A “Sagres” tem novo motor A “Sagres”

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A “Sagres” tem novo motor A “Sagres”
A
A “Sagres” tem novo motor
pós percorrer o equivalente a cerca generalizado o conhecimento destes motores
de 13 voltas ao Mundo e funcionar por parte dos militares das classes técnicas.
durante mais de 25 000 horas, o moA série 183 da MTU, a mesma do motor
tor do navio-escola “Sagres” foi substituído propulsor da “Sagres”, foi desenvolvida para
em Dezembro de 2011. Recorde-se que o vários propósitos, como produção de enermotor agora substituído já não era o origi- gia, propulsão de locomotivas ou propulsão
nal. O motor original era um MAN de 750 de navios. Em particular, o modelo existente a
cavalos-vapor (cv), que ocupou o seu lugar bordo é indicado pelo fabricante como i­deal
na Casa das Máquinas do navio, entre 1937 para propulsão de iates e lanchas rápidas.
e 1991. Em 1991, esse
motor MAN foi substituí­
do por um motor MTU
12V 183TE92 de 1000
cv. Agora, vinte anos volvidos, o motor foi novamente substituído, mas
desta vez por um motor
MTU semelhante ao anterior – o qual corresponde, na realidade, a uma
variante do motor Mercedez-Benz OM 444 LA,
motor com aplicação essencialmente rodoviária.
A MTU (Motoren und
Turbinen Union) sediada em Friedrichshafen
na Alemanha, já tem um
longo historial no forneciEmbarque do novo motor na “Sagres”.
mento de motores à Marinha. Fundada pela família Maybach, em 1909,
chamava-se na altura Luftfahrzeug-Motorenbau e
dedicava-se ao fabrico
de motores para aeronaves, tais como os famosos dirigíveis Zeppelin.
Em 1918, após a I Guerra Mundial, a firma, então
já com o nome Maybach,
começou a produzir motores rodoviários, acrescentando-lhes durante a
II Guerra Mundial a produção de motores para
locomotivas, navios, carros de combate e grupos
Novo motor MTU da “Sagres”.
electrogéneos. Alguns
anos mais tarde, em 1966, a união com a Embora a “Sagres” tenha um deslocamento
Mercedes-Benz proporcionou a expansão da de quase 2000 toneladas – o que poderá ser
Maybach. Frise-se que, na nossa Marinha, o considerado elevado para o motor existente –
nome Maybach é reconhecido, entre outros o sistema propulsor a bordo é apenas auxiliar,
motivos, por ser a designação dos propulsores destinando-se, entre outras aplicações, a naoriginais dos patrulhas da classe Cacine. En- vegar em águas restritas em segurança, tarefa
tretanto, em 1969, a firma alterou novamen- para a qual a potência de 735 kW (≈ 1000 cv)
te o seu nome para MTU, marca que equipa é suficiente. Aliás, o conhecido Eagle, navio
muitos dos nossos navios, sendo, por isso, gémeo da “Sagres”, também possui um motor auxiliar de propulsão com uma potência
semelhante: 750 kW (≈ 1000 cv). Já outro
MOTOR
POTÊNCIA
ANOS
dos navios gémesos, o Gorch Fock, lançado
MAN
750 cv
1937-1991
à água em 1958, possui um motor propulsor
MTU
1000 cv
1991-2011
de 1220 kW (≈1600 cv).
MTU
1000 cv
2011-?
Como curiosidade, pode referir-se que, reMotores auxiliares de propulsão da “Sagres”. lacionando a potência com o deslocamento,
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FEVEREIRO 2012 • REVISTA DA ARMADA
obtemos, para a “Sagres”, o quociente 0,0004
kW/kg, bastante diferente da relação obtida
nos nossos carros, a qual ronda os 60 kW/kg.
De qualquer maneira, nesta altura em que
o antigo motor abandona o navio, onde trabalhou com denodo durante 20 anos, importa recordar alguns dos seus serviços. Assim, desde
1991 o motor auxiliar propulsor da “Sagres”
realizou mais de 25000 horas de funcionamento, grande parte das quais
a mais de 80% da sua potência máxima. Para além
disso, entre 1991 e 2011,
o navio efectuou um total de 70 missões, em que
foram percorridas mais
de 277000 milhas náuticas e efectuadas cerca de
41000 horas de navegação, o equivalente a mais
de 1700 dias permanentemente a navegar. Ainda
assim, foi notável a resistência por si demonstrada
nestes 20 anos de funcionamento, sobretudo atendendo a que a “Sagres”
possui um deslocamento
de quase 2000 toneladas e
opera num meio sujeito a
diversos esforços, nomeadamente provocados pela
ondulação e por temperaturas extremas, que se fazem sentir nalguns locais.
Esta prolongada durabilidade do motor deve muito aos cuidados de operação e manutenção que o
pessoal, nomeadamente
do Serviço de Máquinas,
lhe foi devotando ao longo dos anos.
Contudo, no final da
Volta ao Mundo, em 2010,
o motor começou a apresentar fugas de água no
circuito de água doce de
arrefecimento. Além disso, na última missão rea­lizada (Viagem de Instrução 2011 / Iniciativa Mar Aberto 2011), uma
avaria no arrefecedor de óleo de lubrificação
quase pôs em risco o cumprimento do planeamento de chegada a Ponta Delgada, sendo
que apenas uma operação logística imaculada
permitiu substituir o arrefecedor degradado e
chegar à ilha de São Miguel na data e hora previstas. Não obstante, era evidente que o motor
já se encontrava bastante degradado, pelo que
a substituição agora efectuada irá permitir-lhe
o merecido descanso, enquanto um motor semelhante se prepara para cruzar os sete mares,
à semelhança do antecessor.

Colaboração do COMANDO DO NRP “SAGRES”

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