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HEBRAICO II INSTITUTO BÍBLICO PORTUGUÊS ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA EVANGÉLICA DISCIPLINA: HEBRAICO BÍBLICO II PROJECTO GO’EL E CASAMENTO LEVIRATO Maria Lucinda Tomás Ribeiro 1998/99 1 INTRODUÇÃO Este Trabalho é um Projecto para a discíplina de Hebraico II, leccionada pelo prof. Dr. Theron Young. Consiste num estudo acerca do remidor (go’el), especialmente no livro de Rute. Os pontos desenvolvidos respeitam a orientação dada pelo professor, tanto quanto à bibliografia, como quanto aos tópicos a desenvolver. As passagens bíblicas foram extraídas da versão revisada da tradução de Almeida. 2 A - CONCORDÂNCIA 1. Palavras portuguesas usadas na tradução do particípio go’el. De acordo com o Anexo 1 (ver final do trabalho), conclui-se que Go’el significa em português: Remidor Redentor Parente mais chegado que vai remir Vingador Vingador do sangue «A forma participial do qal do verbo tornou-se praticamente um substantivo com todos os seus atributos, ainda que possa correctamente ser considerada apenas uma forma do verbo. O sentido original desta raiz é o de cumprir o papel de resgatador, redimindo portanto seu parente da dificuldade do perigo. O termo é usado juntamente com os seus derivados 118 vezes. Uma diferença entre esta raiz e a raiz muito semelhante pãdâ, “redimir”, é que normalmente há uma ênfase em gã’al na redenção como privilégio ou muitos por “parente-resgatador” ou por “resgatador”, como faz a ARA. A raiz deve ser distinguida de gã’al II, “manchar, macular”.» 1 De acordo com outra fonte significa: “… resgatar, redimir, remir, salvar; libertar, livrar; reinvindicar, reclamar (para si); pt: resgatador, redentor, vingador…” 2 1 2 HARRIS, Dicionário Internacional de Teologia do Velho Testamento, p. 235 KIRST, Dicionário Hebraico-Português & Aramaico-Português, p. 36 3 2. Versículos de Rute que contêm o particípio go’el. (Para mais pormenor, ver Anexo 2) Rt 2 20 3 9 12 4 Esse homem é parente nosso, um dos nossos remidores… …estende a tua capa sobre a tua serva, porque tu és o remidor… …eu sou remidor, porém há ainda outro mais chegado do que eu… 1 …eis que o remidor de quem falara ia passando… 3 …Disse Boaz ao remidor… 6 Então disse o remidor… 8 Dizendo, pois, o remidor a Boaz… 14 …não te deixou hoje sem remidor… B - PESQUISA 1. Em termos de parentesco, quem pode/deve servir de go’el. Em termos de parentesco pode servir de Go’el: - Irmão do falecido marido, ou um parente próximo, de uma viúva sem filhos ou filhas (para as filhas, ver Nm 27:1-11); - Um parente próximo em outras situações de redenção; - A própria pessoa (este aspecto será referido no próximo ponto). “Dt 25:5-10 assevera que essa lei se aplica a irmãos que habitassem juntos, mas permite ao irmão vivo a opção de recusar-se. O livro de Rute demonstra que que tal costume se estendia para além do irmão do marido. Aqui um parente cujo nome não é dado, tinha o dever primário, e foi sòmente quando êle se recusou que Boaz pôde casar-se com Rute. “ 3 Põe-se, assim, a questão: o que significa um parente próximo? 3 WRIGHT e THOMPSON, Matrimónio: IV. A Lei do Levitato, p. 1016 4 “Há poucas passagens que tratam da ordem prioritária do parentesco. Os mais próximos eram os irmãos, depois os tios, depois os sobrinhos (Lv 25: 48s.).” 4 Esta situação é apenas para a redenção de um terreno. No caso do remidor para obtenção de um descendente (para tornar-se herdeiro), é apenas referido, na Bíblia, o cunhado de uma viúva, e não qualquer parente (exceptuando o livro de Rute). No caso do livro de Rute, ou consideramos este uma base bíblica para um parente próximo poder ser remidor de uma viúva sem filhos, ou então poderemos concluir que em relação a Noemi a remissão era apenas acerca do terreno, e que Boaz casou com Rute, mais por desejo próprio que por obrigação de lei ou tradição. 2. Em que situações foi aproveitada a ajuda do go’el? A função do go’el é relacionada na bíblia com várias situações: • Redenção de terras • Redenção de escravos • Vingador de sangue • Redenção de ofertas • Restituição pela culpa • Figurativamente, o Senhor como go’el Redenção de terras e outros bens: Se uma pessoa vendesse a casa ou um terreno para pagar uma dívida, existia o direito de redenção. Este consistia na compra posterior do bem vendido sendo devolvido ao dono original, com o fim de ser mantido na família. Em Levitico foi estabelecida essa lei, podendo ser remidor um parente próximo ou mesmo o antigo dono: “Também não se venderá a terra em perpetuidade, porque a terra é minha; pois vós estais comigo como estrangeiros e peregrinos: Portanto em toda a terra da vossa possessão concedereis que seja remida a terra. Se teu irmão empobrecer e vender uma parte da sua possessão, virá o seu parente mais chegado e remirá o que seu irmão vendeu. E se alguém não tiver remidor, mas ele mesmo tiver enriquecido e achado o que basta para o seu resgate, contará os anos desde a sua venda, e o que ficar do preço da venda restituirá ao homem a quem a vendeu, e tornará à sua possessão…” (Lv 25:23-27) 4 CUNDALL e MORRIS, Juízes e Rute: introdução e comentário, p. 267 5 Temos exemplos de remissão de terras em Jr 32:6-15 e Rt 2:20; 3:12; 4:4-6. Redenção de escravos: Se um israelita se vendesse a si mesmo como escravo a um estrangeiro, aplicar-se-ia também o direito de redenção. “Se um estrangeiro ou peregrino que estiver contigo se tornar rico, e teu irmão, que está com ele, empobrecer e vender-se ao estrangeiro ou peregrino que está contigo, ou à linhagem da família do estrangeiro, depois que se houver vendido, poderá ser remido; um de seus irmãos o poderá remir; ou seu tio, ou o filho de seu tio, ou qualquer parente chegado da sua família poderá remi-lo; ou, se ele se tiver tornado rico, poderá remir-se a si mesmo. E com aquele que o comprou fará a conta desde o ano em que se vendeu a ele até o ano do jubileu; e o preço da sua venda será conforme o número dos anos; conforme os dias de um jornaleiro estará com ele… (Lv 25:47-50)” Vingador do sangue: Em caso de assassínio, a morte deveria sem vingada por um go’el, o vingador de sangue. Este teria por missão matar o causador da referida morte sendo paga “vida por vida”. O vingador do sangue funcionava como um executor sem culpa. Este seria em primeiro lugar o filho do morto, ou se este não existisse, um parente próximo. Em II Sm 14:11 é descrito um exemplo possível. Relacionadas com esta situação foram criadas as cidades de refúgio (Nu 35:12,1927; Dt 19:6,12; Js 20:2,5,9). Redenção de Ofertas Em casos de ofertas votivas para com o Senhor, estas poderiam ser resgatadas ao dono original, mas sendo pago um preço acrescido de 20% (Lv 27:13, 15, 19, 31). Isto significa que o antigo dono poderia dar ao Senhor algo equivalente mas acrescentando mais valor. Neste caso o remidor era o próprio dono. Existiam, no entanto, situações em que a redenção não seria possível. Restituição pela culpa Em Numeros 5, o go’el recebe a compensação por um pecado como responsável na família. 6 “Disse mais o Senhor a Moisés: Dize aos filhos de Israel: Quando homem ou mulher pecar contra o seu próximo, transgredindo os mandamentos do Senhor, e tornando-se assim culpado, confessará o pecado que tiver cometido, e pela sua culpa fará plena restituição, e ainda lhe acrescentará a sua quinta parte; e a dará àquele contra quem se fez culpado. Mas, se esse homem não tiver parente chegado, a quem se possa fazer a restituição pela culpa, esta será feita ao Senhor, e será do sacerdote, além do carneiro da expiação com que se fizer expiação por ele.” (Nm 5:5-8) O Senhor como Go’el (Ver Anexo 3) Nos Salmos e Profetas, o Senhor é chamado de Remidor de Israel. Embora muitas vezes em situações sem esperança, Israel viu a ajuda contínua do seu “Redentor”. O Go’el é aqui Aquele que o liberta da opressão dos inimigos, e Aquele que socorre o oprimido e necessitado. Além desta perspectiva, o atributo de Go’el em relação ao Senhor surge muitas vezes como afirmação profética do Redentor esperado para salvação de Israel e daqueles que por Abraão se tornariam Povo do Senhor: a Igreja. 3. Significado e origem etimológica da palavra “Levirato”: O termo “Levirato” ou “Levitato” deriva do latim levir que significa “cunhado” ou “irmão do marido”. “O termo «levirato» deriva-se da palavra latina levir, «cunhado». O título aqui dado refere-se ao costume que havia entre os hebreus de que quando um israelita casado morria, sem deixar descendente do sexo masculino, seu parente mais próximo era obrigado a casar-se com a viúva, caso esse parente fosse solteiro, a fim de dar continuidade ao nome da família do falecido. O filho primogênito do novo casal tornava-se o herdeiro do primeiro marido de sua mãe.”5 5 CHAMPLIN e BENTES, Matrimónio Levirato, p. 181-182 7 “Esse nome se deriva do têrmo latino levir, que significa “irmão do marido”. Quando um homem casado morria sem filhos, esperava-se que seu irmão solteiro se casasse com a cunhada viúva. Os filhos dêsse segundo casamento eram reputados filhos do primeiro marido. Êsse costume se encontra entre outros povos além dos hebreus.”6 4. O “Casamento Levirato” e a sua presença na interpretação do livro de Rute. O papel potencial dos filhos gerados nesse casamento. Como já foi dito no ponto anterior, o “casamento levirato” consistia no casamento de uma viúva sem filhos com um seu cunhado com o objectivo de suscitar descendência ao seu falecido marido e assim perpectuar o nome e a herança da família. “Naturalmente, o propósito era preservar a herança em famílias e clãs específicos, o que era muito importante em civilizações agrárias. Um benefício secundário era de natureza social: a viúva teria alguém que cuidasse dela, e esse foi um factor importante no caso de Rute (ver Rute 1:11; 3:1 ss). Mas talvez a lei também tivesse em mira o propósito sentimental de preservar o nome do homem que morrera de modo tão lamentável a não deixar herdeiro homem.”7 “Esse costume é subentendido na história de Onã (Gn 38:8-10). Onã tomou a espôsa de seu irmão, mas recusou-se gerar filhos com ela, visto que não queria dar descendência a seu irmão (vers. 9) e seus próprios filhos não teriam a herança primária. Esse versículo, todavia, não se pronuncia sobre o controlo de nascimento como tal. D 25:5-10 assevera que esse lei se aplica a irmãos que habitassem juntos, mas permite ao irmão vivo a opção de recusar-se.”8 No caso do livro de Rute, existem dois tipos de redenção possíveis: da terra e casamento levirato. Noemi e Rute eram ambas viúvas, no entanto sabemos pelo texto bíblico que Noemi era idosa demais para ter filhos, logo no que diz respeito ao casamento levirato, a 6 7 8 WRIGHT e THOMPSON, Matrimónio: IV. A Lei do Levitato, p. 1016 CHAPLIN e BENTES, Enciclopédia de Bíblia teologia e Filosofia, p. 182 WRIGHT e THOMPSON, Matrimónio: IV. A lei do levitato, p. 1016 8 hipótese põe-se apenas com Rute. Noemi já havia tido os seus filhos, ou seja, a sua descendência, mas por razões que ignoramos ambos os filhos morreram antes dela. Quanto a Rute, esta era uma viúva jovem que perdera o marido antes de ter concebido filhos. Desta forma, no que diz respeito a Rute podemos encontrar a possibilidade de um casamento levirato. No entanto, visto que o irmão de seu marido morrera também, não poderia casar com um cunhado. Logo não poderia existir um “casamento levirato” da forma como a lei de Moisés o ordenara. É neste contexto que surge únicamente no livro de Rute um go’el que não é irmão do marido para perpectuar descendência. Assim, são referidos especificamente dois possíveis remidores: um parente próximo cujo nome desconhecemos e Boaz. Noemi, referindo-se a Boaz, diz: “Esse homem é parente nosso, um dos nossos remidores” (Rt 2:20), ou, numa tradução mais literal, “este homem está mais próximo a nós que o nosso parente”. Uma ideia possivel transmitida por este versículo seria que Boaz, apesar de, em termos de parentesco, fosse menos chegado que o outro parente, devido às circunstâncias favoráveis que se tinham desenrolado, tornara-se mais próximo (no aspecto físico e não de parentesco) delas. A ideia de casamento com um objectivo de redenção no livro de Rute inclui, assim, três pessoas (se exceptuarmos Noemi): Rute, Boaz e o parente próximo. Associado a este tipo de redenção podemos aperceber-nos de algo semelhante a um ritual. “Lava-te pois, unge-te, veste os teus melhores vestidos, e desce à eira; porém não te dês a conhecer ao homem, até que tenha acabado de comer e beber. E quando ele se deitar, notarás o lugar em que se deita; então entrarás, descobrir-lheás os pés e te deitarás, e ele te dirá o que deves fazer.” (Rt 3:3-4) “E perguntou ele: Quem és tu? Ao que ela respondeu: Sou Rute, tua serva; estende a tua capa sobre a tua serva, porque tu és o remidor.” (Rt 3:9) Rute é orientada por Noemi acerca de como incentivar Boaz a agir concretizando a sua situação de go’el. Aparentemente o descobrir o pés teria algum significado sobre o qual qpenas poderemos especular. Talvez fosse um sinal de humildade ou um convite a algo mais íntimo. De qualquer forma, claramente o “estender da capa” era associado de alguma forma à remissão através de casamento, uma vez que é estabelecida uma relação causal: “estende a tua capa… porque tu és o remidor”. Figurativamente Ezequiel descreveu uma situação semelhante entre o Senhor e Israel: 9 “Então, passando eu por ti, vi-te, e eis que o teu tempo era tempo de amores; e estendi sobre ti a minha aba, e cobri a tua nudez; e dei-te juramento, e entrei num pacto contigo, diz o Senhor Deus, e tu ficaste sendo minha.” (EZ 16:8) Após a acção de Rute, Boaz compreendeu imediatamente que ela desejava casamento. A ideia de redenção e casamento estão ligadas. Podemos perceber que falavam a mesma “linguagem”, bastando poucas palavras para que as intenções de cada um fossem expressas. “Ora, é bem verdade que eu sou remidor, porém há ainda outro mais chegado do que eu. Fica-te aqui esta noite, e será que pela manhã, se ele cumprir para contigo os deveres de remidor, que o faça; mas se não os quiser cumprir, então eu o farei tão certamente como vive o Senhor; deita-te até pela manhã.” (Rt 3:12-13) Devido a tudo o que acabámos de descrever, é possível que a lei acerca do “casamento levirato” tenha sido alargada pela tradição a parentes além dos cunhados. De qualquer modo, quer chamemos ou não “casamento levirato, existe, sem dúvida, uma situação de redenção por casamento. Boaz achou-se na obrigação de redimir Rute, embora isso lhe seja algo agradável. Paralelamente ao casamento, é referida a venda de um campo de Noemi, também em associação com a redenção. Sobre esta questão falaremos no ponto seguinte. Vejamos somente o que sucedeu quando Boaz encontrou o outro parente: “Disse Boaz ao remidor: Noêmi, que voltou da terra dos moabitas, vendeu a parte da terra que pertencia a Elimeleque; nosso irmão. Resolvi informar-te disto, e dizer-te: Compra-a na presença dos que estão sentados aqui, na presença dos anciãos do meu povo; se hás de redimi-la, redime-a, e se não, declaramo, para que o saiba, pois outro não há, senão tu, que a redima, e eu depois de ti. Então disse ele: Eu a redimirei. Disse, porém, Boaz: No dia em que comprares o campo da mão de Noêmi, também tomarás a Rute, a moabita, que foi mulher do falecido, para suscitar o nome dele na sua herança. Então disse o remidor: Não poderei redimi-lo para mim, para que não prejudique a minha própria herança; toma para ti o meu direito de remissão, porque eu não o posso fazer. Outrora em Israel, para confirmar qualquer negócio relativo à remissão e à permuta, o homem descalçava o sapato e o dava ao seu próximo; e isto era por testemunho em 10 Israel. Dizendo, pois, o remidor a Boaz: Compra-a para ti, descalçou o sapato.” (Rt 4:38) Boaz, toma a iniciativa de falar ao parente acerca da redenção do campo de Noemi, tendo sido aceite. No entanto, Boaz como que para dissuadi-lo, chama a atenção para o facto de ser necessário casar com Rute para que fosse suscitada descendência ao seu falecido marido. Isto, imediatamente, faz recuar o outro. Alegremente, Boaz diz: “Então Boaz disse aos anciãos e a todo o povo: Sois hoje testemunhas de que comprei tudo quanto foi de Elimeleque, e de Quiliom, e de Malom, da mão de Noêmi, e de que também tomei por mulher a Rute, a moabita, que foi mulher de Malom, para suscitar o nome do falecido na sua herança, para que a nome dele não seja desarraigado dentre seus irmãos e da porta do seu lugar; disto sois hoje testemunhas.” (Rt 4:9-10) Foi assim resolvida a questão da descendência do marido de Rute e simultâneamente a compra dos bens de Noemi. Curiosamente, ao ser resolvida a situação da descendência do filho de Noemi, foi dada continuidade à descendência desta. O filho que nasceu de Boaz e Rute, Obede, foi também descendente de Elimeleque (filho de Rute, neto de Noemi). Os filhos deste tipo de casamentos seriam os herdeiros da família do falecido marido. No caso que estamos a estudar, Obede herdaria tudo que pertencia à família de Elimeleque e tudo que pertencia a Boaz, uma vez que não consta que existisse outro descendente de Boaz. 5. Relação entre a venda do terreno e a função do go’el; como o casamento entrou na questão da venda: Devido a dificuldades económicas Noemi, tem necessidade de vender a sua terra. No livro de Rute ficamos com a ideia que o remidor tinha obrigação moral de comprar o terreno, embora o acto de redimir seja posterior, quando se dá a devolução ao primeiro dono. 11 “Toda a terra pertence a Deus. Eles apenas retinham em confiança, como depositários ou mordomos. Assim, não podiam vendê-la. Se houvesse crise, e o dinheiro faltasse, poderiam na verdade, desfazer-se da terra, mas, havia sempre o direito e o dever da redenção. Quando a situação financeira de um homem melhorava, ele deveria comprar de volta a terra em que Deus o colocara. Se ele não pudesse fazer isto, seu go’el deveria fazê-lo, em seu lugar.”9 O go’el, sendo um parente próximo deveria auxiliar a familiar necessitada. Quando Rute chamou a Boaz de remidor, este compreendeu imediatamente que se referia a casamento e à compra de terra, uma vez que Rute não falou no campo de Noemi. Era portanto algo natural para ambos: a remissão só seria completa se casasse com Rute e comprasse o campo de Noemi. Por isso Boaz, ao encontrar-se com o outro remidor, referiu os dois aspectos juntos. O outro parente também reagiu com naturalidade perante o facto de serem necessárias as duas remissões juntas. O casamento entrou na questão da venda devido ao facto da função do go’el ter sempre um objectivo familiar: resolver um problema de um parente, quer seja financeiro ou de descendência. Os problemas que existiam na família do falecido Elimeleque eram dois: não existia um herdeiro para Rute e Noemi estava com dificuldades económicas. Era assim necessário agir simultaneamente nas duas áreas para que o go’el cumprisse totalmente o seu papel. Boaz foi o remidor perfeito. Não só remiu a Noemi e Rute quanto ao campo e ao casamento, como assim que tomou conhecimento de que Rute era nora de Noemi lhe deixou apalhar comida no seu campo. Assim que se apercebeu que existia uma ligação familiar procurou ajudar na subsistência das duas mulheres. Em Levítico existia uma ordenança para situações assim: “Também, se teu irmão empobrecer ao teu lado, e lhe enfraquecerem as mãos, sustentá-lo-ás; como estrangeiro e peregrino viverá contigo. Não tomarás dele juros nem ganho, mas temerás o teu Deus, para que teu irmão viva contigo.” (Lv 25:35-36) 9 CUNDALL e MORRIS, Juízes e Rute: introdução e comentário, p. 266, 267 12 Boaz agiu sempre com intenção de auxiliar desinteressadamente, por isso se admirou por Rute o ter escolhido para casar e não um homem mais jovem. Considera-se, assim a sua actuação digna de admiração. 13 BIBLIOGRAFIA A Bíblia Sagrada, Versão revisada da tradução de João Ferreira de Almeida, Imprensa Bíblica Brasileira, 1974 Bush, Frederic “Ruth/Esther: Word Biblical Commentary” [Dallas, TX: Word Books, Publisher] 1996 Champlin, Russel Norman e Pr João Marques Bentes “Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia”, Vol 4 [São Paulo: Editora Candeia] 1991 Cundall, Arthur E. e Leon Morris “Juízes e Rute: introdução e comentário.” (Série Cultura Bíblica) [São Paulo: Edições Vida Nova] 1986 Harris, R. Laird “Dicionário Internacional de Teologia do Velho Testamento, edd. [São Paulo: Edições Vida Nova] 1998 Kirst, Nelson, et al. “Dicionário Hebraico-Português & Aramaico-Português” [São Leopoldo: Sinodal/Vozes] 1994 Mandelkern, Solomon “Concordance to the Holy Scriptures [Lipsiae: Veéit et Comp.] 1896 Ringgren, Helmer Theological Sictionary of the Old Testament, Vol II, edd. [Grand Rapids, Ml:Wm. B. Eerdmans] 1975. Wright, J. e J. A Thompson “O Novo Dicionário da Bíblia, Vol II [São Paulo: Edições Vida Nova] 1979 14 ANEXO 1 Go’el na Bíblia (Baseado na “Englishman’s Hebrew-Chaldee Concordance”) Capítulo Vers Qal Particípio Activo: Gn 48 16 … que me tem livrado de todo o mal. Lv 25 25 … virá o seu parente mais chegado e remirá… 26 E se alguém não tiver remidor… Nm 5 8 35 12 …por refúgio do vingador… 19 …o vingador do sangue… 21 …o vingador do sangue… 24 …entre aquele que feriu e o vingador do sangue… 25 … da mão do vingador do sangue… 27 … e o vingador do sangue o achará… Dt 19 6 12 Js 20 …para que o vingador do sangue não persiga o homicida… …o entregarão, nas mãos do vingador do sangue… 3 … refúgio contra o vingador do sangue… 5 …o vingador do sangue o perseguir… 9 …para que não morresse às mãos do vingador do sangue… Rt 2 20 3 9 12 4 Mas, se esse homem não tiver parente chegado… Esse homem é parente nosso, um dos nossos remidores… …estende a tua capa sobre a tua serva, porque tu és o remidor… …eu sou remidor, porém há ainda outro mais chegado do que eu… 1 …eis que o remidor de quem falara ia passando… 3 …Disse Boaz ao remidor… 6 Então disse o remidor… 8 Dizendo, pois, o remidor a Boaz… 14 …não te deixou hoje sem remidor… II Sm 14 11 …para que o vingador do sangue não prossiga na destruição… I Rs16 11 …nem de seus parentes… Jb 19 25 …eu sei que o meu Redentor vive… Sl 19 14 …Rocha minha e Redentor meu! 78 35 …e o Deus Atíssimo o seu Redentor… 103 4 Pr 23 11 …porque o seu redentor é forte… Is 41 14 …e o teu redentor é o Santo de Israel. …quem redime a tua vida da cova… 15 43 14 44 6 24 47 4 48 17 49 7 26 54 …o Senhor, vosso Redentor… …Rei de Israel, seu Redentor… …o Senhor, teu Redentor… Quanto ao nosso Redentor… …o Senhor, o teu Redentor…4 …o Senhor, o Redentor de Israel… …o teu Salvador e o teu Redentor… 5 …o Santo de Israel é o teu Redentor… 8 …o Senhor, o teu Redentor. 59 20 E virá um Redentor a Sião… 60 16 …e o teu Redentor, o poderoso de Jacó. 63 16 …nosso Redentor desde a antiguidade é o teu nome. Jr 50 34 Mas o seu Redentor é forte… Capítulo Sl 107 Vers 2 Qal Particípio Passivo: …digam-no os remidos do Senhor, os quais ele redimiu da mãos do inimigo… Is 35 9 …mas os redimidos andarão por ele. 51 10 …para que por ele passassem os remidos? 62 12 E chamar-lhes-ão: Povo santo, remidos do Senhor… 63 4 …e o ano dos meus remidos é chegado. 16 ANEXO 2 Go’el no livro de Rute (Baseado na Versão de Almeida Revisada) “Disse Noêmi a sua nora: Bendito seja ele do Senhor, que não tem deixado de misturar a sua beneficência nem para com os vivos nem para com os mortos. Disselhe mais Noêmi: Esse homem é parente nosso, um dos nossos remidores.” (Rt 2:20) “E perguntou ele: Quem és tu? Ao que ela respondeu: Sou Rute, tua serva; estende a tua capa sobre a tua serva, porque tu és o remidor.” (Rt 3:9) “Ora, é bem verdade que eu sou remidor, porém há ainda outro mais chegado do que eu.” (Rt 3:12) “Boaz subiu à porta, e sentou-se ali; e eis que o remidor de quem ar de jumentos. Ela o levou à casa de seu pai, o qual, vendo-o, ele, desviando-se para ali, sentouse.”(Rt 4:1) “Disse Boaz ao remidor: Noêmi, que voltou da terra dos moabitas, vendeu a parte da terra que pertencia a Elimeleque; nosso irmão.” (Rt 4:3) “Então disse o remidor: Não poderei redimi-lo para mim, para que não prejudique a minha própria herança; toma para ti o meu direito de remissão, porque eu não o posso fazer.”(Rt 4:6) “Dizendo, pois, o remidor a Boaz: Compra-a para ti, descalçou o sapato.” (Rt 4:8) “Disseram então as mulheres a Noêmi: Bendito seja o Senhor, que não te deixou hoje sem remidor; e torne-se o seu nome afamado em Israel.” (Rt 4:14) 17 ANEXO 3 O Senhor, nosso Redentor (Go’el)! Temos chamado ao Messias, que foi imolado como um cordeiro em nosso lugar, de nosso “Redentor”, como nosso “Salvador”. Talvez muitos de nós não tenhamos compreendido ainda o que isto significa: “O Senhor tornou-se Go’el do seu povo”. A Terra foi dada a Adão para que governasse sobre ela (Gn 1:28), como um pai oferecendo um presente ao filho que sai de casa para começar a sua vida. No entanto, como o filho pródigo, Adão pecou, e ao pecar vendeu o domínio sobre a Terra a satanás, que foi chamado pelo próprio Senhor de “príncipe deste mundo” (Jo 12:31). Além da “sua” Terra, Adão vendeu-se como escravo, a si mesmo e à sua descendência (Hb 2:15). O Homem ficou, deste modo, perdido. Não teria jamais possíbilidade de se redimir a si mesmo, porque o seu inimigo era mais forte que ele e porque estava irremediavelmente separado do Criador. Por outro lado não tinha parente próximo que lhe servisse de Go’el, tanto quanto à Terra, como quanto à sua escravidão, pois Adão era pai da humanidade e toda a sua descendência se tinha tornado escrava. Então o Altíssimo Criador enviou o Seu Filho para que este se tornasse Homem, tornando-se parente do homem. O Senhor veio habitar num corpo de carne e chamou-se a si mesmo de “Filho de homem”. Chamou de irmãos a homens e tornou-se um parente muito chegado: o Go’el tão desejado que redimiria o Homem da escravidão e devolveria autoridade sobre a Terra tinha chegado! Comprou-nos assim, o Senhor, com o preço mais alto que poderia existir: a Vida do Filho do Eterno! O seu sangue derramado comprou-nos e comprou a Terra! Por isso está escrito: “E nos ressuscitou juntamente com ele, e com ele nos fez sentar nas regiões celestes em Cristo Jesus.” (Ef 2:6) “… que operou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar-se à sua direita nos céus, muito acima de todo principado, e autoridade, e poder, e domínio, e de todo nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro; e sujeitou todas as coisas debaixo dos seus pés, e para ser cabeça sobre todas as coisas o deu à igreja, que é o seu corpo, o complemento daquele que cumpre tudo em todas as coisas.” (Ef 1:20-23) 18 Paulo orou para que os efésios tivessem revelação que o Senhor ressurrecto estava à direita do Pai acima de todo o poder das Trevas, não estava só, pois hierarquicamente a Igreja como corpo de Cristo na Terra está também à direita do Pai. Aleluia! Foi restaurado o direito à liberdade e à posse da Terra! Estamos sentados com Cristo à direita do Pai. Esta é uma verdade Posicional. Cabe-nos agora tornar a verdade Circunstancial (a nossa vida) de acordo com a Posicional. Este é o ministério de cada Discípulo: ser instrumento de autoridade divina na Terra. Somos embaixadores do Reino (II Co 5:20) para reconciliar o mundo ao Criador e somos agentes da autoridade divina na Terra, para sujeitar o domínio de satanás ao senhorio de Cristo. Satanás não é mais “princípe deste mundo”, agora é um invasor que precisa ser combatido. Para isso o Espírito Santo nos dá armas e entre elas: o Nome do Senhor ao qual todo o joelho se dobra (Fp 2:9-11 ) e a Verdade de que nem somos mais escravos, nem a Terra percente a satanás! Aquilo que de forma profética surge nos Salmos e Profetas concretizou-se: FOMOS REDIMIDOS PELO NOSSO GO’EL! 19
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