8). 29 Percebe-se que os objetivos agora englobam aspectos formativos e não apenas informativos, onde os alunos estão inseridos não somente em questões pedagógicas, mas também no que se refere aos aspectos psicológicos, valorizando, assim, a participação do estudante no processo de aprendizagem. Nesse sentido, os educadores elaboraram os PCNs do terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental, como demonstrado na figura 1, contemplando as seguintes disciplinas: língua portuguesa, matemática, ciências naturais, história, geografia, arte, educação física e língua estrangeira, matérias que são subdivididas em diferentes eixos temáticos, devendo ser flexíveis, pois: [...] não representam um programa de curso e tampouco uma proposta curricular a ser seguida de forma dogmática. Eles representam subsídios teóricos que devem ser entendidos como ponto de partida, e não de chegada, para o professor trabalhar os conteúdos no ensino fundamental. (BRASIL – geografia, 1998, p. 37). Os PCNs contemplam as atividades de campo como o estudo do meio, tanto nas disciplinas tradicionais, como nos temas transversais, desde que sejam articulados às atividades de classe. Neles estão contidos eixos temáticos que têm como função nortear e dar diretrizes ao planejamento pedagógico do professor, permitindo a seleção e a organização de conteúdos, conforme as especificidades da disciplina e dos objetivos pedagógicos. Já os temas emergentes, denominados de temas transversais (Ética, Pluralidade Cultural, Trabalho e Consumo, Saúde, Orientação Sexual, Meio Ambiente) também estão contemplados nos PCNs e merecem especial atenção do professor, pois possibilitam a formação integral do aluno, além de garantir a interdisciplinaridade no currículo das escolas. É importante ressaltar que os assuntos transversais podem e devem ser abordados em todas as disciplinas, bem como nas atividades práticas. Os educadores que elaboraram os PCNs validaram o estudo do meio como um importante recurso didático. No entanto, ressaltaram que essa atividade deve, ter como princípio, ampliar o conhecimento do aluno referente a sua identidade enquanto aluno e cidadão, tanto na esfera local quanto global, articulando, assim, capacidades como observação, reflexão, comparação, discussão e análise de assuntos pertinentes aos fatores naturais, sociais, econômicos e políticos dos quais faz parte. Nérici enfatiza que: O estudo do meio se presta para trabalhos de alto valor informativo e formativo para o educando, principalmente pelo seu aspecto integrativo, uma vez que um mesmo fato do meio pode ser estudado por todas ou quase todas as disciplinas de um currículo, o que torna os estudos mais ricos e significativos. (NÉRICI, 1981, p. 351). 30 Figura 1: Estrutura dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino fundamental Fonte: Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, 1998 Portanto, o estudo do meio, por se tratar de uma atividade interdisciplinar e por viabilizar a articulaçao de disciplinas, propicia ao aluno que ele aprenda conceitos teóricos em sala de aula e depois tenha possibilidade de vivência-los. Podemos identificar, por exemplo, que na disciplina de Ciências Naturais os assuntos referentes à relação entre homem e natureza, contribuem para o desenvolvimento de uma consciência social e planetária, tendo quatro eixos temáticos: Terra e Universo, Vida e Ambiente, Ser Humano e Saúde, Tecnologia e Sociedade, culminando em conhecimento maior sobre a vida e sobre sua condição singular na natureza, permitindo ao aluno se posicionar acerca de questões polêmicas, dentre as quais os desmatamentos, acúmulo de poluentes, etc. bem como, aspectos que tangem à herança biológica, como as condições 31 culturais, sociais e afetivas, contribuindo para a percepção da sua integridade pessoal e na formação da sua auto-estima. Por exemplo, nas Ciências Naturais os objetivos propostos envolvem visitas a ambientes naturais, áreas de preservação ou conservação, áreas de plantações, ambientes industriais e comerciais, entre outros locais, podendo ser realizadas nas proximidades da escola ou em locais mais distantes. O importante é fazer com que o aluno reflita sobre os aspectos ambientais e sócio-culturais dos quais faz parte e que essas atividades estejam contempladas nos planos de ensino e que sejam adequadamente planejadas. Assim: O desenvolvimento de atividades em espaços com essas características traz a vantagem de possibilitar ao estudante a percepção de que fenômenos e processos naturais estão presentes no ambiente como um todo, não apenas no que ingenuamente é chamado de natureza.. Além disso, possibilitam explorar aspectos relacionados com os impactos provocados pela ação humana nos ambientes e sua interação com o trabalho produtivo e projetos sociais. (BRASIL – Ciências Naturais, 1998, p.126). Um dos objetivos principais das Ciências Naturais é propiciar condições ao aluno vivenciar o que se denomina método científico, ou seja, a partir de observações, levantar hipóteses e testá-las, pois se acredita que a investigação mais ampla garante melhor aprendizagem dos conhecimentos científicos. Sendo assim, o trabalho de campo é fundamental, pois além de ser articulado com as atividades de classe, contempla desde visitas planejadas a ambientes naturais, como áreas de preservação, conservação, áreas de produção primária (plantações) e industrial, até a praça próxima à escola. Esse planejamento dependerá de como está inserido no plano de ensino do professor. Os PCNs, que abordam os aspectos referentes à disciplina de Geografia, apresentam assuntos relacionados à compreensão de diferentes sociedades que interagem com a natureza na construção de seu espaço, bem como à área do conhecimento comprometida em tornar o mundo compreensível para os alunos, explicável e passível de transformações, valorizando os aspectos socioambientais que caracterizam seu patrimônio cultural e ambiental. O estudo do meio é um recurso didático muito utilizado nesta disciplina, tendo interface com outras disciplinas como história, ciências naturais, artes etc. Esta interdisciplinaridade possibilita ao aluno aprender a trabalhar recortes temporais e espaciais de forma local e global, observando, conhecendo, explicando, comparando e representando as características do lugar em que vive e de diferentes paisagens e espaços geográficos com sua historicidade. Entretanto, “sem perder de vista as especificidades de cada uma das áreas, o 32 professor pode aproveitar o que há em comum para tratar um mesmo assunto sob vários ângulos” (BRASIL – geografia, 1998, p. 53). Na disciplina de História, o aluno tem a possibilidade de refletir de forma geral noções de diferença, semelhança, transformação e permanência entre nações, adquirindo novos domínios cognitivos, possibilitando melhor conhecimento sobre si, seu grupo, sua região, seu país, o mundo, bem como práticas sociais, culturais, políticas e econômicas construídas por diferentes povos. As atividades escolares com essas noções também evidenciam para o aluno as dimensões da História, entendida como conhecimento, experiência e prática social, fortalecendo os laços de identidade com o presente, e com gerações passadas refletindo em um melhor entendimento do presente. (BRASIL – história, 1998). Um dos objetivos desta disciplina é conhecer e respeitar o modo de vida de diferentes grupos, em diversos tempos e espaços, em suas manifestações culturais, econômicas, políticas e sociais, reconhecendo semelhanças e diferenças entre eles, continuidades e descontinuidades, conflitos e contradições sociais. Assim, deve contribuir para a formação do estudante como cidadão, possibilitando a sua participação social, política e atitudes críticas diante da realidade atual, aprendendo a discernir os limites e as possibilidades de sua atuação, na permanência ou na transformação da realidade histórica na qual se insere (BRASIL – história, 1998). O estudo do meio também é parte integrante desta disciplina como recurso didático, pois propicia contatos diretos com documentos e locais históricos, incentivando os estudantes a construírem suas próprias observações, especulações, indagações, explicações e sínteses para questões históricas, como, por exemplo, sobre a preservação do patrimônio histórico cultural da localidade onde vivem. É no local, conhecendo pessoalmente casas, ruas, obras de arte, campos cultivados, aglomerações urbanas, conversando com os moradores das cidades ou do campo, que os alunos se sensibilizam para as fontes de pesquisa histórica, isto é, para os .materiais. sobre os quais os especialistas se debruçam na interpretação de como seria a vida em outros tempos, como se dão as relações entre os homens na sociedade de hoje, como o passado permanece no presente ou como são organizados os espaços urbanos ou rurais. O estudo do meio é, então, um recurso pedagógico privilegiado, já que possibilita aos estudantes adquirirem, progressivamente, o olhar indagador sobre o mundo. (BRASIL – história, 1998, p. 94). 33 Portanto, os alunos além de identificarem significações pessoais com as atividades, têm a possibilidade de enxergar a si próprios como sujeitos participativos e compromissados com a História e com as realidades presente e futura. Desta forma, os PCNs ressaltam que o estudo do meio não se relaciona à simples aquisição de informações fora da sala de aula ou a simples constatação de conhecimentos já encontrados em fontes bibliográficas ou periódicos científicos, pois trata-se de uma atividade realizada in loco na paisagem humana e geográfica que tem, como princípio, instigar o aluno ao aprendizado, pois é um recurso didático que: [...] envolve uma metodologia de pesquisa e de organização de novos conhecimentos, que requer atividades anteriores à visita, levantamento de questões a serem investigadas, seleção de informações, observação de campo, confrontação entre os dados levantados e os conhecimentos já organizados por pesquisadores, interpretação, organização de dados e conclusões. Possibilita o reconhecimento da interdisciplinaridade e de que a apreensão do conhecimento histórico ocorre na relação que estabelece com outros conhecimentos físicos, biológicos, geográficos, artísticos. (BRASIL – história, 1998, p. 93). Nesse sentido, os educadores, que elaboraram o PCNs de História, tiveram a preocupação em apresentar sugestões de metodologias de trabalho na organização de estudos do meio que norteiam o trabalho dos professores, sendo eles: • criar atividades anteriores à saída, que envolvam levantamento de hipóteses e de expectativas prévias; • criar atividades de pesquisa, destacando diferentes abordagens, interpretações e autores (reportagens, jornais, enciclopédias, livros especializados, filmes) sobre o local a ser visitado. Existem propostas de estudo do meio que sugerem que as pesquisas sejam desenvolvidas após o estudo de campo. Nesse caso, o professor pode experimentar e avaliar diferentes alternativas metodológicas; • se possível, integrar várias áreas, permitindo investigações mais conjunturais dos locais a serem visitados que incluam, por exemplo, pesquisas geográficas, históricas, biológicas, ambientais, urbanísticas, literárias, hábitos e costumes, estilos artísticos, culinária, etc; • antes de realizar a atividade, solicitar que os alunos organizem, em forma de textos ou desenhos, as informações que já dominam, para que subsidiem as hipóteses e as indagações, no local; • se possível, conseguir um ou mais especialistas para conversar com os alunos sobre o que irão encontrar na visita ou sobre o tema estudado. Como no caso da pesquisa, a conversa com o especialista pode ser posterior ao estudo de campo; 34 • o professor deve visitar o local com antecedência, para que possa ser, também, informante e guia ao longo dos trabalhos; • organizar, junto com os alunos, um roteiro de pesquisa, um mapa do local e uma divisão de tarefas; • conseguir com antecedência ou posteriormente, para estudo em classe, mapas de várias épocas sobre o local, para análise da transformação da paisagem e da ocupação humana; • conversar com os alunos antes da excursão sobre condutas necessárias no local, como, por exemplo, interferências prejudiciais aos patrimônios ambientais, históricos, artísticos ou arqueológicos. (BRASIL – história, 1998, p. 94-95). Contudo, tanto as disciplinas citadas quanto, as de Arte, Educação Física, Língua Portuguesa e Estrangeira podem estar presentes em atividades que contemplam o estudo do meio. Como exemplo, atividades ligadas às linguagens artísticas, contemplando as artes visuais, a música, o teatro e a dança podendo, assim, colaborar no processo de avaliação da visita, ou seja, o professor de arte instiga os alunos a apresentarem peças teatrais, refletindo o que foi observado e o conhecimento adquirido durante o estudo. Pode-se, também, se utilizar dos temas transversais para agregar valor a essas atividades. Nesse sentido, o professor de Educação Física pode orientar os alunos em assuntos que englobam a ética, pluralidade cultural, trabalho e consumo, saúde e meio ambiente, pois o aluno, ao fazer a visita ou viagem, estará distante do seu núcleo familiar, devendo saber como se portar perante os seus colegas, professores e comunidade local. 1.5 A inserção do estudo do meio no planejamento pedagógico Como apresentado anteriormente, os PCNs são utilizados como referência na elaboração do projeto educativo da escola, articulando e contribuindo no processo de planejamento educacional, curricular, de ensino, plano de curso e plano de aula. De acordo com Turra et al. (1995, p. 16), o planejamento educacional “constitui a abordagem racional e científica dos problemas da educação, evolvendo o aprimoramento gradual de conceitos e meios de análise, visando a estudar a eficiência e a produtividade do sistema educacional, em seus múltiplos aspectos”. Assim, é fundamental que os professores conheçam a política de educação e os projetos educacionais que fazem parte do sistema 35 educacional, pois é a partir do conhecimento global que será possível fazer um adequado planejamento curricular, ou seja, o currículo de hoje deve ser funcional, sendo necessário: [...] promover não só a aprendizagem de conteúdo e habilidades específicas, mas também fornecer condições, favoráveis à aplicação e integração desses conhecimentos. Este planejamento é relativo à escola. Através dele são estabelecidas as linhas-mestras que norteiam todo o trabalho. O planejamento curricular deve refletir os melhores meios de cultivar o desenvolvimento da ação escolar, envolvendo, sempre, todos os elementos participantes do processo. (TURRA et al., 1995, p. 17-18). Sendo assim, é a partir de um adequado planejamento curricular que os educadores terão subsídios para fazer um plano de ensino mais funcional, indicando, assim, atividade direcional, metódica e sistematizada que será empreendida pelo professor junto a seus alunos, em busca de propósitos definidos. É importante que esse plano seja feito anualmente ou semestralmente. O plano de ensino pode abranger três tipos: o plano de curso, o plano de unidade e o plano de aula. Turra et al., definem o plano de curso como: [...] um instrumento de trabalho, amplo, genérico, sintético, que serve de marco de referência às operações de ensino-aprendizagem que se desencadearão durante o curso, derivadas dos fins a serem alcançados. Pode referir-se a uma disciplina, ou a uma área de estudo, em particular considerando, entretanto, o relacionamento que deve existir entre várias disciplinas, ou áreas de estudo, no sentido de manter a integração do conhecimento como um todo. (TURRA et al., 1995, p. 235-236). Já o plano de unidade ou unidade de ensino é um documento mais específico e analítico das tarefas que serão realizadas em um determinado período de tempo, comparado ao plano de curso, pois: [...] enquanto o plano de curso oferece uma descrição geral, uma visão panorâmica, dos meios de ensino que serão utilizados para o alcance dos objetivos gerais do curso, o plano de unidade procura reunir, num todo organizado, mais específico, temas ou conteúdos listados no plano de curso, que guardem uma estrutura intima, isto é, que se inter-relacionem e se complementem, compondo um conjunto mais facilmente compreensível, devido a sua significação. (TURRA et al., 1995, p. 248). O mesmo autor ressalta que o plano de aula é um instrumento de trabalho que sistematiza os objetivos, conteúdos, procedimentos, cronograma e recursos que serão 36 utilizados para a realização de uma atividade com o propósito de organizar as atividades que se desenvolvem entre professor e aluno, numa dinâmica de ensino-aprendizagem. Sendo assim, para que os resultados das atividades referentes ao estudo do meio sejam positivos, é necessário que estejam atrelados aos conteúdos curriculares e que tenham suas propostas contidas nos PCNs, além de serem previamente discutidas as melhores possibilidades para serem inseridas nos planos de ensino, plano de curso e que tenha um plano de unidade para ser organizado de forma sistematizada e coerente. Para isso, é importante que se realizem três etapas fundamentais para o êxito dessas atividades de campo que são: planejamento, desenvolvimento e avaliação. Além dos diversos instrumentos utilizados pela escola como: planejamento educacional e curricular; o plano de ensino, de curso, de unidade e de aula, constatou-se a necessidade de elaborar um instrumento denominado plano de estudo do meio16, tendo, como referência, as informações contidas no plano de aula elaborado por Turra et al. (1995, p. 257). ver Quadro 1. O objetivo desse instrumento é ter melhor visibilidade da proposta direcionada às atividades de campo, seja em uma visita ou viagem. As informações contidas são as seguintes: dados de identificação (curso, turma, disciplina, professores responsáveis, semestre), tema central, local e duração da viagem; objetivos, conteúdos, procedimentos, recursos e avaliação. No campo que se refere aos dados de identificação constam as informações específicas da escola como disciplinas envolvidas, professores responsáveis, turma, semestre etc. Já no campo, que enfatiza os dados do estudo do meio, encontram-se o assunto central, o local, a duração da viagem. Também podem-se identificar os dados da agência de viagens responsável, como nome, guia de turismo, telefone, site e e-mail. Os dados mais específicos são as datas, os locais que serão visitados, os objetivos de cada atividade, o cronograma diário, contendo o período que os estudantes ficarão em cada local, os conteúdos que serão ministrados pelos professores, os recursos utilizados e de que maneira serão avaliados. Assim, pretende-se que as informações contidas nessa ficha facilite a organizaçao da viagem auxiliando os professores e a agência de turismo em todo o seu processo. O estudo do meio, muitas vezes, além de ser planejado e avaliado pelos orientadores educacionais e professores, é também por eles realizado, ou seja, o processo de contato com o 16 As informações contidas no plano de estudo do meio referem-se a visita realizada com a Escola Carandá ao Assentamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) e a registros (textos e filme) pesquisados pela autora sobre a reforma agrária no Brasil. 37 Quadro 1 – Escola: Plano de visitas técnicas e viagens de estudos do meio – Visita ao Assentamento do MST Fonte: Roberta Monteiro. Quadro adaptado do plano de unidade elaborado por Turra et al., 1995, p. 257 39 destino a ser visitado é feito pela escola, sendo que poderia ser realizado por profissionais especializados, principalmente na organização e realização das viagens de estudos do meio, como veremos no próximo capítulo. 1.6 Principais questões identificadas para pesquisa A partir dos aspectos analisados neste capítulo, podem ser destacadas algumas questões a serem investigadas no estudo das relações entre as escolas e as agências de viagens. Em primeiro lugar, considera-se relevante identificar quais as diferenças de tratamento do estudo do meio nas escolas, conforme variam suas propostas pedagógicas. Do ponto de vista das agências especializadas em turismo pedagógico, qual seria o grau de compreensão sobre esta possível influência da proposta pedagógica sobre as necessidades da escola para a formatação do estudo do meio? Como decorreria a comunicação entre as escolas e as agências, sobre este tema, que pode parecer complexo para não especialistas no assunto No que diz respeito aos Parâmetros Curriculares, as escolas estariam tratando o estudo do meio em conformidade com tais Parâmetros? Tais orientações estariam sendo discutidas entre as escolas e as agências, no planejamento conjunto do estudo do meio? Em relação ao método de planejamento pedagógico, as estruturas dos planos de aula, ou das unidades de aprendizagem, estariam sendo contempladas pela agência como base para a formatação da viagem de estudo do meio, para a elaboração do roteiro turístico? Estas e outras questões oriundas da reflexão teórica estão consolidadas no roteiro da pesquisa de campo. 40 CAPÍTULO 2 - AGÊNCIAS DE VIAGENS E TURISMO PEDAGÓGICO 2.1 Breve caracterização das agências de viagens Os aspectos históricos relacionados ao surgimento das agências de viagens e turismo remetem ao século XVIII e, segundo Acerenza (2003), especificamente no ano de 1670, teve início um fenômeno chamado grand tour, onde jovens da nobreza e da classe média realizavam viagens ao redor do mundo, com duração média de três anos, com o objetivo de complementar os conhecimentos teóricos e obter experiência prática. Este tipo de viagem costumava ser destinada para os jovens que iriam assumir os negócios da família, ou ingressar na carreira política. Apesar de o principal objetivo do grand tour ter sido ligado diretamente aos aspectos culturais e educacionais, os jovens dedicavam-se, também, aos prazeres do local visitado, desfrutando de atividades de lazer nesse período. No período que se inicia no século 16 e chega até quase meados do século 19 é que se estabelecem as bases do turismo moderno. Durante este período, origina-se o denominado grand tour, do qual se deriva posteriormente o termo turismo, e é nessa época que começam a se desenvolver os centros de férias, muitos dos quais perduram, como é o caso concreto de Bath, na Inglaterra. (ACERENZA, 2003, p. 64-65). Somente em meados do século XIX a organização profissional das viagens começou a ter destaque, pois até então o turismo não se configurava como importante fenômeno social e econômico como veremos em alguns relatos de renomados autores. Rejowski e Perussi (2008) abordam alguns aspectos evolutivos importantes sobre o cenário das agências de viagens no mundo e no Brasil. É importante salientar que, apesar da prestação de serviços a viajantes ter ocorrido nos tempos antigos de forma espontânea, foi em meados do século XIX que surgiram registros na literatura ocidental, inicialmente na Europa e depois na América do Norte, sobre essa temática. O primeiro agente a registrar os passageiros em embarcações de navios a vapor para alguns portos do Canal de Bristol, Inglaterra e para Dublin, Irlanda, foi Robert Smart, no ano de 1822. Em 1840, surge a agência de viagens “Abreu Turismo” sediada na cidade do Porto, tendo como idealizador Bernardo de Abreu. Os serviços oferecidos eram passagens de trem de Lisboa para Porto e de navio para América do Sul. Essa agência foi referência também no 41 Brasil, pois possibilitou a vinda de muitos imigrantes ao providenciar a documentação necessária exigida na época (REJOWSKI & PERUSSI, 2008). O inglês Thomas Bennett, cônsul-geral da Inglaterra em Oslo, destacou-se pela criação de pacotes turísticos individuais. Ele organizava passeios pela Noruega para visitantes ingleses. Dessa experiência surgiu, em 1850, a agência de viagens, que oferecia transporte e hospedagem. Em 1863, Stangen fundou a primeira agência de viagens na Alemanha. Já na Itália o nome de destaque foi Massimiliano Chiari que, em 1871, abriu em Milão uma agência para recepcionar turistas estrangeiros. Na França, a primeira agência de viagens foi fundada por Alphonse Lubin, em 1873, na cidade de Lyon (REJOWSKI; PERUSSI, 2008). No ano de 1876, a agência La Compagnie dés Wagon-Lits foi fundada na Bélgica, com foco na comercialização de bilhetes ferroviários europeus. Essa empresa obteve tal crescimento que, em 1890, contava com 160 escritórios espalhados pela Europa e Norte da África. A empresa consolidou-se a partir de 1925, com a abertura do primeiro “Palácio da Viagem” em Paris, oferecendo serviços turísticos principalmente para viajante de negócios (CHOI apud REJOWSKI; PERUSSI, 2008, p. 5). No continente americano, em 1889, situada em Saint Augustine, Flórida, surge a primeira agência de viagem “Ask Mr. Foster”. Em 1979, a empresa foi adquirida pela “Carlson”, mas foi somente em 1990 que o nome “Ask Mr. Foster” foi retirado do mercado. Rejowski salienta que: Apesar da American Express ter sido fundada em 1850, antes da Ask Mr. Foster, a sua atuação era no transporte expresso de valores, documentos e encomendas. Somente em 1890 vinculou-se ao turismo, a partir do crescimento dos seus negócios em Paris e Londres onde dava assistência a turistas americanos. (REJOWSKI, 2002, p. 55). Um nome de grande destaque e referência na área de Turismo é o de Tomas Cook que não poderia faltar nessa breve descrição sobre o tema, pois ele é considerado o primeiro agente de viagem profissional, sendo um homem empreendedor e visionário. Sua atividade teve inicio com o planejamento e realização de uma viagem para cerca de 570 pessoas de Leicester a Lougborugh, cujo principal objetivo era a participação em um Congresso Antialcoólico que aconteceu em 5 de julho de 1841. Cook fretou um trem e, por apenas um shilling, muitos tiveram a oportunidade de viajar. O caráter dessa viagem era filantrópico, mas como Cook tinha a mente preparada e o espírito aberto, percebeu que este segmento poderia ser comercialmente explorado. Dessa lacuna, encontrada no mercado, nasceu em 1851 a 42 “Thomas Cook & Son”, em Leicester. A cidade escolhida para sediar a filial foi Londres, em 1865, tendo como gestor o filho, John Mason Cook. Rejowski e Perussi (2008) mencionam que no ano de 1891, mais de 30 mil bilhetes haviam sido vendidos pela agência “Cook” e 1,8 milhões de milhas de estradas de ferro, rios e oceanos foram percorridos. Em 1892, ano do falecimento de Thomas Cook, sua empresa possuía 84 escritórios e 85 agências ao redor do mundo, empregando cerca de 1.700 pessoas e sendo considerada a mais importante da época. A maior contribuição de Cook para o turismo está, sem dúvida, na introdução do conceito da excursão organizada nessa atividade, conhecida hoje com o nome de pacote turístico, pois permitiu que uma grande massa da população tivesse acesso às viagens de férias. (ACERENZA, 2002, p. 73). Em 1878, havia um total de 250 agências de turismo no mundo. O mercado teve de se organizar e se preparar para atender às necessidades daqueles que queriam viajar, surgindo, então, várias entidades ligadas ao setor. Esse crescimento provocou a criação , em 1919, da International Federation of Travel Agencies (IFTA – Federação Internacional das Agências de Viagens). Com o passar do tempo as agências de viagens foram se aprimorando para atender várias necessidades dos consumidores. Na Europa, em 1925, surgiram as agências especializadas em excursões rodoviárias. Em 1928, surgiram as primeiras operadoras turísticas (atacadistas) nos Estados Unidos, organizando os tours e utilizando as agências de viagens como intermediadoras para a venda dos produtos. Na década de 1930, as classes burguesa e média, buscando viajar em pacotes de férias, optavam por realizar viagens com grupos em automóveis e ônibus, lembrando que o boom das viagens aéreas só aconteceu em 1950, ocasionando o turismo massivo. Cinco anos após o término da Segunda Guerra Mundial, eclode o turismo massivo, com visitas organizadas para a clientela de poder aquisitivo regular. Nessa época, ressurgem as operadoras turísticas, responsáveis diretas pelo fenômeno da massificação do turismo, desenvolvendo o conceito de produto turístico aliado aos pacotes de viagens (package tours) e as vôos charters. (REJOWSKI; PERUSSI, 2008, p. 6). Em 1957, a companhia britânica “Horizon” foi pioneira em oferecer pacotes de férias, promovendo viagens para Córsega com hospedagem e transporte. Com a eclosão do turismo massivo, houve crescimento e desenvolvimento das companhias aéreas, maior integração e expansão das operadoras e agências de viagens, surgimento de técnicas de marketing e 43 avanços tecnológicos, ocasionando desta forma, consumidores mais exigentes e produtos turísticos diferenciados e, portanto, mercado mais competitivo17. No Brasil, durante muito tempo o transporte utilizado entre continentes foi o navio que levava brasileiros à Europa e trazia imigrantes, havendo empresas especializadas para atender esse púbico. Em 1904, Charles Miller, o introdutor do futebol no Brasil, assumiu a empresa que havia sido fundada por seu tio em 1880; a empresa passa a ostentar o seu sobrenome e a representar a Royal Mail Lines (conhecida como Mala Real Inglesa), cujos navios levaram muitos brasileiros para a Europa e trouxeram muitos imigrantes para o Brasil. (REJOWSKI; PERUSSI, 2008 p. 8). Apesar de, em 1919, a “Exprinter” (Expresso Internacional) já realizar atividades na cidade de Porto Alegre e a “Wagon-Lits”, em 1936, na cidade de São Paulo, eram filiais de empresas sediadas em outros países, sendo que somente em 1943 surgiu a primeira agência de viagens realmente brasileira. A primeira agência de viagens eminentemente brasileira foi fundada no ano de 1943 – a Agência Geral de Turismo [...]. Na época São Paulo tinha menos de dois milhões de habitantes, não havia grandes redes hoteleiras e nem a aviação comercial estava desenvolvida no Brasil. Mas havia uma procura relevante de turismo marítimo para viagens nacionais e internacionais. A Agência Geral começou criando excursões de ônibus, e [...] lançou o primeiro Carnaval Aéreo para o Rio de Janeiro, ao mesmo tempo que eram feitas reservas de hotéis nas estâncias balneárias (cura de 21 dias) (REJOWSKI, 2001, p. 38). Ainda segundo Rejowski (2001), as agências de viagens começaram a crescer consideravelmente no Brasil, entre o ano de 1947 e 1950, tanto assim, que em 1956 foi fundado o Sindicato das Empresas de Turismo do Estado de São Paulo. Em 1959, surgiu a Associação Brasileira de Agências de Viagens (ABAV) ano em que foi criada também sua Delegacia Regional de São Paulo. Com base nesse cenário, o setor teve que se organizar e se profissionalizar, surgindo assim órgãos públicos e privados. Outra importante colaboração para o amadurecimento do setor foi o interesse de diversos estudiosos de diferentes países e áreas do saber, em pesquisar os aspectos sociais, 17 Esse progresso perdura até os dias atuais, levando em consideração principalmente as necessidades e desejos dos consumidores. 44 culturais, ambientais e econômicos ocasionados pelo Turismo, levando em consideração, não somente o papel do turista, como também, do anfitrião, fomentando discussões e análises sobre o tema. 2.2 Os serviços prestados pelas agências de viagens Sabe-se que as agências de turismo fazem parte do setor terciário da economia e têm como função intermediar as empresas turísticas e o consumidor final. Para a realização de tal atividade, é necessário conhecimento de mercado, desde os meios de hospedagem ofertados no destino, até os atrativos naturais e culturais oferecidos no local, perpassando pelo transporte, alimentação, aluguel de carro, valor de ingressos em eventos, bem como clima, cultura, geografia, economia, hábitos, costumes etc. Para tanto, é importante que a agência de turismo analise as oportunidades e ameaças que envolvem a cidade, ao montar um pacote turístico, pois a partir desse estudo, terá visão ampla sobre os problemas que o turista irá encontrar, podendo assim alertá-lo e orientá-lo sobre as precauções necessárias para minimizar os percalços. Com o objetivo de atender o cliente de maneira satisfatória é importante que a agência de turismo conheça as necessidades e motivações do consumidor, pois assim terá subsídios para pesquisar, classificar e filtrar as melhores opções e condições, assessorando-o e orientando-o. Com tais informações, terá base para oferecer destinos que atendam as necessidades e desejos deste consumidor. Para que isso ocorra, é importante que o agente de viagem analise tanto o perfil do cliente, como também, os seus medos, limitações, desejos etc. Os serviços oferecidos pelas agências de turismo são diversos, merecendo destaque a montagem de pacotes turísticos; elaboração de roteiros turísticos, organização de viagens individuais ou coletivas para diferentes públicos, inclusive roteiros personalizados denominados de forfaits18. As agências de turismo estudam as melhores oportunidades, visando a atender diferentes públicos, podendo especializar-se em determinado nicho de mercado ou atendendo uma diversa gama deles. Elas realizam pesquisas de dados e 18 Forfait é a viagem totalmente organizada, ou conjunto de serviços, incluindo passagens de ida e volta, hospedagem, alimentação, alojamento, traslados, excursões locais, gratificações etc, programas conforme os desejos dos clientes, com um preço final fixo. É a viagem elaborada, mediante a orientação do cliente e uso de determinados produtos turísticos, selecionados dentre as ofertas existentes. (TOMELIN, 2001, p.105) 45 informações sobre o destino, serviços turísticos e atrativos, objetivando oferecer o melhor produto para cada cliente. Após o estabelecimento dos produtos ou serviços turísticos a serem ofertados, bem como seus preços e as técnicas de comunicação empregadas, o passo seguinte é definir o processo de distribuição, utilizando-se da melhor maneira para que o produto chegue até o cliente. Ou seja, deve-se assegurar que os produtos sejam colocados ao alcance do consumidor, da melhor forma possível. De acordo com Beni, a distribuição poderá ser feita de três maneiras: A empresa efetua a distribuição e venda diretamente aos consumidores; a empresa pode optar por intermediários, como as operadoras turísticas e agências de viagens; a empresa pode optar também pela venda direta e através de intermediários simultaneamente. (BENI, 2006, p. 194). Já para Casteli apud Beni (2006, p. 196), pode ser realizada de várias formas, como mostra o quadro 2. Quadro 2: Circuitos de distribuição Fonte: Castelli apud Beni (2006 p. 196). A primeira forma de distribuição acontece direto do produtor (P) ao consumidor, sem interferência de intermediários. Já a segunda tem como intermediador o varejista (V). A terceira forma conta com dois intermediários: o atacadista (A) e o varejista. Neste caso, o atacadista não entra em contato com o consumidor e nem o varejista com o produtor. Na quarta maneira surge o papel do revendedor (R), como intermediário entre o atacadista e o varejista. É importante salientar que quanto maior o número de intermediários entre o produtor e o consumidor, menor será o controle de distribuição pelo produtor. 46 Beni (2006) salienta que alguns produtos necessitam de intermediação para chegar ao consumidor final, onerando, muitas vezes, o preço final. Para tanto, é importante que tais produtos passem somente por intermediários dispensáveis, pois é nesse processo de intermediação que o cliente tem informações das quais dificilmente disporia. Nesse sentido, muitos destinos estão sendo transformados em produtos e inseridos nos sistemas globais de distribuição, denominados como GDS (Global Distribution Systems), que se integram à Internet, dos quais estão sendo disponibilizados serviços e complementos aos clientes 365 dias/ano e 24 horas/dia, facilitando o conhecimento e rapidez das informações sobre os destinos, ficando sob responsabilidade do consumidor apenas fazer a reserva via web e escolher a agência que irá se responsabilizar pela documentação. O autor ressalta ainda que “cerca de 150 mil terminais e 1 milhão de operadores fazem negócios com novos mercados. Hoje, por exemplo, fazer uma reserva de hotel, em qualquer localidade do planeta, demora apenas 7 segundos” (2006, p. 200). Devido a essa velocidade e versatilidade nas informações contidas no Setor Turístico, no âmbito da tecnologia da informação, conceitos e responsabilidades, é importante que a agência esclareça ao consumidor informações corretas e precisas, principalmente no que diz respeito aos direitos e deveres de ambas as partes (agência – cliente), para que não haja dúvidas. Para tanto, é necessário saber as atribuições desempenhadas por estas empresas. Dentre as diferentes funções das agências de turismo, Petrocchi e Bona (2003) salientam que essas empresas são organizações que têm a finalidade de comercializar produtos turísticos, orientando as pessoas que desejam viajar, estudando as melhores condições, tanto em nível operacional quanto financeiro, assessorando assim, sobre os destinos e itinerários que mais condizem com as necessidades dos clientes. Já Tomelin e Teixeira (2005, p. 688) relatam que as referidas empresas são responsáveis pela produção e intermediação de serviços de agenciamento de viagens. Enfatizam que “as relações com os demais elementos que compõem a atividade turística são de extrema interdependência, pois nada é feito de forma isolada. Um hotel terá um crescimento na sua taxa de ocupação, se utilizar todo o potencial de promoção e distribuição que as agências puderem oferecer”. A partir dessa afirmação, constata-se o quão são importantes estas parcerias envolvendo não somente as agências e empresas do trade, mas fundamentalmente os consumidores. Neste sentido, Torre apud Tomelin; Teixeira (2005, p. 688) destaca que as agências devem se preocupar com a “organização, promoção, reservas e vendas de serviços de transporte, alojamento, alimentação, visitas a lugares e a eventos de interesse, transporte local 47 e, ainda, devem facilitar o trâmite de documentos como: passaportes, vistos, seguros, créditos etc”. Os conceitos acima expostos sobre as funções das agências de viagens são citados de forma geral. No entanto, para que houvesse um melhor entendimento, foram estabelecidas nomenclaturas com a finalidade de caracterizar as atribuições das empresas que prestam serviços de agenciamento. Braga (2008) cita que no Brasil, conforme o Decreto Federal nº 5.406 de 30 de março de 2005, quando foi estabelecida nova denominação para as empresas do setor turístico, como um fato que precede a lei, as agências produtoras passaram a ser chamadas de operadoras turísticas, e as distribuidoras, de agências de viagem, sendo definidas da seguinte maneira: • Operadoras turísticas ou agências produtoras: aquelas que têm como objetivo principal construir pacotes19. Conjugam transporte da origem até o destino turístico, transporte na localidade visitada, serviços de guias acompanhantes e locais, hospedagem, alimentação, passeios, atividades de entretenimento, conexão com outros destinos, viabilizando o usufruto e convívio do turista com o espaço turístico. • Agências de viagens ou agências distribuidoras: aquelas que fazem conexão entre os produtos turísticos e os consumidores. Atuam como intermediadoras entre o público consumidor e os equipamentos e serviços turísticos, tais como empresas de transportes, meios de hospedagem, serviços receptivos, restaurantes, locais de entretenimento, seguro viagem, documentação de viagem e pacotes turísticos. (BRAGA, 2008, p. 22). É importante ressaltar que na legislação, tanto as operadoras turísticas, quanto as agências de viagens, enquadram-se na categoria de agências de turismo. Lohmann (2008) destaca que as operadoras turísticas além de serem responsáveis pelo planejamento, elaboração, marketing e reserva, no que envolve a operação dos pacotes turísticos, podem vender diretamente para o consumidor final ou utilizar canal de distribuição, notadamente às agências de viagens. De acordo com o mesmo autor, as agências de viagens oferecem três funções básicas: intermediação, operação e consultoria. Nos serviços ofertados, envolvendo sua intermediação, exercem papel de mediadora entre as empresas do setor e os turistas. No processo de operação, sua função é planejar, organizar e vender pacotes elaborados, para atender um ou 19 Pacotes turísticos é a combinação de diversos serviços turísticos, de forma a organizar uma viagem para um grupo de pessoas, visando à diminuição de custos e, conseqüentemente, oferecendo um preço final menor do que a soma dos valores dos serviços individualizados. A produção do pacote turístico constitui o principal serviço das operadoras turísticas (BRAGA, 2008, p. 22) 48 mais turistas. Esses pacotes, geralmente, distinguem-se daqueles oferecidos pelas operadoras turísticas, uma vez que são personalizados (forfaits). Já no que tange aos serviços de consultoria, as agências tratam de informar e aconselhar os viajantes em seus planos de viagens, sem necessariamente vender qualquer tipo de produto turístico. As agências de viagens, visando a atender as diferentes necessidades dos consumidores, que estão cada vez mais exigentes, e que fazem parte de um mercado competitivo, baseiam-se em elementos norteadores como a globalização e a tecnologia da informação, seguindo as tendências mercadológicas, das quais envolvem transações eletrônicas de bens e serviços, no que diz respeito aos negócios on-line, conforme argumentam Santos e Murad: Após a popularização da rede internacional de informações, a World Wide Web, ou apenas www, em 1994, as empresas começaram a disponibilizar informações de suas empresas na Internet através de portais (sites) e a partir daí a realizar transações eletrônicas de bens e serviços, o chamado ecommerce. (SANTOS; MURAD, 2008, p. 105). Assim, verifica-se que a Internet se tornou instrumento importante para o trade turístico, possibilitando uma maneira das empresas divulgarem seus serviços diretamente ao consumidor, podendo este planejar a viagem de forma rápida e, dependendo da empresa, de forma confiável, consultando preços; escalas; conexões de passagens aéreas em diferentes companhias, acomodações em hotéis, locação de carros entre outros serviços e, dependendo do interesse, poderá consolidar a compra, realizando esse trâmite, também por meio das agências virtuais, o que constitui mais uma facilidade para o consumidor. Contudo, é importante dominar não só as informações sobre os produtos e serviços oferecidos no destino, mas, principalmente, saber a motivação da viagem, os desejos e limitações do cliente, pois, só assim, poderá satisfazer, não somente as necessidades essenciais, mas dedicar atenção especial, no que é surpreendente e inesperado, superando as expectativas. Beni (2006) enfatiza que, nessa nova era do turismo, compram-se predominantemente idéias, não produtos e Tomelin (2001) acrescenta: Perceber mudanças, detectar novas necessidades, evoluir nas relações como o cliente exige know how, treinamento, ferramenta e transformar uma massa disforme de dados em informação, conhecimento profundo e ação dirigida, podendo, finalmente, mensurar o resultado de todas estas ações que deverão refletir competências de inovação praticadas pelo novo profissional – o agente de viagens. (TOMELIN, 2001 p. 107). 49 Portanto, devido ao leque de canais de distribuição que o mercado oferece, o agente deve aprimorar seus conhecimentos e utilizar-se de teorias modernas como, por exemplo, customização, ou seja, valorizar as necessidades, oferecendo exatamente o que o consumidor quer, preocupando-se com a qualidade na prestação de serviços, tendo como objetivo fidelizálos. Os clientes desejam que o agente seja muito mais que o articulador do processo construtivo da viagem, que o acompanhe em todo o planejamento, da viagem até o seu retorno. Assim, é essencial que o agente faça parte, seja “cúmplice” de cada momento. Petra define este profissional como: O agente, ao atender um cliente, deve considerar principalmente três aspectos: psicológico, material e intelectual. O psicológico para identificar características peculiares do individuo e suas motivações de viagem; o material, para definir claramente quanto o cliente quer e pode gastar na viagem; e o intelectual para levantar o nível educacional e seus interesses intelectuais. Com esses três aspectos, o agente constrói um perfil do cliente, básico para a oferta de serviços e produtos adequados ao mesmo. (PETRA, 1986, p. 43). Desta maneira, o agente de viagem deve ter como palavras de ordem a customização e a fidelização. A customização permite à empresa, ao cliente ou a ambos, desenvolver um produto, serviço ou comunicações que reflitam o valor que o cliente procura, mas não é sinônimo de personalização. Segundo Gordon apud Tomelin (2001, p. 104) “customizar é valorizar a personalidade do cliente, atendendo suas necessidades, desejos, gostos, administrando seus temores”. Para Kotler e Keller a customização ocorre quando “a empresa é capaz de produzir individualmente bens diferenciados” (2006, p. 12). Assim, a relação entre o agente de viagem e o cliente tem início, mas não pode ter fim. É preciso que haja preocupação contínua do primeiro em relação ao segundo, mantendo-o informado sobre diversos assuntos, conforme suas motivações de viagens. Há estratégias que podem trazer bons resultados, como encaminhar prospectos sobre congressos, feiras ou mesmo descontos em datas especiais, além da utilização do call center, transformando a central de atendimento em central de relacionamento; para isso é essencial que a agência tenha banco de dados atualizado e confiável. 50 2.3 A especialização das agências de viagens em turismo pedagógico Verifica-se que as pessoas viajam por diferentes motivações: saúde, negócios, lazer, religião, cultura, educação, entre outros. Devido a essa diversidade, muitas agências optaram por especializar-se em determinado nicho de mercado, podendo focar as estratégias de vendas em destinos como, por exemplo, Disney World ou segmentos, como Turismo Pedagógico. Seguem abaixo as definições de Petrocchi e Bona (2001) referentes aos tipos de agências: • Agências corporativas: focadas no mercado das empresas, vendem principalmente passagens aéreas e reservas de hotéis para organizações e executivos; • Agências generalistas: atuam na comercialização de produtos turísticos em geral, como os de lazer, de negócios ou qualquer outra modalidade. Podem comercializar serviços de um hotel numa região próxima ou pacotes turísticos para destinos internacionais. Sua atuação é pautada no atendimento às necessidades dos clientes; • Agências especializadas: atuam focadas exclusivamente em um nicho de mercado ou em um tipo específico de destino ou de turismo. (PETROCCHI e BONA, 2003, p. 152-153). As escolas, que adotam o estudo do meio em seu currículo, podem ser consideradas como parte de um nicho de mercado bem distinto, composto por clientes com necessidades específicas, que vão bem além da mera realização de uma viagem. As viagens e visitas de estudo do meio devem possibilitar ao aluno aprender, muito além de conceitos teóricos em sala de aula, vivenciando-os por meio das atividades empíricas. Para isso, os alunos devem ser envolvidos de fato com o meio, estabelecendo relações, entre a teoria e a prática, que atendam às necessidades didático-pedagógicas. Entretanto, verifica-se que essas atividades, muitas vezes, além de serem planejadas e avaliadas pelos coordenadores pedagógicos e professores, são também por eles realizadas, ou seja, o processo de contato com o destino a ser visitado é feito pela escola, sendo que poderia ser realizado por profissionais especializados, principalmente, na organização e realização das viagens de estudo do meio. Contudo, percebe-se que o turismo utilizado como recurso de aprendizagem tem sido difundido por meio de modalidades como turismo educativo, turismo de intercâmbio cultural, turismo educacional, turismo de estudo e turismo pedagógico que foram tendo destaque no decorrer do tempo. 51 Segundo Swarbrooke e Horner (2002), o turismo educativo tem uma longa história, datando dos dias em que os membros enriquecidos das elites grega e romana viajavam para melhorar sua compreensão do mundo. Em décadas mais recentes, o turismo educativo desenvolveu-se de diversas maneiras, dentre elas: o intercâmbio de estudantes, onde os jovens viajam para outros países com o objetivo de estudar e aprender mais sobre a língua e cultura de outros povos e as viagens de férias com interesse especial, sendo a principal motivação aprender algo novo, como a prática da pintura e aulas de culinária desenvolvidas em um determinado destino. Ansarah (2005), denomina essa segmentação como Turismo de Intercâmbio Cultural que é resultado de segmentos já existentes, consolidando novos segmentos no mercado, sendo atividades realizadas em vários destinos no exterior, tendo como ênfase as facilidades nas negociações aduaneiras e crescente valorização do conhecimento de outras culturas e idiomas, impulsionando a demanda por práticas educacionais no exterior. [...] o mercado convencionou como intercâmbio toda e qualquer viagem de estudos de idiomas, cursos de áreas específicas, estágios no exterior, trabalho remunerado, ou seja, toda e qualquer viagem com a função de agregar algum conhecimento (GIARETTA apud ANSARAH, 2005, p.292). Beni (2006), ressalta que o Turismo Educacional tem como referência a antiga prática utilizada na Europa e também nos Estados Unidos, tanto por colégios, quanto pelas Universidades particulares, sendo também adotada no Brasil por algumas escolas de elite. Essas viagens culturais consistiam no acompanhamento de professores especializados da própria instituição de ensino, tendo como objetivo promover o desenvolvimento educacional, principalmente em destinações no exterior. No entanto, as viagens estão sendo cada vez mais disseminadas no âmbito regional e nacional. Américo Pellegrini (2000, p. 273) denomina o Turismo de Estudo como sendo “a modalidade de turismo que inclui programas para aprendizado, treinamento, ou ampliação de conhecimentos in situ, envolvendo os professores e os alunos com profissionais locais”. Dessa forma, percebe-se quão importante é o envolvimento tanto da escola, quanto do destino a ser visitado no processo de aprendizagem do aluno, ao estudar o meio ambiente, pois acredita-se que essa reflexão e essa análise farão dele um cidadão mais consciente. O Turismo Pedagógico é um segmento que está tendo importante destaque no Brasil. Giaretta (2003, p. 45) o define como sendo uma “prática educacional usada por instituições de ensino num contexto teórico e prático, que em alguns casos envolvem viagens, com deslocamento e finalidade de estudo”. 52 A agência de turismo que se especializa em determinado nicho de mercado necessita de aproximação bem consolidada, entre agente de viagem e cliente, devido às peculiaridades e objetivos que deverão ser atingidos durante a viagem. No Brasil na década de 1960, surge a primeira agência de turismo a atuar com o objetivo de fomentar o turismo pedagógico. Sediada em São Paulo, a Toledo Piza Empreendimentos Ltda, teve como idealizador Domingos de Toledo Piza, licenciado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da USP. Piza relata que sua trajetória com o estudo do meio, teve início na experiência pedagógica que exerceu durante os anos de magistério, dentre eles, atuando como professor de Pedagogia, Filosofia da Educação e História da Educação, no Instituto Caetano de Campos. Foi em um encontro, reunindo os colégios mais elitizados de São Paulo (Santa Cruz, Sion, Assunção, Deux Oiseaux), no ano de 1962, que Piza teve apenas 15 minutos para apresentar o processo educativo “Estudo do Meio”. A temática desse Seminário foi sobre o “curriculum” da Escola Nova. A proposta foi a realização de uma viagem de cunho pedagógico, tendo os serviços da VARIG, como transportadora, e dele como organizador. No final da explanação, o “Colégio Sion” solicitou um programa, tendo como centro de interesse Minas – Cidades Históricas. “Iniciaram-se, assim, os primeiros roteiros sistematizados sob o enfoque do “Estudo do Meio”, no mercado de viagens no Brasil”. (PIZA, 1992, p. 72). Piza (1992) salienta que o primeiro roteiro sistematizado de “Estudo do Meio”, tendo por centro de interesse Minas – Cidades Históricas, foi feito através de uma Companhia Aérea e não de uma Secretaria de Educação. Em 1962, três colégios realizaram esse roteiro: “Sion”, “Santa Cruz” e o “Deux Oiseaux”. No ano seguinte, o “Deux Oiseaux” solicitou um roteiro ao Nordeste, tendo como foco as seguintes cidades: Fortaleza, Recife, João Pessoa, Salvador e Paulo Afonso. Em 1973, já contando com grupo de profissionais de turismo, professores, líderes e universitários, Piza publicou folhetos, divulgando os programas de viagem de cunho pedagógico, para os colégios de São Paulo. Nesta ferramenta constava “modus fasciendi” do processo, incluindo a possibilidade, tanto de operacionalizar, quanto customizar e personalizar, adaptando as necessidades de cada Colégio. “Os roteiros eram passíveis de adaptação, mediante o centro de interesse escolhido e a orientação pedagógica de cada colégio”. (PIZA, 1992, p. 74). Ainda segundo o autor, um dos objetivos da viagem de estudo do meio é conscientizar os alunos de que as atividades são realizadas fora da sala de aula, mas nela se iniciam e 53 terminam, mantendo sempre o foco de ensino-aprendizagem para começar a desenvolver as fases, como descritas a seguir: • Primeira fase: Preparação Escolha e o preparo teórico do centro de interesse, relacionado com a viagem. Os professores das diversas disciplinas envolvidas ministram o conteúdo necessário, inserido em um plano integrado de ensino preestabelecido. • Segunda fase: Execução Realização da viagem, onde os dados são registrados por meio de figuras, entrevistas, filmagens, conforme o interesse de cada disciplina envolvida: história, geografia, biologia, ciência. Nesta etapa é de suma importância a interação entre professores, guias e alunos, bem como a comunidade local e os locais visitados, adquirindo conhecimentos e gerando análises e discussões. • Terceira fase: Avaliação Durante a realização da viagem, diariamente, por 15 minutos, promover um “bate papo” informal, para verificar se os resultados estão sendo realmente profícuos. É nessa fase, que a capacidade de raciocínio, memorização, compreensão, expressão verbal e escrita, além do relacionamento e trabalho de grupo, serão desenvolvidas. Após a viagem, já em classe, o aluno poderá ser avaliado de diversas formas: trabalhos em grupo, dramatização de situações, conclusões individuais, exposição de material coletado, apresentação de fotos e slides, e outras manifestações criativas sobre a experiência vivida, verificando, assim, se a viagem atingiu os objetivos inicialmente propostos, pois com base nos resultados obtidos nos trabalhos dos alunos, é possível avaliar o trabalho dos professores e guias, assim como a eficácia da viagem. Piza (1992, p. 77) salienta que por meio da sua operadora organizou “os primeiros roteiros sistematizados e com preocupação ecológica a serem veiculados no mercado de viagens no Brasil, dirigidos a um público estudantil de colégios tradicionais e elitizados da cidade de São Paulo”. Com base nessas experiências precursoras, aliando o Turismo e a Educação, foram desenvolvidos mais de 68 roteiros, nacionais e internacionais. A Agência Toledo Piza foi considerada, dentro da filosofia de ensino, como – “Escola é Vida” – pois acreditava-se que somente por meio da vivência da realidade que o aprendizado se concretizaria. Assim, os serviços oferecidos pela agência eram roteiros especializados, tanto em estudo do meio, quanto em viagens de confraternização, conforme o objetivo a ser atingido pela Escola. 54 2.4 O planejamento dos serviços de turismo pedagógico Para a caracterização das atribuições e responsabilidades das agências de viagens e das escolas, no que diz respeito ao turismo pedagógico, optou-se pelo uso de um diagrama de serviço, ferramenta capaz de formatar e especificar os processos tangíveis. Um diagrama de serviço é uma figura ou um mapa que representa com precisão o sistema do serviço, para que as diversas pessoas envolvidas na sua execução possam compreender e trabalhar com o serviço de forma objetiva no que diz respeito aos seus próprios papéis ou aos seus pontos de vista individuais. (ZEITHAML; BITNER, 2003, p. 69). O diagrama de serviço representado na figura 2, exemplifica os quatro campos de ação que caracterizam o serviço de turismo pedagógico: as ações dos clientes, o contato de linha de frente, o contato de retaguarda e os processos de apoio. Estes campos de ação são separados por três linhas horizontais. A primeira é a linha de interação, representando as interações entre cliente (escola) e empresa (agência). A segunda linha horizontal é a linha de visibilidade que separa todas as atividades de serviços, visíveis ao cliente, daquelas que não o são. Essa linha também separa o que os funcionários de contato fazem na linha de frente e o que é feito na retaguarda. A terceira é a linha de integração interna, que separa as atividades do pessoal de contato, daquelas do pessoal ligado a outras atividades, e funcionários responsáveis pelo apoio aos serviços. As linhas verticais, que cruzam a linha de interações, representam os contatos internos, bem como as evidências físicas que referem-se ao contato com os elementos tangíveis do serviço. No processo de serviço elaborado, como exemplo, primeiramente, a agência de turismo encaminha via correio ou e-mail, prospectos sobre os serviços da agência especializada em turismo pedagógico (linha de visibilidade). Depois do primeiro contato, o agente de turismo (linha de interação) agenda um horário com o coordenador pedagógico e professores, com o objetivo de compreender informações sobre a inserção do estudo do meio no processo de ensino-aprendizagem, tendo como referências a proposta pedagógica, o currículo e o perfil do aluno, visando a entender o universo escolar, tanto no que diz respeito às necessidades pedagógicas, quanto às organizacionais, das quais servirão como base para a formatação do desenho do roteiro turístico. 55 A partir do entendimento das necessidades pedagógicas e organizacionais da viagem, o terceiro passo é contatar as empresas prestadoras de serviços (linha de integração interna), desde hotéis, restaurantes, serviços de recepção, horários e valores dos atrativos, até, se necessário, agendar horários com palestrantes, artesãos etc. 56 Figura 2: Diagrama de Serviços - Agência de turismo especializada em turismo pedagógico Fonte: Roberta Monteiro. Figura adaptada do diagrama de serviços de hospedagem em hotéis, elaborado por Zeithaml; Bitner, 2003, p. 197 57 Depois de algumas reuniões com o coordenador pedagógico (linha de interação), culminando no fechamento do roteiro turístico, será realizada a viagem (evidências físicas), tendo o guia de turismo como representante da agência. Após a viagem, é importante que o agente de turismo (linha de interação) realize avaliações com os coordenadores e professores, visando a verificar se os objetivos e expectativas da viagem foram atendidos, começando assim um novo ciclo. 2.5 A análise das necessidades e expectativas das escolas É importante que os agentes de viagens conheçam os tipos de expectativas do consumidor, evidenciando o universo que contempla as viagens pedagógicas. De acordo com Zeithaml e Bitner, as expectativas dos clientes são crenças a respeito da execução do serviço que funcionam como padrões ou pontos de referência com relação aos quais o desempenho é julgado. Conhecer o que o cliente espera é o primeiro e possivelmente o mais importante passo na prestação de serviço de qualidade (2003, p. 66). De acordo com Zeithaml e Bitner (2003, p. 78), as expectativas dos clientes podem ser determinadas pelos seguintes elementos: serviço desejado e adequado; zona de tolerância; intensificadores permanentes e transitórios de serviços; necessidades pessoais; alternativas percebidas de serviços; papel do serviço percebido pelo próprio cliente; fatores situacionais; promessas explícitas e implícitas de serviços; boca a boca, experiência passada. Estes elementos são ilustrados, conforme a figura 3. No centro da figura está a perspectiva detalhada das expectativas, ressaltando os dois níveis - desejado e adequado - e a zona de tolerância que os separa. Os elementos, mostrados com a seqüência de caixa dos lados do modelo, representam as fontes que influenciam a formação das expectativas. Um fator que influencia o serviço adequado é o serviço esperado, que é o nível de serviços que os clientes acreditam que irão receber. Desta maneira, se a escola contratar os serviços de agência especializada em turismo pedagógico, a expectativa é que o guia de turismo, não só acompanhe e esclareça informações sobre o atrativo, natural ou cultural, mas que exerça papel de articulador entre o aluno e o meio, auxiliando os professores em assuntos 58 mais específicos que foram, previamente, estudados em sala de aula, como por exemplo: botânica, história, geografia, etc. INTENSIFICADORES PERMANENTES DE SERVIÇOS - expectativas derivadas - filosofias pessoais de serviços PROMESSAS EXPLÍCITAS DE SERVIÇOS - propaganda - venda pessoal - contratos - outras comunicações NECESSIDADES PESSOAIS INTENSIFICADORES TRANSITÓRIOS DE SERVIÇOS - emergências - problemas com serviços ALTERNATIVAS PERCEBIDAS DE SERVIÇOS PAPEL DO SERVIÇO PERCEBIDO PELO PRÓPRIO CLIENTE FATORES SITUACIONAIS - mau tempo - catástrofe - aumento caótico da demanda SERVIÇO ESPERADO serviço desejado zonda de tolerância serviço adequado PROMESSAS IMPLÍCITAS DE SERVIÇOS - tangíveis - preço BOCA A BOCA - pessoal - "especialistas" (relatos de consumidores, propaganda, consultores, pessoas que nos substituem na compra de serviços EXPERIÊNCIA PASSADA SERVIÇO ESPERADO SERVIÇO PERCEBIDO Figura 3 - Natureza e determinantes das expectativas do cliente em relação aos serviços Fonte: Zeithaml e Bitner, 2003, p. 78 O serviço desejado é o nível de serviço que o cliente desejaria receber. Desta maneira, as escolas desejam que as viagens de estudo do meio organizadas pelas agências de turismo tenham êxito organizacional e operacional, proporcionando aos alunos ferramentas, onde estes possam aprender conforme previamente planejado e discutido em sala de aula. Já o serviço adequado pode ser definido como o nível de serviço que o cliente aceitará, ou seja, a expectativa mínima tolerável, o nível mais baixo de desempenho aceitável na sua perspectiva. Exemplificando: a escola tem serviço adequado ao contratar uma agência de viagens que atenda a diversos públicos, sabendo que irá usufruir do serviço de guia de turismo que acompanhará a turma e irá informar de forma genérica os aspectos principais sobre os 59 atrativos, sem ater-se em transmitir informações mais específicas, por falta de conhecimento ou de empatia, sobre o assunto a ser estudado pelo grupo, ou seja, cumprirá o roteiro planejado, mas sem estabelecer relações entre a vivência e a teoria, de forma a atingir os objetivos de ensino-aprendizagem esperados pela escola. De acordo com Zeithaml e Bitner (2003, p. 69) a zona de tolerância pode ser definida como sendo: [...] a região formada pelo reconhecimento dessa variação e pela disponibilidade em aceitá-la. Se os serviços ficarem aquém do nível de serviço adequado – nível mínimo considerado aceitável -, os clientes ficarão frustrados e sua satisfação com a empresa não deverá ser determinada. Se o desempenho dos serviços ultrapassar os limites superiores da zona de tolerância – com o desempenho excedendo o serviço desejado -, os clientes ficarão muito satisfeitos e é provável que fiquem igualmente surpresos. Sob esta ótica, um plano de viagem de estudo do meio deveria tentar traduzir claramente as expectativas da escola, especificamente no que diz respeito aos componentes do plano de ensino, com o objetivo de diminuir a lacuna entre o serviço esperado e o serviço prestado, estabelecendo um instrumento de controle comum para a agência e a escola. O quadro 3, elaborado para exemplificar esta idéia, caracteriza um plano de visita a um assentamento de trabalhadores rurais. Este modelo de roteiro turístico adaptado ao plano de ensino poderia ser ainda mais detalhado, conforme os objetivos de aprendizagem almejados pela escola contratante do serviço de uma agência de viagens. 60 Quadro 3 Agência de Turismo: Plano de visitas técnicas e viagens de estudo do meio – Visita ao Assentamento do MST Fonte: Roberta Monteiro. Quadro adaptado do plano de unidade, elaborado por Turra et al., 1995, p. 257 61 2.6 Principais questões identificadas para pesquisa Com base nos aspectos analisados neste capítulo, pode-se destacar algumas questões que julgamos ser interessantes, tais como: Verificar se as agências de turismo que atendem o público escolar são operadoras turísticas ou agências de viagens; Identificar se as agências utilizam documentos da escola como, por exemplo, o quadro curricular e o conteúdo de cada disciplina envolvida nas atividades de estudos do meio? Entender a função das agências de turismo no processo de planejamento, elaboração, realização e avaliação das atividades de campo; Verificar de que maneira os agentes de viagens identificam as necessidades pedagógicas e as expectativas dos educadores e como eles avaliam se foram realmente atendidas. Estas e outras questões provenientes da reflexão teórica estão consolidadas no roteiro de pesquisa de campo. 62 CAPÍTULO 3 – RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO Com o objetivo de observar empiricamente as relações entre escolas e agências, foi realizada a pesquisa de campo junto a dois colégios, Santa Cruz e Carandá, e duas agências, Quíron Turismo Educacional e Ambiental Expedições. A escolha para realizar a pesquisa no Colégio Santa Cruz deu-se pelo fato de ser um das primeiras escolas a realizar o estudo do meio utilizando-se dos serviços de uma Agência de Turismo. A Escola Carandá foi escolhida por realizar atividades de campo há mais de 30 anos e também por realizar atividades de estudo do meio em assentamentos do MST. A pesquisadora teve a oportunidade de participar de uma visita a um assentamento como observadora, verificando assim as atribuições da escola e da agência de turismo durante a viagem na qual irá relatar a sua experiência neste capítulo. A agência de turismo (operadora) Quíron Turismo Educacional foi escolhida por prestar serviços tanto ao Colégio Santa Cruz como ao Colégio Carandá, podendo contribuir com informações de ambas instituições. A Agência Ambiental Expedições foi escolhida por organizar viagens de estudos do meio em ambientes naturais, como Pantanal, ao Colégio Santa Cruz. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, utilizando-se roteiro elaborado a partir das variáveis destacadas na revisão teórica. Foram entrevistados o orientador educional Sr. Sílvio Hotimsky (Colégio Santa Cruz) e a coordenadora pedagógica Srta. Milena Terron (Colégio Carandá), que planejam as atividades de campo juntamente com os professores, e com os agentes de viagens Sr. José Zuquim (Agência Ambiental) e o Sr. Marcelo Salum (Agência Quíron), responsáveis pelo processo de elaboração, realização e avaliação das viagens de estudos do meio. Além das entrevistas, a pesquisa de campo incluiu acompanhamento de uma visita ao Assentamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) realizada pelo Colégio Carandá e pela Agência Quíron Turismo Educacional. 63 3.1 Colégio Santa Cruz O Colégio Santa Cruz tem suas tradições fundadas na Congregação de Santa Cruz20. No Brasil, no ano de 1952, alguns padres canadenses iniciaram as atividades pedagógicas.21. Durante os primeiros 15 anos, o Colégio Santa Cruz foi um colégio de padres, já que, além de lecionar, ocupavam todos os cargos de direção. Recém-chegados do Canadá, os jovens eram encaminhados para cursos de especialização e integrados à equipe, que chegou a contar, em 1962, com 12 religiosos. (COLÉGIO SANTA CRUZ, 2008). Inicialmente, o Colégio teve suas instalações no Ginásio Santa Cruz (sediado na Av. Higienópolis, 890)22, em casa emprestada pela Cúria Metropolitana de São Paulo. Nesta época oferecia apenas o regime de semi-internato, com 60 alunos do sexo masculino divididos em duas classes de 1º série ginasial (atual 5º série). Figura 4: Ginásio Santa Cruz, em 1952 Fonte: Colégio Santa Cruz, 2008. 20 Fundada em 1835 pelo padre Basil Moureau, na cidade francesa de Le Mans. Teve seus ideais levados para o Canadá em 1847. Naquele período, o objetivo era reconstruir o sistema escolar franco-canadense, devido a intervenção dos ingleses, um século antes. 21 No período de 1952 a 1992 o colégio foi dirigido pelo padre Lionel Corbeil e, a partir de 1993, pelo professor Luiz Eduardo Cerqueira Magalhães. 22 Desde 1957 o colégio situa-se na Avenida Arruda Botelho, 255, Alto de Pinheiros, contemplado com uma área de 50.000 m2 64 Atualmente, o Colégio conta com 192 professores e cerca de 2.750 alunos matriculados nos cursos de educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e ensino supletivo. Figura 5: Colégio Santa Cruz, em 2007 Fonte: Colégio Santa Cruz, 2008. O projeto educacional tem com proposta preparar jovens, tendo como referência três princípios norteadores, sendo eles: “a tradição e o saber humanístico do passado, a dimensão tecnológica e global que aponta para o futuro e a interação contínua com as necessidades e expectativas presentes”. Contudo, para realizar tal projeto baseou-se na articulação do dinamismo curricular e a tecnologia disponível à aprendizagem, incentivando o aluno de todas as faixas etárias a ser capaz de ter domínio crítico do conhecimento, da produção criativa e multicultural, da consciência política e da ação social. Em 06 de junho de 2008 foi realizada entrevista com o Sr. Silvio Hotimsky, graduado em Ciências Sociais, pós-graduado em Psicologia Social e especialista em Psicanálise, participa de trabalhos de campo há mais de 25 anos. No colégio há quatro orientadores educacionais no ensino fundamental 2 (5º a 8º séries), sendo que cada dupla é responsável por um ciclo. Eles organizam as atividades de estudos do meio, contanto com a colaboração da agência de turismo, ainda que as propostas sejam elaboradas pelos professores, que discutem e propõem um determinado destino e conteúdos para serem vistos. “A viagem é uma parte do trabalho, em toda a viagem tem questões, temas, conceitos a serem desenvolvidos e a viagem é um dos elementos, ou seja, o 65 trabalho em campo é um meio, pois compreende-se em um pré-campo, campo e pós-campo” (Informação verbal)23. Na etapa que se refere ao planejamento das atividades relacionadas ao estudo do meio, os professores elaboram uma proposta de trabalho, geralmente no ano anterior sendo repassadas aos orientadores pedagógicos da turma. Uma vez aprovada, os detalhes são discutidos entre os professores, orientadores e agentes de viagens, afinal “é um trabalho em conjunto entre escola e operadora” e as adequações são feitas durante a organização e realização das viagens. Esses trabalhos estão atrelados ao projeto pedagógico e utilizam os PCNs como referência, entre outros documentos da Escola. Há duas agências parceiras: a Agência Quíron (atende 5ª e 7ª séries) e a Agência Ambiental (atende 6ª e 8ª séries). Seguem abaixo as atividades desenvolvidas no ensino fundamental: • 5ª série: estuda-se a Baixada Santista, região industrializada, densamente povoada e de capital importância econômica do litoral de São Paulo, com destaque para as transformações ocorridas e os impactos causados. • 6ª série: os alunos conhecem o litoral sul de São Paulo, região escassamente povoada, pouco desenvolvida, com uma economia ainda marcada pelo extrativismo e artesanato, mas com sintomas de evolução tecnológica e áreas de minuciosa preservação ambiental. • 7ª série: a viagem é para as cidades históricas de Minas Gerais, sensibilizando o aluno para uma produção cultural que, em seus aspectos econômico, histórico, topográfico, geológico, arquitetônico, religioso, artístico e humano, é de fundamental relevância na formação da identidade nacional, qualquer que seja a definição que dermos a ela. • 8ª série: os alunos conhecem o grande ecossistema do Pantanal, onde são desenvolvidas pesquisas voltadas para os problemas ecológicos e condições de desenvolvimento sustentável. (COLÉGIO SANTA CRUZ, 2008). Após a escolha dos destinos pela escola, as operadoras fazem, inicialmente, reunião com os orientadores pedagógicos e depois com os professores. A escola apresenta a bibliografia que será utilizada pelos alunos, os principais conceitos que serão utilizados em campo; mostram toda a trajetória que se pretende realizar e a partir daí se estabelece uma 23 Dados da entrevista. Pesquisa realizada com o Sr. Silvio Hotimsky, orientador educacional, do Colégio Santa Cruz em 06/06/2008. 66 conversa com o objetivo de melhor viabilizar a proposta pedagógica, financeira e operacional da viagem. Neste momento, identificam-se quais locais a escola quer visitar, o contato com as autoridades e a comunidade. A agência operacionaliza todo o processo, realizando a melhor logística para o êxito da viagem. “Este trabalho é muito mais que personalizado, pois demanda um saber educacional. As agências viabilizam o que a escola deseja para as atividades em campo” (Informação verbal) Por ser uma atividade interdisciplinar, muitos professores se envolvem em todo o processo da viagem (pré, durante e pós), mas, segundo o Sr. Silvio, infelizmente há professor que ainda questiona o objetivo das viagens de estudos do meio, não entendendo o propósito deste método de ensino. Mesmo assim, o Colégio incentiva todos os professores encaminharem projetos para a realização destas atividades in loco, pois considera que essas atividades devem estar alinhadas com o conteúdo curricular das séries. O material didático é elaborado pela escola sendo que a agência apenas auxilia com algumas informações sobre a localidade. Na 7º série os professores elaboram uma apostila, entregando-a pronta aos alunos e na 8º série os alunos têm de elaborá-la. O Sr. Silvio foi questionado se há resistência dos pais em deixar seus filhos realizarem esses trabalhos de campo e ele informou que “os pais confiam na escola. É uma atividade considerada bem tradicional no colégio. Muitos pais que são ex-alunos já realizaram as viagens que os filhos fazem atualmente.” Referente aos aspectos financeiros que correspondem ao pagamento da viagem o Sr. Silvio informou que: Apesar de as viagens serem planejadas antecipadamente e previamente comunicadas aos pais, alguns têm dificuldades em pagar. Nesse sentido, tanto a escola, quanto a operadora tentam, da melhor forma, sanar essa dificuldade, dividindo o valor do pacote em mais parcelas, facilitando, assim, o pagamento da viagem. (Informação verbal). Segundo o Sr. Silvio, o colégio trabalha com duas agências para realizar essas viagens: a operadora Quíron que organiza as viagens a centros urbanos como a cidades de Santos (SP) e Cidades Histórias (MG); a operadora Ambiental especializada nos meios naturais como Lagamar (SP) e Pantanal (MT). Ele afirma que está satisfeito com as duas agências e que ambas operam as viagens em conjunto com a escola, colaborando em todo o processo da viagem pré, durante e pós-campo. 67 A preocupação com a saúde e segurança dos alunos são itens que o Colégio preza bastante. Desta maneira, é entregue ao aluno um formulário que deve ser rigorosamente preenchido. É uma das normas para que o aluno viaje com o grupo. De acordo com o Sr. Silvio, é necessário que a agência seja muito bem informada e flexível para adequar-se a adaptações que devem ser realizadas, devido a mudanças de última hora. Ele informou como exemplo, uma viagem à Chapada dos Guimarães, onde devido a um deslizamento de terras24, que impossibilitou a entrada dos alunos no parque, a agência teve que oferecer outros locais para que os objetivos pedagógicos da viagem fossem mantidos, não causando prejuízo aos alunos. “Os monitores contratados pela agência são muito mais que guias eles são pessoas qualificadas por terem conhecimento sobre determinados assuntos e também por terem aptidão para lidar com adolescentes” (Informação verbal). A etapa de avaliação com os alunos tem como princípio que sejam socializadas as informações obtidas durante a viagem com os demais colegas. Segundo o Sr. Silvio (2008), “Cada trabalho de campo gera um produto. Este ano os alunos têm de fazer um painel e um artigo científico. Neste momento, é entre eles, e no final do ano são incluídas outras turmas”. A avaliação do aluno pode acontecer de diversas formas, ou seja, desde um relato ficcional que pode transformar-se em uma peça teatral ou artigo científico dando destaque a um problema que culmina em debates, a até, por exemplo, uma avaliação mais objetiva, contando com perguntas e respostas. É importante ressaltar que, quando questionado sobre sua opinião referente à terminologia utilizada, o entrevistado afirmou não achar apropriado o termo “Turismo Pedagógico”, pois, para ele, o termo turismo associa-se a passeio, quando a finalidade dessas viagens é estudo, preferindo assim referir-se a essa atividade como “trabalhos em campo”. 3.2 Escola Carandá A Escola Carandá, está atuando na área de educação desde 1978, situa-se na Rua Diogo de Faria, 1338, bairro Vila Mariana na cidade de São Paulo – SP - e dá subsídios para 24 “Deslizamento fere cinco na Chapada dos Guimarães: Grupo de 35 turistas estava fazendo trilha no parque de Mato Grosso”. (http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora acesso em 15 de junho de 2008) 68 que os alunos sejam “seres integrais, que só se desenvolvem harmoniosamente se o intelecto, a emoção e a socialização forem tratados com o mesmo cuidado”. A Escola Carandá nasceu com o objetivo educacional que visa primordialmente o Ser Humano - único, total, livre, flexível, responsável, cooperador e criativo que utiliza seus conhecimentos para criticar, participar, cooperar e reformular a sociedade em mudança. Nela, o aluno aprende a enfrentar os desafios que a vida e os novos tempos irão propor. Desenvolve, harmoniosamente, suas potencialidades intelectuais, físicas e emocionais. (ESCOLA CARANDÁ, 2008). No dia 13 de junho de 2008 foi realizada entrevista com a Srta. Milena Terron, coordenadora pedagógica do ensino fundamental ciclos 3 e 4 (5º a 8º séries). Formada em pedagogia trabalha na escola há 10 anos. De acordo com a Srta. Milena, as viagens de estudos do meio acontecem desde o início de suas atividades, ou seja, há 30 anos. É um trabalho interdisciplinar que se aprimora a cada ano. A linha pedagógica utilizada pela escola é a construtivista: “incentivamos que o aluno construa o seu conhecimento por meio de perguntas, reflexões, discussões e que não absorva apenas informações passadas pelo professor, incentivamos o diálogo”. A terminologia utilizada pela escola é “estudo do meio” ou “saídas curriculares”, mas não se opõe à terminologia “turismo pedagógico”. No ensino fundamental, ciclos 1 e 2, (1º a 4º séries) o estudo do meio é realizado por meio de visitas, ou seja, os alunos não dormem no destino, já no ensino fundamental 2, ciclos 3 e 4 (5º a 8º séries) os alunos realizam tanto visitas, quanto viagens sendo que em muitos casos precisam pernoitar no destino. Na 5º série os alunos visitam o Parque Varvito situado na cidade de Itu (SP). O grupo também viaja para a cidade de Santos (SP). O objetivo desta primeira viagem é entender a essência do estudo do meio como método de ensino, ou seja, como devem observar, analisar e registrar as informações que são necessárias para o aprendizado. Já na 6º série os alunos realizam a visita ao centro da cidade de São Paulo verificando a arquitetura, entre outros elementos, e a viagem é realizada para Rancho Paumar25 em Itatiba (SP). De acordo com a Srta. Milena, esta viagem tem como objetivo “propiciar que o aluno tenha um olhar diferenciado para observar elementos da natureza e perceber a importância da cooperação perante o grupo” 25 http://www.paumar.com.br/quem_somos.htm 69 Na 7º série a visita é para o Assentamento do MST26 (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra) localizado na cidade de Sumaré (SP). Já a viagem tem como destino o Parque Estadual da Serra do Mar - Núcleo Picinguaba27 em Ubatuba (SP). “Os alunos estudam a mata Atlântica, mata de restinga, os costões rochosos, além de conhecerem um pouco da cultura caiçara em conversas com moradores locais”. Na 8º série os alunos lêem o livro O Cortiço, de Aluisio de Azevedo e visitam um cortiço, além de viajarem para as Cidades Históricas, verificando, in loco, um pouco mais sobre a história do Brasil Colonial. De acordo com a Srta. Milena, pelo fato da Quíron trabalhar há muito tempo com a escola, as necessidades pedagógicas são sempre atendidas, havendo apenas algumas reuniões prévias. Entretanto, quando é um destino que será realizado pela primeira vez, como acontece este ano com o Núcleo Picinguaba, em substituição à Ilha do Cardoso (SP), o processo de planejamento tem de ser mais detalhado havendo mais reuniões com os orientadores pedagógicos e professores. Em alguns casos, os professores das disciplinas envolvidas vão antecipadamente ao destino para coletar informações mais específicas, com o objetivo de elaborar o material didático mais detalhado e, assim, completo. Além disso, a escola conta com a colaboração do monitor, por ser especialista em determinada área. “No caso de Picinguaba solicitamos que o monitor seja biólogo e que conheça muito bem a localidade para auxiliar-nos na elaboração do roteiro e da apostila que será utilizada pelos alunos”. Nos demais casos, onde os destinos já foram realizados, os professores adequam as informações nas apostilas, conforme as necessidades pedagógicas de cada turma. Por fim, a Quíron providencia a impressão com o logotipo da escola e da operadora, além da quantidade necessária. Esse material é encaminhado previamente aos professores, complementando o livro didático utilizado em sala de aula. A Srta. Milena informou que, neste ano, os professores de história, do ensino infantil ao médio, reuniram-se diversas vezes para verificar se há lacunas no aprendizado dos alunos, pois é preciso que se tenha uma seqüência no conteúdo. A entrevistada ressalta que os “PCNs são utilizados para reflexão, discussão e conforme o interesse é feita adaptação no currículo” O estudo do meio está contemplado no projeto pedagógico com o título de “saídas curriculares”. O Colégio utiliza este método de ensino há mais de 30 anos e considera os resultados como sendo muito positivos. Sobre a relevância do estudo do meio, a entrevistada 26 27 A visita ao Assentamento será detalhada mais no final deste capítulo. http://www.saopaulo.sp.gov.br/saopaulo/turismo/int_tureco_picing.htm 70 citou o caso de um aluno que tinha dificuldades na disciplina de história e, ao voltar da viagem de Ouro Preto, apresentou significativo progresso no aprendizado nessa disciplina. Referente à parte financeira a operadora passa o valor do pacote à escola, utilizando contrato de prestação de serviços e, a escola com base no valor e levando em consideração as horas extras dos professores que irão acompanhar a viagem, repassa o cálculo aos pais já no inicio do ano. Quando necessário, a agência de turismo parcela em mais vezes para os pais que têm dificuldades em pagar Além de os professores acompanharem os alunos em todas as viagens, uma orientadora educacional também os acompanha. Segundo a entrevistada, “enquanto o professor preocupa-se com o conteúdo, a orientadora Isa Maria Telles Silveira, psicóloga, acompanha os alunos com o objetivo de auxiliar nos aspectos psicológicos e sociais”. A Srta. Milena elogiou o trabalho da agência de turismo referente à logística da viagem e à escolha dos serviços turísticos oferecidos (hospedagem, alimentação, transporte), observando que gosta muito de ter a parceria com a Quíron, pois eles auxiliam a Escola sempre que este precisa modificar ou inovar algo, “da melhor maneira possível”. Quando algo não atende às expectativas, basta informar que a Agência providencia alterações nas próximas viagens. O contato com o destino é feito pela agência inclusive quando tem palestras ou entrevistas com pessoas da comunidade. Ela salienta ainda que “os monitores além de serem profissionais qualificados, são muito atenciosos com o grupo. Eles auxiliam os alunos despertando interesse em determinados assuntos, pois já leram a apostila que será utilizada pelos discentes”. Além da ficha de saúde, a escola solicita que seja assinado um termo de compromisso para que o aluno esteja ciente sobre aspectos como bebida, levar objetos indevidos, quebrar algo durante a viagem, alguns procedimentos e comportamentos que deverão ser respeitados. A avaliação realizada aos alunos começa já no destino, é diária e individual. A coordenação estipula um peso para cada requisito há pesos diferentes levando em consideração os seguintes critérios: organização, cooperação, responsabilidade, além da parte educacional que cada professor tem o livre arbítrio para avaliá-lo, podendo ser por meio de uma avaliação escrita, peça teatral, elaboração de um jornal. De acordo com a Srta Milena, todos os alunos devem entregar a apostila preenchida para serem avaliados, mesmo aqueles que não foram à viagem. 71 3.3 Quíron Turismo Educacional A Quíron Turismo Educacional atua no mercado de viagens de estudos do meio e formatura desde 1992. Situa-se na cidade de São Paulo, na Rua Fernão Dias 125. Foi realizada entrevista em 19 de junho de 2008 com Sr. Marcelo Salum, economista e pósgraduado em planejamento e marketing turístico, atuando neste nicho de mercado, desde 1992 como agente de viagem. O Sr. Marcelo informou que, durante o processo de planejamento das viagens ocorrem previamente reuniões com os coordenadores pedagógicos, orientadores educacionais e professores. O intuito desses encontros é entender as necessidades pedagógicas da turma de alunos que irá realizar o estudo do meio, levando em consideração o conteúdo ministrado pelos professores das disciplinas envolvidas. Apesar da operadora não ter contato com o projeto pedagógico, nem com o quadro curricular da turma, o Sr. Marcelo salienta que “todas as informações importantes são passadas verbalmente pelos orientadores e professores”. Com base nessas informações, o agente de viagem e os professores começam a desenhar o roteiro turístico, desde o destino e atrativos a serem visitados até contatar as pessoas da comunidade consideradas importantes de serem entrevistadas pelos alunos, visando a melhor suprir as necessidades pedagógicas dos discentes. Os monitores que acompanham os grupos de alunos durantes as viagens são, inúmeras vezes, guias de turismo (muitos registrados pela EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo), e todos os profissionais que prestam serviços na operadora são graduados nas mais diversas áreas (história, geografia, biologia, ecologia, etc). Esses profissionais, além de passarem informações gerais e específicas sobre determinado destino ou atrativo, são qualificados para se preocuparem com questões referentes à integridade física e psíquica dos alunos e professores28. No que se refere às linhas pedagógicas, o Sr. Marcelo informou que a maioria das escolas considera-se construtivista, por trabalharem com o estudo do meio e já terem a concepção de que o aluno tem a possibilidade de construir o seu conhecimento. Entretanto, observou que a referência pedagógica utilizada pela escola não interfere no planejamento ou operação das viagens, já que as escolas informam antecipadamente as suas necessidades. 28 Desta maneira, a agência faz uma ficha de saúde que é passada para os alunos e professores preencher, colocando se há alguma contra-indicação a remédios, alergia a algum inseto. 72 Apesar da operadora já ter alguns destinos estabelecidos para a realização das viagens de estudo, como veremos a seguir, ela adapta os roteiros turísticos mais “tradicionais” ou elabora um novo roteiro, pois o objetivo é atender as necessidades pedagógicas, financeiras e organizacionais de cada grupo de aluno. Como exemplos de roteiros, foram citados: • Praia do Forte (Salvador / BA): arte barroca baiana, Brasil Colonial, preservação ambiental, conservação ambiental, manifestações culturais; • Pantanal – (MT): regime hídrico do Rio Paraguai, o homem pantaneiro, fauna e flora do Pantanal e Bonito, turismo e seus impactos, formações cársticas; • Brasília – Chapada dos Veadeiros (DF / GO): organização política e federal, planejamento urbano, arquitetura moderna, movimentos migratórios e expansão urbana, unidades de conservação: cerrado e matas de galeria; • Cavernas do Petar (SP): espeleologia, preservação comunidades quilombolas, geomorfologia e biodiversidade; ambiental, • Projetos Literários - Grande Sertão Veredas (MG): viagem de barco com pernoite pelo Rio São Francisco, a biodiversidade do Parque Nacional, grande sertão veredas, espeleologia no Parque Nacional e Cavernas do Peruaçu; • Os sertões: Guerra de Canudos (BA): início do Brasil República, diferenças sociais entre o litoral pré-industrial e o interior agrário, o sertanejo, a flora e a fauna da caatinga brasileira, a literatura prémodernista, transformação de energia: UH Paulo Afonso; • São Paulo (SP): urbanização, industrialização, imigração, patrimônio histórico e cultural; • Campinas I (SP): Holambra (monocultura do café e transporte ferroviário, imigração, astronomia, relação entre zonas urbanas e rurais e produção e comércio agrícolas); • Campinas II (SP): Indaiatuba e Sumaré (ocupação do interior paulista, relação de trabalho e propriedade e movimentos sociais/MST); • Roteiro dos Bandeirantes (SP): Santana de Parnaíba, Pirapora, Porto Feliz, Salto e Itu (bandeirantismo, problemática ambiental e social do Rio Tietê, geomorfologia dos varvitos de Itu e preservação patrimonial e memória); • Tiradentes, São João del Rey, Congonhas do Campo, Ouro Preto, Mariana, Sabará, Parque Natural do Caraça (MG): arte barroca mineira, Brasil Colonial, conspiração mineira e exploração do ouro, arquitetura e estratos sociais, processo seletivo de memória, patrimônio histórico e ambiental, ambientes naturais: cerrado, matas de galerias, campos rupestres e mineração atual; • Oeste Paulista I (SP): Limeira, Iracemápolis, Cordeirópolis: (industrialização do interior, preservação patrimonial e ocupação do solo: 73 cana-de-açúcar e cítricos); • Oeste Paulista II (SP): Ribeirão Preto, Sertãozinho, Araçatuba e Ilha Solteira: (relações de trabalho e propriedade, ocupação do interior: monoculturas e pecuária, industrialização, movimentos sociais – MST, preservação ambiental e transformação de energia); • Barra Bonita, Corumbataí e Jundiaí (SP): gerenciamento de recursos hídricos, transformação e utilização de energia, impactos ambientais, produções industrial e artesanal; • Juréia (SP): biodiversidade, ambiente litorâneos, conservação: ocupação humana e preservação ambiental; unidades de • Baixada Santista (SP): Santos, Cubatão, Bertioga e Guarujá (Patrimônio histórico e cultural, biodiversidade, preservação ambiental, ambientes litorâneos, vocações turística, industrial, comercial e portuária); • Ilha do Cardoso (SP): Iguape, Cananéia, Ilha do Cardoso e Ilha Comprida (Patrimônio histórico, cultural e arqueológico (sambaquis), preservação ambiental, biodiversidade, ambientes litorâneos, unidades de conservação, comunidades locais (indígenas, quilombolas e caiçaras); • Angra dos Reis (RJ): patrimônio histórico e cultural, arquitetura colonial, preservação ambiental, biodiversidade, unidades de conservação, comunidades caiçaras, utilização de recursos naturais, etc. (QUIRON, 2008) Tendo delineado as informações de planejamento como data, destino, quantidade e perfil dos alunos, começa então a parte operacional, ou seja, a operadora inicia o contato com os prestadores de serviços turísticos. Desde os meios de transportes que serão utilizados durante a viagem, sejam aéreo, rodoviário, fluvial ou marítimo até a procedência e a reserva dos restaurantes. De acordo com o Sr. Marcelo, quando a viagem ocorre pela primeira vez com um grupo de alunos, a operadora encaminha um colaborador da empresa que, juntamente com o professor, planejam o trajeto que os alunos irão fazer, visando a adquirir mais informações sobre a localidade, além de minimizar possíveis transtornos e manter um contato direto com a comunidade receptora. Além do planejamento e organização outra etapa essencial para o bom desenvolvimento das atividades pedagógicas é o da avaliação. O Sr. Marcelo enfatizou que é, neste momento, que ele verifica se houve problemas durante a viagem e faz questão de saber a opinião e sugestões dos professores que acompanharam o grupo, pois é por meio dos docentes que o agente de viagem verifica se as necessidades pedagógicas dos discentes foram supridas. Neste sentido, muitas escolas fazem questão de chamar o agente de viagem e os monitores que acompanharam o grupo para presenciarem os trabalhos posteriormente desenvolvidos pelos alunos, seja uma peça de teatro, jornal, mesa redonda, etc. Este é o 74 momento de finalização das atividades de campo realizadas, para assim dar início às atividades de estudo do meio do semestre/ano seguinte. Foi perguntado se alguma escola, no final de cada viagem, sociabiliza os trabalhos escolares, elaborados pelos alunos, com a comunidade visitada. Ele disse que infelizmente não, mas que incentivaria esta ação da escola perante a comunidade que a recebe, já que a escola vai justamente para estudar a localidade, podendo, assim, colaborar com possíveis problemas, portanto, integrando o senso comum com o cientifico. No entanto, o Sr. Marcelo não concorda que, ao visitar uma localidade, a escola leve “agradinhos” como livros didáticos, pois o aluno pode tornar-se conivente com a situação e achar que está fazendo a sua parte enquanto cidadão, porém sem enxergar de fato a situação real das pessoas que moram na localidade. Contudo, ele diz não ser contra a comunidade cobrar uma taxa para mostrar a sua cultura, como por exemplo, as comunidades quilombolas e indígenas. A operadora facilita o pagamento das viagens, dividindo-a em diversas parcelas, possibilitando que todos os alunos participem das viagens, pois são atividades pedagógicas que irão colaborar com a formação do aluno. Algumas escolas pedem que a agência coloque no valor um percentual a mais, podendo assim negociar com os pais dos alunos que precisam desta atenção. 3.4 Agência Ambiental Expedições A Agência Ambiental Expedições encontra-se na Avenida Brigadeiro Faria Lima, 156 na cidade de São Paulo – SP e, atua no mercado, desde 1987, realizando viagens em ambientes naturais, principalmente no segmento de Ecoturismo, Turismo Pedagógico, de Incentivo e Receptivo. A operadora de turismo conta com o know how dos sócios e geógrafos Israel Waligora e José Zuquim (conhecido como “Zezão”), além de uma equipe de colaboradores que auxilia no processo de organização e realização dessas viagens. Há 21 anos vem atuando com escolas do ensino fundamental, médio e com algumas universidades, tendo como objetivo levar grupos de estudantes para conhecerem diferentes ecossistemas. Dentre os diversos locais que a operadora organiza, tanto no Brasil quanto no exterior, destacam-se: 75 Pantanal, Fernando de Noronha, Amazônia, Macho Pichu, Patagônia, Namíbia, Quênia, Tanzânia, entre outros. Em 17 de julho de 2008, foi realizada entrevista com o Sr. José Zuquim, onde questões como planejamento, organização e avaliação das viagens de estudos do meio foram abordadas. De acordo com Sr. Zuquim “a proposta da operadora não é transformar os estudantes em ambientalistas, mas cidadãos conscientes da importância da natureza e das comunidades tradicionais que nelas habitam”. Vale ressaltar que esse ideal vem de uma época em que ainda não estavam em evidência aspectos como sustentabilidade e escassez de recursos naturais. Durante o planejamento dessas viagens são realizadas diversas reuniões com coordenadores pedagógicos e orientadores educacionais, bem como, com os professores responsáveis pelas disciplinas envolvidas. Esses encontros servem para conhecer e entender as necessidades pedagógicas da escola. É o momento em que a operadora tem acesso a documentos como projeto pedagógico, quadro curricular, bem como a conteúdos desenvolvidos pelos professores em sala de aula. Com base nessas informações, a operadora consegue diagnosticar os objetivos pedagógicos da viagem orientando, quando necessário, o melhor destino a ser visitado. Segundo o Sr. Zuquim, é “neste momento que viramos quase que um consultor da escola”. Para ele, no entanto, muitas escolas não se preparam previamente para a realização do estudo do meio. Mas como a operadora sabe que é um serviço qualificado e de custo elevado, ela faz questão de utilizar todo o seu conhecimento pedagógico adquirido durante esses anos para auxiliar e, assim, prestar um serviço no qual o aluno possa usufruir a essência do estudo do meio, ou seja, a interface entre a teoria e a prática. O Sr. Zuquim enfatiza que muitos pedagogos ainda têm preconceito com a palavra “turismo”. No entanto, ele acredita que muitos deles ainda não conhecem realmente o potencial e a importância deste setor para a educação, pois a junção da Educação com o Turismo só tende a trazer resultados positivos para o aprendizado dos alunos. Acrescenta ainda que, “apesar de a escola e a operadora terem funções distintas, cada qual tem o seu papel no processo da viagem, ou seja, a parte pedagógica é responsabilidade da escola e a parte organizacional da agência, elas se complementam”. Contudo, apesar de a operadora não elaborar material didático informativo para as escolas, fornece as informações necessárias da localidade a ser visitada para os professores produzi-las. O Sr. Zuquim acredita que essas viagens requerem trabalho de parceria e confiança entre a escola, a operadora e a comunidade 76 receptora, pois, para que o estudo do meio aconteça de maneira positiva, é importante o envolvimento de cada uma das partes. O planejamento das viagens acontece em um período de tempo significativo, pois a operadora, além de precisar entender as necessidades pedagógicas da escola, precisa também possibilitar aos pais dos alunos se organizarem financeiramente, pois muitos preferem pagar o pacote em diversas parcelas, já que muitos têm mais de um filho estudando na mesma escola. Nesse sentido, apesar de os contratos de prestação de serviços serem realizados com a escola, os pais estão diretamente ligados com a operadora, no que diz respeito aos aspectos financeiros. Uma vez que as necessidades pedagógicas e financeiras foram sanadas pela operadora, inicia-se o processo de contratação dos serviços turísticos (transporte, hospedagem, alimentação, visitas a atrativos naturais e culturais), visando a atender as necessidades organizacionais do grupo de alunos em questão. O Sr. Zuquim salienta que os monitores que acompanham os alunos são graduandos ou graduados, pois dependendo do foco da viagem, será designado um profissional específico da área (ex: biólogo, geógrafo ou historiador) para acompanhar o grupo. Esse profissional é qualificado e capacitado para auxiliar os professores, tanto em questões pedagógicas, como organizacionais da viagem. Por fim, a agência de turismo realiza o processo de avaliação com os coordenadores, orientadores e professores. As informações obtidas nessas reuniões são repassadas aos monitores e prestadores de serviços turísticos, quando necessário. O Sr. Zuquim informou que algumas escolas ao estudarem determinado local e, ao voltarem no mesmo destino levam, o material produzido na visita anterior, podendo ser fotos, filmes, projetos, etc. estreitando, cada vez mais, os laços entre o aluno-turista e o anfitrião, mas que esta atitude ainda é incipiente. 3.5 Visita ao Assentamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) realizada pela Escola Carandá e Quíron Turismo Educacional A pesquisadora realizou a visita ao assentamento, pois acreditou ser importante ver in loco como as atividades de estudo do meio acontecem de fato. Utilizou como método a observação e fez entrevista não estruturada com o professor, orientadora pedagógica, alunos, 77 monitor e com os anfitriões, visando a entender melhor a opinião de cada um sobre os aspectos que envolvem atividades de estudo do meio. Para tanto, foram utilizados caderno de campo, máquina fotográfica e gravador. Vale ressaltar que não foi autorizado pela escola que fossem feitas fotos dos rostos dos alunos, sendo permitido fotografias apenas de perfil. Os responsáveis por acompanhar o grupo foram o Sr. José Cláudio Escobar da Costa, professor de geografia e Isa Maria Telles Silveira, orientadora pedagógica, representando a Escola Carandá e o monitor Eduardo Pedro Noffs, historiador graduado pela Universidade de São Paulo, representando a Agência Quíron. Esta atividade de campo foi direcionada aos alunos da 7º série. A Escola Carandá contratou os serviços da operadora Quíron Turismo Educacional para organizar a visita a duas propriedades rurais. A primeira é propriedade de meeiros, contendo plantação de uvas e localizada na cidade de Indaiatuba (SP). A segunda propriedade é um assentamento do MST, localizado em Sumaré (SP). Essa atividade pedagógica aconteceu em 05 de junho de 2007. O objetivo de acompanhar esse grupo de alunos (da 7ª série do ensino fundamental), na visita a um assentamento, foi para observar de que maneira o estudo do meio é planejado, organizado e avaliado, tanto pela Escola quanto pela Agência, e como os alunos e os anfitriões entendem essa atividade de campo. A atividade iniciou-se com o monitor explicando o roteiro que o grupo iria fazer, contextualizando fatos importantes do cenário agrário brasileiro. Ele deu algumas orientações de comportamento e informações gerais. A primeira parada foi no “Sítio dos Meninos” tendo como proprietários o casal Sr. Waldomiro e Sra. Valquíria como registrado na figura 6. Mas antes de sermos recebidos por eles, o professor de geografia fez algumas observações relembrando conteúdos desenvolvidos em sala de aula, especificamente sobre meeiros e proprietários de terras, contextualizando os alunos perante o que seria visto in loco e chamando atenção para alguns detalhes que deveriam ser melhor analisados. A seguir, os alunos ouviram a palestra do proprietário da fazenda. Diversos deles fizeram perguntas já planejadas em sala de aula, sendo todas respondidas pelo entrevistado. Após esta reunião de recepção, foram oferecidos aos alunos cachos de uvas recém-colhidos Neste momento, o objetivo era integrar o grupo de alunos com os fazendeiros. 78 Segundo o Sr. Valdomiro, “é muito bom receber os alunos, pois muitas vezes eles chegam à fazenda com uma imagem errada da função do meeiro; acham que são explorados”. Para ele, na verdade é uma troca. Assim ele afirma que: [...] eu forneço a terra para eles plantarem. Além de não pagarem água, luz, aluguel, entre outras coisas, recebem também um salário mínimo [...] Em troca eles plantam e depois a gente divide tudo em meio a meio (Informação verbal)29. Figura 6: Fotografia tirada em 05/06/2007 – Sr. Valdomiro e Sra. Valquíria Fonte: Acervo particular Roberta Monteiro Já para a Sra. Valquíria “é muito bom quando um aluno vê a plantação e experimenta a fruta tirada direto do pé”. Após a confraternização os alunos dividiram-se em grupos e aplicaram questionários aos meeiros (ver figura 7), abordando algumas questões como “idade, tempo de trabalho na fazenda, como ficou sabendo daquele lugar, se tem família etc”. No final da visita os alunos fizeram uma roda de conversa e dialogaram sobre os aspectos que mais lhes chamaram a atenção, estabelecendo relação sobre o que viram na teoria e na prática, com auxílio de uma apostila elaborada pelos professores da Escola, com o apoio da Quíron. 29 Dados da entrevista não estruturada realizada com o Sr. Valdomiro, proprietário do “Sítio dos Meninos”, realizada em 05/06/2007. 79 Figura 7- tirada em 05/06/2007 – alunos entrevistando meeiro Fonte: Roberta Monteiro No segundo momento, o grupo dirigiu-se para o assentamento do MST na cidade de Sumaré (SP)30. Os alunos chegaram ao local, foram recebidos pela Sra. Cecília31 e almoçaram (refeição servida pelos assentados). Após o almoço, dois líderes comunitários (Sr. Calisto e Sr. Leoni), ministraram palestra para os alunos abordando aspectos que remetiam à história do assentamento, à reforma agrária no país e aos projetos que estavam sendo por eles desenvolvidos, como demonstrado na figura 8. Depois da palestra os alunos entrevistaram alguns moradores com perguntas já definidas. E por fim, no ônibus, fizeram algumas colocações e voltamos para São Paulo. Figura 8: Fotografia tirada em 05/06/2007 – Representantes do MST Fonte: Acervo particular Roberta Monteiro 30 De acordo com Eduardo Noffs, monitor e historiador, esse assentamento é conhecido como o primeiro de São Paulo. Em 2004 o Assentamento completou vinte anos da sua implantação e para comemorar foi publicado um livro cujo titulo é "Terra Nossa Prometida", escrito por José Pedro, relatando seus vinte anos de luta. 31 A Sra. Cecília é o contato das agências com o assentamento. Ela informou que “é muito bom receber as escolas, pois desta forma eles aprendem um pouco sobre a nossa história, além de ganharmos um dinheirinho. Construímos este galpão e os banheiros, sendo que este ambiente serve como escola e também para recebermos os convidados.” 80 Em entrevista não estruturada com os alunos foi perguntado sobre a opinião deles referente às atividades fora da sala de aula e as respostas foram as seguintes: “Eu gosto muito dessas visitas”, “muitas vezes, aprendo mais durante as visitas do que quando o professor fala durante as aulas”, “É muito legal encontrar os monitores da Quíron nessas viagens, pois são sempre bem informados e conseguem falar a nossa língua.”, “Tem assunto que o professor explica e é chato e quando monitor fala é mais legal, faz a gente pensar no assunto”, “[...] é bem legal aprender as coisas em sala de aula e depois ver tudo ao vivo e a cores”, “Quando a viagem tem muita coisa para fazer fica muito cansativa e a gente às vezes não consegue prestar atenção em tudo”. Com base no depoimento dos alunos, percebeu-se que eles gostam dessas atividades mas, para que estas possam ter bons resultados, precisam ser bem planejadas pelos professores ainda em sala de aula. É preciso fazer com que o aluno se interesse principalmente pelas informações que serão transmitidas e assim refletidas, mas também é necessário que sejam programados momentos de entretenimento e confraternização. Já para o monitor Eduardo, [...] É importante compartilhar conhecimentos com os alunos e a gente aprende muito com eles também, há muito adulto que é cheio de preconceito e eles não. Infelizmente há pais que não deixam seus filhos visitarem assentamentos, cortiços ou favelas... Isso é triste, pois acredito que o estudo do meio serve para refletirmos sobre a realidade de nosso país (Informação verbal)32 De acordo com a Sra. Isa, orientadora pedagógica, essas viagens são fundamentais para o aprendizado do aluno, considerando que este é um aprendizado que eles levam por toda a vida, que é inesquecível. A entrevistada trabalha há 25 anos com Educação e considera muito gratificante quando um ex-aluno retorna à escola e lembra-se das suas experiências de estudo do meio. Desta forma, percebe-se que essas viagens não agregam apenas conhecimento intelectual, mas social e humanístico. Foi perguntado ao professor Cláudio se a Escola Carandá socializa as informações adquiridas por meio das entrevistas realizadas com os fazendeiros, meeiros e membros do assentamento, mas, segundo ele, as questões abordadas e refletidas em sala de aula ficam no cenário escolar. 32 Dados da entrevista de Eduardo Noffs, historiador, monitor da Quiron Turismo Educacional, realizada em 05/06/2007. 81 Em suma, as entrevistas foram muito positivas para a pesquisa, pois por meio delas, percebeu-se que houve cooperação e interesse dos educadores, agentes de viagens, monitor, alunos e anfitriões, ao responderem questões significativas para se compreender melhor as atividades de estudo do meio. 82 CONSIDERAÇÕES FINAIS Compreender a importância da educação e de que maneira ela pode contribuir com a evolução humana, seja no âmbito familiar, social, cultural ou intelectual, foi essencial para entender as diferentes formas de aprendizado utilizadas pelo Homem. Muitos educadores se dedicaram ao saber humano, com o objetivo de criar métodos e técnicas, contribuindo com o aprendizado das crianças, dos adolescentes e também dos adultos. Percebeu-se que esses pensadores buscaram entender as necessidades educacionais do outro, e a partir delas, desenvolveram princípios educacionais. Nesse sentido, foi constatado por meio das entrevistas com docentes e discentes, que o estudo do meio é um método de ensino bem eficaz, confirmando o que muitos autores relataram em suas obras. Identificou-se que muitas escolas particulares na cidade de São Paulo realizam atividades de campo, utilizando os serviços de operadoras turísticas para organizar essas viagens e visitas de estudos do meio, possibilitando ao aluno aprender além de conceitos teóricos em sala de aula, experiência-los por meio das atividades empíricas envolvendo-os de fato com o meio. Destarte, as Instituições de Ensino perceberam que é de fundamental importância a relação entre a teoria e a prática, visando a atender às necessidades didáticopedagógicas, principalmente de algumas disciplinas como geografia, história, biologia, ciências naturais, etc. Estudar o universo das agências de viagens no mundo e no Brasil propiciou melhor conhecer essas empresas prestadoras de serviços e as estratégias de marketing utilizadas, bem como distinguir quais são as atribuições das agências de turismo, principalmente das operadoras turísticas ou agências produtoras, que foram objeto de pesquisa deste trabalho. Dessa forma, foi possível compreender que os diferenciais são fundamentais para que a agência formate os pacotes turísticos, individuais ou coletivos, é necessário que ela conheça o público e o destino a ser visitado, não somente levando em consideração os serviços turísticos, mas inclusive a infra-estrutura básica, serviços públicos, atrativos e essencialmente os anseios da comunidade local, pois acredita que é do êxito dessa relação de coexistência – agência de turismo, turista e anfitrião - que poderá culminar em bons resultados, não somente econômicos, mas fundamentalmente culturais e sociais. 83 Contudo, na prestação de serviços de viagens, o consumidor avalia, não somente os equipamentos modernos e eficazes que a agência de turismo e os fornecedores de serviços – hotéis, restaurantes – oferecem, mas também a forma ética e responsável pela qual esses produtos estão sendo oferecidos ao mercado, bem como se as informações veiculadas são fidedignas. Assim, é importante que os agentes de viagem conheçam as necessidades e desejos dos clientes, verificando os diferentes tipos de expectativas envolvidas, lembrando que as mesmas são dinâmicas. Para que haja esse conhecimento por parte das agências de turismo é preciso que sejam monitoras continuamente essas mudanças por meio de questionários e entrevistas com os coordenadores pedagógicos e professores, levando em consideração, fundamentalmente, as normas que norteiam os aspectos educacionais. As viagens de estudos do meio e as visitas técnicas têm por objetivo estimular o senso crítico do aluno, fazendo com que a reflexão e discussão dos assuntos, inicialmente abordados em sala de aula, estejam presentes em todo o processo de ensino, trazendo à luz do saber não somente o aprendizado pessoal ou escolar, mas o compromisso social, cultural e ambiental. Entretanto, infelizmente, essa experiência ainda é para poucos, já que é um serviço de alto custo, limitando-se aos alunos de escolas particulares. Os destinos são escolhidos pelas escolas, visando a suprir necessidades pedagógicas contidas no planejamento curricular de determinada série, mas em muitos casos, ao chegar a esses locais, o grupo acaba refletindo sobre diversos problemas que são analisados. No entanto, o universo estudado fica apenas no cenário escolar, sendo que poderia ser socializado com a comunidade receptora. Deste modo, constatou-se ser ainda muito incipiente essa atitude. Há possibilidades de mudar esse quadro, pois ao conversar com os educadores, verificou-se grande interesse em desenvolver projetos que possam contribuir com o desenvolvimento da localidade ou, até mesmo, sanar possíveis problemas diagnosticados durante as viagens. Para tanto, é fundamental que os anfitriões - poder público, privado e comunidade local - acolham os turistas com hospitalidade na esfera comercial, doméstica, pública e virtual. Neste sentido, a cidade deve preocupar-se constantemente com a melhoria da oferta turística. Já a demanda - alunos, professores e agências de turismo - deve buscar locais onde haja possibilidade de estudo e aprendizado, no qual a viagem passe a ser planejada como atividade de ampliação/construção de conhecimentos e não como “passeio”. Assim, identificou-se que as agências de turismo pesquisadas, demonstraram preocupar-se, não apenas com a elaboração adequada de pacotes turísticos para o público 84 estudantil, mas também, com os roteiros que deverão estar atrelados ao planejamento educacional, pois constatou-se que os educadores consideram os agentes de viagens como parceiros, pois em todo o processo há interdependências de informações, desde o planejamento, perpassando pela elaboração e a organização, até a fase de avaliação no que tange aos aspectos pedagógicos e dados sobre o destino visitado. Aspira-se que essa pesquisa seja o inicio de muitas, principalmente no que diz respeito ao aspecto da hospitalidade, nos destinos que as escolas e agências de turismo utilizam para desenvolver as atividades de estudo do meio. 85 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACERENZA, Miguel Angel. Administração do turismo: conceituação e organização. Tradução Graciela Rabuske Hendges. Bauru, SP: EDUCS, 2003. v. 2 (Coleção Turismo). 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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Escola de Comunicação e Artes. Viagem a serviço da escola: a concepção de turismo pedagógico pelas agências de turismo do Brasil – elaboração: Michelle Maria Siqueira; Ronaldo dos Santos Ornelas. São Paulo, 2005. 99 Revistas científicas TURISMO EM ANÁLISE, São Paulo: ECA-USP, v. 3, n. 1, p. 72, maio 1982. REVISTA HOSPITALIDADE, São Paulo: Anhembi Morumbi. REVISTA COMUNICARTE, São Paulo: PUC Campinas. CADERNOS UNIBERO, São Paulo: Centro Universitário Ibero-americano. Entrevistas HOTIMSKY, Sílvio. Sílvio Hotimsky. Depoimento [junho, 2008]. Entrevistador: Roberta Monteiro de Oliveira. São Paulo: Colégio Santa Cruz, 2008. 1 cassete sonoro. Entrevista concedida a Dissertação de Mestrado: Turismo Pedagógico: a relação entre agências de turismo e escolas. SALUM, Marcelo. Marcelo Salum. Depoimento [junho, 2008]. Entrevistador: Roberta Monteiro de Oliveira. São Paulo: Quíron Turismo Educacional, 2008. 1 cassete sonoro. Entrevista concedida a Dissertação de Mestrado: Turismo Pedagógico: a relação entre agências de turismo e escolas. TERRON, Milena. Milena Terron. Depoimento [junho, 2008]. Entrevistador: Roberta Monteiro de Oliveira. São Paulo: Anhembi Morumbi, 2008. 1 cassete sonoro. Entrevista concedida a Dissertação de Mestrado: Turismo Pedagógico: a relação entre agências de turismo e escolas. ZUQUIM, José. José Zuquim. Depoimento [julho, 2008]. Entrevistador: Roberta Monteiro de Oliveira. São Paulo: Ambiental Expedições, 2008. 1 cassete sonoro. Entrevista concedida a Dissertação de Mestrado: Turismo Pedagógico: a relação entre agências de turismo e escolas. 100 APÊNDICES 101 Roteiro de Entrevista – Agências de Turismo Objetivo: Verificar quais os principais destinos de turismo pedagógico e como são organizadas as viagens de estudo do meio, tanto pelas agências quanto pelas escolas da cidade de São Paulo. Agência: data: Responsável: função: Formação: Telefone: e-mail: Endereço: 1. Há quanto tempo a agência atua no mercado? 2. E no segmento de turismo pedagógico? 3. Quais foram os principais motivos que levaram a agência a atuar nesse segmento de mercado? 4. Qual é a opinião do Senhor(a) sobre a utilização da terminologia turismo pedagógica para designar as viagens de estudo do meio? 5. Quais diferenças existem na organização de uma viagem de estudo de uma viagem tradicional? 6. Quais serviços são oferecidos nas viagens de turismo pedagógico? 7. Quais os principais destinos de viagens de estudo do meio que a agência vende? 8. Quais são os critérios para a escolha do destino e das atividades educacionais? 9. Por se tratar de uma viagem de estudo o Senhor(a) acha que os destinos estão preparados para receber esse grupo? Por quê? 10. O Senhor(a) acha que a hospitalidade dos locais é um dos fatores determinantes para a escolha do destino? Por quê? 11. Quem é o contato da agências nas escolas para tratar sobre as viagens de estudo? 12. Como a agência auxilia a escola para atender as necessidades didático-pedagógicas de cada grupo? 13. A agência oferece algum material informativo para os alunos dos locais que serão visitados? 14. A agência realiza algum tipo de avaliação da viagem com a escola? E com os alunos? 15. Qual é a opinião do Senhor sobre o mercado de viagens de estudo do meio? 102 Roteiro de Entrevista – Escolas Objetivo: Verificar quais os principais destinos de turismo pedagógico e como são organizadas as viagens de estudo do meio, tanto pelas agências quanto pelas escolas da cidade de São Paulo. Escola: data: Responsável: função: Formação: Telefone: e-mail: Endereço: 1. Há quanto tempo a escola realiza viagens de estudo do meio? 2. Essas viagens sempre foram organizadas por uma agência de viagem? 3. Atualmente, a escola utiliza a prestação de serviços de quais agências? 4. Quais critérios são usados para escolha da agência? (preço, confiabilidade, gestão)? 5. Qual é a participação da escola durante o processo de organização da viagem? 6. Qual é a opinião do Senhor(a) sobre a utilização da terminologia turismo pedagógico para designar as viagens de estudo do meio? 7. As viagens estão inseridas no projeto pedagógico? 8. Essas viagens são atividades interdisciplinares? 9. Quais disciplinas são tradicionalmente envolvidas? 10. A escola utiliza os PCN´s para auxiliar no planejamento das atividades de estudo do meio? Como? 11. A agência atende as necessidades didático-pedagógicas da escola e de cada grupo de alunos? Como? 12. Qual instrumento a escola utiliza para avaliar o processo de ensino-aprendizagem do aluno? 13. Quais são os critérios para a escolha dos destinos e das atividades pedagógicas? 14. Quais os principais destinos de viagens de estudo do meio que a escola realiza? 15. Qual é a opinião do Senhor(a) sobre as viagens de estudo do meio na formação educacional do aluno? 103 ANEXOS ?????