CONSUMO E ESTILO DE VIDA DE MULHERES MADURAS
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CONSUMO E ESTILO DE VIDA DE MULHERES MADURAS
CONSUMO E ESTILO DE VIDA DE MULHERES MADURAS: REFLEXÕES POR MEIO DAS ROUPAS1 Maria Célia Padula Batista2 Maria Alice Vasconcelos Rocha3 RESUMO A expectativa de vida no Brasil e no mundo tem aumentado nas últimas décadas e o contingente de mulheres maduras, com idade acima de 50 anos, em plena atividade produtiva também apresenta incremento, embora não encontrem correspondência nas roupas ofertadas pelo mercado. Esta pesquisa procurou conhecer a real necessidade de 25 mulheres consumidoras maduras no que tange a sua preferência por produtos para modavestuário com o intuito de dar suporte à indústria na promoção da inclusão deste grupo no planejamento de produtos com valor de moda. Por meio de questionários e entrevistas sobre uma Roupa Ideal, sua Roupa Predileta e sua Roupa Encostada foi possível investigar quais os Indicadores para o Consumo de Moda-Vestuário mais importantes para elas. Dentre outros, os resultados indicaram que “Marca” e “Influência de Celebridade” são pouco significativas para este grupo de mulheres e que “Cor”, “Durabilidade” e “Fácil de Manter” são Indicadores importantes nas três categorias de roupas analisadas. PALAVRAS-CHAVE: Moda. Vestuário. Inclusividade. 1 INTRODUÇÃO O pólo industrial de moda-vestuário em Pernambuco é o segundo em importância no Nordeste e o segundo em produção no Brasil. No estado, há duas regiões com produção significativa no setor de confecções, a Região Metropolitana do Recife, com participação de 44% das empresas formais, e a Região do Agreste com representação de 42% das empresas da indústria do vestuário formalizadas no estado (SINDIVEST, 2002). Com o incremento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal e a implantação de empresas de tecelagem plana em Pernambuco (Suape Têxtil) e de fiação de poliéster (CITEPE), a cadeia têxtil-vestuário no estado deverá ganhar maior importância (SUAPE, 2007). Mas, para que a indústria se desenvolva, é necessário que haja um mercado consumidor disposto a adquirir seus produtos. Algumas pesquisas enfatizam a insatisfação do consumidor em nível global com produtos de moda-vestuário oferecidos pelo mercado (KSA 1999; 2004), indicando que parece existir uma lacuna ou falta de informação suficiente a 1 Resultados parciais de pesquisa aprovada e financiada por meio do Edital CNPq 57/2008 – Gênero. Graduanda em Economia Doméstica, Aluna PIBIC UFRPE/CNPq, UFRPE. [email protected] 3 Arquiteta, Mestre em Engenharia de Produção, Doutora em Design de Moda, Professora do Departamento de Ciências Domésticas da UFRPE. [email protected] 2 1 respeito das reais necessidades dos consumidores e possivelmente também relacionado aos padrões de beleza e de comportamento. Apesar da ânsia das empresas em atender todos os desejos dos consumidores ainda nos deparamos com pessoas que tem dificuldade de encontrar no mercado uma roupa confortável, que se ajuste adequadamente à sua anatomia e que atenda às suas preferências. As empresas para sobreviver num ambiente competitivo precisam satisfazer às necessidades dos consumidores e, por conseguinte, se adequar às novas formas de família, aos novos padrões de vida social, cultural e emocional, ou seja, estarem atentas às mudanças comportamentais da sociedade. Neste sentido, parece existir uma falta de informação suficiente a respeito das reais necessidades dos consumidores maduros, o grupo etário com mais de 50 anos. Vale lembrar que é cada vez mais significativa a participação desses consumidores em termos demográficos seja no mundo, seja no Brasil, e padrões e conceitos carecem de atualização. Através de um novo conceito de alimentação, mais natural, aliada aos avanços da medicina e de exercícios físicos, a expectativa de vida no Brasil tem aumentado significativamente. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2003 uma mulher ao completar 60 anos teria pela frente 22,1 anos de vida. E é esse público ativo, experiente e consciente de sua força na história recente da sociedade que parece ter sido esquecido pela indústria de confecções e pelo varejo de produtos de moda-vestuário. Nas últimas décadas as mulheres vem assumindo, ao mesmo tempo, as funções produtivas e reprodutivas e as mulheres em idade madura estão buscando o mercado de trabalho por diversas razões; dentre elas a complementação da renda familiar (BRUSCHINI, 1994; WAJNMAN & PERPÉTUO, 1997). Vale lembrar que as consumidoras maduras de hoje são aquelas que ao longo dos anos aprenderam a conhecer melhor seu corpo, a valorizar sua liberdade e introduzir inovações comportamentais. De acordo com Hannud (1999: 196) “o estilo que a mulher adquire ao longo dos anos, aflora na maturidade”. Buscando conhecer melhor esse público foi realizada uma pesquisa com 25 consumidoras maduras com idade superior a 50 anos com o objetivo de investigar suas preferências por produtos de moda-vestuário, visando identificar conceitos de adequação anatômica e comportamental relacionados à percepção de satisfação de consumo. 2 2 REVISÃO DE LITERATURA Desde o final do século passado as empresas acompanham o despontar de um novo mercado, o chamado mercado da Terceira Idade, onde publicitários procuram atrair esse público para seus produtos, bens de consumo ou serviços. Como estratégia, as empresas vêm adequando seus produtos para um público que não é tão jovem, mas também não tão velho. Para Motta (1995), esse grupo identificado como “idoso jovem” representa novos modos de vida de uma geração de mais idade, porém ativa, informal, livre e “leve”. Nesse contexto, lembramos da possibilidade do momento atual ser o mais adequado ao estudo destas gerações, visto que Áries (1978, p.48) faz uma construção social e histórica das idades quando afirma que: “...a cada época corresponderiam uma idade privilegiada e uma periodização particular da vida humana: a ‘juventude’ é a idade privilegiada do século XVII, a ‘infância’, do século XIX e a ‘adolescência’, do século XX”. Motta (1997) continua a construção falando de uma “terceira idade” ao se referir a uma fase da vida que tende a se intercalar entre a aposentadoria e a velhice. Segundo a autora, essa construção se torna necessária para atender a novas demandas sociais, no sentido de aproveitamento de um novo tempo subitamente ganho. Ainda, as idades “certas” para cada momento definidor da vida dos indivíduos como idade certa para ir à escola, ou para sair do mercado de trabalho, ou ainda para ser mãe estão determinadas na modernidade ocidental, apesar de que essas idades podem variar no tempo e no espaço e de acordo com o sexo e a posição social dos indivíduos. Corroborando com esse pensamento, Szmigin e Carrigan (2001) lembram que a partir dos 50 anos uma pessoa pode estar iniciando uma nova família, cuidando de netos, tomando conta de um parente mais velho e doente, pensando em aposentar-se, abrindo seu próprio negocio, ou voltando para a universidade, dentre outras atividades. Assim, é possível hoje se deparar com mulheres maduras em plena atividade, que conseguem se deslocar naturalmente no espaço público e privado com desenvoltura e muita propriedade, cientes de seu empoderamento. Porém, no caso específico das consumidoras maduras e suas relações com o consumo de moda-vestuário parece haver muito que considerar no sentido de que a indústria da moda tende a valorizar a beleza jovem como padrão estético. A maioria das mulheres, sem distinção de idade, parece querer se sentir atual, sem abrir mão do conforto, da versatilidade e do bem estar. Mas, é certo que as modificações biológicas ocorridas no corpo com o processo de envelhecimento requerem certas considerações. Neste sentido, esse novo público, o das 3 mulheres maduras, traz um vasto leque de oportunidades para empresas que se anteciparem aos interesses do “emergente mercado de cabelos grisalhos” como assim os define Dychtwald (2002). 3 METODOLOGIA Este estudo de caráter exploratório optou pelo uso de métodos de cunho qualiquantitativo como análise estatística descritiva e análise de conteúdo. O universo da pesquisa foi a Região Metropolitana do Recife, tendo a amostra 25 consumidoras maduras com idade superior a 50 anos. A amostra foi escolhida aleatoriamente, através de informações de pessoas ligadas à pesquisa ou interessadas no projeto e através da colaboração de alunas do Curso de Economia Doméstica que solicitaram de parentes e amigas a participação nas pesquisas. Para participar só tínhamos uma exigência: ter mais de 50 anos; não se levando em consideração a posição social, a etnia ou o estado civil. Os Indicadores para o Consumo de Moda-Vestuário definidos por Rocha (2005) foram trabalhados com as participantes da amostra por meio da aplicação de questionários e entrevistas semi-estruturadas. Foram utilizados diversos instrumentos de coleta e registro como: Questionário 1 sobre a Roupa Ideal, Questionário 2 sobre a Roupa Predileta e a Roupa Encostada e Questionário 3 sobre o Perfil Corporal e Comportamental, gravador de voz e câmara fotográfica sempre que permitido pela entrevistada. Fez-se uso ainda de instrumentos de medição como: balança do tipo caseira e fita métrica. Um Termo de Compromisso foi elaborado para assegurar um trabalho de pesquisa ético, no qual dentre várias considerações garantia o anonimato das entrevistadas através da criação de um código alfa-numérico. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Muitas das 25 mulheres maduras com idade superior a 50 anos entrevistadas ainda exercem atividades profissionais, sendo algumas delas chefes de família e independentes financeiramente. Por se tratar de uma pesquisa qualitativa que envolve pessoas de diversas gerações, as informações coletadas trazem em seu conteúdo desde lembranças do período pós 2ª. Guerra Mundial onde produtos de moda-vestuário eram raros e carregados de tradições e raízes, até a vivência dos dias de hoje nos quais a Era da Informação promove uma renovação de estilos e padrões em velocidade vertiginosa. 4 Esses acontecimentos que antes não influenciavam no dia-a-dia, hoje estão presentes e parecem interferir no modo delas se vestirem. Alguns depoimentos, como o das entrevistadas (E01) e de (B02) comprovam que no seu cotidiano atual há a presença de produtos e serviços que há alguns anos nem sonhavam que teriam acesso, como “tratamento dermatológico das manchas na pele decorrentes da exposição ao sol” ou “sandálias ergonômicas usaflex, protetor solar, roupas de malha supplex, forno de microondas, alimentos pré-preparados”, dentre outros. Idades e gerações são importantes fatores de organização social. Entretanto, a condição etária e, principalmente o envelhecimento, ainda são mecanismos fundamentais de classificação e separação de seres humanos. O tempo dos indivíduos é expresso mais imperceptivelmente pela idade, mas adquire significado mais diretamente social por meio dos grupos de idade (jovens, adultos, velhos) com legitimidade para realizar, ou não, tal ou qual um ação social (MOTTA, 2001). Nesta pesquisa, algumas das entrevistadas trouxeram depoimentos conscientes do dever cumprido, com família formada, filhos e netos encaminhados. A amostra contém ainda mulheres que se separaram de seus maridos e sustentam a casa com sua força de trabalho e muitas foram os formatos de família encontrados. Na amostra ainda aparecem mulheres que nunca se casaram, representantes de uma geração que teve de optar entre estudo e carreira profissional ou a construção de uma família nuclear, tendo algumas declarado que esta opção por carreira ou família foi extremamente difícil. Na análise dos dados pudemos verificar que as necessidades pessoais dessas mulheres muitas vezes se confundem entre o estritamente pessoal e o julgamento familiar, permitindo que se vislumbre um padrão diverso de comportamento em relação a produtos de modavestuário. Por meio dos 38 Indicadores para Consumo de Moda-Vestuário definidos por Rocha (2007) e aplicados aos três tipos de roupas pesquisadas (Roupa Ideal, Roupa Predileta e Roupa Encostada) é possível saber mais sobre as preferências dessas consumidoras maduras. Considerou-se que a Roupa Ideal seria aquela que está no imaginário das entrevistadas e que elas gostariam de encontrar ofertada pelo mercado e a Roupa Predileta aquela que lhe traz sensação de prazer em usá-la. A Roupa Encostada é a que traz mais simbolismo, pois pode estar encostada temporariamente por diversas razões como: estar apertada no presente momento, situação que a entrevistada espera reverter; por estar à espera de um complemento ou um adorno adequado; por estar fora da moda, mas espera-se que algum dia voltará a usá-la; por trazer lembranças agradáveis ou por ter sido presente de um ente querido; ou ainda 5 encontrar-se encostada porque comprou, arrependeu-se, ou não está satisfeita mas não quer se desfazer. Para que fosse possível identificar quais os Indicadores para o Consumo de ModaVestuário mais importantes para as mulheres foco desta pesquisa, foi calculada a média atribuída a cada um destes Indicadores com o uso de uma escala de 20 pontos. O menor valor encontrado para a Roupa Ideal foi 7,20 para o Indicador “Marca” e o maior valor foi 19,80 para os Indicadores “Caimento” e “Clima (Tabela 1). Para a Roupa Predileta o menor valor encontrado foi 8,83 para o Indicador “Influência de Celebridade” e o maior valor foi 19,67 para o Indicador “Gosto”. Já no que se refere às médias amostrais da Roupa Encostada, o menor valor encontrado foi 5,91 novamente para o Indicador “Influência de Celebridade” e o maior valor foi 16,52 atribuído ao Indicador “Fácil de Manter”. Calculando a média entre o maior e o menor valor de cada uma das categorias, tem-se 13,5 para a Roupa Ideal, 14,25 para a Roupa Predileta e 11,21 para a Roupa Encostada. Como conseqüência, adotou-se como parâmetro para preferência, os Indicadores com média igual ou superior maior destes últimos, ou seja, superior ao valor de 14,25. Analisando-se por este prisma, a Roupa Encostada apresenta apenas seis Indicadores como os mais importantes nas preferências entre as consumidoras maduras (Tabela 1): “Convenções Morais”, “Cor”, “Durabilidade”, “Fácil de Manter”, “Funcionalidade” e “Tecido”. Vale ressaltar que durante as entrevistas os Indicadores “Durabilidade” e “Fácil de manter” foram motivo de brincadeira neste quesito, pois, algumas das entrevistadas disseram que a peça duraria ainda por muito tempo e estariam bem conservadas até que surgissem novas oportunidades para utilizá-las. De fato, pode-se subentender que se a Roupa Encostada não suportasse condições adversas provavelmente já teria sido descartada. Tabela 1 – Média dos Indicadores pelo TIPO DE ROUPA ROUPA IDEAL ROUPA PREDILETA ROUPA ENCOSTADA ADEQUAÇÃO FÍSICA 19,60 18,33 9,57 APARÊNCIA ETÁRIA 18,40 18,00 12,70 BELEZA 16,40 17,17 14,09 BEM ESTAR 18,60 19,33 8,55 CAIMENTO 19,80 19,00 11,30 CLIMA 19,80 17,50 10,61 CONFORTO 16,25 19,50 8,35 CONVENÇÕES MORAIS 9,00 19,50 14,43 COR 19,40 19,17 14,78 INDICADORES 6 CRENÇAS 7,80 16,35 10,78 DESTAQUE 17,80 16,17 12,18 DURABILIDADE 15,00 18,33 17,22 ELEGANCIA 16,60 16,50 12,70 ENCANTAMENTO 10,20 17,33 9,91 ESTILO PESSOAL 11,60 18,26 11,13 ETNICIDADE 11,80 13,83 10,43 EXCLUSIVIDADE 14,40 18,00 12,35 EXPOSICAO DO CORPO 18,80 14,83 14,09 FÁCIL DE MANTER 17,60 18,83 16,52 FUNCIONALIDADE 18,60 18,67 14,36 GENERO OPOSTO 13,54 16,17 10,43 GOSTO 15,60 19,67 10,61 HUMOR-ASTRAL 14,20 18,67 10,26 IDEOLOGIA 11,00 15,67 7,48 INFLUENCIA DE CELEBRIDADE 9,00 8,83 5,91 JULGAMENTO DE IMAGEM 14,80 15,33 9,57 MARCA 7,20 13,57 10,91 MESMO GENERO 12,80 15,50 9,91 MODA 10,00 16,17 9,22 OUSADIA 15,20 13,17 8,52 PRECO 14,40 17,50 13,22 PROFISSÃO 9,80 13,57 9,22 QUALIDADE 9,60 17,50 15,30 SAÚDE 15,80 17,83 10,96 SAZONALIDADE 19,00 17,00 11,65 SENSUALIDADE 12,60 15,17 9,91 TECIDO 18,20 18,43 14,26 VERSATILIDADE 19,00 17,57 11,81 Como já era de se esperar, a Roupa Predileta apresentou poucos Indicadores com média abaixo do parâmetro (Tabela 1): “Etnicidade”, “Influência de Celebridade” “Marca”, “Profissão” e “Ousadia”. Ao se observar a natureza desses Indicadores, pode-se perceber que os mesmos guardam uma característica em comum: com exceção do primeiro, todos são percebíveis por terceiros, mostrando que para essas mulheres e para essa geração a opinião de terceiros não tende a influir em seu modo de vestir. Quanto ao Indicador “Etnicidade” pode-se inferir que para essas consumidoras esse valor intangível não se reflete em valor tangível, provavelmente devido ao período de sua adolescência quando a opinião da família era quase que uma imposição. Para essas mulheres, a opinião de pessoas próximas que possam vir a 7 interferir sobre seu modo de vestir, recai nos Indicadores “Gosto” e “Beleza”, ambos com atribuição de média elevada. Durante as entrevistas, muitas mulheres declararam que se um(a) filho(a), amigo(a) ou outro parente disser que não gostou da roupa que ela escolheu, ela pode pensar em tirá-la, sendo este um dos motivos da existência da roupa encostada. Ainda no que se refere à Roupa Predileta os Indicadores com maior valor de média foram: “Adequação Física”, “Aparência Etária”, “Beleza”, “Bem Estar”, “Caimento”, “Clima”, “Conforto”, “Convenções Morais”, “Cor”, “Crença”, “Destaque”, “Durabilidade”, “Elegância”, “Encantamento”, “Estilo Pessoal”, entre outros (Tabela 1). Ao contrário dos Indicadores menos cotados, a maioria deles é percebível por quem veste a roupa. Algumas entrevistadas disseram não usar muito a Roupa Predileta com medo de estragá-la e não encontrar outra no mercado para substituí-la. Em seu depoimento, a entrevistada (A03) disse ter levado a Roupa Predileta a uma costureira para que fosse feito um “clone”, porém, não obteve o resultado desejado, pois o tecido da nova roupa não teve o mesmo caimento e a costura não ficou muito boa. Quanto à análise dos Indicadores da Roupa Ideal, observou-se que os valores das médias apresentaram proximidade das médias obtidas na Roupa Predileta. Poucos são os Indicadores que se distanciam, entre eles: “Convenções Morais”, “Crenças”, “Encantamento”, “Estilo Pessoal” e “Qualidade”. Confirmando o que Hannud (1999) diz a respeito da aquisição de estilo durante a vida e seu florescer durante a maturidade, essas mulheres não abrem mão do conforto e nem de se sentirem atuais. Ao observar o inverso, ou seja, quais Indicadores atribuídos à Roupa Ideal que não tiveram correspondência de valor com aqueles declarados na Roupa Predileta, observa-se apenas o Indicador “Ousadia”. Portanto, essas mulheres mesmo tendo sido educadas numa sociedade mais rigorosa e formal, consideram importante comunicar algo inusitado, atrevido, provavelmente como reflexo das suas vivências. Na Roupa Ideal percebe-se ainda a desimportância atribuída aos Indicadores “Marca” e “Influência de Celebridade”, geralmente bastante considerados no consumo de produtos e serviços com valor de moda e, em especial, entre grupos de consumidores jovens. Na observação dos Indicadores que obtiveram média elevada nas três categorias de roupas estudadas, pode-se destacar “Cor”, “Durabilidade” e “Fácil de Manter”, o que indica que mais uma vez a subjetividade e o estilo de vida dessas mulheres influenciam as suas escolhas vestimentares. 8 5 CONCLUSÃO Baseando-se nas análises realizadas é possível perceber que a Roupa Ideal e a Roupa Predileta para essas mulheres maduras são aquelas capazes de lhes dar liberdade de movimentos com elegância, lembrando que elas são pessoas em plena atividade social e que também valorizam a moda. As mulheres maduras parecem priorizar os Indicadores relacionados com a sua subjetividade e seu estilo de vida, sem, no entanto, se desvincularem da atualidade. Para esta amostra pudemos identificar uma busca pela roupa que se adéqüe a atual condição de seu corpo, respeitando a sua anatomia, aceitando seus valores e que as deixem mais joviais e elegantes; ao contrário do que o mercado lhes oferece: roupas sóbrias demais ou avançadas demais. O exposto acima sugere um desdobramento deste estudo para que se possa analisar os padrões de modelagem que privilegiem uma numeração mais condizente com essas mulheres maduras. Como foi analisado, estas mulheres têm opiniões bem formadas e que representam um grande nicho de mercado em potencial, visto serem ativas e na maioria das vezes independentes financeiramente. Assim o presente estudo realizou ações de pesquisa com consumidoras maduras e idade superior a 50 anos no sentido de contribuir para o melhor conhecimento de suas preferências de consumo no que tange produtos de moda-vestuário. Devido ao seu potencial crescimento, esse público merece atenção por parte da indústria no sentido da promoção da inclusividade e da melhoria da qualidade de vida, tendo como conseqüência o surgimento de novos negócios. REFERÊNCIAS ÁRIES, P. História social da criança e da família, Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 1978. BRUSCHINI, C. Trabalho feminino: trajetória de um tema, perspectivas para o futuro. Revista Estudos Feministas. Rio de Janeiro: CIEC/ ECO/UFRJ. Vol. 2, n°3, p. 17-32. 1994. DEBERT, G. G. Envelhecimento e curso da vida. Revista Estudos Feministas, vol. 5, n.1 pag. 120 a 181, primeiro semestre 1997. 9 DYCHTWALD, K. O Mercado emergente dos novos velhos. São Paulo: HSM Management, nº 33 p. 48-56 jul/ago 2002. HANNUD, M. Mulher dos 15 aos 70. São Paulo: Elevação, 1999. HERSEY, P. & BLANCHARD, K. H. Psicologia para administradores de empresas: a utilização de recursos humanos. São Paulo: EPU, 1986. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2004. 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