açúcar - JM Madeira
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açúcar - JM Madeira
VIAJANTE “Da Madeira até Marte” 3 cidades pelos olhos de Sofia Vasconcelos P. 9 O PALCO E O TRONO O irreverente Xavier Miguel entrevista a eurodeputada Liliana Rodrigues P. 3 PERFIL Miguel Apolinário, músico P. 8 açúcar 07 | Suplemento que não pode ser vendido separadamente do jornal | design açúcar + lustração capa ricardo tadeu barros talvez a revista mais doce da madeira “Stôr” entrevista a Agostinho Soares «a melhor profissão do mundo» fundada 2015 07 2 | açúcar | SÁB 9 JAN 2016 divagações de uma mente diluvianamente opípara a segunda-feira eterna Assim é Janeiro, uma SegundaCRÓNICA -feira que dura mais de 30 dias, Bárbara Gil Pereira que nunca mais [email protected] acaba. Um exame para o qual não se estudou, uma folha em branco, um relógio que não dá hora de saída, um frigorífico vazio, a simpatia de um fiscal das aneiro. A Segunda-Feira Finanças. eterna. Sexta e Sábado j foram as festividades, Domingo os dias refastelados, recheados a Perú, a bolos e a vinho e alhos. A família apertada no sofá a “Musica no Coração “ em som de fundo ou o Kirk Douglas biblicamente escravizado, todo em dourados, para deleite dos mais novos, saudosismo dos mais velhos que foram ver a estreia ao Cine Jardim e enjoo dos intermédios . A tia solteira jaz adormecida no cadeirão com as meias de vidro enroladas a meia perna , as janelas estão fechadas não vá a “viração” e o “ar encanado” estontear a cabeça aos mais delicados e assim rodopia o mofo adocicado das Acácias e dos Sapatinhos já demi fannées ... E a flatulência obscura e velada do avô que andou a petiscar aparas de bolo rei às escondidas da avó. Os dias de Natal em tudo se assemelham aos antigos passeios de Domingo, onde famílias inteiras apertavam-se nos bancos de trás de Datsuns cor de burro a fugir, serpenteando dolorosa e enjoativamente as curvas do Campanário, com a traseira pesada igual à da prima gorda e o cano de escape com a rouquidão do tio chaminé SG Ventil . A Ribeira Brava surgia, assim como o fogo do Ano Novo, como aquele oásis para desentorpecer, um fôlego para aguentar o resto da tarde, uma água do Porto Santo para afugentar o verde das faces. Uma distracção à sombra da Segunda-feira. O cansaço do descanso. Assim é Janeiro, uma Segunda-feira que dura mais de 30 dias, que nunca mais acaba. Um exame para o qual não se estudou, uma folha em branco, um relógio que não dá hora de saída, um frigorífico vazio, a simpatia de um fiscal das Finanças. Se Dezembro é nascimento, Janeiro é a depressão pós-parto. a encontrados por Susana de Figueiredo © Martim Leitão P assava todos os dias na minha rua. Cabeça erguida a afrontar o tempo, o vento a crepitar por dentro, à sombra dos cabelos densos. Exaustos. Trazia nas mãos o calor de uma promessa domesticada, e sorria sempre. Acenava aos pombos da cidade, acariciava o pêlo dos gatos e cães recusados. Enternecia-se da própria saudade e calava o som à memória com um dedo encostado aos lábios. Fitava a indiferença de homens e mulheres em contagem decrescente. Imperfeições. Coisas de gente. Chamavam-lhe louco, sujo, mau e vagabundo. Os miúdos, de ódio aprendido, atiravam-lhe pedras aos pés descalços... Ele pagava-lhes a crueldade com uma mão cheia de rebuçados (balas guardadas nos bolsos para, em caso de emergência, atirar ao desamor). Tinha sono, fome, frio... Um medo fundo da noite escura. Adormecia para sonhar. E ao amanhecer, perdoava. Sorria sempre. Faz falta na minha rua. a SÁB 9 JAN 2016 | açúcar | 3 o palco e o trono © Martim Leitão Xavier Miguel & Liliana Rodrigues EDIÇÃO Cláudia Sousa [email protected] x avier Miguel - A Liliana é carneiro. Coragem e intuição são duas características deste signo. São precisos estes atributos para ser um bom político? Liliana Rodrigues – É preciso ter essas características para ser boa pessoa. Eu sou mais racional do que propriamente intuitiva, até pela minha própria formação académica, sou da área da Filosofia. A intuição é fundamental, mas não serve de muito se não tivermos coragem. X M – Como é que surge a política na sua vida? X M – Quando acabei o curso segui a área da Filosofia Política, depois fiz um doutoramento em Educação. A palavra política significa o exercício de uma moral, e eu acho que nós exercitamos essa moral desde sempre, não é preciso estar num partido. Já colaborava com o Partido Socialista há muitos anos, e depois, em 2011, fui convidada para liderar o Laboratório de Ideias da Madeira. Entretanto, recebi outro convite, a nível nacional, para integrar a lista do Parlamento Europeu. XM - Esse projeto do Laboratório de Ideias ainda continua? L R - Foi um projeto de muito sucesso e continua com outro nome, chama-se Conselho Estratégico. Houve mudanças, desde a direção até à forma como está a ser elaborado, mas a sua génese é o Laboratório de Ideias. X M – Uma das ideias do Laboratório era criar um ambiente de discussão entre as pessoas, fora e dentro do partido... L R - Sim. Tínhamos, de 15 em 15 dias, discussões sobre diversos temas. X M – Sinto que há uma maneira muito negativa de encarar o políticos em Portugal. Isto deve-se a uma falta de sensibilidade ou será que tem a ver com a formação das pessoas? L R - Não são apenas os políticos que são mal vistos pela sociedade portuguesa. Nós olhamos para diversos setores da vida pública onde as diversas categorias profissionais foram desvalorizadas. Dou-lhe o caso dos professores, da classe médica, dos advogados. Há uma falta de liderança clara na política, não só a nível europeu, mas também a nível mundial. X M – Os jovens representam grande parte da abstenção. A introdução de uma disciplina de Política no programa curricular do Secundário poderia fazer a diferença? L R - Não me parece que o O palco e o trono desta semana foi adocicado pelo irreverente Xavier Miguel, um estudante de Teatro na cidade do Porto, que entrevistou e “pôs à prova” a professora, investigadora e eurodeputada, Liliana Rodrigues. 4 | açúcar | SÁB 9 JAN 2016 © Martim Leitão Xavier Miguel deixou a dúvida no ar: será que há espaço para a personalidade nesta sociedade? problema se resolva com mais uma disciplina. Resolve-se garantindo que os professores dão essa formação aos alunos num contexto informal. Um professor de História, de Filosofia ou de Português pode dar formação política. Quando se fala de política não se está a falar de doutrina partidária. A formação política dos jovens é fundamental e começa em casa. X M – Por que razão as pessoas Liliana Rodrigues considera que os professores devem incutir nos alunos a formação política, num contexto informal, dentro da sala de aula. não estão sensibilizadas para a cultura? L R - Ultimamente, com a crise, as pessoas têm outras preocupações que não são as da cultura, e eu compreendo isso. Quando é preciso pôr comida em casa, a preocupação menor é o Van Gogh. X M – Um livro que todos os madeirenses deveriam ler? L R - Há um livro que me marcou profundamente: “A morte de um apicultor”, de Lars Gustafsson, que mostra o que é realmente importante na vida. O outro chama-se “Escuta, Zé Ninguém” de William Reiche, e esse deve ser lido por todos os jovens. ver um concerto. X M – Qual é a obra de arte que mais a inspira? L R - No caso dos deputados do Parlamento Europeu, estamos muito longe. Embora todo o trabalho feito pelos deputados esteja disponível no online no site do parlamento. Do ponto de vista regional [as pessoas] não se interessam por aquilo que fazem os deputados. Mas isso é um mal generalizado. Devíamos arranjar novas formas de comunicação do nosso trabalho. L R - É difícil escolher. Há “O Beijo”, de Klimt, que é belíssimo. Tive a sorte de estar à frente do quadro durante meia-hora em Viena de Áustria. Há outro que gosto bastante: “Noite Estrelada”, de Van Gogh. X M – Não queria trazer um comunista para a conversa, mas o Wagner dizia que a arte era, cada vez mais, uma propriedade de uma classe. Concorda? L R - Sempre houve uma elite que absorveu a arte muito mais do que outras classes. Hoje em dia isso é mais esbatido. Mas o acesso à arte não é assim tão democrático quanto se pensa. Quando dizem que a arte é para a todos, não é verdade. Se eu quiser ver um concerto na Casa dos Amigos da Cultura, em Viena de Áustria, e se estiver desempregada, não posso pagar 100 euros para X M – Acho que falta a muitos artistas saber transmitir a arte. Os políticos pensam dar a entender às pessoas o que estão a fazer? X M – Qual é o papel da imaginação, hoje em dia, nesta sociedade em que vivemos? L R - Sem a imaginação não há nada. A imaginação é a ligação entre o mundo cá fora e o nosso entendimento sobre ele. X M – Qual é o wallpaper do seu tablet? L R - O meu cão. a © Élvio Fernandes SÁB 9 JAN 2016 | açúcar | 5 «Há alunos que me surpreendem e outros que me comovem muito» O professor Agostinho Soares nunca se deixa imbuir do tédio existencial inerente ao quotidiano humano. A arte em geral, e a literatura em particular, são as duas armas que utiliza para combater a «angústia que vai corroendo» a vida. Em 2016, ano em que comemora 60 anos, espera lançar o seu primeiro romance. É autor do livro “O destino das vogais”, uma compilação de crónicas publicadas em «jornais da nossa cidade», e de uma obra de contos intitulada “Não poderei morrer tranquilamente”. ENTREVISTA Cláudia Sousa [email protected] P ROFESSOR, ESCRITOR E POLÍTICO. EM QUAL DESTE PAPÉIS SE SENTE MAIS CONFORTÁVEL? Naturalmente no papel de professor, ofício do qual nunca me demiti. A vida política foi um imperativo nascido na minha juventude. Aos 18 anos, aconteceu o 25 de Abril e pensei logo em participar na vida política, como a maioria dos jovens da altura. Essa participação [política] durou até há bem pouco tempo, mas, mais recentemente, dentro do Partido Socialista, essencialmente, por uma luta pela liberdade e pela democracia. A partir do momento em que eu sinto que na minha terra isso está conquistado, não tenho mais nada a fazer na política. Já ser escritor, era um sonho de criança. Sempre gostei Tinha um avô que era um dos maiores contadores de estórias que conheci. Essa igura foi importante para mim e sempre desejei ser um pouco como ele. muito de ler e escrever, e então, sonhava um dia escrever estórias. Tinha um avô que era um dos maiores contadores de estórias que conheci. Essa figura foi importante para mim e sempre desejei ser um pouco como ele. NÃO CONSIDERA QUE OS JOVENS VIVEM, HOJE, TEMPOS MAIS DESAFIANTES? Sim, mais desafiantes em todos os aspetos. Os próprios têm de lutar contra o facilitismo que as gerações anteriores lhes proporcionaram. Têm de lutar contra os próprios pais que não ti- veram, na sua infância e na sua juventude, aquilo que quiseram dar rapidamente aos filhos. NÃO SERÁ QUE NOS VENDERAM UMA ILUSÃO? Não foi vendida, foi dada, oferecida. Os pais, os educadores, os políticos, em geral, ofereceram às novas gerações algo de que eles não podem usufruir agora. Os jovens podem olhar à sua volta e verificar quantos deles podem formar família, quantos deles podem ter um emprego a receber mais de mil euros, quantos deles podem, mesmo, ter um emprego... © Élvio Fernandes 6 | açúcar | SÁB 9 JAN 2016 Pensou-se, durante muito tempo, que cada geração teria sempre mais que a geração anterior e a minha geração pensou isso mesmo, que seríamos capazes de criar mais bem-estar e que a evolução do mundo era isso, oferta de mais bem-estar a cada nova geração e, infelizmente, a realidade está a (des)enganar-nos. De facto, só nos resta a arte para podermos tentar superar esta angústia que vai corroendo as nossas vidas. FOI TAMBÉM POR ISSO QUE SE DESILUDIU COM A POLÍTICA? Muito por isso. Eu no fundo só saí da política porque julguei que o meu trabalho tinha terminado, e terminou. Depois, porque a minha adesão ao Partido Socialista não foi uma adesão ao socialismo. Mais tarde, principalmente com o governo de Sócrates e o modo como acabou esse governo, verifiquei que o socialismo e os socialismos no mundo, geralmente, acabam desta maneira: com a distribuição daquilo que já não temos e com o endividamento permanente. Não há meios de salvação das novas gerações. Só haverá mais emprego se hou- ver investimento, mas não público, que só gera dívida. Tem de ser um investimento privado. POR QUE RAZÃO SÓ AGORA PUBLICA A SUA ESCRITA? Tem a ver com a minha personalidade. Depois do 25 de Abril, muita gente foi dar aulas sem a formação adequada, e eu tive essa oportunidade, mas não me sentia consistente nessa situação. Enquanto estudante universitário, podia dar aulas mais cedo, não as dei porque sentia que esse ofício de professor exigia competências que eu ainda não tinha adquirido, não só cientificas, mas também pedagógicas. Na escrita passa-se, também, um pouco isso. Embora reconheça que a minha atividade política retirou algum tempo à escrita, infelizmente. COMO É SER PROFESSOR NOS TEMPOS DE HOJE? Continuo a pensar que é a melhor profissão do mundo. É difícil, mas os tempos de hoje sempre foram os meus tempos. Desde o tempo em que comecei a dar aulas, até hoje, não noto grandes diferenças, embora sinta que as novas tecnologias tenham Pensou-se, durante muito tempo, que cada geração teria sempre mais que a geração anterior e a minha geração pensou isso mesmo, que seríamos capazes de criar mais bem-estar e que a evolução do mundo era isso, oferta de mais bem-estar a cada nova geração (...) retirado algum poder de concentração às gerações mais jovens, o que impede que se dediquem à leitura e ao estudo. Tudo me parece mais vago, eles têm outros recursos na busca pela informação, mas o conhecimento não está tão solidificado como acontecia há algum tempo. De qualquer dos modos, a minha função é adaptar-me aos tempos e aos alunos que tenho, o que não deixa de ser um desafio. Mais exigente, e mais aliciante. Todos os anos letivos faço uma conferência para os pais e alunos sobre a aprendizagem e o modo como as novas tecnologias são importantes no condicionamento dessas capacidades mentais que nós temos, porque transformam, de facto, as nossas sinapses. JÁ DÁ AULAS HÁ TANTOS ANOS, AINDA HÁ ALUNOS QUE O SURPREENDEM? Sim. Há alunos que surpreendem e comovem muito. Eu gosto de levar as turmas durante dois ou três anos, e percebo mudanças surpreendentes. Outros comovem, dado o seu espírito e o seu humanismo. Por mais que nós pensemos que os valores estão perdidos, às vezes, os jovens surpreendem-nos. Ainda este ano surpreendeu-me um aluno que falou sobre a morte do pai, de uma maneira que poucos poetas poderiam dizer do mesmo modo. O PROFESSOR TEM MOMENTOS DE POESIA DENTRO DA SALA DE AULA. ISSO REFLETE-SE MUITO NA SUA ESCRITA. CONCORDA? Sim, reflete-se muito, porque eu não consigo escrever sem eu próprio estar presente naquilo que escrevo. Nada do que os alunos me dão passa ao lado. Digamos que os livros têm servido como um reflexo de um estado de alma. Um dia gostaria de escrever sobre tudo aquilo que aprendi com os alunos. Talvez na reforma! ACHA MESMO QUE VAI CONSEGUIR REFORMAR-SE ALGUM DIA? Aos 70 anos, para o bem, para o mal, somos obrigados a nos reformar. ISSO NÃO O ASSUSTA? Não. Tenho a escrita e tenho a leitura, por isso nunca serei © Élvio Fernandes SÁB 9 JAN 2016 | açúcar | 7 um reformado sem nada para fazer. Aquilo que me formou em criança vale a para a vida inteira. Nunca serei aquela pessoa que se senta à frente da televisão o dia todo e não faz outra coisa. os outros pensam sobre os seus deuses, e percebemos que o homem, para além de precisar de ser feliz, precisa também de ter esperança e sonhos, e é isso que os livros nos oferecem. QUAL É O PAPEL QUE A LITERATURA ASSUME NA SUA VIDA? COMO É QUE UM PROFESSOR ENSINA A DISTINGUIR UM TEXTO BOM DE UM TEXTO MAU? Único. Ainda hoje falava aos alunos desse poder [da literatura]. Muitas vezes, só muito mais tarde é que a realidade nos consegue oferecer aquilo que a literatura já nos ofereceu antes. A nível dos sonhos, a nível das imagens, ao nível das vivências... Quando a realidade me oferece qualquer coisa eu sinto que já estou preparado para ela, porque a literatura já ma deu antes. NÃO SENDO CRENTE, A LITERATURA É O SEU DEUS? Não. Embora me ajude a sentir uma tábua de estabilidade. Ajuda e permite-me superar essa ausência de Deus. Não ter fé custa sempre muito, porque nos sentimos, de facto, sós. Mas a consciência do homem solitário e pequeno no mundo permite que sejamos capazes de ler o que Dou a conhecer autores e textos que estimulem o aluno para a literatura. Se o aluno aprendeu a ler e a interpretar um texto literário está disposto e apto para tudo. Não interessa que o aluno seja preparado para a literatura só pela literatura. A literatura ajuda-nos a viver, oferece-nos ferramentas que mais nada na vida nos oferece. SERÁ QUE A MAIORIA DAS PESSOAS NÃO LÊ LIVROS MAIS COMPLEXOS PORQUE «PENSAR INCOMODA COMO ANDAR À CHUVA»? Nós vivemos num tempo em que as pessoas procuram o prazer imediato e aquilo que é fácil. Isso é visível nos alunos, a procura pelo que Com o governo de Sócrates, e o modo como acabou esse governo, veriiquei que o socialismo e os socialismos no mundo, geralmente, acabam desta maneira: com a distribuição daquilo que já não temos e com o endividamento permanente. é fácil. Para o que é difícil e exigente eles procuram escapatórias ou procuram negociar a fuga. De facto, no mundo de hoje prevalece o hedonismo, o prazer. Tudo está alcatifado para que não sintamos dores algumas. O prazer tem de ser rápido e substituído logo a seguir por outro prazer. Este tipo de vida que nós passamos hoje leva à rejeição implícita de tudo o que gera alguma dificuldade. Os nossos dias vão mostrar que isso não basta para a felicidade humana. Isso não torna um homem mais feliz. Torna o homem mais angustiado à procura de um novo prazer, porque nada o satisfaz. É a nova adição, a da procura de uma nova sensação ou de um novo jogo. É uma situação que desgasta e que dificilmente traz felicidade às pessoas. A felicidade é algo que tem mais a ver com o mundo contemplativo do que com este mundo da agitação. EM RELAÇÃO AO ESTADO DA CULTURA NA MADEIRA, QUAL É A SUA OPINIÃO? A visão da cultura, em geral, não é uma visão que me forme. A cultura, mais rela- cionada com as artes e com a filosofia, na Madeira, tem pouco espaço. No aspeto da literatura, embora se publique muito, não há um ambiente literário adequado. Os nossos maiores autores saíram da Ilha, como é o caso de Herberto Hélder, José Tolentino Mendonça e José Agostinho Baptista, todos madeirenses, e são dos maiores nomes da poesia portuguesa. O próprio ambiente político não favorece. Há um discurso de cultura para as massas que é um discurso equivocado. A arte só pode ser elitista, a arte nunca está no rés-do-chão de nenhum edifício, tem de estar sempre no andar superior. Falta uma revista ou um meio de informação que permita, não só a mostra do que se vai fazendo por aí, mas também que haja pessoas que vão ver as exposições, que leiam os livros e que possam ter a sua opinião. O papel do crítico há muito tempo que não existe na nossa sociedade. Não há nenhum ambiente cultural a sério sem um intermediário que diga, e que aconselhe, o que é bom e o que não é. Falta essa pessoa que está entre o autor e o público, falta essa mediação. a 8 | açúcar | SÁB 9 JAN 2016 Miguel Apolinário, 38 anos, músico © Pedro Freitas perfil ” r a j “Via a r r a t i u de g Susana de Figueiredo [email protected] Músico e professor de guitarra no Estúdio 21, toca com Jamie & The Marx, Tiago Silva, Almatroz, Empress Hungarian Salon Orchestra, Duo Room Service, Franco, Josi D, Vânia Fernandes e Sarah Linhares. Aos 12 anos tornou-se num «ávido consumidor de música» e a partir daí o percurso foi “sempre a subir”. O PRIMEIRO CONTACTO COM A MÚSICA O meu pai terá sido a pessoa que me incutiu o gosto pela música, ele próprio tocou na sua juventude e hoje, olhando para trás, constato que “herdei” as paixões dele, a música e a fotografia. Mas a paixão pela música é muita mais exacerbada e acabou por se impor à fotografia. PRINCIPAIS INFLUÊNCIAS A partir dos 12 anos tornei-me num ávido consumidor de música e, por alguma razão, ouvir uma guitarra deixava-me em êxtase e fazia-me “viajar”. A música tem essa peculiaridade de nos fazer transportar para diferentes estados de espírito. Dito isto, o meu gosto musical sempre foi muito eclético. Lembro-me de ir para a cama com um walkman, adormecer a ouvir Iron Maiden e no dia seguinte estar a ouvir Enigma. Aliás, os dois primeiros CD’s que comprei foram um album de Sepultura (Chaos AD) e outro de Paco de Lucia, Al Di Meola, e John Mclaughin ( o mítico álbum Friday Night in San Francisco). SER MÚSICO - UM SONHO DE INFÂNCIA? Na realidade, sempre tive muitas dúvidas sobre aquilo que queria ser. Sempre fui um pouco lírico e sonhador... Queria ser tudo e não queria ser nada, mas quando recebi a minha primeira viola essas dúvidas dissiparam-se e tudo fez mais sentido. O PERCURSO Comecei a ter aulas de guitarra privadas e logo começaram a aparecer as primeiras bandas e projetos. Frequentei o núcleo de música da Escola Industrial, mais tarde ingressei no Conservatório, no ensino clássico e no curso de jazz. Apostei na polivalência e, ao longo destes 22 anos de música, acho que a melhor escola que tive foi a diversidade dos projetos em que estive envolvido. OS MELHORES MOMENTOS O momento mais marcante foi, sem dúvida, ir a Londres gravar nos míticos Livingston Studios, onde já gravaram grandes nomes sonantes da música: Joe Cocker, Eurythmics, Placebo, Bjork, Shakira e centenas de outros sobejamente conhecidos do grande público. Foi através dessa experiência que conheci o produtor madeirense Luís Jardim, que foi o produtor desse disco. A partir de então, comecei também a fazer trabalhos para o Luís, tanto a nível de gravações (para vários discos produzidos por ele) como a nível de concertos, com o seu projeto “Rouge”. Outro momento importante foi a gravação do meu primeiro projeto de originais, “Loopadelic”, realizado em parceria com um dos nossos grandes mú- sicos da praça, o Georgy Titov, e gravado em 2002 nos estúdios Datamúsica, propriedade de um grande músico e amigo, infelizmente recentemente falecido, o Luís Filipe Aguiar. O PANORAMA MUSICAL MADEIRENSE Somos um meio muito pequeno e não temos, na realidade, um mercado musical. Mas é bom saber que existem nesta terra excelentes músicos e grandes projetos musicais, que em nada ficam a dever ao que se faz lá fora. Sinto pena que o público, muitas vezes, não conheça estes projetos. Tenho a certeza que ficariam surpreendidos com o que se faz por cá nesta área. UM CONSELHO PARA TODOS OS QUE SONHAM VIVER DA MÚSICA? Sejam humildes e dedicados. Se o forem, podem ir longe, independentemente da profissão que sigam. a SÁB 9 JAN 2016 | açúcar | 9 © Kash a viajante “Da Madeira até Marte”, boas viagens! Barcelona b arcelona é uma excelente escolha para os viajantes interessados em arquitectura, gastronomia e compras. É também um ótimo destino de férias em família, pois facilmente mistura atividades culturais e diversão. Esta cidade rica em monumentos arquitetônicos, oferece História, restaurantes, lojas e praias a uma curta distância. Não perca uma visita aos monumentos de Gaudi, inclusive a Casa Batlo e La Pedrera. Um passeio pela cidade velha, as Ramblas e o mercado La Boqueria, são pontos de passagem obrigatória. Tibidado e Montjuic são outras das belas áreas a explorar. a Pelos olhos de Sofia Vasconcelos, a Açúcar desperta os seus sentidos para mais três viagens de sonho. Barcelona, Roma e Berlim esperam por si em 2016! Descubra por que vale a pena visitar estas cidades, como lá chegar e onde ficar. Como lá chegar? Voos diretos desde a Madeira com a Vueling Onde ficar? Casa Gracia Barcelona Hostel TOC Hostel Barcelona Sofia Vasconcelos www.frommadeiratomars.com [email protected] https://www.facebook.com/ Frommadeiratomars Instagram@frommadeiratomars 10 | açúcar | SÁB 9 JAN 2016 a Como lá chegar? Voos diretos desde Lisboa com a TAP Portugal Onde ficar? FRATTINA 57 Via Frattina 57 THE BEEHIVE Via Marghera, 8 cidade eterna - ou simplesmente Roma, é outro destino a visitar. Embora tenha visitado Roma com muitas ideias preconcebidas (comentários de amigos que diziam que esta cidade era lindíssima, romântica, encantadora, cansativa e com filas intermináveis para ver os monumentos), apaixonei-me! Roma Berlim Como lá chegar? Voos diretos desde a Madeira com a Air Berlin Onde ficar? ARTE HOTEL Luise Luisenstr 19 THE CIRCUS HOTEL Rosenthalerstr. 1 b erlim é uma cidade onde se respira liberdade nas suas diversas formas de expressão; música, grafittis, moda, bares, lojas, restaurantes, mercados de rua e muita variedade de escolha. é um monumento, toda ela, a cada canto e ruela, há sempre um bocadinho de história para contar. Roma tem cerca de 2500 anos de historia, daí que Roma não se vê num dia, nem numa semana, porque fica sempre algo por ver. Talvez seja por isso, que surgiu a lenda de atirar uma moeda à Fontana de Trevi; todos querem voltar um dia a Roma. Depois há o estilo, a moda, o sotaque italiano e as vespas. E quanto à comida, não percam o mercado Campo di Fiori, para provar mil e um sabores de Itália, desde o queijo Parmigiano com as cervejas artesanais, as azeitonas da Calábria, o Limoncello, a pizza al taglio, e claro o melhor gelado do Mundo. © Martim Leitão Roma a Perca-se nos bairros de Berlim, desde Kreuzberg (um bairro autêntico e descontraído) até ao Mitte (no coração de Berlim) onde o antigo e o novo colidem em harmonia. Não perca a Ilha dos Museus, com 5 dos mais famosos museus de Berlim e onde à noite se dança o Tango nas ruas. Descubra o prazer de um Domingo no Mauer Park. Música ao vivo, um mercado vintage e karaoke, num turbilhão de emoções e pessoas inesquecíveis. Siga para a ‘East Side Gallery’, uma galeria ao ar livre onde encontrará uma porção do muro de Berlim coberta por arte. Graffitis, dedicatórias e memórias de um passado que não se esquece. a SÁB 9 JAN 2016 | açúcar | 11 horas vagas [ livro, filme, música] Sandra Sousa https://estrelasnocolo.wordpress.com/ U m romance que tem como cenário de fundo uma Argélia pejada de discórdia e um menino sonhador. Turambo é o personagem que faz este romance viver e que transmite ao leitor que nem nos nossos piores momentos devemos desistir da vida. Turambo, apesar de ter nascido no meio da miséria e de livro [ Bizâncio ] Os Anjos morrem das nossas feridas Yasmina Khadra ser analfabeto, era um lutador em todos os sentidos. Nunca desistiu do seu sonho de ser alguém melhor e de sair do meio da pobreza em que vivia com a sua família. Ao ser descoberto através de um golpe de sorte, torna-se um famoso lutador de boxe. Mas assim como a sua ascensão à fama e ao poder foi rápida, o seu declínio também o foi. Apesar de to- das as riquezas do mundo, Turambo tinha uma grande fraqueza: as mulheres. Nelas encontrava o amor que porventura nunca recebeu das mãos da sua mãe e nelas descobria novas formas de olhar para a vida. Foram elas que lhe deram o elixir da vida mas também foram elas que o tornaram cego para o que o rodeava. Num mundo de riqueza, mas também de podridão, Turambo acaba tornando-se um fantoche nas mãos de outros homens, que através dele conseguiram o que queriam. Este livro, além de comovente, retrata o preconceito racial e as lutas dos homens em países em guerra, mas ao mesmo tempo é um livro introspectivo e poético, ao levar o leitor a refletir na sua própria vida. a Virgílio Jesus [email protected] cinema & televisão ano de 2015 terminou com a estreia deste filme que ainda está em exibição nas salas madeirenses. Aquele que é o sétimo capítulo da série Rocky afirma-se como uma espécie de spin-off, sequela ou reboot com o propósito de alcançar um maior números de fãs. A história não tem Sylvester Stallone como protagonista - apenas secundário -, mas introduz uma estrela sensação dos últimos tempos do cinema americano independente Michael B. Jordan, cuja personagem prova o cliché de que qualquer sonho é possível. Este interpreta Adonis Creed, filho da mítica personagem da série, amigo de Rocky Balboa. Para além de usufruir de uma arrebatadora fotografia, com planos-sequência de cortar a respiração transpõe bem a passagem de velho ao novo em princípios e em modos de estar com a vida e serve de homenagem a todos os filmes sobre o boxe. Um nomeação ao Óscar a Stallone é bem provável, aguardemos para saber se vence o duelo. Creed que oferecem aqui interpretações do seu típico à vontade na comédia. Bernie (Black) é dono de uma funerária que se torna amigo inseparável de uma viúva abastada, porém a relação começa a dar para o torto e o comum plot-twist acontece. O que vemos é um estilo um quanto negro àquilo que o cineasta nos costuma apresentar. Inovador, no sentido em que é influenciado pelas obras dos irmãos Coen, este filme dispõe de entrevistas com os vizinhos da personagem principal, como num telejornal mais sensacionalista, além dos permanentes diálogos sarcásticos e jogos de intrigas que conquistam a audiência. Bernie [email protected]. música DFA Records primeira década musical do século XXI foi fortemente influenciada por uma única editora. Em 2001, James Murphy, Tim Goldsworthy e Jonathan Galkin criam a DFA Records, começando com a edição de um single dos The Rapture. Entretanto, lançou outros nomes que foram, por si, também criadores de tendências e geradores de cultos próprios. Hercules & Love Affair, The Juan Maclean, Factory Floor, entre outros, pegaram nos sintetizadores e, misturan- do com disco, com punk ou simplesmente com uma voz, criaram alguns dos maiores êxitos das pistas de dança. Mas nenhuma banda foi mais marcante e criou um culto tão grande do que os LCD Soundystem. Em 2002, James Murphy e companheiros lançam Losing My Edge, um single que fala nos Daft Punk ou Larry Levan e refere locais como o CBGB ou o Paradise Garage, enunciando as referências que os haviam de guiar até ao épico e anunciado final, em Abril de 2010, num concerto que foi registado e deve ser visto. Esta festa, no tão Nova Iorquino Madison Square Garden, viajou pela discografia dos LCD Soundystem, celebrando temas como All My Friends, Daft Punk Is Playing In My House e tantos outros. A despedida sentida, ao som de New York I Love You But You’re Bringing Me Down, debaixo de milhares de balões brancos caídos do tecto, era o fim anunciado dos LCD Soundsystem que, ali e naquele momento, se retiravam para sempre. Mas, como sabemos, o irrevogável é revogável e, no O R ichard Linklater tem uma carreira recheada de inovadoras experiências cinematográficas e é sempre uma bela oportunidade conhecer este aclamado realizador americano. Desta vez, reúne o humorista Jack Black, a Shirley MacLaine e a Matthew McConaughey, atores Diogo Freitas A Para além de um single que não posso deixar de sugerir, Yeah, dos LCD Soundystem, claro sugiro os dois primeiros álbuns deles e ainda os Hercules & Love Affair e The Rapture. a a O Legado de Rocky Data de estreia 31 dezembro 2015 Realizador Ryan Coogler Elenco Michael B. Jordan, Sylvester Stallone, Tessa Thompson e Phylicia Rashad Género Drama/ Desporto Duração 33 minutos Morre... E Deixa-me Em Paz Domingo 10 de Jan 14h- Canal Hollywood Realizador Richard Linklater Elenco Jack Black, Shirley MacLaine e Matthew McConaughey Género Comédia/Drama/ Crime final de 2015 sai Christmas Will Break Your Heart, uma balada natalícia que reflecte uma geração já mais crescida, que amadureceu nestes 5 anos de pausa produtiva dos seus cantores. E assim começou a internet a perguntar se os LCD estavam de volta. E, sim, eles estão de volta. Para nosso gáudio, James Murphy anunciou esta semana que tem mais material para gravar do que alguma vez teve. E ainda vão fazer uma tournée. Que possamos dizer “Welcome Back!!” numa eventual passagem por Portugal. a 12 | açúcar | SÁB 9 JAN 2016 na moda Roupa e mala Zara Botins Uterque Roupa e sapatos Zara Mala Bimba y Lola ! s o d l a S Camisola Net-a-Porter Calças e casaco Zara Botins Massimo Dutti Camisa Bimba y Lola Saia, casaco e botas Zara Mala Bimba y Lola Laura Capontes [email protected] Impulso Vs Ponderação! c foto ©Laura Capontes hegámos a um novo ano e a euforia dos saldos vai passando. Apesar de as lojas, nos primeiros dias, terem ficado praticamente “despidas”, ainda há muito para ver e comprar. Seja nas lojas ou online (Asos, Uterque, Bimba y Lola, Net-a-Porter, entre outras), ainda existem muitos artigos em que vale a pena investir. Esta é uma boa altura para fazer compras, por isso faça boas escolhas, ou seja, foque-se apenas nas peças que realmente lhe faltam ou que precisa renovar e evite as compras por impulso! Compre peças que estejam de acordo com o que necessita, sabe que vai usar e que sejam a sua “cara”. Não se deixe influenciar pelo preço, que, muitas vezes, é irrisório. Esqueça as peças tendência, que usará bem pouco, e aposte nas intemporais. Procure qualidade, aquelas peças que duram anos (uma boa carteira, um bom casaco, um blazer, uma camisa de bom corte, uns sapatos, umas botas, jeans e acessórios). Se não encontrar o que realmente quer, não se sinta obri- gada a comprar alguma coisa só porque está em saldos ou influenciada por alguém que parece querer levar tudo o que há na loja! Concentre-se em si, nos seus objetivos, no que realmente pretende, e seja racional. Para se inspirar, apresento algumas propostas de looks compostos exclusivamente por peças encontradas nos saldos. Boas compras, um bom ano e sejam felizes! a SÁB 9 JAN 2016 | açúcar | 13 feliz com menos Dicas para viver mais simples em 2016 Débora G. Pereira www.simplesmentenatural.com U m novo ano se inicia, uma nova fase, uma nova oportunidade para recomeçar, ou, pelo menos, mais uma motivação para tal. Os desejos de uma vida melhor emergem em cada um de nós e convertem-se em metas, desafios, promessas e sonhos para serem realizados nos próximos meses. Se pensa que a sua felicidade passa por dar valor às coisas simples da vida e esse é um dos seus objetivos, este texto fornece algumas dicas para começar. Viver de modo mais simples não é sinónimo de sacrifício, não é reutilizar e reciclar nem tão pouco comprar tudo o que é mais barato. Trata-se de consciência, empatia e respeito por nós e pelos outros. É uma escolha, um caminho de libertação para pessoas que, por uma razão ou por outra, chegaram à conclusão que querem mais da vida e que esse mais se traduz numa felicidade interior que é verdadeira por si só. Não depende dos produtos que consumimos ou do estatuto que ocupamos na sociedade. A primeira dica, embora pareça algo descabida, é a chave para todo este processo. Trata-se de refletir e analisar sob o ponto de vista crítico os conteúdos que todos os dias são colocados à frente dos nossos olhos. Será que temos mesmo de proceder deste modo? Será que isto faz mesmo sentido? Será que eu estou mesmo a necessitar desta aquisição? Questões simples que inevitavelmente surgirão e cujas respostas poderão surpreende-lo. Evitar comprar algo que provavelmente só necessitaremos muito tempo depois (a não ser que já saibamos ao certo) é outra das dicas. Comprar apenas porque pode dar jeito no futuro nem sempre se verifica na prática. Em época de saldos é necessário ter atenção, não somente às falsas promoções, mas também à aquisição de um grande número de coisas apenas porque estão a um preço mais acessível e não por necessidade. Não compre por impulso, pense duas vezes antes de decidir. Se esperar um mês e ainda se lembrar e necessitar de tal objeto, então se calhar vale a pena reconsiderar. Valorizar Ser em vez de Ter, qualidade em detrimento de quantidade, permite-nos encontrar outras formas de satisfação e de conexão connosco próprios e com os outros. Neste âmbito, tente encontrar outras formas de satisfação como uma boa conversa, leitura, jogos de tabuleiro, atividades em família e amigos, desporto ao ar livre e arte. Compre coisas pela sua utilidade e não pelos extras, limite o consumo de programas televisivos, faça uma alimentação mais simples e, se possível, cultive alguns alimentos numa pequena horta. Dê uma boa arrumação na sua casa e liberte-se daquilo que já não utiliza há dois, três anos ou mais. Ora repare, pode até dar jeito, ser bonito e tal mas se não lhe fez falta durante todo esse tempo é porque, quase de certeza, também não lhe fará falta no futuro. Dê as boas vindas à clareza mental e à satisfação de ter o espaço que o envolve desafogado. Um bom ano a todos! ção, as náuseas, vómitos, diarreia e, nalguns casos, laringite e bronquiolite. As complicações podem ser fatais, como pneumonias. Já nas constipações, os sinais e sintomas surgem de forma gradual, e são limitados às vias respiratórias superiores - nariz entupido, espirros, olhos húmidos, irritação da garganta e dor de cabeça. Em termos terapêuticos, para a gripe, comecemos com a obrigatória prevenção através da vacina da gripe (principalmente os grupos de risco) e o tratamento com antivirais “Oseltamivir e Zanamivir”, reservados ao escrutínio médico. Já a resolução dos sintomas, válida para gripes e constipações, tem de seguir uma estratégia individualizada (médicos, farmacêuticos), podendo elencar antipiréticos, analgésicos, descongestionantes nasais, antihistamínicos etc… De relevar o factor comportamental, para evitar gripes e constipações - alimentação cuidada e diversificada, dando ênfase às frutas e vegetais da época, ingerir muitos líquidos, evitar locais com grandes aglomerados de pessoas, lavar as mãos com sabão frequentemente, e ou usar toalhetes desinfetantes e géis hidroalcoólicos, quando tossir ou espirrar, fazê-lo para lenço de papel descartável (eliminado logo de seguida no lixo comum ou sanitários) ou para o antebraço, evitando as mãos. A prevenção, aliada a uma alteração comportamental, é a base do sucesso para um inverno mais “saudável”. a saúde Gripe e constipação Bruno Olim, Farmacêutico [email protected] A proxima-se o Inverno no Hemisfério norte, é nesta altura do Ano que a temperatura média do ar desce, ficando mais frio, que a radiação UVB diminui permitindo que os vírus sobrevivam mais tempo facilitando a sua transmissão, e é neste período que as pessoas procuram mais os ambientes fechados (pelo conforto térmico). Todos estes aspetos, contribuem para uma maior incidência da gripe e constipações. A gripe assume um papel de relevância, pela possibilidade de evoluir para quadros de fatalidade ou de grande morbilidade. De acordo com o Relatório Programa Nacional de Vigilância da Gripe 2014/2015, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), ocorreram 5591 óbitos acima do esperado, com uma taxa de 54 óbitos por cada 100 mil habitantes, 70% das mortes ocorreram em pessoas com mais de 64 anos, 80% apresentavam doença crónica subjacente e 15% apenas estavam vacinadas contra a gripe. É importante concretizar que a gripe e constipação são patologias de origem viral (vírus Influenza-gripe; mais de 200 vírus diferentes, Rinovírus; Coronavirus; RSV; Parainfluenza-constipação), que afetam predominantemente as vias respiratórias, apresentando uma transmissão semelhante, através partículas de saliva de uma pessoa infetada, expelidas sobretudo através da tosse e dos espirros, mas também por contacto direto, por exemplo, através das mãos. Em termos de quadro sintomatológico podemos distinguir a gripe, por apresentar sintomas repentinos de mal-estar, febre alta, dores musculares e articulares, dores de cabeça e tosse seca, sendo que, nas crianças até aos 3 anos, é comum, para além da febre e prostra- a 14 | açúcar | SÁB 9 JAN 2016 mais açúcar Joana Gonçalves Chef pasteleira Eleven | Lisboa [email protected] Bolo Rei ingredientes Preparação 750 g de farinha 30 g de fermento de padeiro 150 g de margarina 150 g de açúcar 150 g de frutas cristalizadas 150 g de frutos secas 4 ovos raspa de 1 limão raspa de 1 laranja 1 decilitro de vinho do Porto 1 colher de sobremesa de sal 1 brinde 1 fava Pique as frutas e deixe-as a macerar com o vinho do Porto (deixe algumas inteiras para enfeitar). Dissolva o fermento de padeiro em 1 decilitro de água morna, junte a 1 chávena de farinha e deixe a levedar em ambiente temperado durante 15 minutos. Entretanto bata a margarina, o açúcar, e as raspas de limão e laranja, junte os ovos (batendo um a um), e a massa de fermento. Quando tudo estiver bem ligado adicione o resto da farinha e o sal. Amasse até ficar elástica e macia e misture as frutas. Molde a massa numa bola, polvilhe com farinha e tape a massa com um pano, deixando levedar num ambiente temperado durante 5 horas. Depois da massa dobrar o volume, ponha sobre um tabuleiro e faça-lhe um buraco no meio. Introduza o brinde (embrulhado em papel vegetal) e a fava, e deixe levedar mais uma hora. Pincele o bolo com gema de ovo, enfeite com frutas cristalizadas inteiras, torrões de açúcar, pinhões, meiasnozes, etc, e leve a cozer em forno bem quente. Depois de cozido, pincele o bolo-rei com geleia diluída num pouco de água quente. a Pêra Bela Helena 6 pêras 1,5l de água 500g de açúcar 1 vagem de baunilha cardamomo Descascar as pêras. ferver a água com o açúcar, baunilha e cardamomo. colocar as pêras e deixar cozinhar até que estejam macias. Madalenas de chocolate 70g de farinha 3 colheres de sopa de cacau 1/2 colher de chá de fermento em pó 90g de açúcar 2 ovos 100g de manteiga Bater a farinha com o cacau, fermento, açúcar e ovos. Adicionar a manteiga derretida. levar a forno pré-aquecido a 180º, em formas de madalenas, durante cerca de 10 minutos. Crocante de grué de cacau 75g de manteiga amolecida 200g de açúcar em pó 30g de farinha 20g de cacau 75ml de sumo de laranja Raspa de uma laranja 30g de grué de cacau Bater a manteiga com o açúcar farinha, cacau, sumo e raspa de laranja. envolver o grué de cacau. Formar bolinhas com a massa e colocar sobre um silpat. Levar ao forno préaquecido a 180º por cerca de 10 minutos. Molho de chocolate 150g de natas 100g de chocolate negro Ferver as natas. Verter sobre o chocolate partido em pedaços. Mexer até que o chocolate esteja completamente derretido. Montagem Colocar as pêras em copos ou taças. Regar com o molho de chocolate. adicionar uma bola de gelado de baunilha e violetas cristalizadas. tapar o copo com o crocante de grué de cacau. a Amor de inverno Susana Figueiredo U m dos privilégios de viver na Madeira é poder escolher, quase sempre, entre o tempo mais morno e o mais frio. Mas os micro-climas permitem bem mais do que isso, permitem desfrutar de toda a envolvente de um inverno ou de um verão “premeditado”. Vejamos, eu gosto mais do frio, por isso, subo muitas vezes à serra e paro no Abrigo do Pastor. Ali, mesmo em pleno Verão, nem sequer é preciso fechar os olhos para imaginar que estamos noutras paragens. Começa logo pela ementa, consistentíssima, a adivinhar a hipo- termia forjada e o estômago exigente do campo. Uma vez, fui lá em setembro, de luvas, gorro e cachecol de lã, a indumentária apropriada para pedir, sem timidez, uma canja de galinha a escaldar. O verão já estava em modo de despedida, mas lá em baixo, a cidade do Funchal era, ainda, toda ela praia e turistas suados. “Eu cá” gosto dos meus invernos fingidos, da comida serrana com cheiro de lenha, da “casa na floresta” com nome e ares de abrigo. Fico na mesa coladinha à janela, encosto a cabeça à vidraça embaciada, e já me delicio antes de picar o garfo. Come- ço pelo requeijão (o Santo!), um golo de vinho (só um, que gosto mais de me aconchegar na comida), e depois a canja, ou a sopa de tomate e cebola. É sempre uma guerra decidir. Faz frio lá fora (é assim que eu gosto). Que venha o soberbo bacalhau com broa! É setembro, mas não contamos a ninguém. Dizem que os amores de verão são os melhores, pois eu prefiro os de inverno, os consequentes, e até mais quentes… Lembro-me sempre da deixa de um conto de David Mourão-Ferreira: “O inverno é muito melhor para a gente se conhecer”. Oh se é! a SÁB 9 JAN 2016 | açúcar | 15 1 Três características da sua personalidade que melhor o definem? Comunicativo, expressivo, auto-crítico, dedicado. boca doce Nélio Fabrício Dj / Locutor de Rádio 2 14 A crítica mais construtiva que já lhe fizeram? E a mais injusta ou absurda? Um antigo chefe, ajudou-me a deixar de ser tão reativo e ser mais proativo. Quanto à mais absurda, foi tão bizarra e tão desconstrutiva que nem a considerei. 3 Que expressões madeirenses usa com maior frequência? “Semilha” – batata; “agente” – nós; “bilhardar” - conversar. 15 6 A decisão mais importante que teve de tomar? Largar uma vida e ganhar amor próprio. Pode ser clichê dizer que para sermos realmente felizes temos que estar bem connosco, mas é verdade. Um ato de coragem? Apesar de muitos contratempos que existem na vida, ter uma filha magnífica, que me enche de orgulho. 4 Uma atitude imperdoável? Traição A sua dúvida mais persistente? O que será o dia de amanhã? 5 Um arrependimento? Não ter agarrado uma oportunidade profissional no passado. 13 Que opinião tem dos madeirenses que escondem o sotaque? As pessoas não precisam de esconder o seu sotaque, pois este não define o que somos. 7 8 A companhia ideal para uma conversa metafísica? Deste mundo ou do outro?! É complicado escolher alguém, escolheria mais do que uma para essa tal conversa. 11 9 Qual é a sua maior extravagância? Não sair de casa sem pôr perfume. 10 Quem são os seus heróis na vida real? A minha mãe, que após a morte do meu pai assumiu os dois papéis e nunca deixou que me faltasse nada. Uma doce memória da infância? Destaco as idas com o meu pai ao restaurante Miradouro da Portela, para comer umas sopas de tomate. Eu adorava! São poucas as recordações, mas esta é uma das que não me saem da mente. 12 O que distingue um madeirense de um continental Não temos trânsito, eles têm. A quem gostaria de pagar uma poncha? Talvez a Maomé, que é o restaurador da segunda maior religião na Terra, para lhe dizer que acabe com o fundamentalismo entre os seus fiéis radicais e, consequentemente, com os atos de terrorismo. 16 5 Segredos da ilha… Local: Funchal, a mais linda cidade do país. Hotel: Casa da Piedade Restaurante: Abrigo do Pastor Atividade ao ar livre: Passeio nas serras de Machico Loja: Gosto de shoppings, têm tudo na mesma área comercial.
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