o PDF - Apabex

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o PDF - Apabex
DOMINGO
18 DE FEVEREIRO DE 2007
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➤ APABEX
Fundação mantida pelos funcionários do Banespa mantém moradia para 25 deficientes idosos em Vinhedo, em área de 119 mil m²
Aqui mora a solidariedade
ARIADNE GATTOLINI
olidariedade, Fraternidade. Respeito. O que
parece impossível de
se encontrar na sociedade
atual são vitais neste amplo
espaço de moradia na sede
da Apabex (Associação de
Pais Banespianos de Excepcionais), em Vinhedo. No
convívio, a tranqüilidade
das árvores, a beleza do jardim e a hospitalidade inata
dos deficientes mentais são
evidentes. São 25 moradores - a maioria na terceira
idade. Todos querem ciceronear a equipe de reportagem do Jornal de Jundiaí e
mostrar suas habilidades,
como dobrar as camisas, organizar um armário, arrumar as bonecas ou tocar um
violão.
Inaugurada há 22 anos,
a Apabex começou a sentir
o envelhecimento de sua população e a preocupação
crescente com a morte de
seus cuidadores naturais, o
que culminou com a inauguração da sede de Vinhedo
em 1992.
Além dos idosos, a Apabex abriga deficientes que
não têm condições de ficar
sozinho ou permanecer em
família. Eles são distribuídos em quatro amplas residências, de acordo com seu
grau de dependência.
Em uma delas, os mais
S
velhos nos mostram a rotina da casa, que funciona como uma comunidade. Para
o seu bom andamento, todos colaboram na limpeza,
na faxina, na organização
do café da manhã. São monitorados 24 horas por dia.
E ainda realizam atividades
diárias de lazer ou de oficina de ocupação.
Sílvia Silva, de 57 anos,
está fazendo as unhas. Ela
logo nos avisa que está ali
porque seu pai já faleceu.
Uma vez por mês, visita a casa do irmão e passa o final
de semana com a sua família. Em seu quarto, todo decorado com bonecas, ela
nos fala dos passeios de finais de semana, juntamente com os demais moradores. “Gosto de ver vitrines,
de lanchar no McDonald’s,
comprar camiseta nova.”
Todos querem nos mostrar seu “cantinho”. Esta individualização do espaço é
fundamental para a convivência. Paulo Nomura, de
70 anos, logo pega seu violão, com apenas quatro cordas. Nos mostra como sabe
dobrar uma camiseta e organizar seu armário. De repente, um amigo inesperado.
Tim, um macaquinho de pelúcia. Nomura ri. E explica
que é seu companheiro. No
outro quarto, Renato Bergamin põe uma medalha no
pescoço e fala de suas preferências musicais: rock, Lati-
no e Fábio Jr. O gosto eclético nos revela o lado hospitaleiro de todos.
Em outra residência, encontramos os deficientes
mais comprometidos, que
precisam de cuidados permanentes. Eles estão na sala, assistindo TV e precisam
de apoio constante para tomar banho, para se alimentar e realizar atividades fora da sede, como passeios
ou natação.
Todos estão sob atendimento médico e odontológico. Os monitores são os responsáveis pela administração de remédios. Urgências
são encaminhadas para o
hospital de Vinhedo. O custo de cada interno não é barato. Fica em R$ 4 mil por
mês, mantidos pelos 15 mil
funcionários do Banespa,
que doam 0,2% de seus salários.
Em um outro galpão,
funcionam as oficinas de
ocupação. A Apabex recebe
14 adolescentes no Programa Espaço de Convivência,
que passam o dia na entidade, realizando atividades e
participando das diversas
oficinas, que inclui cartonagem, cozinha e cabeleireiro.
A terapeuta ocupacional, Léa Tchian, explica o
trabalho realizado na cartonagem: “Alguns só têm a capacidade de cortar os papéis. E conseguem contar a
quantidade através do uso
de uma régua própria. Depois, perfuram os papéis.
Outros, já conhecem a padronização dos desenhos e
confeccionam capas para
agendas, cadernos e bloquinhos.”
Na entrada, os adolescentes nos convidam para experimentar uma torta de sardinha que acabaram de fazer. E avisam, sem cerimônia a fotógrafa do JJ, que fazem a pose desejada por um
mero por favor. Para o futuro, a Apabex pretende realizar uma oficina de pães, para consumo interno.
A psicóloga Ana Cristina
Magalhães de Moraes explica que cada casa tem um
funcionamento próprio.
“Tentamos respeitar o ritmo de cada um. Por exemplo, eles dormem a hora
que querem e escolhem as
atividades que desejam realizar.”
O atendimento inclui a
família. “Muitas sentem culpa de não conseguir mais
cuidar de seus irmãos ou filhos”, afirma Ana Cristina.
“Tentamos dar apoio para
que este acolhimento seja
bilateral, explicando a vantagem de se adquirir independência, com um novo
projeto de vida.” Mais tarde,
os próprios atendidos não
querem mais sair da rotina
e da paisagem que os acolhem.
FOTOS: CRISTINA HAUTZ
PAULO NOMURA, de 70 anos, mostra seu violão de quatro cordas e fala de seus talentos
CARINHO Alguns moradores necessitam de cuidados especiais permanentes
➤ FRATERNIDADE
➤ SEM ATENDIMENTO NA TERCEIRA IDADE
Fotos, só com os amigos
Jundiaí não discute questão
Mário é o jardineiro de
uma ampla área em Vinhedo. Ele é morador e divide
sua casa, caprichosamente
arrumada, com Gracinha,
outra moradora, que trabalha como lavadora de pratos na cozinha.
Quando pedimos uma
foto para Mário, ele disse
que gostaria de tirá-la com
seus amigos, que ele gosta
muito....
Ele trabalha o dia inteiro no jardim - e recebe salário por isto. O gerente administrativo da Apabex (Associação de Pais Banespianos de Excepcionais), em Vinhedo. José Augusto Furio
de Barros, pede que ele nos
mostre sua casa.
Mário disse que não pode. Que agora era hora de
trabalho. E, além do mais,
estava com a bota suja,
que não ia entrar em casa
assim.
Gracinha também não
quis largar seu trabalho para nos mostrar a residência. Simpática, com sorriso
sempre aberto, conversa
entre as pilhas de louça
que já lavou.
“Adoro trabalhar. No final de semana é chato porque não tenho louça para
lavar nem para secar”, revela a workaholic assumida,
Gracinha aproveita os finais de semana em visitas
ao shopping, onde gosta de
passear e ir ao cinema. Diz
que se dá muito bem com
Mário. “Tínhamos outra
amiga lá, mas ela brigava
muito com a gente.” Na casa, não há discordância em
nada. “A gente assiste o
que quer na TV. E deixa tudo arrumado.”
A equipe de reportagem
entrou na residência sem a
companhia de Mario e Gracinha. Organizadíssima,
com toalhinhas sob o telefone e cozinha limpíssima,
a casa mostra uma parceria que deu certo. Eles não
formam um casal, mas encontraram na amizade
uma forma de convivência
tranqüila e segura.
Este casal, mais independente, tem autonomia respeitada e conta com um telefone de emergência instalado em sua residência para eventuais problemas.
“Respeitamos suas preferências na hora de conviver com os amigos”, afirma José Augusto. O vínculo entre os amigos é fundamental para a manutenção de uma boa convivência.
O envelhecimento da população com deficiência mental
ou Síndrome de Down é uma
novidade na sociedade. Novas
tecnologias médicas, programas de estimulação motora e
intelectual ampliaram a expectativa de vida. De um lado,
uma conquista. De outro, a
preocupação.
Na Apae de Jundiaí, 17 atendidos já têm mais de 40 anos.
Eles freqüentam o Centro de
Treinamento Profissionalizante, mas o futuro já preocupa a
entidade. “Pretendemos iniciar um estudo para o projeto
de moradia ou creche para a
terceira idade. Mas, sem parcerias não conseguiremos mantê-lo financeiramente”, afirma
Sueli Angelotti, diretora técnica da entidade.
O presidente do Conselho
Municipal do Idoso, Marcelo
Balsan, afirmou que como o assunto é novo, não foi debatido
ainda no âmbito municipal.
“Pretendemos lançar um alerta nas reuniões do Conselho
para levarmos estes problemas.”
A coordenadora de projetos
especiais da Semis (Secretaria
Municipal de Integração Social), Célia Marques, afirmou
que a entidade pretende rever
a forma de financiamento dos
asilos filantrópicos na cidade,
em uma tentativa de se ampliar o número de vagas. “Nos- MARCELO BALSAN diz que assunto
sa população de rua também não foi debatido
está envelhecendo e isto é um
problema que teremos de en- guel, afirma que até agora a
Saúde não se preocupou com
frentar.”
Em relação aos deficientes a deficiência na terceira idade.
mentais idosos, Célia afirma “Mas é uma discussão que preque é uma questão mais liga- cisamos encampar”. A Saúde
Mental oferece atendimento
da à Saúde.
A coordenadora de Saúde somente a quem tem transtorMental da prefeitura, Leila Mi- no mental.