açúcar - JM Madeira

Transcrição

açúcar - JM Madeira
VIAJANTE
“Da Madeira até Marte”
3 cidades pelos olhos
de Sofia Vasconcelos
P. 9
O PALCO E O TRONO
O irreverente Xavier Miguel
entrevista a eurodeputada
Liliana Rodrigues
P. 3
PERFIL
Miguel Apolinário,
músico
P. 8
açúcar 07 | Suplemento que não pode ser vendido separadamente do jornal | design açúcar + lustração capa ricardo tadeu barros
talvez a revista mais
doce da madeira
“Stôr”
entrevista a
Agostinho Soares
«a melhor profissão
do mundo»
fundada 2015
07
2 | açúcar | SÁB 9 JAN 2016
divagações de uma mente diluvianamente opípara
a segunda-feira
eterna
Assim é Janeiro,
uma SegundaCRÓNICA
-feira que dura
mais de 30 dias, Bárbara Gil Pereira
que nunca mais [email protected]
acaba. Um exame
para o qual não
se estudou, uma
folha em branco,
um relógio que
não dá hora
de saída, um
frigorífico vazio,
a simpatia de
um fiscal das aneiro. A Segunda-Feira
Finanças. eterna. Sexta e Sábado
j
foram as festividades, Domingo os dias refastelados,
recheados a Perú, a bolos
e a vinho e alhos. A família
apertada no sofá a “Musica
no Coração “ em som de
fundo ou o Kirk Douglas
biblicamente escravizado,
todo em dourados, para
deleite dos mais novos,
saudosismo dos mais velhos
que foram ver a estreia ao
Cine Jardim e enjoo dos
intermédios .
A tia solteira jaz adormecida no cadeirão com as
meias de vidro enroladas
a meia perna , as janelas
estão fechadas não vá a
“viração” e o “ar encanado”
estontear a cabeça aos mais
delicados e assim rodopia o
mofo adocicado das Acácias
e dos Sapatinhos já demi
fannées ... E a flatulência
obscura e velada do avô que
andou a petiscar aparas de
bolo rei às escondidas da
avó. Os dias de Natal em
tudo se assemelham aos
antigos passeios de Domingo, onde famílias inteiras
apertavam-se nos bancos
de trás de Datsuns cor de
burro a fugir, serpenteando
dolorosa e enjoativamente
as curvas do Campanário,
com a traseira pesada igual
à da prima gorda e o cano
de escape com a rouquidão
do tio chaminé SG Ventil .
A Ribeira Brava surgia,
assim como o fogo do Ano
Novo, como aquele oásis
para desentorpecer, um
fôlego para aguentar o
resto da tarde, uma água do
Porto Santo para afugentar o verde das faces. Uma
distracção à sombra da
Segunda-feira. O cansaço do
descanso. Assim é Janeiro,
uma Segunda-feira que dura
mais de 30 dias, que nunca
mais acaba. Um exame
para o qual não se estudou,
uma folha em branco, um
relógio que não dá hora de
saída, um frigorífico vazio,
a simpatia de um fiscal das
Finanças. Se Dezembro é
nascimento, Janeiro é a
depressão pós-parto.
a
encontrados por Susana de Figueiredo
© Martim Leitão
P
assava todos os dias na
minha rua. Cabeça erguida
a afrontar o tempo, o vento
a crepitar por dentro, à sombra
dos cabelos densos. Exaustos.
Trazia nas mãos o calor de uma
promessa domesticada, e sorria
sempre. Acenava aos pombos da
cidade, acariciava o pêlo dos gatos
e cães recusados. Enternecia-se da
própria saudade e calava o som à
memória com um dedo encostado
aos lábios. Fitava a indiferença de
homens e mulheres em contagem
decrescente. Imperfeições. Coisas
de gente. Chamavam-lhe louco,
sujo, mau e vagabundo. Os miúdos,
de ódio aprendido, atiravam-lhe
pedras aos pés descalços... Ele
pagava-lhes a crueldade com uma
mão cheia de rebuçados (balas
guardadas nos bolsos para, em caso
de emergência, atirar ao desamor).
Tinha sono, fome, frio... Um medo
fundo da noite escura. Adormecia
para sonhar. E ao amanhecer,
perdoava. Sorria sempre. Faz falta
na minha rua. a
SÁB 9 JAN 2016 | açúcar | 3
o palco e o trono
© Martim Leitão
Xavier Miguel & Liliana Rodrigues
EDIÇÃO
Cláudia Sousa
[email protected]
x
avier Miguel - A Liliana é
carneiro. Coragem e intuição
são duas características deste
signo. São precisos estes atributos para ser um bom político?
Liliana Rodrigues – É preciso
ter essas características para
ser boa pessoa. Eu sou mais
racional do que propriamente
intuitiva, até pela minha própria formação académica, sou
da área da Filosofia. A intuição
é fundamental, mas não serve
de muito se não tivermos coragem.
X M – Como é que surge a política na sua vida?
X M – Quando acabei o curso
segui a área da Filosofia Política, depois fiz um doutoramento
em Educação.
A palavra política significa o
exercício de uma moral, e eu
acho que nós exercitamos essa
moral desde sempre, não é preciso estar num partido. Já colaborava com o Partido Socialista
há muitos anos, e depois, em
2011, fui convidada para liderar
o Laboratório de Ideias da Madeira. Entretanto, recebi outro
convite, a nível nacional, para
integrar a lista do Parlamento
Europeu.
XM - Esse projeto do Laboratório de Ideias ainda continua?
L R - Foi um projeto de muito
sucesso e continua com outro
nome, chama-se Conselho
Estratégico. Houve mudanças,
desde a direção até à forma
como está a ser elaborado, mas
a sua génese é o Laboratório de
Ideias.
X M – Uma das ideias do Laboratório era criar um ambiente
de discussão entre as pessoas,
fora e dentro do partido...
L R - Sim. Tínhamos, de 15 em
15 dias, discussões sobre diversos temas.
X M – Sinto que há uma maneira muito negativa de encarar
o políticos em Portugal. Isto
deve-se a uma falta de sensibilidade ou será que tem a ver
com a formação das pessoas?
L R - Não são apenas os políticos que são mal vistos pela
sociedade portuguesa.
Nós olhamos para diversos
setores da vida pública onde
as diversas categorias profissionais foram desvalorizadas.
Dou-lhe o caso dos professores,
da classe médica, dos advogados.
Há uma falta de liderança
clara na política, não só a nível
europeu, mas também a nível
mundial.
X M – Os jovens representam
grande parte da abstenção. A
introdução de uma disciplina
de Política no programa curricular do Secundário poderia
fazer a diferença?
L R - Não me parece que o
O palco e o trono
desta semana
foi adocicado
pelo irreverente
Xavier Miguel,
um estudante
de Teatro na
cidade do Porto,
que entrevistou
e “pôs à prova”
a professora,
investigadora e
eurodeputada,
Liliana
Rodrigues.
4 | açúcar | SÁB 9 JAN 2016
© Martim Leitão
Xavier Miguel
deixou a dúvida
no ar: será que
há espaço para
a personalidade
nesta sociedade?
problema se resolva com mais
uma disciplina. Resolve-se garantindo que os professores dão
essa formação aos alunos num
contexto informal.
Um professor de História, de
Filosofia ou de Português pode
dar formação política. Quando
se fala de política não se está a
falar de doutrina partidária.
A formação política dos jovens é fundamental e começa
em casa.
X M – Por que razão as pessoas
Liliana Rodrigues
considera que os
professores devem
incutir nos alunos a
formação política,
num contexto
informal, dentro da
sala de aula.
não estão sensibilizadas para a
cultura?
L R - Ultimamente, com a crise, as pessoas têm outras preocupações que não são as da
cultura, e eu compreendo isso.
Quando é preciso pôr comida
em casa, a preocupação menor
é o Van Gogh.
X M – Um livro que todos os
madeirenses deveriam ler?
L R - Há um livro que me marcou profundamente:
“A morte de um apicultor”, de
Lars Gustafsson, que mostra
o que é realmente importante
na vida. O outro chama-se “Escuta, Zé Ninguém” de William
Reiche, e esse deve ser lido por
todos os jovens.
ver um concerto.
X M – Qual é a obra de arte que
mais a inspira?
L R - No caso dos deputados
do Parlamento Europeu, estamos muito longe. Embora
todo o trabalho feito pelos
deputados esteja disponível
no online no site do parlamento.
Do ponto de vista regional [as
pessoas] não se interessam
por aquilo que fazem os deputados. Mas isso é um mal
generalizado.
Devíamos arranjar novas
formas de comunicação do
nosso trabalho.
L R - É difícil escolher. Há “O
Beijo”, de Klimt, que é belíssimo. Tive a sorte de estar à frente do quadro durante meia-hora
em Viena de Áustria. Há outro
que gosto bastante: “Noite Estrelada”, de Van Gogh.
X M – Não queria trazer um comunista para a conversa, mas
o Wagner dizia que a arte era,
cada vez mais, uma propriedade de uma classe. Concorda?
L R - Sempre houve uma elite
que absorveu a arte muito mais
do que outras classes. Hoje em
dia isso é mais esbatido. Mas
o acesso à arte não é assim tão
democrático quanto se pensa.
Quando dizem que a arte é
para a todos, não é verdade.
Se eu quiser ver um concerto
na Casa dos Amigos da Cultura, em Viena de Áustria, e
se estiver desempregada, não
posso pagar 100 euros para
X M – Acho que falta a muitos
artistas saber transmitir a
arte. Os políticos pensam dar
a entender às pessoas o que
estão a fazer?
X M – Qual é o papel da imaginação, hoje em dia, nesta
sociedade em que vivemos?
L R - Sem a imaginação não
há nada. A imaginação é a
ligação entre o mundo cá
fora e o nosso entendimento
sobre ele.
X M – Qual é o wallpaper do
seu tablet?
L R - O meu cão.
a
© Élvio Fernandes
SÁB 9 JAN 2016 | açúcar | 5
«Há alunos que
me surpreendem
e outros que me
comovem muito»
O professor Agostinho Soares nunca se deixa imbuir do tédio existencial inerente ao quotidiano
humano. A arte em geral, e a literatura em particular, são as duas armas que utiliza para combater
a «angústia que vai corroendo» a vida. Em 2016, ano em que comemora 60 anos, espera lançar o seu
primeiro romance. É autor do livro “O destino das vogais”, uma compilação de crónicas publicadas em
«jornais da nossa cidade», e de uma obra de contos intitulada “Não poderei morrer tranquilamente”.
ENTREVISTA
Cláudia Sousa
[email protected]
P
ROFESSOR, ESCRITOR
E POLÍTICO. EM QUAL
DESTE PAPÉIS SE SENTE
MAIS CONFORTÁVEL?
Naturalmente no papel de
professor, ofício do qual nunca me demiti. A vida política
foi um imperativo nascido
na minha juventude. Aos 18
anos, aconteceu o 25 de Abril
e pensei logo em participar na vida política, como a
maioria dos jovens da altura.
Essa participação [política]
durou até há bem pouco
tempo, mas, mais recentemente, dentro do Partido
Socialista, essencialmente,
por uma luta pela liberdade
e pela democracia. A partir
do momento em que eu sinto
que na minha terra isso está
conquistado, não tenho mais
nada a fazer na política.
Já ser escritor, era um sonho
de criança. Sempre gostei
Tinha um avô
que era um
dos maiores
contadores
de estórias
que conheci.
Essa igura foi
importante para
mim e sempre
desejei ser um
pouco como ele.
muito de ler e escrever, e
então, sonhava um dia escrever estórias. Tinha um
avô que era um dos maiores
contadores de estórias que
conheci. Essa figura foi importante para mim e sempre
desejei ser um pouco como
ele.
NÃO CONSIDERA QUE OS
JOVENS VIVEM, HOJE,
TEMPOS MAIS DESAFIANTES?
Sim, mais desafiantes em
todos os aspetos. Os próprios têm de lutar contra o
facilitismo que as gerações
anteriores lhes proporcionaram. Têm de lutar contra
os próprios pais que não ti-
veram, na sua infância e na
sua juventude, aquilo que
quiseram dar rapidamente
aos filhos.
NÃO SERÁ QUE NOS
VENDERAM UMA
ILUSÃO?
Não foi vendida, foi dada,
oferecida. Os pais, os educadores, os políticos, em geral,
ofereceram às novas gerações algo de que eles não podem usufruir agora.
Os jovens podem olhar à sua
volta e verificar quantos deles podem formar família,
quantos deles podem ter
um emprego a receber mais
de mil euros, quantos deles
podem, mesmo, ter um emprego...
© Élvio Fernandes
6 | açúcar | SÁB 9 JAN 2016
Pensou-se, durante muito
tempo, que cada geração
teria sempre mais que a geração anterior e a minha
geração pensou isso mesmo,
que seríamos capazes de
criar mais bem-estar e que a
evolução do mundo era isso,
oferta de mais bem-estar a
cada nova geração e, infelizmente, a realidade está a
(des)enganar-nos.
De facto, só nos resta a arte
para podermos tentar superar esta angústia que vai corroendo as nossas vidas.
FOI TAMBÉM POR ISSO
QUE SE DESILUDIU COM
A POLÍTICA?
Muito por isso. Eu no fundo só saí da política porque
julguei que o meu trabalho
tinha terminado, e terminou. Depois, porque a minha
adesão ao Partido Socialista
não foi uma adesão ao socialismo. Mais tarde, principalmente com o governo de
Sócrates e o modo como acabou esse governo, verifiquei
que o socialismo e os socialismos no mundo, geralmente, acabam desta maneira:
com a distribuição daquilo
que já não temos e com o endividamento permanente.
Não há meios de salvação
das novas gerações. Só haverá mais emprego se hou-
ver investimento, mas não
público, que só gera dívida.
Tem de ser um investimento
privado.
POR QUE RAZÃO SÓ
AGORA PUBLICA A SUA
ESCRITA?
Tem a ver com a minha personalidade. Depois do 25 de
Abril, muita gente foi dar
aulas sem a formação adequada, e eu tive essa oportunidade, mas não me sentia
consistente nessa situação.
Enquanto estudante universitário, podia dar aulas mais
cedo, não as dei porque sentia que esse ofício de professor exigia competências que
eu ainda não tinha adquirido, não só cientificas, mas
também pedagógicas.
Na escrita passa-se, também,
um pouco isso. Embora reconheça que a minha atividade
política retirou algum tempo
à escrita, infelizmente.
COMO É SER PROFESSOR
NOS TEMPOS DE HOJE?
Continuo a pensar que é a
melhor profissão do mundo.
É difícil, mas os tempos de
hoje sempre foram os meus
tempos. Desde o tempo em
que comecei a dar aulas, até
hoje, não noto grandes diferenças, embora sinta que as
novas tecnologias tenham
Pensou-se,
durante muito
tempo, que cada
geração teria
sempre mais
que a geração
anterior e a
minha geração
pensou isso
mesmo, que
seríamos
capazes de criar
mais bem-estar
e que a evolução
do mundo era
isso, oferta de
mais bem-estar
a cada nova
geração (...)
retirado algum poder de
concentração às gerações
mais jovens, o que impede
que se dediquem à leitura e
ao estudo.
Tudo me parece mais vago,
eles têm outros recursos na
busca pela informação, mas
o conhecimento não está tão
solidificado como acontecia
há algum tempo. De qualquer dos modos, a minha
função é adaptar-me aos
tempos e aos alunos que tenho, o que não deixa de ser
um desafio. Mais exigente, e
mais aliciante.
Todos os anos letivos faço
uma conferência para os pais
e alunos sobre a aprendizagem e o modo como as novas
tecnologias são importantes
no condicionamento dessas
capacidades mentais que nós
temos, porque transformam,
de facto, as nossas sinapses.
JÁ DÁ AULAS HÁ TANTOS ANOS, AINDA HÁ
ALUNOS QUE O SURPREENDEM?
Sim. Há alunos que surpreendem e comovem muito.
Eu gosto de levar as turmas
durante dois ou três anos, e
percebo mudanças surpreendentes. Outros comovem,
dado o seu espírito e o seu
humanismo.
Por mais que nós pensemos
que os valores estão perdidos, às vezes, os jovens surpreendem-nos. Ainda este
ano surpreendeu-me um
aluno que falou sobre a morte do pai, de uma maneira
que poucos poetas poderiam
dizer do mesmo modo.
O PROFESSOR TEM MOMENTOS DE POESIA
DENTRO DA SALA DE
AULA. ISSO REFLETE-SE
MUITO NA SUA ESCRITA.
CONCORDA?
Sim, reflete-se muito, porque
eu não consigo escrever sem
eu próprio estar presente
naquilo que escrevo. Nada
do que os alunos me dão
passa ao lado. Digamos que
os livros têm servido como
um reflexo de um estado de
alma.
Um dia gostaria de escrever
sobre tudo aquilo que aprendi com os alunos. Talvez na
reforma!
ACHA MESMO QUE VAI
CONSEGUIR REFORMAR-SE ALGUM DIA?
Aos 70 anos, para o bem,
para o mal, somos obrigados
a nos reformar.
ISSO NÃO O ASSUSTA?
Não. Tenho a escrita e tenho
a leitura, por isso nunca serei
© Élvio Fernandes
SÁB 9 JAN 2016 | açúcar | 7
um reformado sem nada para
fazer. Aquilo que me formou
em criança vale a para a vida
inteira. Nunca serei aquela
pessoa que se senta à frente
da televisão o dia todo e não
faz outra coisa.
os outros pensam sobre os
seus deuses, e percebemos
que o homem, para além de
precisar de ser feliz, precisa
também de ter esperança e
sonhos, e é isso que os livros
nos oferecem.
QUAL É O PAPEL QUE A
LITERATURA ASSUME
NA SUA VIDA?
COMO É QUE UM PROFESSOR ENSINA A DISTINGUIR UM TEXTO
BOM DE UM TEXTO
MAU?
Único. Ainda hoje falava aos
alunos desse poder [da literatura].
Muitas vezes, só muito mais
tarde é que a realidade nos
consegue oferecer aquilo
que a literatura já nos ofereceu antes. A nível dos sonhos, a nível das imagens, ao
nível das vivências...
Quando a realidade me oferece qualquer coisa eu sinto
que já estou preparado para
ela, porque a literatura já ma
deu antes.
NÃO SENDO CRENTE,
A LITERATURA É O SEU
DEUS?
Não. Embora me ajude a sentir uma tábua de estabilidade. Ajuda e permite-me superar essa ausência de Deus.
Não ter fé custa sempre muito, porque nos sentimos, de
facto, sós. Mas a consciência
do homem solitário e pequeno no mundo permite que
sejamos capazes de ler o que
Dou a conhecer autores e
textos que estimulem o aluno para a literatura.
Se o aluno aprendeu a ler e
a interpretar um texto literário está disposto e apto para
tudo.
Não interessa que o aluno
seja preparado para a literatura só pela literatura.
A literatura ajuda-nos a viver, oferece-nos ferramentas
que mais nada na vida nos
oferece.
SERÁ QUE A MAIORIA
DAS PESSOAS NÃO LÊ LIVROS MAIS COMPLEXOS
PORQUE «PENSAR INCOMODA COMO ANDAR À
CHUVA»?
Nós vivemos num tempo em
que as pessoas procuram
o prazer imediato e aquilo
que é fácil. Isso é visível nos
alunos, a procura pelo que
Com o governo
de Sócrates,
e o modo
como acabou
esse governo,
veriiquei que
o socialismo e
os socialismos
no mundo,
geralmente,
acabam desta
maneira: com
a distribuição
daquilo que já
não temos e com
o endividamento
permanente.
é fácil. Para o que é difícil e
exigente eles procuram escapatórias ou procuram negociar a fuga.
De facto, no mundo de hoje
prevalece o hedonismo, o
prazer. Tudo está alcatifado
para que não sintamos dores algumas. O prazer tem
de ser rápido e substituído
logo a seguir por outro prazer. Este tipo de vida que nós
passamos hoje leva à rejeição implícita de tudo o que
gera alguma dificuldade.
Os nossos dias vão mostrar
que isso não basta para a
felicidade humana. Isso não
torna um homem mais feliz.
Torna o homem mais angustiado à procura de um novo
prazer, porque nada o satisfaz. É a nova adição, a da
procura de uma nova sensação ou de um novo jogo.
É uma situação que desgasta
e que dificilmente traz felicidade às pessoas. A felicidade
é algo que tem mais a ver
com o mundo contemplativo
do que com este mundo da
agitação.
EM RELAÇÃO AO ESTADO DA CULTURA NA
MADEIRA, QUAL É A SUA
OPINIÃO?
A visão da cultura, em geral, não é uma visão que me
forme. A cultura, mais rela-
cionada com as artes e com
a filosofia, na Madeira, tem
pouco espaço.
No aspeto da literatura, embora se publique muito, não
há um ambiente literário
adequado. Os nossos maiores autores saíram da Ilha,
como é o caso de Herberto Hélder, José Tolentino
Mendonça e José Agostinho
Baptista, todos madeirenses,
e são dos maiores nomes da
poesia portuguesa.
O próprio ambiente político
não favorece. Há um discurso
de cultura para as massas que
é um discurso equivocado. A
arte só pode ser elitista, a arte
nunca está no rés-do-chão de
nenhum edifício, tem de estar
sempre no andar superior.
Falta uma revista ou um meio
de informação que permita,
não só a mostra do que se vai
fazendo por aí, mas também
que haja pessoas que vão ver
as exposições, que leiam os
livros e que possam ter a sua
opinião. O papel do crítico há
muito tempo que não existe
na nossa sociedade.
Não há nenhum ambiente
cultural a sério sem um intermediário que diga, e que
aconselhe, o que é bom e o
que não é. Falta essa pessoa
que está entre o autor e o público, falta essa mediação.
a
8 | açúcar | SÁB 9 JAN 2016
Miguel Apolinário, 38 anos, músico
© Pedro Freitas
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Susana de Figueiredo
[email protected]
Músico e professor de
guitarra no Estúdio
21, toca com Jamie
& The Marx, Tiago
Silva, Almatroz,
Empress Hungarian
Salon Orchestra,
Duo Room Service,
Franco, Josi D, Vânia
Fernandes e Sarah
Linhares. Aos 12
anos tornou-se num
«ávido consumidor
de música» e a partir
daí o percurso foi
“sempre a subir”.
O PRIMEIRO CONTACTO
COM A MÚSICA
O meu pai terá sido a pessoa que me incutiu o gosto pela música, ele próprio
tocou na sua juventude e
hoje, olhando para trás,
constato que “herdei” as
paixões dele, a música e
a fotografia. Mas a paixão
pela música é muita mais
exacerbada e acabou por se
impor à fotografia. PRINCIPAIS INFLUÊNCIAS
A partir dos 12 anos tornei-me num ávido consumidor
de música e, por alguma
razão, ouvir uma guitarra deixava-me em êxtase e
fazia-me “viajar”. A música tem essa peculiaridade
de nos fazer transportar
para diferentes estados de
espírito. Dito isto, o meu
gosto musical sempre foi
muito eclético. Lembro-me de ir para a cama com
um walkman, adormecer
a ouvir Iron Maiden e no
dia seguinte estar a ouvir
Enigma. Aliás, os dois primeiros CD’s que comprei
foram um album de Sepultura (Chaos AD) e outro de
Paco de Lucia, Al Di Meola,
e John Mclaughin ( o mítico álbum Friday Night in
San Francisco). SER MÚSICO - UM SONHO
DE INFÂNCIA?
Na realidade, sempre tive
muitas dúvidas sobre aquilo que queria ser. Sempre
fui um pouco lírico e sonhador... Queria ser tudo
e não queria ser nada, mas
quando recebi a minha primeira viola essas dúvidas
dissiparam-se e tudo fez
mais sentido.
O PERCURSO
Comecei a ter aulas de guitarra privadas e logo começaram a aparecer as primeiras bandas e projetos.
Frequentei o núcleo de música da Escola Industrial,
mais tarde ingressei no
Conservatório, no ensino
clássico e no curso de jazz.
Apostei na polivalência e,
ao longo destes 22 anos de
música, acho que a melhor
escola que tive foi a diversidade dos projetos em que
estive envolvido.
OS MELHORES MOMENTOS
O momento mais marcante
foi, sem dúvida, ir a Londres gravar nos míticos
Livingston Studios, onde já
gravaram grandes nomes
sonantes da música: Joe
Cocker, Eurythmics, Placebo, Bjork, Shakira e centenas de outros sobejamente conhecidos do grande
público. Foi através dessa
experiência que conheci o
produtor madeirense Luís
Jardim, que foi o produtor
desse disco. A partir de então, comecei também a fazer trabalhos para o Luís,
tanto a nível de gravações
(para vários discos produzidos por ele) como a nível
de concertos, com o seu
projeto “Rouge”. Outro momento importante foi a gravação do meu
primeiro projeto de originais, “Loopadelic”, realizado em parceria com um
dos nossos grandes mú-
sicos da praça, o Georgy
Titov, e gravado em 2002
nos estúdios Datamúsica,
propriedade de um grande
músico e amigo, infelizmente recentemente falecido, o Luís Filipe Aguiar.
O PANORAMA MUSICAL
MADEIRENSE
Somos um meio muito
pequeno e não temos, na
realidade, um mercado
musical. Mas é bom saber
que existem nesta terra
excelentes músicos e grandes projetos musicais, que
em nada ficam a dever ao
que se faz lá fora. Sinto
pena que o público, muitas
vezes, não conheça estes
projetos. Tenho a certeza
que ficariam surpreendidos com o que se faz por
cá nesta área.
UM CONSELHO PARA
TODOS OS QUE SONHAM
VIVER DA MÚSICA?
Sejam humildes e dedicados. Se o forem, podem ir
longe, independentemente
da profissão que sigam.
a
SÁB 9 JAN 2016 | açúcar | 9
© Kash
a viajante
“Da Madeira
até Marte”,
boas viagens!
Barcelona
b
arcelona é uma excelente
escolha para os viajantes
interessados em arquitectura, gastronomia e
compras. É também um
ótimo destino de férias
em família, pois facilmente mistura atividades
culturais e diversão. Esta
cidade rica em monumentos arquitetônicos, oferece
História, restaurantes,
lojas e praias a uma curta
distância. Não perca uma
visita aos monumentos de
Gaudi, inclusive a Casa
Batlo e La Pedrera. Um
passeio pela cidade velha,
as Ramblas e o mercado
La Boqueria, são pontos
de passagem obrigatória.
Tibidado e Montjuic são
outras das belas áreas a
explorar.
a
Pelos olhos
de Sofia
Vasconcelos,
a Açúcar
desperta os
seus sentidos
para mais
três viagens
de sonho.
Barcelona,
Roma e Berlim
esperam por
si em 2016!
Descubra por
que vale a pena
visitar estas
cidades, como
lá chegar e
onde ficar.
Como lá chegar?
Voos diretos desde
a Madeira com a
Vueling
Onde ficar?
Casa Gracia
Barcelona Hostel
TOC Hostel Barcelona
Sofia Vasconcelos
www.frommadeiratomars.com
[email protected]
https://www.facebook.com/
Frommadeiratomars
Instagram@frommadeiratomars
10 | açúcar | SÁB 9 JAN 2016
a
Como lá chegar?
Voos diretos desde
Lisboa com a TAP
Portugal
Onde ficar?
FRATTINA 57
Via Frattina 57
THE BEEHIVE
Via Marghera, 8
cidade eterna - ou simplesmente Roma, é outro destino a visitar. Embora tenha
visitado Roma com muitas ideias preconcebidas
(comentários de amigos
que diziam que esta cidade
era lindíssima, romântica,
encantadora, cansativa e
com filas intermináveis
para ver os monumentos), apaixonei-me! Roma
Berlim
Como lá chegar?
Voos diretos desde a
Madeira com a Air
Berlin
Onde ficar?
ARTE HOTEL
Luise Luisenstr 19
THE CIRCUS HOTEL
Rosenthalerstr. 1
b
erlim é uma cidade onde
se respira liberdade nas
suas diversas formas de
expressão; música, grafittis,
moda, bares, lojas, restaurantes, mercados de rua e
muita variedade de escolha.
é um monumento, toda
ela, a cada canto e ruela,
há sempre um bocadinho
de história para contar.
Roma tem cerca de 2500
anos de historia, daí que
Roma não se vê num dia,
nem numa semana, porque
fica sempre algo por ver.
Talvez seja por isso, que
surgiu a lenda de atirar
uma moeda à Fontana de
Trevi; todos querem voltar
um dia a Roma. Depois há
o estilo, a moda, o sotaque italiano e as vespas.
E quanto à comida, não
percam o mercado Campo
di Fiori, para provar mil e
um sabores de Itália, desde
o queijo Parmigiano com
as cervejas artesanais, as
azeitonas da Calábria, o Limoncello, a pizza al taglio,
e claro o melhor gelado do
Mundo.
© Martim Leitão
Roma
a
Perca-se nos bairros de
Berlim, desde Kreuzberg
(um bairro autêntico e descontraído) até ao Mitte (no
coração de Berlim) onde
o antigo e o novo colidem
em harmonia. Não perca
a Ilha dos Museus, com 5
dos mais famosos museus
de Berlim e onde à noite se
dança o Tango nas ruas.
Descubra o prazer de um
Domingo no Mauer Park.
Música ao vivo, um mercado vintage e karaoke, num
turbilhão de emoções e
pessoas inesquecíveis.
Siga para a ‘East Side
Gallery’, uma galeria ao ar
livre onde encontrará uma
porção do muro de Berlim
coberta por arte.
Graffitis, dedicatórias e
memórias de um passado
que não se esquece.
a
SÁB 9 JAN 2016 | açúcar | 11
horas vagas [ livro, filme, música]
Sandra Sousa
https://estrelasnocolo.wordpress.com/
U
m romance que
tem como cenário de fundo uma
Argélia pejada de
discórdia e um menino sonhador. Turambo é o personagem que faz este romance viver e que transmite ao
leitor que nem nos nossos
piores momentos devemos
desistir da vida.
Turambo, apesar de ter nascido no meio da miséria e de
livro [ Bizâncio ]
Os Anjos morrem das nossas feridas Yasmina Khadra
ser analfabeto, era um lutador em todos os sentidos.
Nunca desistiu do seu sonho
de ser alguém melhor e de
sair do meio da pobreza em
que vivia com a sua família.
Ao ser descoberto através
de um golpe de sorte, torna-se um famoso lutador de
boxe. Mas assim como a sua
ascensão à fama e ao poder
foi rápida, o seu declínio
também o foi. Apesar de to-
das as riquezas do mundo,
Turambo tinha uma grande
fraqueza: as mulheres. Nelas encontrava o amor que
porventura nunca recebeu
das mãos da sua mãe e nelas descobria novas formas
de olhar para a vida. Foram
elas que lhe deram o elixir da
vida mas também foram elas
que o tornaram cego para o
que o rodeava. Num mundo
de riqueza, mas também de
podridão, Turambo acaba
tornando-se um fantoche
nas mãos de outros homens,
que através dele conseguiram o que queriam.
Este livro, além de comovente, retrata o preconceito
racial e as lutas dos homens
em países em guerra, mas
ao mesmo tempo é um livro
introspectivo e poético, ao
levar o leitor a refletir na
sua própria vida.
a
Virgílio Jesus
[email protected]
cinema & televisão
ano de 2015 terminou
com a estreia deste
filme que ainda está
em exibição nas salas
madeirenses. Aquele que é o
sétimo capítulo da série Rocky
afirma-se como uma espécie de
spin-off, sequela ou reboot com
o propósito de alcançar um
maior números de fãs. A história não tem Sylvester Stallone
como protagonista - apenas secundário -, mas introduz uma
estrela sensação dos últimos
tempos do cinema americano
independente Michael B. Jordan, cuja personagem prova o
cliché de que qualquer sonho é
possível. Este interpreta Adonis
Creed, filho da mítica personagem da série, amigo de Rocky
Balboa. Para além de usufruir
de uma arrebatadora fotografia, com planos-sequência de
cortar a respiração transpõe
bem a passagem de velho ao
novo em princípios e em modos de estar com a vida e serve
de homenagem a todos os filmes sobre o boxe. Um nomeação ao Óscar a Stallone é bem
provável, aguardemos para saber se vence o duelo.
Creed
que oferecem aqui interpretações do seu típico à vontade
na comédia. Bernie (Black) é
dono de uma funerária que
se torna amigo inseparável de
uma viúva abastada, porém
a relação começa a dar para
o torto e o comum plot-twist
acontece. O que vemos é um
estilo um quanto negro àquilo que o cineasta nos costuma
apresentar. Inovador, no sentido em que é influenciado
pelas obras dos irmãos Coen,
este filme dispõe de entrevistas com os vizinhos da personagem principal, como num
telejornal mais sensacionalista, além dos permanentes
diálogos sarcásticos e jogos
de intrigas que conquistam a
audiência.
Bernie
[email protected].
música
DFA Records
primeira década musical do século XXI
foi fortemente influenciada por uma
única editora. Em 2001, James Murphy, Tim Goldsworthy e Jonathan Galkin criam
a DFA Records, começando
com a edição de um single
dos The Rapture. Entretanto, lançou outros nomes que
foram, por si, também criadores de tendências e geradores
de cultos próprios.
Hercules & Love Affair, The
Juan Maclean, Factory Floor,
entre outros, pegaram nos
sintetizadores e, misturan-
do com disco, com punk ou
simplesmente com uma voz,
criaram alguns dos maiores
êxitos das pistas de dança.
Mas nenhuma banda foi mais
marcante e criou um culto
tão grande do que os LCD
Soundystem. Em 2002, James Murphy e companheiros
lançam Losing My Edge, um
single que fala nos Daft Punk
ou Larry Levan e refere locais como o CBGB ou o Paradise Garage, enunciando as
referências que os haviam de
guiar até ao épico e anunciado
final, em Abril de 2010, num
concerto que foi registado e
deve ser visto. Esta festa, no
tão Nova Iorquino Madison
Square Garden, viajou pela
discografia dos LCD Soundystem, celebrando temas como
All My Friends, Daft Punk Is
Playing In My House e tantos
outros. A despedida sentida,
ao som de New York I Love
You But You’re Bringing Me
Down, debaixo de milhares
de balões brancos caídos do
tecto, era o fim anunciado
dos LCD Soundsystem que,
ali e naquele momento, se retiravam para sempre.
Mas, como sabemos, o irrevogável é revogável e, no
O
R
ichard Linklater tem
uma carreira recheada de inovadoras
experiências
cinematográficas e é sempre uma
bela oportunidade conhecer
este aclamado realizador
americano. Desta vez, reúne o humorista Jack Black,
a Shirley MacLaine e a Matthew McConaughey, atores
Diogo Freitas
A
Para além de um single que não
posso deixar de sugerir, Yeah,
dos LCD Soundystem, claro
sugiro os dois primeiros álbuns
deles e ainda os Hercules & Love
Affair e The Rapture.
a
a
O Legado de Rocky
Data de estreia 31 dezembro 2015
Realizador Ryan Coogler
Elenco Michael B. Jordan, Sylvester
Stallone, Tessa Thompson e Phylicia Rashad
Género Drama/ Desporto
Duração 33 minutos
Morre...
E Deixa-me Em Paz
Domingo 10 de Jan 14h- Canal Hollywood
Realizador Richard Linklater
Elenco Jack Black, Shirley MacLaine e
Matthew McConaughey
Género Comédia/Drama/ Crime
final de 2015 sai Christmas
Will Break Your Heart, uma
balada natalícia que reflecte
uma geração já mais crescida, que amadureceu nestes 5
anos de pausa produtiva dos
seus cantores. E assim começou a internet a perguntar se
os LCD estavam de volta. E,
sim, eles estão de volta. Para
nosso gáudio, James Murphy
anunciou esta semana que
tem mais material para gravar do que alguma vez teve. E
ainda vão fazer uma tournée.
Que possamos dizer “Welcome Back!!” numa eventual
passagem por Portugal.
a
12 | açúcar | SÁB 9 JAN 2016
na moda
Roupa e mala Zara
Botins Uterque
Roupa e sapatos Zara
Mala Bimba y Lola
!
s
o
d
l
a
S
Camisola Net-a-Porter
Calças e casaco Zara
Botins Massimo Dutti
Camisa Bimba y Lola
Saia, casaco e botas Zara
Mala Bimba y Lola
Laura Capontes
[email protected]
Impulso Vs Ponderação!
c
foto ©Laura Capontes
hegámos a um novo ano
e a euforia dos saldos vai
passando. Apesar de as lojas,
nos primeiros dias, terem
ficado praticamente “despidas”, ainda há muito para
ver e comprar. Seja nas lojas
ou online (Asos, Uterque,
Bimba y Lola, Net-a-Porter,
entre outras), ainda existem
muitos artigos em que vale a
pena investir.
Esta é uma boa altura para
fazer compras, por isso
faça boas escolhas, ou seja,
foque-se apenas nas peças
que realmente lhe faltam ou
que precisa renovar e evite
as compras por impulso!
Compre peças que estejam
de acordo com o que necessita, sabe que vai usar e que
sejam a sua “cara”. Não se
deixe influenciar pelo preço,
que, muitas vezes, é irrisório.
Esqueça as peças tendência,
que usará bem pouco, e aposte nas intemporais.
Procure qualidade, aquelas
peças que duram anos (uma
boa carteira, um bom casaco,
um blazer, uma camisa de
bom corte, uns sapatos, umas
botas, jeans e acessórios).
Se não encontrar o que realmente quer, não se sinta obri-
gada a comprar alguma coisa
só porque está em saldos ou
influenciada por alguém que
parece querer levar tudo o
que há na loja! Concentre-se em si, nos seus objetivos,
no que realmente pretende, e seja racional. Para se
inspirar, apresento algumas
propostas de looks compostos
exclusivamente por peças
encontradas nos saldos.
Boas compras, um bom ano e
sejam felizes!
a
SÁB 9 JAN 2016 | açúcar | 13
feliz com menos
Dicas para viver mais simples em 2016
Débora G. Pereira
www.simplesmentenatural.com
U
m novo ano se
inicia, uma nova
fase, uma nova
oportunidade
para recomeçar, ou, pelo menos, mais
uma motivação para tal. Os
desejos de uma vida melhor
emergem em cada um de
nós e convertem-se em metas, desafios, promessas e
sonhos para serem realizados nos próximos meses. Se
pensa que a sua felicidade
passa por dar valor às coisas simples da vida e esse é
um dos seus objetivos, este
texto fornece algumas dicas
para começar.
Viver de modo mais simples
não é sinónimo de sacrifício, não é reutilizar e reciclar nem tão pouco comprar
tudo o que é mais barato.
Trata-se de consciência,
empatia e respeito por
nós e pelos outros. É uma
escolha, um caminho de
libertação para pessoas que,
por uma razão ou por outra,
chegaram à conclusão que
querem mais da vida e que
esse mais se traduz numa
felicidade interior que é
verdadeira por si só. Não
depende dos produtos que
consumimos ou do estatuto
que ocupamos na sociedade.
A primeira dica, embora
pareça algo descabida, é a
chave para todo este processo. Trata-se de refletir e
analisar sob o ponto de vista
crítico os conteúdos que
todos os dias são colocados
à frente dos nossos olhos.
Será que temos mesmo de
proceder deste modo? Será
que isto faz mesmo sentido?
Será que eu estou mesmo
a necessitar desta aquisição? Questões simples que
inevitavelmente surgirão
e cujas respostas poderão
surpreende-lo.
Evitar comprar algo que
provavelmente só necessitaremos muito tempo depois
(a não ser que já saibamos
ao certo) é outra das dicas.
Comprar apenas porque
pode dar jeito no futuro
nem sempre se verifica na
prática. Em época de saldos
é necessário ter atenção,
não somente às falsas
promoções, mas também
à aquisição de um grande
número de coisas apenas
porque estão a um preço
mais acessível e não por necessidade. Não compre por
impulso, pense duas vezes
antes de decidir. Se esperar
um mês e ainda se lembrar
e necessitar de tal objeto,
então se calhar vale a pena
reconsiderar.
Valorizar Ser em vez de Ter,
qualidade em detrimento
de quantidade, permite-nos
encontrar outras formas
de satisfação e de conexão
connosco próprios e com os
outros. Neste âmbito, tente
encontrar outras formas de
satisfação como uma boa
conversa, leitura, jogos de
tabuleiro, atividades em
família e amigos, desporto
ao ar livre e arte. Compre
coisas pela sua utilidade e
não pelos extras, limite o
consumo de programas televisivos, faça uma alimentação mais simples e, se possível, cultive alguns alimentos
numa pequena horta. Dê
uma boa arrumação na sua
casa e liberte-se daquilo que
já não utiliza há dois, três
anos ou mais. Ora repare,
pode até dar jeito, ser bonito
e tal mas se não lhe fez falta
durante todo esse tempo é
porque, quase de certeza,
também não lhe fará falta
no futuro. Dê as boas vindas
à clareza mental e à satisfação de ter o espaço que
o envolve desafogado. Um
bom ano a todos!
ção, as náuseas, vómitos,
diarreia e, nalguns casos,
laringite e bronquiolite. As
complicações podem ser
fatais, como pneumonias. Já
nas constipações, os sinais e
sintomas surgem de forma
gradual, e são limitados às
vias respiratórias superiores
- nariz entupido, espirros,
olhos húmidos, irritação da
garganta e dor de cabeça.
Em termos terapêuticos,
para a gripe, comecemos
com a obrigatória prevenção
através da vacina da gripe
(principalmente os grupos
de risco) e o tratamento
com antivirais “Oseltamivir
e Zanamivir”, reservados ao
escrutínio médico.
Já a resolução dos sintomas,
válida para gripes e constipações, tem de seguir uma
estratégia individualizada
(médicos, farmacêuticos),
podendo elencar antipiréticos, analgésicos, descongestionantes nasais, antihistamínicos etc…
De relevar o factor comportamental, para evitar gripes
e constipações - alimentação
cuidada e diversificada,
dando ênfase às frutas e
vegetais da época, ingerir
muitos líquidos, evitar locais
com grandes aglomerados
de pessoas, lavar as mãos
com sabão frequentemente,
e ou usar toalhetes desinfetantes e géis hidroalcoólicos,
quando tossir ou espirrar,
fazê-lo para lenço de papel
descartável (eliminado logo
de seguida no lixo comum
ou sanitários) ou para o antebraço, evitando as mãos.
A prevenção, aliada a uma
alteração comportamental,
é a base do sucesso para um
inverno mais “saudável”.
a
saúde
Gripe e constipação
Bruno Olim,
Farmacêutico
[email protected]
A
proxima-se o
Inverno no
Hemisfério norte,
é nesta altura
do Ano que a
temperatura média do ar
desce, ficando mais frio,
que a radiação UVB diminui
permitindo que os vírus
sobrevivam mais tempo
facilitando a sua transmissão, e é neste período que
as pessoas procuram mais
os ambientes fechados (pelo
conforto térmico). Todos
estes aspetos, contribuem
para uma maior incidência
da gripe e constipações.
A gripe assume um papel de
relevância, pela possibilidade de evoluir para quadros
de fatalidade ou de grande
morbilidade. De acordo com
o Relatório Programa Nacional de Vigilância da Gripe
2014/2015, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo
Jorge (INSA), ocorreram 5591
óbitos acima do esperado,
com uma taxa de 54 óbitos
por cada 100 mil habitantes,
70% das mortes ocorreram
em pessoas com mais de
64 anos, 80% apresentavam
doença crónica subjacente e
15% apenas estavam vacinadas contra a gripe.
É importante concretizar
que a gripe e constipação
são patologias de origem
viral (vírus Influenza-gripe;
mais de 200 vírus diferentes, Rinovírus; Coronavirus; RSV; Parainfluenza-constipação), que afetam
predominantemente as vias
respiratórias, apresentando
uma transmissão semelhante, através partículas de saliva de uma pessoa infetada,
expelidas sobretudo através
da tosse e dos espirros,
mas também por contacto
direto, por exemplo, através
das mãos.
Em termos de quadro sintomatológico podemos distinguir a gripe, por apresentar
sintomas repentinos de
mal-estar, febre alta, dores
musculares e articulares,
dores de cabeça e tosse seca,
sendo que, nas crianças até
aos 3 anos, é comum, para
além da febre e prostra-
a
14 | açúcar | SÁB 9 JAN 2016
mais açúcar
Joana Gonçalves
Chef pasteleira
Eleven | Lisboa
[email protected]
Bolo Rei
ingredientes
Preparação
750 g de farinha
30 g de fermento de padeiro
150 g de margarina
150 g de açúcar
150 g de frutas cristalizadas
150 g de frutos secas
4 ovos
raspa de 1 limão
raspa de 1 laranja
1 decilitro de vinho do Porto
1 colher de sobremesa de sal
1 brinde
1 fava
Pique as frutas e deixe-as a
macerar com o vinho do Porto
(deixe algumas inteiras para
enfeitar). Dissolva o fermento
de padeiro em 1 decilitro de
água morna, junte a 1 chávena
de farinha e deixe a levedar em
ambiente temperado durante
15 minutos. Entretanto bata a
margarina, o açúcar, e as raspas
de limão e laranja, junte os ovos
(batendo um a um), e a massa
de fermento. Quando tudo
estiver bem ligado adicione o
resto da farinha e o sal. Amasse
até ficar elástica e macia e
misture as frutas. Molde a
massa numa bola, polvilhe com
farinha e tape a massa com um
pano, deixando levedar num
ambiente temperado durante 5
horas. Depois da massa dobrar
o volume, ponha sobre um
tabuleiro e faça-lhe um buraco
no meio. Introduza o brinde
(embrulhado em papel vegetal)
e a fava, e deixe levedar mais
uma hora. Pincele o bolo com
gema de ovo, enfeite com frutas
cristalizadas inteiras, torrões
de açúcar, pinhões, meiasnozes, etc, e leve a cozer em
forno bem quente. Depois de
cozido, pincele o bolo-rei com
geleia diluída num pouco de
água quente. a
Pêra Bela Helena
6 pêras
1,5l de água
500g de açúcar
1 vagem de baunilha
cardamomo
Descascar as pêras.
ferver a água com o açúcar,
baunilha e cardamomo.
colocar as pêras e deixar
cozinhar até que estejam
macias.
Madalenas de chocolate
70g de farinha
3 colheres de sopa de cacau
1/2 colher de chá de fermento
em pó
90g de açúcar
2 ovos
100g de manteiga
Bater a farinha com o
cacau, fermento, açúcar e
ovos. Adicionar a manteiga
derretida.
levar a forno pré-aquecido
a 180º, em formas de
madalenas, durante cerca de
10 minutos.
Crocante de grué de cacau
75g de manteiga amolecida
200g de açúcar em pó
30g de farinha
20g de cacau
75ml de sumo de laranja
Raspa de uma laranja
30g de grué de cacau
Bater a manteiga com o
açúcar farinha, cacau, sumo
e raspa de laranja. envolver o
grué de cacau.
Formar bolinhas com a
massa e colocar sobre um
silpat. Levar ao forno préaquecido a 180º por cerca de
10 minutos.
Molho de chocolate
150g de natas
100g de chocolate negro
Ferver as natas. Verter sobre o
chocolate partido em pedaços.
Mexer até que o chocolate
esteja completamente
derretido.
Montagem
Colocar as pêras em copos
ou taças. Regar com o molho
de chocolate. adicionar uma
bola de gelado de baunilha e
violetas cristalizadas. tapar o
copo com o crocante de grué
de cacau. a
Amor de inverno Susana Figueiredo
U
m dos privilégios
de viver na Madeira é poder escolher,
quase sempre, entre o tempo mais morno e o
mais frio. Mas os micro-climas permitem bem mais do
que isso, permitem desfrutar
de toda a envolvente de um
inverno ou de um verão “premeditado”. Vejamos, eu gosto
mais do frio, por isso, subo
muitas vezes à serra e paro
no Abrigo do Pastor. Ali, mesmo em pleno Verão, nem sequer é preciso fechar os olhos
para imaginar que estamos
noutras paragens. Começa
logo pela ementa, consistentíssima, a adivinhar a hipo-
termia forjada e o estômago
exigente do campo. Uma vez,
fui lá em setembro, de luvas,
gorro e cachecol de lã, a indumentária apropriada para
pedir, sem timidez, uma canja de galinha a escaldar. O
verão já estava em modo de
despedida, mas lá em baixo, a
cidade do Funchal era, ainda,
toda ela praia e turistas suados. “Eu cá” gosto dos meus
invernos fingidos, da comida
serrana com cheiro de lenha,
da “casa na floresta” com
nome e ares de abrigo. Fico
na mesa coladinha à janela,
encosto a cabeça à vidraça
embaciada, e já me delicio
antes de picar o garfo. Come-
ço pelo requeijão (o Santo!),
um golo de vinho (só um, que
gosto mais de me aconchegar
na comida), e depois a canja,
ou a sopa de tomate e cebola.
É sempre uma guerra decidir. Faz frio lá fora (é assim
que eu gosto). Que venha o
soberbo bacalhau com broa!
É setembro, mas não contamos a ninguém. Dizem que
os amores de verão são os
melhores, pois eu prefiro os
de inverno, os consequentes,
e até mais quentes… Lembro-me sempre da deixa de um
conto de David Mourão-Ferreira: “O inverno é muito melhor para a gente se conhecer”. Oh se é!
a
SÁB 9 JAN 2016 | açúcar | 15
1
Três características da
sua personalidade que
melhor o definem?
Comunicativo, expressivo,
auto-crítico, dedicado. boca doce
Nélio Fabrício
Dj / Locutor de Rádio
2
14
A crítica mais construtiva que já lhe fizeram? E a
mais injusta ou absurda?
Um antigo chefe, ajudou-me
a deixar de ser tão reativo e
ser mais proativo. Quanto à
mais absurda, foi tão bizarra
e tão desconstrutiva que
nem a considerei.
3
Que expressões madeirenses usa com maior
frequência?
“Semilha” – batata; “agente”
– nós; “bilhardar” - conversar. 15
6
A decisão mais
importante que teve
de tomar?
Largar uma vida e ganhar
amor próprio. Pode ser clichê dizer que para sermos
realmente felizes temos
que estar bem connosco,
mas é verdade.
Um ato de coragem?
Apesar de muitos contratempos que existem na vida, ter
uma filha magnífica, que me
enche de orgulho.
4
Uma atitude imperdoável?
Traição A sua dúvida mais
persistente?
O que será o dia de amanhã?
5
Um arrependimento?
Não ter agarrado uma
oportunidade profissional
no passado.
13
Que opinião tem dos
madeirenses que
escondem o sotaque?
As pessoas não precisam
de esconder o seu sotaque,
pois este não define o que
somos.
7
8
A companhia ideal para
uma conversa metafísica?
Deste mundo ou do outro?!
É complicado escolher
alguém, escolheria mais
do que uma para essa tal
conversa.
11
9
Qual é a sua maior
extravagância?
Não sair de casa sem pôr
perfume. 10
Quem são os seus heróis
na vida real?
A minha mãe, que após a
morte do meu pai
assumiu os dois papéis
e nunca deixou que me
faltasse nada.
Uma doce memória da
infância?
Destaco as idas com o
meu pai ao restaurante
Miradouro da Portela,
para comer umas sopas de
tomate. Eu adorava! São
poucas as recordações, mas
esta é uma das que não me
saem da mente.
12
O que distingue um madeirense de um
continental
Não temos trânsito,
eles têm. A quem gostaria de pagar
uma poncha?
Talvez a Maomé, que é o
restaurador da segunda
maior religião na Terra,
para lhe dizer que acabe
com o fundamentalismo
entre os seus fiéis radicais e,
consequentemente, com os
atos de terrorismo. 16
5 Segredos da ilha…
Local: Funchal, a mais
linda cidade do país. Hotel: Casa da Piedade
Restaurante: Abrigo do
Pastor
Atividade ao ar livre: Passeio nas serras de Machico
Loja: Gosto de shoppings,
têm tudo na mesma área
comercial.

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