Leiria-Fatima_ed_34 - Diocese Leiria

Transcrição

Leiria-Fatima_ed_34 - Diocese Leiria
ANO XII • NÚMERO 34 • JANEIRO / ABRIL • 2004
• Roteiro e “Summa Augustiniana” | pág. 10
Evocação da
Restauração da Diocese
• Jornadas, exposições, espectáculos... | pág. 25
Ano Agostiniano
• Centenário do nascimento | pág. 31
D. João Pereira Venâncio
• Nota histórica | pág. 115
“O ano do trigo sujo”
actos episcopais • notícias • documentos pastorais • serviços e movimentos • reflexões • história • acto
Leiria-Fátima
Órgão Oficial da Diocese
ANO XII • NÚMERO 34 • JANEIRO / ABRIL • 2004
Ficha Técnica
Director
Luís Inácio João
Chefe de Redacção
Luís Miguel Ferraz
Administrador
Henrique Dias da Silva
Conselho de Redacção
Belmira de Sousa
Jorge Guarda
Luciano Cristino
Manuel Melquíades
Saul Gomes
Capa, Grafismo e Paginação
Luís Miguel Ferraz
Propriedade
Diocese de Leiria-Fátima
Sede
Seminário Diocesano de Leiria
2414-011 Leiria
Tel. 244 832 760
Fax 244 821 102
Mail: [email protected]
Periodicidade . Quadrimestral
Tiragem . 450 exemplares
Assinatura anual - 12 euros
Número avulso - 4 euros
Impressão - Gráfica de Leiria
Depósito Legal N.º 64587/93
Índice
Editorial
Em jeito de apresentação
Actos Episcopais
Conselho Pastoral Diocesano
Pe. Jorge Guarda retoma função de vigário geral
Celebração do Crisma na Diocese
Em Destaque
5
6
7
7
Cónego Francisco Vieira da Rosa - Falecimento
Evocação da restauração da Diocese
8
10
Igreja da Santíssima Trindade
16
Peregrinação diocesana a Fátima - “Só a Vós quero servir…”
Ano Agostiniano
23
25
Nota histórica
Subcomissão Parlamentar de Turismo visitou obras
Primeira pedra veio do túmulo de São Pedro
“Summa Augustiniana”
Santo Agostinho no Dia do Consagrado
Jornadas: “Santo Agostinho e a Cultura Portuguesa”
Retiro “Tarde Te amei”
Exposição no Centro Pastoral Paulo VI
Festival de Teatro da Alta Estremadura
Baptismo de Santo Agostinho
Próximos eventos do Ano Agostiniano
Centenário de D. João Pereira Venâncio
31
Restauro do Carrilhão da Sé
36
Museu de Arte Sacra do Seminário Diocesano - Espólio rico espera espaço condigno 38
Notícias
Resumo noticioso do quadrimestre
Próximos eventos
41
68
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Índice
Documentos Pastorais
Nota Episcopal para a Quaresma – “Como Eu vos fiz, fazei vós também”
Nota dos Bispos Portugueses – Meditação sobre a vida
Nota dos Bispos do Centro – Depois dos incêndios, cuidados para o futuro
Serviços e Movimentos
Comunicado do Conselho Pastoral Diocesano
Comunicado do Conselho Presbiteral
Confraria de Nossa Senhora da Encarnação – Relatório da Direcção 2001-2003
Convenção de Direitos Humanos dos Migrantes
Imigração e comunicação social: que imagens?
Seminário Nacional de Capelanias Hospitalares
Reflexões
Reflexão para um começo de ano – “Assim como vos fiz fazei também vós”
A jeito de testemunho - Provocações do Espírito
A propósito do livro “Laudate” – Cantar nas celebrações litúrgicas
Órgãos humanos no mercado – Qual o preço da vida?
Visita Pascal
72
74
81
84
84
85
89
92
93
96
100
104
106
109
História
“O ano do trigo sujo”: as rendas do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra
no Priorado de Leiria nas vésperas da criação do Bispado (1541-1545).
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116
Editorial
Em jeito de apresentação
O Leiria-Fátima - Órgão Oficial da Diocese aparece com o número 34. Tudo
normal, numa sequência que vai no XII ano. Mas há algo de novo. O Senhor Bispo
achou por bem nomear novo Director e novo Chefe de Redacção. Sensibilizado pela
confiança, assumo as novas funções como um serviço à Diocese, procurando que o
LEIRIA-FÁTIMA continue na prossecução dos seus objectivos, mas consciente das
limitações pessoais e das dificuldades inerentes e circunstanciais que não faltarão.
Ao novo Chefe de Redacção, elemento essencial no conjunto da equipa, bem
como ao Conselho de Redacção que continua em exercício, agradeço desde já a união
e o empenho na concepção de uma continuidade e renovação que correspondam às
exigências da vitalidade da Diocese, e à vontade expressa do seu Bispo.
Para o Director cessante o grande apreço pelo saber e dedicação de um trabalho
de anos que a sua frágil saúde obriga a interromper. É muito grato e de grande
incentivo escutar a manifestação imediata de todo o apoio e ajuda possíveis.
Pareceu-nos que o Órgão Oficial da Diocese, dentro do seu Estatuto Editorial
de ser ao mesmo tempo “instrumentum laboris” e “speculum laboris”, deverá
completar o mais possível a publicação oficial dos actos episcopais de nomeações e
outras intervenções na vida da Igreja diocesana, com o registo e reflexo da actividade
pastoral e, quanto possível, com elementos de dinamização e apoio a essa actividade
fundamental da vida eclesial. Decidiu-se pela divisão dos conteúdos em diversas
rubricas, que poderão variar. Também o número de páginas irá depender do material
existente em cada edição. Por norma, sairá no mês seguinte ao quadrimestre a que se
refere, de modo a conter informação completa desse período.
O presente número é um primeiro esforço neste sentido, embora um ensaio ainda
demasiado interno de trabalho redactorial. De futuro desejaríamos que o LEIRIAFÁTIMA viesse a ser descoberto como um instrumento de partilha de iniciativas,
propostas, reflexões e trabalhos de toda a Diocese, nomeadamente, movimentos,
paróquias e vigararias. O que se faz na complementaridade das variadas acções da
vida diocesana, poderá-deverá ter eco no boletim diocesano. Desde já esperamos por
esse eco e essa colaboração que o tornarão verdadeiramente de todos e para todos.
O Director
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Actos Episcopais
Conselho Pastoral Diocesano
Havemos por bem, de acordo com o artigo 9.º dos Estatutos do Conselho Pastoral
Diocesano, confirmar e constituir, por um período de três anos, o quarto Conselho
Pastoral Diocesano, como segue:
1. Membros Natos:
Vigário Geral: Cón. Henrique Fernandes da Fonseca (Pro tempore)
Chanceler: Cón. Dr. Américo Ferreira
Secretário do Conselho Presbiteral: P. Dr. Virgílio do Nascimento Antunes
Presidente do Cabido: Cón. Dr. Luciano Coelho Cristino
Reitor do Seminário: P. Dr. Virgílio do Nascimento Antunes
Reitor do Santuário de Fátima: Mons. Dr. Luciano Gomes Paulo Guerra
2. Membros representativos:
CNIR: P. Frei José Geraldes, O. P.
FNIRF: Ir. Vitória Fonseca Alves
FNIS: Lucinda Lurdes Gonçalves Teixeira
Secretariados e Comissões Diocesanas:
Maria José Santos Pereira da Silva
Elisa Pereira Oliveira de Sousa Pinto
Ambrósio Jorge dos Santos
Dr. Júlio Coelho Martins
Enf.º Filipe Marques das Neves
Movimentos e Obras:
Eng.º José António Rosa Machado
Maria Raquel Amaral Neves Oliveira
António Manuel Costa do Casal
Assistentes dos Movimentos e Associações: P. Abílio Domingues F. Lisboa
Vigararias: Batalha: Sónia Alexandra da Silva Repolho
Colmeias: Dr. Manuel Bento dos Santos
Fátima: Dr. Eugénio Pereira Lucas
Leiria: Maria da Conceição Espírito Santo Costa Fonseca Duque
Marinha Grande: Luís da Encarnação Morouço
Milagres: Dr.ª Maria Inês Campos Pinto Ferreira Lourenço
Monte Real: Élia Maria Pedrosa Duarte Gervásio
Ourém: Dr. Luís Miguel Freire Lopes
Porto de Mós: Dr.ª Maria Manuela Querido Carreira
3. Membros designados:
Dr.ª Rosa Maria Sousa Brilhante Pedrosa e Dr. Tomás Oliveira Dias
Leiria, 7 de Janeiro de 2004
† Serafim de Sousa Ferreira e Silva, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima
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Actos Episcopais
Pe. Jorge Guarda retoma função de vigário geral
Havemos por bem nomear, de novo, Vigário geral da Diocese de Leiria-Fátima
o Reverendo P. Dr. Jorge Manuel Faria Guarda, que acaba de regressar do “tempo
sabático”.
Agradecemos ao Sr. Cónego Henrique Fernandes da Fonseca os bons serviços
que generosamente prestou, mais uma vez, no exercício das funções de Vigário
Geral da Diocese, nos últimos seis meses.
Esta Provisão entra em vigor na presente data.
Leiria, 6 de Abril de 2004
† Serafim de Sousa Ferreira e Silva
Bispo da Diocese de Leiria-Fátima
Celebração do Crisma na Diocese
MAIO
Dia 15 – Batalha (17h00)
Dia 16 – Serro Ventoso (09h00); Barosa (15h00); Amor (17h00)
Dia 22 – Alqueidão da Serra (15h00)
Dia 23 – Pataias (15h00); Alpedriz (17h00)
Dia 29 – Marrazes (18h00)
Dia 30 – Sé de Leiria (10h00); Mira de Aire (17h00)
JUNHO
Dia 05 – Ourém - N. S. da Piedade (15h00); Fátima (17h00)
Dia 06 – Milagres (11h00); Colmeias (15h00); Juncal (17h00)
Dia 12 – Parceiros (15h00)
Dia 13 – Azóia (15h00)
Dia 20 – Minde (11h30); Cortes (15h00); Barreira (17h00)
JULHO
Dia 03 – Urqueira (15h00); Vieira de Leiria (17h00)
Dia 04 – Bidoeira (10h00); Boa Vista (11h30); Pousos (16h00); Arrabal (18h00)
Dia 10 – Porto de Mós (15h00)
Dia 11 – Souto da Carpalhosa (15h00); Ortigosa (17h00)
Dia 17 – Calvaria (17h00); Santa Catarina da Serra (18h30)
Dia 18 – Santa Eufémia (08h30); S. Simão de Litém (15h00)
Dia 25 – Carnide (15h00); Bajouca (17h00)
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Cónego Francisco Vieira da Rosa
Após alguns dias de internamento no Hospital de Leiria, faleceu,
no passado dia 17 de Fevereiro, o
Cónego Francisco Vieira da Rosa,
uma figura ilustre e estimada do
nosso clero diocesano.
Nasceu em Alpedriz a 15 de
Fevereiro de 1908 e frequentou o
Seminário de Leiria de 1920 a 1930,
ano em que foi ordenado presbítero
por D. José Alves Correia da Silva.
Durante a sua longa vida,
exerceu o ministério sacerdotal
sempre com grande entusiasmo e
dedicação. Iniciou o trabalho pastoral em 1930, como professor
do Seminário de Leiria, para em 1931 assumir a paroquialidade
de Alvados. De 1939 a 1942 é pároco de Minde e de 1942 a 1952
é pároco dos Parceiros, acumulando com a docência de Religião
e Moral na Escola Comercial e Industrial de Leiria e do Colégio
Correia Mateus, também de Leiria. Passou depois a Capelão Militar
nos Quartéis de Leiria, onde permaneceu até 1966. Em 1971 foi
nomeado pároco de Regueira de Pontes, onde ficou até 1997. Em
1988 foi nomeado Cónego Honorário da Catedral de Leiria.
Depois de deixar a paróquia de Regueira de Pontes passou a
residir na Gândara dos Olivais, onde pretendeu ser sepultado.
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Em Destaque
Evocação da restauração da Diocese
10
Igreja da Santíssima Trindade
16
Peregrinação diocesana a Fátima - “Só a Vós quero servir…”
Ano Agostiniano
23
25
Nota histórica
Subcomissão Parlamentar de Turismo visitou obras
Primeira pedra veio do túmulo de São Pedro
“Summa Augustiniana”
Santo Agostinho no Dia do Consagrado
Jornadas: “Santo Agostinho e a Cultura Portuguesa”
Retiro “Tarde Te amei”
Exposição de Pintura e Escultura
Festival de Teatro da Alta Estremadura
Baptismo de Santo Agostinho
Próximos eventos do Ano Agostiniano
Centenário de D. João Pereira Venâncio
31
Restauro do Carrilhão da Sé
36
Museu de Arte Sacra do Seminário Diocesano - Espólio rico espera espaço condigno 38
NOTA 1: As notícias das secções “Em Destaque” e “Notícias” pretendem reflectir a vida
da Diocese e das suas comunidades durante o quadrimestre correspondente a cada edição
da revista LEIRIA-FÁTIMA. Agradecemos que cada paróquia, serviço e movimento nos
faça chegar ecos das suas iniciativas e programação, de forma a darmos uma informação
o mais completa possível da nossa realidade pastoral. Os textos deverão ser remetidos, de
preferência, para o email: [email protected]. Em alternativa, enviar por via postal para:
Revista Leiria-Fátima - Seminário Diocesano - 2414-011 LEIRIA.
NOTA 2: As notícias não assinadas das secções “Em Destaque” e “Notícias” foram elaboradas
pelo chefe de redacção da revista LEIRIA-FÁTIMA, tomando por base textos publicados
nos jornais diocesanos O MENSAGEIRO e A VOZ DO DOMINGO. Embora correndo o
risco de alguma omissão, indicamos algumas pessoas e instituições signatárias dos textos
originais: Ambrósio Jorge dos Santos (Cáritas Diocesana); Donária e Estela Santos (Pastoral
da Saúde); Equipa da Acção Católica Rural; Equipa Nacional dos Centros de Preparação
para o Matrimónio; J. Carreira (Paróquia das Cortes); J.G.F. (Filhas de Maria Mãe da Igreja); Jacinta Santos (Escola Teológica de Leigos); João Marques (Paróquia dos Marrazes);
Leonor Moniz (Secretariado da Juventude); Lúcia Pedrosa (Jovens Sem Fronteiras de Santa
Eufémia); Lucília (Paróquia da Boavista); Manuel Armindo (Centro de Formação e Cultura);
Maria Filomena Calão (Fundação Maria Mãe da Esperança); Maria Inês Lourenço (Paróquia
da Boavista); Mónica Monteiro Santos (Jornal O Mensageiro); Nelson Araújo (Secretariado
das Vocações); Samaritanos (Visitadores da Prisão-Escola); Santuário de Fátima (Centro de
Comunicação Social); Vítor Mira (Obras Missionárias Pontifícias).
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Evocação da restauração da Diocese
Por Mónica Monteiro Santos
17 de Janeiro é uma data especial para a diocese de Leiria-Fátima. Nesse dia
do longínquo ano de 1918, o papa Bento XV assinou a bula “Quo vehementius”,
restaurando o bispado de Leiria, 35 anos depois da sua extinção. Um acontecimento
marcante para uma diocese que encerra uma história com mais de 450 anos.
Precisamente no dia 17, repetiu-se mais uma comemoração, que ganhou contornos
especiais já que a diocese de Leiria-Fátima também está em maré de celebrações no
âmbito dos 1650 anos do nascimento do seu padroeiro Santo Agostinho.
O evento teve como palco a Sé de Leiria e contou com um programa cheio de boas
surpresas. Com início às 15h00, destacaram-se dois momentos altos: o lançamento
oficial do roteiro “Caminhos do Espírito – Percursos da Arte” e a apresentação da
composição musical original “Summa Augustiniana”. Uma sessão presidida pelo
Bispo diocesano e que contou com a presença de diversas entidades oficiais, como a
Câmara Municipal de Leiria e a Região de Turismo Leiria/Fátima.
Momento da apresentação da “Summa Augustiniana”
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Em Destaque
“Caminhos do Espírito – Percursos da Arte”
Resultado de uma “feliz parceria” entre a Diocese
e a Região de Turismo de Leiria-Fátima, o roteiro
“Caminhos do Espírito – Percursos da Arte” desvenda a
história e a arte de uma região, tendo como centro o seu
rico património religioso.
O novo roteiro faz uma abordagem diferente dos
legados artísticos e arquitectónicos de longos séculos
de história. Inúmeros monumentos, igrejas, ermidas e
capelas são os protagonistas de uma obra que pretende
mostrar a essência e da identidade da região. “É uma
visita guiada pelo património arquitectónico construído
da região, tendo como fio condutor o constante confronto
entre o passado e o presente” explica o padre Armindo
Janeiro, um dos responsáveis pelo projecto.
Passado e presente cruzam-se constantemente
para desvendar a essência de um povo, de uma cultura e de um saber artístico.
“Faltava esta lógica de leitura, onde as realidades do passado são confrontadas
com as realidades do presente” refere o padre Armindo, considerando que “esta
obra é acima de tudo uma homenagem e uma demonstração de respeito aos legados
deixados pelas gerações anteriores”.
Este roteiro, que o padre Armindo considera ser “uma primeira tentativa para
oferecer ao nosso tempo um olhar diferente do passado, pois podemos ainda fazer
melhor”, é constituído por sete percursos.
O primeiro é dedicado à cidade episcopal; o segundo percorre as igrejas das
zonas envolventes; o terceiro situa-se no concelho de Ourém; o quarto empreende
uma visita ao concelho da Batalha; o quinto passeia-se pela vila medieval de
Aljubarrota e recorda a fábrica de azulejos do Juncal; o sexto percurso faz um
passeio deslumbrante pelas Serras de Aire e Candeeiros, em busca de preciosos
testemunhos da talha dourada. Finalmente, o último alarga-se a espaços exteriores à
diocese de Leiria-Fátima e desenvolve-se na área da Região de Turismo.
A Comissão de Arte e Património da Diocese assumiu o papel da recolha e
selecção dos textos de reconhecidos autores, contando também com o contributo
de paróquias, confrarias, misericórdias, mosteiros, entre outras entidades. “Houve
um rigor muito grande na concepção dos textos” refere o padre Armindo Janeiro,
explicando que “só uma linguagem técnica poderia permitir um roteiro completo,
com informação importante para compreender o património de uma região,
essencialmente o religioso”.
Dos vários autores que deram vida ao roteiro, refrimos, a título de exemplo, Júlio
Órfão, Américo Ferreira, Ana Mercedes, Acácio de Sousa, Isabel Costeira, Saúl
Gomes e Susana Peralta.
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Em Destaque
“Summa Augustiniana”
A pedido do padre Armindo Janeiro, um dos responsáveis pelas celebrações
do Ano Agostiniano em curso na Diocese de Leiria-Fátima, o jovem músico
leiriense João Santos concebeu a peça “Summa Augustiniana”, que o público teve
oportunidade de conhecer neste dia 17. A obra, composta para vários instrumentos,
foi executada com a colaboração da Escola de Artes SAMP, dos Pousos.
Ex-aluno do Seminário Diocesano de Leiria e com um percurso notável como
organista, João Santos compôs uma peça musical que quebra com as tradições
da música sacra, apostando em novas tendências da linguagem musical, que se
começaram a delinear nas décadas de 80 e 90 do século passado. A “Summa
Augustiniana” distancia-se das dissonâncias e da espectacularidade que dominou a
maior parte do século XX e apresenta uma nova harmonia de sons. “A minha peça
reflecte as novas tendências, através da utilização das consonâncias, dos ditos sons
bons, mais alegres e harmoniosos”, explica João Santos, consciente de que “esta
nova corrente musical ainda é muito pouco conhecida do público”.
A obra do compositor contemporâneo Arvo Pärt serviu de mote à “Summa
Augustiniana” de João Santos. Um dos mais conhecidos compositores de música
sacra e coral do seu tempo, Arvo Pärt , natural da Estónia, é apontado pela sua
genialidade e vanguardismo na busca de novas expressões na linguagem musical.
É o lado algo “revolucionário” da obra deste compositor que influencia o músico
leiriense. João Santos reconhece que a sua peça, feita para vários instrumentos,
“busca essencialmente a harmonia e a contemplação”.
O tema central é Santo Agostinho. Por isso, João Santos investigou os textos
das Confissões, de onde retirou alguns excertos. O objectivo foi “obter uma certa
lógica sequencial, abordando diversas fases da vida do padroeiro da Diocese de
Leiria-Fátima, desde os primeiros tempos até à sua conversão” explica o músico,
concluindo: “Esta é uma pequena homenagem ao Santo padroeiro”.
Nota histórica *
Em Maio de 1545, o Papa Paulo III, a pedido do rei de Portugal, D. João III, criava
a diocese de Leiria com a bula “Pro excellenti apostolicae sedis”, desanexando-a da
de Coimbra. No mesmo ano, D. João III elevou a vila de Leiria a cidade. Frei Brás
de Barros, natural de Braga, era nomeado o bispo responsável pela nova diocese,
uma das mais pequenas do reino, com apenas 14 paróquias e quase-paróquias: Santa
Maria da Pena, São Pedro, São Tiago, São Martinho, Pataias, Reguengo, Batalha,
Maceira, Monte Real, Colmeias, Vermoil, São Simão de Litém, Espite e Souto
da Carpalhosa. Instaladas as estruturas administrativas e pastorais, Leiria e o seu
bispado iriam ocupar um lugar de prestígio na Igreja em Portugal.
_________________________
* Dados históricos recolhidos em: “LEIRIA-FÁTIMA, Ano III, n.º 8, Maio-Agosto de 1995”
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Em Destaque
No entanto, quase três séculos depois da sua instauração, a diocese de Leiria,
que até então foi crescendo em importância e em tamanho, começava a evidenciar
sinais de decadência. No dealbar do século XIX, mais precisamente em 1808,
surgia o primeiro sinal da precariedade. Depois da primeira invasão francesa
(1807), houve alguns movimentos tendentes à incorporação de Portugal no império
napoleónico. Pedia-se ao imperador que dividisse o território português (europeu)
em oito províncias, tanto na jurisdição eclesiástica como na civil, para existir em
Portugal apenas um arcebispado e sete bispos. Neste quadro, a diocese certamente
não sobreviveria. Com as revoltas liberais dos anos vinte, essa perspectiva acentuouse. Quando os ideais liberais triunfaram, trouxeram com eles o início da agonia.
Aos olhos dos novos governantes, as razões que levaram à criação da diocese de
Leiria e à sua manutenção, durante trezentos anos, perdiam valor. Deparavam-se
perspectivas mais aliciantes com a redução dos bispados, incluindo o de Leiria.
Várias décadas se passaram, marcadas pelas muitas campanhas de alguns
leirienses para que esse propósito não vingasse. Apelaram ao rei, aos governos,
ao parlamento, à própria Santa Sé, mas o seu empenho de nada valeu. A extinção
da diocese de Leiria acabaria por acontecer. O Papa Leão XIII, pela bula de 30 de
Setembro de 1881, aceitou finalmente as exigências da nova divisão diocesana, com
a extinção das dioceses de Aveiro, Castelo Branco, Elvas, Leiria e Pinhel.
No ano seguinte, nova divisão se concretizava. O bispo do Porto, cardeal D.
Américo, foi encarregue da execução da bula pontifícia, o que aconteceu a 4 de
Setembro de 1882. Das 50 paróquias da diocese de Leiria, 25 foram integradas em
Coimbra e as restantes passaram a pertencer ao patriarcado de Lisboa.
À espera da ressurreição
Com o fim do bispado, os antigos diocesanos não baixaram os braços. Foram
muitas as tentativas para reconstituir a sua pequena mas respeitada diocese. Não
será exagero afirmar que a restauração se deveu em muito ao inconformismo de todo
o seu povo, mas foram fundamentalmente três as grandes figuras que conseguiram
trazer de novo à vida o bispado de Leiria.
Vitorino da Silva Araújo (1817-1891), professor do liceu de Leiria, investigador
da história leiriense e principal biógrafo de D. Manuel Aguiar, considerado um
dos mais ilustres bispos de Leiria (1790-1815), foi uma dessas figuras. Com a
publicação da sua obra “Um bispo segundo Deus ou as Memórias para a vida de D.
Manuel Aguiar, 17º Bispo de Leiria”, tentou suscitar os ânimos para uma possível
reconstituição do bispado, apresentando um homem corajoso e batalhador que
conseguira fazer ressurgir das cinzas a sua diocese, quase completamente destruída
nos terríveis anos de 1808 a 1811, aquando das invasões francesas. Muitos prelados
portugueses, a quem o autor ofereceu o livro, reagiram muito positivamente,
deixando no ar um sentimento de esperança. No entanto, com a morte de Vitorino da
Silva Araújo, em 1891, tudo parece ter-se esfumado.
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Em Destaque
Já nos primeiros anos do século XX, a esperança ressurge. O padre Júlio Pereira
Roque, inspirado jornalista, iniciou, na edição de 21 de Setembro de 1903 do jornal
“O Portomosense”, uma entusiasta campanha cujo título, por si, dizia tudo: “Um
alvitre – O Bispado de Leiria”. O grito com que terminava acendeu os ânimos dos
leirienses e despertou o país para a injustiça que tinha sido a extinção da diocese
e para a urgência de a reparar: “Avante, pois, não descansemos; lutemos com
perseverança, lutemos unidos, que havemos de ter a vitória”. Os ecos chegaram
aos gabinetes governamentais e ao rei. Infelizmente, a conjuntura do reino não se
adivinhava propícia. A monarquia estava então moribunda, e as promessas feitas
depressa foram esquecidas. Dois anos depois, já ninguém falava no assunto.
A derradeira batalha teve como mentor o padre José Ferreira de Lacerda (18811971). Com a preciosa colaboração do padre Júlio Pereira Roque, iniciou nova
campanha, no ano de 1913: “Ressuscitemos o nosso antigo bispado!”.
Foram muitos os obstáculos a ultrapassar mas, passados cinco anos de muita
dedicação e fervor, a justa compensação chegou finalmente. O Papa Bento XV
restaurava a diocese de Leiria com a bula “Quo vehementius”, de 17 de Janeiro de
1918. No início da abençoada bula, o Santo Padre escreveu: “Com tanta veemência
foi doloroso à Sé Apostólica, quando as circunstâncias induziram a suprimir no dia
trinta de Setembro do ano do Senhor de mil oitocentos e oitenta e um, a Diocese
de Leiria, em Portugal, a qual Paulo III erigira em vinte e dois de Maio do ano do
Senhor de mil quinhentos e quarenta e cinco, quanto agora rejubila porque a feição
dos tempos lhe permite restabelecer aquela Igreja Catedral”.
Depois da restauração
Restaurada a diocese e executada, a 1 de Junho de 1918, a bula respectiva, pelo
Cardeal D. António Mendes Belo, Patriarca de Lisboa, nomeado administrador
apostólico pelo Papa, enquanto se aguardava um bispo próprio. Dois longos anos se
passaram até que, a 15 de Maio de 1920, José Alves Correia da Silva, cónego da Sé
do Porto, era nomeado primeiro bispo da restaurada diocese de Leiria. O vigésimo
terceiro de uma lista que já vinha do século XVI.
Iniciava-se um longo governo, cheio de acontecimentos significativos, não só
para a própria diocese como para o mundo inteiro. De facto, na mesma altura em
que Roma recebia o processo final para a restauração da diocese de Leiria, dava-se
no seu antigo território um acontecimento extraordinário: as aparições de Nossa
Senhora em Fátima, de 13 de Maio a 13 de Outubro de 1917. Logo que tomou posse,
D. José interessou-se por estes acontecimentos e iniciou uma série de iniciativas
que viriam a culminar no reconhecimento da credibilidade das aparições e na
autorização oficial do culto de Nossa Senhora de Fátima, a 13 de Outubro de 1930.
Foi o ponto de arranque para um grande Santuário, já então designado por “Altar do
Mundo”, por se ter tornado meta, não apenas de peregrinos portugueses, que afluíam
em massa, mas também de tantos outros, dos quatro cantos do mundo, atraídos por
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Em Destaque
uma mensagem que, cada vez mais, se reconhecia dirigida a todo o planeta.
A mensagem de Fátima daria à pequena diocese de Leiria uma verdadeira
dimensão internacional. Assim, por decreto da Congregação dos Bispos, de 13 de
Maio de 1984, confirmado pela bula pontifícia “Qua pietate”, com a mesma data,
passou a designar-se “Diocese de Leiria-Fátima”.
Actualmente
Ultrapassando já os 265
mil habitantes, a diocese
tem 1700 km2 e está dividida em 74 paróquias
e uma quase paróquia,
pertencentes aos concelhos de Leiria, Marinha Grande, Batalha, Porto de Mós,
Ourém e parte
dos concelhos de
Pombal, Alcanena
e Alcobaça. O clero
diocesano é constituído por
2 bispos e 107 presbíteros.
Dos presbíteros diocesanos,
9 prestam serviço noutras
dioceses ou residem no estrangeiro, outros 10 não têm nomeação e encontram-se dispensados de funções pastorais. Além destes, residem na
Diocese o Bispo Emérito de Huambo, D. Américo Henriques, cerca de 55 padres de
institutos religiosos e 7 de outras dioceses.
Foi em 2 de Agosto de 1987 que D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva deu entrada
na Diocese, como Bispo Coadjutor, tendo sucedido a D. Alberto Cosme do Amaral,
em 2 de Fevereiro de 1993.
Fátima é um dos pontos fulcrais do bispado e continua a ser um grande sinal
de esperança e um ponto de atracção de inúmeros peregrinos. No entanto, o
envelhecimento e carência de sacerdotes são motivos de inquietação. O grande
desafio é dinamizar a pastoral das vocações.
São inúmeras as associações e movimentos de apostolado empenhados em cuidar
do crescimento da fé dos fiéis. Contudo, é preocupante a diminuição da prática
dominical, como revelou o último recenseamento. Várias e inovadoras iniciativas
têm procurado revitalizar a fé e fazer descobrir o valor da missa, mas muito mais há
a fazer. Fica o empenho e a perseverança para continuar...
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Igreja da Santíssima Trindade
No passado dia 25 de Janeiro, realizou-se no Santuário de Fátima a importante
cerimónia de assinatura do contrato da empreitada de “Contenção periférica,
Movimento de Terras, Fundações e Estrutura de Betão Armado e Metálica” da
Igreja da Santíssima Trindade. A consignação foi no dia 2 de Fevereiro, à empresa
“Somage Engenharia S.A.”
Depois de uma missa no Altar do Recinto, presidida pelo Bispo de LeiriaFátima, D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva, procedeu-se à assinatura do contrato,
na Capelinha das Aparições, cujo texto passamos a transcrever:
Senhor Bispo de Leiria-Fátima
Senhor Governador Civil de Santarém
Senhores Presidentes da Câmara, com vereadores, e da Assembleia Municipal
de Ourém
Senhores Presidentes da Junta e da Assembleia de Freguesia de Fátima
Senhor Arquitecto Corsepius e restantes membros e assessores do Serviço de
Ambiente e Construções do Santuário de Fátima
Caros capelães e outros representantes dos trabalhadores do Santuário
Senhor Presidente da direcção dos Servitas, em representação dos colaboradores
voluntários
Senhor Arquitecto Tombazis e outros elementos da equipa projectista da Igreja
da Santíssima Trindade
Senhores representantes da empresa Somague Engenharia S.A., a quem vai ser
adjudicado a primeira fase do projecto
Senhor Engenheiro Bravo, e outros membros da empresa FASE, coordenadora e
fiscalizadora do projecto
Senhores padres, religiosas e leigos, habitantes de Fátima, e amigos do
Santuário
Caríssimos peregrinos e peregrinas, que nem por serdes os últimos nomeados
deixais de representar os primeiros interessados nesta cerimónia
1 - Dou graças a Deus, pelo Coração de sua Santíssima Mãe, e pela mediação dos
pastorinhos Francisco e Jacinta, por nos encontrarmos hoje aqui, na Capelinha das
Aparições, para assinarmos o contrato da empreitada inicial da igreja da Santíssima
Trindade.
Fez em Agosto 86 anos que, pela primeira e única vez, nas suas seis aparições,
Nossa Senhora achou por bem ser instada a falar de dinheiro e de construções
materiais. Quando a pequena Lúcia, na aparição dos Valinhos, lhe perguntou o que
haviam de fazer às esmolas que as pessoas iam deixando na Cova da Iria, a celeste
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Em Destaque
Visão respondeu: «Façam dois andores: um leva-o tu com a Jacinta, e mais duas
meninas vestidas de branco; o outro, que o leve o Francisco, com mais três meninos.
O dinheiro dos andores é para a festa de Nossa Senhora do Rosário, e o que sobrar é
para ajuda duma capela que hão-de mandar fazer.» (IV Memória, p. 169).
2 - Parece evidente que esta indicação tinha um carácter simbólico. Nossa
Senhora sabia que a sua capelinha da Aparições sempre e só seria um símbolo. Sabia
também o primeiro Bispo de Leiria, D. José, ao lançar a primeira pedra da actual
basílica, que ela nunca albergaria todos os que já então, em 1928, e sobretudo nos
dias 13, enchiam esta bendita Cova.
Também nós sabemos que a futura construção, com os seus nove mil lugares
sentados, não vai poder ser usada para acolher os peregrinos dos grandes dias de
Fátima. A igreja propriamente dita deste santuário continuará a ser – assim Deus o
queira ao menos enquanto cada um de nós viver – este imenso espaço sagrado, a que
chamamos Recinto de Oração.
3 - Foi entendimento do Santuário, anotado no primeiro Estudo de Estruturação
Pastoral, redigido em 1974, que o movimento de Fátima justificava, e mesmo exigia,
um espaço de culto, a que despreocupadamente chamávamos já «uma nova basílica»,
a qual teria de ser bastante mais espaçosa que a actual. Recebíamos então dois
milhões de peregrinos por ano; temos hoje, ao que estimamos, entre quatro e cinco
milhões. Com a democratização dos meios e vias de transporte a tornar muito fácil a
viagem até Fátima, de Portugal e de muitas outras nações; com as condições laborais
e escolares a deslocarem os peregrinos, primeiro para os domingos, depois para os
fins-de-semana, e para as férias, no Verão, e cada vez mais também no Inverno; com
os antigos e novos movimentos eclesiais a verem na peregrinação a Fátima o seu
encontro anual privilegiado; com muitos deles a elegerem esta Cidade da Paz para
jornadas, semanas e congressos; enfim, com uma afluência cada vez mais assídua
e numerosa às celebrações litúrgicas, sobretudo às missas dominicais, o facto é
que a exiguidade dos espaços se foi acentuando cada vez mais. Até porque, pela
progressiva apetência de participação activa das pessoas, pela crescente sensibilidade
às condições atmosféricas do exterior – com o sol, a chuva e o frio a tornarem-se
cada vez menos suportáveis – e pela dificuldade também crescente de novos e
velhos se manterem de pé, tornou-se cada vez mais evidente a necessidade de criar
condições favoráveis à participação activa e atenta, mesmo num lugar penitencial
como este. É verdade que a penitência pedida por Deus em Fátima pode ainda hoje
ser simbolizada pelo incómodo da viagem, pelas noites de vigília, e sobretudo pela
peregrinação a pé e de joelhos, mas o mal que mais atormenta a nossa geração e
para o qual Nossa Senhora mais deve estar atenta, é um mal que corrói sobretudo
a própria alma, ou o sistema nervoso, onde todos temos tanta necessidade como
dificuldade de entrar. Ora para levar o remédio da conversão a este mal profundo
da alma, o peregrino de hoje precisa de mais concentração do que a permitida pelos
apertos da actual basílica ou pela dispersão do Recinto de Oração.
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Em Destaque
4 - Recolhidos muitos dados, feitas muitas reuniões, consultados todos os
intervenientes da Pastoral do Santuário, assim como o Conselho Presbiteral
Diocesano, publicou o nosso Serviço de Ambiente e Construções, em Junho de
1996, um projecto de programa para um Grande Espaço Coberto Para Assembleias
(GECA). Incluía-se nesta denominação a obra a que hoje damos início.
5 - Desde sempre duas localizações se apresentavam como elegíveis: a da actual
basílica e a da Praça Pio XII. Analisados ao pormenor os prós e contras de cada uma
destas localizações, acabámos por deixar a decisão aos nove arquitectos do primeiro
Concurso Internacional. De facto, não foi grande surpresa que todos optassem
pela Praça Pio XII, lugar para o qual antes se inclinava a maioria das pessoas
consultadas, que foram bastantes. Esta preferência dos arquitectos pareceu um sinal
suficientemente claro para que a questão pudesse dar-se por arrumada.
6 - Terminado o concurso internacional, com a votação do júri que apurou os três
primeiros projectos, achámos que havia elementos suficientes para, em lugar de uma
segunda etapa, fazermos um segundo concurso, entre os três escolhidos. Assim ficou
apurado em primeiro lugar, por votação secreta, o arquitecto Alexandre Tombazis,
cidadão da Grécia, aqui felizmente presente. É de justiça que lhe agradeça, neste
momento e neste local, todo o esforço, delicadeza, perseverança e paciência que
tem colocado nesta sua nobre tarefa, à frente de uma equipa de técnicos do Porto,
também eles dignos do nosso reconhecimento.
7 - A construção que agora vamos iniciar será finalmente composta de dois
grandes corpos: o da Reconciliação, com várias capelas subterrâneas, iluminadas
por um grande corredor de luz natural, e localizadas logo a seguir ao Pórtico do
Jubileu, que desaparecerá; o segundo corpo será constituído pela igreja da Santíssima
Trindade, cuja entrada ficará a alturas da Cruz Alta, e que se estenderá por um
círculo de 125 metros de diâmetro, até à beira da avenida D. José Alves Correia da
Silva. Esperamos colocar brevemente em exposição a respectiva maqueta, e outros
elementos do projecto.
8 - Se tivermos em conta o intenso movimento que, com os utentes destes edifícios,
vai surgir na zona da Cruz Alta, percebe-se que tal conjunto não podia ser construído
sem que o trânsito na Avenida de D. José Alves Correia da Silva sofresse um desvio
em túnel. A perturbação ambiental e o risco de acidentes, já hoje demasiados, seriam
então insuportáveis, e a imagem de Fátima, em lugar de progredir, não deixaria de
sofrer uma degradação imperdoável. Razão pela qual desejo apresentar o nosso
agradecimento ao Senhor Presidente da Câmara Municipal de Ourém, aqui presente
e, na sua pessoa, a todos quantos perceberam esta necessidade, e estão ainda a burilar
uma complexa solução, em que o túnel poderá ser o princípio de um grandioso
projecto, creio mesmo que do mais alto marco da arquitectura de Fátima.
9 - Entregue o projecto do GECA no Verão passado, asseguradas as condições
para o licenciamento camarário, e decidido que faríamos a construção por várias
empreitadas separadas, lançámos, entre nove empresas, um concurso para contenção
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Em Destaque
periférica, escavações, movimento de terras, e estruturas de cimento e metal, de que
saiu vencedor o grupo Somague.
10 - Só me resta explicar a razão pela qual nos pareceu justificável o adiamento
deste cerimónia, antes anunciada para o dia 8 de Dezembro passado. Desde o início
se tinha apresentado o desejo de se utilizar o cimento branco para as duas longas
vigas que, ao centro e no alto, vão possibilitar uma cobertura sem quaisquer pilares
dentro da nave da igreja.
A cor branca é, em Fátima, a cor dos vestidos do Anjo da Paz e de Nossa
Senhora. Mas por razões circunstanciais, as vigas acabaram por ser previstas em
cimento normal. E eis senão quando, já com o concurso entre empreiteiros lançado,
recebemos um telefonema da empresa que em Portugal fabrica esse material,
alertando para a pena que se viria a sentir se um edifício tão emblemático não
pudesse beneficiar da alvura do cimento branco, um material que é fabricado nos
limites da diocese de Leiria-Fátima, e fora empregado nos grandes monumentos que
fazem a riqueza arquitectónica desta região, o mosteiro de Alcobaça e o convento
da Batalha. Rendidos ao argumento de tão nobres vizinhos, tivemos que alargar o
concurso por estes 45 dias. Pena por pena, antes agora que depois, e por isso aqui me
apraz deixar um sincero agradecimento pelo alerta e pela assistência prometida.
11 - Para terminar, desejo dirigir algumas palavras às pessoas que vão ser
responsáveis directas pela execução desta tarefa das estruturas.
Senhor representante da Somague! Diz-nos a experiência que, por melhor e
mais bem feito que esteja um projecto, ele é como um ser vivo, que mexe à maneira
que cresce, e se adapta, se corrige, se aperfeiçoa, sem nunca estar completamente
projectado ou realizado, já que mesmo para além da entrega definitiva da obra,
há-de haver sempre pequenas ou grandes coisas a consertar. Muitos problemas
teremos de resolver, nestes longos dezasseis meses, alguns talvez bem embaraçosos.
À Somague são entregues os fundamentos, o que menos se vê, mas o que mais
importância tem. Peço que se seja rigoroso, a começar pelos prazos. E que em tudo
se tenham os olhos postos em milhões de peregrinos que quererão ver na nova igreja
um reflexo luminoso da infinita perfeição de Deus, e um apelo à contemplação das
coisas do alto.
Ao Senhor Engenheiro Paulo Bravo o meu apelo vai no mesmo sentido! Gratos à
FASE, pelo cuidado e direi precisão técnica, com que tem honrado o nosso contrato,
esperamos confiadamente que não lhe faltará o necessário sentido de vigilância para
que se mantenham a qualidade, os prazos, e os preços. Imprevisíveis hão-de surgir,
mas, se quisemos dar ao projecto mais tempo que à própria obra, foi para evitarmos
as derrapagens de que se ouve falar em tantos projectos feitos à pressa.
Não se estranhará que também tenha recomendações para o Senhor Arquitecto
Tombazis, e para a equipa projectista, cuja presença e trabalhos de gabinete vão ser uma
necessidade quase permanente. E sobretudo porque, do lado do paisagismo, temos ainda
muito trabalho a fazer, trabalho delicado que exige a coordenação de vários arquitectos.
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Em Destaque
Para todo o Santuário, e nomeadamente para as pessoas que constituem o Serviço
de Ambiente e Construções, a escolha deste lugar para esta cerimónia constitui um
acto de fé e de esperança. Escrevemos em 1996, no opúsculo programático, que a
relação do GECA com o lugar em que realizamos esta cerimónia «não pode ser senão
de harmoniosa complementaridade, dado que a Capelinha das Aparições, construída
no local onde Nossa Senhora apareceu, constitui, juntamente com a imagem que na
mesma se venera, o lugar fontal do Santuário, ou seja, aquele para que converge,
onde chega, e donde parte, a totalidade dos peregrinos e visitantes. É necessário que
as celebrações do GECA não só não distraiam os peregrinos da Capelinha, como
ajudem a encaminhá-los para lá.» (p. 69s). E mais: desde o princípio se procurou que
a articulação e harmoniosa relação com o conjunto edificado (Capelinha, Basílica
com colunatas, casas de Nossa Senhora do Carmo e N.ª S.ª das Dores, Centro
Pastoral) e mesmo com a zona verde de ligação aos Valinhos «deve garantir-se por
um processo de inserção a todos os níveis». (p. 70).
A nossa esperança é que esta obra signifique um grande passo em frente no
acolhimento dos peregrinos, para a vivência da mensagem de Fátima. Evoquei, por
mérito alheio, a vizinhança de dois grandes monumentos nacionais da região de
Leiria-Fátima. Mas tenho de afirmar que não veio de lá a inspiração para a decisão
que hoje toma uma etapa decisiva. Quem nos levou a esta tarefa foram os peregrinos
de Fátima, foi a mensagem de Fátima, foi em ultima análise, como esperamos, a
vontade de Deus. Compreendemos que um certo número de pessoas (pelos dados
recolhidos à volta de dez por cento), algumas das quais alegremente respeitamos
como grandes peregrinos de Fátima, entendesse que poderiam ou deveriam ter
outras direcções as tarefas pastorais do Santuário, quer na decisão de construir, quer
nos locais para isso escolhidos, quer ainda no projecto seleccionado ou na equipa
preferida. A melhor maneira de lhes manifestar a todos o nosso respeito é dizerlhes que considerámos sempre, em devido tempo, as opiniões diferentes que nos
chegaram, e que aliás só em raros casos não tinham já sido consideradas nas nossas
reuniões. Todos sabemos porém, como até na consciência individual se cruzam
constantemente pistas diversas entre as quais há que escolher para não paralisar.
Ao Senhor Bispo de Leiria-Fátima, a quem coube a última palavra neste projecto,
aos membros e assessores do SEAC, ao Conselho de Pastoral do Santuário, a todos os
colaboradores, assalariados e voluntários, à equipa projectista, à FASE, a todos os que
estão connosco, mesmo com opiniões divergentes, a nossa gratidão e a certeza de uma
oração que vamos continuar para que possam, quando a obra estiver concluída, connosco
dar graças a Deus: ou porque não errámos quase nada, louvor que com certeza não
mereceremos, ou porque, apesar dos erros, conseguimos um resultado aceitável.
E já que estamos a iniciar um lugar de culto em louvor da Santíssima Trindade,
deixai que termine com a doxologia que sempre nos conduziu neste projecto, ao
longo dos anos: Glória ao Pai, e ao Filho e ao Espírito Santo.
P. Luciano Guerra, Reitor do Santuário de Fátima
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Em Destaque
Subcomissão Parlamentar de Turismo visitou obras
A maquete e o projecto da Igreja da Santíssima Trindade foram apresentados a
uma delegação da Subcomissão de Turismo da Assembleia da República, que esteve
no Santuário de Fátima, no dia 9 de Fevereiro.
No final da apresentação desta obra, pelo Reitor do Santuário, o presidente da
Subcomissão Parlamentar, Hugo Veloso, saudou, em nome de todos os deputados
presentes, a iniciativa do Santuário. Adjectivando a obra como “projecto grandioso”,
Hugo Veloso salientou o espírito empreendedor do Santuário e deixou claro o
compromisso do grupo em apoiar no “que venha a ser preciso” a obra. “Esta é uma
ideia muito concreta do espírito empreendedor que quer dotar Fátima de melhores
condições. Nascerá aqui uma grande obra”, afirmou este responsável.
O grupo de deputados, acompanhados pelos responsáveis da Região de
Turismo Leiria-Fátima, foi recebido pelo Reitor do Santuário de Fátima tendo
estado também presente neste encontro o Presidente da Câmara Municipal de
Ourém, David Catarino. O autarca fez uma primeira caracterização do Concelho
de Ourém aos mais diversos níveis, das suas mais valias às principais carências,
e apresentou os principais projectos previstos para Fátima. “A maior necessidade
de Fátima é a requalificação urbana, com a criação de condições para o peregrino,
principal visitante de Fátima”, explicou o autarca, que apresentou como principal
investimento privado no concelho a Igreja da Santíssima Trindade, a Nova Basílica.
Um outro projecto, este público e para o qual o presidente da Câmara de Ourém diz
contar com o compromisso de apoio por parte do Governo, é a Requalificação da
Avenida D. José Alves Correia da Silva, na envolvente da Nova Basílica. O projecto
compreende, na vizinhança com o Santuário, a transformação da via em passageminferior / túnel, o aumento da área de passeio e a redução da faixa rodoviária.
“O nosso objectivo é dignificar a Cidade da Paz e originar um novo olhar sobre
Portugal”, disse David Catarino aos presentes.
Em jeito de sugestão, o Reitor do Santuário de Fátima propôs ao Presidente
da Câmara Municipal de Ourém a realização de um congresso sobre Aljustrel,
localidade onde nasceram os pastorinhos a quem Nossa Senhora apareceu, e que
recebe anualmente um elevado fluxo dos peregrinos que acorrem ao Santuário.
“Aljustrel daqui a mil anos”, foi o tema desde logo avançado por Monsenhor
Luciano Guerra para um congresso onde se poderiam levantar todas as questões
relacionadas com Aljustrel. Uma reflexão sobre o que se quererá e poderá, na medida
do possível, oferecer aos futuros peregrinos desta aldeia.
A organização desta visita ao Santuário coube à Região de Turismo LeiriaFátima e inseriu-se numa jornada que procurou dar a conhecer os grandes projectos
turísticos, em curso ou a implementar, na área desta Região de Turismo. O grupo fez
ainda uma visita a Alcobaça, ao projecto do Eco Parque dos Monges; a uma unidade
hoteleira da Nazaré e ao Museu do Vidro, na Marinha Grande.
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Em Destaque
Primeira pedra veio do túmulo de São Pedro
A primeira pedra da nova Igreja da Santíssima Trindade, foi retirada do túmulo
de São Pedro, em Roma, e oferecida pelo Papa João Paulo II. A entrega foi feita
numa recente audiência concedida pelo Papa ao reitor do Santuário, depois de um
pedido feito por D. Serafim Ferreira e Silva, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima. Em
declarações à Agência Lusa, D. Serafim considerou esta oferta “mais um motivo
de orgulho para Fátima porque foi extraída do túmulo de São Pedro, no Vaticano”,
simbolizando a união do Santuário com a Igreja.
A nova Igreja da Santíssima Trindade começou a ser construída em Fevereiro
mas os trabalhos de elevação do edifício só vão ter início em Junho. A colocação
simbólica dessa pedra está prevista para o dia 6 desse mês, solenidade da Santíssima
Trindade, à qual o novo templo será consagrado. “Esta primeira pedra, verdadeira
pedra angular no sentido espiritual, consiste num precioso e histórico fragmento
marmóreo do túmulo do Apóstolo S. Pedro, sobre o qual está construída a Basílica
que lhe é dedicada, na colina do Vaticano”, refere um comunicado do Santuário, que
acrescenta: “é mais um agradecimento de João Paulo II pela sua recuperação depois
do atentado que sofreu em 13 de Maio de 1981”. A relíquia “servirá também de
estímulo para todos quantos vierem a visitar o novo templo, no sentido de cultivarem
o respeito para com a autoridade suprema da Igreja, a quem o Segredo de Fátima dá
relevo de primordial importância”, nota ainda o documento.
Momento em que o Santo Padre entrega a “pedra” ao reitor do Santuário
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Peregrinação diocesana a Fátima
“Só a Vós quero servir…”
No fim-de-semana de 27 e 28 de Março, realizou-se a 73ª peregrinação diocesana
a Fátima, onde a Mãe de Jesus nos visitou e manifestou a sua ternura. Acontecimento
mais visível da Igreja Diocesana de Leiria-Fátima, a Peregrinação é também um
contributo excelente para o crescimento do sentido e da consciência eclesiais.
Este ano, o programa pastoral propõe a palavra de Jesus: “Como Eu vos fiz, fazei
vós também” (Jo 13,15), intimamente associada ao gesto do lava-pés.
Exemplo claro desta disponibilidade a Deus e aos irmãos é Santo Agostinho, cuja
exclamação: “Já há muito tempo só a Vós amo... só a Vós quero servir…” (Solil. 1,
1, 5) foi escolhida como tema da peregrinação que ocorreu neste Ano Agostiniano.
Olhando para Cristo e para o testemunho do padroeiro da Diocese, propunha-se aos
peregrinos que contemplassem os gestos e palavras do Senhor, como Maria.
A peregrinação começou com uma celebração preparatória, efectuada nalgumas
comunidades no domingo anterior ou durante a semana. Para este, como para os
restantes actos, foi de grande utilidade o guião previamente elaborado, à semelhança
dos anos anteriores.
Os mais jovens iniciaram a sua caminhada na manhã de sábado, 27, com
trabalhos por grupos. Durante a tarde, prosseguiram as suas actividades, no Centro
Paulo VI, celebraram a Via-Sacra nos Valinhos e voltaram ao Paulo VI para um
concerto de música de mensagem.
Ainda no sábado, e no mesmo Centro Pastoral, foi inaugurada uma exposição
de pintura e escultura sobre Santo Agostinho. Contou com a animação musical do
“Chorus Auris” e uma conferência, pela pintora Emília Nadal. (Ver notícia detalhada
no âmbito do “Ano Agostiniano”, nesta revista.)
Grande parte dos peregrinos fizeram o caminho a pé e outros se lhes juntaram
nas diferentes Via-Sacras que, na manhã de domingo, convergiram de quatro pontos
distintos para a Capelinha das Aparições. O momento central, a Santa Missa, iniciouse pelas 11h00, com uma assembleia de cerca de 30 mil pessoas. A acompanhar a
imagem de Nossa Senhora na procissão para o altar do Recinto, seguiram estandartes
dos diversos grupos, movimentos e paróquias.
Presidiu o Bispo diocesano, D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva, que saudou
os presentes “na paz de Cristo”, com especial destaque para os escuteiros – que
responderam “Alerta”! – e para os peregrinos que vieram a pé. O frio e a chuva
obrigaram a abrir os chapéus por duas vezes. Houve quem procurasse abrigo, mas
muito poucos terão abandonado o Santuário.
A homília de D. Serafim, em tempo de Quaresma, foi um convite à reflexão e à
conversão, incentivando a que todos “escrevessem um livro com quatro capítulos,
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Em Destaque
os pontos cardeais básicos do cristão”. O primeiro capítulo teria como base o lema
anual da Diocese: “Fazei como Eu vos fiz”, uma reflexão sobre o que fez Jesus
Cristo, servindo a Deus. À imagem de Santo Agostinho, o segundo capítulo seria:
“Só a Vós quero servir”, porque Deus é a verdade, a força, a alegria e a razão de
viver. O terceiro focaria o tema anual do Santuário de Fátima: “Honra teu pai e tua
mãe”, uma meditação pela família, porque, afirmou D. Serafim, “a sociedade está
doente, precisa que a célula básica seja desintoxicada. Devemos honrar a família, os
mais próximos e os vizinhos, sem marginalizar”. O último capítulo convidaria ao
arrependimento e ao perdão: “Que pena não me ter arrependido mais cedo”, disse
Santo Agostinho. “Devemos perdoar e fazer um esforço para não voltar a pecar”,
afirmou o prelado.
No final da celebração, fizeram a Consagração da Diocese a Nossa Senhora:
“Senhora de Fátima, aqui aparecida mais brilhante que o sol, vieste pedir a
conversão, para que haja paz. Recomendaste que rezemos todos os dias, a fim de
nos encontrarmos melhor connosco e com Deus. Queremos seguir e testemunhar
a tua Mensagem. Sabemos que é Jesus Cristo o único Salvador, que está no
centro, e é a fonte de toda a vida cristã. És a padroeira da nossa Diocese, que está
verdadeiramente empenhada na formação permanente e na renovação sinodal.
Queremos intensificar a fé, com mais ardor e mais amor. Contamos com a tua ajuda.
Neste Ano de Santo Agostinho, vamos insistir mais no valor da família, e no estudo
da Bíblia. Prometemos ser mais fiéis aos compromissos cristãos, para bem de todos.
Rezamos pelas famílias, pelos mais novos e pelos mais velhos, pelos deficientes
e pelos marginalizados, pelos não praticantes e pelos não crentes. Rezamos pela
conversão das pessoas e das nações! Rezamos pela Paz! Santa Maria, Mãe de Deus,
rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte! Ámen!”
Festa Mensagem
Durante a tarde, a Peregrinação continuou e concluiu-se, no Centro Pastoral
Paulo VI, com a realização da Festa-Mensagem. Foi dedicada a Santo Agostinho
e compreendeu uma encenação intitulada “Dos amores ao Amor”, retratando o
percurso espiritual do padroeiro da diocese.
A representação, que englobou dança, música e teatro, coube a três instituições
escolares de Fátima, num total de 120 crianças e jovens. O Colégio do Sagrado
Coração de Maria dramatizou a insatisfação e inquietação de Santo Agostinho, o
Colégio de S. Miguel encenou a dinâmica da sua procura constante e o Centro de
Estudos de Fátima evocou o seu encontro feliz com Deus.
Foi um espectáculo de grande qualidade, ao qual assistiram cerca de 1500 pessoas,
fruto do trabalho em equipa levado a cabo pelas referidas instituições escolares. No
final, D. Serafim Ferreira e Silva disse sentir-se “muito orgulhoso” pela qualidade
artística patenteada e propôs a repetição do espectáculo noutras ocasiões.
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Ano Agostiniano
“Summa Augustiniana”
No dia 17 de Janeiro celebrou-se a restauração da diocese de Leiria-Fátima.
As comemorações ganharam contornos especiais, no âmbito do Ano Agostiniano.
Momento alto do programa foi a apresentação da composição musical original
“Summa Augustiniana”, do autor leiriense João Santos. Sobre a obra e a evocação
em geral, apresentámos já notícia detalhada nesta edição.
Santo Agostinho no Dia do Consagrado
No passado 2 de Fevereiro, a Diocese deu grande destaque ao Dia do Consagrado,
com o apoio dos institutos religiosos femininos e masculinos, do Secretariado
Diocesano da Pastoral Vocacional e do Centro de Formação e Cultura. Em pleno
Ano Agostiniano, a Regra de Santo Agostinho deu o mote às celebrações, que
integraram um conjunto de actividades de oração e reflexão, com vários testemunhos
de consagrados na Igreja.
Na véspera, na igreja de Santo Agostinho, em Leiria, celebrou-se uma vigília
de oração pelas vocações. Inspirados no testemunho e no itinerário de Agostinho,
os jovens, especialmente, rezaram a sua própria busca de Deus, reconhecendo
que Ele se antecipa sempre e vem ao seu encontro. Esta vigília teve o seu centro
na contemplação do mistério de Deus. Mas também houve espaço para escutar o
testemunho de quem ainda procura e de alguém que já (se) encontrou (em) Deus. Os
alunos do Colégio Conciliar de Maria Imaculada, da Cruz da Areia, colaboraram de
forma peculiar, com uma encenação baseada na mensagem do Santo Padre para o
Dia Mundial da Juventude: “Vós sois a luz do mundo”.
O dia 2 de Fevereiro foi reservado para uma jornada de reflexão, em Fátima,
sobre a influência da regra de Santo Agostinho na vida religiosa, as novas formas
de vida consagrada e os desafios do Espírito Santo à vida consagrada na Igreja e no
Mundo de hoje. Destacaram-se a conferência “O percurso da Regra Agostiniana na
vida religiosa”, por frei José Manuel Fernandez, e um testemunho sobre a vivência
da regra agostiniana, pela Comunidade da Ordem de Santo Agostinho presente em
Portugal.
A celebração eucarística, na Basílica, foi presidida por D. Serafim Ferreira e
Silva, que festejou no mesmo dia o 11º aniversário de Bispo Residencial da Diocese
de Leiria-Fátima. Oportunamente, leram-se pequenas notas biográficas de alguns
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Em Destaque
religiosos e religiosas jubilários, que, na ocasião, renovaram os seus votos. Para
todos os presentes, que dedicam a vida a Cristo e se colocam ao serviço do carisma
recebido, o Bispo de Leiria-Fátima pediu uma salva de palmas. “Estamos aqui a
viver, e a aquecer a nossa fé”, disse. E incitou a todos para que, como referia o
guião litúrgico publicado, “saibam dar e receber o Menino Jesus, símbolo da pureza,
da paz e da verdade, nas comunidades onde vivem. A apresentação do Salvador a
todos os que O esperam pode ser feita pelo testemunho, por palavras e por acções”.
Durante a cerimónia concelebrada por 45 sacerdotes e participada por cerca de 600
fiéis, um grupo de acólitos entregou a luz do círio, símbolo de Jesus Cristo.
De tarde, retomaram-se os trabalhos, com uma conferência sobre “As novas
formas de Vida Consagrada”, por Fátima Castanheira, e com o testemunho de D.
Augusto César, Bispo de Portalegre e Castelo Branco, sobre as “Provocações do
Espírito aos que o Senhor chamou…”. (Ver na secção “Reflexões” desta edição)
O dia terminou com o canto de vésperas, presididas por D. Serafim, e um jantar/
convívio, seguido de um concerto protagonizado pelo coral “Gaudia Vitae”, de Mira
de Aire.
“O encontro superou as expectativas em número de participantes e em ambiente
criado, de diálogo e de interesse”, como referiu o responsável do Centro de Formação
e Cultura, entidade organizadora desta jornada de reflexão e convívio.
Jornadas: “Santo Agostinho e a Cultura Portuguesa”
A 14 e 15 de Fevereiro, realizaram-se as jornadas “Santo Agostinho e a Cultura
Portuguesa”, organização da Escola de Formação Teológica de Leigos da diocese de
Leiria-Fátima, em parceria com o CAES – Centro de Apoio ao Ensino Superior – e
o MEC – Movimento de Educadores Católicos. Os trabalhos decorreram na Escola
Superior de Educação de Leiria (dia 14) e na igreja de Santo Agostinho (dia 15).
No âmbito do Ano Agostiniano, entre as jornadas de abertura, em Fevereiro
de 2003, sobre o “Itinerário espiritual” do padroeiro da Diocese, e o Congresso de
encerramento, sobre “Santo Agostinho – O Homem, Deus e a Cidade”, programado
para os dias 11, 12 e 13 Novembro de 2004, altura (dia 13) em que passam os 1650
anos do seu nascimento, estas jornadas estudaram a presença deste “filho ilustre
da Igreja e do Ocidente” nos seus herdeiros espirituais, na nossa terra e na cultura
portuguesa.
Subjacente está sempre a convicção de que a efeméride é uma oportunidade de
diálogo para crentes e não crentes sobre as grandes questões da condição humana, que
atravessam as mentes e os corações, não só pela intensidade espiritual/intelectual de
Agostinho e sua profunda influência na Igreja e no Ocidente, como pela necessidade
de o nosso tempo se confrontar com modelos credíveis.
A temática do primeiro dia levou a descobrir “A presença dos Agostinhos em
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Em Destaque
Portugal”, pelo prof. Doutor Saul António Gomes, a visitar áreas como “Santo
Agostinho e a Literatura Portuguesa”, pelo prof. Doutor João Marques, “O
Pensamento Agostiniano e a Filosofia Portuguesa”, pelo dr. Pinharanda Gomes, e
“Santo Agostinho e a Música”, pelo mestre José Rosa. Os trabalhos terminaram com
a audição do coral “Calçada Romana”.
No segundo dia, houve um olhar mais de perto para a nossa realidade,
descobrindo “A presença dos Agostinhos na Diocese de Leiria-Fátima”, pelo cónego
Luciano Cristino, e a importância e o significado de “Santo Agostinho, Modelo de
Fé e Padroeiro”, pelo prof. Doutor Carlos Azevedo.
Retiro “Tarde Te amei”
De 11 a 14 de Março, realizou-se o retiro “Tarde Te amei”, orientado pelo padre
Manuel Santos José, da Fundação Maria Mãe da Esperança, por solicitação do
Centro de Formação e Cultura de Leiria-Fátima. Foram três dias e meio em ambiente
de silêncio e de reflexão, sobretudo bíblica, na consideração de como e quando a
Palavra de Deus falou a Agostinho sobre o Cristo que a sua fulgurante inteligência
tivera dificuldade em captar.
Uma conversão tão magistralmente “confessada” não pode deixar de ser ainda
hoje ocasião de apelo de Deus ao avanço espiritual. Por isso, alguns participantes
testemunharam ter “descoberto o padroeiro da sua diocese” e ganho um novo desejo
de ler ou reler as sua “Confissões”.
Exposição Agostiniana no Centro Pastoral Paulo VI
Depois da Peregrinação Diocesana (cuja
notícia demos atrás), um dos eventos mais
significativos realizados em Fátima, a propósito
das celebrações agostinianas, é a exposição de
artes plásticas “Santo Agostinho – a permanente
actualidade do seu pensamento”, patrocinada pelo
Santuário e cuja comissária é Emília Nadal, actual
presidente da Sociedade Portuguesa de Belas
Artes.
O pensamento de Agostinho, como percurso
“da Liberdade, da Felicidade, da Beleza, do Amor,
da Verdade, do Deus de Jesus Cristo” e a própria
figura do Santo, autor das “Confissões” – obra
ímpar de inesgotável estímulo intelectual –, Bispo
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Em Destaque
de Hipona e padroeiro da Diocese, foram os tópicos lançados aos artistas convidados.
Cada um criou, nas áreas de escultura ou pintura, as obras agora expostas no Centro
Pastoral Paulo VI: catorze trabalhos de dez artistas.
A escultura “Mestre da beleza tão antiga e tão nova”, de Irene Vilar, obteve o
prémio de aquisição pelo Santuário de Fátima. O júri atribuiu ainda quatro menções
honrosas ao conjunto das obras apresentadas por Filipe Rodrigues, João José Araújo,
José Paulo Ferro e Maria Gabriel.
Na cerimónia de inauguração, D. Serafim Ferreira e Silva, Bispo de LeiriaFátima, proferiu algumas palavras sobre o “Pensador” e “Mestre Santo Agostinho”,
que “deixou a imaginação voar, isto é, criou, na mente conceitos, que continuam a
ser vitaminas da vida, e valores de sempre”.
Bem integrada no contexto físico do Centro Pastoral, a exposição enquadra frases
de Santo Agostinho e é acompanhada por notas da autoria do Reitor do Santuário
de Fátima, Mons. Luciano Guerra, sobre os fundamentos da arte no pensamento de
Agostinho.
No decorrer da inauguração, Emília Nadal realizou uma conferência, à partida
controversa, buscando a razão pela qual Santo Agostinho, toda a vida rodeado de
obras de arte e de reflexões sobre a arte, não dedicou, nem escrito, nem pensamento,
que ficassem registados, sobre a matéria. “Se Santo Agostinho se tivesse debruçado
sobre estes temas (da arte), hoje haveria um corpo de pensadores, isto porque, em
todas as matérias a que ele se dedicou, conseguiu criar pensadores”, disse Emília
Nadal. Em compensação, ao longo dos tempos, os ensinamentos, as dúvidas e a
própria figura do Santo foram motivo e fonte de numerosas elaborações artísticas, a
que a conferencista se referiu.
Uma exposição a visitar, com entradas gratuitas, até Agosto.
Festival de Teatro da Alta Estremadura
Com estreia no passado dia 28 de Abril, a sexta edição do Festival de Teatro
da Alta Estremadura aposta, pela primeira vez, num único tema, dedicado a Santo
Agostinho, um dos maiores pensadores da civilização ocidental. O desafio lançado
pela diocese de Leiria-Fátima foi aceite pelo Teatro Amador de Pombal, pelo Sport
Operário Marinhense e pelas companhias leirienses Te-ato e Nariz, que, a partir
das “Confissões”, criaram quatro projectos cénicos originais, respectivamente:
“A Fantástica Aventura do Devasso que virou Santo!”, “Ao Encontro da Luz”,
“Confissões de Aurélio – dito o Santo Agostinho” e “Memórias”.
Os municípios de Leiria, Marinha Grande, Ansião, Batalha e Porto de Mós
acolhem os 23 espectáculos do festival, que decorre durante cerca de um mês.
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Em Destaque
Baptismo de Santo Agostinho
Para evocar o baptismo de Santo Agostinho, celebrado por Santo Ambrósio
na catedral de Milão, na vigília pascal do ano 387, de 24 para 25 de Abril – com
ele foram também baptizados o seu amigo Alípio e o seu filho Adeodato – esteve
programada uma encenação pelos alunos do Colégio de Nossa Senhora de Fátima,
para a noite de 24 de Abril, na igreja de Santo Agostinho. Por dificuldades surgidas à
última hora, a apresentação foi adiada para 16 de Junho, no mesmo local.
Entretanto, no dia 25, em Maceirinha, freguesia da Maceira, foi repetido o
espectáculo que tivera lugar em Fátima por ocasião da Peregrinação Diocesana.
Nota histórica
O encontro de Agostinho com Ambrósio culmina na sua conversão e baptismo
e teve, para a fé e para a construção de uma matriz cultural europeia, grandes
consequências. Neles dialogam duas sensibilidades do Império Romano: a africana e
a nórdica (Ambrósio nasceu na actual Alemanha). Em Milão, sede da corte imperial
e capital ocidental do Império, Agostinho cumpre os últimos passos em direcção à
fé, sob o magistério de Ambrósio.
Agostinho chega a Milão em 384 para ocupar o cargo oficial de professor de
retórica, graças à influência dos maniqueus, seita a que pertencia. Uma das suas
primeiras tarefas oficiais terá sido um discurso de homenagem a Ambrósio. Este
acolheu-o de um modo paterno, com benevolência digna de um bispo que – admite
– começou a amá-lo. Tocado pela sua personalidade carismática começa a seguir
a sua pregação pública. Dele aprende a interpretar o Antigo Testamento e o ensino
católico; e convence-se da falsidade das doutrinas dos maniqueus.
Começa assim o processo da sua conversão intelectual, mas faltava-lhe uma
outra: a conversão da vontade. É então que entra em cena Simpliciano, padre muito
estimado nos círculos intelectuais de Milão, e que, em Julho de 386, relatando a
conversão de um intelectual de Roma, de nome Vitorino, e a sua profissão pública da
fé, leva Agostinho a uma escolha radical e à decisão de cortar com o passado e com
o ensino da retórica.
Com Mónica, Alípio, o filho Adeodato e outros amigos, retira-se para Cassicíaco,
nas proximidades de Milão, para uma casa que lhe fora disponibilizada pelo amigo
íntimo Verecundo, também ele mestre de retórica em Milão. O tempo em Cassicíaco
foi passado entre conversas, orações e meditações, já ao jeito de uma experiência de
vida monástica que o acompanhará até ao fim dos seus dias.
Durante o Inverno de 387, deixa Cassicíaco e regressa a Milão para dar o seu
nome e juntar-se aos que se preparavam para o baptismo. Esta preparação próxima
era conduzida pessoalmente por Santo Ambrósio. Na noite pascal, de 24 para 25
de Abril, recebe o baptismo e confessa: fomos baptizados, e abandonou-nos a
preocupação pela vida passada (cf. Conf. IX, VI, 14).
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Em Destaque
Próximos eventos do Ano Agostiniano:
• 22 de Maio (Criação da Diocese) - Concerto de piano, canto e textos de Santo
Agostinho (Mercado de Santana, Leiria)
• 28 de Maio (Evocação dos Agostinhos em Porto de Mós) - Apresentação de
uma composição original para sopros (Igreja de S. Pedro, Porto de Mós)
• 13 de Julho (Dedicação da Sé) - Repetição do concerto para sopros (Sé de
Leiria)
• 27 de Agosto (Festa de Santa Mónica) a 14 de Novembro - Exposição de
pintura: As Confissões de S. Agostinho e apresentação de uma obra musical
original para coro de câmara (Igreja de Santo Agostinho, Leiria)
• 28 de Agosto (Festa de S. Agostinho) - Celebração litúrgica do Padroeiro
(Igreja de Santo Agostinho, Leiria)
• 3 de Outubro (Dia da Diocese) a 14 de Novembro - Exposição temática:
Iconografia trinitária (Igreja de S. Pedro, Leiria) e concerto de órgão (Sé de
Leiria)
• 11 a 13 de Novembro - Congresso: Santo Agostinho - O homem, Deus e a
Cidade (Leiria)
• 14 de Novembro - Eucaristia de encerramento e cantata original para orquestra e
coros (Sé de Leiria)
• 18, 20 e 21 de Novembro - Repetição da cantata (respectivamente, em
Alcobaça, Pombal e Ourém)
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Centenário de D. João Pereira Venâncio *
A Diocese de Leiria-Fátima está
a organizar uma série de iniciativas
que se vão estender ao longo do ano,
para assinalar o primeiro centenário
do nascimento de D. João Pereira
Venâncio, uma das grandes figuras de
destaque do bispado de Leiria.
D. João Pereira Venâncio, oriundo
do clero leiriense, esteve ao serviço
da diocese de Leiria, como bispo, de
1954 a 1972, primeiro como Auxiliar
de D. José Alves Correia da Silva,
passando a residencial em 1958.
Amado e admirado pela sua Diocese,
este homem, de abnegada humildade e
discrição, deixou uma obra ímpar à sua
Igreja e ao mundo.
Incansável na missão de divulgar
a Mensagem de Fátima pelo mundo,
teve a honra de receber o Papa Paulo
VI, na Cova da Iria, por ocasião do
Cinquentenário das Aparições de
Fátima, a 13 de Maio de 1967. Na sua
solicitude pastoral, privilegiou sempre a formação dos futuros padres e acalentou
verdadeiros projectos de educação. A ele se deveu a construção do novo Seminário
e dos dois Colégios diocesanos. Era um homem de Deus, tanto na intimidade da
sua vida, como no trato próximo e dedicado com os fiéis confiados ao seu cuidado
de pastor. Foram estas, talvez, as facetas mais marcantes de uma figura que muitos
consideram ter sido um dos grandes bispos de Leiria.
É a este homem, sobretudo à sua obra, tanto material como, e sobretudo,
espiritual, que a Diocese de Leiria-Fátima presta merecida homenagem, passados
quase vinte anos sobre o seu desaparecimento.
O programa das comemorações do primeiro centenário do seu nascimento teve
início a 8 de Fevereiro, em Monte Redondo, sua terra natal. Uma data especial que
simboliza o início de um percurso surpreendente – D. João Pereira Venâncio nasceu
a 7 de Fevereiro de 1904.
___________________________
* Adaptado de um texto de Mónica Monteiro Santos, in O Mensageiro de 29-01-2004.
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Em Destaque
Para além de uma celebração eucarística, presidida por D. Serafim, Bispo de
Leiria, na igreja de Monte Redondo, o primeiro dia de comemorações foi marcado
com a inauguração de um busto do homenageado, no adro, e uma cerimónia
evocativa, no salão paroquial, seguida da abertura de uma exposição fotográfica e
documental, que revela pedaços menos conhecidos da sua vida: os seus primeiros
tempos em Monte Redondo, o seu relacionamento com a família, as suas memórias
sobre a terra que o viu nascer.
A próxima iniciativa terá lugar no dia 4 de Junho, em Fátima. Era inevitável
assinalar essa ligação tão profunda, pois D. João está definitivamente associado à
divulgação universal da mensagem de Fátima.
Entre outros acontecimentos, está prevista uma exposição documental, a ser
exibida no Centro Pastoral Paulo VI, com importantes aspectos biográficos.
Ainda em Fátima, no Colégio de São Miguel, vai ter lugar, no mesmo dia 4, um
espectáculo multimédia, centrado, sobretudo, na figura de D. João como percursor
de um projecto pioneiro de educação.
O fecho das comemorações, agendado para 8 de Dezembro, terá lugar na catedral
de Leiria, sob a presidência do bispo diocesano, D. Serafim de Sousa Ferreira e
Silva, com solene celebração eucarística, uma sessão em que será orador Tomás
Oliveira Dias e um concerto de encerramento.
Está a ser elaborada uma biografia de D. João Pereira Venâncio, que se prevê
seja publicada muito em breve, obra imprescindível para dar a conhecer e perpetuar
a memória de quem vive no coração da Diocese e da Igreja.
Nota biográfica
Foi entre os anos de 1954 e 1972 que D. João Pereira Venâncio esteve à frente da
diocese de Leiria, primeiro como bispo auxiliar e depois residencial. Sucedendo ao
primeiro bispo da diocese restaurada, D. José Alves Correia da Silva, este homem,
que os mais chegados recordam pelo trato afável, a discrição e a fé fervorosa, deixou
um legado precioso ao bispado, que serviu incansável, mas também ao mundo.
A sua simpatia e desvelo aproximaram-no das comunidades que procurava
acompanhar de perto. A diocese de Leiria e os seus fiéis tinham-no em grande
estima. Nos seus escritos, é evidente o esforço de ser simples para conseguir fazer
chegar a mensagem até ao mais humilde e a constante preocupação pelos problemas
dos homens e da Igreja do seu tempo.
Quando, em 30 de Setembro de 1954, o então Cónego João Pereira Venâncio, era
nomeado bispo auxiliar de D. José, o diário “Novidades” publicava uma extensa nota
bibliográfica, revelando a sua intensa dedicação à Igreja, com o seguinte acrescento:
“Goza das maiores simpatias em Leiria e em todos os meios onde tem desenvolvido
serena e luminosa actividade apostólica. Impuseram-no à consideração e estima tanto
do clero como dos leigos as suas brilhantes virtudes intelectuais e de coração”.
São estes pequenos grandes pormenores – que por vezes se parecem escapar por
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Em Destaque
ter sido tão humilde – que melhor definem a sua pessoa e o seu amor a Deus e aos
homens. Para ele, era antes de mais no encontro com Deus que os homens podiam
ser melhores e chegar a um mundo melhor.
Outra faceta que todos lhe reconheciam era a de homem peregrino. Sempre com
Fátima no coração, levaria a sua mensagem ao mundo inteiro. Havia iniciado as
suas viagens com a imagem de Nossa Senhora em 13 de Maio de 1947. Retomouas depois como bispo e não mais abandonaria essa missão enquanto a saúde lho
permitiu.
Como o seu antecessor, D. João compreendeu que o bispo de Leiria, além da
missão de dirigir a sua Igreja particular, recebe de Deus a Mensagem de Fátima.
Nossa Senhora de Fátima e a sua mensagem ocuparam, assim, um lugar privilegiado
na sua vida e acção de pastor.
Nos dias 12 e 13 de Outubro de 1960, acompanhava fervorosamente mais de 700
mil peregrinos reunidos em Fátima. Ao lado da imagem de Nossa Senhora, estava
um círio, oferta do Papa João XXIII, representando o coração do mundo em prece à
Santíssima Virgem pela união e pela paz de todos os povos.
Entretanto, o II Concílio do Vaticano, em cujos trabalhos D. João participou
desde a sua abertura, a 11 de Outubro de 1962, viria a marcar profundamente a
Igreja e também a pequena Diocese de Leiria. Entre os frutos do Concílio, apontou
o sentido profundo da Igreja e a ânsia de uma renovação interior e exterior. Para ele,
“o Concílio veio, de certo modo, consagrar essa esperança que para nós – e para o
mundo – é Fátima”.
No cinquentenário das primeiras Aparições de Fátima, D. João Pereira Venâncio
conseguia concretizar o seu sonho de trazer o Papa a Fátima. A 13 de Maio de 1967,
coube-lhe a honra de receber Sua Santidade o Papa Paulo VI como peregrino de
Fátima.
A partir do ano de 1967, numa altura em que passou a contar com o apoio de um
bispo auxiliar, na pessoa de D. Domingos de Pinho Brandão, para gerir os destinos
da sua Diocese, intensificou as suas viagens pelo mundo, como arauto da mensagem
de Fátima.
Outra faceta notável era a sua preocupação com a educação. Obras como o
Colégio de São Miguel, em Fátima, e o Colégio Afonso Lopes Vieira, na Marinha
Grande, atestam-no claramente. Foi pioneiro, ao idealizar uma estreita ligação entre
a Cultura e a Fé, concretizando deste modo uma forma privilegiada de abertura da
Igreja ao mundo.
O novo edifício do Seminário abria as suas portas em Novembro de 1965,
correspondendo a um novo período de dinamismo para a Diocese. Na sua mente,
tratava-se de renovar o Seminário, dotando-o das infra-estruturas materiais que
há tanto faltavam. Pôde contar com muitas ofertas de amigos, nomeadamente do
estrangeiro, mas a parte espiritual e o recrutamento de vocações constituiriam
sempre e cada vez mais a sua grande preocupação.
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Em Destaque
O percurso de vida de D. João Pereira Venâncio é surpreendentemente rico e, ao
mesmo tempo, humilde e discreto, o que em nada facilita a tarefa do compilador.
Talvez possamos colocar em palavras aquilo que ele significou para a Igreja, para
os seus diocesanos e para o mundo, fazendo uso da carta de Paulo VI, poucos meses
depois de D. João ter pedido a resignação de bispo da Diocese. O Santo Padre, em
carta autógrafa de 7 de Outubro de 1972, expressava-lhe os sentimentos de gratidão
deste modo: “No momento de deixar a mansão, e que durante 18 anos desempenhou
o ministério pastoral e onde nos recebeu, aquando da Nossa peregrinação a Fátima,
de grata recordação, queremos exprimir reconhecimento e apreço, pelo zelo
generoso, constantemente demonstrado, com amor à Igreja e às almas, vivido em
discreta e escondida abnegação, mas nem por isso menos fecundo em resultados”.
Depois da sua resignação, viveria mais 13 anos. Sempre discreto, passava a vida
em oração e recolhimento. A sua adoração a Deus continuaria a alimentar a diocese
que serviu como sacerdote e como bispo durante quase 56 anos.
A 2 de Agosto de 1985, depois de uma dolorosa enfermidade, D. João Pereira
Venâncio, Bispo Emérito de Leiria e Superior Geral dos Cónegos Regrantes de Santa
Cruz, entregou a sua alma a Deus, deixando um monumento de saudade e gratidão
no espírito daqueles que privaram de perto com ele.
Cronologia de uma vida
1904 – A 7 de Fevereiro, nasce em Monte Redondo.
1917 – Com 13 anos de idade, matricula-se no Seminário de Coimbra, diocese a que
pertencia a paróquia de Monte Redondo.
1918 – Breve “Quo vehementius”, pelo qual Bento XV restaura a Diocese de Leiria,
para cujo Seminário, na Quinta da Bela Vista, se transfere como aluno.
1922 – A 6 de Fevereiro, com dezoito anos, inicia em Roma, na Universidade Gregoriana, os estudos de Filosofia e Teologia, que se prolongarão por sete anos.
1929 – A 21 de Setembro, João Pereira Venâncio recebe em Roma o subdiaconado
e, a 21 de Dezembro, a ordenação de presbítero. Pouco depois da sua ordenação
sacerdotal, tinha então 25 anos, regressa a Portugal.
1943 – 12 e 13 de Julho: o Sínodo Diocesano proclama novas Constituições do Bispado. Erige-se o Cabido da Catedral, sendo João Pereira Venâncio um dos cónegos
capitulares nomeados.
1948 – A 1 de Setembro, é nomeado Vice-Reitor do Seminário.
1950 – A 15 de Fevereiro, morre a mãe, Maria Duarte Pereira, em Monte Redondo.
1953 – Juntamente com Monsenhor Lopes da Cruz, o Cónego João Pereira Venâncio
é nomeado pela Santa Sé, Visitador Apostólico dos Seminários Diocesanos de
Portugal. A 8 de Novembro, morre seu pai, José Venâncio, em Monte Redondo.
1954 – A 30 de Setembro, o Cónego João Pereira Venâncio é nomeado bispo titular
de Eurea do Epiro e auxiliar de D. José Alves Correia da Silva. A 8 de Dezembro,
recebe a ordenação episcopal das mãos de D. José e, a 21 de Dezembro, celebra as
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Em Destaque
suas bodas de prata sacerdotais.
1957 - A 4 de Dezembro, após longa enfermidade e um episcopado de 37 anos, morre
D. José. Nesse mesmo dia, segundo as normas canónicas, D. João Pereira Venâncio
é eleito Vigário Capitular.
1958 – A 13 de Setembro, D. João Pereira Venâncio é nomeado bispo residencial de
Leiria. E a 13 de Novembro, toma posse oficial do seu cargo.
1960 – A opinião pública agita-se com novas referências à terceira parte do “Segredo
de Fátima”. O bispo de Leiria que já visitara o Papa no ano anterior, passa de novo
por Roma no início deste ano e envia uma circular a todos os bispos do mundo
católico para uma jornada de oração e penitência que coincidirá com a peregrinação
a Fátima de Outubro.
1962 – A 11 de Outubro, dá-se a abertura solene do II Concílio do Vaticano, na basílica
de São Pedro, em Roma, sob a presidência do Papa João XXIII.
1963 – Início da Construção, na Quinta da Bela Vista, do novo edifício do Seminário
Diocesano.
1965 – A 2 de Novembro, o Seminário Diocesano passa para o novo edifício. A 8 de
Dezembro: encerramento do Vaticano II.
1967 – Celebrações do Cinquentenário das Aparições de Fátima e da Restauração da
Diocese. A 13 de Maio, Paulo VI visita Fátima, vindo de Roma para Monte Real,
passando depois por Leiria, em cortejo automóvel, até à Cova da Iria.
1970 – D. João Venâncio recebe a medalha de São Tito, distinção com que é agraciado
pelo Patriarca Atenágoras, em Atenas.
1971 – A diocese de Leiria, com Beja, Coimbra e alguns institutos religiosos, cria
em Coimbra o Instituto Superior de Estudos Teológicos, destinado à formação
eclesiástica dos respectivos sacerdotes.
1972 – A 6 de Julho, a Santa Sé anuncia a “resignação” de D. João Pereira Venâncio
e é nomeado bispo residencial de Leiria D. Alberto Cosme do Amaral.
1981 – D. João Pereira Venâncio é internado no hospital Dom Manuel de Aguiar, mas
apesar da gravidade do seu estado consegue reagir e vencer a crise.
1984 – A 8 de Dezembro, os seminaristas dedicam a D. João Pereira Venâncio, nos
trinta anos da sua ordenação episcopal, a sessão comemorativa da festa da Padroeira,
à qual assiste, como fazia sempre que o seu estado de saúde lho consentia.
1985 – A 2 de Agosto, depois de uma dolorosa enfermidade, D. João Pereira Venâncio, Bispo Emérito de Leiria (“Bispo Resignatário”, como se assinava), entrega a
sua alma a Deus. A 3 de Agosto, depois das solenes celebrações na Sé de Leiria,
presididas pelo Cardeal Patriarca de Lisboa, na sua qualidade de Metropolita, e de
uma missa de sufrágio na igreja paroquial de Monte Redondo, D. João Venâncio é
sepultado em campa rasa, como era seu desejo, no cemitério da sua terra natal.
1985 – A 17 de Novembro, nas comemorações dos vinte anos da entrada em funcionamento do novo Seminário Diocesano, é prestada especial homenagem ao seu
fundador, com o descerramento de uma lápide no átrio do edifício.
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Restauro do Carrilhão da Sé
O antigo carrilhão
Uma das utilizações mais elaboradas
dos sinos é o carrilhão, instrumento musical
cuja origem remonta ao século XVII. Ao
seu teclado podem executar-se verdadeiros
concertos. Quando tocado de forma manual,
o teclado acciona mecanicamente o badalo
(dispositivo colocado no interior do sino),
de formar a percutir o sino correspondente à
nota musical desejada.
Mais característico dos Países Baixos,
onde a sua “trama” de sinos pode chegar a
mais de 50, o carrilhão também fez história
em Portugal mas de forma mais discreta.
No País, existem apenas três carrilhões
mecânicos: um deles está em Leiria, na torre
da catedral, outro no Palácio de Mafra e o
terceiro na Torre dos Clérigos, no Porto.
Património diocesano único, o carrilhão de oito sinos habita a torre da Sé desde
1801, ano em que veio substituir um outro, de sete sinos, que aí se instalara em 1772.
Desse instrumento original, preservou-se apenas um sino, que ainda hoje lá está.
Mas o duocentenário carrilhão da Sé deixou de tocar regularmente há cerca de uma
década. Desde então, as melodias que entoava, sobretudo em dias festivos, apenas
vivem na memória dos mais velhos. O seu teclado de madeira foi sendo corroído
pelo uso e pela humidade e os sinos, com as intempéries e o bater dos badalos, foram
rachando, alterando irremediavelmente a musicalidade dos repiques.
O restauro
Mas esta situação não vai manter-se por muito tempo. O Cabido da Catedral
decidiu recuperar este património único. Trata-se, não só de restaurar o velho
instrumento, mas também de instalar um novo carrilhão, que preserve a essência do
original. Também mecânico, mas tecnicamente mais elaborado, o novo conjunto, com
23 sinos, terá outras possibilidades que o tornarão acessível ao completo reportório
dos carrilhões: além das melodias tradicionais, religiosas e populares, poderão
executar-se peças clássicas, adaptadas às particularidades deste instrumento.
A tarefa não é fácil, pois exige um investimento de cerca de 200 mil euros, mas
conta-se com a colaboração da população e de uma campanha de mecenato. A recémcriada Liga dos Benfeitores do Carrilhão lançou o apelo nos semanários diocesanos
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Em Destaque
“Voz de Domingo” e “O Mensageiro”, e espera alargar a sua voz a outros órgãos
de comunicação social e a empresas da região. Uma campanha de mecenato que se
caracteriza pela originalidade, dirigindo-se especialmente a empresas, num convite
pouco comum. Para além dos benefícios nos impostos, dá-se a possibilidade de ser
composto um hino musical para a empresa, entregue em partitura e em CD gravado
no novo carrilhão. Durante cinco anos, a empresa terá direito a cinco concertos da
sua preferência, podendo assinalar ocasiões especiais com o seu hino.
Uma empresa portuguesa, uma holandesa e uma belga são parceiras no projecto
de recuperação do instrumento, que entretanto começou a dar os seus primeiros
passos. Segundo o Cabido da Catedral, até já foi estabelecida uma data para a
sua inauguração, no próximo mês de Novembro, aquando do encerramento das
celebrações que marcam os 1650 anos do nascimento de Santo Agostinho, padroeiro
da Diocese. Por agora, conta-se com a boa vontade de muitos para se obterem os
fundos necessários.
Escola de carrilhanistas
Com este restauro, abrem-se novos horizontes no panorama musical de Leiria.
Os mentores do projecto adiantam um projecto arrojado: a criação de uma escola de
carrilhanistas, que será a primeira em Portugal. A cidade do Lis passará, assim, a ser
o ponto de partida para a música de carrilhão no País.
Associada à criação da escola, está também a aquisição de um teclado de estudo,
que permita aos carrilhanistas preparar a execução das músicas e mesmo fazer a
sua gravação. Através de um sistema electromecânico, o som dos sinos reais é
digitalizado e reproduzido em colunas, o que permite a regulação de volume e
mesmo a utilização de auscultadores.
A nova escola vai ainda contar com um mentor de reconhecido mérito na arte do
carrilhão. No próximo ano lectivo, sob a orientação como professor do carrilhanista
do Palácio Nacional de Mafra, Abel Chaves, irão começar os primeiros cursos livres
para todos os interessados. Não tardará muito até que novos carrilhanistas, formados
em Portugal, possam dar um novo impulso à interpretação e à criação de uma
musicalidade mais próxima do sentir português.
A inauguração
No próximo mês de Novembro, o novo Carrilhão da Sé de Leiria vai fazer a
sua estreia com um concerto protagonizado pelo referido carrilhanista Abel Chaves.
Uma cerimónia que o Cabido da Catedral promete ser inesquecível, até porque, até
lá, ainda podem surgir mais surpresas…
Entretanto, podemos informar, em primeira-mão, que o musicólogo Paulo
Lameiro, grande entusiasta deste projecto, está a preparar um seminário sobre a
temática do Carrilhão da Sé, a realizar em Leiria, após a inauguração do novo
instrumento da velha torre sineira.
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Museu de Arte Sacra do Seminário Diocesano
Espólio rico espera espaço condigno
Por Mónica Monteiro Santos
Poucos conhecerão o pequeno museu do Seminário Diocesano de Leiria. Na
imensidão dos seus corredores e salas, esconde-se um espólio de arte sacra algo
raro. Entre telas, esculturas e pequenas peças que a arte da religião criou, contamse também outros “mimos”, como moedas antigas, medalhas comemorativas ou
magníficos painéis de azulejo, na sua maioria da antiga Fábrica do Juncal.
Devidamente catalogadas e inventariadas, mas sem as devidas legendas
para um hipotético visitante, cada peça tem o seu espaço nas duas salas deste
núcleo museológico. Um tesouro que foi crescendo ao sabor do entusiasmo e da
perseverança de um homem que não gosta de ver as coisas do passado perderem-se
nas brumas do tempo.
Cónego Américo Ferreira revela os segredos da arte
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Em Destaque
Como tudo começou
Foi em meados da década de 70 que o cónego Américo Ferreira começou a sua
“angariação” pela Diocese. Considera-se um mero curioso pelas coisas antigas, no
entanto, este sacerdote, que já assumiu a reitoria do Seminário Diocesano de Leiria
e é actualmente Chanceler da Cúria, revela-se um verdadeiro conhecedor. A sua
paixão pelas coisas do passado deu-lhe o empenho e a paciência para resgatar da
destruição inúmeras peças de arte sacra que se espalhavam, meio abandonadas, pelas
muitas igrejas e capelas da região.
Para o cónego Américo Ferreira, esta sua espécie de missão teve sempre fins
pedagógicos. Sensibilizar os seus colegas de sacerdócio, e não só, para a preservação
do património deixado pelos antepassados guiou-o e continua a guiá-lo nesta
pesquisa constante da “alma de um povo e de uma região”.
O seu manancial de peças foi crescendo ao longo dos anos e o pequeno núcleo
museológico que hoje habita o Seminário Diocesano de Leiria ia tomando forma. É
sobretudo em estatuária sagrada que o espólio revela o seu esplendor. Desde o século
XV até à época de oitocentos, santos e santinhas, beatos e mártires, cada um no seu
pedestal, desvendam os segredos do catecismo e revelam os gostos e as crenças de
uma época. Entre cartelas, missais e outras peças ligadas ao ritual eucarístico e à Fé
em geral, marcamos encontro com o passado e com a arte do sagrado.
Desde a pré-história
O espólio que o cónego Américo Ferreira foi acumulando não se confina
ao sagrado e a tempos menos antigos. Desde peças pré-históricas, que recuam
até ao Neolítico, passando por inúmeros testemunhos da ocupação romana, o
tesouro integra uma significativa colecção de materiais arqueológicos surgidos em
escavações planeadas ou por mero acaso em vários locais da região.
Todos os artefactos foram sendo devidamente estudados e inventariados graças
ao empenho e saber deste sacerdote, que soube ainda recorrer à ajuda preciosa
de especialistas. Chegaram a ser feitos trabalhos bastante desenvolvidos sobre
determinadas preciosidades, algumas das quais não estão expostas, por razões
várias. Algumas destas peças espalham-se ao acaso, algo abandonadas, em vários
depósitos do edifício do Seminário. É a falta de espaço adequado que justifica este
aparente abandono. Aparente, porque o cónego Américo Ferreira sabe ao pormenor
onde está a mais pequena peça e as histórias que cada uma tem para contar.
Os inúmeros artefactos romanos, quase todos da Collippo romana, passeiam-se
pelas salas do museu – sobretudo as moedas – mas, maioritariamente, adornam um
dos pátios interiores e os vários depósitos do edifício. Muitas são peças estudadas
que, infelizmente, não têm um espaço condigno para poder partilhar as suas histórias.
Fíbulas, espetos, peças de estatuária, pedras tumulares e tantos outros objectos do
período romano, acumulam-se em caixas, alinham-se no chão dos ditos depósitos ou
adornam pátios, quase esquecidos…
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Em Destaque
Azulejo regional
A arte do azulejo também marca presença. Graças ao zelo e critério do
cónego Américo Ferreira e à sua atitude pedagógica de se fazer ajudar por alguns
seminaristas, reconstituiram-se os inúmeros painéis que povoam as salas do museu
e alguns corredores do Seminário. Azulejo a azulejo, pedacinho a pedacinho, foramse reconstituindo soberbos conjuntos. Resgatados dos escombros de velhas igrejas
ou tirados de caixotes esquecidos num recanto, mil e um azulejos foram reunidos e
retomaram o seu lugar.
Maioritariamente, têm a assinatura da antiga Fábrica do Juncal – algumas peças
da extinta fábrica ainda se encontram entre os despojos dos designados depósitos.
Foram necessários anos de pesquisa e de restauro para compor os painéis.
Restaurados, por vezes toscamente por falta de meios, retomaram o seu significado
num todo.
Há belíssimos temas de Igreja e outros mais prosaicos. Algumas obras teriam
desaparecido para sempre, como um painel proveniente da arruinada casa de família
de Mouzinho de Albuquerque, esse velho solar delapidado pelos anos e pelos
larápios sem escrúpulos. Perdeu-se o rasto de outros objectos e pormenores, mas o
painel da antiga capela do solar foi recuperado e pode ser hoje admirado por todos,
adornando um dos corredores do Seminário.
Um projecto de museu
O zelo e saber do cónego Américo Ferreira não têm bastado para concretizar o
sonho de um museu digno desse nome. Todo este tesouro único, preso à própria
identidade da região e da Diocese, merecem um espaço condigno. Essa tem sido a
luta deste entusiasmado sacerdote, que chegou mesmo a conceber um projecto. Há
cerca de oito anos, num congresso em Leiria, deu-o a conhecer publicamente: criar
um único museu da cidade onde se concentrasse o património de Leiria, incluindo
o recheio do castelo, no espaço físico do antigo convento de Santo Agostinho. Este
seria o lugar ideal para um museu onde também caberia o espólio do Seminário,
devidamente organizado: pré-história, época romana, arte sacra, etc. A sugestão
ficou mas, até hoje, não houve resposta.
Durante algum tempo, os jornais falaram e várias pessoas, de maior sensibilidade,
ainda o mencionam. No entanto, o museu continua apenas uma ideia. Enquanto isso,
as modestas salas do Seminário vão acalentando o sonho. Um espaço que merece
uma visita e pode fazer despertar, talvez, os mais novos para que se batam por esse
ansiado “sonho”.
Fica o grito por tantas preciosidades que definham ou se perdem, dispersas ou
acumuladas, mas fica também um merecido bem-haja ao cónego Américo Ferreira,
pelo seu amor à Igreja, à paixão pela história de uma região e pela sua enorme
vontade de partilhar conhecimentos e esforços.
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Notícias
Leigos para o desenvolvimento
Acolhimento às escolas no Santuário de Fátima
Jornadas de Espiritualidade em Fátima
Segurança Social apoia instituições de Leiria
Reis Magos nas prisões de Leiria
Natal dos imigrantes nos Marrazes
Formação de catequistas de adolescentes
A pobreza no mundo – Jornadas Cáritas na Batalha
Bispos portugueses e espanhóis pedem “defesa da vida”
Encontro Nacional de Apoio Social ao Imigrante
Comunicação em casal – CPM Nacional
“Descobrir São Lucas” nos Milagres
Vida paroquial dos Marrazes
Misericórdia de Leiria – Novos órgãos sociais
Fórum Jovem discute voluntariado
Bênção dos Ciclistas em Fátima
Brasileira Joana cantou em Fátima
2º semestre da Escola de Formação Teológica de Leigos
Novo livro de cânticos e orações: “Laudate”
Movimento da Mensagem de Fátima prepara Congresso
Curso de Cristandade de Senhoras
Dia de Baden-Powell em grande
Dia do idoso e do doente na Boavista
Arte do teatro na Prisão-Escola
Dia dos Beatos Francisco e Jacinta
Museu de Arte Sacra e o dia dos pastorinhos
Grupo missionário Odjoyetu
Semana missionária – Maceira, Pataias e Alpedriz
Ultreia diocesana dos Cursos de Cristandade
ACR faz peddy-paper
Festival da Canção Jovem
Um ano de Apoio Domiciliário nas Matas
Encontro Nacional dos CPM
Escuteiros de Monte Redondo celebram 14 anos
Dia do Doente e do Idoso nas Cortes
Semana Nacional da Cáritas
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Notícias
Cáritas e Renascença ajudam vítimas dos incêndios
CAES inaugurou nova sede
Jovens Sem Fronteiras de Santa Eufémia
Retiro diocesano de catequistas
Jornada de Catequistas no Arrabal
Encontro com o irmão João de Taizé
“Servir a Cristo no doente” – Pastoral da Saúde
Procissão dos Passos nos Milagres
Filhas de Maria Mãe da Igreja em festa
Fundação homenageia padre Luís Kondor
Museu de Arte Sacra de Fátima faz visitas para surdos
Novos órgãos da Confraria de N.ª Sr.ª da Encarnação
Academia de Cultura e Cooperação comemora 5 anos
Jovens de Carvide preparam comédia
“Meditações sobre a Paixão”
Lar e Centro de Dia na Caranguejeira
Passos em Monte Redondo
Páscoa nas prisões de Leiria
O regresso do padre Jorge Guarda
Teatro religioso na Bajouca
Concerto Pascal no Santuário de Fátima
Jornadas de Direito Canónico
“Mais um passo” na vigararia dos Milagres
Nossa Senhora da Gaiola nas Cortes
Próximos Eventos
Animação missionária
Congresso Eucarístico Internacional
Os Caminho de Santiago - Peregrinação Europeia de Jovens
Encontro Europeu de Jovens em Lisboa
Festa diocesana do Corpo de Deus
Jubileu do Bispo Diocesano
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Notícias
Leigos para o desenvolvimento
A ideia surgiu em Coimbra, no final da década de 70, quando um grupo de recémlicenciados se coloca ao serviço do desenvolvimento e promoção de povos em vias
de desenvolvimento, sobretudo de expressão portuguesa. Mais tarde, a 11 de Abril
de 1986, nascem em Lisboa os Leigos para o Desenvolvimento, no CUPAV – Centro
Universitário P. António Vieira, dirigido pela Companhia de Jesus. O objectivo é
preparar e enviar leigos cristãos, sobretudo jovens, com uma formação superior
ou técnico-profissional, em serviço de voluntariado, por um período mínimo de
1 ou 2 anos. Devem dispor-se a uma vida simples, de responsabilidade, e ter
disponibilidade para uma formação de um ano, antes de partirem. Encontram-se já
em S. Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique e Timor-Leste e abaraçam projectos
de desenvolvimento nas áreas da educação, saúde e promoção social. Em Portugal,
prestam apoio regular a estudantes africanos e de outras minorias, pré-universitários
e universitários.
Luís Miguel Ribeiro Pedroso, natural da Maceira, e Fernando Espírito Santo, de
Fátima, são dois jovens da nossa Diocese que este ano estão a participar num destes
projectos. O primeiro no Uíge, Angola, e o segundo em Fonte Boa, Moçambique.
Acolhimento às escolas no Santuário de Fátima
Com o propósito de dar a conhecer a história e a mensagem de Fátima às
crianças e jovens que visitam o Santuário de Fátima, criou-se em 1987 o programa
“Acolhimento às Escolas”, que continua activo em 2004. Pelo 17º ano consecutivo
e, uma vez mais, de forma gratuita, crianças e jovens são verdadeiros convidados de
honra. Para o Santuário de Fátima, são as crianças, à semelhança dos Pastorinhos
Beatos, os portadores da mensagem que Nossa Senhora quis comunicar ao mundo.
Os grupos interessados têm um programa que facilita a visita, quer ao santuário, quer
a Aljustrel, onde nasceram os Pastorinhos. Às 10h45, exibe-se o vídeo “O dia em
que o sol bailou”. Depois, na Capelinha das Aparições, faz-se a saudação a Nossa
Senhora e explica-se às crianças a Mensagem de Maria. Segue-se uma visita guiada
à Basílica. De tarde, os grupos são acompanhados em visita guiada aos Valinhos,
Loca do Anjo e Aljustrel.
Durante o ano de 2003, participaram no programa cerca de seis mil crianças e
jovens, oriundos de, praticamente, todas as dioceses do país, em grupos de 15 a 50
elementos. Os 126 grupos inscritos vieram de escolas, catequeses, agrupamentos
juvenis e também de ocupação de tempos livres.
No início de cada ano civil, o Serviço de Acolhimento e Informações do
Santuário de Fátima envia aos vários centros educativos do país uma ficha de
inscrição que, após marcação telefónica, é devolvida ao Santuário. As crianças são
obrigatoriamente acompanhadas por um responsável adulto.
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Notícias
Jornadas de Espiritualidade em Fátima
A Fundação Maria Mãe da Esperança promove, a partir do ano em curso e ao
ritmo trimestral, jornadas de espiritualidade de um dia, destinadas a participantes em
retiros promovidos pela fundação. As duas primeiras já se realizaram, na Casa Stella
Matutina (Rua Anjo de Portugal), em Fátima. O principal objectivo é proporcionar
um tempo forte de encontro e convívio, oração e formação, harmonizando pela fé
todos os aspectos da vida. A temática base do ano em curso centra-se na Palavra de
Deus. Assim, em Janeiro, o tema aglutinador foi “Apaixonados pela Palavra”, e em
Abril foi “Semeadores da Palavra”.
Contactar a fundação: Rua Imaculado Coração de Maria, 2 – 2495-441 Fátima.
Segurança Social apoia instituições de Leiria
No passado 29 de Dezembro, o Centro Distrital de Solidariedade e Segurança
Social de Leiria e 19 Instituições Particulares de Solidariedade e Segurança Social
assinaram 19 novos Acordos de Cooperação, atingindo-se um total de 44 acordos
estabelecidos em 2003 no distrito de Leiria. A finalidade é dar respostas sociais
de primeira prioridade, nomeadamente: Serviço de Apoio Domiciliário; Centro de
Acolhimento; Centro de Convívio; Centro de Actividades Ocupacionais; e ainda,
Lares de Idosos. Deste modo, são contemplados 248 novos utentes.
Entre os novos acordos, seis foram celebrados com instituições de “Atendimento
e Acompanhamento à Família” nos concelhos de Leiria, Alcobaça, Marinha Grande,
Peniche e Caldas da Rainha, estimando-se a cobertura de cerca de 1400 famílias.
Com repercussão directa em sete concelhos do Distrito, esta cooperação elevou o
investimento financeiro do Instituto de Solidariedade e Segurança Social no Distrito,
durante o ano de 2003, para 35 milhões de euros, e possibilitou a cobertura de 15239
utentes em 177 instituições que mantêm acordos de colaboração com o Centro
Distrital de Leiria.
Reis Magos nas prisões de Leiria
A Prisão-Escola e a Cadeia Regional foram invadidas por uma onda de amizade
que transmitiu os sorrisos dos Reis, numa iniciativa preparada pelos visitadores
voluntários, no passado dia 4 de Janeiro.
Na Prisão-Escola, a missa foi vivida intensamente pelos 90 reclusos que
participaram. Algumas jovens visitadoras fizeram um teatro de sombras sobre
os Reis Magos, à luz de archotes, e três jovens reclusos encarnaram os Magos,
ofertando ouro, símbolo dos seus sentimentos, incenso, símbolo da fé, e mirra,
símbolo dos seus melhores saberes. O padre Albino lembrou que “como os Magos,
44 | LEIRIA-FÁTIMA • 34 |
Notícias
cada um de nós tem uma estrela a guiar-nos; orientados por ela, andamos sempre à
procura do sentido da nossa vida e, à medida que o vamos encontrando, sentimos
uma grande alegria que nos leva à adoração, à comunhão com o Bem recebido e à
oferta dos nossos dons”.
Trinta visitadores distribuíram-se e entregaram uma carta de Jesus a cada
recluso, que dizia em resumo: “Tu és maravilhoso. Nunca te abandonarei”. Também
ofereceram uma miniatura artística do escultor Abílio Febra, um bolo-rei, uma
agenda e uma esferográfica.
Na Cadeia, as mesmas mensagens e prendas foram transmitidas aos reclusos,
homens e senhoras, durante a tarde. Aqui, houve a participação do artista Vítor, da
Comunidade Vida e Paz, de Fátima.
Também educadores, mestres, pessoal da reinserção social, dos serviços
administrativos e da segurança viveram esta mensagem, na Epifania do Senhor.
Natal dos imigrantes nos Marrazes
A Associação AMIGrante organizou, a 4 de Janeiro, um convívio de Natal na
freguesia dos Marrazes. Mais de duas centenas de imigrantes da Europa do Leste e
do Brasil marcaram presença. O convívio começou com duas cerimónias religiosas,
uma das quais em ucraniano, na igreja dos Marrazes. Seguiu-se um agradável
convívio na sede do Sport Clube Leiria e Marrazes, com lanche e um espectáculo
multicultural. O Sport Clube Leiria e Marrazes, a Câmara Municipal de Leiria,
as Juntas de Freguesia dos Marrazes, Leiria, Santa Catarina da Serra e Pousos, a
Diocese de Leiria-Fátima e a Acção Católica Independente apoiaram esta iniciativa
que a AMIGrante já organiza há quatro anos.
Formação de catequistas de adolescentes
O Secretariado Diocesano da Catequese realizou, no Seminário de Leiria,
duas jornadas de formação para catequistas de adolescentes, a 10 e 31 de Janeiro.
Centenas de catequistas procuraram soluções, novas perspectivas e luz para as
inúmeras questões da catequese e dos catequizados desta faixa etária.
As expectativas não foram goradas. Os formadores, da equipa do Secretariado
Diocesano de Catequese do Porto, não hesitaram nas palavras: “A irrequietude
do adolescente não é indisciplina, é a explosão de uma vida rica de sentimentos
e emoções que são caminho propício para a adesão à fé”; “A catequese dos
adolescentes tem de ser encarada na realidade dos mesmos e responder ao seu
processo de personalização, tem de ser vida e movimento que os leve a abrir
horizontes de revelação nos mistérios da vida e nos mistérios do amor do Deus de
Jesus Cristo”.
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Notícias
A pobreza no mundo – Jornadas Cáritas na Batalha
A Cáritas Diocesana de Leiria, em parceria com o Conselho Central de Leiria
da Sociedade de São Vicente de Paulo, e com o apoio da Paróquia e da Conferência
de S. Vicente de Paulo da Batalha, realizou, a 11 de Janeiro, mais uma acção de
formação para a Pastoral Social de âmbito diocesano. Duas centenas de pessoas
marcaram presença.
A pobreza no mundo foi a temática dominante. Ficaram no ar algumas verdades:
bastaria a riqueza dos cem mais ricos do planeta – em média, oitenta milhões de
euros – para erradicar um dos grandes dramas da humanidade, e que continua a ficar
em segundo plano face a outras realidades, como é o caso da guerra no Iraque, que
custou nada menos que quarenta mil milhões de euros.
“Acolher a pessoa de hoje” foi o tema de abertura, cuja apresentação esteve a
cargo de José Dias da Silva, ex-professor da Universidade de Coimbra, que lançou
várias pistas sobre o acolhimento directo: “estar atento ao que me rodeia; saber o
que se passa; interiorizar a situação, ver com o coração; pôr-se na pele do outro;
agir”. “Não se trata apenas da falta de pão, porque há bens que cheguem, é antes
um problema de luta pela justiça contra a injustiça estrutural”, afirmou, apontando
a urgência de novas soluções para a pobreza no mundo, mesmo para as situações
clássicas. Numa alusão à “nova fantasia da caridade” do Papa João Paulo II, José
Dias da Silva incentivou ao entusiasmo e à abertura para as novas realidades e formas
de agir. No final, identificou os carenciados de hoje: “os solitários, os explorados,
os marginalizados, os violentados, os desadaptados, os desesperados, desnorteados
e desiludidos, os sem esperança, os excluídos”. “Mais do que lutar contra a pobreza,
devemos lutar contra a injustiça. É a injustiça conjuntural instalada a verdadeira
geradora de novas formas de pobreza” concluiu.
Outro tema abordado foi “A Acção Sócio-Caritativa e a Paróquia”, que teve como
orador o presidente nacional da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca. Começou por
definir a comunidade paroquial, cenário mais propício para o desenvolvimento dos
grupos sócio-caritativos. Um conceito que baseou na afirmação de João Paulo II: “A
comunidade é o lugar onde a caridade de Deus é experimentada e quase tocada com
a mão”. Na sua apresentação, revelou directivas importantes sobre a acção actual, as
suas finalidades e os seus agentes e estabeleceu metas de bom relacionamento e de
articulação entre os grupos sócio-caritativos. De destacar ainda a sua proposta para
o rejuvenescimento dos grupos, “que passará pela compreensão do destino universal
dos bens; por maior capacidade inventiva; e vivência da caridade, como anúncio
explícito da Boa Nova do Reino”.
O encerramento fez-se na igreja matriz da Batalha, com a eucaristia presidida
pelo Bispo de Leiria-Fátima. D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva apontou a urgência
da solidariedade, lembrando que continuam a morrer idosos sozinhos, e que foram
abandonadas, só no ano de 2003, cerca de setecentas crianças.
46 | LEIRIA-FÁTIMA • 34 |
Notícias
Bispos portugueses e espanhóis pedem “defesa da vida”
Os presidentes e secretários das Conferências Episcopais de Portugal e Espanha
(CEP e CEE) reuniram-se a 13 e 14 de Janeiro, em Madrid, para trocar experiências e
pontos de vista sobre vários temas da actualidade, particularmente, sobre o aborto e o
ensino da religião nas escolas. Os episcopados da Península revelaram preocupação
pelo tratamento dado ao aborto e à reprodução medicamente assistida e lançaram
um apelo “à defesa da vida”. As situações legais quanto à bioética, ao aborto e à
reprodução assistida, bem como as acções da Igreja para defender e promover a
cultura da vida mereceram especial destaque. Outro tema debatido foi o ensino da
disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica. Os bispos consideraram que o
ensino da religião tem um lugar de direito nas escolas.
O encontro engloba-se no âmbito das reuniões periódicas dos episcopados
ibéricos, que têm por objectivo discutir em comum temáticas e problemas como
os fluxos migratórios, as políticas familiares e a construção europeia. O próximo
encontro será em Portugal, no ano de 2006.
Encontro Nacional de Apoio Social ao Imigrante
O IV Encontro Nacional de Apoio Social ao Imigrante decorreu entre 16 e 18 de
Janeiro, em Fátima, organizado pela Obra Católica Portuguesa de Migrações e pela
Caritas, sob o tema: “Imigração e Comunicação Social: que Imagens?”. Tratou-se
de uma formação dirigida a agentes sociais e voluntários das caritas diocesanas, aos
secretariados diocesanos da pastoral de migrações, centros de apoio ao imigrante
e meios de comunicação social. O objectivo era delinear uma pedagogia no que
respeita ao papel e intervenção da comunicação social, que dignifique os imigrantes
e promova o acolhimento e a integração. Fortemente mediatizada, a imigração é
“tratada” na comunicação social em casos típicos, como a corrupção nos países de
origem e as consequências da ilegalidade nos países de acolhimento. Resultado, há
uma ausência do fenómeno da mobilidade humana no seu conjunto e uma falta de
interpretação e enquadramento do caso português.
Frente a frente, estiveram imigrantes e jornalistas. Colaboraram os conferencistas
Norberto Alcover, jesuíta espanhol e professor na Universidade de Madrid, e António
Rego, padre e mestre da comunicação social portuguesa.
Comunicação em Casal – CPM Nacional
A CPM Nacional (Centros de Preparação para o Matrimónio) organizou uma
formação, a 17 de Janeiro, no Seminário do Verbo Divino, em Fátima. Participaram
mais de 500 pessoas, entre casais e assistentes, de quase todas as dioceses do país.
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Notícias
“A comunicação em casal” foi o tema central, apresentado em três módulos. O
Dr. Manuel António Freitas Gomes, psiquiatra do Porto, abordou “A sexualidade
humana” e o padre jesuíta Carlos Carneiro apresentou “A verdade e a liberdade
das linguagens amorosas não verbais” e “Criatividade e inovação na comunicação
dos sentimentos em casal”. Em vista estavam o enriquecimento da comunicação
conjugal, em termos humanos e éticos, e a actualização dos assistentes, bem como
um serviço mais actual e adequado aos noivos que preparam o seu matrimónio.
“Descobrir São Lucas” nos Milagres
A equipa sacerdotal da vigararia dos Milagres promoveu uma tarde de formação
dedicada ao Evangelista S. Lucas, no dia 18 de Janeiro. Sacerdotes e outros fiéis
cristãos não perderam a oportunidade, enchendo o salão paroquial de Amor.
Orientou os trabalhos o padre Virgílio do Nascimento Antunes, reitor do
Seminário Diocesano e especialista em Sagrada Escritura. Depois de explicar a
palavra “Evangelho”, como boa notícia, feliz acontecimento e boa-nova, referiu-se
aos quatro Evangelhos e deu particular relevo a S. Lucas. Sobre este evangelista,
referiu que ele se centrou na paixão, morte e ressurreição de Cristo, na cidade
de Jerusalém, como acontecimentos fundamentais da fé cristã. O seu Evangelho
aparece, assim, como caminho que converge para Jerusalém.
Vida paroquial dos Marrazes
Tomou posse a nova comissão da igreja paroquial dos Marrazes, na missa
dominical do dia 18 de Janeiro. O pároco, padre Augusto Gonçalves, fez uma
referência à leitura de São Paulo, sobre os dons e carismas de cada um em proveito
dos outros. No final da celebração, chamou a comissão cessante e apresentou os
eleitos para a nova equipa: José Luís Quinta Fernandes, António Manuel Ceiça, Júlio
Morais Couto, João Sousa Clemente, Fernanda Maria Cunha e Alexandra Fernandes
Alexandre. Agradecendo à comissão cessante o trabalho realizado, o padre Augusto
apelou à colaboração de todos com a nova comissão, para a grande mudança que a
paróquia se propõe a médio prazo.
No domingo 25, foi empossado o primeiro conselho económico paroquial,
constituído pela comissão da igreja e um elemento de cada comissão de capela, num
total de doze pessoas. A cerimónia decorreu sob o lema cristão do aproveitamento
das diversidades para o bem comum.
É altura de referir as obras de restauração e conservação da casa paroquial, agora
equipada com instalações adequadas, sem descaracterizar a sua traça centenária. Foi
um encargo pesado, que todos os paroquianos estão a ajudar a saldar a curto prazo.
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Notícias
Misericórdia de Leiria – Novos órgãos sociais
“Estabilidade, tranquilidade e respeito pela pluralidade para enfrentar os
problemas” foram os apelos do provedor da Santa Casa da Misericórdia de Leiria,
Fernando Lopes, na tomada de posse dos novos órgãos sociais para o triénio de
2004/2006, realizada no passado dia 21 de Janeiro. Apelos inevitáveis, depois da
agitação que marcou as eleições para o novo mandato.
Fernando Lopes fez questão de frisar que só com estabilidade a Misericórdia de
Leiria pode continuar o seu trabalho e lançar-se em novos projectos, e mostrou-se
optimista, salientando a importância do debate de ideias, das diferenças de opinião,
mas sempre com respeito. E salientou a “forma empenhada” como a nova direcção
tomou os seus lugares, esperando “corresponder às expectativas depositadas pela
maioria”. Pediu ainda o empenho total dos colaboradores para que a Misericórdia
possa ser de facto aquilo que a define como instituição uma mais valia para a
sociedade e anunciou a intenção de “abrir as portas à comunidade”, através da
realização de conferências e apoio aos mais necessitados.
São vários os projectos para o novo mandato, nomeadamente, a reabilitação do
hospital, com a criação de uma unidade de cuidados continuados e paliativos, uma
creche e centro comunitário, e ainda a implementação da residencial geriátrica.
A reestruturação da Misericórdia de Leiria foi outro dos temas levantados durante
a cerimónia de posse. Segundo Fernando Lopes, está a ser elaborado o “esqueleto”
de toda a estrutura da instituição e irá proceder-se a uma auditoria ao número de
funcionários e à sua formação. Neste campo, o provedor referiu estarem a ser criadas
novas valências que implicarão a redistribuição dos funcionários.
Fórum Jovem discute voluntariado
No passado dia 24 de Janeiro, decorreu no Seminário de Leiria um Fórum
Jovem, promovido pelo Secretariado Diocesano da Juventude, com mais de uma
centena de participantes.
Paulo Gonçalves, do Instituto Português da Juventude, explicou os “porquês”
associados ao voluntariado: por que se é voluntário, por que se vai, qual a
recompensa, etc. Ouviram-se também testemunhos “de quem dá de graça e recebe
muito mais...”. Do futebol ao idoso, das crianças à ecologia, uma multiplicidade de
áreas esperam por quem queira dar o seu tempo e o seu sorriso.
Foi um dia de festa, com música, animação e muito trabalho, baseado na
participação e partilha.
O encontro terminou com exemplos, na primeira pessoa, por um bombeiro,
um monitor de colónias de férias, uma estudante que ajuda os sem-abrigo e um
missionário. Antes de partir, ainda houve tempo para uma refeição partilhada.
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Notícias
Bênção dos Ciclistas em Fátima
Numa iniciativa da União de Ciclismo de Leiria, realizou-se no passado dia 25
de Janeiro, no Santuário de Fátima, a II Bênção dos Ciclistas, presidida pelo Bispo
de Leiria-Fátima, D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva. Marcaram presença mais de
cinco mil ciclistas, vindos de todos os pontos do país. O objectivo desta concentração
de fé foi, uma vez mais, agradecer à Virgem Maria e pedir protecção e amparo para
todos os ciclistas, nas estradas de Portugal e de todo o mundo.
A reitoria do Santuário ofereceu aos participantes uma estampa alusiva ao evento,
uma oferta a fechar com chave de ouro um encontro marcado pela máxima correcção
de todos os participantes e que vai voltar a acontecer 30 de Janeiro de 2005.
Brasileira Joana cantou em Fátima
A conhecida intérprete brasileira Joana esteve em Fátima, no passado dia 31 de
Janeiro, a cumprir a promessa de rezar no Santuário. Com o terço nas mãos, rezou na
Capelinha das Aparições e agradeceu a Nossa Senhora a recuperação de visão da sua
mãe. “Jamais deixarei de agradecer a Nossa Senhora e ao Seu Filho a recuperação da
minha mãe, que perdeu a visão e a recuperou seis anos depois”, afirmou.
Porquê o terço? Joana respondeu que o reza todos os dias e que “num momento
em que o mundo passa por tantos problemas sociais faz todo o sentido responder ao
apelo «Rezem o terço todos os dias»; o terço é a minha maior arma”.
2º semestre da Escola de Formação Teológica de Leigos
Durante o 1º semestre, frequentaram a Escola Teológica de Leigos da Diocese
de Leiria-Fátima cerca de 120 pessoas, distribuídas pelo curso “Pensar a Fé”, pelo
Curso Geral de Teologia e pela Formação Específica. Merece especial referência
a adesão ao curso “Pensar a Fé”, lançado este ano e a decorrer em Leiria e na
Marinha Grande. No próximo ano pastoral deverá estender-se a Ourém. É uma
descentralização da Escola Teológica, que procura aproximar-se das comunidades.
No segundo semestre, iniciado em Fevereiro, a Introdução à Bíblia é leccionada na
Marinha Grande, pelo padre Dr. Virgílio Antunes, e a Introdução à Doutrina Social
da Igreja na Sé de Leiria, pelo padre Dr. Luís Inácio João.
No Curso Geral de Teologia, a decorrer no Seminário Diocesano, são leccionadas
as disciplinas de Teologia Litúrgica, pelo padre Dr. Carlos Cabecinhas, e de Fé e
Mundo Contemporâneo, pelo Mons. Luciano Guerra.
Quanto à Formação Específica, no âmbito do Ano Agostiniano, apresentam-se
algumas das temáticas de Santo Agostinho mais sugestivas, orientadas pelo padre
Dr. Joaquim Costa, sob o título de “Ordem, Paz e Felicidade em Santo Agostinho”.
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Notícias
Novo livro de cânticos e orações: “Laudate”
Um novo livro de cânticos e orações foi apresentado no início do mês de
Fevereiro, elaborado por Vítor Coutinho, padre da nossa Diocese, actualmente na
Alemanha, com a colaboração de alguns outros diocesanos de Leiria-Fátima. Está
à disposição no Seminário de Leiria, em duas versões: só os textos ou incluindo as
partituras musicais.
Segundo o padre Vítor, o objectivo é “prestar um serviço aos momentos de
oração e de celebração das comunidades cristãs, pelo que se recolheram cânticos
para diversas circunstâncias e contextos, assim como antífonas e salmos da Liturgia
das Horas, hinos e orações para uso privado e individual”. O grosso volume reúne
um grande número dos cânticos habitualmente usados nas nossas comunidades
e privilegia os autores mais apreciados entre nós, tanto pela beleza das suas
composições como pelo seu sentido espiritual e orante.
A selecção é muito abrangente. Alguns cânticos são apresentados em mais do
que uma versão musical, com a referência aos respectivos autores, pois os gostos
e preferências não são sempre iguais. Inclui também os salmos responsoriais de
todos os domingos do ano e algumas versões portuguesas de cânticos conhecidos
internacionalmente.
Movimento da Mensagem de Fátima prepara Congresso
Realizou-se, a 7 e 8 de Fevereiro, em Fátima, o primeiro encontro preparatório
do 1º Congresso Nacional do Movimento da Mensagem de Fátima, que irá realizarse em 2007, ano em que se celebra o 90º aniversário das Aparições de Nossa
Senhora de Fátima. Subordinado ao tema “Faz-te ao Largo”, pretende-se que venha
a constituir um marco na vida do movimento, no dealbar do 3.º milénio.
Mais de meio milhar de pessoas reflectiram sobre a Mensagem de Fátima, a sua
influência na história do século XX e a actualidade dos seus apelos à penitência e à
oração, numa atitude de observação da realidade presente. A dinâmica, a orgânica
e a vivência apostólica do movimento foram também amplamente reflectidas. Na
sequência dos trabalhos, foram enviados inquéritos às paróquias e dioceses.
O segundo encontro preparatório vai realizar-se em Fevereiro de 2005, com o
tema “Quem somos, onde estamos”, para continuar a reflexão sobre a espiritualidade
da Mensagem como apelo evangélico para os nossos dias. No terceiro encontro, em
Fevereiro de 2006, serão traçadas as linhas de acção futuras.
O Movimento da Mensagem de Fátima é uma associação canónica de fiéis de
formação e apostolado, erecta pela Conferência Episcopal Portuguesa, que se coloca
sob a protecção de Nossa Senhora de Fátima, com o fim de viver e promover a sua
mensagem. A Conferência Episcopal delega superior orientação no Bispo de LeiriaFátima, com o título de assistente-geral.
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Notícias
Curso de Cristandade de Senhoras
Realizou-se, de 12 a 15 de Fevereiro, mais um Curso de Cristandade de Senhoras
da Diocese de Leiria-Fátima. Na 87ª edição desta iniciativa, destacou-se a vigília de
oração em Fátima, com a recitação do Rosário na Capelinha das Aparições., a cargo
do Centro de Ultreia de Pataias, seguida de Via-Sacra nas colunatas e da Eucaristia
na Basílica. A clausura de encerramento foi na igreja do Seminário de Leiria.
Dia de Baden-Powell em grande
Foi no passado dia 15 de Fevereiro, em Porto de Mós, que os escuteiros da região
de Leiria comemoraram mais um dia de Baden-Powell, fundador do Escutismo.
Eram multidão, pequenos e graúdos, de lenço amarelo, verde, azul ou vermelho,
a participarem na Eucaristia, presidida pelo Bispo de Leiria-Fátima, D. Serafim de
Sousa Ferreira e Silva, no pavilhão desportivo daquela vila. Depois, cada secção
seguiu o seu rumo, recheado de variadas actividades, destinadas a desenvolver em
todos um renovado fulgor escutista através de jogos, brincadeiras e uma pitada de
competição.
Durante a tarde houve, ainda a entrega dos “pinheiros verdes” aos que, pelo seu
trabalho e dedicação, mais contribuíram para a causa escutista no ano transacto. No
grande momento final, cada secção, vibrando de entusiasmo, entoou o respectivo
hino (lobitos, exploradores, pioneiros e caminheiros).
Foi ainda apresentado oficialmente o Acareg2004, acampamento regional de
Leiria, que decorre de 5 em 5 anos, a acontecer no início de Agosto, em Pataias.
Dia do idoso e do doente na Boavista
À semelhança dos anos transactos, a Conferência de S. Vicente de Paulo da
Boavista promoveu, no dia 15 de Fevereiro, o dia do doente e idoso. Participaram
cerca de 140 pessoas, previamente prepradas no mês anterior, com visitas pessoais
e formalização do convite.
Os transportes foram assegurados pela Conferência e outras pessoas que se
associaram. Na Eucaristia das 11h30, o pároco Davide Gonçalves fez questão de
sublinhar que os doentes e idosos “nunca estão a mais na sociedade e devem ser
sempre amados e respeitados”. A presidente da Câmara de Leiria esteve presente e
dirigiu breves palavras de carinho aos idosos e de incentivo aos organizadores. Um
idoso, em nome de todos, ofereceu-lhe um ramo de flores.
O almoço foi servido no pavilhão da Junta de Freguesia, onde todos conviveram.
As canções dos tempos de infância ainda fizeram os mais idosos cantar e dançar.
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Notícias
Arte do teatro na Prisão-Escola
O conhecido encenador Quiné levou à cena, no dia 18 de Fevereiro, na sala
de convívio do Estabelecimento Prisional de Leiria (EPL), mais um conjunto de 3
comédias: “Os dois pretos”, “Soldados de chumbo” e “Auto da vida e da morte”,
que animaram o espectáculo de Carnaval da instituição prisional. Ao abrigo de um
programa europeu de intervenção em meio prisional, financiado pelo Instituto da
Droga e Toxicodependência, e promovido pela associação Samaritanos, visitadores
do EPL, sob a direcção do padre Albino Carreira, o espectáculo que subiu ao palco
foi bastante aplaudido por uma razoável assistência de reclusos. Também presentes,
estiveram muitos docentes e os delegados do projecto, Ana e Joel. Quanto aos
reclusos, quase unanimemente referem a utilidade e interesse deste género de
iniciativas, por servirem para “influenciar condutas agradáveis”.
Dia dos Beatos Francisco e Jacinta
Mais de mil e quinhentas as crianças participaram na celebração da Festa dos
Beatos Francisco e Jacinta Marto, no dia 20 de Fevereiro, em Fátima. De várias
escolas da freguesia de Fátima, os mais pequenos tiveram a oportunidade de viver
uma manhã diferente. A caminhada desde a igreja de Fátima até ao Santuário foi, sem
dúvida, um grande momento. Paroquianos e peregrinos, portugueses e estrangeiros,
iam-se juntando ao mar de blusões brancos, oferecidos às crianças. A peregrinação
foi engrossando até dois mil e cem participantes. Nem os mais pequenos, de seis anos,
deram sinal de cansaço. Muitas pessoas iam de terço nas mãos e alguns peregrinos
estrangeiros caminhavam descalços. Quem não pôde juntar-se à caminhada, veio à
rua, à janela, à varanda e juntou a voz às preces dos caminhantes.
Rezou-se o terço, cantou-se, bateram-se palmas às mães e, junto ao monumento
dos Pastorinhos, na Rotunda Sul, entoou-se o Hino dos Pastorinhos. O reitor do
Santuário, Mons. Luciano Guerra, tornou-se a voz dos pedidos das crianças a
Nossa Senhora, mas em especial aos dois Beatos de Fátima, Francisco e Jacinta.
Rezou-se pelas crianças que são castigadas mas estão inocentes, pelos mais idosos,
pelas mães que estão vivas e pelas que estão no Céu, para que os filhos não sejam
sofrimento e para que elas lhes tenham amor. Contemplou-se a caminhada de Jesus
para o Calvário e explicou-se que na vida nem tudo é fácil. Houve uma oração pelos
trabalhadores das grandes obras que estão a ser feitas em Fátima e por todas as
crianças com deficiência, representadas por três instituições de Fátima. À chegada
ao Santuário, a recepção foi feita pelo recém-criado coro do Santuário de Fátima, a
“Escola Cantorum Os Pastorinhos de Fátima”, que teve naquele dia a sua primeira
actuação, com a interpretação do Hino dos Pastorinhos de Fátima.
A Eucaristia, na Capelinha, foi presidida pelo Bispo de Leiria-Fátima, D. Serafim
de Sousa Ferreira e Silva, que acompanhou as crianças durante a caminhada.
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Notícias
No início, houve um minuto de silêncio como sinal de acto penitencial, “porque
temos que pedir perdão, porque por vezes esquecemo-nos de ser bons”. Depois,
o prelado manifestou a sua felicidade em participar nesta celebração e pediu às
crianças para serem “mais Franciscos e mais Jacintas”, e aos adultos, para serem
mais crianças: mais puros, sinceros e verdadeiros. No decorrer da eucaristia, D.
Serafim disse ainda acreditar que “podemos construir um mundo de verdade, justiça
e paz” e pediu aos pastorinhos beatos para “que nos ajudem a atingir essa paz”.
No final, todas as crianças receberam uma estampa alusiva ao Dia dos Beatos
Francisco e Jacinta Marto.
Museu de Arte Sacra e o dia dos pastorinhos
O Museu de Arte Sacra e Etnologia, em Fátima, promoveu, entre os dias 20 e 22
de Fevereiro, uma série de actividades dirigidas às crianças, para assinalar o dia dos
beatos Francisco e Jacinta Marto, com várias surpresas. Além de um filme animado
sobre a história dos videntes e dos acontecimentos ocorridos em Fátima no ano de
1917, as crianças visitaram a sala dos Pastorinhos, com algumas das relíquias dos
beatos, e puderam dar largas à sua criatividade numa oficina de pintura.
Grupo missionário Odjoyetu
O grupo missionário diocesano de Leiria-Fátima, Ondjoyetu (que significa “a
nossa casa”), apresentou-se no passado dia 28 de Fevereiro, no salão paroquial de
Regueira de Pontes. O objectivo era dar-se a conhecer e apresentar uma breve história
da caminhada do grupo e os projectos que pretende desenvolver. A acção dirigiu-se
ao público em geral e, sobretudo, a quem se interesse pela temática missionária ou
coloque a hipótese de vir a integrar o grupo.
O Ondjoyetu foi criado em 1999 e, desde o ano 2000, tem vindo a realizar o
“Projecto ASA – Acção Solidária com Angola”, já com quatro edições. Possibilitou
a ida de 18 voluntários a Angola, que trabalharam em áreas da educação, saúde,
pastoral e formação profissional. Também foram enviados quatro contentores com
ajudas diversas num contexto de guerra e pós-guerra recente. Além do trabalho em
Angola, o grupo também desenvolveu uma acção em Portugal, em 2002 e 2003, com
duas semanas missionárias no Alentejo. Deseja dar-se a conhecer para reforçar o seu
sentido diocesano e permitir a concretização desta vocação a quem sente tal apelo.
Semana missionária – Maceira, Pataias e Alpedriz
De 28 de Fevereiro a 7 de Março, as paróquias da Maceira, de Pataias e de Alpedriz
viveram uma semana de animação missionária, organizada pelo Secretariado de
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Notícias
Animação Missionária da Diocese em conjunto com os Institutos Missionários Ad
Gentes. Trata-se de um trabalho conjunto, importante testemunho de eclesialidade
e de complementaridade dos diversos carismas na Igreja, que a enriquecem quando
postos ao serviço do bem comum. As cinco equipas de trabalho, cada uma com um
padre e uma irmã, visitaram as escolas, celebraram a Eucaristia, visitaram doentes e
idosos, fizeram encontros com as comunidades e orientaram vigílias de oração.
Segundo os organizadores, entre os objectivos da semana missionária, destacamse: “ajudar os cristãos a tomar maior consciência da dimensão missionária da
sua vocação baptismal; sensibilizar as comunidades cristãs para a urgência da
evangelização missionária e para a necessidade de todos participarem na missão
universal; propor e promover a vocação missionária “ad gentes” como o melhor
serviço à causa missionária; promover a intercomunhão eclesial entre pessoas,
valores e experiências de evangelização e de celebração da fé; fomentar o respeito
por outras formas de vida cultural e religiosa, sem diminuir a necessidade do
anúncio do Evangelho; estimular a prática da cooperação espiritual, pela oração
e pelo sacrifício, e da solidariedade material, pela partilha de bens e meios que
possibilitem o exercício da actividade missionária; dar um testemunho de comunhão
na diversidade dos carismas próprios de cada Instituto Missionário; incentivar a
criação de um grupo de animação missionária paroquial”.
A semana terminou com dois encerramentos festivos, um em Maceira, outro
em Pataias. Foi visível a satisfação dos párocos, comunidades e missionários pela
experiência vivida. Pequenas encenações e cânticos de cariz missionário foram o eco
da vivência da semana. Também marcaram presença os jovens do grupo missionário
diocesano “Ondjoyetu”, bem como D. Serafim, bispo da Diocese.
Ultreia diocesana dos Cursos de Cristandade
Realizou-se, no dia 29 de Fevereiro, na Caranguejeira, uma Ultreia Diocesana do
Movimento dos Cursos de Cristandade. A iniciativa começou com a celebração da
eucaristia, presidida pelo Bispo de Leiria-Fátima, seguindo-se a reunião no centro
pastoral daquela paróquia, com tema inspirado no capítulo 2 da Carta de S. Tiago.
ACR faz peddy-paper
A Acção Católica Rural da Diocese promoveu uma actividade para jovens,
no passado dia 29 de Fevereiro. Marcadamente lúdica, a iniciativa propunha a
descoberta da cidade de Leiria, através de algumas personalidades ilustres da sua
história. Participaram 14 jovens, de Arrabal, Barreira, Boavista, Carnide e Vermoil.
A actividade decorreu de manhã, seguindo-se o almoço partilhado e plenário. A
parte da tarde foi preenchida com o Festival da Canção do SDPJ.
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Notícias
Festival da Canção Jovem
O teatro José Lúcio da Silva encheu a abarrotar, no passado dia 29 de Fevereiro,
para a 12º edição do Festival da Canção Jovem da nossa Diocese, sob o tema
“Queremos ver Jesus”. Os dez grupos que passaram a pré-eliminatória apresentaram
as suas canções, com letra e música originais, e a plateia aplaudiu com entusiasmo.
O júri teve a tarefa difícil de classificar e premiar as melhores: 1º classificado – “Nós
vimos a luz do mundo” (Juventude Franciscana de Leiria-Fátima); 2º classificado e
melhor interpretação – “Acreditar” (paróquia da Batalha); 3º classificado – “Etéreo
Éden” (grupo Shalom Adonai, da paróquia de Amor); Melhor letra – “Amanhecer”
(grupo Íris, da paróquia de Carvide). A plateia teve também nas mãos a atribuição de
um prémio, que foi para “Um novo olhar” (paróquia das Colmeias).
Um ano de Apoio Domiciliário nas Matas
O Apoio Domiciliário do Centro Social de Matas comemorou, no início de
Março, o seu primeiro aniversário, juntando num almoço/convívio utentes, pessoal,
presidente da Câmara Municipal de Ourém, directora do Centro de Emprego de
Tomar e o presidente da Junta de Freguesia local.
Vários dos presentes usaram da palavra e manifestaram contentamento pelo êxito
do serviço, que se deve à união e cooperação generosa de pessoas e instituições. A
grande vitória é e será minorar os problemas pessoais de abandono e solidão, através
da entre-ajuda e colaboração de todos.
O Serviço de Apoio Domiciliário do Centro Social de Matas fornece alimentação
e cuida da higiene pessoal de 20 utentes, 18 da freguesia de Matas e dois da
vizinha freguesia de Cercal, englobando a limpeza do vestuário e da habitação e
o apoio em pequenos serviços, como na marcação de consultas ou na aquisição de
medicamentos.
Encontro Nacional dos CPM
A Associação Portuguesa dos Centros de Preparação para o Matrimónio levou
a efeito, nos dia 6 e 7 de Março, o seu Encontro-Peregrinação Nacional anual em
Fátima. Participaram cerca de 800 pessoas – casais, assistentes e jovens – provindos
das dioceses do Algarve, Angra do Heroísmo, Aveiro, Braga, Coimbra, Funchal,
Guarda, Leiria-Fátima, Lisboa, Portalegre/Castelo Branco, Porto, Santarém, Setúbal,
Viana do Castelo, Vila Real e Viseu.
O tema internacional de formação, “A fidelidade nas diferenças”, foi apresentado
por António de Oliveira Antunes e o padre José Manuel Marques Pereira, sob três
perspectivas: “As diferenças entre o homem e a mulher”, “As diferenças como factor
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Notícias
de crescimento” e “As razões humanas e teológicas das diferenças”. No casamento,
afirmou-se, “a fidelidade nas diferenças é uma exigência do objectivo essencial
do matrimónio para os casados e sua prole, cuja assunção visa traduzir o respeito
pela individualidade, afirma a complementaridade e proclama a fidelidade de um
projecto de vida”. Tomando em conta a cultura ocidental cristã, as convicções dos
participantes e os modelos de casamento, a reflexão desenvolveu considerações ao
nível psicológico, histórico-social e teológico-pastoral.
Buscando e dignificando as diferenças entre o homem e a mulher, como fonte
de crescimento e felicidade do casal, equacionaram-se as várias questões: “Como
pode e deve o homem/mulher entregar-se em plenitude, sem deixar de ser ele ou
ela?”; “Como pode e deve cada membro do casal aceitar o outro sem o aniquilar?”;
“Como pode e deve o casal manter-se fiel ao projecto de vida que sonharam e que,
continuamente, vão reformulando e refazendo, isto é, como ser fiel, hoje e em que
consiste a fidelidade?”. A fidelidade como compromisso assumido, que se prolonga
e dura no tempo, implica algumas atitudes e práticas. Desde logo a perseverança
no projecto que une duas pessoas diferentes mas complementares, sujeitas a uma
dinâmica de vida, quer no espaço individual, quer no conjugal, quer no familiar.
Perseverança que precisa de oração, reflexão, acompanhamento espiritual, vivência
sacramental e participação litúrgica. Implica, ainda, a distensão do coração, a
paciência, a capacidade de entender e perdoar, serenamente, os equívocos do
cônjuge, numa opção de esperança e confiança, lutando sempre pelo “mais”, certos
de que Deus coloca em nós uma enorme capacidade de superação. Por fim, a ascese,
a grande disciplina que impede de parar no imediato e atinge a totalidade da pessoa
humana nas dimensões corporal, psíquica e espiritual.
O testemunho de um casal concretizou a aceitação e o sentido de valorização
das diferenças e mostrou como cada um aprendeu a gerir e a crescer a partir das
diferenças. Também um par de jovens namorados, testemunhou a descoberta e o
aprofundamento das diferenças entre ambos, apontando aos casais e aos jovens
presentes o caminho já percorrido e dizendo do sabor e do encanto desta descoberta
humana e cristã que une e solidifica o amor. Foi um momento de muita ternura e de
esperança que devemos depositar nos jovens, carentes de uma comunidade paroquial
com capacidade de acolhimento e abertura à modernidade, que os escute, os entenda
e seja capaz de caminhar com eles.
D. Joaquim Gonçalves, bispo de Vila Real ex-assistente nacional dos CPM,
apelou à defesa intransigente da pedagogia e metodologia do movimento. Os temas
CPM abordam o homem no seu todo e, por isso, devem ser mantidos e respeitados
na sua ordem, com tempo suficiente para estudo, aprofundamento e reflexão. Os
participantes ouviram ainda palavras de apreço e encorajamento proferidas por D.
Serafim, bispo de Leiria-Fátima.
Esteve também presente Margarida Neto, coordenadora das Políticas para a
Família, que evocou a sua passagem pelo CPM, falou do 10º aniversário do Ano
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Notícias
Internacional da Família e dos problemas que afectam hoje a família. Enalteceu
o trabalho que vem sendo feito de preparação dos noivos para o matrimónio – no
duplo benefício que se reflecte nos casais animadores e assistentes e, naturalmente,
nos noivos que querem constituir novas famílias. Ao findar a sua intervenção deixou
dois desafios à Equipa Responsável Nacional, cuja concretização vai envolver todas
as dioceses e algumas instituições.
Este Encontro-Peregrinação teve o privilégio da presença permanente e da palavra
pastoral oportuna de D. António Rafael, bispo emérito de Bragança-Miranda, em
representação do Presidente da Comissão Episcopal da Família, D. Jacinto Botelho,
Bispo de Lamego. O próximo encontro será a 5 e 6 de Março de 2005.
Escuteiros de Monte Redondo celebram 14 anos
Foi com entusiasmo que, no passado dia 7 de Março, o agrupamento de
escuteiros nº 1054 de Monte Redondo celebrou o seu 14º aniversário. A dar inicio
às comemorações, celebrou-se a Eucaristia na igreja paroquial, presidida pelo
pároco, padre Joaquim de Jesus João, que é também o assistente do agrupamento.
Na homilia, fez a comparação entre a Aliança de Abraão e Deus e os compromissos
que alguns elementos iriam assumir diante do mesmo Deus e da vasta assembleia
presente, entre escuteiros, pais, padrinhos e amigos. Referiu ainda que Cristo,
transfigurado diante de Pedro, Tiago e João, aponta o caminho da Cruz como o da
Transfiguração. O caminho da luta, do sacrifício e da renúncia é o que conduz à meta
que nos propomos concretizar.
Seguiram-se as promessas de três novas chefes, oito caminheiros, onze pioneiros,
oito exploradores e cinco lobitos. No seu aniversário, o agrupamento passou a contar
58 escuteiros. Em oração e saudade, foram lembrados dois grandes fundadores e
impulsionadores do movimento na paróquia, Fernando Vitorino e Rui Esteves.
Depois das tradicionais praxes, no exterior da igreja, seguiu-se um almoço de
convívio com cerca de 200 pessoas e cuja receita reverteu a favor das obras de
restauro e ampliação da sede do agrupamento.
Dia do Doente e do Idoso nas Cortes
No dia 7 de Março, a Conferência de S. Vicente de Paulo das Cortes promoveu
a celebração do Dia Paroquial do Doente e do Idoso, reunindo no salão paroquial
mais de três centenas de pessoas, em agradável e são convívio. O programa iniciou
com a missa, pelas 11h30, presidida pelo pároco Rui Acácio Ribeiro, seguindo-se o
almoço no salão paroquial.
Presentes, para além dos responsáveis pela Conferência local e outros
paroquianos, estiveram a presidente da Câmara Municipal de Leiria, Isabel
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Notícias
Damasceno, o presidente da Junta de Freguesia das Cortes, José Alves, o professor
Vítor Gonçalves, em representação da Caritas Diocesana e da Filarmónica das
Cortes, a Comissão Fabriqueira da Igreja, o director do Jornal das Cortes, Rui
Pessoa, e representantes da associação Assiste.
O serviço de cozinha e apoio foi prestado por vicentinas e outros adultos e jovens
da paróquia, dando aos doentes e idosos um ambiente de alegria e de sorrisos.
Semana Nacional da Cáritas
Um encontro anual da “Família Cáritas”, uma recolha de sangue na cidade de
Leiria, uma acção de formação sobre “A importância dos afectos no trato com os
idosos” e um peditório público foram as iniciativas que a Cáritas Diocesana de
Leiria preparou para assinalar a Semana Nacional da Cáritas, de 7 a 14 de Março.
Segundo Ambrósio Santos, presidente da Cáritas Diocesana, “os sucessivos
dias Cáritas constituem sempre um apelo à solicitude activa para com os mais
fracos e marginalizados, estimulam sentimentos e práticas de humanização,
fazendo muitas pessoas abrirem-se a gestos, atitudes e serviços de entreajuda e de
promoção libertadora”. Por isso a sua celebração, porque “num tempo que tende a
sacrificar valores e direitos essenciais a todo o género de idolatrias, somos todos
convidados a descentrar-nos de nós próprios, a reconhecer-nos elos da mesma cadeia
humana, participantes dum destino comum, filhos do mesmo Pai”. E acrescenta: “A
solidariedade não é sentimento vago ou idealismo estéril; exprime-se e afirma-se nas
relações do quotidiano, dentro da família, da escola, das igrejas, das associações, em
todos os lugares onde se decidem as soluções para os problemas humanos. Pugnar
pelo direito e pela justiça, promover o bem comum contra as pressões dos interesses
egoístas, oferecer gratuitamente algum do nosso tempo, aptidões, ou bens materiais,
participar em pequenas ou grandes iniciativas em favor dos outros, sobretudo dos
mais fracos, são apenas formas diferentes de participação na construção de um
mundo mais humano onde todos tenham lugar”.
O encontro da “Família Cáritas”, no domingo 7, decorreu no Centro Paroquial
Paulo VI. Pelo sétimo ano consecutivo, grupos paroquiais da diocese, voluntários e
quantos estão ligados à Cáritas por algum tipo de colaboração puderam aproveitar
esta oportunidade de formação, de actualização, de crescimento e de convívio.
Reconhecer-se parte de uma família mais alargada, que partilha motivações e ideais
comuns, ajuda a vencer friezas e desânimos e constitui estímulo vigoroso para um
compromisso renovado. O tema foi “Família Solidária – Um Toque de Esperança”,
inspirado pela passagem do 10º aniversário do Ano Internacional da Família,
proposto pelas Nações Unidas em 1994, e foi desenvolvido pelo Assistente, padre
Albino da Luz Carreira.
A recolha de sangue, na manhã de 10 de Março, é uma iniciativa da Cáritas, pelo
sétimo ano consecutivo, que tem suscitado adesão sempre crescente.
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Notícias
“STROKES (Toques) – A importância dos afectos no trato com os idosos”
foi a acção de formação proposta pela Cáritas para o sábado 13, orientada pelo
psicólogo Abel Magalhães. O facto de o limite de 50 inscrições ter sido rapidamente
ultrapassado por profissionais das instituições do sector, diz bem das carências que
ainda existem, mas também da grande disponibilidade para atingir patamares de
maior excelência e qualidade.
O peditório anual, que decorreu de 11 a 14, é a forma de garantir fundos para
o enorme trabalho de apoio social da instituição, que “não pesa um cêntimo ao
Orçamento do Estado”. É necessário este apelo à generosidade de todas as pessoas,
pelo menos uma vez no ano. É uma proposta de partilha do que sobra ou, porventura,
pode fazer alguma falta. De salientar que metade deste peditório na cidade, destina-o
a Cáritas ao Centro de Acolhimento aos Sem-Abrigo.
Cáritas e Renascença ajudam vítimas dos incêndios
A campanha de solidariedade promovida pela Rádio Renascença e pela Cáritas
Diocesana de Leiria, para recuperação das habitações atingidas pelos fogos ocorridos
no lugar da Torre, concelho da Batalha, juntou a quantia de 12.045,35 euros, entregue
a quatro famílias no início de Março. O presidente da Câmara Municipal Batalha,
António Lucas, manifestou a sua gratidão para com estas instituições.
A meados de Abril, a Caritas Portuguesa e as Caritas Diocesanas dos distritos
mais afectados pelos incêndios reuniram-se em Fátima, para discutir a terceira fase
desta campanha. “Depois da ajuda de emergência e da reconstrução das habitações
destruídas pelos fogos, é tempo de pensar nos apoios à criação de emprego, de forma
a dar resposta às necessidades de todos aqueles que ficaram sem os seus postos de
trabalho em consequência da tragédia do Verão passado”, referia um comunicado.
CAES inaugurou nova sede
No passado dia 10 de Março, foi inaugurada a nova sede do CAES - Centro de
Apoio ao Ensino Superior, na praça Rodrigues Lobo, onde será também a sede do
Movimento Católico de Estudantes da diocese de Leiria-Fátima.
Eram cerca de 21h30 quando o bispo da Diocese, D. Serafim de Sousa Ferreira
e Silva, descerrou uma pequena placa que indica a sede do CAES. Seguiu-se uma
visita pela casa com a possibilidade de conhecer as valências disponibilizadas,
apresentadas pelo director deste serviço, padre Abílio Lisboa. Houve ainda tempo
para a projecção de fotografias alusivas a actividades do serviço nos últimos anos e
para a apresentação de um álbum fotográfico no qual os estudantes poderão colocar
imagens da sua passagem pela academia leiriense. O evento terminou com um
beberete para os convidados e pessoal da casa.
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Notícias
Jovens Sem Fronteiras de Santa Eufémia
De 12 a 14 de Março, no Centro Paulo VI, em Fátima, o grupo Jovens Sem
Fronteiras de Santa Eufémia participou no primeiro de três retiros que o movimento
promove anualmente na Quaresma. A coordenadora do movimento para a região
Centro e Sul apresentou o tema “Quaresma na Bíblia - Oração, Conversão, Partilha”,
seguindo o caminho proposto pelas leituras do Ano C. Depois, o padre Tony Neves
falou aos participantes sobre a importância de um “Capítulo” – que pela primeira
vez em 300 anos terá lugar em Portugal, em Junho – para unir esforços, avaliar,
reorientar, etc. “Missão à luz da mensagem do Papa para a quaresma” foi outro
dos temas em debate, remetendo para as crianças e para questões como o tráfico
de órgãos, os abusos sexuais, a educação, a saúde... onde por vezes os Jovens Sem
Fronteiras têm trabalhado.
Tempo de quaresma é também tempo de celebração... desde a via-sacra, passando
pela celebração penitencial, ao terço, foram celebrações adaptadas aos jovens, cujas
preparação e realização tiveram o contributo de cada um dos participantes. Houve
ainda espaço para um cine-forum sobre o filme “À procura de Nemo” que, por
meio da ternura e gargalhadas, remetia para temas importantes como “o Pai nunca
desiste”, “não perder os objectivos de vista”, “é importante persistir”, etc.
Retiro diocesano para catequistas
Porque a missão do catequista é ajudar os catequizandos a descobrirem o
verdadeiro rosto de um Deus que é Pai e a estabelecerem com Ele uma profunda
comunhão, é imprescindível que os próprios catequistas tenham essa vivência.
Neste pressuposto, o Secretariado Diocesano da Catequese realizou, em Fátima,
nos dias 12 a 14 de Março, um retiro para todos os catequistas que se dispuseram a
parar um pouco para fazer este encontro com Deus. O orientador foi o padre António
Couto, provincial dos Missionários da Boa Nova, que tem larga experiência na
orientação de retiros.
Jornada de Catequistas no Arrabal
“A Liturgia na vida do Catequista” foi o tema da Jornada de Catequistas da
vigararia dos Milagres, que decorreu no passado dia 14 de Março, no Arrabal,
para as paróquias de Caranguejeira, Santa Eufémia, Boavista, Bidoeira, Milagres,
Regueira de Pontes, Amor e Arrabal. O padre Mário Santos, da Congregação dos
Paulistas, desenvolveu o tema em análise. O encontro terminou com uma merenda
de convívio no salão paroquial.
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Notícias
Encontro com o irmão João de Taizé
Os irmãos de Taizé estão a dar a conhecer a realidade de Taizé em Portugal,
convidando os jovens da diocese de Leiria-Fátima para uma tarde/noite de convívio,
diálogo e oração, um pouco à semelhança do que se faz em Taizé. O primeiro foi a
20 de Março, no Seminário de Leiria, onde participaram muitos “curiosos”, quer os
que já estiveram em Taizé, como os que pensam lá ir. Teve momentos de informação
sobre esta vivência espiritual, momentos de reflexão em pequenos grupos, celebração
da missa, jantar partilhado e oração com dinâmica e cânticos de Taizé.
“Servir a Cristo no doente” – Pastoral da Saúde
No dia 20 de Março, realizou-se no Seminário de Leiria o Encontro Diocesano da
Pastoral da Saúde. Depois do acolhimento feito pelo padre João Pina e de um tempo
de oração, usou da palavra o Bispo diocesano, que disse esperar muito deste sector
tão importante da pastoral, deixando algumas orientações.
O tema do encontro – “Servir a Cristo no Doente” – foi desenvolvido pelo
padre Albino Carreira, que falou da missão e do perfil dos visitadores no campo
da saúde, dos doentes, suas atitudes, necessidades e receios e dos caminhos para a
cura. O momento de maior eloquência foi a apresentação da imagem de um “Cristo
mutilado”, uma experiência que provocou nos participantes o desejo de “restaurar
aquela figura sem a cruz e sem algumas partes do corpo e outras desconjuntadas”.
Mas “o importante não é dar uma cruz a Jesus, nem reparar a sua imagem, mas, sim,
tudo fazer para que não haja ninguém com cruz sem Jesus e com a vida mutilada,
seja em que aspecto for”, salientou o orador.
As cerca de cem pessoas presentes reuniram-se por vigararias, para responderem
às perguntas: “Qual o mandamento novo que Cristo nos ensinou?”; “Segundo
o Senhor, qual é a fonte da alegria?”; “Os doentes só têm necessidade de saúde
corporal?”; “Na nossa paróquia, preocupamo-nos em ajudar os doentes a converterem
a Cristo o seu coração?”; “Quais os sucessos e as dificuldades que temos tido?”.
Após o plenário, foram dadas duas grandes orientações pastorais: “Na mensagem
cristã, a saúde e a salvação estão próximas e relacionadas” (Sínodo Diocesano);
“Nenhuma questão tem maior acuidade para os corações humanos do que a saúde e
a salvação” (João Paulo II).
Procissão dos Passos nos Milagres
Na tarde do domingo 21 de Março, a paróquia dos Milagres, na calçada
envolvente do Santuário do Senhor Jesus, acompanhou os Passos de Jesus. As
cerimónias começaram com missa no Santuário, às 15h00, seguindo-se depois
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Notícias
a procissão até ao “passo do encontro”, onde Jesus se encontrou com Sua mãe,
a Senhora das Dores. Os sermões do Pretório, do Encontro e do Calvário foram
proferidos pelo padre João Pina Pedro, pároco das Matas.
Filhas de Maria Mãe da Igreja em festa
A Madre Matilde Téllez Robles passou a sua vida na Estremadura espanhola,
junto à fronteira com Portugal. Nasceu em Robledillo de La Vera (Cáceres) em
1841 e aos 10 anos fixou-se em Béjar (Salamanca), por motivos familiares. Na
sua juventude começaram a brilhar as virtudes que transmitira como distintivos
da Congregação que havia de fundar. Distinguia-se nela a devoção a Santíssimo
Sacramento, passando horas diante do sacrário.
A sua dedicação a Nossa Senhora ficou demonstrada pela adesão às Filhas de
Maria, organização de que foi a primeira presidente em Béjar, até se entregarem
totalmente ao serviço de Deus. Era o dia 19 de Março de 1875. A vontade de Deus
orientou-as para as crianças, os jovens e os pobres. Começaram a dar lições escolares
e catequese na escola dominical e ajudavam os pobres e os doentes, com os dons que
lhes enviava a Divina Providência.
O seu modo de vida cativou outras jovens, e em breve formaram uma Congregação que teve a primeira aprovação, por parte do Bispo de Plasencia, em 1884. Tinha
Matilde 34 anos. De diversos lados, pediam a ajuda da Congregação, que assim se
expandia. A própria Madre Matilde foi procurando novos lugares e acabou por se
fixar em Dom Benito, Badajoz, onde faleceu, a 17 de Dezembro de 1902.
Em Portugal, a primeira missão, a 18 de Fevereiro de 1933, iniciou-se na
Covilhã, onde tomaram conta de um lactário e se mantiveram até à sua dissolução,
a 21 de Abril de 1945. Solicitadas pela Santa Casa da Misericórdia de Marvão, aí
se estabeleceram a 22 de Abril de 1945 e continuam actualmente. Entre múltiplas
tarefas, dedicaram-se a escolas de internato para rapazes e raparigas, à protecção de
crianças e jovens deficientes mentais e assistem a um Lar de Terceira Idade, sob os
auspícios de Nossa Senhora da Estrela, padroeira do concelho e do antigo Convento
de Franciscanos.
A Fundação Lopes Tavares, instituída por D. António Alvito, em Nisa, em 12 de
Setembro de 1948, chamou estas Religiosas para dirigirem o Asilo de Nossa Senhora
da Graça, dedicado a múltiplas tarefas: anciãos, cozinha económica, cantina escolar,
casa de trabalho para raparigas, jardim infantil, etc. As religiosas só deixariam este
trabalho em 15 de Janeiro de 2003, quando a Fundação passou a ser dirigida pela
Santa Casa da Misericórdia.
Muito apreciada foi a acção das irmãs na Casa de Saúde de Madalena Sampaio
(Portalegre) onde entraram a 19 de Julho de 1947, e lá se mantiveram até ao fim, em
Outubro de 1990. Além da Enfermagem, as Religiosas realizavam outros trabalhos
apostólicos entre os quais a catequese paroquial.
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Notícias
Do mesmo modo, as Filhas de Maria Mãe da Igreja foram chamadas para a Casa
de Saúde de S. João de Deus, em Castelo Branco, em 1953, e mantiveram-se até ao
fim, em 1958. E semelhante foi a sua acção em Tomar, numa Clínica que funcionou
desde 1965 a 1967.
Mais longa é a actividade das Religiosas na Póvoa de Varzim, onde foram
recebidas, em 25 de Julho de 1955, para abrir uma residência académica, depois
transformada em Colégio. Abriram também uma Pré-escola e uma Escola Básica,
que passou depois a funcionar como internato e como externato.
Finalmente, as Filhas de Madre Matilde Téllez Robles fundaram em Fátima uma
Casa de espiritualidade, a 16 de Julho de 1991, na qual recebem peregrinos e pessoas
que procuram tempos de repouso e oração. Funciona agora como Casa Provincial.
Sendo assim, é compreensível que as Filhas de Maria Mãe da Igreja estejam a
viver com grande entusiasmo e devoção a beatificação da Madre Matilde Téllez
Robles, que ocorreu no passado dia 21 de Março, no Vaticano.
Fundação homenageia padre Luís Kondor
O Grémio Literário, em Lisboa, foi palco, no dia 24 de Março, de uma
homenagem ao padre Luís Kondor, pelos seus 50 anos de sacerdócio e vida
apostólica em Portugal. Organizada pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, a
cerimónia pretendeu, sobretudo, sublinhar o trabalho deste padre húngaro, um dos
mais empenhados sacerdotes na divulgação da mensagem de Fátima e directamente
envolvido no processo de Beatificação dos Pastorinhos. Presidida pelo Bispo de
Leiria-Fátima, a sessão incluiu também a apresentação do livro “O Rosário com
Francisco e Jacinta”, do monge Trapista Jean François de Louvencourt, da Abadia
de Notre-Dame de St. Rémy de Rochefort, Bélgica.
Luís Ludwig Kondor – nascido em 1928, em Csikvánd, Hungria – foi enviado
pela Congregação do Verbo Divino, para Portugal, em Novembro de 1954. Dois anos
mais tarde, ao encontrar-se pela primeira vez com a irmã Lúcia, inicia um trabalho
fervoroso de promoção, em especial nos países do Centro e Leste da Europa, para
onde canalizou, durante décadas, literatura e imagens de Nossa Senhora de Fátima.
Foi um promotor incansável da beatificação dos Pastorinhos, como Vice-Postulador
do processo, e responsabilizou-se pela edição das “Memórias da Irmã Lúcia”, obra
traduzida em diversas línguas e que contribuiu, também, para o desenrolar do
processo de beatificação e correspondente visita a Portugal do Santo Padre.
Museu de Arte Sacra de Fátima faz visitas para surdos
“Escute o Museu!” é o título do projecto que o Serviço Educativo do Museu de
Arte Sacra e Etnologia, em Fátima, apresentou ao público, no passado dia 25 de
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Notícias
Março. Destinado aos surdos, o novo projecto consiste num serviço permanente
de visitas guiadas com tradução simultânea em língua gestual portuguesa e é um
exemplo em termos de acessibilidade para pessoas com deficiência.
A Associação Portuguesa de Surdos esteve presente e “apadrinhou” o projecto.
Para testar o novo programa, foi orientada uma visita guiada para os alunos da
Unidade de Surdos da Escola EB1 dos Marrazes, Leiria.
Novos órgãos da Confraria de N.ª Sr.ª da Encarnação
A tomada de posse da nova direcção e do conselho fiscal da Confraria de
Nossa Senhora da Encarnação foi no dia 25 de Março, na eucaristia celebrativa da
Solenidade da Anunciação, naquele Santuário leiriense. Os eleitos em assembleiageral de 9 de Fevereiro, irão exercer funções no triénio 2004/2007. A direcção é
composta pelos padres Manuel Armindo Pereira Janeiro, Albino da Luz Carreira
e Boaventura Domingues Vieira, e o conselho fiscal pelos padres Manuel Pedrosa
Melquíades e Raúl Rodrigues Carnide e ainda o leigo Belmiro Loureiro Luís.
Academia de Cultura e Cooperação comemora 5 anos
A Academia de Cultura e Cooperação da Santa Casa da Misericórdia de
Leiria comemorou o seu quinto aniversário no passado dia 26 de Março. As
celebrações começaram com uma missa na igreja de Nossa Senhora da Encarnação
e prosseguiram na sala da Academia, com a apresentação da história da instituição,
um momento musical pelo Orfeão de Leiria e uma merenda/convívio.
Jovens de Carvide preparam comédia
O grupo de jovens “Íris”, de Carvide, preparou o Dia Mundial da Juventude com
muito afinco e alguma originalidade. Nada mais, nada menos do que um concurso de
“Stand-up Comedy” que, nos últimos tempos, tem andado na moda. O espectáculo
foi no dia 4 de Abril, no salão da Casa do Povo de Carvide, com participação de
Marco Horácio, conhecido apresentador de um programa de televisão do género.
“Meditações sobre a Paixão”
Na tarde do Domingo de Ramos, no Santuário de Nossa Senhora da Encarnação,
a Escola Teológica de Leigos preparou mais uma vez a entrada na Semana Santa
com as “Meditações sobre a Paixão”. Coube ao padre Anacleto Oliveira desenvolver
os três temas, a partir do Evangelho de S. João: “A última ceia ou o domínio da luz
sobre as trevas”; “A morte ou a vitória da verdade sobre a mentira”; “A glorificação
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Notícias
ou o triunfo do amor sobre a morte”.
A Escola Teológica terá uma iniciativa semelhante na vigília do Pentecostes,
na Marinha Grande, com as “Meditações sobre o Espírito Santo”, com o tema
“Discernimento cristão de opções e compromissos no mundo actual”, pelo padre
Luís Inácio João.
Lar e Centro de Dia da Caranguejeira
O Centro Social Paroquial da Caranguejeira, Leiria, inaugurou finalmente o seu
Lar e Centro de Dia, a 4 de Abril, dia em que se realizou um cortejo de oferendas
para ajudar a custear os encargos assumidos com a obra.
O novo edifício, para além das funções de Lar e de Centro de Dia, acolhe
também um Centro de Animação e serviços de Apoio Domiciliário. Um oratório,
sala de convívio, sala para actividades diversas e um tanque de manutenção para
fins terapêuticos são algumas das infra-estruturas complementares, para além dos 22
quartos com duas camas individuais articuladas e casa de banho privativa.
Passos em Monte Redondo
Como nos anos anteriores, Monte Redondo realizou, no domingo de Ramos,
4 de Abril, a “Procissão dos Passos”. Trata-se de uma manifestação religiosa que
tem sido, de há uns anos a esta parte, muito participada pela população da paróquia
e de freguesias vizinhas. Tem havido a preocupação de preparar as pessoas para
viverem, não tanto um acontecimento sentimental, mas sim a memória viva dos
acontecimentos de há 2000 anos, e descoberta do mistério do sofrimento, paixão,
morte e ressurreição do Senhor, na vida de cada um e na própria sociedade.
Na preparação, destacaram-se a celebração da Penitência na quinta-feira anterior
e uma procissão das velas no sábado, com a imagem de Nossa Senhora das Dores,
para uma capela improvisada no local da Estação, onde a imagem ficou até domingo,
para o momento do sermão do encontro.
Páscoa nas prisões de Leiria
Tudo começou com o concurso de desenho “Eu quero ver Jesus”, realizado no
passado dia 5 de Abril. Entre os 33 participantes foi vencedor Jorge Miguel Paredes,
com o magnífico desenho de Nossa Senhora na expectativa da ressurreição.
Na Sexta-Feira Santa, foi representada “A Paixão e Morte do Senhor”, pelos
actores do projecto “Educar pelo Teatro”, para a população da Prisão-Escola. No
dia 15, foi a vez de a Cadeia Regional receber o espectáculo, que se repetiu no
dia 16, para todo o pessoal de serviço na Prisão-Escola. “Tudo está consumado”: a
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Notícias
assistência entendeu que terminou a paixão do Senhor e continua a da humanidade;
mas Jesus Ressuscitou, deixando em nós o grande desejo de “O querer ver”.
Tudo foi possível com a participação dos detidos da Prisão-Escola e da Cadeia
Regional, o grupo “Shalom Adonai” e as três cantoras Sónia, Catarina e Mila.
A culminar, houve uma visita aos nove pavilhões e às escolas da Cadeia
Regional, com o anúncio do Jesus Ressuscitado, a bênção dos pavilhões e das celas
e a distribuição das amêndoas e de um belo rosto de Jesus com uma mensagem
apropriada.
O regresso do padre Jorge Guarda
O padre Jorge Manuel Faria Guarda regressou à Diocese, após um tempo
sabático que iniciou em Outubro passado. Pôde assim reassumir oficialmente, no dia
6 de Abril, as suas funções de vigário-geral, que foram desempenhadas pelo padre
Henrique Fernandes da Fonseca. Até Fevereiro, viveu integrado numa comunidade
do movimento dos Focolares, em Castelgandolfo, e frequentou a Universidade
Gregoriana de Roma, onde concluiu a Licenciatura Canónica em Teologia Espiritual,
com uma tese intitulada “O Carisma dos Pastorinhos de Fátima: a força de Deus na
pequenez humana”. O mês de Março passou-o no Brasil, onde entrou em contacto
com diversas experiências de vida eclesial, algumas dirigidas por movimentos de
espiritualidade.
Teatro religioso na Bajouca
No passado dia 9 de Abril, Sexta-Feira Santa, o salão paroquial da Bajouca
foi o palco de uma representação cénica intitulada: “Vida, Morte e Ressurreição
de Jesus”. Participaram no espectáculo cerca de 70 pessoas – crianças, jovens e
adultos. Para além do palco principal do salão paroquial, foi necessário construir
mais quatro palcos. Toda a representação foi acompanhada por um suporte musical
e por um jogo de luzes e imagens que ajudaram a plateia a viver mais intensamente
a representação.
Concerto Pascal no Santuário de Fátima
A orquestra Filarmonia das Beiras, de Aveiro, foi a protagonista do Concerto
Pascal do Santuário de Fátima, um evento musical que decorrer no dia de Páscoa,
11 de Abril, no anfiteatro do Centro Pastoral Paulo VI. Do reportório deste concerto,
destacava-se a “Missa em Si menor” de J. S. Bach, numa produção que contou com
a participação do coro Regina Coeli e de alguns outros solistas.
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Notícias
Jornadas de Direito Canónico
“As Associações de Fiéis na Igreja” foi o tema escolhido para as Jornadas de
Direito Canónico que o Centro de Estudos de Direito Canónico da Universidade
Católica Portuguesa organizou nos dias 19, 20 e 21 de Abril, no Santuário de
Fátima.
“Mais um passo” na vigararia dos Milagres
É o segundo ano de trabalho partilhado pelos grupos sócio-caritativos da vigararia
dos Milagres. No seguimento da tentativa de um plano comum de actividades, levouse por diante uma acção de sensibilização sobre o consumo de tabaco e de bebidas
alcoólicas. Com uma pesquisa nestas matérias e a edição de um folheto, decorreu
durante o mês de Abril uma campanha a favor da saúde. Para 21 de Maio agendou-se
uma palestra sobre a pastoral da saúde na paróquia e a problemática do alcoolismo e
marcou-se uma peregrinação ao Santuário da Nazaré para a 12 de Junho.
Nossa Senhora da Gaiola nas Cortes
A paróquia das Cortes realizou, de 30 de Abril a 2 de Maio, a tradicional festa em
honra de Nossa Senhora da Gaiola. Sob esta invocação única no mundo, a festa da
Padroeira conta com a tradicional procissão de numerosas imagens do Menino Jesus
– este ano, mais de 100 – levadas à cabeça. Nestes dias, as ruas pulularam de cor e
alegria, motivando a visita de milhares de pessoas.
Próximos Eventos:
Animação missionária
O Grupo Missionário Diocesano de Leiria-Fátima “Ondjoyetu” (A Nossa Casa)
realiza uma festa missionária a 9 de Maio, no salão paroquial de Amor, a partir das
15h30. Com as actuações da Escola de Dança de Regueira de Pontes “Dançart”,
Grupo de Música de Mensagem de Amor “Shalom” e da Tuna Académica de Leiria
“Noctuna”, a festa promete muita animação. Além da sensibilização missionária,
a iniciativa tem como objectivo a angariação de fundos para apoio à realização do
“Projecto ASA - Acção Solidária com Angola 2004”.
Com estes mesmos objectivos, este grupo organiza, pelas 21h30 de 19 de Junho,
no pavilhão desportivo da Bajouca, uma festa com o padre José Luís Borga.
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Notícias
Congresso Eucarístico Internacional
A comissão portuguesa prepara a participação de cerca de 50 pessoas no
Congresso Eucarístico Internacional, que vai realizar-se no México, com o tema
“A Eucaristia, luz e vida do novo milénio”. A partida está marcada para o dia 8 de
Outubro e o regresso será no dia 18. Dez dias que marcarão a vida dos participantes.
O custo ronda os 2500 euros. As inscrições devem chegar o mais rápido possível,
pois apenas foram feitas 55 reservas para a delegação portuguesa. Quem deseje
participar deve enviar rapidamente a inscrição para: Congresso Eucarístico Seminário Diocesano - 2414-011 Leiria - Tel. 244 832 760.
Os Caminho de Santiago - Peregrinação Europeia de Jovens
De 31 Julho a 5 de Agosto decorrerá a chegada dos grupos de jovens que
percorrerão a pé o Caminho de Santiago, seguindo itinerários propostos: Caminho
Inglês a partir da Corunha; Caminho Francês a partir de Sarria; Caminho Português
a partir de Tuy; Caminho do Norte a partir de Ribadeo; Caminho da Rota da Prata
a partir de Orense. A Peregrinação Europeia de Jovens começará a 5 de Agosto de
2004, com Missa de Abertura, continua a 6 e 7 com Catequese, Missa do Peregrino e
diversas actividades (conferências; encontros, oração, etc.), e encerra no dia 8.
Encontro Europeu de Jovens em Lisboa
O próximo Encontro Europeu de Jovens, animado pela comunidade de Taizé,
terá lugar em Lisboa, de 28 de Dezembro de 2004 a 1 de Janeiro de 2005. Depois
de Hamburgo, no final de 2003, o Encontro em Lisboa será uma nova etapa da
“peregrinação de confiança na terra” que Taizé continua há mais de 26 anos, com
etapas em Paris, Budapeste, Barcelona, Varsóvia, Milão, Viena, Londres, Munique,
Praga, Colónia, etc.
Festa diocesana do Corpo de Deus
A diocese de Leiria-Fátima celebra, no próximo dia 10 de Junho, a Solenidade
do Santíssimo Sangue e Corpo de Cristo, comummente conhecida como festa do
Corpo de Deus. Com tradição já conquistada entre nós, a celebração conta com dois
momentos de destaque. O primeiro deles é a Eucaristia que, este ano, será celebrada,
a partir das 15h30, em frente à Sé Catedral. O segundo momento é a tradicional
procissão do Santíssimo Sacramento pelas ruas da cidade.
Como sempre, são esperadas algumas centenas de fiéis provenientes de todas as
paróquias que, juntamente com o clero da Diocese, em torno do bispo, darão uma
imagem visível desta Igreja particular. Como preparação para esta celebração, está
já elaborado um programa de adoração ao Santíssimo durante a semana antecedente.
Todas as paróquias foram convidadas a definir tempos de oração e adoração. Na
igreja do Espírito Santo, em Leiria, esta preparação será diária e contará com a
presença de diferentes grupos e intervenientes.
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Notícias
Jubileu do Bispo Diocesano
Ocorre, no presente ano, o jubileu presbiteral (50º aniversário) e episcopal (25º
aniversário) do Bispo da diocese de Leiria-Fátima, D. Serafim de Sousa Ferreira e
Silva. Para assinalar o acontecimento, vão ser três os momentos a marcar o ritmo
das celebrações:
• A 16 de Junho, a igreja de Santo Agostinho, em Leiria, acolhe, pelas 21h00,
uma encenação sobre a conversão do padroeiro da Diocese;
• No dia 19, pelas 15h00, na Sé de Leiria, haverá uma celebração Eucarística e,
pelas 16h00, terá lugar um beberete nos claustros da Sé;
• Finalmente, a 13 de Julho, e novamente na Sé de Leiria, realiza-se a festa da
dedicação da catedral, a partir das 21h30, que tem como momento alto um concerto
sobre Santo Agostinho.
O percurso de D. Serafim
- Nasceu a 16 de Junho de 1930, em Stª Maria de Avioso, Maia, diocese do Porto.
- No Seminário do Porto fez os estudos secundários, filosóficos e teológicos.
- Foi ordenado presbítero no dia 1 de Agosto de 1954, na Sé do Porto.
- É licenciado em Direito Canónico, pela Universidade Gregoriana de Roma.
- De 1957 a 1961, foi professor no Seminário Maior e no Instituto Social do Porto.
- Entre 1961 e 1969, foi Assistente Nacional da Acção Católica.
- Foi, ainda, Juiz no Tribunal Eclesiástico do Patriarcado.
- Foi nomeado cónego da Sé do Porto, em 1969.
- Foi Pró-Vigário Geral e Vigário Geral da diocese do Porto, desde 1969 a 1979.
- Foi nomeado Bispo Auxiliar de Braga a 30 de Abril de 1979, onde ficou até 1981.
- Foi sagrado Bispo no dia 16 de Junho de 1979, no Sameiro, Braga.
- Em Junho de 1981 foi transferido para Auxiliar do Patriarcado de Lisboa.
- Em 1982, assumiu o cargo de Secretário-Geral da Conferência Episcopal.
- Em 13 de Maio de 1987 foi tornada publica a sua nomeação como Bispo Coadjutor
de Leiria-Fátima, função que assumiu em 2 de Agosto de 1987.
- No dia 2 de Fevereiro de 1993 assumiu o pastoreio da Diocese de Leiria-Fátima
como Bispo Residencial.
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Documentos Pastorais
Nota Episcopal para a Quaresma – “Como Eu vos fiz, fazei vós também”
Nota dos Bispos Portugueses – Meditação sobre a vida
Nota dos Bispos do Centro – Depois dos incêndios, cuidados para o futuro
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Documentos Pastorais
Nota Episcopal para a Quaresma
“Como Eu vos fiz,
fazei vós também”
1. Passou o Carnaval. Preparamos a Páscoa 2004. A este tempo de comemoração
vivencial da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo costumamos chamar
Quaresma.
São quarenta dias de exame de consciência e purificação.
Sabemos que o número 40, em quase todas as culturas e especialmente na Bíblia,
tem a simbologia de provação e mudança. Por exemplo:
- “A chuva caiu sobre a terra durante 40 dias e 40 noites” (Gen. 7, 12);
- “Moisés permaneceu junto do Senhor 40 dias e 40 noites… e escreveu nas
tábuas as palavras da aliança, os 10 mandamentos” (Ex. 34, 28);
- Jesus fez a experiência do deserto e “jejuou durante 40 dias e 40 noites” (Mt.
4, 2).
As três citações supra são indicativas de um tempo longo e de mudança!
Para além das ideias de vigilância (quarentena), ou maturidade (a idade dos 40) a
Quaresma tem um significado litúrgico de celebração, e um apelo vital de conversão,
e vida melhor. Em toda a pastoral da Igreja são postos em foco os sacramentos do
Baptismo e da Penitência, sempre na perspectiva da Ressurreição e da Eucaristia
eterna.
2. Para a Quaresma 2004, o Papa João Paulo II escreveu uma Mensagem, que
nos exorta a imitarmos “o Filho de Deus, que compartilhou a sorte dos pequeninos
e dos pobres”.
A Mensagem pontifícia tem a data de 8 de Dezembro de 2003 e lembra, como
tema geral, as palavras de Cristo: “Quem acolher em Meu nome uma Criança,
acolhe-Me a Mim” (Mt. 18,5).
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Documentos Pastorais
Em todos os tempos e lugares, as crianças precisam de respeito e carinho. Todos
sabemos o que se tem passado, e dito, sobre aborto, violência e pedofilia! Não
esqueceremos as crianças abandonadas e que morrem à fome. Podemos fazer e dar
alguma coisa, para que todas as crianças sejam bem acolhidas.
O Papa acrescenta outras pessoas carecidas, como: pobres e desempregados,
migrantes e sem abrigo, idosos e doentes. E termina a sua Mensagem com este
voto: “Encetemos confiadamente o itinerário quaresmal, animados por mais intensa
oração, penitência e atenção aos necessitados”.
3. Na nossa Diocese, estamos a implementar toda a acção pastoral, à luz da
recomendação de Cristo: “Como Eu fiz, fazei vós também” (Jo. 13,15). É o mesmo
“slogan” da peregrinação a Fátima, no dia 28 de Março. Também é a palavra de
ordem, no ano de Santo Agostinho, que estamos a celebrar.
Queremos reflectir e agir, em conversão permanente, e entreajuda fraterna.
Fazemos esforço por nos libertarmos dos ídolos e dos egoísmos, a fim de sermos
integralmente mais irmãos. Neste sentido, vamos fazer alguma renúncia quaresmal e
entregar o contributo penitencial, como acto de ascese e de solidariedade.
No ano 2003, as duas verbas somaram 58.225 euros, dos quais 50% foram
consignados à Caritas para apoiar famílias com pessoas deficientes. Este ano,
encaminharemos a mesma percentagem para ajudar as rádios de inspiração cristã
nas antigas colónias portuguesas. De facto, realizou-se, em Maputo, um encontro
de rádios cristãs lusófonas e foi aí formulado, com insistência, tal pedido de ajuda.
Procuraremos corresponder, com sinceridade e esperança.
Queridos diocesanos: Exorto-vos a viverdes com mais atenção esta Quaresma
2004, a fim de podermos celebrar melhor a Páscoa como nova Primavera.
Caminhemos diligentemente da quarta-feira de cinzas para a Semana Santa e o
Domingo do Aleluia.
Leiria, 25 de Fevereiro de 2004
† Serafim de Sousa Ferreira e Silva
Bispo de Leiria-Fátima
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Documentos Pastorais
Nota dos Bispos Portugueses
Meditação sobre a vida
Introdução
1. Na nossa sociedade a vida é, frequentemente, tema de notícia. E é natural que
assim seja, pois não sendo exclusiva do homem, a vida define o próprio homem, na
sua dignidade, na sua responsabilidade, no drama da sua existência, no horizonte da
sua esperança, que se afirma como desejo de mais vida, de uma vida melhor. Sendo
o seu dom mais precioso, o homem encontra nela um desafio para a liberdade, a
motivação para a generosidade e a responsabilidade: a vida torna-se, para ele, o
fundamento principal da exigência ética, porque aí se descobre como ser responsável
perante a sua própria vida e perante os outros seres vivos, sobretudo os outros
homens, chamados a descobrir a vida no diálogo fraterno e na corresponsabilidade
mútua. Como afirma João Paulo II, “trata-se de uma realidade sagrada que nos é
confiada para a guardarmos com sentido de responsabilidade e levarmos à perfeição,
no amor, pelo dom de nós mesmos a Deus e aos irmãos” (1).
Na maneira de abordar o problema da vida, o homem exprime o carácter paradoxal
e, por vezes, contraditório da sua própria existência. É capaz de beleza e de drama,
das mais sublimes expressões de generosidade, e das mais abjectas manifestações de
violência e de desprezo pela vida. A alegria encantada da mulher, que exulta quando
lhe foi dada a notícia da sua maternidade ou recebe pela primeira vez, nos seus
braços, o filho recém-nascido, é ensombrada pelo drama de mães que abandonam
os seus filhos ou lhes truncam a vida antes de nascerem, frequentemente instigadas
por outros. À generosidade heróica de tantos ao serviço da vida e dos seus irmãos,
contrapõe-se a violência de quem não hesita em matar ou prejudicar gravemente os
seus irmãos, nas suas possibilidades de viver. Perante estas atitudes contraditórias
frente ao mistério da vida, sentimos como o homem precisa de redenção.
A nossa sociedade tem sido, nos últimos tempos, atravessada por manifestações
desta contradição. Anuncia-se com júbilo o resgate de sobreviventes, depois de
vários dias soterrados nos escombros de uma tragédia e noticia-se, com ternura,
a descoberta de um bebé abandonado. A ciência genética abre novas esperanças à
qualidade de vida e há já pais a congelar as células estaminais do cordão umbilical
dos seus bebés. Mas simultaneamente ressuscita-se uma campanha violenta a favor
da legalização do aborto e a sociedade assiste perplexa à extensão do fenómeno de
abusos sobre crianças.
A doutrina da Igreja sobre a vida, a que o Santo Padre chama o “Evangelho
da Vida”, é conhecida de todos, e é sincero o esforço dos cristãos para a porem
em prática, embora com a imperfeição inerente à nossa fragilidade pecadora. A
relevância que têm assumido, entre nós, nos últimos tempos, os problemas da vida,
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Documentos Pastorais
leva-nos a convidar todos os cristãos a fazerem, connosco, uma meditação sobre
a vida e a aprofundar mais o “Evangelho da Vida”, pois só ele pode ser a fonte
inspiradora da exigência moral de todas as nossas atitudes perante a vida.
A vida é um dom de Deus
2. A plenitude da vida é a definição de Deus. Ele é o Vivo por excelência. O
nosso Deus é um Deus vivo (cf. Jos 3,10). N’Ele a vida é perfeita e definitiva: Ele
vive pelos séculos dos séculos (cf. Ap 10,6; 15,7). Deus vivo, Ele é a fonte da vida.
“N’Ele vivemos, nos movemos e existimos” (Ac 17,28). O próprio Jesus reconhece
ter recebido a vida de Deus Pai: “Porque assim como o Pai possui a vida em Si
Mesmo, do mesmo modo concedeu ao Filho possuir a vida em Si Mesmo” (Jo 5,26);
“e como o Pai, que vive, Me enviou e Eu vivo pelo Pai, assim aquele que me receber
como alimento viverá por Mim” (Jo 6,57).
Toda a vida é uma participação da vida divina. Nós vivemos porque um sopro
divino nos tornou vivos. Esta convicção atravessa a Bíblia do primeiro ao último
livro (cf. Gn 2,7; Ap 11,11). A vida é, pois, o primeiro dom de Deus, e a sua
manifestação mais nobre é louvar o Senhor que nos faz viver. Cultivá-la e respeitá-la
é manifestação da nossa fidelidade ao Deus que nos faz viver. O respeito pela vida
ganha dimensão religiosa, e constitui uma mensagem gravada no coração de cada
homem, tornando-se lei natural e universal. Mas quem reconhece Deus como fonte
da vida, sabe que qualquer agressão contra ela magoa o coração de Deus. O respeito
pela vida faz, assim, parte da lei fundamental dada por Deus ao seu Povo: “Não
matarás” (Ex 20,13).
Este dom divino da vida atinge a sua expressão máxima em Jesus Cristo. Ele é
a vida (cf. Jo 14,6). Comunicar a vida e fazer viver é a razão de ser da Sua missão:
“Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). É que Ele,
como Filho eterno de Deus, participa, desde a eternidade, na plenitude da vida:
“N’Ele estava a vida e a vida era a luz dos homens” (Jo 1,4). Esta plenitude da
vida que, na ressurreição, se exprime completamente no Homem Jesus, abre-nos
para o verdadeiro horizonte da vida, que tem a sua origem em Deus e só em Deus
encontrará a sua plenitude.
A vida é um longo caminho
3. A narração bíblica das origens (cf. Gn 1) situa a criação do homem no termo
de um longo caminho, onde o homem sobressai como plenitude da criação. E nesse
momento uma nova caminhada se inicia, para a humanidade e para cada homem,
até à sua plenitude. Para toda a humanidade, esta longa caminhada constitui a
história, onde a vida humana se vai afirmando dramaticamente, definindo-lhe
progressivamente os contornos da sua dignidade. Nesta caminhada da história
da vida, Jesus Cristo torna-se um marco decisivo e definitivo, porque revela o
verdadeiro sentido da vida no amor dos irmãos, e na Sua morte e ressurreição
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anuncia a superação da morte, como passagem para uma vida perfeita e definitiva.
Mas à semelhança desta longa caminhada da história, também a vida de cada
homem se apresenta como um longo percurso desde o seu início no seio materno até
à plenitude escatológica. Tal como no início da criação, a vida aparece como uma
“semente de vida”, chamada a desabrochar e a desenvolver-se até à sua plenitude.
No início do processo da vida, a vida plena é apenas uma esperança anunciada.
Mas ela tem a objectividade de toda a verdadeira esperança, pois contém toda a
potencialidade para o seu desenvolvimento, do ponto de vista físico, na maravilha
do código genético, e do ponto de vista espiritual, na força que lhe vem de ser
participação na vida de Deus. A vida tem, desde o seu início, toda a dignidade de que
se reveste, pois logo aí podemos já contemplar o seu mistério. Não é lícito tratar com
menos respeito a vida nas suas etapas de crescimento com o pretexto de ainda não ser
a vida humana na sua plenitude. A vida humana é, desde o seu começo, a principal
fonte da exigência ética e afirmação da nossa responsabilidade perante ela.
À luz da fé, esta caminhada da vida é o percurso percorrido desde o primeiro
“sopro de vida” recebido de Deus, até à plenitude da vida, em Cristo, na ressurreição
final. Sabemos que é um dom ameaçado, não apenas pelas vicissitudes naturais, mas
pela nossa fragilidade pecadora. O processo da vida é um caminho de redenção.
Caminho percorrido com pleno sucesso por Jesus Cristo, n’Ele nos fortalecemos
para a conquista da vida. Filho de Deus, Ele torna-se, para nós, na Sua ressurreição,
a fonte da vida. Participando na Sua vida plena, todos podemos aprender a viver em
Cristo (cf. Rm 14, 7ss). A sua Palavra torna-se fonte de vida: “Eu vos garanto: quem
ouve a minha Palavra e acredita n’Aquele que Me enviou, possui a vida eterna” (Jo
5,24). Ele próprio se torna “pão da vida” (Jo 6,48.51). A fé em Jesus Cristo põe o
homem em contacto com essa fonte da vida. “Aquele que acredita em Mim… do seu
seio jorrarão rios de água viva” (Jo 7,38).
Este novo horizonte de vida que se abre para nós, em Jesus Cristo, ensina-nos a
contemplar o mistério da vida desde o seu início. Então percebemos que a fidelidade
a Jesus Cristo nos torna em servidores incansáveis da vida.
Servidores da vida
4. O facto de a vida ser um dom de Deus, participação na própria vida divina,
exige a cada homem que seja servidor da vida, da sua e da dos seus irmãos. Tal como
a vida em Deus é comunhão de amor entre pessoas, a vida que d’Ele recebemos
convida-nos à comunhão de amor com os outros homens. A vida não é um processo
isolado, que possa ser vivida no individualismo. Cada um de nós é responsável pela
vida dos seus irmãos, na medida em que os podemos ajudar a construir a sua própria
vida, descobrindo cada um de nós, nessa inter-ajuda fraterna, o sentido da própria
existência. Essa é a mensagem de Jesus, que Ele porá radicalmente em prática no
dom da Sua vida para que todos os homens tenham vida: “Quem procura ganhar a
sua vida, vai perdê-la; e quem a perde, vai conservá-la” (Lc 17,33).
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Documentos Pastorais
Está aqui anunciada a fecundidade da Páscoa de Cristo, fonte de vida, donde
nasce a Igreja que surge como um “povo da vida”. “Interiormente renovados pela
graça do Espírito, «Senhor que dá a Vida», tornámo-nos um povo pela vida e como
tal somos chamados a comportar-nos” (2). Nascida da vida nova do ressuscitado,
a Igreja define-se como “um povo pela vida”. Não lhe peçam que ela, alguma vez
e em qualquer circunstância, seja contra a vida, porque, se o fizer, será infiel à sua
natureza e missão. Promover a vida é, para a Igreja, uma missão. “Somos enviados
como povo. O compromisso de servir a vida incumbe sobre todos e cada um. É uma
responsabilidade tipicamente eclesial, que exige a acção concertada e generosa de
todos os membros e estruturas da comunidade cristã” (3).
A doutrina sobre a vida é parte constitutiva do Magistério da Igreja, como “povo
da vida”. É um dos casos em que a doutrina da Igreja, sujeito de verdade, prevalece
sobre as posições pessoais individuais. O ponto de referência para o Povo de Deus
é este Magistério da Igreja, voz perene da tradição apostólica, aferido na comunhão
eclesial a que preside o Santo Padre, Sucessor de Pedro.
5. A paternidade e a maternidade são a primeira expressão deste serviço da
vida. Ao homem e à mulher foi dado por Deus esse dom maravilhoso de serem
colaboradores do Criador na comunicação da vida. O acto de procriar é um serviço
à vida, que origina uma exigência de serviço a essa vida, enquanto pais e filhos
coexistirem neste mundo. Como são maravilhosos os testemunhos de tantas
mulheres mães, que se sujeitam a todos os sacrifícios para salvarem a vida dos seus
filhos, em maternidades de risco; e da generosidade abnegada dos pais que sofrem e
lutam para que os seus filhos vivam e cresçam na vida. O amor de pai e de mãe é um
valor fundador da dignidade humana. Isso torna mais dramática a fraqueza daqueles
e daquelas que abandonam os seus filhos ou mesmo os impedem de nascer.
O ideal do serviço à vida exprime o que de mais nobre e generoso existe na
missão da Igreja. São páginas grandiosas, tantas vezes silenciosas, escritas no “livro
da vida” por quantos se dedicam aos seus irmãos, doentes, pobres e marginalizados,
idosos, crianças abandonadas. É a mão amiga que se estende à mãe em dificuldade,
ou se oferece generosamente para colaborar com os pais na educação dos seus filhos.
Toda a missão da Igreja é uma missão para a vida e pela vida.
O drama do aborto
6. Devido à actualidade e à gravidade do tema, não podemos deixar de lhe fazer
uma referência especial nesta “meditação sobre a vida”. É um drama antigo. Tal
como outras manifestações de violência e de desrespeito pela vida do próximo,
o drama do aborto coexiste com a dignidade da vida, sobretudo com a grandeza
do dom de a poder comunicar. O que é relativamente novo, mas realmente um
retrocesso, é a tentativa de o “normalizar”, tirando-lhe a gravidade ética de que se
reveste, porventura considerá-lo um direito da mulher-mãe.
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Documentos Pastorais
Há um aspecto em que facilmente todos se põem de acordo: a dramaticidade
de que se reveste o aborto nas sociedades contemporâneas. O sofrimento espiritual
provocado na mulher que aborta, esse existe em todas as circunstâncias.
Estamos de acordo que toda a sociedade se deve empenhar, por todos os meios
legítimos ao seu alcance, para erradicar este drama. Mas pensamos, em nome do
carácter sagrado da vida e da dignidade da mulher, que a legalização do aborto não
é o caminho. Não se constrói uma sociedade justa sobre a injustiça. Em nenhum
momento podemos esquecer que a vida é o primeiro fundamento da ética.
O aspecto crucial
7. O ponto crucial de toda a polémica acerca da legalização do aborto consiste
nisto: o embrião humano e o feto são ou não um ser humano desde o primeiro
momento? Todos os defensores das leis abortistas se desdobram em explicações
justificativas, dando a entender que nas primeiras semanas o feto não é uma pessoa
humana. Recorrem mesmo à filosofia de inspiração cristã que define a pessoa como
uma capacidade de relação, para afirmarem que só estamos perante uma pessoa
humana quando é clara a sua capacidade de relação.
Quem não for capaz de escutar a Palavra da Bíblia e da Igreja, ao menos ouça
a ciência, que tão maravilhosos progressos fez no campo da genética. Esta torna-se
uma questão cada vez mais indiscutível do ponto de vista científico. São os cientistas
quem o afirma: desde os primeiros momentos, estabelece-se uma relação vital,
que se desenvolve progressivamente, entre o feto e a mãe, afirmando assim a sua
alteridade em relação à própria mãe. O Papa afirma claramente: “O ser humano deve
ser respeitado e tratado como uma pessoa desde a sua concepção e, por isso, desde
esse momento, devem-lhe ser reconhecidos os direitos da pessoa, entre os quais e
primeiro de todos, o direito inviolável de cada ser humano inocente à vida” (4).
No estádio actual da ciência, começa a ser incompreensível que um “Estado de
Direito”, cuja essência é a defesa e a promoção da vida, não tenha uma posição
oficial em relação a esta questão. Para nós ela é clara: sempre que uma pessoa tem
de tomar uma decisão, seja ela qual for, acerca do aborto, toma uma decisão, na
responsabilidade da sua liberdade, acerca da vida ou da morte de um ser humano,
que por estar no início da caminhada da vida, tem direito a que o deixem e ajudem
a percorrer esse caminho.
Desfazer algumas confusões
8. Está provado que a legalização do aborto é uma questão fracturante da
sociedade. Cada cidadão é chamado a ter uma posição pessoal responsável e
reflectida. Para isso muito ajudará o esclarecimento de algumas confusões que
alimentam a própria discussão pública de tão delicada matéria.
- Será o aborto uma questão política, no sentido em que decorra, como corolário,
de certas ideologias políticas, como forma de conceber a sociedade?
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Documentos Pastorais
Parece-nos que não. Houve já quem afirmasse que o aborto é uma exigência de
determinadas orientações políticas. É preciso “despolitizar” o problema e com isso a
discussão ganhará em objectividade. A defesa da vida é um valor supra-político, na
medida em que deve inspirar qualquer política que esteja ao serviço do homem e da
sociedade. É indigno da maturidade política de um Povo que alguém seja a favor da
legalização do aborto só porque pertence a um determinado partido ou segue uma
certa visão da sociedade.
- Será o aborto uma questão religiosa?
Os defensores da legalização do aborto pretendem, por vezes, fazer passar essa
mensagem, remetendo o problema para o foro íntimo da consciência e afirmando
que num Estado laico, onde há separação entre a Igreja e o Estado, não se pode
impor à sociedade a dimensão religiosa do problema. Os cristãos, porque acreditam
que toda a vida vem de Deus, encontram na sua fé um motivo profundo para
defenderem a vida. Mas a inviolabilidade da vida humana, desde o seu início até à
morte natural, é uma questão de direito natural. É um dos alicerces da convivência
ética dos homens em sociedade. E quando os decisores políticos relegam o problema
para o campo das opções de consciência, é preciso não esquecer que na moderna
concepção dos Estados, o Estado é considerado “pessoa de bem” e, por isso, também
tem consciência.
- Será o aborto um direito da mulher?
Todos reconhecemos que a mulher é protagonista principal, embora não única,
no drama do aborto, porque a decisão é sua, porque lhe sofre as consequências. Mas
o aborto não é redutível a uma afirmação dos direitos da mulher, do direito ao que
se passa no seu corpo, como tem sido afirmado. Uma das primeiras manifestações
da maternidade é o reconhecimento, pela mãe, da alteridade do seu filho, isto é,
reconhecer que traz no seu seio outra pessoa, em relação à qual, além dos deveres
específicos da mãe, tem os mesmos deveres que qualquer indivíduo tem perante a
vida de outrem.
- Os deveres morais para com o nascituro confundem-se com a moral sexual?
Não! Embora uma sexualidade equilibrada seja elemento importante na
procriação equilibrada e responsável, o problema do aborto não é uma questão de
moral sexual. Isso sempre foi claro na moral da Igreja. Os mandamentos da Lei
de Deus distinguem os conteúdos da obrigação moral. Um diz “não matarás” e
veicula toda a exigência da Lei de Deus perante a vida dos outros. Um mandamento
diferente manda-nos “guardar castidade”, ou seja, convida-nos a viver a sexualidade
como expressão de dom gratuito e de comunhão amorosa.
- Será possível descriminalizar o aborto?
A resposta a esta questão depende daquele ponto crucial, se sim ou não
consideramos o nascituro um ser humano desde o início. Se a nossa posição é essa,
não vemos como se poderá tirar ao aborto a classificação de “crime”. A violência
mortal sobre um ser humano constitui a natureza do principal acto criminoso. Na
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Documentos Pastorais
sequência da Tradição, confirmada pelo Concílio Vaticano II, o Magistério da Igreja
continua a considerar o aborto um “crime abominável”. Na Evangelium Vitae, João
Paulo II afirma: “Dentre todos os crimes que o homem pode realizar contra a vida,
o aborto provocado apresenta características que o tornam particularmente grave e
abjurável” (5).
Como em todos os crimes, circunstâncias psico-sociais podem tornar
“inimputável” ou com responsabilidade atenuada, quem praticou um aborto ou para
ele contribuiu. Mas isso não retira ao acto em si mesmo a sua natureza criminosa,
que não decorre apenas da subjectividade de quem o pratica, mas da gravidade da
acção em si mesma.
- Será possível despenalizar o aborto?
Isso corresponde a perguntar se é possível, do ponto de vista legal, definir um
crime sem lhe atribuir uma pena. Não nos compete pronunciar-nos sobre essa questão
de natureza jurídica. Parece-nos, no entanto, que o caminho não é “despenalizar”,
mas considerar, em sede de julgamento, eventuais circunstâncias atenuantes, até
porque o grau de responsabilidade não é o mesmo, quer entre as mulheres que
abortam, quer entre aqueles que as condicionam e contribuem para o aborto.
Seja qual for a resposta dada a esta questão, ela não poderá fundamentar qualquer
forma de legalização do aborto que constitua um direito da mulher.
Para além do drama do aborto
9. Vida promovida, vida ameaçada, eis o paradoxo da dimensão dramática da
vida humana. O único caminho para precaver todas as formas de violência sobre a
vida humana, é o cultivo da sua beleza e dignidade e do serviço generoso que lhe
podemos prestar. Só amando e servindo a vida, evitaremos as violências sobre a
vida. Não esgotemos no drama do aborto os nossos deveres para com a vida. Esta
meditação sobre a vida é para fazer todos os dias porque servir a vida é adorar o Deus
Vivo e Criador.
10. Não queremos terminar esta meditação sem uma palavra de reconhecimento
e estímulo a todos aqueles e aquelas que, no dia a dia, sacrificam a própria vida para
defender a do próximo, e a todas as pessoas e grupos que têm alertado a sociedade
portuguesa para o valor fundamental da vida, com tudo o que deve ser feito para a
salvaguardar e promover, das famílias ao Estado.
Fátima, 05 de Março de 2004
_________________________
(1) João Paulo II, Carta Encíclica EVANGELIUM VITAE, 25.03.1995, nº 2.
(2) Ibidem, nº 79
(3) Ibidem, nº 79
(4) Ibidem, nº 60
(5) Ibidem, nº 58
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Documentos Pastorais
Nota dos Bispos das Dioceses do Centro
Depois dos incêndios,
cuidados para o futuro
Já nos debruçamos, há alguns anos, sobre o problema dos incêndios na nossa
região. Alguns bispos o fizeram também, para o povo cristão das suas dioceses, e
em momentos de especial gravidade. Voltamos agora a fazê-lo, uma vez que, no
passado Verão, a população das nossas dioceses foi de novo atingida e martirizada
pelos numerosos e violentos incêndios que assolaram o país. Para alguns lares foi a
dolorosa perda de familiares. Estes e muitas outras famílias viram desaparecer, num
momento, com as preocupações que uma tal situação comporta, as suas casas, os
seus bens pessoais e os meios normais de subsistência, como são as suas florestas.
Foram muitos e muito generosos os gestos de solidariedade que surgiram de
todos os lados, mostrando assim a sensibilidade cristã do nosso povo que, em
situações de calamidade e de dor, sabe acorrer, de imediato, em auxílio de quem
precisa. Foi de salientar, ainda nestes casos, o abnegado esforço das populações,
de corporações de bombeiros e de alguns grupos organizados. Estamos gratos em
nome dos nossos diocesanos, a quantos, de qualquer modo, com o seu apoio moral e
material, ajudaram os mais atingidos pela tragédia, que tão de perto os tocou.
Um novo Verão se aproxima e não podemos deixar de manifestar a nossa
preocupação em relação ao futuro. Os incêndios não são um fatalismo. Sentimos,
porém, que as desgraças depressa se esquecem, os novos cuidados podem retardar e
as mentalidades de muitos, marcadas pela rotina, mudam vagarosamente.
Acompanhamos, com atenção e interesse, pelos meios de comunicação social, os
esforços que, a diversos níveis, se estão fazendo para prevenir futuras calamidades e
remediar danos ocorridos. Sejam bem-vindos.
As preocupações desejadas e procuradas, têm de chegar a tempo, ser operativas e
envolver, de modo responsável, os proprietários das florestas, os serviços do estado
com os seus técnicos e mais formas de apoio, as associações de bombeiros, as
populações, as autarquias e outras instituições do meio.
Pela parte que nos toca, e está ao nosso alcance fazê-lo, queremos ajudar a
motivar os proprietários das florestas para que se organizem com os seus vizinhos,
se associem e juntem os seus saberes e preocupações e não deixem de seguir, para
seu interesse e dos outros, as orientações superiores, nomeadamente no que se refere
à limpeza das matas e à abertura de caminhos. Assim se poderá evitar ou minimizar o
risco de novos incêndios. Há causas conhecidas e condições propícias aos incêndios,
que se podem acautelar e precaver, em tempo próprio. É um dever fazê-lo sem
demora.
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Documentos Pastorais
Às populações pedimos e recomendamos que estejam atentas e activas e
prestem colaboração, pondo o seu saber e experiência à disposição daqueles que
implementam medidas preventivas adequadas e, em caso de incêndio, coordenam as
acções desejáveis e necessárias.
O povo tem um conhecimento da região e da realidade local, fruto da vida e da
experiência de todos os dias, que não pode ser dispensado por parte daqueles que
vêm de fora, munidos de autoridade ou de saber técnico, mas muitas vezes com um
deficiente conhecimento do local de actuação.
Há, no campo específico dos incêndios a prevenir e a dominar, situações a
resolver e problemas a solucionar, que ultrapassam a capacidade dos proprietários
das florestas e das populações locais, e que se situam no âmbito da missão e da
responsabilidade do Estado. A resposta de acções técnicas, meios adequados e
medidas legislativas, compete aos poderes públicos, que não a podem retardar.
Devem, por isso, sentir-se activos, tanto na prevenção adequada dos incêndios e de
outras calamidades, como na resposta rápida, quando necessária, para responder e
minimizar os efeitos, pessoais e materiais, das desgraças ocorridas.
Queremos ainda recomendar aos párocos que esclareçam as populações e as
incentivem a estar atentas e colaborantes. Esclareçam, também, a consciência
dos fiéis, deixando bem clara a gravidade moral do acto de quem provoca,
conscientemente, os incêndios ou de quem presta pouca atenção a hábitos e
descuidos que lhes podem dar origem.
Os párocos, os educadores e os meios de comunicação social empenhem-se na
educação da gente nova para que se abra a esta dolorosa realidade. Recomendem
a sua inscrição nas associações dos bombeiros locais e noutras que defendem o
património em todas as suas expressões e riqueza, e ajudem-nos a adquirir, para vida
do dia a dia, hábitos mais consentâneos com a promoção dos valores morais, que
lhes permitam uma vivência solidária e responsável em comunidade.
Temos consciência de que uma situação grave e complexa, como é a dos
incêndios, na sua prevenção e na resposta necessária quando surge a calamidade,
ninguém a resolve só por si ou tentando apenas defender as suas árvores e florestas e
os seus haveres pessoais. Queremos, por isso mesmo, chamar a atenção para o pouco
valor das atitudes isoladas. O individualismo é sempre pobre e empobrecedor e pode
até tornar-se suicida e factor de perigo para os outros.
As florestas, para além da riqueza económica que comportam, são um bem
necessário à saúde de todos nós. Elas são a mancha verde sadia que nos envolve e
alimenta e que nada nem ninguém pode substituir validamente.
Prevenir os incêndios, promover a florestação e defender a floresta é contribuir
para o bem das pessoas, das populações, do país e da humanidade.
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Serviços e Movimentos
Comunicado do Conselho Pastoral Diocesano
Comunicado do Conselho Presbiteral
Confraria de Nossa Senhora da Encarnação – Relatório da Direcção 2001-2003
Convenção de Direitos Humanos dos Migrantes
Imigração e comunicação social: que imagens?
Seminário Nacional de Capelanias Hospitalares
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Serviços e Movimentos
Comunicado do Conselho Pastoral Diocesano
Tomaram posse no passado dia 31 de Janeiro de 2004, os membros do quarto
Conselho Pastoral da Diocese de Leiria-Fátima. Este Conselho é um órgão
auxiliar e assessor do Bispo Diocesano, que a ele preside, como expressão da
corresponsabilidade apostólica de todos os baptizados em comunhão eclesial.
É competência do Conselho Pastoral Diocesano estudar e apreciar o que diz
respeito às actividades pastorais da Diocese, em ordem a chegar a conclusões
práticas que possam ser tomadas como sugestões de acção.
Nesta primeira reunião foi eleito o Secretariado Permanente do Conselho e foram
prestadas várias informações relativas à vida da Diocese.
Como tema principal foi apresentado e iniciado o debate sobre a
proposta para o projecto diocesano da Pastoral, projecto que, seguindo as
grandes metas apontadas no Sínodo Diocesano, vai definir as orientações
fundamentais, o caminho a seguir e os passos a dar “para a acção de todas as
paróquias, serviços, movimentos e comunidade”.
A próxima reunião do Conselho Pastoral da Diocese de Leiria-Fátima está
agendada para o dia 5 de Junho.
O Secretariado Permanente
Comunicado do Conselho Presbiteral
O Conselho Presbiteral da Diocese de Leiria-Fátima, presidido pelo bispo
diocesano, reuniu-se em sessão ordinária no dia 26 de Janeiro de 2004, no Seminário
Diocesano de Leiria.
O Senhor D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva deu início aos trabalhos com
um comentário muito positivo em relação ao primeiro turno do Curso de Formação
Permanente do Clero, que decorreu em Palmela, de 19 a 23 de Janeiro, subordinado
ao tema “As relações entre a Igreja e o Estado”. Referiu que os assuntos foram
abordados com muito interesse e agrado dos participantes, para além dos óptimos
momentos de encontro e convívio entre os cerca de quarenta padres presentes.
No período dedicado a assuntos não agendados, mereceu particular atenção a
dificuldade que estão a enfrentar os estabelecimentos de ensino particular, entre
os quais estão muitos orientados pela Igreja Católica. Falou-se sobretudo do já
anunciado fim dos “contratos de associação”, que, a avançar, levará à ruína muitos
colégios católicos, para além de impossibilitar as famílias de escolher o modelo de
educação que querem para os seus filhos.
Mereceu também destaque a proposta de geminação da diocese de LeiriaFátima com a diocese do Sumbe, em Angola. Foram apresentadas as linhas gerais
desta proposta, situada no seguimento do trabalho que ao longo de vários anos tem
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Serviços e Movimentos
sido desenvolvido pelo Secretariado Diocesano das Missões. Já há uma história
de intercâmbio entre as duas dioceses, mas, segundo aquele Secretariado, chegou
o momento de uma maior estabilidade nas relações. O assunto continuará a ser
ponderado e o Secretariado das Missões deverá delinear um projecto a apresentar,
para que possa tomar-se uma decisão.
Os trabalhos centraram-se depois no primeiro tema da ordem do dia, a saber:
o Projecto Diocesano de Pastoral. Na base da reflexão esteve um documento
previamente preparado pela comissão designada pelo Bispo Diocesano para
esse efeito e intitulado “Testemunhar Cristo, fonte de esperança”. Das três partes
previstas para esse documento, foi apresentada à discussão a primeira, de cariz
teológico e pastoral, que foca os princípios orientadores do projecto e as opções
fundamentais para a acção pastoral: 1) O serviço à pessoa humana é o caminho da
Igreja; 2) A vivência do Evangelho é o melhor anúncio; 3) A vocação pessoal é dom
e missão. O documento foi aprovado na globalidade, depois de discutido em alguns
pontos. Terminou-se com um voto de confiança à comissão que o preparara para
que, tendo em conta algumas recomendações feitas, continuasse o trabalho iniciado.
Espera-se, agora, a elaboração das duas partes seguintes, ou seja, o projecto de acção
e a programação.
O segundo ponto da agenda de trabalhos era o Regulamento do Tempo Sabático
do Clero da Diocese de Leiria-Fátima. Foi apresentada uma proposta de alteração
de algumas das suas normas, com o objectivo de incentivar mais os sacerdotes a
beneficiar deste tempo de recuperação de energias e formação teológica, pastoral,
cultural e espiritual. Juntamente com dois membros do Conselho Presbiteral, o
Senhor Bispo procurará reapreciar o referido Regulamento.
O Secretariado Permanente
Confraria de Nossa Senhora da Encarnação
Relatório da Direcção - Triénio 2001-2003
A Direcção da Confraria – a saber: os padres Augusto Gomes Gonçalves, José
Augusto Pereira Rodrigues e Manuel Armindo Pereira Janeiro –, que agora termina
o seu mandato, reuniu pela primeira vez no dia 1 de Março de 2001. Estabeleceu
os seguintes objectivos: estudar os problemas na globalidade, sem prejuízo de
acções pontuais imediatas, e cuidar do Santuário em quatro dimensões: 1) Infraestruturas; 2) Conservação e Criação de Património; 3) Pastoral; 4) Espiritualidade
do Santuário.
1) Infra-estruturas
1.1. Registo de propriedade. Ainda estava por fazer. O registo está em três
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Serviços e Movimentos
números: a Igreja e anexos (barracão), Casa do Cabido e Monte.
1.2. Questões de segurança. Foi retomada a proposta da Mesa anterior e instalouse alarme na Casa e no Santuário. Estabeleceram também contactos com a P.S.P.
para uma vigilância mais apertada de todo o monte e Santuário.
1.3. Limpeza da pedra e do telhado. Para proteger as pinturas e prevenir
infiltrações de humidade, a Direcção procedeu à limpeza exterior das pedras e do
telhado, à pintura das paredes exteriores e à substituição das caleiras.
Quanto à pintura exterior: embora tivesse sido feita à pouco tempo, pereceu à
Direcção e aos técnicos ouvidos que seria melhor proceder a uma nova pintura do
exterior do Santuário; quanto às caleiras, o estado de degradação das existentes,
levou-nos à sua substituição.
1.4. Telhado de protecção à zona de acesso aos sinos. Na mesma ocasião e depois
de cuidadosa investigação e análise de alternativas, a Direcção decidiu remover
a dita protecção por razões estéticas, certa de que a sua função será substituída
com proveito pelo isolamento do pavimento de acesso aos sinos bem como pela
substituição da porta de acesso ao sótão do templo.
No seguimento destes trabalhos foi também decidido rematar a empena:
combinou-se, depois de muitas consultas, rematar o frontal da Igreja com o mesmo
desenho da empena superior. Os trabalhos foram pedidos à Escola de Artes e Ofícios
da Batalha e coordenados pelo Mestre Alfredo, de saudosa memória. Foi também
rebocada a escadaria para os sinos e um cubículo do coro.
1.5. Sinos. O sino maior estava partido. Combinou-se substitui-lo e guardar
aquele. A Junta de freguesia de Leiria deu um contributo;
1.6. Aparelhagem sonora. Dados problemas que causava, a direcção decidiu-se
pela compra de uma nova. O Santuário de Fátima apoiou a sua aquisição.
1.7. Outros trabalhos de conservação. Nessa altura foram também substituídas
as portas do coro; restauradas a porta lateral direita, junto ao órgão e as janelas
das sacristias; pintadas as portas laterais do fundo da igreja (que dá para o coro e
a oposta) e mudado o candeeiro central da igreja para a sacristia principal. O seu
restauro foi oferecido.
Dado o seu estado de degradação procedeu-se também ao tratamento das
madeiras na parte posterior do altar-mor e ao reboco desse espaço.
1.8. Iluminação exterior. A Câmara assumiu o estudo e os custos da iluminação
exterior. Está para ser executada. Quanto ao pára-raios, a Câmara decidiu oferecê-lo.
1.9. Colocação dos marcos. A direcção foi à procura de mapas oficiais com os
limites do Monte; procurámos saber das declarações dos dois moradores da Av.
Nossa Senhora de Fátima que cultivam alguns canteiros. Quanto à colocação dos
marcos, a Direcção conversou com o confinante do lado da Ponte dos Caniços e,
segundo ele, as extremas estariam assim já há muito tempo! O assunto foi adiado por
causa dos contactos feitos pelo programa Polis com a Direcção para uma intervenção
naquele ponto. No entanto, a Direcção decidiu avançar com a vedação do monte do
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Serviços e Movimentos
lado da Avenida Nossa Senhora de Fátima.
1.10. Plano global de intervenção. Fizeram-se contactos com a Câmara
Municipal (o vereador da Câmara, Eng. Fernando Carvalho, e a presidente, dra. Isabel
Damasceno). Ainda se pensou na constituição de um gabinete de estudos para uma
intervenção global no monte (Escadaria, Mata e Casa do Cabido) mas não chegou a
realizar-se. A Câmara ofereceu à Confraria os serviços do GAT para a elaboração dos
projectos de restauro da Casa do Cabido, zona envolvente e Escadaria.
1.10.1. Quanto às zonas envolventes do Santuário, estudou-se a viabilidade
de integrar um reservatório de água para bocas de incêndio, rega do monte e
de jardins públicos.
1.10.2. Pensando em alguma animação cultural ao ar livre e para algum
enquadramento estético destas alterações, está a estudar-se a implantação de
um anfiteatro ao ar livre.
1.11. Obras na Casa do Cabido. Dado o mau estado das portas e janelas da Cave,
a Mesa decidiu mandar repará-las.
Quanto ao seu projecto de remodelação, obedece aos seguintes objectivos:
afectar os espaços da cave, a residência com três quartos, uma sala de estar e uma
cozinha; os anexos a arrumos, garagem e duas casas de banho; o rés do chão, a uma
sala para exposição do património móvel do Santuário, outra sala para reuniões,
um gabinete para a Direcção da Confraria, outro para apoio e uma casa de banho.
Procedeu-se depois à preparação da candidatura aos fundos europeus. Dificuldades
várias fazem com que o processo ainda não esteja concluído.
2) Conservação e criação de Património
2.1. Restauro das telas. Os trabalhos de restauro das telas foram entregues
ao atelier K4 Conservação e Restauro. Lda., pelo orçamento proposto à Mesa
anterior. Procuraram-se alguns apoios em Instituições e Empresas, ao abrigo da
Lei do Mecenato. A sua apresentação foi feita no dia 25 de Março de 2002, com
intervenções que abordaram a história e devoção no Santuário, a pintura em Leiria e
os trabalhos de restauro das Telas.
2.2. Novo altar do Santíssimo. Por motivos pastorais, a Direcção propôs e obteve
a aprovação da mudança do Sacrário para um espaço lateral, contíguo ao altar do
lado esquerdo de quem entra. O projecto para o altar do Santíssimo foi pedido à arq.ª
Alexandra Cantante, que o ofereceu ao Santuário. O Cabido da Catedral e alguns
irmãos também deram o seu contributo.
2.3. Inventário. Com o contributo do Pe. Américo Ferreira foi feito o inventário
da Confraria (1ª fase). Além dos dados constantes no Inventário Diocesano, foram
feitas cerca de 300 fichas. Falta agora a sua informatização.
2.4. Conservação dos ex-votos. A dra. Rute Guerreiro, para trabalho final de
curso no Instituto Politécnico de Tomar, fez um estudo sobre alguns dos ex-votos do
Santuário, tendo-se oferecido para fazer a sua limpeza e substituir os vidros partidos.
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Serviços e Movimentos
A Mesa, tendo contactado alguns membros da Comissão de Arte e Património
Cultural, fez uma visita com a referida técnica aos mesmos. Dessa reunião ficou
combinado não só a limpeza dos ex-votos como a sua inventariação. Trabalho que
a dita técnica oferece, responsabilizando-se a Confraria por pagar as despesas com
o material.
3) Pastoral
3.1 Além de uma relação próxima com a paróquia para resolução conjunta de
todos as situações de âmbito pastoral, a direcção optou por assumir a celebração
da Eucaristia Dominical, o que tomou mais fácil a dinamização das iniciativas da
Confraria.
3.2. Canto nas celebrações dominicais. Contactados os grupos corais das
paróquias vizinhas, responderam os seguintes: Barosa, Chãs, Cruz da Areia, Cortes,
Marrazes e Santo Agostinho. Assim, em todos os Domingos primeiros e terceiros e
em metade dos outros, a Eucaristia é animada por estes grupos corais.
3.3. Placard. A Direcção decidiu mandar fazer um placard para afixação de
avisos no interior do templo
3.4. Desdobrável. Fruto de uma parceria entre a Diocese e a Região de Turismo,
para a divulgação do património arquitectónico de maior interesse artístico e cultural
da Diocese, foi publicado o roteiro: Caminhos do Espírito -Percursos da Arte, onde
consta também o Santuário de Nossa Senhora da Encarnação. No âmbito dessa
pareceria, a Confraria recebeu um desdobrável, em suporte digital, pronto para
edição que pode oferecer ou colocar à venda. O texto foi pedido ao Doutor Saul
Gomes que o ofereceu.
3.5. Horário de Abertura. Tendo-nos deparado com actos de vandalismo na
igreja, estabeleceu-se um horário de abertura. Tendo sido decido que, em princípio,
estaria aberta, nos dias úteis, até às 13h00.
3.6. Normas gerais. Para corrigir alguns abusos, foram estabelecidas pela
Direcção algumas normas para a celebração dos sacramentos e outros eventos no
Santuário.
3.7. Festa de Agosto. Promoveu-se a sua renovação. No trido de preparação
procurou-se a colaboração de pessoas e instituições, sobretudo no campo da música.
Redefiniram-se horários e na Procissão da noite, decidiu-se dispensar filarmónica.
3.8. Protocolo com o Orfeão. Desejando colaborar com instituições que possam
contribuir para o enriquecimento da vida do Santuário a Confraria estabeleceu um
protocolo com o Orfeão de Leiria para o uso do órgão.
4) Espiritualidade do Santuário
4.1. Revisão dos Estatutos. A Direcção da Confraria elaborou, para o efeito,
uma «carta de princípios», que foi aprovada em Assembleia Geral. Com base nela
procedeu-se à reformulação dos seus estatutos. O projecto foi discutido e aprovado
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Serviços e Movimentos
em Assembleia Geral Extraordinária e os novos Estatutos foram promulgados pelo
Sr. Bispo no Órgão oficial da Diocese.
4.2. Mistério da Encarnação. Com a revisão dos Estatutos, a Direcção teve como
objecto principal voltar a centrar a vida e a espiritualidade do Santuário no Mistério
da Encarnação, contemplado na Anunciação, 25 de Março.
4.3. Trindades. Para assinalar os principais momentos, evocando o mistério da
Encarnação, colocámos o sino a tocar três vezes (9h00, 12h00 e 18h00) e publicámos
um desdobrável com a história e espiritual idade deste gesto da piedade cristã.
4.4. Sufrágios. Decidiu-se celebrar os sufrágios da Confraria num dos domingos
de Novembro.
4.5. Lugar da Imagem de Nossa Senhora da Encarnação. Dialogou-se sobre o
lugar da imagem de Nossa Senhora no cimo do Trono. O secretário sugeriu a sua
mudança, por ser aquele o lugar da exposição solene do Santíssimo.
Leiria, 31 de Janeiro de 2004
Pela Direcção da Confraria , Pe. Manuel Armindo Pereira Janeiro
Convenção de Direitos Humanos dos Migrantes
1. Passam hoje quatro anos sobre a declaração pela Assembleia-geral das
Nações Unidas do dia 18 de Dezembro como Dia Internacional dos Migrantes. É de
realçar que esta comemoração ocorra no ano em que, finalmente, entrou em vigor
(a 1 de Julho) a Convenção Internacional para a Protecção dos Direitos de todos os
Trabalhadores Migrantes e dos Membros das suas Famílias, adoptada pela Resolução
da Assembleia-geral das Nações Unidas nº 45/158, de 18 de Dezembro de 1990.
Foram necessários quase treze anos para que 20 países a tenham ratificado a fim
de tornar possível a sua entrada em vigor. A ONU acaba de informar que, no passado
dia 26 de Novembro, o Burkina Fasso ratificou a mencionada Convenção tornandose assim no 24º Estado parte.
2. Tendo o Governo Português, na qualidade de Governo membro da ONU,
participado activamente na redacção do texto da Convenção, quando questionado
sobre a respectiva assinatura e ratificação por parte de Portugal tem-se respondido
que “...essa matéria é agora do âmbito da União Europeia” ou que “...é matéria já
objecto de legislação e regulamentação e a Convenção se dirige primordialmente aos
países que a não têm” ou mesmo que “...não é possível assegurar, dentro do território
dos Estados-membros da União Europeia, a aplicação plena daquela Convenção”.
Tais respostas são demonstrativas de um profundo e generalizado desconhecimento
do texto e do seu alcance humanista, como também de uma ausência de vontade
política em “agarrar” este novo Instrumento do Direito Internacional como garantia
eficaz de uma legislação nacional e “comunitária” relativa à Imigração que não
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Serviços e Movimentos
lese a dignidade humana, nem diminua direitos adquiridos. Este importantíssimo
instrumento internacional de defesa dos direitos humanos dos trabalhadores
migrantes é inovador em vários aspectos, nomeadamente ao considerar os direitos
e liberdades dos migrantes, independente da sua situação regular ou irregular, o
direito inalienável a viver em família e ao reagrupamento familiar, a prevenção e
combate ao tráfico de pessoas, áreas em que as práticas de muitos países da União
Europeia, incluindo Portugal, estão, sob certos aspectos, aquém do que proclama a
Convenção.
3. Não parece lógico que uma Convenção Internacional desta importância
seja “só para outros”, optando, deste modo, a União Europeia, e por conseguinte,
também Portugal, por colocar-se fora de uma ordem internacional global de defesa
dos Direitos Humanos no mundo que pretende salvaguardar a paz e o bem comum
universal. A Europa comunitária, com este posicionamento, não honra os valores dos
direitos humanos que são um dos seus elementos basilares, e afasta-se das posições
humanistas consagradas nesta Convenção Internacional. Desta forma surpreendente,
porque dúplice, na Europa Comunitária, os Direitos Humanos sofrem um importante
revés, que é necessário combater.
São conhecidas a nível da União tentativas recentes de dificultar o Reagrupamento
Familiar (basta citar o sucesso do recurso apresentado pela Coordenação Europeia
para o Direito dos Estrangeiros a Viver em Família contra a Directiva de 2.05.03 que
não respeitava os direitos da vida privada e da família), ou a pretensão do Conselho
da União Europeia de organizar voos “charter” para expulsões colectivas de
imigrantes em situação irregular – “charters da humilhação”–, para além de outras
áreas em que a atitude face aos migrantes está longe do consignado na Convenção
da ONU.
4. Perante esta situação, é importante alertar e mobilizar a Sociedade civil e a
opinião pública em geral para a necessidade de sensibilização e intervenção junto
dos Governos e da União. No plano internacional, numerosas personalidades vêm
levantando a sua voz na defesa dos direitos humanos dos migrantes. Exemplo disso
é a recente criação de uma Comissão mundial sobre as migrações internacionais,
sob a égide da ONU e do seu Secretário-Geral, Kofi Annan, que no seu lançamento,
em Genebra, no dia 9 do mês em curso sublinhou “a importância económica das
migrações, tanto para os países pobres como para os países ricos” e lembrou que uma
“cooperação internacional acrescida se impõe para combater o comércio e o tráfico
de pessoas e aplicar regimes mais eficazes para proteger os direitos dos migrantes”.
Idênticas preocupações têm vindo a ser manifestadas por numerosas Organizações
internacionais e por Instituições religiosas, como no recente Congresso Mundial da
Pastoral dos Migrantes e Refugiados, que decorreu em Roma, em que o Papa João
Paulo II voltou a apelar aos chefes de Estado que adiram à Convenção Internacional
para a Protecção dos Direitos dos Trabalhadores Migrantes e Membros de suas
famílias.
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Serviços e Movimentos
5. Em Portugal, onde se iniciaram já contactos plurais entre várias Organizações
para a formação de uma Comissão Nacional que se ocupe da divulgação e defesa
da ratificação da Convenção, é urgente intensificar o debate rigoroso e sério sobre
os direitos humanos de todos os migrantes, entendidos nas várias categorias
contempladas na Convenção, com vista a uma maior coesão social e solidariedade
activa. Devemos sempre lembrar que sendo Portugal um país, de onde tantos
homens e mulheres emigraram ao longo de séculos (e continuam a emigrar!) é,
agora, também um país que acolhe milhares de imigrantes e suas famílias das mais
variadas origens.
Dada essa especial circunstância, pensamos ser um dever dos cidadãos
portugueses e, também, comunitários, empenharem-se mais decididamente, em
vésperas do alargamento efectivo da União a Leste, num compromisso para a defesa
dos direitos dos migrantes. Conseguir que Portugal seja o primeiro país da União
Europeia a ratificar a Convenção Internacional para a Protecção dos Direitos dos
Trabalhadores Migrantes e Membros das suas famílias é, no nosso entendimento,
uma causa motivadora e coerente com os valores humanistas e universalistas que
moldam a história, o direito e a cultura portuguesa.
Igualmente mobilizadora, é a nossa exigência ao Governo Português, para que,
no seio da União Europeia, pressione no sentido de que as políticas comunitárias de
migrações sejam coerentes com os princípios dos Direitos humanos consagrados na
Convenção, bem como sensibilize os governos dos outros países para que ratifiquem
igualmente esta Convenção.
É este o nosso apelo no 4º Dia Internacional dos Migrantes.
Organizações signatárias:
- Associação Amigos do Príncipe (AAP)
- Associação Caboverdeana de Lisboa (ACL)
- Associação Caboverdeana dos Amigos da Margem Sul do Tejo (ACAMST)
- Associação da Comunidade de S. Tomé e Príncipe (ACSTP)
- Amnistia Internacional (AI)
- Associação Luso-Senegalesa (ALS)
- Associação Moitense dos Amigos de Angola (AMAA)
- Associação dos Residentes de Guiné-Conacri em Portugal (ARGP)
- Associação Reencontro de Emigrantes (ARE)
- Associação Solidariedade Imigrante (ASI)
- Caritas Portuguesa (CP)
- Capelania dos Africanos de Lisboa (CAL)
- Casa do Brasil de Lisboa (CBL)
- Centro Pe. Alves Correia (CEPAC)
- Comissão “Justiça e Paz” dos Religiosos (CJPR)
- Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP-IN)
- Coordenação Nacional da Pastoral dos Ucranianos (CNPU)
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Serviços e Movimentos
- Congregação Missionários Scalabrinianos (CMS)
- Federação Nacional dos Sindicatos da Construção: Madeiras, Mármores e
Materiais de Construção, Frente Anti-Racista (FAR)
- Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (FAIS)
- Liga dos Chineses de Portugal (LCP)
- Liga Operária Católica / Movimento de Trabalhadores Cristãos (LOC/MTC),
- Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM),
- Organização Internacional para as Migrações (OIM)
- Kambaryangue-Associação Multicultural
- Secretariado Diocesano de Migrações de Setúbal (SDMS)
- Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS)
- SOS-Racismo.
Imigração e comunicação social: que imagens?
Os 70 participantes no IV Encontro Nacional de Apoio Social ao Imigrante,
que decorreu em Fátima de 16 a 18 de Janeiro de 2004 (por iniciativa da Agência
Ecclesia, Caritas Portuguesa e Obra Católica Portuguesa de Migrações), sob a
presidência do Vogal da Comissão Episcopal da Acção Social e Caritativa, D.
Aurélio Granada Escudeiro, e do Presidente da Comissão Episcopal de Migrações e
Turismo, D. Januário Torgal M. Ferreira, constataram que:
1. Todas as Dioceses estão comprometidas com o trabalho de acolhimento e
promoção integral dos imigrantes e suas famílias, verificando-se no decorrer do
último ano a diminuição da procura dos serviços que a Igreja lhes presta, o que nos
deverá interrogar.
Urge, por isso, encontrar novas metodologias e disponibilidades para ir
ao encontro das suas reais necessidades. Em cada comunidade é necessário
desenvolver esforços em parceria com outras organizações no terreno, formando
redes consistentes de apoio social.
2. A integração implica necessariamente a existência de um sentimento de
pertença: por um lado, o acesso à cultura, equipamentos e serviços e, por outro, a
construção de contextos pluriculturais e plurireligiosos.
Urge promover dinâmicas de diálogo e encontro.
3. Na generalidade, os Meios de Comunicação Social encontram-se nas mãos
de grupos económicos e financeiros que determinam as políticas, nomeadamente
as neo-liberais, moldando a opinião pública: tudo é determinado pelo que passa nos
media. Por outro lado, existem algumas dificuldades na relação da Igreja com os
Meios de Comunicação Social.
Urge reconhecer a especificidade da gramática dos media e encontrar o
profissionalismo necessário para estar presente, sem medos, com verdade,
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Serviços e Movimentos
transparência e eficácia. Cabe confiar aos leigos o construir pontes e abrir caminhos
como transmissores dos valores éticos e sociais do Evangelho.
4. Acontecem episódios que estigmatizam a imigração, provenientes de imagens
desfocadas e narrativas distorcidas ou seleccionadas, desvirtuando a “realidade
real”.
Urge ser objectivo, não tomar a parte pelo todo e gerar novas disponibilidades
nos consumidores de informação, desenvolvendo o sentido crítico e desmontando a
“realidade percepcionada”.
5. Para o bem e para o mal, a imigração é uma realidade mediática. A Europa
oscila entre amor e ódio, aceitação e rejeição: desejando a população imigrante para
a sua sobrevivência económica e demográfica, entre outras, consente, no entanto, a
sua exploração e marginalização no mundo laboral e na sociedade.
Urge reconstruir o “nós”.
6. A comunicação social tem-se revelado um parceiro fundamental na divulgação
das culturas, nas denúncias e na integração social e religiosa das diferentes
comunidades.
Urge perceber as suas potencialidades, estruturar meios (nomeadamente
gabinetes de imprensa) e adequar ritmos e mecanismos das instituições eclesiais.
7. A comunicação social tem da Igreja, por vezes, uma imagem redutora, porque
moralizante, assistencialista e refém de lugares comuns.
Urge testemunhar, na globalidade de compromissos, diferenças éticas e
estéticas que permitam perceber o libertador “silêncio de Deus” por entre ruídos da
comunicação e clamores do mundo migrante.
Fátima, 18 de Janeiro de 2004
Seminário Nacional de Capelanias Hospitalares
Foi sob o tema Espiritualidade – um desafio no Hospital, que se realizou
o primeiro seminário nacional das Capelanias Hospitalares. Promovido pela
Coordenação Nacional das Capelanias Hospitalares – Pastoral da Saúde, o evento
aconteceu na Aula Magna da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa,
Hospital de Santa Maria, nos passados dias 17 e 18 de Fevereiro.
Mais de três centenas e meia de pessoas, vindas de todo o país, entre capelães,
profissionais dos vários ofícios do mundo hospitalar e voluntários, marcaram
presença num encontro que também contou com a participação do Cardeal Patriarca
de Lisboa na sua sessão de encerramento.
Entre as conclusões deste seminário, destaca-se o reconhecimento do papel
fundamental que as Capelanias desempenham ao nível da tão falada humanização
dos hospitais. Sublinhando a importância da dimensão espiritual e promovendo
acções concretas de formação para que haja maior consciência dessa dimensão
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Serviços e Movimentos
por parte dos outros agentes de saúde, as Capelanias oferecem-se à totalidade
da comunidade hospitalar como espaço de ajuda e de vivência da sua própria
experiência espiritual.
É urgente reavaliar as condições em que se oferece o acompanhamento espiritual
e a assistência religiosa aos doentes e seus próximos que vivem no hospital a
doença, experimentada como crise de sentido da vida. Uma nova realidade que
reflecte uma cultura que vive um mal-estar face ao sofrimento e à morte, que cada
vez mais transfere para os hospitais, o que exige destes uma atenção específica e
competente.
Para dar resposta a estas novas realidades, os serviços religiosos necessitam, mas
nem sempre encontram, no seio das instituições, de espaço e condições adequadas
ao cumprimento da sua missão.
Ainda sobre as conclusões dos trabalhos deste primeiro seminário nacional,
merece referência a abordagem feita ao novo Plano Nacional de Saúde. As Capelanias
Hospitalares congratulam-se com as mudanças levadas a cabo, nomeadamente, o
facto de, pela primeira vez, um documento oficial deste nível integrar a questão
da assistência espiritual e religiosa, como dimensão da qualidade em saúde e da
humanização dos serviços, no contexto da reorientação do Sistema de Saúde.
Outra das questões levantadas foi a Lei da Liberdade Religiosa. Da análise à
nova lei, houve uma manifesta abertura de todos os participantes do seminário,
sobretudo da organização, a Coordenação Nacional das Capelanias Hospitalares, que
declarou a sua disponibilidade para procurar e acolher as implicações da nova Lei
da Liberdade Religiosa, considerando as exigências da Concordata entre o Estado
Português e a Santa Sé, na regulamentação da assistência espiritual e religiosa nos
hospitais.
Ficou também no ar a preocupação pela situação precária que resulta para
os Serviços Religiosos Hospitalares, no que toca ao enquadramento jurídico, da
aplicação de modelos de gestão empresarial. Nesse sentido, foi formulado o voto
de que o processo de revisão legislativa – que a Lei da Liberdade Religiosa e a Lei
da Gestão Hospitalar tornam necessária no que concerne à Assistência Espiritual e
Religiosa nos Hospitais - se faça segundo o espírito consagrado no Plano Nacional
de Saúde.
A criação de uma revista das Capelanias Hospitalares voltou a ser focada neste
seminário. Sob o título “Pessoa e Saúde”, a nova revista vai ser uma realidade dentro
em breve. Ainda, e em jeito de conclusão, ficou assente, nas actas do seminário,
o propósito de “realizar, anualmente, em hospitais de diferentes cidades do país,
um Seminário Nacional “Espiritualidade no Hospital” que nos permita oferecer ao
progresso das ciências e das práticas de curar e de cuidar o contributo específico da
nossa visão sobre a Pessoa Humana”.
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Reflexões
Reflexão para um começo de ano – “Assim como vos fiz fazei também vós”
A jeito de testemunho - Provocações do Espírito
A propósito do livro “Laudate” – Cantar nas celebrações litúrgicas
Órgãos humanos no mercado – Qual o preço da vida?
Visita Pascal
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Reflexões
Reflexão para um começo de ano
“Assim como vos fiz fazei também vós”
João Paulo II deu há alguns anos o exemplo de quanto importante era, e, é na
vida da Igreja a purificação da memória. Gostaria de apelar, hoje, e seguindo o seu
exemplo, à purificação do pensamento no início deste novo ano.
Com efeito vivemos tempos difíceis a vários títulos. Uma das marcas do tempo
que corre, e na nossa sociedade, é o de se ter tornado comum dizermos que o
ambiente está deprimido. O país está deprimido, muitos falam de retrocesso e com
razão. Há rupturas com valores que norteavam a vida da maior parte das pessoas.
Já não são só os padres, os pregadores, os moralistas que falam das misérias
humanas. Os editoriais de alguns jornais para os quais chamo a atenção fazem
súmulas do que vai pelo mundo. Acontecimentos e situações que não podem deixar
de interrogar, de assustar qualquer cidadão e mais ainda os cristãos.
Vejamos o que dizia um dos editoriais do PÚBLICO dos últimos dias de
Dezembro, escrito pelo seu director e intitulado Misérias Humanas:
“Dezembro é um mês mau para as crianças”, revelou na véspera de Natal Luís
Vilas Boas, presidente da Comissão de Acompanhamento da nova Lei da Adopção:
há geralmente mais casos de abandono e de maus tratos.
E 2003 também foi um ano mau para as crianças: houve mais violações por
pedófilos e, pela primeira vez em Portugal, apareceram catálogos de crianças
para vender. A época de Natal também não costuma ser feliz para muitos idosos.
Muitas famílias, contava-se ontem numa reportagem do PÚBLICO, “depositamnos” - é o termo - nos hospitais enquanto duram as festas. Assim não incomodam
nem atrapalham. Acontece no Verão, volta a acontecer em Dezembro. Por vezes
com doenças reais, difíceis de tratar em casa. Muitas vezes com doenças aparentes.
Imensas vezes ficando apenas “esquecidos” depois de terem alta médica.
Em Agosto surpreendemo-nos pelo número de idosos que morreram durante
a vaga de calor em França e cujos corpos ninguém apareceu a reclamar. Agora
surpreendemo-nos quando descobrimos que a Suíça vai adoptar um novo método
para o pagamento das consultas médicas: cobra-se aos cinco minutos, e de acordo
com uma tabela oficial. A tabela não especifica se os cinco minutos incluem o tempo
que os velhos levam, por exemplo, a despir-se para serem auscultados, ou se tem em
conta que muitos idosos só vão aos centros de saúde porque estão tão sozinhos que
precisam apenas de ter alguém com quem falar.
Mesmo sem chegar a extremos patológicos e criminosos como os de um outro
caso destes dias - o da mãe sueca que tentou cozinhar o seu bebé de cinco meses
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Reflexões
no forno - há um nível de miséria humana em todas estas notícias altamente
perturbador. Miséria moral, pois estamos na Europa rica (na Europa onde cerca
de um terço das crianças dos 7 aos 9 anos sofre de excesso de peso) e não nos
arredores de Nampula, em Moçambique, onde uma freira tenta em vão combater o
tráfico de órgãos humanos retirados de crianças aliciadas por uma côdea de pão.
Miséria ainda mais angustiante, porque vivemos a seu lado sem a querer ver.
Ao lermos estas notícias interrogamo-nos com foi possível chegarmos a estes
níveis de desumanidade. O que toma possível não actos de desespero gerados pelas
mais absolutas carências, mas gestos de egoísmo que quebram todos os laços de
solidariedade, mesmo com os que são mais próximos. Comportamentos de que está
ausente a simples ideia de que um dia, uma hora, um momento, se tem de fazer
um sacrifício por alguém. Eduardo Prado Coelho falava ontem de passagem, a
propósito do aumento de 90 por cento no número de divórcios nos últimos dez anos,
dos “desmandos da sociedade em que vivemos”. Estes casos são muito mais do que
“desmandos”, mas na sua origem talvez esteja um mesmo tipo de atitude hedonista:
o que faz com que o mais importante seja o prazer do momento, sem olhar ao dia
seguinte, sem reparar nos sentimentos alheios, fazendo gala num discurso onde se
recusa a ideia de a vida também implicar privações e partilhas.
Privações e partilhas como as que também exigem, por exemplo, ter e criar um
filho, algo de que os portugueses se desabituaram quase por completo: até Setembro
passado, informava ontem o “Diário de Notícias”, nasceram em Portugal menos
1375 crianças do que nos nove meses correspondentes de 2002. E só não terão
nascido ainda menos porque os imigrantes lá vão tendo muitos filhos...
(José Manuel Fernandes – 31 de Dezembro de 2003)
Um pregador diria mais do que isto? E dias depois Eduardo Prado Coelho
perguntava como é que se tinha chegado a estes níveis de desumanidade?
Se esta é a situação descrita e avaliada por pessoas que não se reclamam do
Evangelho e muito menos da pertença à Igreja de Jesus Cristo. O que é que nós
cristãos poderemos dizer ainda.
Creio que repetir a descrição dos males não adianta nada. Pelo contrário é o
que não devemos fazer. Face à situação de desregulação mental da sociedade em
que vivemos, ao contexto que alimenta a depressão e o mal estar social, os cristãos
devem contrapor uma visão construtiva e positiva da vida e isso exactamente em
nome do Evangelho que professam.
Como muito bem mostrou o neurocientista António Damásio no seu último
livro – a capacidade de empatia com o outro é determinante no bem estar corporal
e espiritual da vida de cada um. Ou seja quando eu alimento uma visão positiva da
vida, quando olho com criatividade para o outro, quando alimento desejos de bem
para com o outro, tudo isso concorre para o bem estar mental e físico do meu ser.
A contribuição decisiva deste cientista português é o de mostrar como as emoções
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Reflexões
determinam o nosso modo de ver o mundo, os outros e a nossa capacidade de
exprimirmos os nossos sentimentos.
Espinosa propôs que o poder dos afectos é tal que a única possibilidade de
triunfar sobre um afecto negativo – uma paixão irracional – requer um afecto
positivo ainda mais forte, desencadeado pela razão. (Pagina 26)
Os sentimentos são, em suma, as manifestações mentais do equilíbrio e da
harmonia, da desarmonia ou do desacordo. A alegria e a mágoa, bem como os
sentimentos que se relacionam com elas, são primariamente ideias do corpo no
processo de obter estados de sobrevida óptimos. É curioso pensar que os sentimentos
são testemunhas do nível mais recôndito da vida. (Página 162)
Em suma, quer se concebam os princípios éticos como baseados na biologia
natural ou como baseados em estruturas religiosas, é legitimo concluir que, na
ausência de emoções e sentimentos normais, especialmente na ausência de emoções
sociais, a emergência de comportamentos éticos seria improvável. A eliminação
da emoção e do sentimento acarreta um empobrecimento da organização da
experiência humana. Na ausência de emoções e sentimentos normais, o indivíduo
deixa de poder categorizar a sua experiência de acordo com a marca emocional que
confere a cada experiência a qualidade de “bem” ou do “mal” (Página 183)
Cf. António Damásio – Ao Encontro de Espinosa – As Emoções Sociais e a
Neurologia do Sentir. Publicações Europa-América 2003
Daí que legitimados por estes conhecimentos de nível científico o convite que
fica para nós cristãos é o de contribuir para refazer o tecido das relações humanas na
nossa própria sociedade. E no contexto de uma narrativa cristã.
O que se quer dizer com isso de refazer as relações humanas. Trata-se de um
convite à conversão no nosso modo de olhar o outro. De o acolher ou não no nosso
coração e na nossa mente.
Torna-se necessário alimentar entre nós uma visão positiva da realidade mesmo
quando confrontados com as misérias humanas que ninguém duvida têm de ser
denunciadas e reprimidas por quem de direito. Mas no nosso dia a dia quanto
poderemos fazer se adoptarmos uma atitude construtiva.
Ter a capacidade de se alegar com o bem dos outros. Repare-se na tendência
para dramatizar as notícias que nos são dadas. Se alguém diz que está doente, logo
se acrescenta que eu também. Se falo de uma morte próxima, logo se recordam as
que me dizem respeito. Em contrapartida quando me dizem: “fiz uma linda viagem”,
logo digo que eu também vou fazer ou já fiz. Ninguém se lembra de dizer: “fico feliz
com a notícia que me dá”. Como é que havíamos de nos educar a nos alegramos com
as alegrias dos outros. Foi assim que falou também São Paulo. Mas nós lemos este e
outros textos na liturgia e não os convertemos em comportamento próprio.
Depois o que dizer da nossa desconfiança já confirmada por todos os estudos
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Reflexões
estatísticos europeus. Somos os mais desconfiados dos europeus. E as perguntas que
se fazem são as seguintes.
Será que na base desta desconfiança está também o nosso comportamento sobre a
inveja? Será esta atitude tão difundida entre nós que está na origem da desconfiança
mútua, ou será a nossa incapacidade de nos alegrarmos com o bem do outro? Se
o outro tem qualquer coisa que eu não tenho, alegro-me por isso ou mordo-me de
inveja porque também queria ter?
Recentemente foi publicado um livro de homenagem a Salgado Zenha. Aí
se pode ler este interessante conselho que o estadista dava ao então jovem eng.
Guterres: “Nunca te esqueças que a inveja é o defeito principal dos portugueses.
Por isso toma cuidado sempre que fizeres as coisas bem feitas. Muitos dos que
estarão à tua volta não pretendem valorizar-se para serem melhores do que tu, mas
querem apenas que tu nunca tenhas condições que te permitam parecer melhor do
que eles”. E parece que o Eça também já teria feito afirmações semelhantes nos seus
históricos romances.
Depois de todas estas referências mundanas talvez seja tempo de dar a palavra ao
Mestre em nome de quem nos reunimos aqui esta manhã.
Não é verdade que Jesus disse que o que é puro, é o que sai de dentro e o que sai
do que está no nosso coração?
“Porque a boca fala daquilo que o coração está cheio. O homem bom, do seu
bom tesouro tira o bem, mas o homem mau, do seu tesouro tira o mal.” (Mateus 12,
34)
“Chamando para junto de si as multidões, disse-lhes Ouvi e entendei! Não é o
que entra pela boca que torna o homem impuro, mas o que sai da boca, isto sim, o
torna impuro” (Mateus 15, 10-11)
“A lâmpada do corpo é o olho. Portanto, se o teu olho estiver são, todo o teu
corpo ficará iluminado.” (Mateus 6, 22)
Como purificar o nosso olhar?
Vejamos a título de ilustração três modos positivos de nos situarmos e
defendermos uma visão humana e sobretudo evangélica na sociedade portuguesa
actual.
- Atitude face à guerra – tem de ser em nós uma posição clara e sem concessões
– Veja-se a mensagem do papa. Nós temos de nos opor ao fatalismo. E cito João
Paulo II: “Os homens, à vista das tragédias que continuam a afligir a humanidade,
sentem-se tentados a ceder ao fatalismo, como se a paz fosse um ideal inacessível.
Ao contrário, a Igreja sempre ensinou, e ensina ainda hoje, um axioma muito
simples: a paz é possível. Mais a Igreja não se cansa de repetir a paz é um dever. “
(Mensagem para o dia da Paz de 2004)
Mas aqui há que não ter receio de aceitar metodologias e práticas que nos
eduquem verdadeiramente na paz. Rezar é fundamental, mas é necessário não
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Reflexões
descurar a educação para a legalidade e para os direitos humanos
- Atitude face aos imigrantes. Não devemos alimentar, nem aceitar os argumentos
primários que correm por aí. Contrapor os dados e as atitudes dos que com autoridade
apelam ao acolhimento. Os imigrantes são fonte de riqueza para o país. São a resposta
ao declínio demográfico da Europa. Os cristãos têm de estar na primeira linha desta
conversão da mentalidade popular que não é sã para a convivência social.
- Atitude face à demografia. Uma das razões evocadas para o clima de depressão
é o envelhecimento da população, do clero e dos religiosos. Quem é velho? Nós,
mas não o mundo. O mundo é jovem. Envelhecer em sabedoria é alegrarmo-nos com
tudo o que as novas gerações estão para dar ao mundo.
Por que não ter presente que no mundo mais de metade da população tem menos
de 25 anos. A humanidade é jovem. Repito mais de 3 mil milhões de seres humanos
tem menos de 25 anos!
Acima de tudo há que reabilitar a concepção medieval do Deus dos cristãos,
quando se dizia que Deus bonum diffusum est. Deus é o bem que se difunde. Um
coração que busca a Deus, que procura viver segundo a lei de Deus tem de se guiar
pelo bem, pela sua busca, pela sua pratica.
Mais uma vez e a terminar devia bastar-nos a palavra do Mestre: “Bem
aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem
aventurados os puros de coração porque verão a Deus”
Fátima, 5 de Janeiro de 2004
Frei Luís de França
A jeito de testemunho
Provocações do Espírito
O convite do Senhor P. Armindo Janeiro veio, decerto, como uma ‘provocação’.
E Deus queira que venha do Espírito, doutro modo, pouco ou nada poderei
acrescentar às vossas experiências e descobertas destes dias. Porém, uma vez que
todo o homem é peregrino do saber, e Santo Agostinho percorreu, nesse domínio,
largos horizontes, vou deixar-me conduzir por ele, até chegar ao diálogo, onde vós
fareis eco abundante de tudo o que reflectistes. Dado que as experiências e o saber
estão do vosso lado.
1. O tema que me foi proposto pode repartir-se por duas áreas: as ‘provocações
do Espírito’ e ‘aqueles que o Senhor chamou’, por referência ao tempo que passa.
Começo por aqui: vós, quem sois, afinal? – Sinais de Deus, nos caminhos do
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Reflexões
tempo! Por isso, estais expostos à leitura dos que passam e às interpretações que
fazem de vós. E o pior que pode acontecer é não darem pela vossa presença ou
pela vossa missão. Porque, então, nada significais. Também podem fazer de vós
uma leitura apressada ou mesmo voltada do avesso. Neste caso, atribuem-vos
um valor subjectivo, moldado pelos próprios interesses. No Antigo Testamento,
aconteceu, assim, com os profetas. É sugestivo aquele diálogo de Amós, com o
sacerdote Amasias, do Santuário de Betel: “Vidente, vai para a terra de Judá; come
lá o teu pão e profetiza lá... Mas, em Betel, não podes mais profetizar, porque é um
santuário do rei, um templo do reino (…) Amós respondeu e disse a Amasias: não
sou um profeta nem filho de profeta... Mas Iahvé tirou-me de junto do rebanho e
disse-me: vai, profetiza ao meu povo, Israel!” Ora, ser sinal e ser profeta, não sendo
a mesma coisa, andam próximos. O sinal chama a atenção e ajuda a reflectir; o
profeta aponta os sinais e ajuda a fazer a sua leitura, por palavras e com a vida. No
vosso caso, enquanto ordenados, consagrados pelos votos ou pelos compromissos, e
ungidos para o apostolado, a partir do baptismo, ser sinal e ser profeta é levar uma
consciência de chamados e enviados em missão. Pois, Deus quando chama, também
envia. Por isso, aquilo que sois, coloca-vos ao serviço dos outros que são irmãos. E o
tempo propício (ou tempo de graça) é este, em que viveis. Daí, que, no vosso alforge,
deva constar uma bagagem assim: confiança que não desiste diante das dificuldades
e disponibilidade que não regateia os apelos de Deus revelados (incarnados) no rosto
dos irmãos. Conclusão: sois acarinhados pela mão de Deus, como instrumentos de
evangelização – mas sujeitos aos tropeços do caminho e às influências da moda. E
precisais de momentos como estes (refiro-me aos que programastes ontem e hoje),
para exercitar a reflexão e a comunhão, ao nível da Igreja Diocesana de LeiriaFátima e, em boa hora, à luz do seu padroeiro, Santo Agostinho.
Permiti, em todo o caso, que chame a vossa atenção, para estas três situações
de contraste: 1ª – os sacerdotes do ‘tempo’ são, por vezes, mais ousados que os
sacerdotes do ‘templo’; 2ª – os ‘santuários’ do reino caçoam, muitas vezes, do
ambiente sagrado dos ‘santuários’ da fé; 3ª – a respiração da ‘moda’ polui de
descrença ou indiferença o ambiente familiar e social, se a ‘oração’ não for assídua,
voltada para o essencial e comprometida com a vida.
2. Passemos, agora, às provocações do Espírito, que nunca são abstractas; antes,
motivam a generosidade do coração e recriam o mundo. Por isso, Santo Agostinho
responde com a lucidez da fé: “não é o mundo que acaba, é antes um mundo novo
que começa”! E S. Paulo, por outras palavras: “O Espírito faz novas todas as
coisas!” Ora, a esta luz, pergunto: por onde vos sentis atraídos e com que vigor? E,
a seguir, convido-vos a fazer alguns reparos ao tempo, para que a fé chegue mais
longe:
a) Vejamos, p. ex., o ‘comportamento’ das auto-estradas, como expressão de
progresso: passam ao lado das pessoas e dos ambientes... deixam as aldeias e os
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Reflexões
idosos que nelas vivem mais sós... entusiasmam os jovens mas não respondem às
suas interrogações... E Jesus, como fazia? Andava pelas aldeias a anunciar o Reino
de Deus, misturava-se com as pessoas, acolhia os seus problemas... Ora, isto alertanos para a necessidade de conviver mais, de aproximar a linguagem das diferentes
idades, de reaprender a sorrir, a cruzar a saudação nos caminhos, a despertar a
confiança... Porque a desumanização afasta de Deus. E Deus chama por vós!
b) Olhemos, também, para o fenómeno da globalização: à primeira vista, põe
o mundo debaixo dos nossos olhos... mas um mundo seleccionado, ao gosto dos
Meios de Comunicação Social e dos interesses do consumismo. Por isso, aumentam
os pobres e não param as guerras! Que fazer, então? Rezar, para saber discernir,
como fazia Cristo. Aquelas vigílias de oração não conseguiam acordar os discípulos,
mas iam despertando neles sentimentos de admiração e uma disposição em acolher
o Evangelho. Ora, vós, pelo chamamento, sois vigias de Deus e deveis ajudar a
reconhecer a Sua passagem e as Suas inspirações... Como? De joelhos ou em
murmúrio de oração (isto, sozinhos ou em comunidade).
c) Reparemos, ainda, na afoiteza da moda e nas propostas que ela faz, levando
as pessoas a um consumismo exagerado e, muitas vezes, sem discernimento. E
apesar dos que nos batem à porta, pedindo para medicamentos e outros gastos
essenciais, que são muitos – como havemos de falar, hoje, da sobriedade da Gruta,
do desprendimento evangélico e da vida apostólica de Jesus... se não for com a vida
e em ambiente comunitário? Um dia, ouvi uma Irmãzinha dos pobres falar assim,
num programa de rádio: o Ir. Carlos (de Foucaul) não gostava de falar da pobreza
mas de Cristo pobre! É esta a vossa referência e sem equívocos. E a minha, também.
Aliás, a nova Concordata vai-nos fazer reflectir, muito a sério, nesta experiência
eclesial!
d) Oiçamos, agora, as palavras do Papa, sobre o amor e a esperança, ditas em
tom profético e, portanto, como atitude de fé: são a força maior do mundo! Mas o
nosso activismo não deixa ver assim! Nem permite que a consagração se mostre
atraente! Um serviço alegre, aberto à comunhão, exercitado na paz... diz de Deus
mais, do que todas as correrias ou uma certa ganância de fazer muito e de celebrar
muitas missas... Por isso, é que o testemunho da vida contemplativa deve ter lugar
importante nas nossas Dioceses (da vida contemplativa e da contemplação da vida!).
Sede, pois, atentos, uma vez que a Igreja espera muito de vós!
e) E a Nova Evangelização, inspirada pela urgência do Reino? Decerto,
vai sugerindo, à Igreja, novas formas de vida consagrada, métodos renovados
de evangelização, conteúdos mais atraentes... Mas, também: – convida a um
cuidado maior na pregação, uma vez que o povo simples, respirando um ambiente
plural e convivendo com pessoas chegadas doutros ambientes, necessita de um
discernimento adequado e bem reflectido; – exige uma participação mais dialogada
no seio das comunidades e com as estruturas que as servem (conselhos paroquiais,
secretariados, etc.), pois, se os cristãos não participam, também não se empenham
102 | LEIRIA-FÁTIMA • 34 |
Reflexões
(é, assim, na família, com a educação dos filhos); – exige uma Igreja francamente
aberta aos ministérios, às ‘equipas’ de evangelização, a outros modos de celebrar
a fé, inclusivamente ao domingo; – exige, sobretudo, um ‘espírito novo’ (e isso
não é questão de idade, haja em conta a situação do Papa) que tome atraentes e
motivadores os critérios do Evangelho e a Virtude.
f) Por outra parte, a vida aparece muito como ‘feira’, misturando o essencial
com o secundário, e dificultando o discernimento e a opção. Os jovens regressam
tristes, a cada passo, por falta de compreensão e de coragem... E nós ficamos tristes,
porque envelhecemos e não soubemos fazer propostas oportunas, provocadoras de
admiração e generosidade... (porventura, na direcção dum retiro, duma visita ao
Seminário, dum diálogo no locutório ou em comunidade... quer dizer: na direcção
da Igreja concreta, que só evangeliza se for evangelizada, e quando não é assim,
acomoda-se). Ora, a acomodação e o activismo, são pecados de confessionário!
g) Há coisa de dez anos, li um autor italiano, que dizia assim: a França do ano
2000 já não será branca! Independentemente da ousadia da afirmação, vale a pena
perguntar: o colorido da nossa sociedade portuguesa inquieta-nos apostolicamente?
Na minha Diocese, p. ex., encontro imigrantes de leste, em todos os arciprestados:
no campo, nas fábricas, no amanho da madeira, no trabalho doméstico, nos
restaurantes... e imigrantes africanos, em bastantes. Ora, além do problema da
legalização, está o emprego, a casa que pode ser suficiente ou expor as pessoas a uma
certa promiscuidade, o acesso à segurança social... Total: um campo concreto, para o
serviço dos nossos grupos ‘Cáritas’ ou para a Pastoral da Caridade; e, liturgicamente:
os casamentos cruzados, os baptismos de crianças que surgem, as datas das grandes
festividades que não coincidem... É preciso prevenir e aprender a lidar, em Igreja,
com esta nova situação. E entre os mais responsáveis, estou eu e vós!
h) O panorama missionário também se modifica, enquanto a Igreja se mostra
atenta, nas diversas direcções... A minha Diocese, p. ex., recebeu dois padres chineses
e poderão vir seminaristas (porque nos lembrámos de ajudar a Igreja da China, a
partir duma Renúncia Quaresmal). De Benguela também têm chegado missionários
a algumas Dioceses. Agora, o fermento a partir da nossa banda, mostra-se entre
jovens universitários, entre casais, e muito a partir dos Movimentos Apostólicos.
O Espírito Santo vai cuidando da levedura... mais do que as nossas técnicas e
estratégias. Aliás, basta fazer uma leitura rápida da Vida Consagrada, ao longo da
história... E, assim, podemos achar razões abundantes para muita coisa... menos para
desanimar. Graças a Deus! Em todo o caso, está a surgir um mundo novo, como no
tempo de Santo Agostinho... e vós sois atraídos nessa direcção, porque chamados e
enviados. Dai, pois, atenção aos sinais que vedes e aos sinais que sois!
i) Outros campos: como a educação para a paz (uma vez que onde não há
guerra, há suspeição e o medo), a educação para a cidadania responsável (em
contraste com o azedume e a irresponsabilidade), o apelo à formação permanente
(por necessidade e como estímulo para os mais novos)… são propostas concretas
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Reflexões
que provocam o vosso zelo de consagrados. Mas o âmbito dum simples testemunho
não deve alongar-se mais.
j) Antes de terminar, porém, quero reconhecer que este encontro de todos os
Consagrados da Igreja Diocesana de Leiria-Fátima é uma verdadeira provocação do
Espírito. E faz falta, como exercício de comunhão e como experiência de unidade.
Agora, o diálogo que vem a seguir deve ser expressão disso mesmo: isto é, feito por
todos e ao gosto duma Igreja viva que se renova. Da minha parte, parabéns pelo que
sois e realizais, à sombra protectora de Santo Agostinho. E desculpai a singeleza do
que disse, embora com amizade de Pastor.
Fátima, 2 de Fevereiro de 2004
† Augusto César
A propósito do lançamento do livro “Laudate”
Cantar nas celebrações litúrgicas
Todos conhecemos a importância da música para fazer festa. A música e o canto
não são apenas mais um ornamento, a juntar a tantos outros: são parte integrante
da festa. Ora, também nas celebrações cristãs, a música e o canto ocupam um lugar
de destaque. Fazem parte da experiência de celebrar a fé. Mais, a celebração cristã
herda da Sagrada Escritura não apenas uma rica tradição, que chega a identificar
o canto e música com o louvor a Deus, mas também uma série de aclamações e
cânticos que só ganham verdadeiro sentido se cantados. Por isso se poderá dizer,
sem exagero, que as celebrações cristãs só são verdadeiramente celebradas, quando
se celebra cantando.
Quem ainda não fez a experiência decepcionante de participar numa celebração
sem canto, sem música? Bastará esta simples observação para nos persuadir da
importância do canto e da música em qualquer celebração cristã. Canto e música
são parte integrante da Liturgia. Se é certo que, muitas vezes no passado, o canto foi
visto apenas como uma forma de dar mais solenidade a uma celebração, hoje cresce
entre os cristãos a consciência de que o canto não é mero adorno, não é uma elemento
facultativo. Aliás, já o Vaticano II, ao falar da Liturgia, o afirma claramente: “o canto
sagrado, unido à palavra, constitui uma parte essencial ou integrante da Liturgia”
(Constituição Sacrosanctum Concilium, n.º 112).
Uma celebração sem canto, é sempre uma celebração pobre: pobre, porque falta
um aspecto importante de participação; pobre, porque falta uma das mais importantes
formas de louvor e acção de graças a Deus; pobre ainda, porque há elementos da
celebração litúrgica que se destinam a serem cantados. Basta pensar em algo tão
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Reflexões
simples como a aclamação “Aleluia”: cantada, ganha vida, força, vitalidade; apenas
dita, torna-se num elemento dispensável. E a aclamação “Aleluia” é apenas um
exemplo entre tantos outros...
Cantar é uma forma privilegiada de exprimir sentimentos. Posso exprimir os
meus sentimentos de muitas maneiras, por exemplo, através de palavras. Contudo,
quando se trata de sentimentos, todos experimentamos as limitações das palavras.
Cantando, as palavras ganham uma outra força e os sentimentos aparecem em estado
“mais puro”: o canto intensifica a expressão dos sentimentos. Em muitas ocasiões, o
canto, mais do que as palavras, toca o nosso interior e empenha a nossa emotividade.
E os sentimentos são importantes também na Liturgia, pois é toda a pessoa que
participa e ninguém é apenas intelecto.
Quando falamos, o mais importante é, geralmente, aquilo que dizemos, o
conteúdo. Ora, o canto não se limita a esse efeito prático e utilitário, de comunicar
algo. O canto pertence à ordem do poético, do gratuito (não utilitário), do
desinteressado. A Liturgia tem necessidade da poesia, de uma forma de dizer que se
afaste da linguagem matemática e utilitária do dia a dia. A linguagem poética, com
os seus jogos de linguagem e as suas imagens, é a única que, pelo seu simbolismo,
nos permite falar a Deus e de Deus.
Cantar une as pessoas. Cantando, eu saio da minha solidão e uno a minha voz
à dos outros elementos do grupo. Quando um grupo canta o mesmo canto, sente-se
mais unido e constrói unidade, cria comunidade, o que é essencial na Liturgia.
Os três aspectos referidos apontam na direcção do quarto aspecto: a festa. A
celebração litúrgica, qualquer que seja, é sempre festiva (embora possa não parecer,
em alguns casos concretos). Ora, o canto e a música fazem a festa, como referi logo
de início.
Os cânticos, numa celebração litúrgica, são pois expressão poética, comunitária
e festiva da fé e dos sentimentos das pessoas reunidas em assembleia. O canto é
uma forma de participação que nos faz perceber que a Liturgia cristã não é uma
questão meramente intelectual: ou celebramos com todos os sentidos – também com
o ouvido e a voz – ou reduzimos a celebração à sua mínima expressão.
Não se entenda, porém, isto como uma defesa de que se cante sempre e tudo
numa qualquer celebração. Não é uma questão de quantidade. É sempre necessário
procurar o justo equilíbrio entre o tudo e o nada. Um justo equilíbrio que exprima a
diversidade das celebrações cristãs, e que ajude a assembleia reunida a celebrar. E
esse será sempre o critério último a ter em conta.
Desde há alguns anos atrás vem-se fazendo um verdadeiro esforço de
dinamização deste aspecto fundamental da celebração litúrgica. Um esforço que
será meritório, sempre que ajudar as nossas assembleias a participar mais e melhor
nas acções litúrgicas, “cume para o qual se dirige a actividade da Igreja e, ao
mesmo tempo, fonte de onde provém toda a sua força” (Constituição Sacrosanctum
Concilium, n.º 10).
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Reflexões
Em ano agostiniano, como não recordar a reflexão de S. Agostinho sobre a
música nas celebrações cristãs? De facto, se ao Bispo de Hipona devemos uma
obra de carácter mais técnico – o De musica – devemos igualmente um testemunho
impressionante sobre a força da música e do canto na Liturgia (Confissões 9, 6, 14),
bem como a sapiente e tantas vezes repetida afirmação de que quem canta, reza duas
vezes (Enarratio in Psalmum 72, 1).
P. Carlos Cabecinhas
Órgãos humanos no mercado
Qual o preço da vida?
As notícias de que existe um mercado e um tráfico de órgãos humanos não são
novas e já há muito tempo que este tema surge ocasionalmente em notícias isoladas
e é abordado em diferentes contextos de reflexão. A nossa opinião pública reagiu
recentemente de forma mais emotiva, devido às notícias das últimas semanas
vindas de Moçambique e que, provavelmente, já provocaram o assassínio de
uma missionária que tinha alertado os media para esta realidade. Na sequência
desta notícia são relevantes as palavras do Presidente da Conferência Episcopal
Moçambicana: “Queremos voltar a circular livremente em Moçambique sem o
perigo de sermos apanhados e de nos extraírem órgãos internos”!
A situação de crianças desaparecidas para lhes serem retirados órgãos, de
pessoas assassinadas para este fim, ou o tráfico de órgãos de qualquer tipo, causam
um consenso de rejeição e repugnância, que não necessita de grandes argumentações
para o condenar.
Mais problemática e menos consensual é a cedência ou venda de órgãos em que
existe um consentimento por parte do dador. Há algum tempo atrás confidenciavamme os pais de uma criança necessitada de um transplante que estariam na disposição
de pagar a compra de um órgão a quem o vendesse livremente. Como condenar
facilmente um pai ou uma mãe que apenas quer fazer todo o possível para salvar o
seu filho?
Não pensemos que estas coisas são histórias apenas de países pobres e longínquos.
Por exemplo, na Alemanha, um país onde mais de 14.000 pessoas aguardam o
transplante de um rim, podem encontrar-se na Internet pessoas a oferecerem um dos
seus rins para venda. Apenas por motivação financeira e sem prejudicar ninguém.
Algumas reportagens dão a conhecer que em Israel existe um mercado relativamente
activo de órgãos. Foi título de jornais o caso de um israelita que se desloca a um
hospital alemão acompanhado supostamente de “um primo” da Moldávia para um
transplante de rim. No Quénia já não causa admiração o aparecimento em anúncio de
106 | LEIRIA-FÁTIMA • 34 |
Reflexões
jornais de pessoas que oferecem um dos seus rins. Preço de custo: 7.500 Euros. Países
como a Índia, ou a China ou estados do Leste da Europa, aparecem constantemente
envolvidos em notícias de tráfico de órgãos humanos em larga escala. Sabemos
também que em contextos sociais de extrema pobreza, para sobreviver algumas
famílias têm que sacrificar algum dos seus membros: pela venda de um filho para
adopção, pelo envio de uma filha para a prostituição, ou pela cedência a troco de
pagamento de um órgão para transplante. E nada disto são histórias raras ou de
ficção criminal. Enquanto na Alemanha se encontram pessoas dispostas a vender um
rim por 100.000 Euros, na Índia são vendidos rins pela quantia de 500 Euros. Com
a agravante de estes doadores não serem acompanhados convenientemente na fase
pós-operatória, provocando inúmeras mortes.
Um negócio legal?
Quando estamos num hospital diante de uma criança de 4 anos que não pode
sobreviver muitos meses se não for encontrado um fígado para transplante, sentimos
que a urgência da situação nos tolhe a reflexão e enfraquece a consciência moral. Até
onde posso ir para salvar esta e muitas outras vidas?
Se tudo é comercializável, o que pode impedir alguém de vender algo que é seu
ou de comprar o que outro lhe queira livremente vender? Esta teoria não é defendida
por gente ligada ao tráfico clandestino, nem são apenas argumentos de comerciantes
sem escrúpulos.
O Prof. Gary Becker (Prémio Nobel norte-americano) defende que não há nada
de errado em permitir que as pessoas recebam dinheiro em troca da cedência de um
órgão que não seja essencial para sobreviver. Explica que esta seria a única forma de
motivar as pessoas a doar órgãos e a encurtar as longas listas de espera.
O economista alemão Friedrich Breyer defende um comércio de órgãos
controlado pelo Estado. Segundo ele, a única forma de solucionar a falta de órgãos
para transplantes seria a sua comercialização. Considera absolutamente legítimo que
alguém venda um rim, a fim de poder reorganizar economicamente a sua vida.
Estes e outros exemplos mostram-nos que a discussão está aberta e que não nos
podemos refugiar em tabus para fugir aos problemas. Diversas vozes no campo da
medicina, da bioética e da economia têm apoiado esta tendência.
Reprovação é consensual
Apesar de tudo, parece-nos que há razões muito fortes para manter o largo
consenso institucional que considera a comercialização de órgãos como algo
reprovável.
Pretender fazer do corpo algo comercializável é aceitar os dualismos que o
vêem como uma realidade diferente da pessoa, coisificável e transmissível, de valor
secundário e inferior. Ora, o ser humano não tem corpo, mas é também corpo. O
corpo humano é dimensão constitutiva da sua existência pessoal. Por isso, não
| 34 • LEIRIA-FÁTIMA | 107
Reflexões
pode estar sujeito às forças externas da oferta e da procura, não pode ser objecto de
disponibilização do mercado. A cedência de órgãos, ou de sangue, ou de qualquer
outra parte do corpo humano, só pode ser expressão do dom da pessoa, manifestação
do amor interpessoal, cristão ou filantrópico. A existência de factores financeiros
retira a este acto de doação pessoal aquela dose de liberdade e de auto-entrega que
são necessárias para uma doação autêntica da pessoa. É o mesmo princípio que
nos leva a considerar sem dignidade a prostituição, ou qualquer outra forma de
comercialização da pessoa.
A compra e venda de órgãos explora a desvantagem de pessoas que vivem
nos limites da sobrevivência relativamente a outras que podem usar a força do
seu dinheiro para comprar a sua saúde à custa da de outros, que certamente em
situações mais favoráveis não tomariam tal decisão. A força da necessidade e o
poder do dinheiro criam uma situação de desvantagem em que ficam a perder os
mais vulneráveis.
Agora, que as teorias neo-liberalistas se impuseram como doutrina dominante,
querem-nos fazer acreditar que afinal tudo se pode comprar e vender, trocar e
comercializar. Tudo pode ficar regulamentado pelas leis da oferta e da procura. Os
novos gurus económico-políticos querem-nos convencer que esta é mesmo a única
forma válida e efectiva de regular a vida das sociedades humanas!
Mas nós habituámo-nos a pensar que há coisas na vida e no mundo que não têm
preço: não se compram nem se vendem.
A vida não tem preço
A reflexão teológica cristã sobre a vida ensinou-nos que a vida é um valor
fundamental, mas não absoluto. Não posso tentar salvaguardar a minha vida a todo
o custo e com todos os meios. Se a vida humana não tem preço, significa que não a
posso comprar com a dignidade de outros seres humanos.
A tradição teológico-moral considera que o corpo humano só é sacrificável no
interesse do bem de toda a pessoa (princípio da totalidade) ou em situações que
sejam expressão de amor do próximo (doação benevolente).
Com os humanismos de inspiração cristã aprendemos que a entrega da pessoa e
de tudo aquilo que a exprime, como o seu corpo, só deve acontecer num contexto de
amor, de amizade ou de altruísmo.
Com as filosofias de inspiração kantiana aprendemos que dignidade é aquilo
que não tem preço, aquilo que tem um valor não comercializável. E a experiência
mostra-nos que tentar comprar sentimentos, ou pessoas, ou corpos, significa retirarlhes a dignidade e instrumentalizá-los, significa reduzi-los a algo que tem preço. A
pessoa, com tudo aquilo que a constitui, não tem preço, mas dignidade.
Pe. Vítor Coutinho
108 | LEIRIA-FÁTIMA • 34 |
Reflexões
Visita Pascal *
Origem
Qualquer esforço de renovação da chamada “visita pascal” não pode prescindir
de procurar conhecer a origem histórica de tal prática.
A casa, lugar de habitação dos homens, símbolo da própria família que a
habita, sempre se revestiu de grande importância simbólica nas diversas culturas e
religiões. Assim também no cristianismo. Jesus Cristo exorta os seus discípulos a
invocar a paz sobre as casas em que entram (Mt 10, 12). Foi nas suas casas que os
primeiros cristãos começaram a celebrar a Eucaristia (Act 2, 46). Cedo os cristãos
sentiram necessidade de invocar a bênção de Deus sobre as suas casas, não na sua
materialidade, mas enquanto símbolo da “Igreja doméstica” que aí vivia.
Nos antigos escritos cristãos não se encontram ainda orações para a bênção das
casas, mas a prática já aparece testemunhada, por exemplo, por S. Atanásio (séc.
IV), que recomendava o uso dos Salmos 29 (30) e 126 (127) para a bênção de uma
casa (Patrologia Grega XXVII, 29: Ep. Ad Marcellinum, 17). Os mais antigos livros
litúrgicos ocidentais apresentam as primeiras orações para a bênção das casas, com
aspersão de água benta. Por exemplo, no chamado Sacramentário Gelasiano, do
século VII, encontram-se formulários de orações para a bênção das casas e aspersão
com água benta.1 Contudo, até esta época, esta bênção das casas não está ligada a
nenhum tempo litúrgico específico. A bênção fazia-se em diversos momentos do ano
litúrgico.
No Ocidente romano, impôs-se a bênção das casas pela Páscoa, já que foi no
contexto da Páscoa hebraica, na libertação da escravidão do Egipto, que o Anjo
exterminador poupou as casas dos hebreus, marcadas com o sangue do cordeiro (Ex
12, 13-14). Será precisamente esta prática da bênção anual das casas pela Páscoa,
em Sábado Santo, que será consagrada pelo Rituale Romanum de Paulo V, em 1614.
Este livro litúrgico, reformado por ordem do Concílio de Trento, apresenta uma
Benedictio domorum in Sabbato Sancto Paschae (Tit. VIII: De Benedictionibus,
Caput 4). O Rituale Romanum prescreve que o pároco, ou outro sacerdote por ele
delegado, revestido de sobrepeliz e estola branca e acompanhado dum ministro que
leva água tirada da pia baptismal antes da infusão do óleo do crisma, visite as casas
da sua paróquia, aspergindo-as com água benta. Depois destas indicações, apresenta
o ritual propriamente dito. Na conclusão, acrescenta que esta bênção se pode realizar
noutro dia do Tempo Pascal, além do dia de Sábado Santo.
Em Portugal, contudo, esta prática era já muito anterior à publicação do Rituale
Romanum de 1614. São conhecidos dois documentos medievais portugueses, de
_____________________
* Texto apresentado ao Conselho Presbiteral, como reflexão sobre um documento que esteve
em discussão neste plenário, a propósito da Visita Pascal.
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Reflexões
1357 e de 1436, que atestam esta prática em Coimbra.2 Por tais documentos, que
indicam uma prática estabelecida, cuja origem era certamente mais antiga, sabe-se
que a legislação estabelecida pelo Rituale Romanum de 1614 veio apenas confirmar
um costume já enraizado em Portugal, a saber: a bênção anual das casas, pela
Páscoa.
O Código de Direito Canónico de 1917 recolhe a legislação do Ritual Romano de
1614, apresentando a visita pascal como um direito paroquial, reservado ao pároco (c.
462: Functiones parocho reservatae sunt, nisi aliud jure caveatur: § 6. Domibus ad
normam librorum liturgicorum benedicere Sabbato Sancto vel alia die pro locorum
consuetudine). Os comentários, quer de canonistas, quer de liturgistas, insistem que
a bênção das casas pela Páscoa é um direito do pároco, que pode delegar noutro
presbítero, mas nunca num diácono ou, menos ainda, num “Minorista”.3
As “Constituições do Bispado de Leiria”, promulgadas por D. José Alves Correia
da Silva, em consonância quer com o Ritual Romano, quer com o Código de Direito
Canónico de 1717, afirmam ser a bênção das casas “o fim primário” da visita pascal:
“A visita pascal, cujo fim primário é a Bênção das casas, deve ser feita com a
possível solenidade a todos os paroquianos, excepto os pecadores públicos”.4
Este breve percurso histórico permite verificar que a visita pascal, quer na sua
origem, quer na sua evolução histórica, é fundamentalmente a solenização de um
sacramental, a saber, a bênção das casas pela Páscoa.
A reforma litúrgica, promovida pelo Concílio Vaticano II, com a renovação que
provocou, apresenta contudo alguns elementos novos, que importa conhecer, em
ordem à renovação desta prática.
A visita pascal nos documentos litúrgicos depois do Vaticano II
Sendo a visita pascal, tal como a conhecemos, uma prática que, mais que
estritamente litúrgica, pertence ao âmbito da piedade popular, não são muitas as
referências que a ela se fazem nos documentos litúrgicos publicados depois do
Concílio Vaticano II. Como, porém, o fundamental de tal prática é constituído
por um sacramental, é importante conhecer as directrizes que a Igreja nos propõe
actualmente.
A reforma do anterior Ritual Romano deu origem a vários livros litúrgicos.
Concretamente, o Título VIII, sobre as Bênçãos, foi reformado e deu origem ao
actual Ritual da “Celebração das Bênçãos” (doravante CB, seguido do número de
parágrafo).5 Neste ritual, deixa de haver uma bênção das casas na Páscoa: apenas
se refere a “Bênção anual das famílias nas suas próprias casas” (CB 68-89).6 A
referência ao Tempo Pascal aparece, contudo, nos Preliminares: “Os párocos e seus
auxiliares considerem como sua incumbência o costume de visitar todos os anos as
famílias que vivem no território da sua jurisdição, principalmente no Tempo Pascal”
(CB 69). Uma outra alteração diz respeito ao próprio objecto da bênção: não se trata
já da “bênção da casa”, mas sim da “bênção da família” que aí habita. Tal alteração
110 | LEIRIA-FÁTIMA • 34 |
Reflexões
não está isenta de consequências: “Dado que a bênção anual das famílias nas suas
casas se destina directamente à própria família, esta bênção exige a presença dos
seus membros” (CB 70), pelo que não se deve fazer tal bênção sem a presença dos
que aí habitam (cf CB 71).
Embora o CB abra a possibilidade de algumas bênçãos serem celebradas por
leigos, em virtude do sacerdócio comum de que foram dotados no Baptismo e na
Confirmação (cf CB 18), a “Bênção anual das famílias nas suas próprias casas”
continua a ser reservada aos ministros ordenados (CB 72), destacando-se o valor
pastoral de tal prática, por se tratar, para os párocos de “uma ocasião privilegiada
para exercer a sua missão pastoral de modo mais eficaz, na medida em que é uma
oportunidade para conhecer cada uma das famílias” (CB 69). Aliás, esta bênção, na
linha de toda a tradição anterior, é considerada como um dos deveres dos “pastores
de almas”: “obedecendo ao mandato de Cristo, os pastores de almas, entre os
principais deveres da sua acção pastoral, devem ser solícitos em visitar as famílias
cristãs e anunciar-lhes a paz de Cristo” (CB 68).
A finalidade principal da visita do pastor é fazer com que, na sua pessoa, o
próprio Cristo entre na casa da família visitada, para lhe trazer a paz e a felicidade
(CB 76). O seu sentido pascal está bem patente, quer nas preces para o Tempo Pascal
(CB 81), quer na oração de bênção (CB 84). Do mistério pascal jorra a salvação. A
aspersão da família cristã com água, se por um lado recorda e confirma a vontade
salvífica de Deus para com aqueles que foram baptizados, por outro lado convida à
acção de graças e ao compromisso baptismal de luta contra o mal.
Anos mais tarde (1988), a Congregação do Culto Divino, na “Carta sobre a
preparação e a celebração das festas pascais” (n.º 105), volta a tratar da visita
pascal, de forma mais explícita do que o CB, mas recolhendo fundamentalmente
as indicações daquele livro litúrgico: “Onde houver o costume de benzer as casas
por ocasião das festas pascais, tal bênção deve ser feita pelo pároco ou por outros
presbíteros ou diáconos por ele delegados. É de facto uma ocasião privilegiada para
exercer o múnus pastoral. O pároco faça a visita pastoral a cada família, dialogue
com os seus membros e ore brevemente com eles, usando os textos contidos no
Ritual das Bênçãos. Nas grandes cidades preveja-se a possibilidade de reunir várias
famílias, e de fazer uma celebração para todas”.7
Este documento, não apresentando notáveis alterações, sublinha a importância
pastoral da visita pascal, indica os ministros ordenados como aqueles a quem cabe
fazê-la, e remete, quanto ao conteúdo e forma da celebração, para o CB.
Recentemente, a mesma Congregação voltou a abordar o tema da visita pascal, no
“Directório sobre a piedade popular e a Liturgia” (n.º 152): “Durante o tempo pascal
(...) realiza-se a bênção anual das famílias, visitadas nas suas casas. Recomendado ao
cuidado pastoral dos párocos e dos seus colaboradores, este costume muito sentido
pelos fiéis é uma preciosa ocasião para fazer ecoar nas famílias cristãs a recordação
da constante presença abençoadora de Deus, o convite para viver em conformidade
| 34 • LEIRIA-FÁTIMA | 111
Reflexões
com o Evangelho e a exortação aos pais e aos filhos para que guardem e promovam
o mistério da sua essência de «igreja doméstica»”.8
Também aqui não surgem novidades. Sublinha-se o valor pastoral desta visita
pascal e refere-se que pode ser realizada pelo pároco ou “seus colaboradores”,
sem especificar se se trata ou não de ministros ordenados, como nos documentos
anteriores.
Algumas observações
- O que fica escrito não tem qualquer pretensão de “redacção final”: são notas
fundamentais sobre a origem e evolução histórica da visita pascal, bem como sobre
o que dela dizem os documentos litúrgicos actuais.
- As observações que se seguem são de carácter pessoal: exprimem apenas o meu
modo de ver.
- No documento de trabalho “«Hoje quero ir a tua casa» – Renovar a Visita
Pascal às famílias” (doravante DocVP, seguido do número de página) há algumas
afirmações particularmente discutíveis, que penso deveriam ser corrigidas ou
evitadas, e que apresento de seguida:
- DocVP 5: “Isso implica descobrir e reconhecer o seu [visita pascal] profundo
significado e valor como acto de testemunho e de anúncio de Jesus Cristo
ressuscitado”. Embora se possa reconhecer à visita pascal tal valor, o seu significado
profundo não é esse, como o demonstram a história e os documentos litúrgicos
actuais.
- DocVP 7: “A proclamação de Cristo ressuscitado, fundamento da fé cristã, e
o testemunho da alegria pascal constituem o núcleo central de todo o rito”. Se o
rito é o da “Bênção anual das famílias nas suas próprias casas” (CB 68-89), como
o texto parece indicar, não é esse o núcleo central... Aliás, a proclamação de Cristo
ressuscitado faz-se sobretudo e de modo solene na Vigília Pascal (celebração central,
praticamente “ignorada” no DocVP).
- DocVP 7: “A bênção das famílias, as boas festas e outros elementos têm de
ser expressão viva da mensagem pascal”. A afirmação em si mesma é correcta, mas
situar a bênção das famílias como um elemento mais e acessório, como o texto dá a
entender, é já muito discutível.
- Falta no DocVP a necessária articulação entre a celebração do Tríduo Pascal, e
especialmente da Vigília pascal, com as propostas apresentadas.
- O DocVP apresenta alguns pressupostos implícitos: os problemas relevantes
são os ministros (importa que a visita pascal possa ser feita por leigos), o “folar”
(importa que se desligue da visita pascal) e o sentido da visita pascal (é proclamar
a ressurreição e testemunhar a alegria pascal). Da leitura global do DocVP fico com
a impressão de que estes são os verdadeiros e únicos problemas a resolver. Ora,
quanto ao último dos três pressupostos, não posso partilhar da orientação defendida;
o segundo parece-me secundário; o primeiro, depende claramente da opção que se
112 | LEIRIA-FÁTIMA • 34 |
Reflexões
tomar em relação ao terceiro, e não pode ser definido por si mesmo.
- É fundamental tomar uma opção de fundo: tendo presente o que foi a visita
pascal, o modo como é entendida pelos documentos actuais, mas também os novos
desafios pastorais, é necessário definir o que se pretende: 1. uma continuidade de
sentido, ou 2. um novo sentido (um testemunho alegre de Cristo ressuscitado). Se a
opção for a segunda, então são necessários outros textos rituais, que não os do CB,
outras práticas, que não a aspersão.
- Uma das questões mais evidentes é a dos ministros; seria necessário apresentar
vários modelos rituais, consoante o ministro seja leigo ou ministro ordenado (a
celebração do CB 68-89 só servirá para ministros ordenados; a bênção que pode ser
celebrada por um ministro leigo –CB 42-67 – não tem sentido explicitamente pascal,
pelo que seria necessário que o Bispo aprovasse um ou mais modelos celebrativos
próprios para essa situação).
- O documento final deveria, na minha opinião, começar com uma referência
à celebração das festas pascais e sua importância fundamental, como introdução
geral ao tema; seguir-se-iam as breves notas sobre a origem e evolução histórica;
os documentos litúrgicos recentes e a visita pascal; os problemas pastorais que a
actual situação levanta (carência de clero, interpretações incorrectas do sentido desta
prática, etc.); por fim, as opções ou sugestões para uma prática renovada.
Coimbra, 12 de Janeiro de 2004
P. Carlos Cabecinhas
NOTAS
1
Liber Sacramentorum Romanae Aeclesiae Ordinis Anni Circuli (Sacramentarium Gelasianum),
ed. L.C. Mohlberg – L. Eizenhöfer – P. Siffrin, Roma 19813: LXXII Oratio intrantibus in
domo sive benedictio (1544-1547); LXXV Benedictio aquae spargendae in domo (1556);
LXXVI Item alia (1557-1562). A fórmula 1558 tem como título: Item ad consparsum faciendum. Não seria esta a origem do termo português “Compasso”?
2
Cf. Geraldo J. A. COELHO DIAS, «Origem medieval do Compasso -Visita Pascal. A bênção
das casas», Lusitania Sacra -2ª Série 4 (1992) 83-98, aqui 90-92 e 96-97.
3
Entre outros, cf. A. COELHO, Curso de Liturgia Romana 1, Nova edição revista e actualizada por J. P. Carvalho, Mosteiro de Singeverga, Negrelos 1941, 722; J. A. M. GIGANTE,
Instituições de Direito Canónico 1. Das normas gerais e pessoas, Braga 1948, 354-355; J.
A. M. GIGANTE, Instituições de Direito Canónico 2. Das coisas, Braga 1947, 151-152.
4
Constituições do Bispado de Leiria Promulgadas por S. Ex.ª Rev.ª o Senhor D. José Alves
Correia da Silva, Bispo de Leiria, Leiria 1943, 13 [Título V – Dos Párocos, § 43]
5
A “Edição Típica” latina é de 1984. A edição oficial portuguesa é de 1991.
6
Aliás, já antes, no novo Código de Direito Canónico, de 1983, tinha desaparecido a referência
à visita pascal de entre os deveres do pároco: cf. c. 529-530.
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Reflexões
7
CONGREGAÇÃO DO CULTO DIVINO, «Carta sobre a preparação e a celebração das festas
pascais», in Enquirídio dos Documentos da Reforma Litúrgica, SNL, Fátima 1998, 3215.
8
CONGREGAZIONE PER IL CULTO DIVINO E LA DISCIPLINA DEI SACRAMENTI,
Direttorio su pietà populare e liturgia. Principi e orientamenti, Roma 2002, 128 [a edição
italiana foi a edição original; em Português, pode consultar-se uma das várias edições existentes, por exemplo: Directório sobre a piedade popular e a Liturgia. Princípios e orientações,
Paulinas, Lisboa 2003, 120].
BIBLIOGRAFIA
- Origem e evolução histórica da visita pascal:
CID Luiz Alberto, Codigo dos Parochos nas suas funções – ritos – ceremonias, Porto 1909,
266.
COELHO António, «A Visita Pascal», Opus Dei 1 (1926) 163-166.
COELHO António, Curso de Liturgia Romana 1, Nova edição revista e actualizada por J. P.
Carvalho, Mosteiro de Singeverga, Negrelos 1941, 722.
COELHO DIAS Geraldo J. A., «Compasso – Visita Pascal: Renovação na transformação»,
Ora & Labora 27 (1971) 102-121.
COELHO DIAS Geraldo J. A., «Origem medieval do Compasso – Visita Pascal. A bênção das casas», Lusitania Sacra – 2ª Série 4 (1992) 83-98 [é o estudo mais completo e importante].
GIGANTE José António M., Instituições de Direito Canónico 1. Das normas gerais e pessoas,
Braga 1948, 354-355.
GIGANTE José António M., Instituições de Direito Canónico 2. Das coisas, Braga 1947,
151-152.
- Documentos episcopais de várias dioceses:
LEIRIA: Constituições do Bispado de Leiria Promulgadas por S. Ex.ª Rev.ª o Senhor D. José
Alves Correia da Silva, Bispo de Leiria, Leiria 1943, 13 (Titulo V – Dos Párocos, § 43].
VISEU: “A caminho da Páscoa... Visita Pascal”, Nota Pastoral de D. José Pedro da Silva
(23.4.1982), Jornal da Beira de 25.4.1982.
AVEIRO: Visita Pascal. Nota Pastoral, D. Manuel de Almeida Trindade (s.d.).
BRAGA: “Visita Pascal” - nota da Vigararia Episcopal para a Doutrina da Fé, Diário do Minho
de 10.03.1988. Orientações para a celebração da Páscoa, D. Jorge F. Ortiga (4.1.2004)
114 | LEIRIA-FÁTIMA • 34 |
História
“O ano do trigo sujo”: as rendas do Mosteiro de Santa
Cruz de Coimbra no Priorado de Leiria nas vésperas da
criação do Bispado (1541-1545).
Por Saul António Gomes
| 34 • LEIRIA-FÁTIMA | 115
História
“O ano do trigo sujo”: as rendas do Mosteiro de Santa
Cruz de Coimbra no Priorado de Leiria nas vésperas da
criação do Bispado (1541-1545).
1 — Os acontecimentos locais que precederam a criação do Bispado de Leiria, pela
Bula Pro excellenti apostolicae sedis, outorgada pelo papa Paulo III, são pouco conhecidos
dos historiadores. Sabemos que D. João III procurou reformular a cartografia diocesana
continental portuguesa logo que, em 1532, faleceu o Arcebispo de Braga, D. Diogo de Sousa.
Seria, no entanto, alguns anos mais tarde que tal desiderato se revelou exequível. Em 1543,
na verdade, vacante o priorado-mor de Santa Cruz de Coimbra e encontrando-se sem titulares
as sedes episcopais de Braga, pelo falecimento do seu titular, o Infante D. Duarte, e a de
Coimbra, com a morte, ocorrida a 24 de Julho desse ano, de D. Jorge de Almeida, o Soberano
encontrou a oportunidade para dar execução aos seus intentos em matéria de política religiosa
diocesana.
Logo em 27 de Novembro de 1543, remetia instruções ao embaixador português na Santa
Sé, D. Baltazar de Faria, sobre o assunto. Entre elas, Leiria tornava-se o tema fundamental
em matéria de reforma. Leiria era considerada vila notável e com termo adequado ao
estabelecimento de um novo bispado em Portugal. O Rei conhecia bem, na verdade, a
relevância social e a capacidade económica do Priorado de Leiria que o tornavam num
pólo privilegiado para a assunção de uma nova vocação institucional eclesiástica, a de sede
episcopal1.
2 — O conjunto de documentos, cuja publicação agora se oferece, permite lançar uma
nova luz sobre as circunstâncias que rodearam e anteciparam a criação oficial do Bispado
de Leiria. Trata-se de uma edição selectiva de apenas alguns textos por nós coligidos e
reproduzidos na Torre do Tombo, no ano de 1984, todos eles provenientes do conhecido e
riquíssimo fundo vulgarmente designado por Corpo Cronológico. Circunstâncias várias não
nos permitiram editá-los anteriormente, nomeadamente aquando das comemorações dos 450
anos da criação da Diocese, celebradas, como se sabe, em 19952.
Datados de entre 1541 e 1546, os diplomas em causa revelam a situação, especialmente
económica, do Priorado de Leiria nas vésperas da respectiva elevação ao estatuto diocesano.
Pelo Documento nº 1, de 4 de Julho de 1518, temos conhecimento de que o Mosteiro de Santa
Cruz de Coimbra recolhia em Leiria rendas no valor de 690 mil reais3. Seguia-se-lhe, em
importância, o Priorado de Arronches, no Alentejo, com 435 mil reais, após o que se afirmava
o curato do Louriçal, com 150 mil reais. O ano económico de S. João de 1517 a igual dia de
1518, deveria render, segundo a previsão do rendeiro principal dessas rendas, Álvaro Leitão, 3
230 000 reais, de que se estimava conseguir, por razões diversas, mas especialmente atribuídas
à incúria dos porteiros das rendas da Canónica, recolher apenas 1 955 000 reais.
Trata-se de valores bastante consideráveis para aquele tempo. Por esses anos, o Mosteiro
sofria obras de grande dimensão, deparando-se com a necessidade ingente de obter receitas
para as poder pagar, para além das sempre elevadas despesas correntes que a comunidade dos
Cónegos exigia.
116 | LEIRIA-FÁTIMA • 34 |
História
O diploma é um bom indicativo e permite localizar o lugar de Leiria, em 1517-18, na
escala de rendimentos do Mosteiro de Santa Cruz, em cujo seio representava cerca de 21,36%
das rendas percebidas pelo claustro conimbricense.
A arrematação das rendas da “massa” do “Priostado” de Leiria, no ano económico de
1541-42, será fixada em um conto e quarenta e cinco mil reais. Com custos e ordinárias, esse
valor subia aos 1 233 726 reais. [Documento nº 8].
3 — Na década de 1540, a cobrança das rendas do Priorado crúzio de Leiria constituía
motivo de licitação pública. Era, de facto, no quadro de uma iniciativa de risco, assumida por
alguns oligarcas locais, que se solucionava o problema da recolha dessas rendas. Em 1542,
por exemplo, [Documentos nºs 4 e 5] Diogo Leitão, almoxarife das rendas do Mosteiro de
Santa Cruz em Leiria e seus termos, arremataria, pelo valor global de 200 mil reais, o direito
da cobrança das rendas da mesa prioral crúzia em Leiria, as quais representavam duas terças
partes do total.
Pelos diplomas em referência, sabemos que Diogo Leitão era filho de Álvaro Leitão, já
falecido em 1542 — talvez o rendeiro de que nos fala o Documento nº 1, de 1518 — e de
Catarina Mendes4. Para garantia do contrato, Diogo Leitão teve de hipotecar propriedades
suas e de alguns fiadores que o abonaram. As casas de sua mãe, por exemplo, situadas junto às
Alcaçarias, nas imediações da Rua “que vay pera Sam Francisco”, sobradadas e com quintais,
bem como uma almuinha nas Olhalvas e umas casas térreas na Rua dos Banhos (hoje Rua de
D. Dinis), encontravam-se entre esses bens. Dos seus fiadores, como Francisco Anes, morador
no Arrabalde da Ponte, consignaram-se uns assentamentos de casas com quintais e edifícios
térreos localizados, justamente, no Arrabalde da Ponte. Para além disso, acrescentava-se-lhes
uma vinha e pomar do sítio do Vidigal e duas geiras de pão na Várzea do Vidigal, tudo no
valor estimado de 120 mil reais.
A rectificação desta fiança (Documento nº 2), lavrada nas casas de Sebastião do Quintal,
escrivão da Câmara de Leiria, revela que foram, ainda, arrolados cautelarmente outros bens,
nomeadamente do menor Gonçalo Negrão, de Diogo Castanho, de Silvestre de Sousa,
mercador, e, sobremodo, do clérigo Gaspar Antunes, beneficiado em Nossa Senhora da Pena,
do mercador Diogo Luís e do mencionado escrivão camarário, Sebastião do Quintal.
As casas deste escrivão, por exemplo, consistiam em dois sobrados, avaliadas em 150 mil
reais. Possuía, também, uma terra de pão, à Ponte do Arco, junto à vila, avaliada em 40 mil
reais, para além de direitos sobre contratos de locação. Já o mercador Diogo Luís, hipotecou o
contrato que trazia sobre uma cerrada situada na Lameira, no Arrabalde da Ponte, propriedade
da Gafaria de Santo André e, ainda, um outro foro, em Vale Boco (Valoco), no mesmo
Arrabalde, umas casas de um sobrado, situadas em frente da igreja de Santiago e, finalmente,
outras casas, no Terreiro, também de um sobrado (Documento nº 5).
4 — Uma outra terça parte das rendas crúzias em Leiria, as do Cabido local, do ano
económico de 1541-1542, foi licitada pelo Licenciado Simão Barbosa. Deve-se ao infortúnio
deste leiriense o volume mais significativo de informação histórico-documental que nos chega
acerca do Priorado de Leiria nesses anos iniciais de 1540.
O Licenciado Simão Barbosa, diplomado pela Universidade de Salamanca, era filho de
Mestre Fernando, tabelião do judicial em Leiria (ofício que resultava do apadrinhamento que
encontrara, outrora, em Mestre Manuel, físico do Cardeal Infante), contando um irmão e seis
irmãs (Documento nº 2).
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História
É, aliás, possível que Simão Barbosa fosse irmão de um tal Jorge Barbosa, cristão novo,
livreiro, arrendatário, entre 1518 e 1529, de umas casas do Mosteiro da Batalha situadas
na antiga Judiaria da cidade5. Será, igualmente, de aceitar que muitas das dificuldades e
inimizades públicas experimentadas pelo Dr. Simão Barbosa, como veremos, derivem
justamente desta possível condição de cristão-novo e das tensões no relacionamento entre a
comunidade cristã-nova leiriense e a oligarquia local dos cristãos-velhos6.
Em 19 de Março de 1541, em súplica dirigida ao Rei, torna-se claro que o contrato que
licitara fora ruinoso. A “logea” onde recolhera o pão cobrado, sofrera uma inundação e perderase muito cereal. Esse, contudo, não era o maior dos problemas. A quebra do rendimento
esperado ficava a dever-se, sobretudo, à acentuada baixa do preço do trigo e de outros cereais
como o centeio, a cevada e o milho, bem como, ao facto de as colheitas terem sido infestadas
de joio e ervilhaca. A venda do trigo, por parte do Dr. Simão Barbosa, revelou-se um péssimo
negócio. Não o conseguia vender sem ser joeirado e, nas joeiras, perdia-se entre 1/4 e um 1/3 do
volume de pão percebido no celeiro crúzio de que ele era rendeiro nesse momento.
Se Simão Barbosa se promovera em tal negócio, isso devia-se, em parte, pelo seu
estatuto de letrado e de homem honrado na vila. Ele e seu pai. Tal condição impunha aos
seus detentores a obrigação da assunção do desempenho ou protagonismo, numa sociedade
de Antigo Regime profundamente marcada pelas noções de autoridade e de honra, de onde
derivava a diferenciação de estatuto social, desse tipo de actividades económicas de risco. Por
elas, aliás, salvaguardava-se o equilíbrio social e garantia-se a continuidade das estruturas de
mando e governação que permitiam o controle de toda a sociedade. Por tais circunstâncias,
Simão Barbosa dizia ao Rei que o contrato que fizera fora motivado “por serviço de Vossa
Alteza sendo letrado” [Documento nº 6].
A aflitiva insolvência em que caíra Simão Barbosa, numa dívida avaliada em 200 756 reais
[Documento nº 3], para pagamento de uma renda total estimada em 380 000 reais [Documento
nº 8], obrigara-o mesmo a amorar-se com temor de ser preso. O anátema social e criminal
estendeu-se aos seus familiares de sangue e atingiu, friamente, todos os seus fiadores. O
património imóvel e móvel de Simão Barbosa foi executado e vendido. Não escapou mesmo
a roupa de cama, o seu cavalo e a sua estimada “livraria”, constituída por livros de Direito.
Por graça real, apenas sobejava um ofício público, outorgado a seu pai, Mestre Fernando, com
condição de servir, por mercê real, de dote para casamento de uma das filhas.
Simão Barbosa, em insistentes petições dirigidas a D. João III, alude à inimizade que
lhe demonstravam alguns oficiais públicos leirienses. Entre eles, cita como seus públicos e
capitais inimigos ao almoxarife da Comarca, Álvaro Botelho (“ho quall pella dicta imizade
ho avexa e a seus fiadores indevidamente a seus fiadores com ho quall nom pode nem espera
allcançar justiça por nom ter superior na tera”), e outros oficiais públicos actuantes na vila,
como Diogo Leitão, almoxarife, que “ho quis premder em ferros temdo fianças contra forma
do regimento.” [Documento nº 6].
A crer na exposição do Dr. Simão Barbosa, os preços por que vendera o alqueire de trigo,
nessas difíceis circunstâncias, perante uma concorrência da oferta de trigo oriunda “do mar”,
de Alcobaça e da Ega (Pombal), afluente a Leiria em condições de mercado mais favoráveis,
foram bastante baixos. O trigo rondou o preço médio de 50 reais o alqueire, enquanto o
centeio atingia os 30 reais, o milho e a cevada os 20 e menos reais. [Documento nº 3].
Perante a insistência do lesado, D. João III ordena ao corregedor da Comarca de Leiria,
118 | LEIRIA-FÁTIMA • 34 |
História
o Licenciado Afonso da Costa, em conjunto com o Vigário do Priorado e, também, o
mencionado Álvaro Botelho, almoxarife, que procedessem a deligências e se informassem,
com particular cuidado, do assunto. O inquérito, no entanto, revelou-se bastante desfavorável
às pretensões do Licdº Simão Barbosa, obrigando-o, com algum desespero, a apelar e interpor
recurso [Documento nº 8].
A “massa das rendas” de Santa Cruz de Coimbra em Leiria, para 1541-42, foi avaliada
em 1 045 000 reais, preço por que fora arrematada por Simão Barbosa. [Documento nº 8]. Da
entrega de parcelas, para abatimento desse valor, dá Simão Barbosa um pormenorizado rol de
itens, nos quais expõe as verbas percebidas e dispendidas e, sobremodo, sublinha as perdas
não cobráveis, mormente as do “pão fiado”.
Para comprovação dos preços a que se vira forçado a vender “o pão”, Simão Barbosa
convocará um conjunto de testemunhas que faz inquirir, depois de jurados aos Santos
Evangelhos. Todos os depoentes confirmam o preço “barato” por que o trigo e demais cereais
foram vendidos na Leiria desse ano de 1541-1542.
Homem Rodrigues, barbeiro, depôs que “ho alqueire de tryguo vallera ho dyto anno de
bc quorenta e dous em esta vylla .scilicet. ho do celeiro a muitos preços que fora a sesenta e a
setenta reais ho allqueyre, e que pasada ha Pascoa do dyto anno vallera ho alqueyre do tryguo
nesta vylla a cynquoenta reais”7 [Documento nº 8].
O ano fora, efectivamente, muito mau quanto à qualidade dos cereais produzidos.
Ano mau, “ano do trigo sujo”, como é referido por algumas das testemunhas que assim o
referenciam e evidenciam na memória social local.
Muitas outras testemunhas, como Isabel Fernandes, mulher de Diogo Gil, sapateiro, e
moleira, naquele tempo, nos Moinhos do Rossio, Manuel Vaz, tecelão de peças, morador
no Moinho do Rossio, Filipa Pires, mulher de Manuel Vaz, moleiro do Moinho do Rossio,
Pêro de Vargas, mercador, Gaspar Antunes, clérigo de missa e outras testemunhas mais,
que reconstituem, pela força de personagens de uma história que se mostra individual e dá
voz precisa aos leirienses do passado, um quadro social impressivo da vida em Leiria nesse
momento, confirmam estes valores. [Documentos nºs 8 e 9].
Em 5 de Junho de 1545, Simão Barbosa apresenta um novo processo, no qual recapitula
todos os seus débitos e haveres, aí integrando, como homem confiante nas letras e nos
documentos, cópias autenticadas de declarações acerca das fianças e dos preços do pão
praticados no Priorado nesse ano de 1541-42. [Documento nº 9]. Aí se insere nova inquirição
de testemunhas, aprovada, em 26 de Fevereiro de 1544, pelo juiz do cível de Leiria, o
cidadão e Licenciado Francisco Carreiro. Os tempos parecem revelar-se mais favoráveis
à luta desenvolvida por Simão Barbosa desde 1541. O facto deste continuar a apresentar
requerimentos perante a Corte, não pode deixar de indiciar que, como homem de Leis,
Simão Barbosa sabia esgrimir e lutar pelo reconhecimento dos seus interesses legítimos,
documentando e provando a sua causa.
Em 21 de Janeiro de 1546, o Corregedor da Comarca, Licenciado Afonso Costa, com
o Vigário da vila, D. Diogo Dias, e Álvaro Botelho, aceitariam os autos apresentados pelo
requerente e fá-los-iam remeter para decisão régia. Da dívida apurada, na ordem dos 300
mil reais, solicitava Simão Barbosa um justo perdão e a consequente quitação. Encerra-se,
neste ponto, contudo, a informação histórica até agora disponível sobre o caso do Dr. Simão
Barbosa. [Documento nº 10].
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História
5 — Da relação apresentada, colhida em documentação que circulou na Corte de D.
João III, resulta claro que os assuntos leirienses, em matéria de rendimentos eclesiásticos
do Priorado, interessavam particularmente ao Monarca. Não, naturalmente, por uma única
motivação, mormente aquela que derivava do facto de D. João III assumir, como matéria de
despacho privativo, assuntos relativos às comendas de seus parentes, em especial dos Infantes
apresentados na prelatura de Santa Cruz de Coimbra. Disso nos dá testemunho, por exemplo,
a folha ou pauta das rendas que o Prior-mor do Mosteiro de Santa Cruz colectava em Leiria,
datada de 22 de Novembro de 1544. Diploma maior para uma análise mais precisa do pulsar
financeiro e económico do território eclesiástico leirenense nesse ponto tão vespertino da
criação do Bispado. [Documento nº 10].
Só esse domínio preciso da realidade económica e social — bem traduzida já, refira-se, nos
censos populacionais de 1527 e 1537 pertinentes à Comarca de Leiria — justificava a opção
régia de entender suficiente a capacidade do Priorado de Leiria para prover a sustentação,
ainda que relativamente modesta, de uma novíssima unidade diocesana quinhentista autónoma
e reformada, como veio a ser a Diocese de Leiria.
Doc. 1
1518 JULHO, 4, Coimbra — Carta de Nicolau Leitão, dirigida a El-Rei, informando-o
acerca do dinheiro que fora recebido das rendas que o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra
tinha, bem como das medidas a tomar para que os porteiros do Mosteiro fossem mais
diligentes na cobrança das dívidas do mesmo.
TT — Corpo Cronológico, Parte 1ª, Mº 23, Doc. 72.
† Senhor.
Aos dous dias deste mes de Julho receby huã carta de Vossa Alteza em que me manda que
lhe faça saber quamto he ho dinheirro que tenho recebido do arremdamento das remdas de
Santa † deste anno presente que acaba por Sam Joham que agora passou. E asy o que tenho
por receber, e ho que tenho gastado e que tudo lhe logo espreva. Ao que digo Senhor que tenho
recebido do dicto anno ate oje iiijº dias do dicto mes bjc Lxxiijº— reais .scilicet. da terça de
Natall e Pascoa. E tenho por recadar das ditas duas terças ijc Lxxbiij— reais. E ey de recadar
desta terça de Sam Joham bjc Lj— reais. E ey de recadar pera Santa Maria de Setembro da
derradeira paga, e com alguãs penssois que se pagam por Sam Migell iijc Liij— reais. Porque
Vossa Alteza alargou as pagas aos rendeiros de hum [tan]to cada anno. E asy, Senhor, monta
no dinheiro que d[esse] anno tenho por recadar, hum conto e ijc Lxx…8j— reais, porque dos
iij contos ijc xxx— reais que he a soma do arrendamento, nam ey de recadar ho dicto anno
mais de hum conto ixc Lb— reais. E ho mais que he hum conto ijc xxxb— reais se recada nesta
maneyra .scilicet.
Em Leiria Alvaro Leytam per mandado de Vossa Alteza bjc LR— reais.
E em Arronches Frrancisco da Videira iiijc xxxb— reais.
E ho Louriçall de que Vossa Alteza fez merce a dom Anrriqe que emtra na masa do
arremdamento vall Cto L— reais pouco mais ou menos // [Fl. 1vº].
Item Senhor quanto aos bjc Lxxiij— reais que ho dito anno tenho recebidos tenho hos
gastados per mandados de Vossa Alteza nas obras que manda fazer no dicto Mosteiro, e nas
despesas ordenarias delle per mandados do Vedor como mais per ho meiudo se poder ver per
os dictos mandados e livros da receita e despessa do dicto Mosteiro.
120 | LEIRIA-FÁTIMA • 34 |
História
Item Senhor a caussa principall por que tenho tan[to] dinheirro por recadar he serem os
porteiros do dicto Mosteiro m[uito] nigrigentes e eu nam os poder apertar nem castigar, asy
[po]r nam ter poder pera isso como ho tinha do Bispo que Deus aja como por elles nam terem
a reçam que sohiam aver. A quall lhes eu tirava quamdo eram nigrigentes. E isto os fazia
servir beem. E agora Senhor tem somente tres mill reais cada hum por anno de mantimento
e se lhes ha de pagar na fym do anno. E se lhes digo que lhes nam pagaram, respondem me
que nam serviram.
Bejarey as mãaos a Vossa Alteza por me mandar dar algum remedio pera que eu posa
beem servir Vossa Alteza como despois acerqua [do] recadar destas remdas. Ho quall como
disse m[uito] principallmente esta em estes porteiros fazerem [as] enxecuçois nos beens dos
devedores que nam querem pagar com boom cuidado e diligemcia. E ao menos Senhor me
mande Vossa Alteza dar poder pera deste dinheirro que am d aver os apontar e lhes tirar aquella
parte delle que me parecer que merece sua negrigemcia e contumacia. E se isto nam abastar os
poder ssospender dos ofycios pello tempo que me beem parecer. E os dictos ofycios emtregar
ha outros que ho queiram beem fazer emquanto os outros estyverem // [Fl. 2] suspenssos. E
estes que eu asy poser ajam ho mantimento que os sospenssos neste tempo aviam d aver. E
apalparey se este remedio abasta e quamdo nam abastar emtam ho farey saber a Vossa Alteza
pera me mandar dar maneyra como estas remdas se possam beem arrecadar.
De Coinbra iiijº dias de Julho de 1518.
(Ass.)
† Nicolao Leitam.
[Sobrescrito]
A El Rey nosso senhor.
Doc. 2
1541 MARÇO, 19, Leiria — 1544 FEVEREIRO, 19, Almeirim — Informação [Doc. A]
de Álvaro Botelho Calheira, recebedor das rendas do Mosteiro de Santa Cruz no Priorado
de Leiria, acerca da situação deixada pela insolvência do pagamento em que incorrera o
Licenciado Simão Barbosa; carta [Doc. B] do Licenciado Simão Barbosa, não datada, mas
necessariamente do ano de 1543, solicitando ao rei a mercê de lhe perdoar parte da dívida
não ressarcida; traslado [Doc. C] a provisão régia, de 19 de Fevereiro de 1544, Almeirim,
pela qual se confirma a posse do ofício de tabelião do judicial a Mestre Fernando, pai de
Simão Barbosa, requerente.
TT — Corpo Cronológico, Parte 1ª, Mº 74, Doc. 67.
[Doc. A]
Senhor.
Huã carta me foy dada de Vosa Alteza com huã pitiçam que Simão Barbosa fez, pera que
senhor a veja e m’emfforme do que nella diz. He senhor verdade que elle foy ho ano pasado
remdeiro das remdas que diz e naa contia e preço que em sua pitiçam decrara, e como jaa
per outra carta tenho dado comta a Vosa Alteza nestas remdas rameiras ouve muita perda,
polla quebra que nesta tera ouve jerall no pão per causa da ferujem, mas como senhor são
remdas que se não harrecadam nem podem arrecadar por officiais com ho pão deste celeiro
da villa somente per lavradores que se em cada hum ano tomam que hacaretão hos dizimos
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História
sem esprivão somente com fee e per juramento que lhe he dado pello recebedor destas remdas,
não se pode ter outra certeza senão a de sua fee, do que senhor tomey emformaçam per
imquyriçam e prova que os rendeiros pellos ditos careteiros deram e per as pessoas que ao
medir e emtreguar dos ditos dizimos foram presemtes pella // [Fl. 1vº] quall acho aver este
Symão Barbosa de hum hefeito (?) que nas freguisias teve os trezentos e oitenta alqueires de
trigo e dozemtos e novemta e quatro de segunda, e da remda da mesa do prioll e portas das
igrejas em que teve hum quarto, ouve a sua parte coremta oyto allqueires de triguo e quinze
alqueires de segunda, e em dinheiro de foros tres mil setecentos cymcoenta reais e allem
de isto achar asy pello estromento e inquiriçam e certidões eu pellos propios carreteiros
e rendeiros do Bispo de Coimbra e cabido que nestas freguisias tem parte me emfformey
ao tempo que partiram, e isto senhor he o que ouve este Symão Barbosa nesta contia dos
Lxxbj— bc lxx reais que sobre elle carreguam. E do que senhor diz que recebeo perda pella
gramde chea d aguoa lhe emtrar na logea omde tinha o pãao, he asy y porque foy pubriquo, e
a taxa foy a Lxxx reais o trigo e a Rb e Lta a segumda, e ser Mestre Fernando seu pay e fiador
deste rendeiro pobre e ter seis filhas e dous filhos em casa, asy he senhor como diz, e por ser
fiador e primcipall pagador delle Symão Barbosa seu filho que não tem fazenda, eu ho tenho
penhorado, em sua fazenda e amda em preguam sem se ate ora achar quem na compre, por
causa da tera estar muito esterille como tenho esprito a Vosa Alteza. E semdo fazenda que
mais vall, damdo se pellos preços que se pode arrematar sera muy grande quebra, e sendo por
perda vista e elle Mestre Fernando com tamtas filhas e por fiamça do filho, e por estas rezoes
que diguo a Vosa Alteza e segundo a tera esta, seria serviço de Deus e de Vosa Alteza damdo
se tempo comvenyente pera que se podese pagar, sem aver allem da perda que ja houve na
renda, outra maior9 na // [Fl. 2] quebra de sua fazenda, a quall eu senhor traguo em todos os
dias que o regimento me manda, em preguam pera a arrematar se Vosa Alteza o contrairo não
ouver por seu serviço. Noso Senhor acrecente a vida e reall estado de Vosa Alteza per muytos
e lomguos anos. Esprita de Leiria xix dias de Março de 1541.
(Ass.)
Allvaro Botelho Calheira.
[Sobrescrito]
A el Rey noso sennhor.
[Doc. B]
Senhor.
Por aver sido remdeiro das remdas que ho priorado de Sancta Cruz de Coinbra tinha em
Leiria ho ano de corenta e hum que acabou em São Joam de 1542 annos que ao tall anno
pertensião ao senhor dom Duarte vosso filho que he em glloria, contando nellas perder mais
da metade do arremdamento pedi a Vossa Alteza quisese fazer merce de me quitar o resto que
devia porque me era vendida minha fazenda e que por nom bastar meus fiadores pagarão por
mim e contudo devia mais de cento e corenta mill reais a Vossa Alteza afora mais de cento
e cinquoenta que devia a partes das ordinarias, ou senão que ouvese por bem de mandar lhi
carta pera por ello citar ao seu procurador e me poer em direito com elle. E Vossa Alteza ouve
por bem de mandar fazer emformação do caso a quall se fez sem me ouvirem, pello que me
agravei dello e Vossa Alteza mandou que me ouvisem e tornasem a fazer ha conta a quall foi
feitã e por falleser o vigairo de Leiria e o corregedor ser da terra a que era cometida se nom
espreveo a carta da emformação que Vossa Alteza mandava. E portamto requerendo eu ora a
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História
Vossa Alteza despacho // [Fl. 3vº] mandou a Francisco de Seixas que esta fazendo execução
nestes restes que com ho juiz de fora de Leiria e com Allvaro Botelho tornasem a rever estes
autos destas duas dilligencias e tornasem a fazer outra com emformação do dito Allvaro
Botelho. Os quais a fezerão e nella outros e nom me ouvirão, mas antes o dicto Allvaro
Botelho por ser meu inimiguo capitall por carta de inimizade de Vossa Alteza nom soube outra
cousa com que perturbase minha justiça senão com dizer que Vossa Alteza quitara a meu pai.
E porque nom pareça que niso tem rezão per este allvara que aqui se juntã consta ho contrario
mas antes Vossa Alteza por huã fiança mandou vender a fazenda a meu pai e somente lhe fez
merce de se nom vemder hum oficio que tinha e que ficase pera casamento de huã filha o que
foi feito a elle per merce a requerimento do doctor Mestre Manoell fisiquo do Cardeall Ifante
vosso irmão por ho pedir a Rainha nossa senhora 10. E diso nom partecipei eu. E ja que elle
dizia isto devera se justificar se no anno de corenta e dous que acabou em corenta e tres que
era o anno de que se fez a tall merce se perdi se ganhei e o quinhão que na remda tive porque
se achara que o tall anno nom tinha mais que a terça parte da dita remda e que della pagarão
meus fiadores por mim bem duzentos mil reais asi por perder muito como por tirar della pera
paga muito do anno atras que he este de que se contemde.
E ja que metião hum ouverão de meter todos os annos de que foy remdeiro porque no
anno de trinta e nove que acabou em corenta teve hum pequeno quinhão de setenta e tantos
mill reais e perdi mais da metade como consta nesta carta e emformação que o mesmo Allvaro
Botelho // [Fl. 4] fez antes de me ser inimiguo como ora he o que fez per mandado de Vossa
Alteza por lhe eu pedir quita e esmolla da tal perda e por pertenser a fazenda do 11 Ifamte dom
Duarte vosso irmão que he em glloria, me remeterão a fazenda do Ifante por cujo respeito
paasey tudo perdendo e tenho quitaçam.
E tanbem o anno de corenta e acabou em corenta e hum tive a 4ª parte das ditas remdas em
que tambem perdi mais de cento mill reais e com perder paasey e tenho quitação. E asi senhor
que em todos os annos perdi e nunqua a mim nem a meus fiadores foi feita quita allguã e de
tudo somente devo este reste em que ha bem cinquo annos que requeiro nesta corte em que
tenho gastado o que nom tinha e portamto peço a Vossa Alteza aja misericordia comigo e aja
a tudo respeito e me faça merce e esmolla desto que devo como peço.
(Ass.)
O Licenciado Simão Barbosa.
[Fl. 5]
[Doc. C]
Eu el Rei mando a vos Allvaro Botelho recebedor das remdas que ho Mosteiro de Samta
Cruz de Coimbra tem na villa de Leiria que semdo feitã execução em toda a fazenda de
Mestre Fernando tabeliam do judiciall na dita villa por rezão da fiança de cento mill reais em
que ficou a Simão Barbosa seu filho remdeiro que foi das ditas remdas ho anno que começou
em São Joam de quinhentos e corenta e dous e acabou por São Joam de Riij annos ho nom
executeis no dito oficio de tabeliam posto que o tenha obrigado a dita fiança e eu tenha pasada
provisão pera se poder vemder e arrematar por ella porquamto eu lhe faço merce do dito oficio
pera a pessoa que casar com huã sua filha e semdo feitã a dita execução em toda sua fazenda
vos lhe pasareis certidão do preço por que foi arrematada e do que ainda ficar devendo pera
comprimento dos ditos cento mill reais e se fara mandado em forma pera vos ser levado em
conta e pera elle ser desobrigado da dita fiança e compri o asi posto que este nom seja passado
pella chancellaria. Pero Fernandes o fez em Allmeirim a xix dias de Fevereiro de 1544.
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História
Doc. 3
[1542, Leiria] — Petição feita pelo Licenciado Simão Barbosa a El-Rei a fim de que lhe
fossem tidas em conta as perdas que tivera do período em que fora rendeiro das rendas da
terça do Cabido do Priorado Crúzio de Leiria.
TT — Corpo Cronológico, Parte 3ª, Mº 15, Doc. 65
Obs.: Documento bastante delido e apagado na parte final.
† Diz ho Licenciado Simão Barbosa que elle ho anno que começou em São Joam de 1541
e acabou em São Joam de 1542 arrendou as remdas do priorado de Samta Cruz de Coimbra na
villa de Leiria em masa as quais ho dicto anno pertencião ao senhor dom Duarte vosso filho
que he em glloria e esto em hum conto e cento e cinquoenta mill reais em sallvo em sallvo12
pera o Perlado e avia de pagar todos os custos della e as rendas rameiras avião de ser tomadas
em pagamento delle suplicante e os ditos custos vallerão o dito ano ijc— bijc Lbj reais afora xx—
reais que lhe levarão por se arrecadar o pão fiado e afora xxx— que pagou de sisa montando
se muita mais sisa, os quais custos juntos aos da cima chegarão os custos sabidos afora outros
muitos a duzentos e setenta e dous mill bijc Lbj reais e juntos aos do principall custava o sabido
da dicta renda hum conto e iijc xbij— bijc Lbj reais e descarregados bc xix— ijc xb reais per que
as rendas das rameiras forão arrendadas pello allmoxarife, ficou a elle suplicante o cileiro da
villa em biijc— reais porque todas as mais rendas rameiras se arrendarão como consta em estes
instrumentos que se acostão, e no dicto cileiro ouve o dito anno sesenta e oito moios de trigo
e de centeo xxb moios e de milho e cevada Lb moios 2º consta per esta certidão do livro do
Priostado que he liquida e verdadeira a quall se acosta. Ho quall preço valleo o dicto anno na
dicta villa mui barato asi por abaixar muito com ho muito do mar que veio como por ser muito
çujo e cheo de joio. Pello que se nom podia vender sem se jueirar e jueirado lhe quebrava a
quarta parte e mais e asi o vendia a Lta reais e a menos e o centeo a xxx reais e o milho e cevada
a xx reais e menos como consta do instrumento que se acosta. Pello que e por ser muito pouco
pão o dicto anno o dicto cileiro nom valleo iijc lxxx— reais e portanto perdeo elle suplicante a
dicta renda bem iiijc xx— reais no sabido afora outros muitos custos e despesas que tem que se
nom contam pello que foi emganado em mais da metade do justo preço. E portanto pella tall
perda lhe foi vendida sua fazenda toda vendendo lhe ate a cama e cavallo e licença de direitos
e por sua fazenda nom bastar a tamanha perda seus fiadores são penhorados pella deminuição
e se faz execução em sua fazendas e portanto semdo o dicto senhor vivo elle suplicante se
socorreo a Vossa Alteza pedindo lhe esmolla e merce de que fez pitição na quall Vossa Alteza
mandou, que fazese conto da perda e por em este meo tempo subceder o fallecimento do dicto
senhor e as cortes e elle suplicante andar amorado por respeito dos ditos fiadores por pagarem
ja por elle suplicante de suas fianças o nom pode requerer ate ora pello que ora tirou seus
estrumentos e certidões a costados pera o fazer certo o que dicto he. E pedindo a pitição que
delle fez que tinha o despachou a Gabriel de Figueiroa se nom acha, pede a Vossa Alteza que
avendo respeito ao que dicto he aja por bem de lhe quitar e fazer merce e esmolla de cento
lxx— reais que de todos os dictos iiijc xx— reais de perda podera ser e que mande que por ello
seus fiadores nom sejão executados pois ja se pago muita parte de suas fianças e pois a elle
suplicante he vendida toda sua fazenda como consta em a certidão acostada, e a mais perda
tem suprido de seu dinheiro que pouco antes avia recebido e com parte de …. Nom avendo asi
por seu serviço lhe … licença … em direito ordinariamente com Vossa Alteza … vender …
124 | LEIRIA-FÁTIMA • 34 |
História
que lhe faça merce que entretanto seus fiadores … pello reste de suas fianças …. avera elle
suplicante nom poder … que ser por descargo dall senhor dom Duarte que …
[Doc. B]
… corregedor de Leirea juntamente com o vigairo e Alvaro Botelho se … do que o
sopricante diz nesta petição e da perda que … anno em [que foi ren]deiro e da contia per que
teve <esta>13 renda a …[rendada]. E do …go dela e do que fica devendo . E o que …[acharem.
Escrevendo a Vossa] Alteza muyto declaradamente com … seu por … que o sopricante
requere, e por dous … sobre …[penho]rados clxx— reais que diz ficar [devendo] …principal
como dos fiadores. Em [xij d Agosto] …
(Ass.)
Y. Monteiro. — Falcam.
Doc. 4
1542 DEZEMBRO, 13, Leiria — Pública-forma sobre a fiança que deu Diogo Leitão dos
dois terços das rendas que tinha, no Priorado de Leiria, da mesa prelacial do Mosteiro de
Santa Cruz de Coimbra.
TT — Corpo Cronológico, Parte 2ª, Mº 238, Doc. 33.
Obs.: Documento lacerado na margem superior direita.
Saybam quamtos este estromento de fiam[ça vi]rem como no anno do nacymento de
Noso [Senhor Jhesu] Christo de myll e quynhemtos e cor[enta e] dous annos aos treze dias
do mes de [Dezembro] do dito anno em esta notavell vylla de [Leiria] nas pousadas de
Catarina Mendez dona vy[uva] molher de Alvaro Leytão que Samta G[loria] aja estando hy
a ditã Catarina Mendez … e outrosy Francisco Anes Cortes e sua molher Ana Ferrnandez
moradores no Arraballde da Ponte desta vylla e outrosy Dyogo Leytão almoxarife das remdas
<do Mosteiro> de Samta Cruz de Coimbra que tem nesta vylla de Leyria e seus termos que
pertemcem ao senhor dom Duarte fylho del rey noso senhor arcebyspo da cidade de Bragua
primas das Espanhas e prior mõor do dito Mosteyro e loguo pello ditõ Diogo Leytam fuy
dito que a elle era ora necesayro de dar fiança pera o recebymento das dytas remdas .scilicet.
do anno que se começou por dia de Sam Joam Bautysta de quynhentos e coremta e huum e
se acabou per outro tall dia de Sam Joam do anno presente de myll e quynhemtos e coremta
e dous annos pera o quall elle apresemtava por seus fyadores em contya de dozemtos myll
reais // [Fl. 1vº] [os dytos] Catarina Mendez sua may e ao dito Francisco [Anes] e sua molher
os quais diseram perante … sprivam e testemunhas ao dyante espritas que … fyavam como
de feyto loguo fyaram ao dito [Diogo] Leytão pera o recebymento do dito anno nos [ditos]
duzemtos myll reais .scilicet. a dita Catarina Mendez cem myll reais e o dito Francisco Anes
e sua molher em outros cem myll reais pera ha quall fyança diseram que obriguavam como
de feyto loguo obriguaram todos seus bens moves e de raiz avydos e por aver em especial
ipotequaram os bens de raiz seguintes .scilicet. ha dita Catarina Mendez huns asentamentos
de casas com seus quyntais e as dytas casas sam sobradadas asy como partem com casas
com Joam Marquez e da outra parte com as Alcaçarias e com rua pubriqua que vay pera Sam
Francisco e da outra parte com rua que vay pera o Ryo e Alcaçarias. E da mais a dita fyança huã
| 34 • LEIRIA-FÁTIMA | 125
História
almoynha que esta nas Olhalvas que parte com a Granja do Comtador e com Joham Namaro
e dá outras casas tereas que estam na Rua dos Banhos que partem com Dyogo Pirez çapateiro
e da outra com Francysquo Ferrnandez carpinteiro. E o dito Francisco Anes e sua molher
ipotyquavam os beens seguyntes .scilicet. huns asemtamemtos <de casas> em que vyve com
seus // [Fl. 2] quyntais e casas tereas que partem de huã [parte] com casas de Vicente Anes e da
outra parte [com quin]tall da mesa do Pryor que tras Alv[aro] … e com rua pubryqua e da mais
outras [casas] tereas que estam na mesma rua que p[artem de] huã parte com casas de Pedre
Anes Malho [e da] outra com travesa que vay pera o Moinho … mais duas geyras de tera que
elles tem na Byca do Campo. E da mays a dyta fyança huã cerada de vynha e pomar que elles
tem no Vydyguall que parte com Joam Nunez tabeliam e com Dioguo Lõpez Sea. E da mais
mais [sic] duas geyras de tera de pão que esta na Varzea do Vydyguall que parte com Dioguo
Ferrnandez da Praça e da outra com herdeyros de Ruy Caldeyra que todo valya mays de cemto
e vymte myll reais. Os quais beens aquy nomeados e decrarados os sobresditos [sic] fyadores
dyseram que davam ha dita fyamça por lyvres e desobrygados sem serem obrigados a outra
obryguaçam somente a esta que ora obrigaram e lhes hapraziam e como de feyto aprouve que
nom pagando o dito Diogo Leytam almoxarife ho recebymemto do dito ano aquy decrarado
e todo ho que do dito anno sobre elle carreguar aos tempos que for obrygado // [Fl. 2vº] …
asy vagando pola fazenda do dito almo[xarife] … caso que todo ho que demenoir e … tall
ate contya dos ditos dozemtos … reais em que ho asy fyavam se aja e … d aver pelos beens
aquy nomeados ipotequa[vam] … e por todos outros seus bens moves e de [ra]iz e pera yso
obryguaram como dito he dyzendo ha dita Catarina Mendez que por ho dito Diogo Leytam ser
seu fylho e pera ser por sua omra e ofycyo que tynha ella fazia a dita fyamça como dito he e
pera ello arrenuciava ha ley de vallyaçom e todalas outras leys e direitos e pomto de direitos e
opynyoes de doutores e todalas ordenações do Reyno que em favor das viuvas e molheres sam
outorgadas e comcedidas que de todas e cada huã delas nom queria usar nem gozar somente
que em todo se compryse esta fyamça como nella se comtem e dyse mays ha dita Catarina
Mendez e o dito Francisco Anes e sua molher que a elles aprazia de serem emxucatados
pelos ofycyais do dito senhor dom Duarte e perante elles respomderem per quallquer cousa
e duvydas que tocarem a esta fyança e enxucação della e pera ello arrenuncyavam todollos
juizes de seus feytos de quaisquer prevelegios aimda que sejam em direito comcedydos e de
quallquer nome e calydade que // [Fl. 3] seja sem embarguo dos quais queryam … perante os
ditos ofycyães do dito senhor e se[rem] enxucatados como dito he e em fee e … mandaram e
outorgaram ser feyto este estro[mento de] fyamça nesta nota e dela dar huum estro[mento ao]
dyto senhor e seus ofycyaes a quall eu es[privam] … pesoa pubryqua istypolante e aceytante
[em] nome dos sobreditos ha quem a dita fy[ança] pertemce receber por serem ausemtes a dita
fyamça a aceytey e istipuley na quall ho dy[to] almoxarife e fyadores asynaram e asy a dyta
Catarina Mendez asynou per sua mãao por saber asy[nar] e a dytã Ana Ferrnandes rougou a
Sebastyam do Quyntall esprivam da ditã vylla que asynase por ella por ella nam saber asynar
e asynou. Testemunhas que foram presentes Belchyor Vyeyra alcayde na dita villa e Gaspar
Vyeyra moradores na dita villa e Arrabalde e eu Francisco Caçapo esprivam das ditas ditas
[sic] rendas que o esprevy. Nam duvyde as amtrelynhas que dizem do Mosteiro de casas e ho
coregydo que dis de Dezembro porque tudo se fez por verdade.
126 | LEIRIA-FÁTIMA • 34 |
História
Doc. 5
1542 DEZEMBRO, 16, Leiria — Pública-forma sobre a rectificação da fiança que Diogo
Leitão, almoxarife das rendas de Santa Cruz de Coimbra em Leiria, dera da cobrança de duas
terças partes das mesmas, pertencentes ao Prior-mor de Santa Cruz, o Infante D. Duarte.
TT — Corpo Cronológico, Parte 2ª, Mº 238, Doc. 34.
Obs.: Documento lacerado no canto superior direito.
Saybam quantos este estromento v[yrem] … [a]bonaçam e retyfycaçam vyrem como no
[ano do na]cymento de Noso Senhor Jhesuu Christo de myll [quynhen]tos e coremta e dous
annos aos dezaseys [dias] de Dezembro do dito anno em esta villa de Leiria [nas] pousadas
de Bastyam do Quyntall esprivam da cama[ra da di]ta vylla em presemça de mym esprivam
e das t[estemunhas] ao dyante espritas pareceo Dyoguo Leytam almoxarife das rendas do
Mosteiro de Samta Cruz que tem nesta vylla de Leiria e seus termos e pertemcem ao senhor
dom Duarte fylho del Rey noso senhor e eleyto arcebispo e senhor da cydade de Braga primas
das Espanhas e prior moor do dyto Mosteiro ct. E loguo por elle almoxarife foy dito que era
verdade que elle tynha feyto huã fyamça e dado fyadores pera o recebymento do anno pasado
que se acabou por Sam Joham do presemte anno de myll e quynhemtos e coremta e dous annos
e esto em comtya de quenhemtos mill reais e bem asy tynha dados abonadores a elles segundo
mylhor nella se comtem e que antre hos outros fyadores que o fyaram foram Catarina Memdez
may delle almoxarife ha quall o fyara em cem myll e bem asy Gaspar Amtunez cleriguo de
mysa e benefycyado em Nosa Senhora da Pena desta vylla em outros cem myll reais e que
pera mais firmeza e segurança da fazenda do dito senhor e per nom aver duvyda alguã na ditã
fyamça por a dyta Catarina Mendez // [Fl. 1vº] … molher e o dito Gaspar Antunez ser … que
elle apresemtava por seus fyadores … obrigar a Bastyam do Quyntall esprivam da [camara]
desta vylla e a Dyoguo Luis mercador moradores [na di]ta vylla que presemtes estavam hos
quais [diss]eram que a elles lhes aprazia e como de feyto lo[gu]o aprouve que sendo caso que
a dita fyamça a dyta Catarina Mendez e do dyto Gaspar Antunez nom sejam valyosas nem
obrigatoryas per dereyto que em tall caso se obrigam na dita comtia dos ditos dozemtos myll
reais e o fyavam nelles ao dito almoxarife como a dita Catarina Mendez e Gaspar Antunez o
fyaram e lhes aprazia como de feyto loguo aprouve que semdo caso que ha sua fazenda delle
almoxarife se nam achar ho que ho dito senhor dever que em tall caso lhes aprazia a ambos
como de feyto aprouve que a demenuyçaam se aja por suas fazemdas delles Bastyam do
Quymtall e de Dyoguo Luis e pera yso obrigaram ate a contya dos ditos dozemtos myll reais
.scilicet. cem myll cada huum pera o que obrigaram aputyquaram os beens e peças seguyntes
.scilicet. o ditõ Bastiam do Quyntall obrigou e aputyquou a dita fyança huuns asemtamentos
de casas em que elle vyve que sam de dous sobrados que valem cento e cynquoenta myll reais
e asy huã erdade e tera de pãao que elle tem a Pomte do Arquo aprez desta vylla que parte
com a Machada e com Joam Fernandez pecheleiro morador nesta vylla que vall coremta myll
reais e asy da mays duas teras de prazo da mesa do Prior que se paga em cada huum anno
seyscemtos e cynquoenta reais que lhe custaram de compra trimta myll reais e huum meio
casall que he prazo da mesa do Byspo de Coimbra que // [Fl. 2] esta na Golpelheyra termo
desta vy[lla]. … quynze myll reais de que paga de foro dozen[ntos] reais e o dito Dyoguo
Luis aputyquou a dita [fyança] huã cerada que elle [ha] no Arraballde da Pon[te onde] chama
a Lameyra toda çarada sobresy que he [da] Gafaria desta vylla que se paga em cada huum
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História
[anno] novecentos e sesenta reais de foro e asy huã … que elle tem onde se chama Vall Boquo
que p[arte] com Jorge Leytam da Pomte. E asy dou mais a dita fyança huãs casas sobredadas
de huum sobrado que elle tem no Arrabalde da Ponte defromte da igreja de Samtyago que he
foreyra ao Prior e Cabydo que se paga della em cada huum anno cento e cynquoenta reais e
huum frango. E hasy huãs casas que elle tem nesta vylla que estam onde se chama o Tereyro e
sam sobradadas de huum sobrado que partem com Bertolameu Ferrnandez dambas as partes.
E outrosy obrygaram todos os seus beens moveis e de rãiz avydos e por aver que pera ello
iputyquaram e obrigaram e bem asy dise mais o dito almoxarife que elle dera por abonadores
as ditas fyanças a Diogo Castanho e a Sylvestre de Sousa mercador hos quais abonaram as
ditas fyanças em hos ditos quynhemtos myll reais e por ora se duvidar da parte e abonaçam em
que abonara o dito Gomçalo Negram a dita fyança por o dito Gomçalo Negram ser solteyro e
se duvydar de sua idade que portanto pera mor abastança em lugar do dito Gomçalo Negram
apresemtava por seu abonador a Fernande Anes Alanquar mercador morador nesta // [Fl.
2vº] [villa que pres]ente estava que dise que a elle lhe [aprazia co]mo de feyto aprouve que
achando se … abonaçam do dito Gomçalo Negram nam … [con]forme de dereyto por ser
menor de vynte e cynquo [anos] que então em seu lugar abona as ditas [fya]nças e lhe aprazia
como de feyto aprouve 8aue] toda a demenuyçaam que se achar e faltar pera o pagamento do
dito senhor e sua fazenda que se nom achar pela fazenda do dito almoxarife e dos fyadores
que então toda a demenuição se aja pola fazenda delle abonador e dos outros .scilicet. Dyogo
Castanho e Sylvestre de Sousa asy como se ouvera per Gomçalo Negram outrosy abonador se
reallmente fora obrigado per dereyto pera o que obrigou sua fazemda moves e de rãiz avydos
e por aver e os ditos fyadores dyseram que davam todos os beens aqui nomeados por livres
desembargados foros e isemtos somemte os ditos prazos que pagam ho dyto foro sem os
terem obrygados a outra dyvyda nem obrigaçam somemtes a esta fyamça e abonaçam que ora
obrygaram e por de todo lhes aprazer a todos como de feyto aprouve de serem enxucatados
pellos ofycyaes do dito senhor e estarem por suas semtemças e comprirem seus mandados
nem se poderem // [Fl. 3] chamar a juizo de seu foro nem … pervelegio nem liberdade porque
tudo am .. e avyam por arrenuciado e lhes apraz con … e da maneyra que dito tynham se comp
… asy outrogaram e retyfyquaram e … e retyfyquaram e abonaram como dito he q[ue] …
ho outorgaram e em fee e testemunho de verdade mandaram dello e de todos ser feyto este
estromento de fyança e abonaçam nesta nota e della dar huum estromemto ao ditõ senhor e
seus offycyais pera sua guarda e por o dyto senhor e seus ofycyais a esto nam serem presentes
eu esprivam em seus nomes istipuley, aceytey como pesoa pubryqua istipulante aceytamte
esta fyamça e abonaçam na quall ho dito almoxarife e fyadores e testemunhas asynaram.
Testemunhas que foram presemtes Domyngos d Antas e Nuno Gonçalvez fylho de Bastyam
do Quyntall e eu Francisco Caçapo esprivam das ditas rendas que ho esprevy.
Doc. 6
1543 SETEMBRO, 12, Leiria — Petição feita pelo Licenciado Simão Barbosa acerca das
rendas de Santa Cruz de Coimbra em Leiria, das quais fora rendeiro no ano de 1542, e em
cuja arrematação tivera grandes prejuízos.
TT — Corpo Cronológico, Parte 2ª, Mº 238, Doc. 130.
128 | LEIRIA-FÁTIMA • 34 |
História
Senhor.
Diz ho lesemseado Simão Barbosa morador em a villa de Leiria que por serviço de Vossa
Alteza semdo letrado lamçou nas remdas que ho priorado de Santa Cruz tem na dita villa que
pertencem a dom Duarte vosso filho, os annos de corenta que acabou em San Joam de 1541
he o seguinte de corenta e dous. E no anno primeiro perdeo muito e perde e pagou todo o que
devia de que tem quitação e nõ segundo anno de 1542 foi tamanha a perda com as taixas e
com ser s’o pão muito çujo e ho joeyrar que nom pode acabar de pagar por perder ho dicto
anno bem duzentos e cimquoenta mill reais e mais, e contudo tem pago muita parte da dicta
perda, asi per dinheiro como com lhe ser por ella vemdida sua fazenda toda, per Diogo Leitão
allmoxarife das ditas remdas que recebeo os dictos dous annos, e ora faz execução em seus
fiadores, pella demasia, e bem asi lançou nas dictas rendas ho anno pasado que acabou em
São Joam do presente anno de 1543 e ho presente que acaba em São Joam de 1544, no quall
anno passado outrosi perdeo, e perante elle suplicante e o dicto Diogo Leitão allmoxarife
aver duvidas ho quis premder em ferros temdo fianças contra forma do regimento, pello que
lhe conveo amorar se e amda amorado no que se perde por nom arrecadar nem pagar o anno
passado de corenta e tres, nem he seu serviço, Pede a Vossa Alteza que avendo respeito a
sempre nas dictas rendas perder e lhe ser vemdida sua fazenda por ello, e a acrescentar nas
ditas rendas os dictos annos bem seiscentos mill reais, por estarem abatidas, e com perda ter
pago o primeiro anno, aja por bem de lhe esperar ate o fym do arrendamento deste anno que
acaba em São Joam de 1544, por ora neste derradeiro anno se esperar aver ganho por a tera
estar bõa e aver muito pão com ho quall ganho podera ter remedio com que neste meo tempo
page Vossa Alteza e bem formara si quantas conforme ao regymento, a quall espera lhe seja
feita pello que liquydamente dever ate contia de duzentos mill reais feitã a carta, e pagara logo
com es[s] dinheiro ho anno pasado de corenta e tres.
E porque ora Vossa Alteza proveo de receber deste anno de corenta e tres e ate o dicto
Diogo Leitão dar sua conta, a hum Allvaro Botelho, morador na dicta villa, ho quall he
emyguo capitall delle suplicante de que ouve huã carta de imizade de Vossa Alteza e de sua
jeração, ho quall pella dicta imizade ho avexa e a seus fiadores indevidamente a seus fiadores
com ho quall nom pode nem espera allcançar justiça por nom ter superior na tera, aja por
bem avendo respeito a tudo que ho corregedor da comarqua que he o que lhe arenda as dictas
rendas lhe faça justiça e lhe tome sua conta e correga quaisquer agravos que lhes tenha feitos
e ao diante fezer asi a elles como a seus fiadores asi do anno passado como do presente de de
[sic] corenta e tres que acaba em corenta e quatro por elles terem a dicta renda sobre si pera
que ho ganho seja delle suplicante e esto dando apellação e agravo.
E outrosi porquanto antre o dicto Diogo Leitão allmoxarife e elle suplicante ha duvydas
e descontos e outras diferencias, de que nom pode aver justiça por nom ter superior na tera
como se dizerem contador, e bem asi agravos. Outrosi aja por bem que ho mesmo corregedor
lhe faça justiça e os ouça e correga quaisquer duvydas e agravos que antre elles ouver e aja
avydo, damdo apellação e agravo.
E tambem aja por bem avendo respeito aos dictos serviços que nas dictas rendas lhe fez
e a ser lecenciado graduado per Sallamanqua e aver seis annos que procura no Reyno e a ser
pessoa homrrada que achando se per dirreito que deve ser preso ho seja conforme a callydade
de sua pessoa por de dirreito ter privyllegio de cavaleiro no que recebera merce.
14
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História
Doc. 7
1544 NOVEMBRO, 22, [Leiria] — Folha das rendas que o Prior-mor do Mosteiro de
Santa Cruz de Coimbra percebia em Leiria.
TT — Corpo Cronológico, Parte 2ª, Mº 239, Doc. 72.
Folha das rendas que ho Moesteiro de Samta Cruz de Coinbra tem nesta villa se começou
por dia de Sam Joham deste presente anno de quinhentos corenta e quatro por ramos como ao
diamte vay decrarado e as pagas em que os rendeiros sam obrygados pagar .scilicet. ho primeiro
paga por dia de São Joham este primeiro que vyra do anno vyndouro de quynhentos corenta e
cymquo annos e o segundo paga por dia de Nossa Senhor de Setembro do anno .scilicet.
Pellas ofertas do Esprito Samto que foram arrendadas [a] Allvaro Estevez em dous mil
duzemtos afora custas cada hum anno por tres anos de que vem ao Senhor Perlado da metade
das ditãs ofertas mill e cem reais_____ j— cento.
E pellas ofertas de Nosa Senhora dos Amjos foram arrendadas a Manuell Vãaz em
quatrocemtos vymte reais e sua parte de custas cada hum anno por tres annos // [Fl. 1vº] de
que tem ho Perlado ha metade duzentos e dez reais ___ ijc x reais.
E pellos dous terços que tem ho Senhor Prellado no dizimo do pez que foy arrendado [a]
Allvaro Diaz em mill quatrocemtos reais de que tem o Prellado dos dous terços por o outro
terço ser do Cabido novecemtos trymta e tres reais quatro seitis hafora custas ___ ixc xxxiij
reais iiijº seitis.
E ao de maiis com ofertas das irmidas de São Paullo d Amor e Sam Sabastyam e Sam Mygell em
seiscentos reais fora custas he metade pertemce ao Senhor Prellado trezentos reais ___ iijc reais.
E das ofertas de Nosa Senhora da Gayolla que foram arrendadas [a] Antonio Rodriguez
por seyscemtos reais fora custas que he a metade do Prellado trezentos reais ___ iijc reais.
E das duas terças do dizymo das meuças da fregesya d Espyte do termo desta vylla que
pertencem ao Prellado e a outra terça he do Bispo fycam arrendadas a Gonçalo Estevez em
vymte mill reais afora custas ___ xx— reais. // [Fl. 2]
E das ofertas da irmida de Samto Amtam foram arrendadas a Johão Pinheiro em satemta
reais afora custas ho Prellado ha metade trymta cimquo reais ___ xxxb reais.
E das meuças da perna de Ciroll que pertencem ao Prellado por repartyção com ho Cabido
forão arrendadas a Gaspar Diãz em sete mill reais e custas em cada hum anno ___ bij— reais.
E da mesa do Pryor arrendada ha Johão Vyeira em vimte cimquo myll quinhentos reais em
cada hum anno por tres annos e custas ___ xxb— bc reais.
E das portas das igreyas e iuneversarrios forão arrendadas ao dito Joham Vyeira em treze
myl quinhentos reais e custas ___ xiij— bc reais.
E das meuças da Frexeda que pertencem ao Senhor prellado por repartyçam com ho
Cabydo foram arrendadas a Jorge Bras por doze mil [reais] e custas em cada huum annos [sic]
por tres annos ___ xiij— iijc reais.
E as meuças da perna da [sic] // [Fl. 2vº] de Carvide foram arrendadas a Johão Piriz por
vinte e hum mill e cem reais afora custas as quaes pertencem ao Prellado por repartição com
ho Cabido ___ xxj— cento.
E as meuças da perna da Marynha que pertecem ao prellado por repartição com ho cabydo
forão arrendadas a Mestre Francisco e a seu parceiro por vimte mill afora custas e esto cada
hum anno ___ xx— reais.
E os dizymos do sall e titullo arrendados a Antonio Rodriguez por mil novecentos reais
130 | LEIRIA-FÁTIMA • 34 |
História
cada anno e sam parte de custas de que tem o Prellado das terças que sam myll duzentos
sesemta e seys reais quatro seitys ___ j— ijc lxbj reais iiijº seitis.
E as meuças da fregesya das Collmeas arrendadas a Bertollameu Ferrnandez em dezasete
mill e quinhentos reais cada hum anno e custas .scilicet. os das terças que pertecem ao
prellado ___ xbij— bc reais.
E os dizimos do pão da fregessia das Collmeas ao dito Bertollameu Ferrnandez os das
terças que pertecem ao Senhor Prellado em trymta e dous myll e quinhentos reais em cada
hum anno e custas ___ xxxij— bc reais.
E as meuças desta vylla que pertecem // [Fl. 3] ao Senhor Prellado por repartyção com ho
Cabydo foram arrendadas ao dito Bertollameu Ferrnandez em tres myll quinhentos reais afora
custas em cada hum anno ___ iij— bc reais.
E a elle mays foram arrendados a elle e a seu parceiro os dizimo[s] do pão da fregesya de
Soyto os dous terços que pertencem ao Prellado em corenta myl reais e custas em cada hum
anno ___ R— reais.
E as ofertas de Nossa Senhora da Conceyção das Bramcas arrendadas a Mateus
Ferrnandez em duzentos hoytenta reais em cada hum anno e custas tem ho prellado ha metade
___ Cento R reais.
E as ofertas das irmydas da
sam [sic] arrendadas a Francisco Cardoso em myll
quinhentos reais e custas de [que] vem ho Prellado da metade quinhentos cimquoenta reais
___ bc L reais.
E as ofertas de Samta Catarina d Azoya arrendadas a Francisco Annes por setecemtos e
vymte reais cada anno e custas vem ao Prellado da metade trezentos sasemta reais ___ iijc lx
reais. // [Fl. 3vº]
E as mejoheyras das Paredes arrendadas a Francisco Luis por hoitocemtos e cimquoenta
reais em cada hum anos [sic] e mays custas vem ao Prellado dos dous terços quinhentos
sasemta seis reais quatro seitis ___ bc lxbj reais iiij seitis.
E as ofertas de Jehsu da Golpylheira foram arrendadas a Lyanor Velha por cimquoenta
reais que vem ao Prellado da metade vymte cimquo reais e custas ___ xxb reais.
E as ofertas de Sam Bertollameu foram arrendadas a Bras Amrryquez por cemto sasenta
reais e custas de que vem ao Prellado da metade afora custas hoytenta reais ___ lxxx reais.
E as ofertas de Santo Antonio foram harrendadas a Frey Luis por doze myl reais sem
custas de que vem ao Prellado da metade seis myll reais ___ bj— reais.
E as meuças da perna da Regeyra de Pomtes arrendadas a Gaspar Cyeyra e a seu parceiro
em vymte dous myll quinhentos reais que pertencem ao Prellado por repartyção com ho
cabydo ___ xxij— bc reais. // [Fl. 4]
E pellas ofertas de Sam Berliam d Alcanada foram arrendadas a Pedr’Eanes em duzemtos
reais e custas e vem ao Prelado ha metade ___ Cento.
E a perna e remda de Paias15 he rendada Alvaro Pirez e a seu parceiro em doze myll reais
e custas e pertence ao Prellado dos dous terços hoyto mill reais ___ biij— reais.
E das meuças da fregesya do Souto as duas terças que pertencem ao Prelado a Bertolameu
Ferrnandez e a seu parceyro, em quatorze myll reais e custas ___ xiiij— reais.
E das meuças da fregesya de Vermoill arrendadas a Johão de Coinbra .scilicet. as duas
terças que pertencem ao Prellado em doze mill e <bc> reais e custas em doze myll quinhentos
reais ___ xij— bc reais.
E das meuças da freguisya de Sam Symão as duas terças que pertemcem ao Senhor
Prellado ao dito Johão de Coinbra em dez myll <bc > reais e custas em dez myll quinhentos
| 34 • LEIRIA-FÁTIMA | 131
História
___ x— bc reais. // [Fl. 4vº]
E das ofertas de Sam Pedro de Moel arrendadas a Mendo Pirez em myll seyscemtos reais
e custas vem ao Prellado ha metade ___ biijc reais.
E pellos dizymos do pão da fregesya do Souto arrendados a Dyogo Lopez e a seus
parceiros em corenta e hum mill reais e custas .scilicet. os dous terços que pertencem ao
Prellado ___ Rj— reais.
E os dizemos do pão da fregesya de Sam Symão arrendados hao dito Diogo Lõpez e a seus
parceiros os dous terços que pertencem ao dito Prellado em dezanove myll e quinhentos reais
e custas ___ xix— bc reais.
E os dizymos do pão da fregesya de Vermoill os dous terços que pertemcem ao dito
Prellado arremdados ao ditõ Diogo Lõpez e a seus parseiros em trimta e dous mill quinhentos
reais e custas em cada hum anno ___ xxxij— bc reais.
E a redizyma dos moinhos arrendada a Gaspar Rodriguez por tres annos em cada hum ano
doze myl hoytocemtos reais e custas que vem dos dous terços que pertemcem ao Prellado ___
biij bc xxx reais ij seitis. // [Fl. 5]
E pello dizymo do sall arrendado ao dito Bertollameu Ferrnandez os dous terços que
pertencem ao dito Prellado em dous mill reais e custas por este anno somente ___ ij— reais.
E o celerynho de legumez arrematado a Joham Rodriguez em quatro mill reais sem custas
çomente pagou ha ordenarya Antonio Velho pryoste do Prellado .scilicet. os dous terços que
pertemcem ao dito Prellado per este anno somente ___ iiij— reais.
E os dizimos dos vynhos do termo desta vylla foram arrendados por pernas a pesoas
decraradas nos arrendamentos, em vymte cimquo mil trezentos reais e ham de pagar mays sua
parte de custas ___ xxb— iiijc reais.
E os dizimos dos vinhos d Adegua desta vylla valleram dez myll trezemtos coremta reais
afora as custas ordenadas que se della pagaram aos oficiaes ___ x— iijc R reais.
E os azeites por hy não aver novidade se nam arrendaram e allguã cousa que hahy ouver
se faz ja harrecadação. // [Fl. 5vº]
E quanto ao seleyro desta vylla do pão que nam arrendou se tyrou ora e partyo com ho
Cabydo de que som feitos autos por que se mostra aver no dito seleyro ho pão seguinte pera o
dito Prellado pagos os careteiros de seu careto a tres allqeyres por moio .scilicet.
De trigo aos dous terços do Prellado ao todo tem no dito seleiro noventa e dous moios
e vymte allqeyres de sasemta e quatro alqueires ho moio segundo costume do partyr do dito
seleiro ___ LRij moios xx allqueires.
Do quall trygo se ha de pagar as hordenaryas que se pagam em trygo.
E de semteo se mostra aver no ditõ seleiro aos dous terços do Prellado vymte e cimquo
moios e tres quarteiros da medida acima ___ xxb moios iij quarteiros.
E de cevada ouve pera ho ditõ Prellado vymte cimquo moios e meo ao todo pella medida
acima ___ xxb moios e meo. // [Fl. 6]
E de milho ouve no dito seleiro aos dous terços do Prellado vymte e sete moios e tres
quarteyros e nove allqueires ___ xxbij moios iij quarteiros ix allqueires.
O quall pão todo foy medydo e repartydo por sesemta e quatro alqueires ho moio.
Ha quall folha eu Frrancisco Caçapo esprivam do almoxarifado das ditas rendas fyz e
comcertey com ho livro dos arrendamentos pella maneira hatras decrarada e asyney, oje vymte
e dous dyas do mes de Novembro, do anno de myll e quinhentos corenta e quatro annos.
(Ass.)
Francysco Caçapo.
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História
Doc. 8
1545 ABRIL, 15, Leiria — Auto da diligência efectuada por ordem de D. João III acerca
das rendas do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra no seu Priorado de Leiria.
TT — Corpo Cronológico, Parte 2ª, Mº 240, Doc. 20
† Tresllado de hum auto que ho Licenciado Afonso da Costa corregedor da comarqua da
vylla de Leiria mandou fazer sobre huã delygencua que fez por mandado del Rey noso senhor
sobre ho Licenciado Symão Barbosa rendeiro que foy das rendas do Mosteiro de Santa Cruz
nesta vylla.
Anno do nascimento de Noso Senhor Jhesu Christo de myll e quynhentos e quorenta e
cynquo annos aos quynze dyas do mes d Abrill do dytõ anno em a vylla de Leiria nas pousadas
do Licenciado Afonso da Costa corregedor e provedor com alçada por el Rey noso senhor em
ha comarqua e correyçam da dyta vylla ct. Estando elle corregedor ahy por ell foy dytõ a mym
esprivam abaxo nomeado como avya jaa dyas que elle tynha em seu poder huã carta del Rey
noso sennhor esprita em as costas de huã petyçam que ho Licenciado Symão Barbosa morador
nesta vyla fezera ao dyto senhor pera se fazer huã delygencya sobre as rendas // [Fl. 1vº] que
pertencem ao Mosteiro de Sancta Cruz de Coimbra nesta vylla de que ho dytõ Licenciado forra
rendeiro, ha quall delygencya elle corregedor tynha jaa feyta e mandava a mym esprivam que
dello fezese este auto e aquy acostase ha dytã carta, e ho dytõ Licenciado fose requerydo pera
vyr perante elle corregedor pera lhe fazer certas perguntas necesarias porquanto sem ellas elle
corregedor nom podya satysfazer ao que lhe sua alteza mandava, ha quall delygencya elle
corregedor fezera com ho vygairo, desta vylla e com Alvaro Botelho almoxarife que ora he
das dytãs rendas como se na dytã carta contynha ha quall eu esprivam acostey a este auto e he
a seguynte. Antonyo Ferreyra esprivam da correyçam que ho esprevi.
Trelado da petyçam.
Dyz ho Licenciado Symão Barbosa que elle ho anno que começou em Sam Joham de
j— bc e quorenta e hum e acabou em outro tall dia do anno de j— bc e quorenta e dous arrendou
as rendas que ho priorado de Santa Cruz de Coymbra tem na vylla de Leiria em masa has
quaes ho dytõ anno pertencem ao senhor // [Fl. 2] dom Duarte voso filho que he em gloria e
esto em hum conto e quorenta e cynquo myll reais em salvo pera o prelado e avya de paguar
todos hos custos della e as rendas rameyras avyam de ser tomadas em paguamento a elle
sopricante e todos hos dytos custos vallyam ho dytõ anno duzentos e dous myll setecentos e
cynquoenta e seys reais afforra vynte myll reais que lhe levaram por se arrecadar ho pão fyado
e afforra trynta myll que pagou de sisa montando se muito mays sysa hos quaes custos juntos
aos de cyma chegaram hos custos sabydos afora outros muitos a duzentos e setenta e dous
myll setecentos cynquoenta e seys reais e junto aos do princypall custava ho sabydo da dytã
renda hum conto e trezentos dezasete myll setecentos cynquoenta dygo cynquoenta e seys
reais e descarregados quynhentos e dezanove myll duzentos e quynze reais por que as rendas
rameyras forram arrendadas pello almoxaryfe fycou a elle sopricante ho celeiro da dytã vylla
em oytocentos myll rreais porque todas as mays rendas rameyras se arrendaram como consta
em estes instrumentos que se acostão, e no dytõ celeiro ouve ho dytõ anno sesenta e oyto moyos
moyos [sic] de tryguo e de centeo quynze moyos e de mylho e cevada cynquoenta e synquo
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História
moyos segundo consta por esta certydam do lyvro do costado que he lydema e verdadeyra que
se … ho que tall pam valeo ho dyto // [Fl. 2vº] anno na dytã vylla muy barato asy por abayxar
muito com ho muito do maar que veyo como por ser muito çujo e cheo de joyo, pello que se
nom podya vender sem se jueyrar e jueyrado lhe quebrava ha quarta parte e mays e asy ho
vendya a cynquoenta reais e a menos e ho centeo a trynta reais e ho mylho e cevada a vynte
reais e menos como consta do instrumento que se acosta pello que e por ser muito pouco pam
ho dytõ anno ho dytõ celeiro nom valleo tresentos e oytenta myll reais e portanto perdeo elle
sopricante na dytã remda bem quatrocentos myll reais no sabydo afforra outros muitos custos
e despesas que tem que se nom contam pello que foy enganado em mays de metade do justo
preço e portanto pella tall perda lhe foy vendyda sua fazenda toda vendendo lhe ate ha cama
e cavallo e lyvros de direitos e por sua fazenda nom bastar a tamanha perda seus fyadores
sam penhorados pella demynuyçam e se faz execuçam em suas fazendas e portanto sendo ho
dyto senhor vyvo elle supricante se socorreo a Vosa Alteza pedyndo lhe esmolla e merce de
que fez petyçam e vosa alteza mandou que fezese certo da perda, e porem este mesmo tempo
subceder ho falecymento do dytõ senhor e as cortes, e elle supricante andar amorado por // [Fl.
3] respeyto dos dytos fyadores por paguarem jaa por elle sopricante parte de suas fyanças ho
nom pode requerer ate ora pollo que ora tyrou seus estormentos e certydões acostados por que
faz certo ho que dytõ he e pedyndo ha petyçam que dello fez que tynha ho despacho a Gaspar
de Fygeiroa, se nom ache, pede a Vosa alteza que avendo respeyto ao que dytõ he aja por bem
de lhe quytar e fazer merce e esmolla de cento e setenta myll reais que de todos hos dytos
quatrocentos e vynte myll reais de perda podera dever, e mande que por ello seus fyadores
nom sejam executados poys jaa tem paguo muita parte de suas fyanças e poys a ello sopricante
he vendyda toda sua fazenda como consta em huã certydam acostada porque a mays perda
tem soprido com seu dote que pouco antes avya recebido, e com parte das fazendas de seus
fyadores como jaa dyz e nom ho avendo asy por seu serviço lhe faça merce de lhe dar lycença
pera se poer em dyreito ordynariamente com Vosa Alteza sobre o que dytõ he e porque he
peryculum in more lhe faça que entretanto seus fyadores nom sejam executados pelo resto de
suas fyanças poys ha fazenda esta por elles segura, porque doutra maneira elle sopricante nom
pode vyver porque loguo que receber merce e esmola o que sera descargo da alma do senhor
dom Duarte que he em sancta glorya. // [Fl. 3vº]
Trelado da provysam del Rey noso senhor.
Corregedor mando vos que juntamente com ho vygayro da vylla de Leiria e Alvaro
Botelho vos enformeys do que ho Licenciado Symão Barbosa dyz na petyçam atras esprita e
da perda que ouve ho anno que foy rendeiro e da contya por que teve esta renda arrendada
e do que tem paguo della e do que fyca devendo e ho que achardes me esprevereys muyto
declaradamente com voso parecer acerqua do que ho dytõ Symão Barbosa requere, e ey por
bem que por tempo de dous meses que se começaram da feytura deste em dyante se sobre
este na execuçam dos cento e setenta myll reais que dyz fycar devendo asy na fazenda do
princypall como dos fyadores, comprio asy, em Evora a quatorze dyas do mes de Novembro.
Antonio Ferraz o fez de j— bc e quorenta e quatro.
Pera o corregedor da comarqua de Leiria.
E acostada asy ha dytã carta a este auto como dytõ he ho dytõ corregedor mandou aquy
contynoar hindo …. que tynha feyta com hos dytos vigairo e Alvaro Botelho e he a seguinte,
Antonio Freyre esprivam que ho esprevi. // [Fl. 4]
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História
Item primeiramente acharam que foy a arrematada ha masa das rendas do Mosteiro de
Santa Cruz de Coimbra que tem nesta vylla de Leiria ho anno de j— bc e quorenta e hum annos
e se acabou por dya de Sam Joam de bc e quorenta e dous annos, ao Licenciado Symão Barbosa
em hum conto e quorenta e cynquo myll reais em paz e em salvo pera o prior moor, e ho dytõ
rendeiro he obrygado a paguar todos hos custos e ordynarias com condyçam que lhe avyam
de levar em pagamento has rendas rameyras no que se por ellas achase d arrendamento_____
huum conto Rb— reais.
Item mostra se vallerem hos custos e ordynarias que carregam sobre ho dytõ rendeiro,
porque hos mays custos paguam sempre as freguesyas cento e oytenta e oyto myll setecentos e
vynte e seys reais que fazem em soma o que custou a dita renda____ hum conto ijc xxxiij— bijc
xxbj reais. // [Fl. 4vº]
Item mostra se vallerem has rendas rameyras com sua parte dos custos que lhe am de ser
descontados quinhentos e dezanove myll e duzentos e quinze reais___ bc xix— ijc xb reais.
Os quaes descontados da dytã soma fycam lyquydos que carregam sobre ho dytõ rendeiro
setecentos e quatorze myll e quinhentos e onze reais___ bijc xiiij— bc x rreais.
Item pera os quaes se mostra fazer hos pagamentos seguyntes.
Item Item [sic] primeyramente se mostra paguar em dynheyro que fez de pam que vendeo
fyado trezentos e dous myll e seyscentos e sesenta digo e sesenta e cynquo reais.___ iijc ij— bjc
lxb reais.
Item E mays onze myll e novecentos e setenta e cynquo reais, dos quatro moyos de
tryguo de Domingos (?) Frade que nom entram nas ordynarias por ser merce novamente feyta
despoys do arrendamento.___ xj— ixc lxx e b reais. // [Fl. 5]
Item mostra se paguar mays ho dytõ rendeiro a Diogo Leytam allmoxaryfe por duas
adyções trynta e dous myll reais, e começou ho dytõ rendeiro a fazer hos primeiros pagamentos
de cynquo dias do mes d Abryll de bc e quorenta e tres annos por dyante. ___ xxxij— reais.
Item mostra se paguar mays ho dytõ rendeyro por seus fyadores quorenta e dous myll e
quatorze reais .scilicet. nove myll e duzentos reais que pagou Pero Alvarez Repelgas, e trynta
e quatro myll e oytocentos e quatorze reais que pagou Joam Vicente. ___ Riiij— xiiijº reais.
Que fazem em soma hos dytõs paguamentos trezentos e noventa e seys myll e cynquoenta
e quatro reais. ___ iijc lRbj— liiijº reais.
Os quaes tyrados do que carregua sobre ho dytõ rendeiro fycam lyquidos trezentos e tres
myll [sic] oytocentos e cynquoenta e sete reais. ___ iijc xxiij— biijc lbij reais. // [Fl. 5vº]
Item mostra se render ho celeiro segundo consta pollo lyvro do Priostado cento e vynte e
sete moyos e tres quarteyros de todo ho pam .scilicet. de tryguo sesenta e oyto moyos. E de
segunda centeo cevada e mylho cynquoenta e nove moyos e tres quarteyros.
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História
E mostra se por ho lyvro das obrygações do pam fyado, vender se fyado, de triguo trynta
moyos e cymquoenta e tres alqueyres. E de segunda quynze moyos e vynte e sete alqueyres.
O quall pam foy vendydo, ho tryguo a oytenta reais ho alqueyre, e sua parte de sysa. E a
segunda e ho centeo a cynquoenta reais ho alqueyre, e mylho e cevada a quorenta e cynquo
reais ho alqueyre e sua parte de sysa. No quall pam segundo se mostra por ho dytõ lyvro se
fez em dinheirro ao todo cento e noventa e nove myll e quinhentos e oytenta e quatro reais
que entram nos trezentos e dous myll seyscentos sesenta e cynquo reais que pagou de pam
fyado. // [Fl. 6]
E ho mays declarou ho dito rendeiro que fezera doutro pam que dera tambem fyado
pera paguamento da dytã renda por que fez comprimento dos dytõs trezentos e dous myll
seyscentos e sesemta e cynquo reais.
E fyquão pera pagamento dos dytõs tresentos e vynte e tres myll e oytocentos cynquoenta
e sete reais.
Item de tryguo trynta e oyto moyos e cynquoenta e tres alqueyres.
Item de segunda quorenta e quatro moyos e dezoyto alqueyres.
O quall pam ho dytõ rendeiro declarou que vendera a muytos preços e por ser muito çujo
forra joeyrado no que quebrara ha quarta parte. E asy por vyr muito pam de forra vendera a
mayor parte a cynquoenta e cynquo reais ho alqueyre e a cynquoenta reais ho tryguo, e ho
centeo // [Fl. 6vº] a trynta e cynquo reais ho alqueyre e a vynte e sete reais. Segundo mostrou
por hum estormento e fez certo por alguãs testemunhas de maneyra que se nom pode tomar
certa determynaçam sobre ho preço do dytõ pam por nom aver dyso recadaçam alguã. Dyz
por alguã determinaçam por verdade.
Item dyse mays hos dytõ rendeiro que dera ao almoxaryfe Diogo Leytam por lhe arrecadar
ho pam fyado vynte myll reais.
Item E asy que paguase mays de sysa do dytõ pam vynte e quatro myll reais.
Requerendo que lhe fosem levados em conta o que tudo ho corregedor mandou a mym
esprivam que esprevese asy e ho asynou com ho padre vygairo e com Alvaro Botelho com
quem fez ha dytã delygencia. Antonio Freyre esprivam da correiçam que ho esprevy.
E vendydos hos trynta e oyto moyos de tryguo a tres myll e seyscentos reais ho moyo que
he ho meyo que pareceo // [Fl. 7] que se deve de tomar e dymynuyçam da vallya do tryguo
por sobrevir muito aa terra como prova ho dytõ rendeiro monta no dytõ tryguo cento e trynta
myll novecentos e oytenta reais___ Ctº xxx— ixc lxxx reais.
E a segunda vendyda a dous myll reais ho moyo huã por outra que parece ser ho preço
razoado pella rezam sobredytã monta nos quorenta e quatro moyos e dezoyto alqueyres
oytenta e oyto myll e quynhentos e quorenta reais___ lxxxbiij— bc R reais.
Que fazem em soma ho que ho dytõ rendeiro podya fazer no reste do pam do celeiro
duzentos e dezanove myll e quinhentos e vynte reais. ___ ijc xix— bc xx reais.
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História
Os quães tyrados dos trezentos e vynte e tres myll e oytocentos cynquoenta e sete reais
que carregam sobre ho dytõ rendeyro, fycam lyquydos cento e quatro myll e trezentos e trynta
e sete reais.
E juntando lhe hos quorenta e quatro myll e quatorze reais que paguaram hos // [Fl. 7vº]
fyadores do dyto rendeiro por elle ficam (que parece perder segundo esta conta e papeys por
onde foy tomada) cento e quorenta e oyto myll e trezentos e cynquoenta e hum reais. ___ Ctº
Rbiij— iijc lj reais.
E quanto aos vynte myll reais que diz que lhe levou ho almoxarife por lhe arrecadar
ho dinheiro do pam fyado. E asy hos vynte e quatro myll reais de sysa nom parece que lhe
devem ser descarregados porque vendeo sempre com huã parte de sysa em que se bem podya
montar ha dytã contya e podera por sy arrecadar seu dinheiro. E ho corregedor mandou todo
asy esprito e ho asynou. Antonyo Freyre esprivam que ho esprevy.
E despoys desto aos dezaseys dias do dytõ mes d Abryll do dytõ anno de j— bc e quorenta
e cynquo annos em ha vylla de Leiria nas pousadas do corregedor ho Licenciado Afonso
da Costa estando elle corregedor ahy perante elle pareceo ho Licenciado Symãao Barbosa
conteudo neste auto. E por elle corregedor foy feyta pergunta ao dytõ Licenciado Symão
Barbosa, que como desse elle em pagamento em pam fyado trezentos e dous myll e // [Fl. 8]
seyscentos e cynquoenta e cynquo reais, nom avendo ahy mays pam fyado, segundo constava
por ho lyvro do dytõ pam fyado feyto per Frrancisco Caçapo esprivam do almoxarifado das
rendas do Moesteiro de Santa Cruz, mays que trynta moyos e cynquoenta e tres alqueyres
de tryguo, e quynze moyos e vynte e sete alqueires de segunda, em que nom montava tanto
dinheirro quanto estava lançado na recepta do pam fyado. E por elle Licenciado Symão
Barbosa foy loguo dyto que elle ho anno de quinhentos e quorenta e dous annos que acabou
por Sam Joam de bc e quorenta e tres annos forra tambem rendeiro de huã parte das dytas
rendas das quães tyrara muyta soma de pam pera paguamento da perda do anno de quorenta
e dous pasado. E bem asy trouxera muito pam .scilicet. tryguo da vylla d Alcobaça que posera
nas casas de seu pay delle Licenciado donde ho dera fyado, como se fose necesario provaria,
de que fezera lyvro esprito por sua letera que mostraria se fose necesario outrosy. E que por
asy tyrar da dyta renda do outro ano pera pagamento desta elle fycara devendo muita soma
de dinheirro ao almoxarife que pella renda nom ouvera pello quall seus fyadores pagarem
quasy de duzentos myll reais por elle // [Fl. 8vº] Licenciado ho que se mostrava por lyvros
da recepta de Diogo Leytam almoxarife que entam era, porque em ho mes d Abryll do anno
de quarenta e tres fezera conta com ho dytõ almoxarife e juntara ho dytõ pam fyado pera lhe
fazer mayor pagamento.
E asy mays se lhe fez ho corregedor pergunta que em que tempo lhe solltara ho dytõ
Diogo Leytam almoxarife ho celeiro a elle Licenciado Symão Barbosa pera o vender ou se
fezera dyso auto. E por elle foy dytõ que elle ho dytõ anno dera suas fyanças ao dytõ Diogo
Leytam, e que sem embarguo de lhos dar lhe nom quysera entreguar sua renda, pello quall
mandara dar huã chave ao esprivam e concertara com elle rendeyro que levase certos moyos
pera casa e hos vendese e vendydos lhe entregase ho dynheyro e lhe tornaria a dar outros
moyos. E que hum tempo ho fizera asy e ho trazia a sua casa donde ho vendya e as vezes no
celeiro e que dello dava ao almoxarife ho dynheyro e fizeram suas contas e doutro pam nam
e que despoys se lhe vyera ho // [Fl. 9] dytõ almoxarife a larguar ho celeiro, e que nom he
acordado em que tempo, e que Frrancisco Caçapo esprivam as vezes fazia memoria do pam
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História
que levava em hum papell e nam em lyvro e esto pera antre elle rendeyro e ho dytõ almoxarife
ho que nom era asynado nem autoryzado.
E asy lhe fez ho corregedor mays pergunta que fezera elle rendeyro d0o mays pam affora
ho que vendera fyado que segundo se mostrava pello lyvro do Priostado tyrado ho pam
vendydo fyado de que constava por ho lyvro de Frrancisco Caçapo fycavam ainda noventa
moyos de todo ho pam .scilicet. de tryguo, trynta e oyto moyos, e de segunda cynquoenta e
quatro moyos. E por elle foy dyto que ho vendera a dinheirro ao preço que constava por hum
estormento que a elle corregedor tynha hofferecydo e a mays e a menos e a como podya e
que ho dinheiro delle derra ao almoxarife e paguarra hos custos da renda como constava ter
paguos polla conta e bem asy ha sysa que paguara e vynte myll reais ao dytõ Diogo Leytam
allmoxaryffe // [Fl. 9vº] por arrecadar ho pam fyado. E feytas asy as dytas perguntas ho
corregedor mandou que se esprevese tudo e elle Licenciado Symão Barbosa ho asynase e elle
asynou aquy com ho corregedor. Antonio Freyre esprivam que ho esprevy.
E esprito e asynado todo asy como dytõ he ho corregedor mandou ao dyto Licenciado
Symão Barbosa que elle fezese certo de como vendera ho pam do celeiro ho anno de bc e
quorenta e hum e asy de bc e quorenta e dous, e elle apresentou as testemunhas seguyntes.
Antonio Freyrre esprivam que ho esprevy.
Item Homem Rodryguez barbeyro morador nesta vylla de Leiria testemunha jurado aos
Santos Evangelhos e perguntado pello costume e cousas delle dyse elle testemunha nichil.
Item perguntado elle testemunha pello corregedor se sabya elle a como vallera ho tryguo
e segunda .scilicet. ho alqueire ho anno de bc e quorenta e dous em esta vylla de Leiria, dyse
elle testemunha que ho alqueire de tryguo vallera ho dytõ anno de bc e quorenta e dous annos
em esta vylla .scilicet. ho do celeiro a muitos // [Fl. 10] preços que fora a sesenta e a setenta
reais ho allqueyre, e que pasada ha Pascoa do dytõ anno vallera ho alqueyre do tryguo nesta
vylla a cynquoenta reais, e perguntado como ho sabya, dyse elle testemunha que se acertara
em huã logea onde ho dytõ Licenciado tynha triguo a vender e ho medyra elle testemunha aas
pesoas que ho levavam pollo dytõ preço de cynquoenta reais ho alqueyre, e da segunda nom
he elle testemunha lembrado como se vendera e all nom dyse. Antonio Freyre esprivam que
ho esprevy.
Item Isabell Ferrnandez molher de Diogo Gill çapateiro morador nesta vylla de Leiria
testemunha jurada aos Santos Evangelhos e perguntada pelo costume e cousas delle dyse ella
testemunha nichil.
Item perguntada ella testemunha pello coregedor se sabya a que preço valera ho alqueire
do tryguo e segunda nesta vylla ho anno de bc e quorenta e dous annos dyse ella testemunha
que ho dytõ anno de bc e quorenta e dous annos ella testemunha por ser ao tall tempo moleira
e estar nos moinhos do Resyo com seu pay e may e comprarem trygo pera seus // [Fl. 10vº]
fregueses que moyam nos dytos moynhos ella testemunha hya com ho Licenciado Symão
Barbosa e com sua cryada ao celeiro desta vylla de Santa Cruz que ao tall tempo era rendeiro, e
do celeiro trazyam ho tryguo a testemunha do dytõ Licenciado e asy ho joeyravam e tyrada ha
ervylhaca ella testemunha e outras pessoas ho compravam a cynquoenta reais e a cynquoenta
e cynquo ho alqueire de triguo, e asy lho pagavam ao dyto preço e que quanto he a segunda
nom se acorda a como vallya e all nom dyse. Antonio Freyre esprivam que ho esprevy.
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História
Item Manuell Vaaz tecelam de peças morador no Moynho do Resyo junto desta vylla
testemunha jurado aos Santos Evangelhos e perguntado pello costume e cousas delle dyse elle
testemunha nichil.
Item perguntado elle testemunha pello corregedor se sabya a que preço valera ho tryguo
nesta vylla .scilicet. ho do celeiro, de Santa Cruz ho anno de bc e quarenta e dous annos dyse
elle testemunha que no tall anno sendo rendeiro ho Licenciado Symão Barbosa das rendas do
dytõ Moesteiro // [Fl. 11] que tem nesta vylla elle testemunha comprara ao dytõ Licenciado
Symão Barbosa hum moyo de tryguo a cynquoenta reais ho alqueyre e sua parte de sysa e
que asy pello dytõ preço ho vendya Gabryell Garcia ho tryguo do dytõ celeiro e que quanto
ha segunda elle testemunha nom sabe a como vallya por ha nom comprar e all nom dyse.
Antonyo Freyre esprivam que ho esprevy. Dyz ho ven por verdade.
Item Felypa Pyrez molher de Manuel Vãz moleiro do moynho do Resyo desta vylla de
Leiria testemunha jurada aos Santos Evangelhos e perguntada pello costume e cousas delle
dyse ella testemunha nichil.
Item perguntada ella testemunha pello corregedor pelo dytõ juramento se sabya a como
vallera ho trigo do celeiro de Santa cruz nesta vylla de Leiria ho anno de bc e quorenta e dous
annos dyse ella testemunha que ho dytõ anno de bc e quorenta e dous annos forra rendeiro das
dytas rendas ho Licenciado Symão Barbosa nom sabe ella testemunha se em toda ha renda se
em parte della e que ella testemunha comprara ao dytõ Licenciado ho dytõ // [Fl. 11vº] anno
ho tryguo a cynquoenta reais ho alqueire e ho centeo a trynta e cynquo reais ho alqueyre e ho
mylho e cevada a vynte e cynquo e vynte e sete reais ho alqueyre o que asy comprava pera
suas freguesas que moem no dytõ moynho e isto pasava asy pello dyto juramento e all nom
dyse. Antonio Freyre esprivam que ho esprevy.
Item Pero de Varguas mercador morador nesta vylla de Leiria testemunha jurado aos
Santos Evamgelhos e perguntado pello costume e cousas delles dyse nichil.
Item perguntado elle testemunha pello corregedor pelo dytõ juramento se sabya a como
vallera ho tryguo nesta vylla de Leiria ho anno de bc e quorenta e dous annos .scilicet. ho
do celeiro dyse elle testemunha que elle ao tall tempo era morador na vylla d Alcobaça e
vyera por vezes a esta vylla de Leiria e isto no mes de Mayo e Junho e vya aquy vender ho
alqueire de tryguo a cynquoenta reais e cynquoenta e cynquo // [Fl. 12] E se era do celeiro
de Santa Cruz ou nam que elle testemunha ho nom sabya e all nom dyse. Antonio Freyre que
ho esprevy.
Item Gaspar Antunez cleryguo de mysa e beneffycyado em Nosa Senhora da Pena desta
vylla de Leiria testemunha jurado aos Santos Evangelhos e perguntado pelo costume e cousas
delle dyse nichil.
Item perguntado elle testemunha pello coregedor pello juramento que recebeo se sabya
a como vallera ho tryguo do celeiro de Santa Cruz nesta vylla ho anno de bc e quorenta e
dous annos dyse elle testemunha que ho <dytõ> anno dygo que ho dytõ anno vallera ho
alqueyre de tryguo nesta vylla do celeyro a cynquoenta e a cynquoenta e cynquo reais he que
elle testemunha sabe por entrar logo por prioste ho anno seguinte de quorenta e tres e fazer
despejar ho celeiro, e vyra ho Licenciado Symão Barbosa que era entam rendeiro, ter molheres
no dytõ celeiro a lympar ho tryguo que era çujo e ho vendya a cynquoenta e a cynquoenta e
cynquo reais como dytõ tem e que isto // [Fl. 12vº] forra no mes de Junho e Abryll e Mayo e
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História
que nesta vylla avya ao tall tempo muito tryguo d Alcobaça e doutras partes e todo se vendya
aquell preço de cynquoenta e cynquoenta e cynquo reais ho alqueire e all nom dyse. Antonio
Freyre esprivam que ho esprevy.
E feyta asy ha dytã delygencya como dytõ he ho corregedor mandou a mym espryvam que
lha treladase pera ser envyada çarrada e sellada del Rey noso senhor como lhe era mandado
por sua alteza ao que eu esprivam satysfyz logo. Antonio Freyre que ho esprevy.
O quall auto de delygencia eu Antonio Freyre esprivam desta correiçam treladey dos
proprios autos que fycam em meu poder e bem e fyellmente ho concertey com ho proprio
com ho corregedor ho Licenciado Afonso da Costa e vay esprito em doze folhas de papel com
esta todas de proceso de minha letera e vam reservadas has …despos das adyções e aquy com
ho dytõ corregedor asyney oje // [Fl. 13] vynte e sete dias do mes d Abryll do anno de Noso
Senhor Jhesu Christo de j— bc e quorenta e cynquo annos.
(Ass.)
Afonso da Costa.
Montou neste e no proprio ijc reais.
Concertado por mym esprivam com ho proprio. — Antonyo Frreyre. //
[Fl. 13vº]
Que ho corregedor de Leiria com ho vigairo e Alvaro Botelho tornem a rever <hos>16
authos e delligencya que fezerom pella carta de sua alteza sobre ha perda que ho suplicante diz
receber no anno que começou por Sam Joham de 541 e acabou em quorenta e dous. Porquanto
ho supplicante se agrava dizendo que lhe carregarom em rendimento da renda pam que elle
trouxe doutra parte e vendeo fyado e asy lhe caregarom em rendimento quorenta e quatro myll
e tantos reais que hos fiadores por elle apartarom que ho supplicante diz nom ho pagarem da
renda, e se emformem se he asy como elle diz e asy se informem 17 de todo ho rendimento
que esta renda rendeo asy do pam do celeyro como de miunças se has hy ha e dinheirro por
qualquer outra cousa da renda e façam ha conta bem declarada de todo ho que ha renda
rendeo, e vejam ho que ho supplicante perdeo, e ho que tem paguo, por sy e seus fiadores, e
ho que liquidamente fiqua devendo tudo que todo faça <conta> liquida he avisado sobre ysso
ho supplicante se asy he informe se ho supplicante ou seus fiadores ouverom alguuã quita da
renda deste anno e de todo 18 se faça autho que envyaram a sua alteza com seus pareceres de
todos tres acerqua da quita que ho supplicante pede e por espaço de dous // [Fl. 14] meses da
feytura deste despacho sobre este ha execuçam, refformando minha fiança. Em Evora a xxx
dias de Julho de 1545.
(Ass.)
P. Monteiro. D.
Falcam. //
[Fl. 14vº]
Treslado de hum auto de huã delygencia que fez ho Licenciado Afo0nso da Costa
corregedor da comarqua de Leiria per mandado del Rey noso senhor sobre ho Licenciado
Symão Barbosa rendeiro que foy das rendas do Mosteiro de Santa Cruz que tem nesta vylla.
Pagou ao sello ______ x reais.
(Ass.) Allonso (?). — Frreyre. [Vestígios do selo de chapa ausente].
140 | LEIRIA-FÁTIMA • 34 |
História
Doc. 9
1545 JUNHO, 5, Leiria — Exposição e processo, em que se inserem diversas certidões e
declarações acerca de fianças e preços de pão, apresentados pelo Licenciado Simão Barbosa
a El-Rei, pelos quais intenta demonstrar as perdas que sofrera enquanto foi rendeiro, no ano
económico de 1541-1542, das rendas do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra no Priorado de
Leiria, solicitando ao rei que lhe quitasse da diminuição sofrida e insolvente.
TT — Corpo Cronológico, Parte 2ª, Mº 240, Doc. 31.
† Senhor.
Ell Rey nosso senhor ouve por seu serviço cometer esta dilligencia ao corregedor da
comarqua de Leiria e ao vigairo della e a Allvaro Botelho os quais fezerão justificação de tudo
como Sua Alteza mandou pella quall convem que nom perdi mais que cento e corenta e oito
mill e trezentos e cinquoenta e hum reais como consta nos autos que dello fezerão que envião
a Sua Alteza pellos quais autos consta o contrario e consta que lançando o pão ao preço que
lhe aprouve e não ao preço que per elles se justifica eu o vender perdi trezentos e cinquo mill
e quatrocentos e onze reais pello que me faram justiça esmolla e merce e me queiram ouvir
com os mesmos autos porque eu nom quero outra prova nem justificação.
Porque consta pello[s] mesmos autos que descontadas as rendas rameiras ficou sobre
mim de que avya digo avia de fazer pagamento a Sua Alteza setecentos e quatorze mill e
quinhentos e onze reais ___ bijc xiiij— bc xj reais.
E pera pagamento delles confesão e consta me ficar somente o cilleiro do pão no quall
ouve cento e vinte e sete moios e tres quarteiros de todo pão do quall se deu fiado pão // [Fl.
1vº] que somente valleo, cento e noventa e nove mil e quinhentos e oitenta e quatro reais___
Cto lRix— bc lxxxiiijº reais.
Ficou pera vender a dinheiro pão que elles justificão valler lançando o preço a como
querem constando vendere se a menos pellos propios actos e per outros que aqui andão juntos
duzentos e nove mill e quinhentos e vinte reais ___ ijc ix— bc xx reais.
Os quais juntos aos que rendeo o pão fiado consta valler todo o pão ao preço que lhes
aprãz quatrocentos e nove mill e cento reais___ iiijc ix— Cto reais.
E tirados estes dos setecentos e quatorze mill e quinhentos e onze reais que sobre mim
carregavão falltão trezentos e cinquo mill e quatrocentos e onze reais____ iijc b— iiijc xj
reais.
E estes consta perder liquidamente do principall porque eu doutro anno e renda dei muito
pão fiado da quall tirei por me descarregar de tamanha divida e portanto na tall renda doutro
anno fiquei devendo feita discusão em minha fazenda cento e oitenta mill reais pouco mais
ou menos os quais meus fiadores do tall anno pagarão por mim por eu nom ter fazenda como
consta em esta certidão do allmoxarife e esprivão que se acosta.
E tambem se mostra pellos mesmos autos por que ho pão deste anno de que se contenda
que se deu fiado nom valleo mais que cento e noventa e nove mill e quinhentos e oitenta e
quatro reais como já digo e per elles consta eu dar em pagamento ao allmoxarife em rolles
de pão fiado // [Fl. 2] trezentos e dous mill e seiscentos e sesenta cinquo reais, de maneira
que tirei doutro anno pera este cento e tantos mill reais os quais sam fazenda minha e não
he rendimento de renda pello que se nom deverão mesturar com ho outro rendimento como
fezerão pello que vou em erro destes cento e tantos mill reais.
| 34 • LEIRIA-FÁTIMA | 141
História
E tambem, senhores, consta pagarem meus fiadores por mim corenta e quatro mill e tantos
reais os quais sam fazenda extraordinaria e minha e nom he rendimento da renda pello que
nom se deverão mesturar com ho rendimento como elles fazem pello que vou em erro outrosi
destes corenta e quatro mill e tantos reais.
Outrosi consta que pagei a Antonio Frade per mandado de Sua Alteza onze mill e
novecentos e tantos reais afora a mais vallia que vallem comprimento de quatro moios de
trigo que tinha de ordinaria nova que eu nom era obrigado pagar que tanbem he fazenda minha
que outrosi nom devera entrar em conta pera a via de rendimento mas pera se saber o que eu
tinha pago e portanto me fação merce e esmolla de verem tudo e pella mesma consta acharão
esto que digo ser asi e me oução com justiça porque eu nom quero outra cousa e eu mostrarei
o que digo ser asi pellos propios actos.
E tanbem devem respeitar que me nom levão em conta a quebra que quebrou no titulo que
consta jueirar em que quebrava mais da 4ª parte e que lanção e carregão o pão a mor preço do
que ho eu vendi como largo provo. // [Fl. 2vº]
E que pagey xxiiijº— reais de sisa aos rendeiros siseiros afora outro que levarão de fora
so quais me ão de ser levados em conta porque he maa rezão quererem que ho pão fiado
vendi com sua parte da sisa porque elles a somarão o que tendeo o pão fiado, divirão tirar
estes xxiiijº— reais e levar mos em conta pello que vou em erro delles ou da parte que pello
pão fiado se nom pagou. Porque he custo ordinario e necesario tambem he muito necesario
er que sempre se paga os xx— reais xx— reais [sic] do pão fiado que dei ao allmoxarife pello
que tanbem he agravo nom mo levarem em conta como nom levão e portanto juntos estes
corenta e quatro mill reais aos trezentos e cinquo mill e quatrocentos e onze reais atras que
consta perder soma ao todo o que perdi trezentos e corenta e nove mill e quatrocentos e onze
reais______ iijc Rix— iiijc xj reais.
Et ideo pecto et obnixo rogo in uiceribus Christi e por descarrego d allma do senhor dom
Duarte vejão todo bem e me fação merce e esmolla.
(Ass.)
Barbosa Licenciatus. //
[Fl. 3]
Certidão de como doutra renda dei pão fiado e como fiquei nella devendo Cto lxxx— reais.
A quantos esta certidão dada per mandado e autorydade de justiça vyrem como no anno
do nacimento de Noso Senhor Jhesu Christo de mill e quinhentos corenta e cimquo annos
aos cimquo dias do mes de Junho do dito anno em Leiria nas pousadas de mim esprivão
pareceo ho Licenciado Symão Barbosa morador nesta vylla de Leyria e per elle foy dado a
mim esprivão huã pytyção e nella hum despacho d Alvaro Botelho Calldeyra fydallgo da casa
del rey noso senhor que ora por espycyall mandado do dito senhor e provysão do Moesteiro
de Samta Cruz de Coinbra he see vagante tem carego d almoxarife das rendas que ho dito
Moesteiro tem nesta villa e seu termo ha quall pytyção e despacho sam os seguintes. Francisco
Caçapo esprivam ho esprevy.
Senhor allmoxarife.
O Licenciado Symão Barbosa morador nesta vylla de Leyria faço saber a vosa merce que
a mim he necesaryo huã certydão em maneyra que faça fee em como he verdade que ho anno
que começou em Sam Joham de myll e quynhentos corenta e dous anos e acabou em outro
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História
tall dya do anno de myll e quinhemtos e coremta e tres eu fuy remdeyro das remdas que ho
pryorado de Samta Cruz de Coimbra tem nesta vylla de Leirya em tres quynhoes dellas // [Fl.
3vº] ha rezam de dez quynhoes e bem asy como he verdade que vosa merce fez comta comygo
e na tall comta feita de pensam com mynha fazenda meus fyadores foram e sam executados
por cemto e novemta e tamtos myll reais que fyquey devendo que por mynha fazenda se não
achou e os pagaram e pagam por mym eles asy como ho dito anno das ditas rendas eu dey
tão fyado porquamto de tudo me espero de ajudar e portamto peço a vosa merce que mande
ha Francisco Caçapo esprivam de seu carego que me pase ha dita certydão autentiqua e
autorizada em maneyra que faça fee no que receberey merce e justiça.
Pase Francisco Caçapo esprivam certydão ao sopricante de que pasa e requereu, em seu
pytytorio provando as comtas e rendimentos em maneyra decrarada e que faça dee. Allvaro
Botelho.
Em comprimento do mandado e despacho do senhor allmoxarife eu esprivão provy o lyvro
dos arrendamentos e per elle se mostra que ho anno que começou por Sam Joham de mill e
quynhentos corenta e dos // [Fl. 4] annos e acabou por outro tall dia de Sam Joham de myll e
quynhentos corenta e tres annos o dito Licenciado Symão Barbosa foy rendeyro das rendas que
ho dito Moesteiro de Santa Cruz tem em esta dita vylla e seus termos em tres quynhoes dellas
a rezão de dez quynhoes e bem asy provy os autos da comta e enxucação do dito anno do dito
rendeiro e se mostra pella dita comta e autos de enxecução que feita enxecução em ha fazenda
do dito rendeiro por conta lyquyda fyqua devendo cemto e satemta e hoyto myll e quynhentos
e trymta reais e meo. Os quaes se caregaram sobre os fiadores e abonadores do dito rendeyro
por elle rendeiro nam ter fazemda pera os pagar, he he verdade que ho dito rendeiro ho dito
anno deu pão fyado da dita renda por pasar asy na verdade eu esprivam pasey esta certydão
ao sopricamte por mandado do dito allmoxarife bem e fyellmente e na verdade comforme aos
autos que me reporto e a comcertey com ho propryo que em meu poder fyqua ha quall vay
asynada por mim Francisco Caçapo esprivão das ditas rendas de meu pubryquo synal que por
autorydade dell rey noso senhor que pera ello tenho que tall he. feito em Leyrya no dito dia
mes // [Fl. 4vº] mes e anno hatras esprito. (Sinal). Pagou do propyo e desta nichill.
Concertado comyguo tabeliam Gomez Nunez.
Certydão do Caçapo do que pagão meus fiadores por mym o anno de 542. //
[Fl. 5]
Certidão do que custou a renda e de como são exsecutado e fiadores.
Saybam quamtos este estromento de fee e certydão dado por mandado e autoridade de
justiça vyrem como no anno do nacimento de Noso Senhor Jhesu Christo de myll e quynhentos
e coremta e quatro annos aos nove dias do mes de Junho em esta vylla de Leirya nas pousadas
de mim esprivão pareceo o Licenciado Symão Barbosa morador nesta vylla e por ell foy dado
a mym esprivão huã petyção e nella hum despacho de Dyogo Leytão allmoxarife das rendas
que ho Moesteiro de Samta Cruz de Coimbra tem nesta dita vylla e seus termos de que ho
trellado he o seguinte. Francisco Caçapo ho esprevy.
Senhor allmoxarife.
Ho Licenciado Symão Barbosa morador em esta vylla de Leirya faço saber a vosa merce
que a mym he necesaryo huã certidão em modo que faça fee com fe de Francisco Caçapo
| 34 • LEIRIA-FÁTIMA | 143
História
publico esprivão dante vosa merce em como he verdade que ho anno que começou por Sam
Joham de myll e quynhemtos e corenta e hum e acabou em outro tall dya do anno de myll
e quynhemtos e corenta e dous annos me foram arrendadas as rendas que o pryorado do
Moesteiro de Samta Cruz de Coinbra tem nesta vylla e seus termos que o tall anno pertencyam
ao senhor dom Duarte que he em gllorya fylho dell rey noso senhor pryor que hera do dito
Moesteyro as quaes me foram arrendadas em 19 cemto e coremta e cimquo myll reais em
sallvo pera o prellado. E mays que fose obrygado ha pagar todos os custos novos e velhos
temças mantimentos // [Fl. 5vº] colheytas capellães e tudo o que o prellado fose obrygado
pagar da dita renda e com condiçam que as rendas rameyras segundo o costume lhe20 fosem
tomadas em pagamento asi as que se arrecadasem. E bem asy em como he verdade que ho dito
anno vosa merce fez comtã comygo por ellas e se achou renderem as rendas rameyras ho dito
anno de quynhentos e dezanove mill reais e duzemtos e quynze reais pello que descaregados
estes dinheiros (?) segundo fiqua do arrendamento fiqueey somente obrygado de primcypall
ha pagar quynhentos e vynte e cimquo myll e setecentos e hoytemta e cimquo reais e mais
os custos os quaes custos valeram o dito anno duzemtos e vymte e dous myll e setecentos e
cimquoenta e seys reais sem emtrar nelles vymte myll reais que dey por ho trabalho de se
arrecadar ho pam que ho dito anno se deu fiado sem entrar em ho dito anno pagey de sysa a
ell rey noso senhor da dita renda. E bem asy como he verdade que na tall comta descomtados
os pagamentos que ate entam tynha feitos fiquey devendo duzemtos e cimquoenta e quatro
myll e quatrocemtos e novemta e cimquo reais. E outrosy como he verdade que ho dito anno
todas as rendas rameyras foram arendadas por o allmoxarife e por mim com seu comytymento
e nam fyquou sobre mym mays que o pão do seleyro desta vylla e os legumes della que se
chama ho seleyrinho que podem valer os tays legumes hoyto ou nove myll reais // [Fl. 6] ao
mays por nom aver quem o arrendase ho dito anno. E bem asy como he verdade que depois
da dita comta eu fuy penhorado em mynha fazenda e me foy vendida que me foy achada em
que emtrou meu movell e cama e mynha lyvrarya de leys e letrado que tynha e hum cavallo
sellado e enfreado e por nom bastar foy feita penhora em todos meus fyadores e alguns delles
pagaram por mym parte de suas fyanças e no mays vosa merce fez enxecuçam em suas
fazendas. E bem asy como he verdade que todo ho pão que vem ao cyleyro desta dytã vylla se
parte com os beneficiados della e o prellado leva as duas partes e os benefecyados e cabydo a
huã parte somente e porque me espero de ajudar de tudo peço a vosa merce mande a Francisco
Caçapo esprivão das ditas rendas damte vosa merce que me pase ha dita certydão antyqua
porque me espero de ajudar della no que receberey merce e justiça.
Terlado do despacho.
Proveja Francisco Caçapo esprivão as comtas lyvros e papes do anno de coremta e hum
que acabou em Sam Joham de coremta e dous e pase ao sopryquamte sua certydão em modo
que faça fee na verdade acerqua do que pede.
Diogo Leitão.
E dada como dito he em comprymento do dito mandado do dito allmoxarife eu esprivam
provy os autos da comta e lyvros do anno de coremta e hum que // [Fl. 6vº] acabou por Sam
Joham de myll e quynhentos e corenta e dous annos pellos quaes se mostra e achey que he
verdade que o dito anno de coremta e hum que acabou em Sam Joham de coremta e dous
annos as rendas que ho Moesteiro de Samta Cruz de Coinbra tem nesta vylla de Leirya que
o tall anno pertencyam ao senhor dom Duarte fylho dell rey noso senhor que he em gllorya
por ser prellado do dito Moesteyro por mandado dell rey noso senhor em nome de dom
Duarte seu fylho foram arrendadas por ho dito anno somente ao Licenciado Symão Barbosa
144 | LEIRIA-FÁTIMA • 34 |
História
morador nesta dita vylla em hum cemto e coremta e cimquo myll reais do prymcypall em
sallvo pera o prellado e mays todollos custos temças mantymentos ordenarias que ho dito
prellado he obrygado pagar e com condyçam que as rendas rameyras lhe fossem tomadas em
pagamento segundo custume .scilicet. e que se arrendasem segundo mylhor no arrendamento
se comtem que he em meu poder ha que me reporto. E bem asy he verdade que ho dito anno
ho dito rendeiro esteve a comta com Dyogo Leytão allmoxarife das ditas rendas pella quall
comta se mostra que as ditas rendas rameyras que foram arrendadas remderam, o dito anno
quynhentos e dezanove myll e duzentos e quymze reais pello que descaregado esto do dito
rendeyro se mostra fyqua obrygado pagar de prymcypall quynhemtos e vimte e cimquo myll
e setecemtos e hoytemta e cimquo reais. E bem // [Fl. 7] asi he verdade que segundo se mostra
pella dita comta os custos da dita renda ho dito anno valerem duzemtos e vymte e dous myll
e setecemtos e cimquoenta e seis reais nos quaes custos nom entram vymte myll reais que ho
dito rendeiro dyse que dera pello trabalho de se arrecadar ho pão que ho dito anno se deu fyado
nem menos entra nelles ha sysa que ho dito rendeiro dyse que pagara a ell rey noso senhor da
vemda do dito pão. E bem asy se mostra pello ençaramento da dita comta que descomtados
so pagamentos do pryncypall e custos que ho dito rendeiro que ata entam tinha feitos fyquava
devendo duzentos e cymquoenta e quatro myll e quatrocemtos e novemta e cimquo reais
segundo mylhor e mays comprydamente se comtem na dita comta ha que me reporto. E bem
asy he verdade que ho dito anno as rendas rameyras foram arrendadas todas salvo ho selerinho
dos legumes que pode valer seys myll reais em meu parecer, e asy alguãs hermydas de pouqua
valya por nom aver quem nas arrendasem. E bem asy fyqua o pão do celeyro desta vylla
somente e todo ho mays foy arrendado como dito he do quall celeyro de todo ho pão a que
elle vem leva o prellado e seus remdeyros as duas partes e a terça parte leva o cabydo de Nosa
Senhora desta dita vylla. E bem asy dygo e dou fee que depoys da comta // [Fl. 7vº] ho dito
rendeiro foy penhorado e em sua fazenda e lhe foy vemdyda toda que lhe foy achada em que
entrou seu movell e cama e certa soma de lyvros que deziam que hera de letrado e hum cavallo
sellado e enfreado e por nom bastar ha dita fazenda ha dita comtya e dyvyda foy fecta penhora
em seus fyadores e allguns delles pagaram por ho dito rendeiro parte de suas fyanças e pella
demenoiçam se faz enxecuçam em suas fazendas e por de todo esto o dito rendeiro me pedyr
esta certydão eu esprivão lha pasey por mandado do dito allmoxarife oje dez dias do mes de
Junho nesta vylla de Leirya. Francisco Caçapo esprivam das ditas rendas e allmoxarifado
ha fez, anno do nacimento de Noso Senhor Jhesu Christo de myll e quynhentos e coremta e
quatro annos e asyney de meu pubryquo synall que tall he por autoridade dell rey noso senhor
que pera ello tenho e a comcertey com ho dito Licenciado sopriquante no dito dya mes e anno.
Francisco Caçapo ho esprevy. (Sinal). Pagou desta e do propyo R reais.
Comcertada foi esta certidão comiguo o Licenciado Simão Barbosa requerente e com os
autos e contas. — Barbosa Licenciatus.
Saybam quantos este estromento de aprovaçam // [Fl. 8] vyrem que heu Gomez Nunez
tabeliam do judycyall por ell Rey nosso senhor nesta vyla de Leiria e seus termos que faço
saber que este estormento e certidão atras he fecto e asynado por Francisco Caçapo esprivão
do allmoxarifado do Mosteyro de Santa Cruz de Coimbra que tem nesta vyla de Leiria e oje
em dia serve seu hofycio d esprivão do dito almoxaryfado e destas esprituras se da enteyra fe
e por me requererem que lhe desse este estromento de aprovaçom heu Gomez Nunez tabeliam
lho dey oje dez dias do mes de Junho do ano de myll e quynhentos e quarenta e quatro anos e
subscrevy de meu publico synall que tal he (sinal). — 1544 — Pagou nichil. //
| 34 • LEIRIA-FÁTIMA | 145
História
[Fl. 8vº]
Certydão do Caçapo das cousas do anno de Rj que acabou em Rij. //
[Fl. 9]
Certidão do pão que ouve no celeiro.
Anno do nacimento de Noso Senhor Jhesu Christo de mil e quinhentos e corenta e quatro
annos aos nove dias do mes de Fevereiro da dita Era em esta notavel vila de Leiria nas
pousadas de mim notairo apostolico ao diante nomeado pareçeo o Licenciado Simão Barbosa
nesta vila morador e loguo deu a mim notairo huã petição e nela hum despacho de que o theor
he ho seguinte:
Reverendo senhor vigairo- Ho Licenciado Simão Barbosa morador em esta vila de Leiria
faço saber a vosa merce que a mim he necesaria huã certidão do livro do Priostado do cabido
do anno de mil e quinhentos e corenta e hum e acabou em Sam Joham de mil e quinhentos e
corenta e dous annos em modo que faça inteira fe da soma do pão .scilicet. triguo milho centeo
e cevada que aconteceo o dito anno ao terço do cabido desta dita vila no celeyro de Santa cruz
que foy partido com o prelado. O qual anno foy prioste Gonçalo de Sea beneficiado e porque
he ausente e os livros da Priostaria serão em poder de Yoam Diaz seu companheyro ou de
Diogo Lõpez Sea seu pay do ditõ Gonçalo de Sea peço a vosa merce que mande a cada hum
dos sobreditos que ho tiver que ho de a hum notairo ou escrivão ao quall me mande pasar a
dita certidão em forma em maneyra que faça fee por me esperar d ajudar dela no que receberei
merce caridade e justiça.
Vista a petição atras per mim vigairo se por parte do cabido ou outra parte nom ouver
impedimento a se pasar a certidão que o sopricante mando que se lhe de como requere. Dom
Diogo Diãz vigairo.
Aos ix dias do mes de Fevereiro de j— bc Riiij annos deu o Licenciado Simão Barbosa
a petição atras com o despacho do padre vigairo proximo acima nas costas da dita petição a
mim Gaspar Antunez // [Fl. 9vº] notairo apostolico e em comprimento do quall eu notairo fuy
no dito dia has pousadas de Diogo Lõpez Sea e notefiqey logo a Antonio de Sea seu filho ho
dito despacho do padre vigairo e notificado hamostrou a mim notairo ho livro do Priostado
do anno conthudo na dita petição de que seu irmão Gonçalo de Sea fora prioste do cabido e
celeiro em ho qual livro do Priostado do cabido desta vila de Leiria antre outras muitas cousas
nele contheudas e escritas estava hum asento feyto e escrito por Diogo d Azambuja cleriguo
e beneficiado per mandado do cabido e asignado por Gil Coelho e Pedre Annes e Joam Diãz
prioste e parceyro do dito Gonçalo de Sea e Marcos d Abreu e Melchior de Lamim e Joham
d Evora e Eytor Rodriguez todos clerigos e beneficiados os quaes tomarão conta ao dito
Gonçalo de Sea prioste do celeiro aos quatro dias de Março de j— bc R dous annos em a igreja
de Santo Estevão da dita villa e na dita conta que lhe asy tomarão de toda a recepta e despesa
que a seu carego e oficio pertencia acharão que ao terço sobmente que ao cabido pertencia
aver de aver no celeiro o dito anno tiradas as despesas que era hum quarteiro de triguo ao
escrivão e outro ao capellão das Paredes, trinta e tres moyos e vinte e oyto alqueire de centeo,,
e dez21 moyos e 22xbj alqueires de cevada, e dezaseys moyos e vinte e oyto alqueires de milho
o quall pão aconteceo asy ao terço do cabido em a partilha que no celeiro de Santa Cruz desta
dita villa 23 // [Fl. 10] fezeram o dito cabido com os rendeiros do prelado a quall partilha he que
ho prelado leva dous terços de todo o pão que ao dito celeyro vem e se acha ao Cabido hum
terço e pella dita repartição aconteceo asy o dito pão sobredito ao terço do cabido como milhor
146 | LEIRIA-FÁTIMA • 34 |
História
e mais compridamente no dito livro e conta se contem. E em testemunho de fee e verdade
eu Gaspar Antunez notairo autoritate apostolica pasei esta publica certidão por autoridade de
justiça como dito he em a quall meu publico sinal fiz e asyney que tall he oje dia mes e Era ut
supra, nom duvide no casy borado que diz dez moyos e meio por se fazer por verdade e eu que
ho fiz e escrevi, e com ho corregido que diz Rij.
Deve lx reais.
(Sinal).
Ho Licenciado Francisco Carreiro cidadão e juiz do civel em esta cidade de Lixboa e
seus termos faço saber aos que esta certidam virem que pera justificaçam desta certidam
atras esprita se perguntaram testemunhas pelas quaees me consta a dita certidam ser sprita
e asynada por Gaspar Amtunez notairo apostolico na vila de Leiria // [Fl. 10vº] e que a suas
sprituras se da imteira fe e que serve seu oficio na dita villa a qual eu ouve por justeficada e
por certeza delo lhe mandey pasar a presemte por mim asynada e asellada com ho sello desta
cidade feito em ella aos vynte seis dias de Fevereiro. Francisco Lopez a fez. De j— bc Riiij
anos. E de tudo isto tambem da fe o sprivão que ha fez.
(Ass.)
Carreiro. V. J. Licenciatus.
Certidão publica do pão que ouve no celeiro e anno de Rj que acabou em Sam Joham de
Rij. //
[Fl. 11]
Certidão da taxa.
O Licenciado Fernão Cardoso juiz de fora com allçada por ell Rei noso senhor em esta
notavel vyla de Leiria e seus termos ct. Faço saber a quantos esta minha carta testemunhavell
dada com ho tresllado de taxa abaxo esprito vyrem como perante mym pareceo o Licenciado
Symão Barbosa morador nesta vylla de Leiria e me dise que no lyvro da camara do regimento
e governança da dita vylla estava regystada ha taxa que ell Rey noso senhor a esta vylla e ha
comarqua della mandara sobre o pão ho anno de mill e quynhentos e corenta e hum anos e
que lhe era muito necesario o tresllado della e me requereo que em huã carta testemunhavel
lhe mandase dar e nyso lhe faria justiça. E visto por mym mandey a Joam Pirez tabeliam
dante mim que hora por mandado de Sua Allteza serve de sprivam da camara na dita vylla
que buscase o lyvro em que estava a dita taxa registada e com ho trellado della achando-a
pasase ao dito Licenciado a carta que requyria e ell de meu mandado o buscou no quall achou
o registo com a dita taxa de que ho trellado de verbo a verbo e o seguinte:
Corregedor da comarqua de Leiria, eu ell // [Fl. 11vº] Rey vos envyo muito saudar. Eu
ey por bem e meu servyço por allguns justos respeytos que nos a yso movem que nessa villa
de Leiria e em todas as vylas e lugares de sua comarqua, de dia de Samta Maria d Agosto
que hora vem deste anno presente de mill e quynhemtos e corenta he hum ate outro tall dia
do anno que vem de mill e quynhemtos e corenta e dous se não venda trigo allgum da terra
a mayor preço que ha oytemta reais ho allqueirre e quallquer pesoa que ho conteyro fezer
por cada vez que lhe for provado pagara em dobro a valya do tryguo que vender a mayor
preço e mais cymquoenta cruzados hua metade pera quem ho acusar e a outra metade pera
os cativos e sera degradado por dous anos pera os lagares dalem. Noteficovo llo asy e mando
| 34 • LEIRIA-FÁTIMA | 147
História
que logo como esta carta vos for dada o façais asy apregoar nesa vylla de Leiria e em todas
as vyllas e lugares da dita comarqua posto que em allguns deles não entres por correyção
pera que a todos seja notorio e dos pregois se farão autos pera a asy se comprir e despois de
asy ser apregoado fares treslladar esta carta no lyvro // [Fl. 12] da camara da dita vylla e o
tresllado sera asynado por vos com decraração e asento de como asy nella foy apregoado e em
todos hos lugares da dita comarqua, e hey por bem que ha dita taxa se cumpra posto que hos
rendeyros que teverem arrendadas as rendas do pão hou as arrendarem no dito tempo alegem
que ho trigo lhe saye por seus arrendamentos a mayores preços que aos ditos oytemta reais e
sem embarguo de quaisquer sentenças e provysois que hos taes rendeyros neste caso tenham
avidas e despois de asy ser apregoado tyrares devasa dy em dyante cada dous meses sobre
as pessoas que venderem trigo a maior preço dos ditos hoytenta reais e procederes contra
os cullpados como for justiça dando apelaçam e agravo nos casos em que couber e ysto se
entendera no trigo da terra somente e não no que vyer de foora do Reyno, porque hey por bem
que as pesoas que ho trouverem ho posam vender aos preços que quiserem. Joam Rodriguez
ha fez em Lisboa a hoyto dias d Agosto de mill e quynhemtos e corenta e hum. Bastiam da
Costa ho fez esprever.
Ha quall taxa como atras // [Fl. 12vº] he esprita e da dita maneyra esta no dito lyvro como
atras faz mençam e asy o sertefiquo a todas as justiças e pesoas a que esta carta for mostrada
e pertencer o conhecimento della e por o dito Licenciado me requerer como dito he ho dito
tresllado da carta lhe mandey dar ha presente por que sertefiquo todo ser verdade e pasar
asy. Dada na vylla de Leiria sob meu synall e sello della aos dezoito dias do mes de Junho.
Joam [Pirez] tabeliam que serve d esprivam da camara por ell rey noso senhor ha fez anno do
nacimento de Noso Senhor Jhesu Christo de mill e quynhemtos e corenta e quatro anos.
E bem asy me requereo o dito Licenciado que lhe mandase dar o trellado de hum termo
e pustura que estava no dito lyvro e fora feyto no dito anno de myll e quynhemtos he corenta
e hum anos asinada pello juiz e vereadores e procurador da vylla que no dito anno erão sobre
a segunda que se no dito ano avya na dita vylla de vender e heu mandey que lhe fose dado
e o dito esprivam ho buscou no dito lyvro e o tresllado delle e o seguynte, o quall se fez aos
— (Ass.) Concertado comiguo tabeliam Yoam Nunez — // [Fl. 13] hoyto dias do mes d
Outubro do dito anno do quall o tresllado de verbo a verbo e o seguinte:
Item na dita camara praticarão o juiz e vereadores sobre a segunda que nesta vyla e seu
termo se vendya, e que allguãs pessoas das que a vendyam depois da provysam do triguo, de
Sua Alteza, a davam a mais preço da taxa pasada e a como qirião, e praticando todo por elles
e por a provysam da taxa de Sua Alteza não ser nem se entemder somente no tryguo asentarão
por pustura que nynhuã pesoa de quallquer estado e comdyçam que seja que vendese segunda,
a não de a mais preço de taxa dell Rey noso senhor do anno pasado que he o milho e cevada
a corenta e cynqo reais e o centeo a cynquoenta reais o allqueyre e mais não, e quem a dita
segunda por mayor preço der por cada vez que lhe for provado que ho vendeo, ora seja muita
camtidade ora seja pouqua pague de penna cymquoenta cruzados e perqua o dito pão que asy
vender que he a penna da dita taxa, ha metade pera quem hos acusar e a outra pera o concelho
e // [Fl. 13vº] asynaram todos. Joam Periz tabeliam ho escrivy, com o trelado da quall pustura
e termo atras junto ao trelado e registo da dita taxa pasey a dita carta testemunhavell ao
dito Licenciado no dito dia mes e anno asynada por mim e aselada com ho sello desta vyla
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História
de Leiria. Dada em ella no dito dia mes e anno atras esprito e feita pello dito Joam Periz
esprivam.
Pagou com busqua cem reais.
(Ass.)
Fernandus.
Concertado comigo tabeliam: Yoam Nunez. //
[Fl. 14]
A 29 de Agosto de 541. //
[Fl. 14vº]
[Selo de chapa em cera muito delido]
(Ass.) Pagou bij reais: Diogo Lõpez.
Ha taxa de 1541 que acabou em 1542. //
[Fl. 15]
Certidão do lyvro da recepta de bc coremta e hum.
A quamtos esta certidam dada por mandado e autorydade de justiça vyrem como no anno
do nacimento de Noso Senhor Jhesu Christo de mill e quynhentos corenta e cimquo annos
aos cemquo dias do mes de Janeyro do dito anno em esta villa de Leiria nas pousadas de mim
esprivão estando hy Diogo Leytão allmoxarife das rendas que ho Moesteiro de Samta Cruz
de Coinbra tem nesta dita villa de Leiria e seus termos hy perante elle pareceo ho Licenciado
Symão Barbosa morador na ditã villa rendeiro que foy das ditas rendas ho ano que se acabou
por Sam Joham de corenta e dous annos e por elle foy dito ao dito allmoxarife que ell Rey
noso senhor mandava ora fazer certa delegencia sobre as ditas rendas ao corregedor desta
comarqua pera o quall lhe hera necesario amtre as outras cousas ho lyvro da receyta delle
allmoxarife do dito anno de mill e quynhentos corenta e dous de que ele Symão Barbosa fora
rendeiro que requerya a elle allmoxarife que lho mandase dar. O dito allmoxarife dyse que ho
dito lyvro não avia de sahyr da sua mão e se elle rendeyro quysese huã certidão do dito lyvro
no que nelle estava que lhe fose pasada e logo ho dito rendeiro lhe requereo que lhe mandase
elle allmoxarife pasar huã certydão autentyqua com ho tehor das somas dos pagamentos que
elle rendeiro e seus fyadores fyzeram e o dito allmoxarife mandou a mim esprivão que lhe
passase ha dita certidão em comprymento do quall eu esprivão provy logo ho lyvro da receyta
do dito anno e achey no titollo do dito Symão Barbosa que hy // [Fl. 15vº]24.
iiijc Lxxxix— bjc Lxxix reais… //
[Fl. 16]
Instrumento do jueirar e do preço por que se vendeo o pão.
Saibam quamtos este estormemto dado em publica forma por mandado e autorydade
de justiça com o dito de testemunhas virem que no ano do nacimento de Noso Senhor Jhesu
Christo de mill e quinhemtos e coremta e quatro anos aos trymta dias do mes de Mayo em
ha notavell vila de Leiria nas casas de mym tabeliam hera presemte ho Lecemceado Symão
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História
Barbosa morador na dita vila e me deu huã pitiçam com hum despacho do Lecemceado Fernam
Cardoso juiz de fora na dita vyla nas costas dela requeremdo me que em comprimemto do dito
despacho lhe pergumtase as testemunhas que apresemtaria pelo comteudo na dita petyção e
com seus ditos lhe pasase hum estormemto a quall pitição e despacho do juiz he ho seguymte.
Joam Nunez tabeliam ho esprevy.
Senhor juiz.
O Lecemceado Symão Barbosa morador em esta vyla de Leiria faço saber a vosa merce
que a mym he necesaryo hum publico estormemto em maneyra que faça emteyra25 fe com os
ditos e testemunhos das testemunhas que apresentarei como he verdade que a novydade que se
colheo por Sam Joam do anno de mill e quinhemtos // [Fl. 16vº] e coremta e hum e se gastou
e comeo no anno mesmo ate vyr a outra novydade do anno de mill e quynhemtos e coremta
e dous anos o triguo dela foy tam çujo que se nam vemdia sem se jueirar por ser cheo de
yoyo e çugydade e esto çumammemte nesta comarqua polo que se chamou ho anno do triguo
çujo. E bem asy em como he verdade que todos os que tinhão pão pera vender ho dito ano ho
jueiravam scilicet o triguo e doutra maneira o nam vendiam, no quall jueirar quebrava mais da
terça parte porque sem se jueirar o não compravam e bem asy em como he verdade que heu a
dita novidade mandei jueirar o trigo no celeiro de Samta Crruz desta vila e me quebrava bem
a terça parte em çugydade e tive muitos dias muitas molheres ao jueirar. E outrosy em como
he verdade que no mes de Abrill e Mayõ do ano de coremta e dous em que se a dita novydade
vendya nesta vyla recreceo muito triguo e pão de fora jueirado como foy d Alcobaça e Hegua
e outras partes o quall se vemdia cumummemte em muita abastamça nesta vyla .scilicet. ho
trigo jueirado a cymcoemta reais e a coremta he // [Fl. 17] oyto e o cemteyo a trimta reais e
o mylho a cevada a vimte reais e a vymte e cymco reais. E bem asy em como he verdade que
hera asy jueirado no dito tempo e ano o vendya asy a cymcoenta reais e a coremta e oyto reais
he ho centeo a trimta reais e o milho e cevada a vimte e a vymte e cynco reais. E outrosy em
como o dito anno houve nesta vyla taxa e a mor parte do anno se não husou nem vemdeo por
ela por asy abayxar o que foy cumummente asy nesta vyla como na comarqua d arredor e
porque senhor me espero d ajudar desto peço a vosa merce me mande pasar o dito estormento
no que receberei merce e justiça,
Pregumtem se pelo conteudo nesta pitição as testemunhas que apresentar e se lhe pase seu
estormemto com seus ditos.
Sendo-me asy dada como dito he por ele me foy requerido que fose com ele as pousadas
do dito Lecemceado Fernam Cardoso juiz pera lhe pedir que lhe dese emqueredor porque
Amrrique de Farya emqueredor lhe hera suspeito e eu tabeliam fuy loguo presemte ele juiz as
suas pousadas e o dito Symão Barbosa lhe pedio emqueredor pera lhe tirar esta emquiryçam
por Amrrique de Farya emqueredor lhe ser sospeito como hera notoreo. E o dito juiz por
saber o dito Amrrique de Faria estar de quebra com // [Fl. 17vº] ho supricamte mandou que
pergumtase quallquer tabeliam desta vyla as testemunhas como emqueredor por não aver
outro emqueredor que commigo tabeliam as perguntase. Joam Nunez tabeliam ho escryvy.
E loguo no dito dia trimta de Maio Martim Denis tabeliam pergumtou as testemunhas
seguimtes em Leiria na Praça dela. Joam Nunez ho espryvy.
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História
Item Fernamde Annes mercador morador nesta vila de Leiria testemunha jurado aos
Santos Evanjelhos que lhe foy dado e ele recebeo e em que pos a mão e pergumtado pelo
costume dise ele testemunha nichill.
Item pergumtado ele testemunha pelo comteudo na pytição dise ele testemunha que
hera verdade que ho ano comteudo na pitição hos triguos do dito anno nesta vila he termo
foram muito çujos de muito joyo e çugydade outra. E que ele testemunha ouvya dizer que as
pesoas que ho tinhão pera vemder ho jueyravam e que he verdade que a esta vylla veyo pão d
Alcobaça a vender o quall vynha jueirado a jueira pera se vemder. E asy jueirado se vendera
nesta vila. E que he verdade que ho dito ano o triguo se vendera nesta vyla a cymcoemta reais
e o cemteyo a trimta he // [Fl. 18] a trimta e dous e o milho a vymte he cymquo e a vimte e
quatro e a cevada a vymte e tres e a vymte e quatro. He que asy he verdade que ele testemunha
ao dito Symão Barbosa supricamte ho dito ano vender o triguo nesta vyla da renda de Samta
Cruz que teve ha cymcoemta reais alqueyre e o cemteyo a trimta reais e o mylho e cevada a
vimte e tres e a vimte e quatro e a vimte e cymquo reais ho alqueire e all não dise do comteudo
na pitição. Joam Nunez tabeliam o spryvy.
Item Gaspar Lopez corryeiro morador na dita vila de Leiria testemunha jurado aos Samtos
Evamjelhos que lhe foy dado e ele recebeo e em que pos a mão e pergumtado pelo custume
dise ele testemunha nichill.
Item pergumtado ele testemunha pelo comteudo na pytição dise ele testemunha que ho
ano comteudo na pitição e novydade hem a pitição comteuda fora o pão .scilicet. ho triguo
nesta vyla e termo e em outras partes muito çujo em estremo de maneira que quem ho tinha
pera vemder não podia vemder sem primeyro ho jueirar por ter muito joyo de que quebrava
muito por a muita çugydade que lhe tyravam porque hem hum alqueire tyravam huã quarta
de çugydade // [Fl. 18vº] e aymda fiquava muito çujo e que he verdade que ele testemunha
sabya que ho dito Symão Barbosa supricamte ho dito anno mandava jueirar o triguo que tinha
da remda de Samta Cruz nesta vyla no celeyro dela e tevera a yso molheres a jueirar e asy
jueirado ho vemdia se ho mandara jueirar todo ou dele não sabya ele testemunha porem que
vira muito jueyrar porque sem ser jueirado nam ho queria nimguem comprar por o dito ano
recrecer a esta vylla muito triguo de fora em espycyall d Alcobaça o quall se vyera vender
ha esta vyla jueirado e asy jueyrado se não podera acabar de vender ho dito ano e o que se
vemdera se vemdera a symcoemta reais o alqueyre e ao dito preso de cymcoenta reais ho
alqueyre do trigo o vendera ho dito Symão Barbosa supricamte. E que he verdade que ho
dito anno ouvera nesta vylla taxa e porem que se não husara por ello por hy aver muito pão
e abayxar o preço mãis do que hera a taxa. E all não dise do comteudo na dita pitição. Joam
Nunez tabeliam ho escryvy.
Item Joam Lopes escudeyro e escryvam do almoxarifado desta vyla de Leiria e nela
morador testemunha jurado // [Fl. 19] aos Samtos Evamjelhos em que pos a mão e pergumtado
pelo custume dise ele testemunha que ho supricamte he seu subrynho dele testemunha filho de
seu primo segumdo .scilicet. que ho pay do supricamte e ele testemunha sam primos filhos de
primos e comtodo dyria ha verdade.
Item pergumtado ele testemunha pelo conteudo na pytyçam do supricamte dise ele
testemunha que he verdade que ho ano comteudo na pitição dele testemunha fora remdeyro da
remda da vila da Egua e trouxera a esta vyla a mayor parte dele pera ho vender e o começara
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História
a vemder pola taxa que hera nesta vyla e que por o pão ser muito çujo de yoyo e ervylhaqua
lhe fora necesaryo de lho mandar jueyrar e o jueyraram em sua casa molheres e jueirado
o começara a vemder e se vemdya pola taxa e por a novydade do ano que vynha vyr boa
abaixara ho pão de maneira que asy jueirado o vyera acabar de vender ha cyncoemta reais e
que na dita jueiradura em sua comcyencya se quebrava ha quarta parte e que a esta vyla se
trouxera muito pão o dito anno d Allcobaça a vender em logea comtyna o quall se vemdia
jueirado por se não poder vemder senão jueirado e o vemdiam muito barato e que he verdade
que ho supricamte mandara // [Fl. 19vº]jueyrar o triguo que ho dito ano ouvera da remda de
Samta Crruz nesta vyla e o vemdia jueirado porque doutra maneira se nam podia vemder
segundo o dyto pão hera muito çujo e por abastamça que de fora parte a esta terra vyera e que
da segunda lhe mão lembra a ele testemunha os preços dela por a não vemder o dito anno. E
all não dise do dito artiguo. Joam Nunez tabeliam ho escryvy.
Item Framcysquo Gill escudeiro morador nesta vyla de Leiria testemunha jurado aos
Samtos Evamjelhos que lhe foy dado e ele recebeo e em que pos a mão e pergumtado pelo
custume dise ele testemunha nichill.
Item pergumtado ele testemunha pelo conteudo na pitição do supricamte dise ele
testemunha que he verdade que ho anno he novydade conteuda na pitição ho tryguo fora
nesta vyla e termo he em esta comarqua muito çujo de muito joyo e ervylhaqua e çugydade
de maneira que pera se vender hera necessaryo o jueyrar e jueirado ho vemdiam e que por
asy ser tam çujo e jerall se chamava o anno do trigo çujo e que se não podia vemder // [Fl.
20] sem se jueirar. E que por rezão do jueirar certo esta que devya de quebrar muita parte
porque lhe tyravam muita çugydade o que ele testemunha não sabe quanta parte quebrava.
E que o supricamte ho dito ano se queixava a ele testemunha dizendo que perdia muito na
renda que tinha de Samta Crruz por a quebra do pão que lhe quebrava muito no jueirar e que
lhe quebrava a terça parte e que tynha gasto com molheres ao jueyrar por ho poder vemder
porque doutra maneira ho não podia vemder nem gastar que lho nam queryam comprar e que
he verdade que ho dito anno viera a esta vyla muito triguo de fora espyciallmente d Alcobaça
e por ser muito pão valia barato jueirado ho vemdiam nesta vila e o não poderão acabar de
vender ho dito anno e ficara por vender e que segundo lembramça dele testemunha ele lhe
parece que se vendeo a cymcoemta e ha coremta e cynco reais o alqueyre do trigo. E que
em sua comcyemcya lhe parece que ho mayor preço fora a cymcoemta reais ho alqueyre
do triguo e que houtrosy a segumda lhe parece a ele testemunha que se vemdera por hos
preços conteudos na pitição e que jerallmemte se dizia nesta vila que ho Reo tinha aberto o
trigo de Samta Crruz // [Fl. 20vº] aos ditos preços e asy ho pão. E que ele testemunha não ho
comprara e soomemte cumummemte se dezya que ele supricamte o vendya pelos ditos preços
e jueirado. E que a el testemunha lhe aprece que ho dito ano não se husou nesta vila da taxa
do pão porque se vemdera por menos preço do que fora a taxa. E al não dise. Joam Nunez
tabeliam ho escryvy.
Item Graviell Gracya tosador morador nesta vila de Leiria testemunha jurado aos Samtos
Evamjelhos que lhe foy dado e ele recebeo e em que pos a mão e perguntado pello custume
dise elle tabeliam [sic] nichill.
Item pergumtado elle testemunha pelo conteudo na pitição do supricamte dise ele
testemunha que he verdade que ele testemunha sabya que ho ano comteudo na pitição se
jueirara o tiguo nesta villa pera se vender por ser muito çujo em gramde camtydade he esto
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História
jerallmemte asy em esta vila como na comarqua e que houvira ele testemunha dizer no dito
ano as pesoas que vemdiam triguo que quebrava a terça parte no jueirar por a muita çugydade
que tinha de yoyo e hervylhaqua. E que he verdade que // [Fl. 21] ele testemunha vira ao
supricamte ter molheres o dito anno a jueirar ho triguo que tinha de Samta Crruz poera ho
poder vender jueirado porque sem se jueirar o não queryam comprar. E que he verdade que
ho dito anno se vemdera nesta villa muito triguo a cymcoemta reais ho alqueire. E que he
verdade que a esta vila recrrecera muito pão de fora .scilicet. d Alcobaça ho quall se vemdia
nesta vyla jueyrado e se vemdera dele a cimcoemta reais o alqueyre. E que ele testemunha não
he acordado a como valera a segumda o dito ano e he verdade que houvera nesta vyla taxa o
dito anno e porem que se nam husava della porque ho pão valya menos do que hera a taxa. He
all não dise. Joam Nunez tabeliam ho escryvy.
E depois desto aos cimco dias do mes de Junho de myll e quinhemtos e coremta e quatro
annos em a vila de Leiria no Arraballde da Pomte da dita vyla nas casas domde pousa Migell
Diãz morador no dito Arraballde Gomez Nunez tabeliam por mandado do juiz pergumtou as
testemunhas apresemtadas por Symão Barbosa seguimtes. Joam Nunez tabeliam ho escryvy.
Item Cateryna Lopez molher solteyra fylha de Joam Lõpez que Deus aja morador no dito
Arraballde testemunha jurada aos Samtos // [Fl. 21vº] Evamjelhos e pergumtado pelo custume
dise ella testemunha nichill.
Item pergumtada ella testemunha pello conteudo na pitição dise ela testemunha que he
verdade que ha novydade do triguo que se recolheo por Sam Joam de mill e quinhemtos
he coremta e hum e se gastou ate novydade de coremta e dous o trigo foy muito çujo em
estremo e aquellas pesoas que ho vemdiam não ho vemdiam sem ho jueirar primeyro e esto
sabya ella testemunha que fora neta vylla e hera muito cheo de joyo e de muita hervilhaqua e
çugydade e que he verdade que ho supricamte o dito ano tevera a renda de Samta Crruz nesta
vylla de Leiria e mandara jueirar o triguo que da dita remda ouvera asy no celeiro como em
casa porque doutra maneira não ho podia vender e que quebrava muito pollo asy jueirarem e
que ele testemunha não he hacordada quamta parte se lhe tirarya da çugydade soomemte lhe
lembra que lhe tiravam muita e esto sabya ela testemunha por ao tall tempo ela testemunha
vyver com o dito supricamte por solldada e o jueirar e ver jueirar ha // [Fl. 22] pesoas outras
que ho supricamte tinha por seu dinheiro ao jueirar. E que he verdade que ho dito anno avya
muito pão nesta vyla e estava abastada e all não dise do comteudo na dita pitição. Joam Nunez
tabeliam ho escryvy.
E Briolamgya Dyaz molher de Diogyo Pirez manteyro morador no Arraballde desta vylla
de Leiria testemunha jurada aos Samtos Evamjelhos em que pos a mão e pergumtada pelo
custume dise ela testemunha nychill.
Item pergumtada ela testemunha pelo comteudo na pitiçam do supricamte dise ela
testemunha que ela não sabya outra cousa soomemte que ho anno comteudo na pitição ho
triguo que houvera nesta vila e seu termo fora jerallmente muito çujo de modo que ho não
podiam vender sem ho jueirar e que ho sopricante tevera ho dito anno no celeiro de Samta
Crruz desta vyla muitas molheres a jueyrar o triguo que houvera de renda de Samta Crruz que
tevera e bem asy as tevera em sua casa dele supricamte e ella testemunha estevera certos dias
com ell e com outras molheres // [Fl. 22vº] a lhe jueirar o dito triguo por seu dynheiro dele
supricamte pera que ho podese vender e que lhe tiravão muita çugidade em fymda de maneira
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História
que em cada dous alqueyres de trigo se lhe tirava meio alqueire de çugydade e mays e que
hera verdade que ho dito ano acudira muito triguo de fora a esta vila e valera barato e a muitos
preços. E al não dise. Joam Nunez tabeliam ho escryvy.
Item Joana Martinz molher d Amtonio Fernandez carpimteyro morador no dito Arrabalde
testemunha jurado aos Samtos Evamjelhos que lhe foy dado e ele recebeo e em que pos a mão
e pergumtado pello custume dise ela testemunha nichill.
Item pregumtada ella testemunha pello comteudo na pytiçam do suprycamte dise ela
testemunha que ela sabya que ho ano comteudo na pitição do supricamte ela testemunha sabya
que ho triguo que nesta vylla e termo ouvera fora muito çujo e se não vendia senão jueirado e
que ho jueyravam muitas pesoas // [Fl. 23] pera ho venderem e que ela testemunha sabya que
quebrava o triguo que em cada dous alqueires se tirava meio alqueire de çugydade e não ficava
ainda lympo. E que ela testemunha fora ter hum dya ao celeiro de Samta Crruz desta vila e que
Symão Barbosa supricamte tinha no dito celeiro seis ou sete molheres a jueirar o triguo e que
houvyo ella testemunha dizer que as ditas molheres esteverão com [o] supricamte muitos dias
a jueirar o triguo e asy sabya ela testemunha que ho jueiravam outras pesoas que ho tinhão
pera vender pera que se podese vender porque sem ho jueyrar não ho podiam vemder. E all
não dise do comteudo na pitição. Joam Nunez tabeliam ho escryvy.
Item Violamte Fernandez molher de Vicemte Vaz tecelão morador nesta vila de Leiria
testemunha jurada aos Samtos Evamjelhos que lhe foy dado e ela recebeo e em que pos a mão
e pergumtada pelo costume dise ela testemunha nichill.
Item pergumtada ella testemunha pelo comteudo na pitição do supricamte // [Fl. 23vº]
dise ela testemunha que he verdade que ho ano conteudo na pitição o triguo que nesta vila de
Leiria e seu termo houvera fora muito çujo em estremo de muito joyo e hervylhaqua e muita
çugydade e que he verdade que ho dito ano ho dito Symão Barbosa supricamte pera vemder o
tryguo que houvera na remda de Samta Crruz que ho dito ano tevera o mamdava jueirar pera
ho poder vemder porque doutra maneira nam se vemdia e ela testemunha lhe vyra ter pera yso
molheres per muitos dias a jueirar no celeiro. E que huã filha dela testemunha estevera com
ele dous dias a jueirar por seu dinheiro. E que sabe ela testemunha que por o triguo ser muito
çujo que quebrava no jueirar em cada dous alqueyres meio alqueyre. E que muitas pesoas que
ho hyam comprar o não queryam comprar sem o tornarem a jueirar o que fora por o dito ano
acudyr a esta vyla muito pão de fora a se vemder asy do mar como d All // [Fl. 24] cobaça e
doutrãs partes. E all não dyse do dito artiguo. Joam Nunez tabeliam ho escryvy.
Com os quães ditos de testemunhas o dito Symão Barbosa supricamte pedio o estormemto
como pello juiz lhe hera mandado dar. E eu Joam Nunez publico tabeliam das notas e judiciall
por el Rey noso senhor na dita vyla de Leiria e seus termo[s] lhe dei este trelado do propio por
minha mão bem e fyellmemte. E com ele comcertado oje quatorze dias do mes de Junho de
mill e quinhemtos e corenta e quatro annos. E o asynei de meu publico synall que tall he.
(Sinal) Pagou deste cemto e vimte e tres reais e contas cemto e sesenta e hum reais. //
[Fl. 24vº]
26
Do Licenciado Simão Barbosa de Leiria. //
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História
[Fl. 25]
[Saibam quan]tos esta sertidão virem como … esprivão das sysas por el Rey [noso] senhor
em esta notavel vila [de L]eiria e seus termos faço saber [que] no livro das sysas do jeral da
vila de Leiria do ano de mil [q]uinhentos e quarenta e dous [a]nos estão as verbas seguintes
huã que diz o seguinte:
Vinte e oyto de Novembro dise o sobredito que ele trouxe dous moyos e meo de trygo e
que vendeo a cincoenta reais alqueire os dous moyos e meo nese comeo e dyse Antonio Lopez
que erão tres moyos e que ho moyo e meo vendeo e meo diz que semeo e meia sysa. Esto em
hum titulo de Frrancisco Velho sobrynho de Joam d Evora as trezentas e trynta e oyto folhas,
e em outro titulo de Joam Pinto as trezentas e trynta e nove folhas diz o seguinte:
Item a nove de Junho dyse Luis Pinto que ele tynha pera vender seis moyos e iijº de trygo
e que vende a cyncoenta e cynco reais alqueire a dyto d Antonio Lopez de mea sysa. E na dyta
folha titulo de Symão Fernandez Paneira esta outro acento que diz: Item a vinte de Junho dise
// [Fl. 25vº] ho sobredito que … moyos e meio de trigo … reais alqueire a d[ito]… mea sysa.
E por me … o Lecenceado Symão Ba[rbosa]… esta vila esta sertid[ão] pasey por mandado do
jui[z]… Feyta e asynada por mym [vinte] e dous dyas do mes d Ab[ril de mil] e quynhentos
e quaren[ta e]… annos.
(Ass.)
Anrrique Faria. Pagou …custas. //
[Fls. 26 e 26vº — brancos]
[Fl. 27]
[Sabham]… este estormento dado em publico … de hum conhecimento dado por
mandado … de justiça virem como no a[no do nacimen]to de Noso Senhor Jhesu Christo de
[mil] e quynhentos e quarenta e qua[tro a]nos aos honze dias do mes [de Jun]ho do dito ano
em esta notavell [vila de] Leiria nas pousadas do Licenciado Fer[nam Car]doso juiz de fora
na dita vila ct. [Perante] ele juiz pareceo o Licenciado Symão [Barbosa] morador na dita vila
e apresentou [ao dito] juiz hum lyvro e nele vynha hum [conhecimento e] requereo ao dito
juiz que ele lhe era necesario ho trellado do dito conhecimento em publica forma que requerya
a ele juiz que lhe mandase dar ho trelado dele em modo que fyzese fe e visto pelo dito juiz
mandou a mim tabeliam que lhe dese ho trelado do dito conhecimento em modo que dizese fe
em comprimento do quall heu tabeliam abaxo nomeado treladey aquy ho conhecimento e ho
trelado he ho que se segue:
Diguo heu Diogyo Leytão almoxarife das rendas de Santa Cruz na vyla de Leiria que he
verdade que heu receby por Symão Barbosa huns roles de pão fiado que elle deu nesta vila ho
ano pasado de mill e quinhentos e quarenta e hum anos das ditas rendas de que ele foi rendeiro
no quall pão se montou certa soma de dinheiro segundo se por eles declara e porque nos nos
acrecentou … que se roubase ho dinheirro dos // [Fl. 27vº] ditos roles e pão fi[ado] … balho
me dese vynte … ao juiz e confeso que tem … vynte myll reais do dito … da sua propya casa
pelo que … montar nos ditos roles fica … fazer em pagamento do dito Licenciado S[ymão
Barbosa] se alem de tirar hos ditos vynte [mil] reais somente se tyrarom dos d[itos] … alguns
conhecimentos que ho dito Licenciado tyn[ha] … mandava halgum houtro livro e … lhey este
por mym feito e asinado … quall ho dou por quyte e lyvre d[os] … vynte myll reais somente
e mandou … guo deles. Feito hoje tres d Abrrill de myll e quynhentos e quarenta e tres anos.
Diogo Leitão.
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História
Ho quall conhecimento heu Gomez Nunez treladey aquy do propyo que fica em poder
do dito Licenciado Symão Barbosa e por ho dito Licenciado me requerer que lhe pasase ha
dita certydão heu Gomez Nunez tabeliam do judecyall por ell Rey noso senhor na dita vyla e
termo dela pasey oje honze dias do mes de Julho do dito ano de myll e quynhentos e quarenta
e quatro anos, e hasyney de meu publico synal que tal he.
(Sinal) — 1544 — Pagou nychill.
Doc. 10
1546 JANEIRO, 21, Leiria — Apuramento da conta e dívida do Licenciado Simão
Barbosa, o qual fora rendeiro das rendas do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra no Priorado
de Leiria, no ano de 1541-1542.
TT — Corpo Cronológico, Parte 2ª, Mº 210, Doc. 65.
E vista e lida asy a dytã carta pello dytõ corregedor e junto a este auto por ell foy dyto
que elle queria logo satysffazer a todo ho em ela conteudo e comygo esprivam ffez loguo ha
delygencya seguinte. Antonio Freyre que ho esprevy.
Item primeiramente se achou que fora arrematada toda a masa das rendas de Santa Cruz
ho anno de bc e quorenta e huum que se acabou por Sam Joam de bc e quorenta e dous ao dytõ
Licenciado Symão Barbosa em hum conto e quorenta e cynquo myll reais em paz e em salvo
pera o prior moor, e ho dytõ rendeiro avya de pagar todos os custos e ordynarias e lhe avyam
de ser levadas em pagamento has rendas rameyras____ hum conto Rb— reais.
Item achou se valerem hos custos e ordynarias que ho dytõ rendeiro avya // [Fl. 1vº] de
paguar cento e oytenta e oyto myll e setecentos e vynte e seys reais, porque os mays custos
paguaram as freguesyas e rendas rameyras pela parte que lhes cabya.___ Cto Lxxxbiij— bijc
xxbj reais.
De maneira que juntos estes custos que ho dytõ rendeiro avya de paguar ao pryncypall
atras ffazem em soma todo ho que custou ha dyta renda hum conto e duzentos e trynta e tres
myll e setecentos e vynte e seys reais____ hum conto ijc xxxiij— bijc xxbj reais.
Item mostra se valerem has rendas rameyras com hua parte de custos quynhentos e
dezanove myll e duzentos e quinze reais_____ bc xix— ijc xb reais.
Os quaes tyrados da dytã soma do pryncypall e custos ffycam sobre ho dytõ rendeiro // [Fl.
2] setecentos e quatorze myll e quynhentos e onze reais____ bijc xiiij— bc xj reais.
Item mostra se fyquar ao dytõ rendeiro pera pagamento do que sobre elle carregua ho
rendeyro do celeiro desta cydade. E bem asy ho celeyrynho que he sall e legumes de ervanços
favas cebolas e outras cousas semelhantes sem outras meunças alguãs nem dinheirro nem
rendymento outro algum.
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História
O quall celeiro segundo consta pello lyvro do Priostado rendeo ho dyto anno cento e vynte
e sete moyos e tres quarteyros de todo pam .scilicet. de tryguo sesenta e oyto moyos e de
segunda centeo cevada e mylho cynquoenta e nove moyos e tres quarteyros.
Item E mostra se pello lyvro das obrygações do pam fyado vender ho dytõ rendeiro
de tryguo trynta moyos e cynquoenta. // [Fl. 2vº] E pam vendydo a dinheiro e celeyrynho,
quatrocentos e vynte e nove myll e cento e quatro reais____ iiijc xxix— Cto iiijo reais.
Perda — E estes duzentos e oytenta e cynquo myll e quatrocentos e sete reais acyma
declarados parece por esta conta perder ho dytõ rendeiro na dytã renda.
Pagamentos que fez ho dytõ rendeiro por sy e seus fyadores.
Item mostra se paguar ho dytõ rendeiro per rolles de pam fyado allem do que da renda
deu fyado, de que atras fyca hadyçam cento e tres // [Fl. 3] myll e oytenta e hum reais___ Cto
iij— lxxxj reais.
E de quatro moyos de tryguo d Antonio Frade que nom entram nos custos que he obrygado
pagar por ser merce feyta despoys onze myll e novecentos e setenta e cynquo reais____ xj— ixc
lxxb reais.
Item pagou mays aa Diogo Leytam almoxarife por duas adyções trynta e dous myll
reais____ xxxij— reais.
Item mostra se pagarem seus fyadores quorenta e quatrro27 myll e quatorze reais___
Riiij— xiiijo reais.
O que fez em soma cento e noventa28 e hum29 myll e setenta reais___ Cto lRj— lxx reais,
dygo cento e noventa e hum myll e setenta reais por verdade. // [Fl. 3vº]
E por esta maneira se mostra ho dytõ rendeiro fycar devendo da dytã renda lyquydamente
trezentos e vynte e tres myll oytocentos e cynquoenta e sete reais___ iijc xxiij— biijc Lta bij
reais.
E quanto ha quytaçom se mostra elle rendeiro nem seus fyadores averem quyta alguã
ho dytõ anno. E feyta asy ha dytã conta e declarações atras ho corregedor mandou todo asy
esprever pera ser visto juntamente com ho padre vygairo e Alvaro Botelho segundo forma da
carta de Sua Alteza e se satysfazer a ello em todo. Antonio Freyre esprivam que ho esprevy.
E despoys desto aos vynte hum dias do mes de Janeiro do anno de j— bc e quorenta e
seys annos em a cydade de Leiria nas pousadas do corregedor ho Licenciado Afonso da
Costa perante elle pareceo ho Licenciado Symão // [Fl. 4] Barbosa conteudo em estes autos e
requereo ao dytõ corregedor que vyse esta delygencya com ho padre vygairo e Alvaro Botelho
e acabase pera ser envyada a el Rey noso senhor segundo forma da carta e loguo ho dytõ
corregedor e vygairo happrovaram e acharam estar feyta na verdade e ha ouveram por bõoa e
acabada e nom foy presente Alvaro Botelho por ser ocupado e ho dytõ corregedor e vygairo
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asynaram aquy e mandaram que ffose tudo levado ao dytõ Alvaro Botelho que outrosy ha
revese e achando alguã duvyda se satysfarya a ella. Antonio Freyre esprivam que ho esprevy.
Dyz antrelynha vynte e hum por verdade.
(Ass.)
† D. Diogo Diaz vigairo.
Afonso da Costa. // [Fl. 4vº]
†
Conta do ano de Rj, Rij e de 43, 44.
E os autos das execuções.
E a taxa se ouve o anno de 42.
Venha por enformação se nam anda nos autos.
Foy rendeiro o anno de 41 pera 42 e do 43 e não ouve quita salvo o oficio de seu pay que
ouve no anno de 42.
_________________________
NOTAS
Para este assunto, veja-se Afonso Zúquete, Leiria — Subsídios para a História da sua Diocese,
Leiria, Gráfica, 1943, pp. 21-25; Luciano Coelho Cristino, “Os primeiros 50 anos da Diocese
de Leiria (segunda metade do século XVI) no contexto do mundo e de Portugal da mesma
época”, Leiria. 450 Anos. Diocese [e] Cidade, Leiria, Biblioteca Pública e Arquivo Distrital
de Leiria, 1996, pp. 97-116; S. A. Gomes, “Diocese de Leiria-Fátima”, Dicionário de História
Religiosa de Portugal (Dir. Carlos Moreira Azevedo), Vol. III, Círculo de Leitores, 2001,
pp. 74-81; José Pedro Paiva, “Dioceses e organização eclesiástica”, História Religiosa de
Portugal (Dir. Carlos Moreira Azevedo), Vol. II (Coord. João Marques e António Camões
Gouveia), Lisboa, Círculo de Leitores, 2000, pp. 187-191.
2
Destes actos, releve-se a edição de um conjunto de estudos sobre o passado leiriense, tombados em volume especial desta revista Leiria-Fátima. Órgão Oficial da Diocese, Ano III,
Nº 9, Setembro-Dezembro 1995.
3
De assinalar que este valor correspondia apenas a 2/3 das rendas do Priorado, porquanto 1/3
delas pertencia ao Cabido colegial leiriense.
4
Refira-se que, em 25 de Março de 1520, Álvaro Leitão era juiz de Leiria, justamente. Cremos
tratar-se da mesma pessoa, dado que, na data apontada, ele mostra intervir sobremodo nos
assuntos das rendas e despesas do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra no Priorado de Leiria.
(Vd. Instituto dos Arquivos Nacionais – Torre do Tombo (doravante referido por TT) — Corpo
Cronológico, Parte 1ª, Mº 25, Doc. 144; publicado por Sousa Viterbo, Dicionário Histórico
e Documental dos Arquitectos, Engenheiros e Construtores Portugueses ou a Serviço de
Portugal, I, A-G, Lisboa, Imprensa Nacional, 1899, pp. 116-117).
5
TT — Mosteiro da Batalha, Livro 2, fls. 21vº-23 e 77-78. (Documentos lavrados, respectivamente, em 2 de Janeiro de 1518 e em 31 de Maio de 1529, Batalha).
6
Sobre este tema, vd. S. A. Gomes, “Leiria e a Tipografia Judaica dos Ortas…”, Estudos
Orientais. VI. Homenagem ao Professor António Augusto Tavares, Lisboa, Instituto Oriental
– Universidade Nova de Lisboa, 1997, pp. 221-235.
1
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História
7
De notar que na vizinha Batalha, nesse mesmo momento, os preços do alqueire do trigo
variaram entre os 70 e 60 reais, de acordo com as contas da Confraria e Hospital de Santa
Maria da Vitória. Vd. S. A. Gomes, O Livro do Compromisso da Confraria e Hospital de
Santa Maria da Vitória da Batalha (1427-1544), Leiria, Magno, 2002, pp. 89-90.
8
Rasgão neste ponto.
9
Palavra corrigida.
10
Riscou a palavra “Rainha”.
11
Riscou “Senhor”.
12
Sic.
13
Riscou “a”.
14
No canto superior esquerdo do documento, foi escrito por mão diferente: “Em Lixboa a xij
de Setembro de 1542, scilicet, digo de 1543”.
15
Leitura duvidosa; aparentemente poderá corresponder a Pataias.
16
Riscou “estes”.
17
Riscou “se”.
18
Riscou “façam vy”.
19
Riscou “hum”.
20
Palavra corrigida.
21
Corrigiu esta palavra de “doze”.
22
Riscou alguns numerais.
23
Na margem esquerda inferior deste fólio foram lançadas as seguintes somas: “xbj”, “Soma,
xxxiiijº moios trigo; xij moios e xxbij all[queires] centeio; cevada, x moios e meio, xbj
allqueires; xbj moios xxbiijº all[queires] de milho”.
24
O fólio encontra-se em branco, salvo a soma no final da página.
25
Palavra emendada.
26
Riscou: “ho jueirar”.
27
Palavra riscada e emendada.
28
Palavra corrigida.
29
Palavra corrigida.
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Consulte a Diocese on-line em
www.leiria-fatima.pt
E
d
i
ç
ã
o

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