Lábio duplo: cirurgia antes ou depois do
Transcrição
Lábio duplo: cirurgia antes ou depois do
CONTROVÉRSIAS Lábio duplo: cirurgia antes ou depois do tratamento ortodôntico? Alberto CONSOLARO* Alexandre Vieira FERNANDES** A estética representa a harmonia entre forma, tamanho, cor e consistência das estruturas. Não parece razoável que cuidemos dos dentes isoladamente. Na maioria dos casos clínicos publicados, a maravilhosa recuperação estética dos dentes se harmoniza com a forma, cor, volume, contornos e integridade estrutural dos lábios6,7. Infelizmente, em alguns casos clínicos publicados ou apresentados, a reabilitação estética e funcional dos dentes não se harmoniza com o lábio duplo, a queilite actínica, hiperqueratose e outras afecções nos lábios inferiores e superiores7. Em casos de cirurgias corretivas nos lábios, como em casos de lábio duplo superior, elas devem ser feitas antes ou após o tratamento ortodôntico ser finalizado? Os lábios são revestidos internamente pela mucosa bucal, e externamente pela epiderme. Entre a pele e a mucosa bucal, o vermelhão do lábio tem revestimento epitelial típico, conhecido como semimucosa. Ela se apresenta discretamente queratinizada, homogênea e transparente, com aparência atraente e sedutora. Os tecidos labiais podem representar uma das formas de boa apresentação e impressão no mundo do relacionamento humano. Um exemplo está na quantidade de personalidades cuja identificação visual são os lábios: Angelina Jolie, Kim Basinger, Gal Gosta, Karina Bacchi, Juliana Paes, Daniela Cicarelli, Julia Roberts e muitas outras6. A separação entre a mucosa bucal e a semimucosa do vermelhão labial é determinada por uma tênue linha, quase imperceptível, também conhecida como junção seco-molhada. A mucosa interna não é visível externamente durante o sorriso e a fala. Entre a pele e semimucosa, há uma linha demarcatória bem definida, muitas vezes até elevada e festonada, delimitando claramente os limites externos da boca. Nos desenhos e pinturas, a forma da boca é determinada por essa linha muito explorada pelo mundo publicitário. A semimucosa labial deve ser rósea avermelhada, sedosa, levemente aveludada e entrecortada por discretas linhas no sentido anteroposterior. Nos lábios inferiores, os aspectos do vermelhão labial inferior podem ser modificados se o tecido conjuntivo subjacente sofrer alterações como o enrijecimento e alterações do colágeno induzidas pela exposição excessiva ao sol sem a devida proteção ou por traumatismos constantes7. Nos lábios superiores, uma das principais alterações estéticas está relacionada com o volume dos tecidos imediatamente inferiores à mucosa labial interna, logo atrás da junção seco-molhada: o lábio duplo. O volume aumentado dos tecidos promove uma dobradura na mucosa labial interna, de tal forma que ao sorrir, ou mesmo durante a fala, aparentemente se forma um segundo e rudimentar lábio superior. O CONCEITO DE LÁBIO DUPLO O lábio duplo superior representa uma dobra da mucosa labial interna que, ao sorrir, promove um aspecto redundante (Fig. 1). Isso ocorre por um aumento do número de glândulas salivares menores mucosas labiais ou de sua localização mais superficial (Fig. 2). O peso desse tecido aumentado ou superficialmente localizado não se mantém em função da delicadeza e resiliência da mucosa labial interna, daí a sua dobradura. O sorrir contrai os músculos labiais, especialmente o orbicular, e comprime os tecidos labiais contra os dentes anteriores superiores, não sendo por isso evidente quando a boca está fechada12. Não há dados sobre a frequência do lábio duplo, mas ainda assim é citado como incomum, apesar dos frequentes casos na clínica odontológica acometendo todas as etnias e ambos os sexos16, muito embora haja relatos de prevalência maior nos homens17,22. Muito raramente, o lábio duplo pode ser inferior8,20. * Professor Titular da FOB-USP e Professor de Pós-Graduação na FORP-USP. ** Mestre em Estomatologia e Doutor em Cirurgia Bucomaxilofacial pela UNESP-Araçatuba. Rev Clín Ortod Dental Press. 2011 abr-maio;10(2):105-9 105 Lábio duplo: cirurgia antes ou depois do tratamento ortodôntico? CONTROVÉRSIAS OS ASPECTOS CLÍNICOS E NO QUE CONSISTE O LÁBIO DUPLO O MECANISMO EMBRIONÁRIO DE FORMAÇÃO DO LÁBIO DUPLO A forma mais comum do lábio duplo superior são duas massas de tecido hiperplásico, uma em cada lado da linha média20, separadas pela inserção do frênulo labial12. Em muitos casos, porém, não há separação do lábio duplo na linha média (Fig. 1), assumindo o aspecto de semimucosa labial duplicada. O lábio duplo representa uma anomalia redundante constituída por um aumento das glândulas salivares mucosas, muitas vezes citado como tecido hiperplásico ou hipertrófico4,9,12,16. As reações teciduais hiperplásicas e as hipertróficas existem como uma resposta a uma demanda funcional aumentada, o que não é o caso. O lábio duplo representa um aumento do tecido glandular salivar mucoso por um distúrbio do desenvolvimento durante a organogênese. Ainda há outras duas possibilidades etiopatogênicas para explicar o lábio duplo. O tecido glandular salivar mucoso do lábio duplo pode não estar aumentado, mas localizado superficialmente (Fig. 2), constituindo um defeito na migração, e não na quantidade, das células responsáveis pela sua origem. Por outro lado, o lábio duplo pode ser resultado de um aumento redundante dos tecidos labiais, sem que necessariamente o componente glandular esteja aumentado9,11,14,16. O lábio duplo caracteriza-se como uma alteração congênita, ou seja, que está presente no nascimento 1,12. Na criança, o lábio duplo se manifesta clinicamente com o surgimento dos dentes superiores anteriores, que apoiam os tecidos labiais no falar, sorrir e mastigar. A pressão dos tecidos labiais aumentados nos dentes anteriores, ao sorrir, promove a dobradura com aspecto de duplicidade tecidual. O mecanismo do lábio duplo, na sua forma congênita, tem origem durante o segundo ou terceiro mês de gestação, por persistência de um sulco entre a parte glabrosa e a parte vilosa do lábio. Durante o desenvolvimento, a mucosa labial superior tem duas zonas transversais: uma superior lisa, igual à pele, ou Pars Glabrosa, para dar origem à semimucosa labial; e outra mais interna, para dar origem à mucosa labial interna, ou Pars Villosa11,16,21. Uma linha demarcatória entre essas duas partes dará origem à junção seco-molhada que separa sutilmente a semimucosa labial da mucosa labial interna. No entanto, um sulco exagerado pode se formar nessa linha e dividir o lábio superior ainda na vida embrionária, assumindo uma duplicidade aparente, pelo fato da parte vilosa ou mucosa interna ficar aumentada. A formação desse sulco, ou a falta de seu nivelamento durante a vida embrionária, pode explicar a localização superficial das glândulas salivares mucosas menores, mas não explica por que esse componente tecidual estaria aumentado. Estudos comparativos entre pessoas com ou sem lábio duplo não foram realizados para se comparar se realmente esses tecidos estão com volume ou número maior, ou se as glândulas estão apenas mais superficialmente localizadas. Figura 1 Mulher, 20 anos de idade, com lábio duplo comprometendo a estética do sorriso. Destaca-se a dobradura da mucosa labial interna (setas) quando contrai-se o músculo orbicular durante o sorriso, pressionando o lábio contra os dentes anteriores superiores e estruturas alveolares. 106 Rev Clín Ortod Dental Press. 2011 abr-maio;10(2):105-9 O LÁBIO DUPLO ADQUIRIDO Na história de alguns lábios duplos, o aparecimento aparentemente se deu na fase adulta. Alguns casos são considerados adquiridos, como resultado de traumatismos acidentais1,14,18 ou de traumatismos constantes, como morder e succionar constantemente os tecidos labiais por entre os dentes9,16. Nos casos associados ao traumatismo Consolaro A, Fernandes AV acidental ou parafuncional, o aumento volumétrico não é simétrico e a consistência dos tecidos labiais é mais firme, em decorrência do maior fibrosamento presente na submucosa. No entanto, morder os tecidos do lábio duplo durante a mastigação, a fala e mesmo como hábito parafuncional pode ser consequência da sua presença, e não a sua causa. Na maioria dos casos de lábios duplos, a principal queixa do paciente está relacionada com a estética, pois esse não atrapalha nem a fala, nem a mastigação ou deglutição. O LÁBIO DUPLO COMO PARTE DA TRÍADE CONHECIDA COMO SÍNDROME DE ASCHER ou necessário para esse diagnóstico, presente entre 10 e 50% dos casos1. Outros aumentos volumétricos do lábio superior devem fazer parte do diagnóstico diferencial13, como o edema angioneurótico e a queilite glandular. Há relatos de associação do lábio duplo com outros distúrbios do desenvolvimento, como a úvula bífida e a fissura palatina12, mas provavelmente são achados coincidentes. No caso clínico apresentado como exemplo de lábio duplo, não houve qualquer sinal da tríade além do lábio duplo, assim como nenhuma alteração sistêmica, bem como não foi detectado nenhum hábito parafuncional. O lábio duplo pode fazer parte de uma tríade conhecida como síndrome de Ascher2, composta ainda da blefarocálase (pele palpebral flácida e aumentada) e aumento não tóxico da tireoide4,5. Essa associação com a blefarocálase foi descrita em 1909 por Laffer2,4, mas foi o oftalmologista Ascher2, em Praga, que a descreveu como uma síndrome11, mas sem aumento da tireoide, que parece não ser um sinal consistente TRATAMENTO DO LÁBIO DUPLO A B C Figura 2 A) A incisão revela o exuberante tecido glandular salivar mucoso imediatamente abaixo da mucosa bucal. B) A peça cirúrgica revela as glândulas salivares menores mucosas como formações lobulares múltiplas. C) Após 45 dias, nota-se a marca da incisão na parte interna da mucosa labial. A mucosa labial revela-se normal ao microscópio e os espécimes removidos cirurgicamente revelam grande quantidade de glândulas salivares menores mucosas e nenhuma evidência de tecido conjuntivo fibroso aumentado ou de tecido muscular como parte da massa tecidual removida. Rev Clín Ortod Dental Press. 2011 abr-maio;10(2):105-9 107 Lábio duplo: cirurgia antes ou depois do tratamento ortodôntico? CONTROVÉRSIAS No caso clínico apresentado como exemplo de lábio duplo, assim se apresentaram os cortes microscópicos dos espécimes examinados. Os constituintes acinares e tubulares das glândulas salivares que faziam parte do lábio duplo eram normais e livres de infiltração leucocitária inflamatória, atrofias acinares, fibrosamento intersticial ou obliteração ductal. Não há relatos de neoplasias benignas ou malignas originárias das glândulas salivares do lábio duplo. As neoplasias benignas e malignas das glândulas salivares, quando ocorrem nos lábios superiores, geralmente promovem aumentos volumétricos unilaterais e assimétricos, assim como não promovem dobraduras na mucosa labial. O lábio duplo requer cirurgia para correção3,15,19, quase sempre estética, porém, eventualmente em alguns casos, atrapalha a mastigação ou leva a hábitos parafuncionais. Várias técnicas cirúrgicas são descritas e, no caso relatado, foi feita uma excisão elíptica transversa (Fig. 2). A cirurgia não envolve os músculos subjacentes10,12. Ao incisar a mucosa labial em local distante, mas paralelamente à junção seco-molhada, o cirurgião tem acesso a esse abundante tecido glandular na forma de pequenas nodulações múltiplas, que correspondem às inúmeras glândulas salivares menores, predominantemente mucosas (Fig. 2A, B). O sinal da incisão, após o reparo tecidual, ficará internamente protegido (Fig. 2C) e, mesmo durante o sorriso, por mais exuberante que seja, não se revelará. O resultado clínico da cirurgia corretiva devolve a estética e alegria de sorrir ao paciente (Fig. 3). A B C D QUESTIONAMENTOS E PERSPECTIVAS SOBRE O LÁBIO DUPLO Apesar de ser comum, não se conhece a prevalência do lábio duplo em uma determinada população, assim como nenhuma análise sobre o perfil das pessoas acometidas, nem sobre o momento do aparecimento clínico do processo, forma e velocidade de crescimento e como o quadro evolui com a idade do paciente. As informações existentes decorrem de observações em relatos isolados de casos clínicos ou pequenas casuísticas, sem que haja uma revisão conjunta dos pacientes acometidos e descritos na literatura. Figura 3 A) Lábio duplo no momento do diagnóstico. B) Aspecto labial imediatamente após a cirurgia corretiva. C) Após 45 dias pós-operatórios. D) Após 3 meses da realização da cirurgia. 108 Rev Clín Ortod Dental Press. 2011 abr-maio;10(2):105-9 Consolaro A, Fernandes AV Outra observação importante na literatura está na ausência de evidências definitivas sobre as causas do lábio duplo: seria um distúrbio do desenvolvimento herdado dos pais como alteração transmitida com padrão autossômico dominante, conforme sugeriu Ali 1, em 2007? Teria um caráter familiar ou étnico? Ou se constituiria num erro focal de distribuição mais superficial das glândulas salivares menores durante as migrações celulares embrionárias, sem mutações genéticas adquiridas ou herdadas? Haveria, nos vários casos clínicos, fatores causais frequentes, como traumatismos locais tal como mordidas constantes, história de traumatismo severo anterior, associação com bruxismo e outros? Qual a real importância desses fatores epigenéticos? Uma das características marcantes da prática ortodôntica está na documentação padronizada dos casos clínicos antes, durante e depois de terminado o tratamento ortodôntico. O relato de casuísticas ortodônticas — indicando qual a prevalência do lábio duplo, as características dos pacientes e qual a evolução do processo ao longo do tempo e/ou quais foram as abordagens terapêuticas efetuadas — irá contribuir muito com o conhecimento do problema por parte dos clínicos e patologistas bucais, inclusive sobre suas causas. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. PACIENTES ORTODÔNTICOS: QUANDO CORRIGIR CIRURGICAMENTE O LÁBIO DUPLO? Quando se deve corrigir cirurgicamente o lábio duplo: antes ou depois do tratamento ortodôntico? Ao descrever um caso clínico de lábio duplo em um paciente ortodôntico, Daniels9, em 2010, recomendou que a cirurgia deve ser feita depois do tratamento ortodôntico finalizado, pois, no planejamento e no reparo dos tecidos moles, haverá uma adequação à arcada dentária definitiva. Se a cirurgia labial fosse feita antes do tratamento ortodôntico finalizado, poderia ser necessária uma segunda cirurgia para adequar a forma e a relação dos tecidos moles labiais com a nova forma da arcada e posições dentárias. Esse protocolo pode ser adotado em todos os pacientes? Ainda, o paciente com lábio duplo deve ser orientado de que alterações palpebrais e tireoidianas podem vir a ocorrer ao longo do tempo, ainda que isso ocorra raramente. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. Ali K. Ascher syndrome: a case report and review of the literature. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2007;10(2):e26-8. Ascher KW. Blepharochalasis mit Struma and Doppellippe. Klin Monatsbl Augenheilkd. 1920;65:85-9. Azenha MR, Marzola C, Pereira LC, Brandt Filho SHO. Lábio duplo de origem congênita: relato de caso e técnica cirúrgica. Rev Bras Odontol. 2007;64(3-4):152-4. Barnett ML, Bosshardt LL, Morgan AF. Double lip and double lip with blepharochalasis (Ascher’s syndrome). Oral Surg Oral Med Oral Pathol. 1972;34(5):727-33. Cohen DM, Green JG, Dieckmann SL. Concurrent anomalies: cheilitis glandularis and double lip. Report of a case. Oral Surg Oral Med Oral Pathol. 1988;66(3):397-9. Consolaro A. Hiperpigmentação melânica linear peribucal: contorno labial exuberante associado a contraceptivos e frutos cítricos. Rev Dental Press Estét. 2007;4(3):124-32. Consolaro A. Dentes e lábios: estética e função inseparáveis! Rev Dental Press Estét. 2005;2(3):130-3. Converse JM, Wood-Smith D, Macomber WB, Wang MKH. Reconstructive plastic surgery. 2nd ed. Saunders: Philadelphia; 1977. Daniels JSM. Congenital double upper lip: a case report and review of the literature. Saudi Dent J. 2010;22:101-6. Epker BN, Wolford LM. Reduction cheiloplasty: its role in the correction of dentofacial deformities. J Maxillofac Surg. 1977;5(2):134-41. Gorlin RJ, Pindborg JJ, Cohen MM. Syndromes of the head and neck. 2nd ed. New York: McGraw-Hill; 1976. p. 253-5. Goyal S, Godhi S, Goyal S. Non-syndromic congenital maxillary double lip: a rare case. J Oral Health Comm Dent. 2008;2(1):10-2. Hanemann JA, Oliveira DT, Gomes MF, dos Anjos MJ, Sant’Ana E. Congenital double lip associated to hemangiomas: report of a case. Med Oral. 2004;9(2):156-8, 155-6. Kara OC, Kara IG. Double lip. Int J Otorhinolaryngol. 2000;1(1):156-8. Lamter IB. Mucosal reduction for correction of a maxillary double lip. Oral Surg Oral Med Oral Pathol. 1983;55(5)457-8. Martins WD, Westphalen FH, Sandrin R, Campagnoli E. Congenital maxillary double upper lip: review of the literature and report of a case. J Can Dent Assoc. 2004 Jul-Aug;70(7):466-8. Palma MC, Taub DI. Recurrent double lip: literature review and report of a case. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2009 Mar;107(3):e20-e3. Epub 2009 jan 25. Patriarca C. Lábio duplo: sorriso duplo. Rev Assoc Paul Cir Dent. 2006;60(2):158-60. Peterson A. Electrosurgical correction of maxillary double lip. Den Dig 1972;78(4):182-8. Reddy KA, Rao AK. Congenital double lip: a review of seven cases. Plast Reconstr Surg. 1989;84(3):420-3. Rintala AE. Congenital double lip and Ascher syndrome: II. Relationship to the lower lip sinus syndrome. Br J Plast Surg 1981;34(1):31-4. Tah R, Sharma SN. Double upper lip. Indian J Past Surg. 1990;23(1):27-30. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Alberto Consolaro E-mail: [email protected] Rev Clín Ortod Dental Press. 2011 abr-maio;10(2):105-9 109