o ESTADO DE S. PAULO - 7-9-72 SUPLEMENTO ESPECIAL

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o ESTADO DE S. PAULO - 7-9-72 SUPLEMENTO ESPECIAL
o ESTADO DE S. PAULO - 7-9-72
Do
Rio
SUPLEMENTO ESPECIAL - 5
a
São
Paulo,passo
mineiros, vendas onde se
misturavam escravos e homens livres; soldados com
fardas de zuarte, calça branO Governo da Província de . ca e capacete. O telhado das
São Paulo, eleito a 21 de vendas terminava em alpenjunho de 1821, era presidido dre sustentado por barrotes
pelo general João Carlos Au- e, entre estes, uma parede
gusto de Oeynhausen e tinha de arrimo. Ao lado de igrecomo secretário da Fazenda jas, casinholas chamadas CaMartim Francisco Ribeiro de sas do Imperador, que serAndrada. Os Andradas cres- viam para festas de Penteciam em prestígio político e, costes; quadradas, baixas, de
por isso, formou-se um grupo dois quartos, o do fundo fecom 0 objetivo de anular es- chado e muito pequeno e o
se prestígio, sob a liderança outro aberto na frente e dos
do coronel Francisco Ignacio lados. Era ali que se vende Souza Queiroz, do ouvidor diam em leilãO/O que os fiéis
José da Costa Carvalho e do doavam ao Divino Elspírito
general Oeynhausen. Sa- Santo. Taberneiros, mercadobedor do fato, Martim Fran- res e operários juntavam-se
cisco apelou a seu irmão Jo- em torno de sitiantes e assim
sé Bonifácio, que, a 21 de nasciam as aldeias.
maio de 1822, ordenou, em
A duas léguas do Rio de
nome do Príncipe, que o geJaneiro
terminavam as
neral transmitisse a presidência da Província a Mar- chácaras e começavam os
tim Francisco e retornasse engenhos, cujos senhores,
casa, vestiam roupas deimediatamente ao Rio de Ja- em
brim, usavam tamancos e
neiro.
calças mal amarradas, sem
Entretanto, dois dias de- gravata; ao sair, vest am japois< os conspiradores suble- leco, calças “de missa”, botas
varam as tropas, sob o co- limpas e esporas de prata,
mando do coronel Francisco fazendo questão de muita
Ignácio, depuseram Martim boa sela para a montaria.
Francisco e mantiveram na
NO VALE
presidência Oeynhausen,
após a convocação da Câmara
Mopo "O Estadd^
e do povo. Martim Francisco
No dia 14, D. Pedro e coo mapa mostra o roteiro do longo caminho de, ida e o do rápido retorno à capital
voltou ao Rio, onde assumiu mitiva pernoitaram na Real
0 Ministério da Fazenda. Em Fazenda de Santa Cruz, onde
consequência, D. Pedro dis- chegou, à tarde, o general
solveu 0 governo de São Oeynhausen, a quem o PrínPaulo, ordenando o retorno cipe não quis receber, ordede Oeynhausen ao Rio. Para nando-lhe que se apresen- Na zona que seria a do café
restabelecer a ordem na Pro- tasse a José Bonifácio. No
víncia, nomeou o marechal dia seguinte, os viajantes
Cândido Xavier de Almeida chegaram a São João MarPara tirar a casca do café, rias, a primeira dirigida à rolos eram permutados por ceiros usavam chapéu de fele Souza, governador da Pra- cos, na Fazenda Olaria, de cultura nova e que enrique- Câmara de Sorocaba, agra- escravos nos navios negrei- tro de cor cinza, com abas
ça de Santos.
propriedade do capitão Hilá- cia muita gente, era feita a decendo apoio, e outra dis- ros da Guiné.
muito largas, poncho azul
rio Gomes Nogueira, inte- soca em pilão de madeira, ou pensando uma Guarda de
comprido com abertura para
Então, receosos de ati- grando-se à comitiva os jo- por meio de monjolo; quando Honra destinada a acompaa cabeça, calças e paletó de
REGIÃO POBRE
tudes mais drásticas, os vens Luís e Cassiano No- o cafeeiro começava a en- nhá-lo, composta de 32 pratecido escuro de algodão, boD. Pedro chegou no dia 19 tas altas não engraxadas semembros do governo de São gueira. No dia 15, D. Pedro velhecer, era cortado para ças dos oficiais de milícias e
Paulo convidaram o Príncipe ficou na Fazenda Três que novamente brotasse.
comerciantes, sob a justi- à vila de Santo Antonio de guras embaixo do joelho por
Em Silveiras havia roças ficação de que não havia au- Guaratinguetá, sendo re- uma correia e fivela, facão
para visitar a Província.
Barras, pertencente ao mesde milho, mandioca e cana, torizado sua constituição. Es- cebido e hospedado pelo ca- comprido com cabo prateado,
mo capitão, em Bananal.
pitão-mor Manoel José de
em grandes planices. Dali o
Rogando ao mesmo AuNo dia 17, já estava D. Pe- caminho era formado por sa Guarda havia sido forma- Mello, na rua da Estalagem, metido no cinturão ou no cagusto Senhor que lançasse
no da bota.
da
pelo
coronel
Francisco
Ighoje Marechal Deodoro, onsuas benignas vistas e indis- dro ná fazenda do Pau D’Alho, muitos outeiros de lombadas nácio de Souza Queiroz.
O comércio fazia-se norem
São
José
do
Barreiro,
rede está atualmente o prédio malmente aos domingos. A
pensável proteção sobre a
suaves, com matas e cerraLorena
ficava
em
região
Provincia e a cidade e sus- cebido pelo proprietário, o dos, ou pastos, por onde se plana e pantanosa do Paraí- da Associação Comercial de igreja tinha duas torres, que
pendesse qualquer medida sargento-mor João Ferreira chegava ao Vale, depois de ba. Pequena, de ruas estrei- Guaratinguetá. Antes, no dia faziam de campanário. No
17, a Câmara já esperava o seu interior nada havia de
hostil contra a Provincia, e de Souza. Aí jantou. Região passar por Paiol e Iripariba, tas, com casas apertadas
suplicavam que viesse pes- montanhosa, era coberta de rio que se lançava no Parai- umas ãs outras, em geral não Príncipe e mandou lavrar notável, e já estava construíum Auto de Vereança que, da há mais de meio século.
soalmente conhecer os co- matas virgens; os caminhos ba.
caiadas, de um pavimento,
entre outras coisas, dizia que
rações fieis dos paulistas que eram difíceis para os burros
Antes de chegar a Pindamas
bem
tratadas
e
asseaFERRADORES
ansiosos esperavam sua Real e poucos os- ranchos e vendas. Várias lojas, algumas de a Câmara havia feito edital monhangaba, a uma légua,
das.
Em
Pau
D’Alho
ficava
a
“para o povo desta Vila cui- no lugar chamado Ágíia PrePrese?iça”.(João Romeiro —
Em companhia do sar- latoeiros, a igreja formando
De O. João VI à Independên- maior plantação da região e gento-mor João Ferreira de um dos lados da pequena dar em preparar suas testa- ta, a comitiva foi recebida
a única casa assobradada de
das e prontificar as ruas e pela Câmara Municipal dacia.)
fazenda. O café constituía a Souza, no dia 18 a comitiva praça quadrada. Em praça por iluminação na noite em quela
vila, pelo coronel Anmenor,
a
igreja
de
N.S.
do
jantou
no
Porto
da
Caprincipal economia, cultique aqui pernoitar o Prínci- tonio Gama Pereira da Gama
Rosário,
sem
dourados
e
de
Pouco tempo depois, D. vado há uns vinte anos.
choeira e, mais adiante, no
pe”.
Lobo e pelo coronel Manoel
Pedro assinou decreto declaRancho do Moreira, tro- pintura grpsseira. Em frente
Estava na cidade o cônego Marcondes de Oliveira Mello,
O Príncipe foi pernoitar caram-se os cavalos. Pelo ca- a essa igreja, o paço murando inimigas as tropas
portuguesas que desembar- na vila de Areias, na casa do minho, matas, terra boa, nicipal, de um só andar, Antonio Moreira da Costa, mais tarde primeiro- Barão
comissionado pelo clero de de Pindamonhangaba. D. Pecassem no Brasil e lançou capitão-mor Domingos da número considerável de ca- em cujo rés do chão ficava a
Taubaté, para levar a D. Pe- dro pernoitou na vila no somanifesto às Províncias do Silva Leme.
sas, terra cultivada, poucas cadeia.
dro mensagem de boas-vindas. brado de monsenhor Ignácio
Usava-se
muito
a
rede,
Norte pedindo a união de tohabitações de importância.
Entre outras coisas, dizia a Marcondes de Oliveira CaCOROADOS
das em benefício dos braUma aldeiola chamada Imba- resquício dos hábitos dos ínmensagem: “Sim, há che- bral. Em Pindamonhangaba,
dios, que eram numerosos na
sileiros. Em agosto a crise
nha,
com
capela,
pouca
veAreias não apresentava
gado 0 tão afortunado e am- o príncipe organizou a Guarera total. D. Pedro lançou aspectos de riqueza. O na- getação florida. Cana de açú- região.
bicionado momento de re- da de Honra, que o acompaLorena,
antes,
era
chanovo manifesto no dia 1° de turalista alemão Carl car e café, a cultura. Inch
cebermos com os braços nhou até o Ipiranga e à projulho conclamando os povos Friedrich Von Martins des- pientes engenhos perto das mada Guaipacaré, sítio poabertos o Pai Clemente, o clamação da Independência.
do Reino do Brasil a trabalhar creve, ali, casas baixas, cons- casas. Porto da Cachoeira bre, sem importância, de
Anjo da Paz, o Astro LuPindamonhangaba tinha
pela Independência. Nesse truídas de ripas, amarradas era um arraial, de muito be- umas 40 casas. Era entroncaminoso, que vivificando tudo algumas filas de casebres
mesmo dia conclamou as na- com tranças de cipo', apenas la posição geográfica, cons- mento de comércio de Minas
por onde passar irá, com a baixos, espalhados num
ções amigas a estabelecerem para refúgio de viajantes. Na truído 'a beira do Paraiba, para o Rio: sal, carne-seca,
propícia influência de seus morro, e aparentava pouca
relações diplomáticas com o vizinhança de Areias, uma in- sobre o declive de uma co- utensílios de ferro. A imporraios, acabar de dissipar os prosperidade. A igreja estaBrasil, realçando que “o Bra- significante aldeia de índios, lina no alto da qual ficava a tação de Santos era insignirestos
dos melancólicos ne- va apenas meio acabada,
ficante,
menor
ainda
a
de
sil não tolerará influencia ou donos das terras antes dos
igreja.
voeiros,
que enlutaram a atinterferencia de estrangeiros paulistas se apossarem da SerNa cidade, cabanas es- Angra dos Reis e Parati. Por mosfera da Capital da Pro- cheia de decorados em maali,
Minas
despachava
algodeira. Era de mau gosto, esem sua política interna”.
ra do Mar. Os indios estavam parsas, bananeiras e laran- dão grosseiro para São Pauvíncia”.
cura e sem beleza. O vilarejo
jeiras, engenhos e plantação.
misturados
aos
negros
e
muD. Pedro agradeceu por tinha apenas uma rua, com
VIAGEM
lo. Na planície, o fumo cresCachoeira
não
era
mais
que
latos, vivendo, incultos, entre
portaria os protestos de casas cobertas de telhas, basuma dezena de casas e dis- cia bem, um dos principais
amor e respeito.
Aconselhado por José Bo- os colonos.
tante conservadas. Cirtrabalhos
dos
habitantes.
O
trito de Lorena, com algunifácio, D. Pedro resolveu
Guaratinguetá ficava num cundando 0 lugarejo, pastos
Esses índios eram cha- mas lojas e vários ranchos e produto chamava-se Tabaco
viajar para a Província de mados caboclos e os portu- muitos ferradores de grande da Marinha, superior ao “ta- campo, cercada de bananei- naturais, moitas, à’rvores isoSão Paulo, para impor süa gueses, não os distinguindo fama. Era o lugar de passa- baco serra acima”. No entan- ras e laranjeiras. Von Mar- ladas, capim e ervas rasteiautoridade, acalmar a situa- dos índios selvagens, davam- gem de tropas que de. Bae- to, o produto mais famoso tins achava que “o nome ras, compridas filas de abação e unir os paulistas em lhes 0 nome geral de coroa- pendf iam ao Rio, para onde estava em São Sebastião, comprido significa “lugar caxis. Manadas de bois ou de
torno^ da causa da Inde- dos, porque deixavam uma levavam fumo e traziam sal.
transportado para fora da para onde o sol volta”, o bestas pastando.
pendência. No dia 13 de coroa de cabelo em volta das
Província como rapé. As trópico de Capricórnio passa
AVILA DE TAUBATÉ
agosto delegou amplos po- têmporas. Sua sede era à
folhas eram colhidas diversas
apenas a um grau ao sul da
DECRETOS
deres ao Ministério, para cu- margem do Rio Pomba, um
vezes por ano e, depois de vila. Ali notou Von Martins
No
.dia 21^0 Príncipe foi
No dia 18, D. Pedro per- secadas ao ar livre, reunidas as primeiras vidraças do inja presidência nomeou a dos afluentes do Paraíba. Alfestivamente
recebido pela
Princesa Real D- Leopol- guns deles eram encontrados noitou em Lorena, onde assi- em grandes pacotes ou retor- terior do Brasil que demons- população da Vila de Taubadina.
nou
e
expediu
duas
portacidas
em
rolos;
finalmente
os
travam riqueza e luxo.
na aldeia de Valença, entre
té, ficando em casa do côneo Paraiba e o rio Preto, cago
Antonio Moreira da CosPara acompanhá-lo na
ta.
viagem, como ministro e se- minho do Rio para Vila Rica.
Eles sempre iam ter com os
cretário de Estado, nomeou
Do alto de Taubaté, situapadres da Missão.
por decreto nesse mesmo
da num outeiro achatado,
Dali, muitas tropas leEm
Guaratinguetá
dia Luiz'de Saldanha da Gaavistava-se grande parte
vavam principalmente galima-. No dia seguinte, partiu o
dos campos, com capões e
nhas para o Rio, assim como
Príncipe do Rio de Janeiro, a
moitas. A esquerda, o contoda a produção do mercado.
cavalo, acompanhado do MiAs colinas eram bem plan- mais considerável da vila fi- ços José Monteiro dos Santos vento franciscano, circundaAs galinhas eram metidas tadas de feijão, milho, man- cava entre os rios São Gon- e Custodio Leme Barbosa, do de palmeiras. Uma rua
nistro e Secretário, do teem cestos feitos de timbó dioca e fumo, à esquer- çalo e Dos Mortos.
que integrariam a Guarda de principal, com casebres de
nente Francisco Gomes da
trançados com hastes de di- da. À direita, alarga-se o
Ao lado de uma pequena Honra do Príncipe em Pin- ambos os lados, algumas
Silva, do major Francisco de
versas espécies de paulínias. vale até a Mantiqueira, apre- praça ficava a Casa da Câ- damonhangaba. Ao passar ruas laterais, constituía uma
Castro Canto e Mello e dos
pela Capela de Nossa Senho- das mais importantes vilas
criados do Paço João Carlota As tigelas usadas pelos tro- sentando aspecto desolado, mara, na parte mais baixa da
peiros eram feitas de taqua- deserto, sem vestígios de cidade, inacabada. Dessa
ra da Aparecida, D. Pedro da Província, rivalizando em
e João Carvalho.
ra. As feridas dos animais de cultura, coberto de densa ve- praça, saia uma rua de mi- entrou numa pequena ermi- idade com a sua Capital.
carga eram tratadas com co- getação baixa de murtas e seráveis choupanas habitadas da, ajoelhou-se diante da ima- Conta Von Martins que na
Logo ao sair da cidade,
zimento
de fumo ou com uri- goiabeiras: “Só a esperança por mulheres de má vida. À
gem e pediu proteção para o época em que a cobiça do
nas proximidades de São
na, e o transporte só se rea- de que milhares de felizar- margem do Paraiba existia Brasil.
Cristovão, o caminho era beouro incitava grande número
lizava com mulas, que ti- dos venham a habitar um dia um grande rancho para abriAparecida era sítio de ro- de paulistas a se aventulo, uniforme e em terreno
nham o costume de “dormir estas ricas paragens, reani- go dos viajantes. Para atramarias, com a capela situada rarem em bandeiras a Minas
arenoso, conforme a descrição de Auguste <jc Saint- de preferência de meia noite mam 0 viajante”, escreveu vessar o rio, durante muito num outeiro, cercada de al- e Goiás, distinguiram-se os
tempo só havia canoas, mas gumas casas. Estava par- habitantes de Taubatd.
Von Martins.
Hilaire; à direita perspecti- até de manhã”.
A meia légua da vila já se depois foi ali posta uma bal- cialmente construída de pevas da baia é à esquerda um
Por esse motivo ali estaConstituía grande perigo o
vale, cheio de colinas e de encontro com cobras ve- avistava a torre da igreja pa- sa. Segundo Saint-Hilaire, dra e guarnecida de doura- beleceu-se a primeira Funchácaras, terrenos lavradios nenosas, que saiam à noite roquial. A vilazinha era mui- canoas vinham de Mogi das dos, maus afrescos e alguns dição Real. Os taubateanos
e pastos; mais ao longe, a em busca de presa, sobre- to mais comprida do que lar- Cruzes trazendo madeira, quadros a óleo. Não se via com isso puseram-se em “zeSerra da Tijuca, coberta de tudo a jararaca, a qual, de- ga, ruas estreitas, casas pe- toucinho e outras merca- nenhuma casa que denotasse losa rivalidade e irreconcibem estar, mas uma infi- liável hostilidade” com os vimata virgem, florestas vir- pois de • morta, era metida quenas sem caiação, ao res dorias.
do chão, rótulas guarneA pobreza da região em nidade de casinholas, várias zinhos piratininganos, de
gens, bosques e campos com em “espírito de vinho”.
cendo de alto a baixo portas víveres ficou demonstrada delas vendas, assinaladas por sorte que onde quer se en-'
flores eram o cartão de viA casa de um fazendeiro e janelas. As vendas eram com a passagem da ca- um galho de cactus.
contrassem logo se empesita da capital do Brasil. As
Aos domingos, uma multi- nhavam em sangrentas bricasas de campo eram cons- era baixa, pequena, coberta bem sortidas, indicando al- ravana, que, consumindo todão de pessoas acorria à mis- gas. Essa inimizade perdutruídas com originalidade. de telhas, construída de pau- gum comércio, mas quase to- do o disponível, deixou poSegundo afirmava o almi- a-pique e rebocada de barro. das as casas só eram ha- pulação e viajantes famin- sa e gente vinha chegada de rava à época da IndeMinas e até da Bahia e Goiás pendência, embora já tivesrante Jacob, a bafa tinha a Dentro de um cômodo, ape- bitadas aos domingos e dias tos. Os habitantes viviam
capacidade de todos os por- nas uma mesa, um banco, feriados, já que seus donos mais de bananas e goiabas e para cumprir promessa. Ho- sem abandonado a extração
um par de tamboretes e uma eram lavradores. Igreja dos peixes que podiam pes- mens a cavalo, mulheres do ouro, dedicando-se à agritos europeus juntos.
comodazinha. Areias tinha grande, com très altares bem car.
montadas e muitas desacom- cultura e criação de gado. As
No dia 20 D. Pedro seguiu
panhadas, de chapéu de fel- mulheres teciam com aristiMuitos pedestres e ca- duas ruas paralelas, a prin- ornamentados, uma só torre,
valeiros, negros puxando cipal atravessada pela estra- sem forro, nave sem janelas, viagem, agora acompanhado tro e uma esp_écie de amazona da brava e outras gramíneas
mulas, pontas de gado e va- da. A igreja era bem gran- por isso, escura. Mais duas também do capitão-mor Ma- de pano azul, pés nus, saias e da região esteiras que mandaigrejinhas existiam. A parte nel José de Mello e dos mo- camisas de algodão. Os ro- vam vender no Rio.
ras de porcos tangidas por de, de taipa, sem caiação.
ROMEU GARCIA
Correspondente em
TAUBATÉ
a
passo
Vida
no
As casas raramente eram
de mais de um pavimento, as
paredes de vigas fracas ou
de vigas amarradas com cipó, barreadas e caiadas com
tabatinga, que era encontrada nas margens do Paraíba.
0 teto era de telhas ocas ou
ripas, raras vezes de palha
descuidadamente colocada,
e nas paredes abriam-se uma
. ou duas janelas de rótulas. O
interior era de material pobre; a porta de entrada —
geralmente meio ou inteiramente fechada com tranca —
dava logo na peça principal
da casa que, sem assoalho e
sem paredes caiadas, mais
parecia um paiol. Esse compartimento servia de sala de
estar e de visitas. Havia um
quarto contíguo para hóspedes, que ocupava o resto da
frente da casa. Na parte dos
fundos, o quarto das mulheres e do resto da família,
que, segundo o costume dos
portugueses, retiravam-se
para os comodos dos fundos
quando chegavam pessoas
estranhas. Dessas peças passava-se à varanda coberta
que em geral ocupava toda a
extensão da casa e dava para
0 quintal. Às vezes também
existia idêntica varanda na
frente da casa.
A cozinha e o rancho dos
criados, este quase sempre
um simples telheiro, achavam-se no fundo do quintal,
atrás da casa. O mobiliário
limitava-se ao estritamente
necessário, as mais das vezes
sendo constituído de alguns
bancos e cadeiras de pau,
uma mesa, uma grande arca,
uma cama com tabuado assentado sobre quatro paus
(giraus), coberta com esteiras ou com couro de boi. Em
vez de leitos, serviam-se os
moradores de redes tecidas
(maqueiras). Os viajantes
não encontravam poços e tinham de servir-se das águas
pluviais ou do rio.
Os habitantes de Taubaté
mostravam mais educação e
mais conforto do que os das
pequenas vilas, isso certamente devido às relações
comerciais com Rio e São
Paulo. Ali cultivavam a vinha, cujos bagos eram de sabor agradável.
As cinco ruas longi-
Vale
tudinais, estreitas, erammuito limpas e cortadas popvárias outras. Nos quintais
plantavam-se bananeiras.
Como na maioria das cff
dades, as casas ficavam fé.-'
chadas durante a semana, sô
sendo habitadas aos domiq-,
gos e em dia de festas. Em
contra vam-se em Taubatéoperários de várias pro-,
fissões, várias estalagens,,
muitas vendas, algumas tão
mal sortidas que seria impossível ao proprietário pagar impostos e viver de seu
lucro. Corria na vila que o
lucro desses homens vinha
dos ganhos auferidos dos
furtos praticados por seus
escravos. As estalagens serviam de prostíbulos. Entre
Lorena e Taubaté o peixe
era muito abundante e barato, fornecido pelo Paraíba,
vendendo-se fresco ou salgado.
À beira da estrada, pessoas de mais recursos construíam ranchos e tabernas,
que eram alugados às mais
pobres. Esses ranchos vendiam milho e aguardente aos
transeuntes.
JACARÉí
No dia seguinte, 22, D. Pedro chegou a Jacareí. Pará
essa caminhada, passava-se
por campinas verdes, alternadas por mato baixo,
através Vendas de Campo
Grande, Saída do Campo,
Paranangaba e a pequena
Vila de São José.
Pelo caminho, miséria —
Pirancangava, Japebaçu, Taboão, Caraguatá, Capãb
Grosso, Ramos. Mulheres de
cabeça descoberta e cabelos
em desordem. Como única
vestimenta, uma camisa de
algodão grosso, quase sempre rasgada ou suja. Os hopiens usavam camisa e calça
de algodão, com colete de lã;
as crianças, com camisas esfarrapadas, eram magras,
doentes, de cor terrosa. Havia à venda bananas, aguardente e fumo.
São José ficava a légua e
meia de Pirancangava, aldeiazinha de casas pequenas,
baixas e mal mantidas; igreja pequena, uma só torre,
pouco elevada. Nada mais.
Penha, enfim
Em Jacareí as pessoas
transpunham ,o Paraíba em
canoas e os animais a nado,
um deles amarrado à canoa
para que os demais se orientassem. O comércio era insignificante, os habitantes ribeirinhos, por falta de pontes, não podiam transportar
seus produtos. O principal
meio de escoamento da produção era entre a Aldeia da
Escada e Pindamonhangaba.
Jacareí era mais importante que São José e Pindamonhangaba, mas tinha poucos habitantes e muita miséria. Igreja construída de
taipa, grande, pouco ornamentada, sem caiação. Em
nenhum lugar do Brasil o
bócio era tão comum como
em Jacareí.
Os traços indígenas eram
muito mais pronunciados nos
habitantes de Jacareí do que
nos outros lugares, porque a
região ficava a considerável
distância de São Paulo e possuía comunicação indireta
com 0 Rio; por isso, os cruzamentos foram menos repetidos. Mostravam-se os habitantes alheios à mudança
de governo e eram contra o
restabelecimento do sistema
colonial porque, neste sistema, os portugueses seriam os
únicos compradores de seu
açúcar e café, a um preço
baixo.
Quando as autoridades
quiseram recrutar milicianos
para o Rio não conseguiram
nenhum, fugiram todos para
0 mato. À três léguas estava
a paróquia de Nossa Senhora
da Escada, antiga aldeia de
índios. A maioria das casas
cercava uma grande praça e,
pela pobreza, não se conseguia nem comprar aguardente nas vendas, embora a pinga ali fosse vulgar e de preço
baixíssimo.
Os habitantes eram um
pouco diferentes dos demais
da região: estatura alta, corpulenta, forte musculatura.
Cor da pele cobre-éscuro ou
pardo-café, rosto oval, maçãs
salientes, nariz largo e chato,
lábios grossos, olhos negros,
um tanto oblíquos. A cabeleira extremamente comprida, encrespada nas pontas, elevando-se “até pé e
meio de altura, quase a prumo, formando um topete gigantesco”. Às vezes era tamanha a cabeleira natural
que precisavam abaixar-se
para entrar e sair pela porta
da cabana e era tão emaranhada que nem se podia
pensar em desembaraçá-lá
com pente.
MOGI
No dia 23, pousou o Príncipe em Mogi das Cruzes,,
hóspede do capitão-mor.
Mello. Em Mogi, foi ao ent
contro de D. Pedro uma delegação da cidade de São
Paulo representando o govei^
no da Província e a Câmara
da Cidade de São Paulo. A
delegação, por representar
um governo deposto, não foirecebida pelo Príncipe. Aindà
em Mogi D. Pedro assinoú
decreto exonerando o marechal de campo José Arouche
de Toledo e Rendon do cargo
de governador das Armas e
nomeando para substituí-ló
o marechal Cândido Xavier'
de Almeida Souza, por recó-'
nhecer como sua “mais essencial qualidade o amor à causa
brasílica”
Os arredores de Mogi tinham alguma lavoura mas
evidenciava-se sensível a fab
ta de braços, causada pela
partida das milícias para o^
Sul. Os carmelitas ali tinham
uma fazenda, chamada Sa-'
bauna. Os habitantes eram
pobres e as terras pouco fer: '
teis sendo o algodão o único produto que exportavam/
A vila era afamada pelas es-'
teiras e cestos que se faziam
em seus arredores. Não tíT
nham os moradores tropa's
de burros; essas eram alugadas aos tropeiros profissio;
nais. Um dos recursos da zona era o comércio de cavalo$
e burros.
Logo depois de Mogi, brejos cobertos de erva espessa;
depois reiniciavam as matas
e os brejos reapareceriamj
pântanos perigosos. Os ne^'
gros teciam,com “barba de
bode”, chapéus, e os negrinhos levavam ao pescoçó
um grande copo de prata
preso a comprida corrente,
para apanhar água nos
riachos sem que o cavaleiro
precisasse apear.
No dia 24 de agosto, p,
décimo da jornada, passaranj
o Príncipe e a comitiva pelá,
povoação da Penha, prc:
parando-se para entrar ria.
Capital da Provincia e resta-;
belecer a ordem e a legalidá;
de. A Câmara Municipal reu;
niu-se extraordinariamente,
lavrando um termo de recepção à Sua Alteza Real.