DICITE - CIAD UFSCar

Transcrição

DICITE - CIAD UFSCar
DICITE – DISCURSOS DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO
Suzani CASSIANI (UFSC)
[email protected]
Irlan von LINSINGEN (UFSC)
endereço eletrônico
Em pouco mais de 10 anos, o grupo Discursos da Ciência e da Tecnologia na Educação
(DICITE) tem buscado, através de entrelaçamentos das teorias da linguagem (principalmente da
Análise de Discurso francesa) e dos Estudos Sociais da Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS),
pensar a educação de forma mais problematizadora e crítica, com compreensões menos
ingênuas e naturalizadas de/sobre Ciência e Tecnologia (C&T). Refletindo sobre as questões de
linguagem que envolvem a C&T, reconhecemos sua constituição/consolidação através de
discursos hegemônicos legitimados, inscritos em um contexto sócio-histórico-ideológico. Nesse
sentido, pensamos em possibilidades de resistência e formas de apropriação de conhecimentos
pelos sujeitos, a partir do entendimento sobre o funcionamento dos discursos dominantes.
Nossos trabalhos têm mobilizado diversos conceitos, pensando nas formações discursivas,
ideológicas e imaginárias que envolvem os sujeitos e as condições de produção dos efeitos de
sentidos em contextos imediatos e históricos. Procuramos compreender silenciamentos,
antecipações, interpretações e gestos de leitura em diferentes espaços de ensino, formais e nãoformais. Teses e dissertações com diferentes enfoques são desenvolvidas, considerando
múltiplas formas de materialização da linguagem. Olhamos então para questões que envolvem
formação de professores, avaliações em grande escala (ENEM e Pisa), materiais didáticos e
documentos oficiais nacionais e internacionais, projetos institucionais, movimentos sociais,
leitura e escrita na educação em ciências, autoria, dentre outras. Em uma perspectiva discursiva
na Educação CTS, refletimos sobre questões que oportunizem a tomada de decisões e ações dos
sujeitos frente as questões sociotécnicas e tecnocientíficas. A diversidade do grupo também está
nos sujeitos que o integram, advindos de diferentes formações discursivas (Física, Química,
Biologia, Engenharia, Pedagogia, Ciências Sociais, Geografia, dentre outros) e países (TimorLeste e Colômbia), construindo um cenário interdisciplinar e intercultural. Além dos trabalhos
individuais, integramos projetos colaborativos, com o apoio da CAPES, como o Observatório da
Educação (OBEDUC – Ciências), que possibilita aproximações entre universidade e escola, e o
Programa Mobilidade Brasil/Timor Leste, que envia e recebe estudantes e professores
brasileiros e timorenses. Este último também objetiva apoiar o Programa de Qualificação de
Docentes e Ensino de Língua Portuguesa (do qual os lideres do grupo são coordenadores), o
qual tem como intuito apoiar as ações de educação em Timor-Leste. Buscamos compreender
essas cooperações educacionais internacionais, problematizando questões relacionadas aos
efeitos de colonialidade do saber e poder e a transnacionalização do currículo, entre outras.
Nesse caminho, essa é a composição de um grupo heterogêneo, mas que converge em objetivos
semelhantes, pensando em solidariedade e na emancipação dos povos.
Palavras-chave: Análise de discurso; Educação CTS; Educação científica e tecnológica.
São Carlos, Setembro de 2015
DISCURSOS DE GENÉTICA EM LIVROS DIDÁTICOS: IMPLICAÇÕES PARA O
ENSINO DE BIOLOGIA
Alberto Lopo MONTALVÃO NETO (UFSC)
[email protected]
Considerando que a ciência constitui-se através de discursos histórica, ideológica e
socialmente legitimados, que lhe conferem o caráter unívoco de verdade e a colocam em
posições de autoridade, neutralidade, universalidade e objetividade, este trabalho tem por intuito
pensar nas questões que concernem à linguagem, mais especificamente acerca dos discursos e
formações discursivas que constituem e consolidam o campo de conhecimento/saberes
instituídos referentes à Genética. Acreditando na não-transparência e ausência de neutralidade
da linguagem, julga-se necessário pensar nas intencionalidades/antecipações que permeiam as
relações de produção de sentidos. O autor, ao produzir um texto, possui um imaginário sobre
seu leitor, virtual, que não necessariamente corresponde ao leitor real (NASCIMENTO &
MARTINS, 2005). Ao entrar em contato com o texto, o leitor poderá produzir diferentes efeitos
de sentido, que não podem ser controlados, pois os sentidos sempre podem ser outros, e a
condição básica para sua produção é a interpretação (ORLANDI, 2001). Por isso, nosso foco
centra-se no livro didático, recurso político e ideológico, constituído por condições de produção
complexas, que culminaram em discursos e perspectivas hegemônicas, privilegiadas
historicamente. Considerando que o que é dito será interpretado diferentemente de acordo com a
forma utilizada para dizê-lo, partimos da noção de que forma e conteúdo não se separam
(Pêcheux, 1990), e por isso o modo como os conteúdos de Genética apresentam-se no texto,
normalmente privilegiando conteúdos e suas formas de apresentação tradicionais, influenciará
os sentidos produzidos sobre este. Interessa-nos então pensar nas questões científicas e
tecnológicas que envolvem os discursos de Genética Moderna, ou os considerados recentes
“avanços” das Ciências Biológicas (Biologia Molecular e Biotecnologia). Nosso olhar centra-se
sobre esses discursos por este ser um assunto socialmente relevante, constantemente em pauta
nas discussões sociocientíficas, que demandam reflexões críticas para permitir aos cidadãos a
tomada de decisões frente as inovações científicas e tecnológicas. Interessa-nos refletir sobre o
tema embasando-se em uma perspectiva discursiva na Educação CTS (Cassiani & Linsingen,
2009), acreditando que, mesmo sendo os sujeitos interpelados ideologicamente, é possível
posicionar-se criticamente e criar formas de resistências, abrindo possibilidades para uma
multiplicidade de outros sentidos, que fogem aos dominantes. Observa-se em resultados
preliminares, deste trabalho realizado em mestrado acadêmico, que o livro didático está
engendrado em concepções educativas que silenciam discussões científicas e tecnológicas
atuais, abrindo margens para a produção de efeitos de sentido que não atingem aos objetivos de
um Ensino de Biologia reflexivo e crítico.
Palavras-chave: Ensino de ciências; Genética moderna; Livro didático.
São Carlos, Setembro de 2015
ENTRE DIZERES E SILÊNCIOS SOBRE INICIAÇÃO CIENTÍFICA NA EDUCAÇÃO
BÁSICA: O MOVIMENTO DE SENTIDOS NA ESCOLA
José Carlos da SILVEIRA (UFSC).
[email protected]
A presente comunicação reúne reflexões de pesquisa de doutorado em andamento, que tem
como objetivo investigar as condições de produção de uma prática escolar de iniciação
científica e o movimento dos sujeitos no cotidiano escolar, quando assumem lugares sociais de
orientadores e pesquisadores. A pesquisa acontece junto aos professores e estudantes do 9º ano
do Colégio de Aplicação da UFSC. Interessa-nos a análise tanto do contexto sócio histórico
imediato, aquele relacionado à idealização e funcionamento da proposta pedagógica, como o
contexto amplo, da atual dinâmica global, que prescreve políticas homogeneizantes para a
educação, sobretudo a periferia do sistema capitalista. Ao situar a discussão no campo das
relações de poder engendradas na dimensão do local e do global, buscamos no referencial
teórico e analítico da Análise de Discurso, de linha francesa (ORLANDI, 2007; PÊCHEUX,
2012), e nos estudos da educação CTS em perspectiva discursiva (CASSIANI; LINSINGEN,
2010), o suporte para a compreensão das contradições e tensões aí existentes. Os discursos
globais para a educação assumem contornos diferenciados, considerando a conjuntura políticoeconômico vigente. A iniciação científica em nosso país teve sua gênese no ensino superior, no
contexto desenvolvimentista dos anos 1950, no âmbito do Conselho Nacional de Pesquisa e
Desenvolvimento – CNPq. A migração desta prática, para os ensinos fundamental e médio,
também sob financiamento do CNPq, aconteceu, institucionalmente, a partir de 2003 com o
Programa de Bolsas de Iniciação Científica Júnior, gerenciado pelas fundações estaduais de
amparo à pesquisa (FAPs). Em 2010, resultado de determinações advindas de instituições como
UNESCO, OCDE e BANCO MUNDIAL, realiza-se no Brasil a 4ª Conferência Nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável (CNCTI). A partir daí,
“recomendações” com vistas ao desenvolvimento científico e tecnológico do país foram
planejadas. No tocante a educação básica, metas estabelecidas para a década vigente
materializaram-se através de resoluções e leis. Nesta articulação de ações, a escola foi marcada
como espaço de iniciação científica. Os ditos e não-ditos globais, ao atrelarem os espaços
escolares à formação de recursos humanos para o mercado, produzem efeitos de sentidos locais,
silenciando interesses econômicos e políticos, reforçando desta forma relações de colonialidade.
Ao investigarmos uma prática singular de IC, já que não possui vínculos com os programas de
fomento articulados pelo estado brasileiro, procuramos refletir sobre a existência de outros
sentidos sobre iniciação científica na escola básica e sua contribuição para ampliar o debate
sobre papel formativo da instituição escolar.
Palavras-chave: Iniciação Científica; Educação Básica, Silêncio.
São Carlos, Setembro de 2015
O DISCURSO DA PADRONIZAÇÃO NO PISA: UMA ANÁLISE DOS SENTIDOS
POSTOS SOBRE AS PROVAS DE CIÊNCIAS
José Pedro SIMAS FILHO (UFSC)
[email protected]
Considerando as avaliações educacionais em larga escala, especialmente representadas pelo
Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), percebo no contexto nacional e
internacional a consolidação de uma “cultura” institucionalizada de avaliação. Logo, os sistemas
de avaliação educacional ganham uma dimensão essencialmente política, sendo notória e central
aos discursos que circulam entre nós, tanto na academia quanto na sociedade (SIMAS FILHO,
2012). Assim, segundo Barreto, (2001, p. 58) padroniza-se uma prática de avaliação
globalizada, competitiva, de produtividade do sistema escolar, que ao invés de gerar inclusão
dos sujeitos, tende a gerar exclusão, já que reforça diferenças cognitivas entre as populações
ricas e pobres, urbanas e rurais, colocando em foco as disparidades sociais existentes. Portanto,
uma avaliação que não está comprometida com os processos de ensino-aprendizagem, mas com
os conteúdos a serem aprendidos. Em se tratando do ensino de ciências, uma avaliação que
requer um conhecimento hegemônico e positivista sobre os conteúdos escolares. Ou seja, uma
avaliação que perpetua uma visão unidirecional de ciências e tecnologias na escola e nos
sistemas de ensino. Ademais, o PISA e seus resultados têm provocado um intenso debate no
contexto dos países participantes, e por conseguinte, vem gerando uma série de análises
envolvendo as políticas públicas de educação (SIMAS FILHO, 2012; SIMAS FILHO e
CASSIANI, 2013). Fato esse que explica a atual importância de avaliações como o PISA para a
determinação de parâmetros incontestáveis que balizam inclusive o campo de políticas públicas
educativas do estado brasileiro (SIMAS FILHO e CASSIANI, 2013). Considerando esse
contexto, essa pesquisa discute o discurso da padronização dos seus instrumentos, ou seja, o
discurso de que a mesma prova é aplicada em todos os países participantes, quer sejam
membros ou não da OCDE. Sendo assim, a pesquisa seguirá a perspectiva metodológica
qualitativa, embasada no referencial da Análise de Discurso de linha francesa (AD), que busca
estabelecer a linguagem como foco de construção de sentidos. Desse modo, farei um recorte e
analisarei apenas as avaliações da área das Ciências da Natureza. Logo, nessa pesquisa investigo
as condições de produção das provas de ciências do PISA, realizadas no Brasil e em países
membros da OCDE, visando compreender como se estabelece essa padronização.
Palavras-chave: PISA, avaliação educacional, discurso da padronização
São Carlos, Setembro de 2015

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