Informativo São Vicente – Janeiro a Abril de 2008

Transcrição

Informativo São Vicente – Janeiro a Abril de 2008
elemento fundamental para que uma comunidade se mantenha
mais unida, livre de fofocas e coisas do tipo.
Também tenho minha sexta-feira livre. É quando saio com
os amigos mais próximos da Comunidade, da faculdade, ou
quando encontro amigos brasileiros para alguma atividade de
lazer. No México, o pessoal vai muito ao cinema. Eu também
tenho ido muito. Cinema, museus, lugares turísticos, cafés,
jardins, bibliotecas, shows, teatro se tornaram meus hábitos de
lazer nas sextas-feiras.
Pois bem, já escrevi muito. Com esse panorama geral de
minha vida no México, quero dizer que estou feliz, estou bem.
Certamente, tenho meus momentos de nostalgia e tristeza. Creio
que é normal. Até agora, nada conseguiu me derrubar. Sou muito
grato à PBCM por ter me dado essa oportunidade e creiam que
tudo o que estou aprendendo aqui será colocado em prática a
serviço da CM.
No dia 21 de fevereiro, renovei o Bom Propósito. Já estou
(e já faz muito tempo, creio que desde quando entrei para o
Propedêutico) pensando nos votos perpétuos. Penso neles com
um único sentido: entregar-me definitivamente a esta vida, tendo
como ponto fundamental o seguimento de Jesus Cristo Servidor e
Evangelizador dos Pobres, Regra da Missão.
Despeço-me com um abraço fraterno, cheio de saudade e
carinho por toda essa Província do Rio de Janeiro. Desejo que as
luzes do Santo Espírito de Deus recaiam sobre cada um de vocês,
dando-lhes força em seu labor missionário e serviço na messe do
Senhor. Que Maria, a Virgem de Guadalupe, Aparecida e das
Graças esteja cada vez mais presente em suas vidas, ensinando
como suportar as dificuldades e vencer os desafios. Fiquem em
paz!
Fraternalmente, seu coirmão no seguimento de Jesus ao
modo de São Vicente,
Denilson Matias, C.M.
74
Informativo São Vicente
Boletim de circulação interna
DA PROVÍNCIA BRASILEIRA DA CONGREGAÇÃO DA MISSÃO
y
Ano XLI - no. 271
Janeiro – Abril de 2008
Rua Cosme Velho, 241
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Equipe responsável pelo Informativo
São Vicente
- Diác. Osmar Rufino Dâmaso
- Ir. Gentil José Soares da Silva
- Vinícius Augusto R. Teixeira
Correção e Revisão:
- Pe. Lauro Palú
Formatação e Impressão:
- Cristina Vellaco
- Equipe de Mecanografia
Colégio São Vicente de Paulo
do
“Para que a cultura da vida
possa ser promovida de modo
autêntico, vivo e vibrante,
cabe a cada um de nós buscar
um
relacionamento
mais
íntimo com o Deus da Vida,
viver uma espiritualidade fundada na oração, nos sacramentos e na vida fraterna, a
partir do que nos foi revelado
na Sagrada Escritura e do que
nos foi comunicado pela
Tradição da Igreja nesses
mais de vinte séculos de
existência. Desenvolver a espiritualidade da vida é crescer
na fé, que se manifesta no
amor a Deus e aos irmãos,
respeitando a sacralidade de
cada pessoa, imagem e semelhança de Deus, habitação da
Trindade”
(Texto Base da Campanha da
Fraternidade de 2008, n. 255).
SUMÁRIO
Editorial .........................................................................................................
Carta do Superior Geral ................................................................................
Palavra do Visitador. .....................................................................................
1
3
8
Artigos
Espiritualidade
Vícios na Espiritualidade.....................................
Pe. Paulo Roberto Gomes, M.S.C.
10
Vida Eclesial
Situando o Laicato Vicentino no coração da
Igreja da América Latina .................................
Pe. Marcus Alexandre Mendes de Andrade, C. M.
14
Memória da Beatificação de Ir. Lindalva Justo
de Oliveira, F. C..................................................
Vinícíus Augusto R. Teixeira, C. M.
21
Herança Vicentina II
Bem-Aventurada Josefina Nicoli, F.C. ..............
Vinícius Augusto R. Teixeira, C. M.
26
Família Vicentina
Logotipo da Família Vicentina............................
Alexis Cerquera Truijllo
34
Análise de Conjuntura
O Mundo em espelhos........................................
Pe. Alex Sandro Reis, C. M.
36
Memória
Ir. Manoel Raimundo de Lima C. M....................
Pe. Francisco Ermelindo Gomes, C. M.
39
Jubilandos
Saudações aos Jubilandos 2008........................
Pe. Luiz de Oliveira Campos, C. M.
42
Missões Vicentinas
Taquaraçu - MG..................................................
Pe. Raimundo João da Silva, C. M.
Vanderlei dos Reis
49
Sepetiba e Nova Sepetiba..................................
Pe. Emanoel Bedê Bertunes, C. M.
51
Notícias ........................................................................................................
56
Herança Vicentina I
pessoais, etc. Dos três Padres que temos lá, dois mexicanos e um
espanhol, dois já estão idosos, sobra muito serviço para mim e
para meu irmão de comunidade, César, que trabalha lá comigo.
Dos 72 quilos que tinha quando cheguei ao México, restam-me
60. Que bom, o trabalho ajuda a evitar a obesidade (e a
obesidade mórbida).
Minha vida acadêmica vai de vento em popa. Estou no
último semestre do 2º ano de teologia. Tenho conseguido passar
com êxito. Claro, quase todos os dias, durmo às 2 da manhã e
acordo às 6 para as Laudes que rezamos às 6:30. Aqui tenemos
tareas todos los días, santos o no. Creio que já sabem, o Distrito
Federal (nome real da Ciudad de México) é um monstro, o trânsito
é infernal e, muitas vezes, demoramos muito para chegar a algum
lugar. Para a faculdade, por exemplo, 1h30 é pouco. É o tempo
em que aproveito para dormir ou fazer alguma leitura atrasada.
Gosto muito da faculdade, o IFTIM (Instituto de Formación
Teológica Intercongregacional de México), filiada à Pontificia
Facultad Javeriana de Colombia, dos Jesuítas. O ritmo é bem
puxado, mas o resultado em aprendizado é muito bom. Tenho o
privilégio de morar em uma comunidade de muchachos muy listos
(inteligentes).
Em janeiro deste ano, tive uma surpresa. Tivemos o EFEVI
(Encuentro de Formadores y Estudiantes Vicentinos), em Lagos
de Morenos, estado de Jalisco, no Seminário Menor. Neste
encontro, fui nomeado representante dos estudantes da Província
para a Comissão de Formação. A principio, não queria aceitar.
Onde já se viu, um estrangeiro, representante de estudantes de
outra província? Foi o que pensei. Dei meus motivos para não
aceitar, os quarenta e poucos estudantes deram os deles para
que eu aceitasse e, assim, fiquei.
Tenho crescido muito nesta Comunidade. O sentimento de
família que o mexicano tem é muito lindo. Em tempos de férias,
por exemplo, nunca me falta a casa de um dos meninos para que
eu vá e me recebem como um membro da família. Fazem-me
sentir em casa, e bem. Eles têm muito carinho por mim, sinto isso
por parte de toda a Província. Nuestro negrito brasileño, assim
dizem. O sentido de ajuda mútua e co-responsabilidade, também
a correção fraterna são muito observados aqui. A princípio, essa
coisa de correção fraterna me caía mal, mas pouco a pouco fui
aprendendo seu real sentido e compreendendo que é um
73
Notícias de Denilson Matias (México)
México, Distrito Federal, 26 de fevereiro de 2008.
Caríssimos Pe. Agnaldo Aparecido de Paula e Coirmãos
do Conselho Provincial,
Saudações em Jesus Cristo, Servidor e Evangelizador dos
Pobres!
Já faz tempo que não escrevo dando notícias sobre minha
vida e caminhada formativa no México. Através desta pequena
carta, quero falar um pouco do que tenho vivido, como tenho
vivido e sentido aqui no México. Outra coisa é que não vou
escrever uma carta formal, com dados estatísticos ou coisa
parecida. Vou me expressar livremente.
Durante o tempo em que tenho estado aqui, percebo que
cresci muito: espiritual, afetiva, comunitária, acadêmica e
humanamente. De fato, nunca estaremos prontos nesta vida. Por
isso, tenho muito que trabalhar em todas estas áreas e sempre.
Minha vida tem sido sempre nova, cheia de atividades em
casa e fora dela: no apostolado e na academia. Aqui em casa, sou
o coordenador da comissão de espiritualidade, ou seja, o
responsável por tudo o que se refere à vida espiritual de nossa
Casa de Formação. Elegeram-me em agosto do ano passado. No
início, tive certo medo, mas agora já me acostumei. Tenho
cumprido meu papel com carinho e, pouco a pouco, vou
aprendendo como fazê-lo bem. Já me sobraram chamadas de
atenção por alguma falha e, com isso, aprendo.
Continuo vivendo meu apostolado na Paróquia de San
Agustín, Ecatepec, no Estado do México. Com duas horas de
viagem todos os sábados de manhã e retorno cansativo de duas
horas na tarde de domingo, quase sempre chegando em casa à
noitinha, fregado, como dizem aqui. É um trabalho muito bonito o
que faço lá. Já estou um pouco triste, porque vou cumprir dois
anos trabalhando neste apostolado e certamente me mudarão de
trabalho ao final de maio. Em agosto, depois das férias de verão,
já estarei em outra ocupação pastoral, não necessariamente em
paróquia. Em San Agustín, trabalho basicamente com formação:
com as Filhas de Maria, Associação da Medalha Milagrosa,
Missionários Leigos Vicentinos, Catequese, Adolescentes, Jovens,
Retiros, Celebrações, Bênçãos em geral, Exéquias, conversas
72
“Eles, porém, insistiram com Jesus dizendo: ‘Fica conosco,
pois já é tarde e a noite vem chegando.’ Então Jesus entrou
para ficar com eles. Sentou-se à mesa com os dois, tomou o
pão e abençoou, depois o partiu e deu a eles. Nisso os olhos
dos discípulos se abriram, e eles reconheceram Jesus” (Lc
24, 29-31a).
Caríssimos leitores, SHALOM!
Na alegria do Cristo Vivo, na certeza de que Deus caminha
conosco, faz história em nossa história, o informativo de nossa
Província mais uma vez chega às suas mãos. Na simplicidade,
quer ser também um instrumento de propagação da Boa Nova do
Reino. Assim como o coração dos discípulos ardia quando o
Senhor lhes explicava as Escrituras, que o nosso coração possa
se alegrar com os artigos e as notícias deste nosso primeiro
informativo do ano.
E por falar em primeiro, queremos explicar o atraso do
mesmo. Pedimos desculpas a todos os nossos Coirmãos e aos
leitores pela demora da publicação (que deveria ser de jan/fev). O
que aconteceu? A nova equipe do Informativo só foi constituída no
começo do ano; tivemos, por vários motivos, dificuldades em nos
organizarmos para o começo dos trabalhos. Agora sim! Já
estamos prontos para ajudar na divulgação da nossa atuação
missionária vicentina.
Nestes quatro primeiros meses do ano, vivenciamos
momentos importantes na província (destacamos o dia-a-dia de
cada obra missionária onde a CM realiza seu carisma, as missões
Populares Vicentinas, o retiro espiritual, uma consagração
perpétua e uma ordenação), como também em toda a Igreja do
Brasil (destacamos a reflexão e oração da Campanha da
Fraternidade). E no momento presente somos chamados a
festejar a Ressurreição do Homem-Deus Jesus de Nazaré. Somos
chamados a testemunhar em todas as nossas obras missionárias,
em nossa fraternidade como Coirmãos (irmãos que se amam por
ele e nele), a Páscoa do Senhor. Celebrar a passagem da morte
1
para a vida, da escravidão para a libertação, é configurar tudo o
que somos e tudo o que temos à própria pessoa de Jesus Cristo.
Como sabemos, o informativo provincial, além de
comunicar o que aconteceu e avisar o que vai acontecer, é
também meio de divulgação das reflexões feitas por Coirmãos e
outras pessoas. Sendo assim, agradecemos a colaboração de
cada um que envia seu artigo e as notícias para serem
publicadas.
O que vamos ler nesta primeira edição do informativo? O
texto do Pe. Paulo Roberto, MSC, apresenta-nos alguns riscos em
nossa intimidade com Deus. O artigo intitulado “Vícios da
Espiritualidade” vem nos ajudar a fortalecer nosso estado de
pessoas orantes. Pe. Marcus Alexandre, fazendo ressonância ao
documento de Aparecida, apresenta-nos uma reflexão da vivência
eclesial a partir do Laicato. O Pe. Alex Sandro, com o texto: “O
Mundo em Espelhos”, vem ajudar na reflexão sobre análise de
conjuntura. Temos também a memória do saudoso Ir. Manuel, o
espaço do estudante, outros artigos e o espaço das nossas
notícias.
A equipe do Informativo deseja, ainda no tempo da
Páscoa, que Cristo possa ressuscitar na vida e no trabalho de
cada Coirmão. Sejamos todos construtores do Reinado de Deus,
que é, entre vários significados, a plena felicidade do humano e a
dignidade da vida. Escolhamos, pois, a Vida. Boa leitura!
AGOSTO/2008
Dia
Atividade
Local
05 a Encontro Provincial dos Missionários,
A definir
07
Párocos e Vigários Paroquiais (PBCM)
19-20
Conselho Provincial – PBCM
Rio de Janeiro
OUTUBRO/2008
Dia
1º
7-8
16 a 22
Atividade
Local
Reunião da Comissão de
(PBCM)
Conselho Provincial – PBCM
XIIIª Assembléia da CLAPVI
DEZEMBRO/2008
Dia
Atividade
9-10
Conselho Provincial
Formação Belo Horizonte
– MG
Rio de Janeiro
Argentina
Local
Rio de Janeiro
Diác. Osmar Rufino Dâmaso, C. M.
2
71
MAIO/2008
Dia
1-7
20
22-25
22-25
27-28
30/5 a
1/6
Atividade
Local
Visita da Presidente Internacional da JMV à
Província de Belo Horizonte
Reunião da Comissão de Formação
(PBCM)
Assembléia Nacional da Juventude Marial
Vicentina – presença da Presidente
Internacional, dos Visitadores/as da CM e
das FC no Brasil
Encontro Interprovincial dos Visitadores/as
da CM e das FC no Brasil
Conselho Provincial da PBCM
Caraça - MG
Plenária Nacional da SSVP
Jundiaí (SP)
Minas Gerais
Belo Horizonte
– MG
Recife – PE
A todos os membros da Congregação da Missão
Recife – PE
Caríssimos irmãos em São Vicente de Paulo,
JUNHO/2008
Dia
8
24-25
29/06
19/07
Atividade
Local
Ordenação Presbiteral do Diácono Osmar
Rufino Dâmaso
Conselho Provincial – PBCM (a confirmar)
Curso de Liderança Servidora (para
Visitadores e 1 acompanhante)
Campina Verde
(MG)
Rio de Janeiro
Paris (França)
JULHO/2008
Dia
Atividade
1-2
6 a 12
Conselho Provincial – PBCM (a confirmar)
Rio de Janeiro
Encontro Latino Americano de Paróquias Chile
Vicentinas (CLAPVI)
Ordenação Presbiteral do Diácono Pedro Malhada - BA
Dias de Lima
19
Local
70
18 de fevereiro de 2008
Festa de São Francisco Regis Clet
A graça e a paz de Nosso
Senhor Jesus Cristo encham seus
corações agora e sempre!
Gostaria de fazer-lhes uma pergunta: O que os Pobres
podem esperar de nós? Podem esperar que sejamos rotineiros,
sem interesse, homens sem inspiração, satisfeitos com o que
sabemos e com nosso modo atual de trabalhar? Ou os Pobres
podem esperar mais dos seguidores de São Vicente de Paulo?
Vocês já sabem minha resposta. Fiz estas perguntas para
que saibam aonde quero chegar. Nenhum de nós negará, estou
seguro, que os Pobres poderiam esperar mais dos Vicentinos.
Eles ouviram falar de nosso Fundador. Ficaram impressionados
com a visão que ele tinha das coisas. Ouviram contar como
encontrou meios criativos para devolver-lhes a esperança. São
Vicente lhes mostrou o amor de Deus.
Meus irmãos, faz parte de nossa vocação vicentina que
também nós sejamos criativos e originais em nosso serviço aos
Pobres. Não podemos fazer menos que isso. A chave de nossa
própria renovação permanente e de nosso ministério é a formação
contínua.
Fiel à vontade dos Visitadores, e contando com o apoio
unânime de meu Conselho, escrevo-lhes a todos e a cada um de
3
vocês para refletir profundamente sobre a importância da
formação permanente em sua vida pessoal, assim como na vida
da comunidade local, em sua Província e em toda a Congregação.
CALENDÁRIO DE ATIVIDADES DA PROVÍNCIA - 2008
MARÇO/2008
No México, nosso debate sobre a importância da formação
vicentina nos levou a formular claramente que nós mesmos
somos nossos melhores recursos; não há outros melhores. Por
conseguinte somos moralmente obrigados a fazer tudo o que
esteja em nossas mãos para assegurar que a todos e a cada um
dos Coirmãos da Congregação da Missão se dê a oportunidade
de se prepararem a partir de uma base permanente para serem
fiéis à nossa missão de seguir Jesus Cristo, evangelizador dos
Pobres. Como estabelece o artigo 2 de nossas Constituições: “Em
razão de seu fim, tendo em vista o Evangelho e sempre atenta
aos sinais dos tempos e aos apelos mais urgentes da Igreja, a
Congregação da Missão procurará abrir caminhos novos e
empregar meios adequados às circunstâncias dos tempos e dos
lugares. Além disso, terá o cuidado de avaliar e organizar suas
obras e ministérios, de modo a permanecer em estado de
renovação contínua.”
Dia
Atividade
7-9
Encontro dos Jovens da SSVP – Região II
31
Conselho Provincial – PBCM
31/3 a
04/04
Retiro Provincial
Meus irmãos, as Constituições o dizem claramente. Somos
chamados a viver num estado de renovação contínua, pessoal e
comunitariamente, para responder fielmente ao Evangelho, aos
sinais dos tempos e aos apelos da Igreja. Mais ainda, nossos
senhores e mestres merecem o melhor de nós mesmos.
4
Faremos bem em ser fiéis a isto, se não quisermos ouvir
palavras semelhantes às que foram escritas à Igreja da Laodicéia:
“conheço teu modo de viver: não és nem frio nem quente. Oxalá
fosses frio ou quente! Pois bem, porque és morno, e não frio nem
quente, vou vomitar-te de minha boca” (Ap 3, 15-16). Nossas
Constituições definem nossos direitos e deveres. Se as vivermos
fielmente e permitirmos que nos formem e renovem, seremos
capazes de viver nosso carisma vicentino com vitalidade e gosto.
Local
ABRIL/2008
Dia
Atividade
1-5
11-13
Vº Encontro Interprovincial Vocacional Província
da
Vicentino (CM e FC)
Amazonia
Assembléia Provincial - PBCM
Fazenda
do
Engenho - MG
Conselho Provincial - PBCM
Fazenda
do
Engenho - MG
Ordenação Presbiteral do Diác. Marcus Contagem – 18
Alexandre Mendes de Andrade
horas
Fortaleza
Encontro Nacional da Família Vicentina
21-26
Encontro dos Coirmãos Jovens da PBCM
25-30
Visita da Presidente Internacional da JMV à Rio de Janeiro
Província do Rio de Janeiro
Aparecida - SP
Romaria Nacional da SSVP
5
5
26-27
Local
Na síntese do Encontro Internacional de Visitadores,
refletiu-se sobre certos aspectos básicos da formação vicentina.
4
Juiz de Fora
(MG)
Fazenda
do
Engenho (MG)
Fazenda
do
Engenho (MG)
69
A definir
Gostaria de destacar estes aspectos:
1. Perspectivas fundamentais para a formação permanente
vicentina: Cultivar nossa vocação missionária.
NATALÍCIO
(acima de 50 de 10 em 10 anos; após os 80 de 5 em 5 anos)
Pe. José Atanásio Coelho
90
2/5/1918
Pe. Ézio Rodrigues de Lima
90
22/9/1918
Pe. Sebastião de Carvalho Chaves
70
30/10/1938
Pe. Nilson Grossi
80
14/11/1928
VOCAÇÃO
O seguimento de Cristo, evangelizador dos Pobres, constitui o principal eixo da formação vicentina. Nossa identidade como
missionários não nos é dada de uma vez por todas; é antes o resultado de nossa relação diária com Cristo, com a comunidade a
que pertencemos, com o mundo e com os Pobres. Estamos convencidos de que a formação não é um estado já adquirido, mas
antes um caminho: a formação inicial é uma introdução a este
caminho que dura toda a vida.
2. Os objetivos que devemos alcançar na formação permanente.
(acima de 50 de 10 em 10 anos; após os 70 de 5 em 5 anos)
Pe. José Guido Branta
70
24/1/1938
Pe. Geraldo Nunes Costa
70
30/1/1938
Pe. Luiz Roberto Lemos do Prado
25
22/2/1983
Pe. José Atanásio Coelho
70
6/3/1938
Dom José Carlos Melo
60
23/3/1948
EMISSÃO DOS VOTOS
(acima dos 60 de 5 em 5)
Pe. José Debórtoli
Pe. José Izabel da Silva Campos
Pe. Sebastião Mendes Gonçalves
Pe. José Gonzaga de Morais
50
60
50
25
25/1/1958
19/3/1948
25/1/1958
31/5/1983
O primeiro objetivo da formação permanente é a santidade
que corresponde à vida do missionário (RC I, 3). Unido a este
objetivo fundamental está o crescimento contínuo no âmbito
humano e profissional, que leva o Coirmão a adquirir uma
capacidade ainda mais profunda para relacionar-se com os outros
e a ser competente na proclamação da Palavra e na prática da
caridade. Como se disse anteriormente, o missionário vicentino é
chamado por conseguinte a estar sempre em sintonia com os
tempos, a sentir-se intimamente afetado por tudo o que acontece
ao seu redor, sabendo discernir nos acontecimentos diários a
missão a que Deus o chama. Isto o leva, em fidelidade ao
Evangelho, a adaptar seu próprio ministério às necessidades reais
das pessoas, aprendendo a ser flexível e criativo em seu
apostolado.
ORDENAÇÃO SACERDOTAL
3. Os níveis operativos da formação permanente
(acima de 60 de 5 em 5)
Pe. Sebastião Agatão Dias
Pe. Célio Maria Dell’Amore
Pe. Antônio Gomes Pereira
Pe. Wilson Belloni
Pe. Geraldo Nunes Costa
•
60
50
50
50
65
68
26/9/1948
28/9/1958
28/9/1958
28/9/1958
8/12/1943
No nível pessoal, o Coirmão assume a responsabilidade de
sua formação contínua; não pode delegá-la ou fazer-se
substituir por outra pessoa ou estratégia. Nas distintas etapas
de nossa vida (juventude, adultez, maturidade e idade
avançada) e em qualquer dos ministérios que exerçamos,
todos os Coirmãos temos que cultivar a disciplina constante da
formação permanente.
5
•
•
•
•
No nível local, a comunidade constitui o contexto principal da
formação em que cada Coirmão é desafiado constantemente a
crescer.
No nível provincial, o Visitador é chamado a criar, onde ainda
não exista, a Comissão para a formação permanente, dandolhe os meios para que ajude o desenvolvimento da motivação
pessoal sobre a importância da formação permanente em
todos os Coirmãos.
No nível das Conferências de Visitadores e de Províncias, hoje
são indispensáveis os encontros de formação, os intercâmbios
e as avaliações.
No nível da Congregação, é necessário desenvolver algumas
linhas de formação específica vicentina (Ratio Formationis,
Guia Prático para a Formação Permanente ou Linhas de
Ação).
4. Obstáculos encontrados na formação permanente
No caminho da formação, os Coirmãos encontram, ao
longo de sua vida, muitos obstáculos, começando pelos que se
manifestam no nível pessoal, tais como a debilidade da dimensão
espiritual, a preguiça intelectual, a falta de interesse pela leitura e
pelo estudo, o abuso dos meios de comunicação (Internet), o
pragmatismo apostólico que não deixa espaço para uma reflexão
atenta e constante sobre os sinais dos tempos, o individualismo
nos ministérios, que se deixa levar pelo desejo da realização
pessoal.
No nível comunitário, os obstáculos assumem a forma
duma mudança para valores e para um estilo de vida burgueses, a
falta de projetos de formação e de programas concretos
operativos, a dificuldade na relação de uns com os outros de
forma responsável e madura, e o distanciamento em relação aos
Pobres, que torna proporcionalmente mais difícil o conhecimento
da realidade deles.
Finalmente, no nível cultural, os principais obstáculos na
formação permanente incluem aspectos como o consumismo, o
fundamentalismo, o relativismo, o debilitamento da verdade, etc.
Tudo isto contrasta com o viver, buscar e testemunhar a verdade
com simplicidade e humildade, que constituem os primeiros passos no seguimento de Cristo.
6
A Assembléia convocada e presidida pelo Visitador Provincial,
Pe. Agnaldo Aparecido de Paula, contou com a participação de 47
sócios. Pe. Geraldo Eustáquio Mól Santos, ecônomo provincial,
apresentou à análise, discussão e aprovação dos assembleístas o
Consolidado Financeiro do exercício 2007, pareceres do Conselho
para Assuntos Econômicos e Fiscais da Província e dos auditores
independentes, como prescreve a lei. Aprovado os relatórios, Pe.
Geraldo Mól apresentou uma série de outras informações
administrativas, tributárias, filantrópicas, trabalhistas e dos
investimentos que vêm sendo efetuados para manutenção,
conservação e melhoria dos bens da Província.
10. Ordenação do Pe. Marcus Alexandre, C. M.
No espírito de Lc 24, 13-35, relato evangélico da experiência
do Ressuscitado pelos discípulos de Emaús, o Diácono Marcus
Alexandre, recebeu o sacramento da Ordem Presbiteral do
Arcebispo emérito de Belo Horizonte, Cardeal D. Serafim Fernandes de Araújo.
A bela celebração
aconteceu na Paróquia
Nossa Senhora de
Fátima, Contagem, na
noite de 05 de abril.
Vieram uma caravana
de Itanhandu – M.G.
(terra natal do ordinando), assim como
inúmeros
familiares,
amigos,
Filhas
da
Caridade, Coirmãos e
amigos do curso de
Teologia
do Padre
Marcus no ISTA.
Em grande espírito de fé a paróquia rezou junto com o jovem
Padre, consagrando-o como tal ao proferir a invocação do Espírito
Santo da oração consacratória, antes que o Bispo ordenante o
fizesse...
Nossos votos de um feliz e fecundo ministério presbiteral a
este filho de São Vicente de Paulo.
67
8. Emissão dos Votos do Ir. Adriano
São Vicente dizia “Os que se libertam do apego aos bens
da terra, da ânsia de prazeres e de sua própria vontade, se
convertem em filhos de Deus e gozam de uma liberdade perfeita,
pois a liberdade se encontra só no amor de Deus. Estas são
pessoas livres, que não têm lei, que voam cada vez mais alto;
nada as detém, nem são jamais escravas do demônio, nem de
suas paixões. Ditosa liberdade dos filhos de Deus” (XII,301).
No dia 4 de abril, durante a eucaristia celebrada no encerramento
do Retiro Provincial, Ir.
Adriano Ferreira da
Silva emitiu os Santos
Votos na Congregação
da Missão.
A emissão
dos votos na pequena
companhia fundada por
São Vicente representa
o comprometimento com
um estado de vida e de
missão voltados para o
seguimento de Jesus
Cristo evangelizador dos Pobres. Manifesta, também, a mais
plena liberdade da pessoa, fruto da conquista de um importante
grau de maturidade, nunca completamente concluída, mas já bem
construída e necessária para que se possa, de fato, dispor da
própria vida.
Ao Ir. Adriano os nossos sinceros votos de realização
plena na vida consagrada missionária vicentina.
9. Assembléia Provincial
Em cumprimento às exigências estatutárias da Província
Brasileira da Congregação da Missão, realizou-se no dia 4 de
abril de 2008, na Fazenda do Engenho (Caraça), município de
Santa Bárbara (MG), a Assembléia Geral Ordinária com as
seguintes finalidades:
5. Os valores da formação permanente
A formação permanente, voltando às fontes que a
alimentam, revendo e atualizando as ferramentas recebidas na
formação inicial, mantém vivo o carisma vicentino, aprofunda-o,
aperfeiçoa-o e o reinterpreta frente aos novos desafios.
A formação permanente é parte importante da ajuda para
aperfeiçoar-nos na arte de amar os Pobres. Ao mesmo tempo, a
formação permanente nos proporciona os instrumentos
necessários para compartilhar, de modo autêntico, o amor de
Deus com todas as pessoas.
Recomendo encarecidamente a cada um de vocês,
individual e comunitariamente, que cumpram o que foi escrito
nesta carta e especialmente os objetivos assinalados. Sei que em
muitas Províncias já se reconhece a importância da formação
permanente para os Coirmãos de todas as idades. Impressionoume muito o número de programas criados para que os Coirmãos
possam preparar-se adequadamente para a missão que lhes foi
confiada. Por outra parte, as conseqüências duma falta de
formação permanente são nefastas. E os que mais as sofrem são
os Pobres que somos chamados a servir.
A formação permanente, quando bem feita, só pode
melhorar a qualidade de nossa missão. Com relação ao tema da
formação permanente, o número 3 da Vincentiana de 2007 foi
dedicado aos conteúdos da reunião do México. Ali vocês
encontrarão a apresentação que fundamentou a reflexão dos
Visitadores e também o processo que indicou o caminho a seguir
para realizá-la e os resultados desse caminho, como aparecem no
resumo apresentado pelos que sintetizaram as idéias dos grupos.
Peço a todos vocês que reflitam seriamente sobre o que
dizem nossas Constituições e Estatutos acerca da formação
permanente. Aceitem essa reflexão como um desafio para uma
fidelidade criativa cada vez maior. Além do artigo 2 das
Constituições, já mencionado, peço-lhes que reflitam e rezem
sobre estes outros artigos das Constituições: 25 § 2 (e o artigo 42
dos Estatutos); 77 § 1 e § 2; 78, § 1, § 2 e § 4; e 81.
Seu irmão em São Vicente,
1. Tomar conhecimento do Balanço Patrimonial e das
Demonstrações Contábeis e apová-los.
2. Tratar de outros assuntos de interesse geral da PBCM.
66
G. Gregory Gay, C. M.,
Superior Geral
7
7. Retiro Provincial
Caríssimo Coirmão, estimado(a) leitor(a),
O Retiro espiritual da PBCM foi realizado na Fazenda do
Engenho de 31 de março a 4 de abril e contou com a participação
de 48 Coirmãos, incluindo a participação dos admitidos no
seminário interno.
Ao participarmos das celebrações
litúrgicas com certa freqüência ouvimos o
convite para prolongamos na vida
cotidiana a realidade celebrada na liturgia.
O desafio é grande, mas o convite é nobre
e merece toda nossa atenção e esforço.
Que possamos apresentar a Deus em
nossos corpos uma vida que seja
verdadeiramente um culto agradável a
Deus!
Celebramos na Páscoa o acontecimento mais importante da fé cristã: a
Vida que vence a Morte, a Ressurreição
do Senhor. Realidade fácil de ser
professada com os lábios, mas difícil de
ser entendida pela razão e assimilada na prática. Expressões
como “no primeiro dia da semana”, “ainda estava escuro” (Jo
20,1), “estavam como que cegos, e não o reconheceram” (Lc
24,16), “nisso os olhos dos discípulos se abriram e eles
reconheceram Jesus” (Lc 24,31) e a insistência na expressão
“viu”, mas não reconhecer instantaneamente o Senhor, querem
nos informar que para “ver” o Senhor Ressuscitado que continua
presente na história e na vida do seu povo faz-se necessário
ultrapassarmos os limites do conhecimento humano, sem, no
entanto, prescindirmos do mesmo. Não se pode esquecer que o
Ressuscitado é o Verbo que se fez Carne. O Ressuscitado é o
mesmo Jesus que foi Crucificado “Não tenha medo. Eu sei que
você está procurando Jesus, que foi crucificado. Ele não está
aqui. Ressuscitou, como havia dito!” (Mt 28,5-6). A morte de Jesus
ocorreu como conseqüência da fidelidade à vontade do Pai, cujo
projeto continua atual e é exigência para toda pessoa que aceita o
dom e a aventura de ser discípulo de Jesus. Este projeto é a
construção do Reino de Deus, Reino que é boa notícia para os
Pobres (Lc 4,18) e que pertence aos Pobres (Lc 6,20).
O Retiro Espiritual Anual promovido pela Direção da Provincial
tem como objetivo proporcionar aos membros da Província um
tempo forte para:
- revestir-se de Cristo, imbuindo-se da doutrina do Evangelho,
avaliar as coisas e acontecimentos diante de Deus e perseverar
em seu amor e misericórdia (C.41);
- procurar na oração os sinais da vontade divina e se esforçar por
imitar as disposições de Cristo, avaliando tudo segundo seu
espírito (C.40 § 2);
- renovar a fé, o amor fraterno e o zelo apostólico. “Pela íntima
união entre a oração e o apostolado, o missionário torna-se
contemplativo na ação e apóstolo na contemplação” (C. 42).
Dom Serafim Fernandes de Araújo, cardeal arcebispo
emérito de Belo Horizonte, que por diversas vezes explicitou o seu
carinho e agradecimento pela formação recebida dos Coirmãos no
Seminário de Diamantina, orientou todo o retiro a partir da
temática da ternura de Deus. No pensamento de Dom Serafim a
ternura “resgata, recria, regenera, transforma, perdoa e devolve a
paz. Quem não cuida da ternura termina por encontrar a
depressão”.
8
65
Hugo de Vasconcelos Paiva
* 08/02/1928
† 01/05/2008
Dia 1º de maio, ontem à tarde, faleceu, num desastre de
carro, Hugo de Vasconcelos Paiva, nascido em 1928, ordenado
padre em 1955, deixou a congregação em 1982. Será sepultado
hoje à tarde em Nova Era.
O Paiva foi um dos maiores estudiosos e peritos de
pastoral, tendo-se especializado na França e depois multiplicando
no Rio, através do Instituto Superior de Pastoral Catequética, o
que tinha aprendido. Ampliou seu trabalho, dando mais de 400
cursos para bispos e padres, religiosos e leigos, no Brasil, no
Chile e em muitíssimos países da América Latina e também na
África.
Nas duas vezes em que fui nomeado diretor do Colégio
São Vicente, trabalhei com ele, que tinha uma capacidade
extraordinária de coordenação, de liderança, de atualização, de
questionamento crítico e de soluções adequadas. Quando saiu da
Congregação, continuou trabalhando lealmente conosco, no
Colégio, e na formação de lideranças leigas na Diocese de Nova
Iguaçu, onde coordenava a pastoral e mantinha cursos de
formação política para leigos. Engajou-se, no interior do Estado do
Rio e de Minas, na preparação de Confrades das Conferências de
São Vicente para um serviço atualizado dos Pobres.
A Província colaborou após sua saída, com uma ajuda no
pagamento de seu plano de saúde. Vinha lutando com algumas
dificuldades e vencendo as operações de próstata, etc., sempre
animado e corajoso. E morreu num desastre de carro. Falei com
duas de suas irmãs, e celebraremos aqui a missa de sétimo dia,
quando Marta, sua esposa, voltar de Minas.
O Paiva deu um testemunho muito grande de fidelidade ao
serviço dos mais abandonados, desde os tempos em que vivia no
Colégio e foi morar numa favela, trazendo para a Província uma
reflexão muito corajosa de inserção e de escolha de métodos
eficazes para o serviço de promoção dos mais necessitados. Até o
fim de sua vida, pedia textos de São Vicente, para animar suas
reflexões e os cursos que dava. Que em paz descanse.
Pe. Lauro Palú, C. M.
64
Para todos os cristãos e de modo muito especial para os
membros da Família Vicentina, os Pobres são os sinais
privilegiados da presença de Cristo no mundo atual. As marcas da
paixão, tão presentes na vida dos Pobres, podem ofuscar a
realidade da Ressurreição, mas pela fé temos a certeza da vitória
da justiça sobre a injustiça, da graça sobre o pecado e da vida
sobre a morte. Apontar os sinais de vida e celebrar as conquistas
dos Pobres, mesmo pequenas, são estratégias importantes a
serem adotadas por todos os membros da Família Vicentina.
Apontar os sinais de vida e celebrar as conquistas dos Pobres por
vida digna será nosso maior testemunho de que o Deus dos
Pobres está vivo e continua atuando na implantação do seu Reino
através da vida, da prática e dos ensinamentos dos discípulos e
discípulas de Jesus. Apontar os sinais de vida e celebrar as
conquistas dos Pobres também servirá para reavivar a fé, a
esperança e a coragem de tantos irmãos e irmãs que se
encontram desiludidos ou cansados por não perceberem que as
“coisas de Deus” acontecem de maneira pura e simples.
Estimado Coirmão, prezado(a) leitor(a) a Campanha pela
Mudança de Estruturas, da Família Vicentina, apresenta-se como
uma excelente e promissora oportunidade para a descoberta e a
prática de novas estratégias que ultrapassem muitas de nossas
ações que são assistencialistas ou que promovem a inserção,
mas em estruturas alicerçadas sobre a perversa raiz do mal da
exploração, da injustiça, da corrupção e da destruição, na busca
do lucro, do prestígio e do poder. A Campanha da Família
Vicentina parte do princípio de que nem mesmo projetos de
“promoção” dos Pobres são suficientes, pois as estruturas atuais
não são adequadas para o estabelecimento das relações que
tenham a preservação e a proteção da vida como valor
fundamental. Não se pode colocar remendo de pano novo sobre
tecido velho. Para uma nova Sociedade, para um novo Ser
Humano, serão necessárias novas estruturas. O caminho não está
pronto, às vezes sentimos nossa visão bastante ofuscada, mas
temos a convicção de que as estruturas atuais não são
adequadas e que é imperativo avançar rumo a mediações sociais,
políticas, econômicas e religiosas que visibilizem de forma mais
lúcida e transparente a presença do Cristo Ressuscitado e do
Reino de Deus.
Pe. Agnaldo Aparecido de Paula, C. M.
Visitador Provincial
9
Belchior Cornélio da Silva
* 14/02/1925
Vícios na Espiritualidade
Existem, entre outros,
dois vícios que envenenam a
espiritualidade e que podem
estar presentes em nossa vida: a
impaciência e a ansiedade.
A impaciência: A impaciência se refere ao espaço. Ela
nos separa das pessoas porque
não aceitamos que o nosso
espaço seja invadido pelos
outros. Nele só pode entrar
quem está de acordo com
nossos esquemas e nos agrada. A impaciência é fechamento ao
(à) irmão (ã).
O impaciente não tolera os defeitos alheios, não suporta
que os outros modifiquem seus planos ou interrompam suas
atividades ou intimidade. Ele(a) é inimigo do exterior. Ele despreza
os demais. O impaciente não tem descanso, não encontra calma.
Está sempre perturbado pelos erros e defeitos alheios, por isso
não pode ter um coração sereno. Infelizmente, ele pensa que
paciência é sinônimo de fraqueza.
Ter paciência não significa deixar-se maltratar; não é
permitir passivamente que os outros nos firam constantemente e
se aproveitem de nós. Ao contrário, é necessário defender a
própria dignidade e os direitos próprios. No entanto, se decidimos
servir aos outros, ajudá-los a levar as cargas da vida e anunciarlhes o Evangelho, com maior razão devemos ser pacientes com
eles, tolerando suas limitações, aceitando que nos tirem parte de
nosso tempo, que nos contradigam ou que não nos ouçam. A
impaciência termina nos enfraquecendo por dentro, torna-nos
inimigos daqueles que devemos amar.
† 17/04/2008
No dia 17 de abril deste ano de 2008, faleceu, no Rio de
Janeiro, em casa, assistido pela esposa e por seu casal de filhos,
o nosso ex-Coirmão Belchior Cornélio da Silva, nascido em 1925,
ordenado padre em 1949 e que obteve dispensa dos
compromissos sacerdotais e se casou em 1970. Era primo dos
Coirmãos Zico (Dom Belchior, Pe. Tobias e Dom Vicente).
Fui aluno dele, no 2º ano do Seminário Interno, em
Petrópolis, onde ensinou Lógica, no tempo em que era Diretor dos
Estudantes. Depois foi nomeado superior do Seminário Maior São
José, de Mariana, onde vivi sob sua orientação o primeiro ano de
meu sacerdócio. Trabalhei com ele, esporadicamente, durante os
anos seguintes, ajudando-o na revisão da tradução doe poemas
de Carlos Drummond de Andrade para o latim. Nos últimos anos,
quando voltei a ser diretor do Colégio São Vicente, fui ao
apartamento dele, muitíssimas vezes, levando-lhe com certa
freqüência a Comunhão e várias vezes lhe dei a unção dos
enfermos, quando se agravavam suas condições de saúde ou
devia fazer alguma cirurgia. No próprio dia 17, dei-lhe a absolvição
poucos minutos antes de seu falecimento. O corpo foi velado no
Memorial do Carmo, onde foi cremado na manhã do dia 19. A
missa de sétimo dia foi na capela da nossa Casa Provincial, com a
presença de muitos amigos da Família e de colegas do magistério
superior. Era professor de lingüística e filologia românica, um
grande humanista, que deixou inédita uma obra poética de muito
valor e publicados vários livros de filologia.
Embora estivesse sofrendo de vários males, no final de
sua vida, sempre perguntava pelo Colégio, pelo Caraça, pelos
Coirmãos, pela Congregação. Que em paz descanse.
Pe. Lauro Palú, C. M.
Por isso, a primeira coisa que devemos fazer para sermos
pacientes com alguma pessoa é dar-lhe importância, valorizá-la,
recordar que ela é obra de Deus, criada por amor. Podemos
63
10
Chegou à Casa Dom Viçoso em novembro de 2007,
trazido de Arcos-MG para o Hospital Madre Teresa para exames.
Estava bem combalido pela fraqueza e perda de sangue. Saiu do
hospital com suspeita de LLC = leucemia linfóide crônica, em
01/12/2007. Hospedou-se na Casa Dom Viçoso. Regressou para
Arcos em 12/12/2007, um tanto mais fortalecido. Daí foi uma série
de alternâncias de idas e vindas de sua residência para o Hospital
ou Casa Dom Viçoso. Às vezes sentia fortes dores no peito. Era
bem assistido pelo médico da casa e as enfermeiras e Ir. Edmar.
Mas ia controlando a caminhada de seu sofrido calvário.
Confortado com os Sacramentos da Unção dos enfermos e
Eucaristia, na presença dos Coirmãos, em nossa capela interna,
deu mostras de alívio e maior suporte do sofrimento, que lhe
roubava as energias. Sentiu sensível melhora. Decorridos alguns
dias, retorna a Arcos para convívio da família e passar seu
aniversário de 73 anos. Retorna dia 08 de abril e já é levado para
o Hospital e internado na U.T.I. Saindo daí para o quarto, lá
mesmo, adormeceu no Senhor, `s 22.50 de 14/04/2008 trasladado
para Arcos. Contou com a presença do filho padre: Pe. Agnaldo,
que lhe prestou imenso carinho e assistência na enfermidade e
lhe presidiu as exéquias no Campo Santo da cidade. Presentes
Padres e Seminaristas de Belo Horizonte, da Congregação da
Missão, que compartilharam com a família o sofrimento da
separação juntamente com parentes e amigos. Descanse em
PAZ!
Pe. Célio M. Dell’Amore, C.M.
62
também ser pacientes, procurando reconhecer e agradecer as
coisas boas que o outro tem. Ninguém é só obscuridades, só
defeitos. Os defeitos de uma pessoa não significam que tudo nela
seja negativo ou falso. A pessoa que eu não tolero certamente
teve experiências da vida que eu não tive e não compreendo. Nós
não somos só luzes, só bondade, só generosidade e desinteresse.
Para além das fraquezas e dos aspectos irritantes que eu vejo,
para além de suas imperfeições e erros, ela traz dentro de si um
chamado para a plenitude.
Primeiro: devo reconhecer a paciência de Deus para com
todos, respeitando seus condicionamentos, seu tempo e sua
liberdade. Segundo: Deus sempre teve paciência comigo e
ofereceu-me sua amizade. Terceiro: as mudanças de
comportamento dependem de profundas transformações interiores
e, às vezes, levam anos. Alguns só começam a mudar quando se
sentem aceitos como são, sentem-se amados e sabem que
alguém espera seu crescimento com carinho e sem ansiedade.
Jesus era sumamente paciente com os pecadores, com os
imperfeitos e com os infiéis (Lc 23,33-34). Ele olhava com
compaixão, com carinho tão humano e divino as fraquezas e
imperfeições de seus discípulos.
Não podemos ser pacientes com o coração cheio de ira,
raiva, rancor e antipatias. Perceber que a pessoa age assim por
causa de alguma ferida não curada, pelo sentimento de
inferioridade, por recordações que lhe causam sofrimentos, etc.
nos ajuda a acolher o outro com paciência, demonstrando grande
força interior e nobre grandeza de alma.
A ansiedade. A ansiedade é uma espécie de “nervosismo”
ou pressa interior permanente. Por fora, a pessoa pode aparentar
calma, mas dentro é apressada. Sente uma necessidade
imperiosa de resolver todos os problemas. A pessoa quer terminar
rapidamente tudo o que deve fazer, sem deixar nada pendente.
Quando está fazendo alguma coisa, está pensando no que terá
que fazer depois. A pessoa ansiosa se atropela, atropela os
demais e seus processos. Não dá a atenção devida a Deus ou às
pessoas com as quais trata. Ouve-as pensando no que deverá
responder ou no que terá que fazer depois. Não saboreia a vida,
as relações, o trabalho, Deus, etc. A pessoa ansiosa tem desejos
de ser ilimitada, de fazer tudo imediatamente, de experimentar
11
tudo sem perder nada, de ter tudo sob o controle, sem que nada
escape ao planejamento e à atividade. Doce ilusão. Não
perdemos o controle de nada, perdemos a ilusão de que em
algum momento tivéssemos o controle de alguma coisa. A vida é
também improviso, novidade, surpresa, impensado e imprevisto.
Planejar é necessário, mas sem pretender prever e preparar tudo.
Os planos de Deus podem nos levar por caminhos nunca
pensados e planejados. Para o ansioso, a atividade deixa de ser
fonte de satisfação e se torna cansaço, desgaste. No fim do dia,
encontra-se exaurido em suas forças.
Algumas vezes o olhar do outro nos torna ansiosos pela
preocupação de sermos eficientes, darmos conta do trabalho,
agradar-lhes, buscar ser amado e aprovado. Certas atividades
tornam-se uma obsessão a serviço da auto-estima, no lugar de
serem prazerosas e libertadoras.
Quando há ansiedade, há desordem. Com a mente cheia
de projetos e vivendo antecipadamente tudo, na multidão de
pensamentos reina uma grande confusão e nada é bem feito. O
ansioso não faz nada com qualidade, bem feito, com alegria.
Pensa que viver é fazer mil trabalhos desordenados de uma só
vez.
A Palavra de Deus nos convida a deter-nos em cada coisa,
em cada pessoa, em cada atividade. O Senhor nos convida a
crescer com um coração sereno, calmo, sem angústias ou pressa
diante do seu olhar de amor. Deus conhece nossas capacidades
sem termos que provar nada. Ele percebe até a oferenda da viúva
pobre (Lc 21,2-4).
Jesus passou quase toda a vida trabalhando na
obscuridade e simplicidade de Nazaré como carpinteiro. Ele se
detinha longamente com as pessoas (Jo 3,1-21; 4,1-28; Lc 19,1-10).
Ao contrário de suportar as pessoas, olhava-as com profunda
atenção amorosa (Mc 10,21). Convidava seus discípulos a se
deterem na contemplação da natureza (Lc 12,24-27; Jo 4,35) e
dos gestos das pessoas (Lc 21,2-3). Nada de pressa. Os outros e
a realidade mereciam sumo respeito, dedicação, tempo e atenção
afetuosa. Sabia que só vive em profundidade quem é capaz de
fazer tudo com sentido e com certa tranqüilidade. Maria, a mãe de
Jesus, ao conservar “cuidadosamente” tudo no seu coração
(Lc 2,51), não permanecia na superfície; refletia sobre a vida,
12
5. Posse do novo Pároco de Contagem
Na noite do dia 24 de março de 2008 o Padre Tadeu Porto,
C. M., foi empossado como Pároco da Paróquia Nossa
Senhora de Fátima, Contagem, M.G. Conferiu-lhe o mandato
Pe. Afonso de Fátima Ribeiro, Vigário Episcopal, delegado
pelo Arcebispo Dom Valmor O. de Azevedo.
Compareceram à celebração o Provincial, Pe. Agnaldo, diversos Coirmãos da região de Belo Horizonte, seminaristas e o
povo de Deus da referida Paróquia, assim como uma pequena
caravana da Paróquia do Pai Misericordioso, onde padre
Tadeu atuou como Vigário Paroquial.
Foi uma celebração simples e bonita.
Atuou como
cerimoniário o Ir. Luís Carlos do Vale, conforme orienta a
Sagrada Liturgia da Igreja.
6. Notas de Falecimento
Braz José de Paula
* 05/04/1935
† 14/04/2008
Bráz José de Paula,
filho de José Benedito de
Paula e Zulmira Delfina do
Nascimento, nasceu no dia
05/04/1935, em Formiga (MG).
Casado com Helena Valadão
de Paula (13/06/1960) era pai
de 5 filhos: Pe. Agnaldo,
Edlamar, Édla, Edilene, Aparecida Estelamar. Mineiro de pouca
conversa e discreto, a seu modo, sempre se mostrou dedicado pai
com imensa admiração pelo filho, pelas filhas, netos e netas.
Como trabalhador braçal era respeitadíssimo pelos seus
companheiros, amigos e patrões.
61
uma maneira saudável e comprometida com o carisma vicentino,
não sendo uma mera cumpridora de tarefas e atividades, mas
uma família que testemunha a ternura do Ressuscitado.
4. Abertura do Seminário Interno – 2008
No dia 15 de janeiro deste ano (2008), às 8 horas,
aconteceu a cerimônia de abertura do Seminário Interno
interprovincial da Congregação da Missão no Brasil.
A Celebração Eucarística, na Capela São Vicente de Paulo,
em Petrópolis (RJ), presidida pelo Pe. Fernando Barbosa dos
Santos (Visitador da Província de Fortaleza) e concelebrada pelos
Padres Agnaldo Aparecido de Paula (Visitador da Província do Rio
de Janeiro) e Fantico Nonato Borges Silva, contou com a
participação de representantes de alguns ramos da Família
Vicentina, da Comunidade do Sertão do Carangola e da
Comunidade Católica Jesus Menino.
saboreava fatos e acontecimentos, penetrava em tudo com a luz
do amor. Sabia que tudo tem seu tempo e sua hora.
A nós, ao contrário, a ansiedade nos torna superficiais
porque nos leva a passar rapidamente de uma atividade a outra,
sem nos aprofundarmos em nada. Com o coração ansioso não
somos capazes de nos deter em coisa alguma. Não suportamos a
quietude. Não sabemos saborear o mais agradável das coisas.
Não está no momento de nos curarmos da impaciência e da
ansiedade para deixarmos o Espírito de Cristo agir mais e melhor
em cada um de nós?
Pe. Paulo Roberto Gomes, M.S.C.
Os Seminaristas que foram admitidos ao Seminário Interno
são: José Valdo dos Santos Filho (PBCM), Luciano Alves Dias
(PBCM) e Eurismar Silva de Sousa (PFCM).
Nesta mesma celebração, o Pe. Fantico Nonato Borges
Silva assumiu o ofício de Diretor do Seminário Interno
Interprovincial.
Nos meses de janeiro e fevereiro, o Pe. Fantico será
auxiliado pelo Pe. Eduardo Raimundo dos Santos, até que em
março o Pe. Paulo Eustáquio Venuto assuma o ofício de
administrador da Comunidade Local, sendo auxiliar da formação e
dando atendimento à Comunidade do Sertão do Carangola.
60
13
Situando o Laicato Vicentino no coração
da Igreja da América Latina
“Considerarão que não pertencem a uma congregação religiosa,
já que esse estado não vai bem com as ocupações de sua
vocação. (...)
Vosso mosteiro é a casa dos enfermos (...).
Vossa cela é vosso quarto de aluguel. Nisso sois semelhantes a
Nosso Senhor.
Tendes como capela a igreja paroquial, na qual tendes que
assistir o santo sacrifício e dar bom exemplo, sendo edificação do
povo, ainda que sem deixar por isso o serviço necessário aos
enfermos.
Vosso claustro são as ruas da cidade, pelas quais tendes que ir
para atender os enfermos.
Vosso claustro é a obediência, já que a obediência tem que ser
vossa clausura, não passando nunca além do lugar para onde vos
chamaram e mantendo-vos fechadas ali dentro.
Por grade, tereis o temor de Deus. E por véu levareis a santa
modéstia”
(Conferência de 24 de agosto de 1659 – ES IX, 1178-1179).
Pe. Toni, Pe. Raimundo, Wanderson, Fernando; Paróquia Pai
Misericordioso: Pe. Antônio Gomes; Nova Belém: Paulo Veloso; o
retiro da comunidade realizou-se nos dias 27, 28 e 29 de março
na cidade de Igarapé - MG, com o tema “testemunhando o Cristo
Ressuscitado na vida comunitária”, momento de reflexão e muito
silêncio, sendo nós ajudados pelo Pe. André Ferraz, o qual
proporcionou e provocou profundas análises das atitudes
incoerentes com a opção que foi feita por cada propedeuta.
Num clima de Jesus Ressuscitado, no dia 25 de março
esta comunidade realizou a celebração eucarística festiva e
posteriormente participou de uma deliciosa confraternização, onde
houve muita alegria e comunhão entre todos os membros da
comunidade; mais uma vez, a pedido do provincial da PBCM, os
propedeutas participaram da homenagem feita aos jubilandos de
nossa província, proporcionando felicidades e muita satisfação
aos que festejavam seu jubileu de idade, vocação, ordenação e de
votos.
A comunidade do Instituto do São Vicente de Paulo é
constituída hoje por 10 propedeutas, sendo eles: José Nunes (2º
de filosofia e 3º de propedêutico); Marcelo Santos (1º de gestão
pastoral e 4º de propedêutico); Mirandi (1º gestão pastoral e 2º de
propedêutico); Paulo Dantas (1º de filosofia e 2º de propedêutico);
Gilberto Leandro (1º de filosofia e 2º de propedêutico); Edimilson
Vicente (1º de filosofia e 2º de propedêutico); Paulo Veloso
(filosofia concluída, 1º propedêutico); Fernando (1º propedêutico);
Daniel (1º propedêutico); Wanderson (1º propedêutico); também
formam essa comunidade os padres: Alexandre Nahas (superior
da casa), Vandeir (formador), Weliton (auxiliar de formação e
SAV), Raimundo João (coordenador da FV de BH) e Antônio
Gomes.
Nesta ocasião é possível pontuar que a equipe de
formação e os propedeutas se encontram em festa pela chegada
de seus novos membros. A fase que esta comunidade vive agora
é de conhecimento mútuo, em que muitos largaram recentemente
a família originária e optaram por outra família, a qual deve
possuir um caráter intenso de acolhimento e de amizade sincera.
Aqui se pode afirmar que, em meio a uma multiplicidade de dons
e características diversas, é possível concretizar a fusão e a
unidade de forças e desejos comuns. Esta comunidade vive de
59
14
3. Novos Seminaristas (Propedêutico) e Semana Santa do
I.S.V.P.
“Aqui se vive a ternura”
A comunidade do Instituto São Vicente de Paulo no ano de
2008 recebeu mais cinco membros: Pe. Vandeir (formador);
Fernando, de Paraibuna-SP; Wanderson, de Alvorada-TO; Daniel,
do Senhor do Bonfim-BA e Paulo Veloso, de Nova Belém-MG. A
entrada desses novos membros afirma que esta comunidade se
caracteriza pela multiplicidade de culturas; com isso, é construída
a identidade primeira dessa casa, pois é na superação das
diferenças culturais e da personalidade individual que resulta
uma comunidade alegre, dinâmica, irmã, acolhedora e acima de
tudo comprometida com o projeto cristão.
Neste primeiro trimestre de 2008 a comunidade teve
diversas atividades, sendo elas: inicio de ano; retiro; Semana
Santa missionária: celebração da páscoa na comunidade;
homenagem aos jubilandos; participação em atividades
provinciais; envio de representantes para integração da família
vicentina do regional de Belo Horizonte (José Nunes e Edimilson
Vicente); vida pastoral bem comprometida. Dentre estas
atividades é possível destacar e pormenorizar: o início do ano
letivo aconteceu oficialmente no dia 19 de fevereiro na casa São
Justino de Jacobis,
momento
em
que
também aconteceu a
emissão e a renovação do Bom Propósito
dos residentes da
casa São Justino de
Jacobis; na semana
santa a comunidade
do ISVP assumiu sua
missionaridade
e
colocou-se a caminho,
sendo os membros
enviados para diversas localidades de Minas Gerais (Francisco
Badaró: Pe. Vandeir, Marcelo Santos e Mirandi; Santo Antônio de
Itambé: Pe Alexandre, José Nunes, Paulo Dantas e Gilberto;
Paróquia Pio X: Edimilson; Bertópolis: Danil; Taquaraçu de Minas:
58
Apesar de este texto ser a Carta Magna de São Vicente de
Paulo às Filhas da Caridade, constituídas mais tarde como
Sociedade de Vida Apostólica e, por isso, participante da Vida
Consagrada, o que nos interessa aqui é a intenção de São
Vicente, que, diante da grande pobreza e falta de assistência dos
pobres e sofredores de seu tempo, organizou, ao lado de Santa
Luisa de Marillac, a Companhia das Filhas da Caridade, uma
associação de jovens leigas, totalmente dedicadas aos Pobres,
que se consagravam anualmente para tal serviço, doando, para
isso, sua vida, suas energias e sua capacidade de amar.
Vicente de Paulo é, certamente, alguém que aceitou, para
dar respostas coerentes ao seu tempo, o desafio da
secularização, não pensada como secularismo, como abandono
de Deus e do sagrado em favor das autonomias, liberdades e
individualidades modernas e contemporâneas, mas secularização
pensada como capacidade de entrever o mundo, perceber a
dinâmica que lhe é intrínseca, tomar consciência da
inexpressividade e do arcaísmo das fórmulas de evangelização e
serviço do mundo de então e ainda propor alternativas eficazes e
seguras para a transformação da sociedade e da Igreja. Vicente
de Paulo está convicto de que a máquina do mundo não funciona
de maneira natural, pura, desinteressada. Percebe com clareza
que há um processo de controle do mundo e de exclusão social,
de irresponsabilidade diante da vida e de abandono de princípios
irrenunciáveis ética e religiosamente.
Por isso, em sua Carta Magna às Filhas da Caridade, São
Vicente seculariza as formas tradicionais de consagração e
evangelização, tudo relativizando para melhor compreender o
mundo e inserir evangelizadores qualificados no coração sofrido
do mundo, com o intuito de, realmente, resolver ou, pelo menos,
apontar possibilidades para emperar tamanha desordem e
miséria. Seu processo de secularização parte de uma mudança de
mentalidade, que não mais vê o clero como único promotor do
Reino, mas seculariza a evangelização, colocando-a nas mãos
dos leigos, “homens e mulheres do século, do mundo”; faz com
que as formas que asseguravam a tranqüilidade e a ordem
religiosa sejam todas colocadas a serviço de uma nova
perspectiva: a inserção no mundo e a proximidade com os pobres
e sofredores, possivelmente as únicas formas possíveis de real
evangelização. Muda, inclusive, o conceito de Deus, de um Deus
15
intocável, mítico e senhor de um mundo em ordem, para o Deus
misericordioso, que sofre com os seus e entrega a história como
espaço de libertação e humanização.
Uma outra palavra para este desafio da secularização
assumido por Vicente de Paulo é inserção no mundo. Seu grande
objetivo era colocar, no mundo, pessoas do mundo com o coração
transformado por Deus e abrasado pela caridade de Nosso
Senhor. Em vez do grande mosteiro, gradeado e murado, o lugar
do seguidor de Jesus é a casa dos Pobres, verdadeiro lugar da
experiência de Deus, desviada do privilégio litúrgico-monástico
para a vida cotidiana e serviçal. A cela, lugar do escondimento e
da experiência de Deus, é agora o quarto de aluguel, a
experiência-limite da carência e do abandono, da falta de
segurança institucional e da cotidianidade da vida pobre e
peregrina, sempre dependente dos irmãos, das pessoas próximas
e do trabalho remunerado, para assegurar a própria subsistência.
Em vez de capela pessoal e reservada, organizada para uma
pequena elite eclesiástica, a igreja paroquial, onde as pessoas se
encontram, os laços podem ser refeitos e a experiência de Deus é
feita por pessoas concretas, não idealizadas, por pessoas que se
encontram entre si e com Deus e não por pessoas separadas da
vida concreta e real. Por fim, como claustro, o espaço do
descanso e da meditação, os seguidores de Jesus inseridos no
mundo têm as ruas da cidade, o lugar do conflito e do encontro,
do trabalho e da fadiga, da peregrinação e da construção de
novas realidades, do esforço e das possibilidades do novo.
“Existem duas frases recentes que, em sua expressividade
concreta, esclarecem bem o que esse apressado diagnóstico
teológico poderia deixar em abstração difícil e pouco
compreensível. A primeira – “uma Igreja que não serve, não
serve para nada” – é do bispo Jacques Gaillot e expressa
muito bem a necessidade, da parte da Igreja, de descentrarse de si mesma para, conforme o encargo e o exemplo de
Jesus, encontrar sua genuína essência na entrega à missão
salvífica no mundo. A segunda é de Eduardo Schillebeeckx e
indica, admiravelmente, por seu expresso contraste com o
paradigma antigo, a profundidade do repensamento que se
nos exige: ‘Fora do mundo não há salvação’”1.
2. Missionário Vicentino premiado
No dia 23 de fevereiro, a revista espanhola “Mundo Negro”,
dos Missionários Combonianos,
concedeu o Prêmio “Mundo Negro à Fraternidade 2007” ao
nosso Coirmão, Padre Pedro
Opeka, por seu empenho em
favor da promoção dos mais
pobres em Madagascar. Pedro
Opeka, filho de imigrantes eslovenos, nasceu em San Martín,
Buenos Aires (Argentina). Há 33 anos, vive e trabalha em
Madagascar como Missionário. Com um grupo de voluntários,
começou, num pequeno terreno onde funcionava um depósito de
lixo, a construção das primeiras moradias do que viria a ser mais
tarde a cidade de Akamasoa, hoje com mais de 20 mil habitantes.
Atualmente, há mais de 7 mil jovens matriculados nas escolas
locais e em seus cursos profissionalizantes (carpintaria, mecânica,
artesanato, etc.). Terminada a preparação teórica e técnica
exigida, os mesmos jovens podem ser empregados nas oficinas
onde foram formados para a transmissão do que aprenderam.
Nestes tempos, em que queremos descobrir caminhos novos para
mudar as estruturas geradoras de pobreza, sirva-nos de
inspiração o exemplo deste nosso Coirmão. Eslovênia e Mônaco
propuseram o nome do Padre Opeka para o Prêmio Nobel da Paz.
Ele já recebeu vários prêmios e condecorações internacionais,
incluindo a Medalha da Legião de Honra, máxima distinção
francesa. Para conhecê-lo melhor: www.perepedro.com
1
QUEIRUGA, Andrés Torres. Um Deus para hoje. Trad. João Rezende Costa.
São Paulo: Paulus, 2003. 2.ed. p.41-42.
16
57
Exatamente por esta sua característica secular, de
inserção e acolhimento generoso e alegre do mundo, os
movimentos leigos ganham na Família Vicentina um amplo
espaço e uma legitimidade sem igual, sendo, pode-se dizer, uma
de suas marcas fundamentais e estruturais.
1. Encontro dos Responsáveis da Família Vicentina
De 31 de janeiro a 2 de fevereiro de 2008, celebrou-se em
Roma, na Cúria Geral da Congregação da Missão, o Encontro
Anual dos Responsáveis Internacionais da Família Vicentina.
Ao todo, eram 24 participantes, representando 13 ramos. Dentre
os assuntos tratados, destacam-se os seguintes: a) Celebração da
solenidade de São Vicente de Paulo 2008, com a proposta de
continuidade da reflexão iniciada no ano passado sobre o Projeto
“Mudança de Estruturas”; b) Primeiras sugestões para a
comemoração dos 350 anos da morte de São Vicente e de Santa
Luísa, em 2010; c) Comunicações a respeito do Projeto “Mudança
de Estruturas”, incluindo a possibilidade de subsidiar projetos de
promoção humana e social, valendo-se dos recursos colocados à
disposição dos Ramos por uma Fundação Internacional, e a
proposta de sessões continentais para os Assessores da F.V.; d)
Estudo sobre a pertença de pessoas em situações particulares às
Associações da F.V.; e) Informes sobre os lugares históricos
vicentinos; f) Representação da F.V. na ONU e na União
Européia; g) Encontro da Juventude Vicentina por ocasião da
Jornada Mundial da Juventude (Sidney-Austrália). Todos os
participantes saíram do Encontro ainda mais convictos da
atualidade da herança espiritual e apostólica que nos foi legada
por São Vicente. Uma síntese da ata do evento e a carta do
Superior Geral sobre o mesmo estão disponíveis em:
www.famvin.org. A próxima reunião terá lugar em Madri, de 30 de
janeiro a 1º de fevereiro de 2009.
56
A Associação Internacional de Caridades – AIC, a
Sociedade de São Vicente de Paulo – SSVP, a Juventude Marial
Vicentina – JMV, a Associação da Medalha Milagrosa – AMM, os
Missionários Leigos Vicentinos – MISEVI e alguns outros
movimentos formam um imenso contingente de homens e
mulheres, jovens, adultos e crianças que se dispõem à
evangelização e, particularmente, ao serviço aos Pobres, na
busca da construção de mundo mais justo e solidário.
Esta consagração no mundo, a partir das realidades
concretas em que cada leigo e leiga se situa, parte da convicção
de que todos formam o Povo de Deus, que “está constituído em
sua maioria por fiéis leigos, chamados por Cristo como Igreja,
agentes e destinatários da Boa Nova da Salvação, a exercer no
mundo, vinha de Deus, uma tarefa evangelizadora indispensável”
(Santo Domingo 94).
De fato, é irrenunciável para os leigos, na eclesiologia de
hoje, a missão evangelizadora, concebida não mais como
suplência, para os lugares e situações em que há falta de clero,
mas como verdadeira missão batismal, constitutiva de sua
experiência e conseqüente dignidade batismal, “ponto de início de
toda espiritualidade cristã que se funda na Trindade” (Aparecida
240). Uma vez inseridos na vida de Deus, por Jesus Cristo, na
ação do Espírito Santo, o fiel assume para si a graça do próprio
Senhor, participando intimamente de sua vida e de sua missão, de
suas opções e de suas escolhas, de seus sonhos e de seu
destino. “Como todos os membros da Igreja, participam da tríplice
função profética, sacerdotal e real do Cristo, em vista da
realização de sua missão eclesial” (Medellín 10,8; cf. Puebla 786;
Aparecida 209). Revestido do Espírito de Cristo, são chamados a
fazer de própria vida uma oferenda agradável a Deus, uma
profecia para o mundo, um testemunho eloqüente da misericórdia
do Senhor.
17
“Exorto-vos, pois, irmãos, pela misericórdia de
Deus, a que ofereçais vossos corpos como hóstia
viva, santa e agradável a Deus: este é o vosso culto
espiritual. E não vos conformeis com este mundo,
mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a
fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus,
o que é bom, agradável e perfeito” (Rm 12,1s).
Certos de que “a fidelidade e coerência com as riquezas e
exigências do seu ser lhe conferem a identidade de homem de
Igreja no coração do mundo e de homem do mundo no coração da
Igreja” (Puebla 786; cf. Aparecida 209), pode-se afirmar que a
santidade leiga vicentina está intimamente ligada à intensidade e
efetividade com que se insere no mundo concreto, com todas as
suas demandas e exigências. Não existe santidade sem inserção
nem inserção sem santidade, isto é, toda forma de seguimento de
Jesus, na compreensão carismática vicentina, passa pela inserção
no mundo dos sofredores e pela solidariedade com os mais
pobres e desamparados. Os Pobres são, neste sentido, condição
sine qua non do seguimento de Jesus, crivo da verdadeira
espiritualidade, razão de ser de qualquer movimento vicentino,
sujeitos da transformação do mundo e espaço sagrado da
experiência de Deus.
E, para fortalecer esta espiritualidade missionária como
caminho seguro de santidade, alguns princípios devem ser
estabelecidos para os leigos e leigas da Família Vicentina, no
intuito de apontar-lhes horizontes espirituais e possibilidades
missionárias. Conseqüentemente, após olhar os princípios que
devem nortear a atuação e a vida de santidade missionária dos
leigos, é mister que se apresentem alguns desafios que, mais que
depressa, precisam ser considerados, refletidos e viabilizados. E
isso se fará seguindo os documentos da Igreja na América Latina,
são a partir do qual olhamos a realidade e experienciamos nosso
carisma.
ética e espiritualidade para um outro mundo possível; mobilização
social: sujeitos em ação; mediação de conflitos; políticas sociais
na construção da cidadania; o projeto como instrumento de gestão
e de avaliações.
Com este curso, auxiliados pela nossa formação e
observando os ensinamentos de São Vicente, pretendemos fazer
uma retrospectiva histórica da cultura ocidental, na ótica das
ciências humanas, para entender o processo de construção e
significação da ética e da espiritualidade, aprofundar a reflexão
crítica sobre o mundo globalizado, buscando uma nova
consciência espiritual e ética. Contribuir com a reflexão crítica
sobre a sociedade atual, possibilitar a apropriação de alguns
elementos importantes para a análise da sociedade, despertar um
interesse crítico sobre a realidade atual, proporcionar uma visão
histórica dos movimentos sociais no Brasil, possibilitar uma
compreensão e discussão do papel dos movimentos sociais hoje,
compreender a atuação dos movimentos sociais que têm atuação
no Distrito Federal e nos arredores.
É com esse intuito que acolhemos os desafios da missão,
propondo-nos novas reflexões, levando-se em conta a altitude da
meta a ser alcançada e de tudo que está implicado, segundo o
Evangelho, no nosso encaminhamento para ela, sabendo que não
podemos assinalar limites para os dons de Deus.
De toda conveniência é, enfim, que a nossa formação
comece e termine inserida no projeto de serviço aos Pobres, como
quer São Vicente de Paulo, veiculada pelas condições da
historicidade, feita a partir de um acontecimento, feita por meio da
experiência junto ao povo sofrido e abandonado. Uma formação
desenvolvida segundo uma lei de progressão, como no
processamento de que, de fato, dão testemunho os dois
Testamentos.
A nossa vocação realiza-se no presente, mas com abertura
para o futuro. É a nossa destinação quando confiamos na
bondade divina. Ainda não somos o que Deus quer de nós, mas
com nossa história e com a nossa formação queremos convergir
para Deus a cada dia. Que assim Deus nos inspire palavras e
ações em nossa missão.
João Paulino da Silva Neto
Hélio Correia Maia
18
55
Temos a certeza de que, para ser discípulo de Jesus, o
Missionário do Pai, é indispensável fazer a experiência
profundamente pessoal e intransferível de encontro com Jesus,
capaz de marcar um antes e um depois em minha vida. Assim
aconteceu na vida de Vicente de Paulo, que, ao ir ao encontro do
Pobre, encontrou a Deus, urgente e escandalosamente
estampado no rosto e no grito daqueles miseráveis da França do
seu tempo. Nesse sentido, o projeto da Família Vicentina constitui
caminho atual e autêntico para o discípulo que anseia por esse
encontro com Jesus, sem o qual não se constrói e não se assimila
uma espiritualidade radicalmente evangélica.
Continuemos caminhando com passos firmes rumo ao
horizonte missionário que o Cristo nos oferece, pois temos a
garantia de que "ele estará sempre conosco até o fim dos tempos"
(Mt 28,20).
Pe. Emanoel Bedê Bertunes, C. M.
Formação dos Nossos / Experiência formativa em Brasília
Em fevereiro de 2007, chegamos à Congregação da
Missão para iniciarmos os estudos e a caminhada vicentina,
Hélio, já tendo o curso de filosofia e vindo da Ordem dos
Carmelitas, e eu, João Paulino, também com o mesmo curso,
vindo do Seminário da Diocese de Patos de Minas. No primeiro
semestre, estudamos no Instituto São Vicente de Paulo,
juntamente com os estudantes de filosofia e o propedêutico.
Seguindo as normas da Congregação da Missão e os
desígnios de Deus, fomos enviados em missão para a Paróquia
de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa do Riacho Fundo II, em
Brasília.
Aqui, tendo como base os valores deixados por São
Vicente e as regras que fundamentam a formação dos estudantes
vicentinos, sob a orientação de nosso formador, Padre Manoel
Bonfim, iniciamos, na Universidade Católica de Brasília (UCB), um
curso para formação de líderes, que tem as seguintes temáticas:
54
Princípios
ü “Apostolado no contexto de um compromisso histórico libertador”
(Medellín 10,4): Toda ação evangelizadora tem como meta a
construção do Reino de Deus, que é dom do Pai, que deve ser
acolhido com generosidade e disposição pelos fiéis.
ü “Compromisso impregnado pelas circunstâncias peculiares de
seu momento histórico presente” (Medellín 10,9): A ação
evangelizadora e a santidade de vida e nas relações partem,
necessariamente, do chão concreto em que se vive. A história
presente é o espaço único de realização da santidade e o
campo acertado da atuação dos filhos e filhas de Deus.
ü “Evangelização da mentalidade e dos costumes, das leis e das
estruturas” (Medellín 10,9): A santidade não é algo apenas
pessoal, fechado no mundo das individualidades. O projeto do
Reino é para toda a sociedade e deve chegar até às estruturas
sociais, a fim de que, a partir da mudança das consciências,
convertidas pela força do Espírito, segundo o paradigma de
Jesus, o Reino de Deus se estenda para todas as dimensões
da vida e da existência.
ü “Vocação laical situada na Igreja e no mundo” (Puebla 787): O
leigo é aquele que mais propriamente está inserido no mundo
como Igreja, como batizado, seguidor de Jesus, e, na Igreja,
como cidadão do mundo, autônomo, livre e responsável, que
pensa amplamente e não a partir da tutela das grandes
instituições.
ü “Promoção do bem comum, na defesa da dignidade do homem
e de seus inalienáveis direitos” (Puebla 792): A santidade e a
evangelização têm como objetivo a promoção do bem comum,
atentando-se especialmente para os mais sofredores e para as
grandes situações em que a morte está minando a vida.
ü “Inteligência e aptidão para uma ação eficaz” (Puebla 793): A
atuação dos leigos na evangelização garante a inteligência e a
aptidão necessárias para a eficácia da missão da Igreja. Sua
presença no mundo, sua formação profissional e as
possibilidades inerentes à vida secular facilitam a
compreensão da Igreja sobre o mundo e a escolha de
métodos e projetos eficazes para a construção do Reino de
Deus, sem contar com a colaboração de todas as ciências
sociais e humanas e o próprio desenvolvimento das técnicas e
do conhecimento.
19
ü “Pobres que evangelizam Pobres” (Santo Domingo 94): O
leigo tem a grande vantagem de estar em um mundo muito
concreto, marcado por desigualdades e esperanças, valores e
desacertos. E a partir deste mundo concreto, falando de igual
para igual, os Pobres recebem missionários que fazem a
mesma experiência de sofrimento e luta que eles.
ü “Credibilidade da fé manifestada na autenticidade e na
coerência de sua conduta” (Aparecida 210): O testemunho de
vida marca a autenticidade da pregação do Evangelho e do
acolhimento da proposta de Jesus. Fé traduzida em atitudes
existenciais.
ü “Participação ativa e criativa na elaboração e execução de
projetos pastorais” (Aparecida 213): Valorização do leigo como
protagonista do processo de evangelização e responsável
autêntico pela missão da Igreja. Missão que não acontece
apenas na execução de projetos, mas que se inicia em sua
elaboração e sistematização.
ü “Construção da cidadania e de eclesialidade pelos leigos como
um só e único movimento” (Aparecida 215): Compreensão
unitária da existência, pensando a Igreja como inserida no
mundo e participante de seu destino e o mundo como espaço
histórico da realização humana.
Desafios
ü “Fomentar uma espiritualidade própria de leigos” (Medellín
10,17).
ü “Não se fechar em si mesmos e não se aferrar a estruturas
demasiado rígidas” (Medellín 10,4).
ü “Descobrir na realidade a presença do Senhor” (Puebla 797).
ü “Promover um laicato livre de todo clericalismo” (Santo
Domingo 97).
ü “Transformar as realidades para a construção de estruturas
justas segundo os critérios do Evangelho” (Aparecida 210)
ü “Sólida formação doutrinal, pastoral e espiritual” (Aparecida
212).
ü “Abrir a mentalidade do clero para entender o leigo e aceitá-lo
como co-responsável” (Aparecida 213).
Pe. Marcus Alexandre Mendes de Andrade, C. M.
20
Com isso, avaliamos que o curto período das missões
serviu mais como pré-missão do que propriamente Missão.
4. A continuidade de um projeto missionário
O projeto missionário do Regional do Rio de Janeiro da
Família Vicentina é de planejar as Missões na Paróquia São
Pedro e Santa Edwiges para três anos. Estivemos lá e
conhecemos (in loco) a realidade e suas exigências. Agora é
preciso "avançar para águas mais profundas" (cf. Lc 5,4),
continuar nos preparando para o trabalho na Messe do Senhor.
Voltamos para casa desafiados e inquietos com tudo o que vimos
e ouvimos e animados e convictos de que estamos caminhando
na direção correta, apontada pelo Mestre: "O Senhor me enviou
para evangelizar os Pobres" (Lc 4,18).
Um dos horizontes apontados pelo documento final da
Conferência de Aparecida, para o qual nos chama a atenção o Pe.
Comblin, é "orientar toda a ação da Igreja para a missão, missão
que tem como protagonistas os leigos. Estes vão ajudar a Igreja a
retomar o caminho missionário e a ir ao encontro dos que estão
longe da paróquia, daqueles que nem a linguagem e nem a ação
centralizadora da paróquia conseguem alcançar. O documento
convida à conversão pastoral de nossas comunidades, a qual
deve nos levar, além de uma pastoral de mera conservação, para
uma pastoral decididamente missionária" (cf. n. 370).
Percebe-se que o projeto missionário da Família
Vicentina está em sintonia com os anseios da Igreja LatinoAmericana. Assim como a Igreja deve se deixar renovar pela ação
transformadora do Espírito e ter a coragem de se abrir à
renovação pela conversão, revitalizando sua ação missionária,
também a Família Vicentina, à luz do Espírito e a exemplo de seu
patrono, Vicente de Paulo, deve continuar a caminhada
missionária, atenta e sensível aos sinais dos tempos, às novas
realidades de missão, às suas exigências e desafios para que seja
sempre sinal profético e fecundo da graça de Deus no seio da
Igreja e na vida do Povo de Deus.
53
escolas não são suficientes para atender ao número de crianças e
adolescentes. Há uma falsa sensação de paz garantida pela
existência de milícias que substituem o poder da polícia. Os
moradores vão buscar em outros bairros os serviços de banco e
correios. A praia de Sepetiba, que constituía a principal opção de
lazer da região, está poluída.
O panorama religioso não difere muito dos grandes
centros urbanos. O pluralismo é evidente e é assustador o número
de "religiões" de linha pentecostal. Encontram-se pequenas
igrejas com os nomes mais variados possível. Também é
significativo o número de espíritas e praticantes de umbanda e
candomblé. O mais preocupante e desafiador à evangelização é o
crescente número de indiferentes ou dos que se declaram sem
nenhuma religião. Já afirmam cabalmente que mais de 50% da
população não se denominam católicos.
3- As Missões
As Missões aconteceram somente em nove comunidades,
divididas em sete setores. O método aplicado encontra-se no
Evangelho, sugerido pelo próprio Jesus, Missionário do Pai: "Vão
de dois a dois e visitem todos os que os acolherem..." (cf. Mt 10,515). Durante o dia, abordamos as famílias através das visitas, que
constituem a atividade prioritária e mais intensa da missão; a noite
é sempre reservada para os encontros celebrativos e atividades
formativas.
No que tange às visitas, alguns pontos nos chamaram a
atenção e servem de iluminação para rever a metodologia das
Missões Vicentinas, quando na região a ser missionada não
houver características rurais: muitas casas fechadas (pois o povo
levanta tarde e os que levantam cedo estão para o trabalho); a
receptividade foi maior por parte dos não-católicos, o que pede do
missionário abordagem mais ecumênica; dos que se
denominavam católicos, boa parte não se entusiasmou com a
visita do missionário e quase sempre havia uma boa desculpa
para não o receber.
52
MEMÓRIA DA BEATIFICAÇÃO DE IRMÃ
LINDALVA JUSTO DE OLIVEIRA, F.C.
Tarde do dia 2 de dezembro
de 2007. O sol reverberava no horizonte. Uma multidão de aproximadamente 25 mil pessoas enchia as
arquibancadas do estádio Manuel
Barradas (Barradão), em Salvador
(Bahia), para a solene celebração
eucarística de beatificação da Irmã
Lindalva Justo de Oliveira, jovem
Filha da Caridade de São Vicente de
Paulo, martirizada no ano de 1993. O
Povo de Deus reunido, leigos e leigas provenientes das 116
paróquias da Arquidiocese de Salvador, bispos e padres de várias
outras dioceses, religiosas e religiosos vindos de diferentes
lugares associavam-se à transbordante alegria da Família
Vicentina ao celebrar o reconhecimento oficial do testemunho de
uma de suas Irmãs, agora proposta como autêntico modelo de
vida cristã.
A Família Vicentina esteve representada por mais de 600
Filhas da Caridade, oriundas de diversas partes do mundo,
sobretudo das Províncias latino-americanas, juntamente com a
Superiora Geral, Irmã Evelyne Franc, e o seu Conselho. O
Superior Geral, Padre Gregory Gay, impossibilitado de fazer-se
presente, foi representado pelo Padre Giuseppe Guerra,
Postulador Geral. Lá estava também o Diretor Geral das Irmãs,
Padre Javier Álvarez, bem como os Diretores de grande parte das
Províncias ali representadas, além de outros Coirmãos. Não
21
menos significativa foi a participação de numerosíssimos leigos e
leigas vicentinos de diferentes ramos, tais como a Associação
Internacional de Caridades (AIC), a Juventude Marial Vicentina
(JMV) e a Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP).
Missões Populares Vicentinas
em Sepetiba e Nova Sepetiba - RJ
"Discípulos e Missionários de Jesus Cristo"
A cerimônia de beatificação foi precedida por um tríduo,
celebrado nos dias 28, 29 e 30 de novembro, na Capela do Instituto Nossa Senhora do Salette, colégio das Filhas da Caridade,
para o qual todo o Povo de Deus fora convidado. As celebrações,
preparadas com esmero pelas Irmãs e realizadas no final da tarde
de cada dia, constavam de cantos, orações e reflexões inspiradas
na Palavra de Deus e na vida
de Irmã Lindalva. No dia 1 de
dezembro, houve uma solene e
concorrida Vigília de Oração.
Nela, foi exposta pela primeira
vez à veneração dos fiéis a
imagem de Irmã Lindalva, entronizada na capela por suas
companheiras de Seminário, ao
som do seu belo hino, que tem
como refrão: “Seguindo a voz
do seu Senhor, Lindalva segue sem hesitar. Vai em busca de
Jesus, o seu amor, com a missão de servir e se doar”2. Ali,
relemos a experiência do apóstolo Paulo, à luz do significado mais
profundo da oblação de nossa mártir: “Quem nos separará do
amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a
nudez, os perigos, a espada? (...). Mas em tudo isso somos mais
que vencedores, graças àquele que nos amou” (Rm 8, 35-37).
1- A Família Vicentina
Há algum tempo que o Regional da Família Vicentina no
Rio de Janeiro vem se organizando através de reuniões,
encontros, celebrações... Em termos de organização e articulação
dos diversos ramos da Família, tudo é muito incipiente. Os
primeiros passos ainda são recentes. Não obstante, os primeiros
frutos começam a aparecer, a saber: o Dia de Oração em comum
para celebrar a solenidade de São Vicente de Paulo, os encontros
mensais dos representantes dos ramos da Família, os encontros
de formação missionária e, mais recente, as Missões Populares
Vicentinas.
As Missões Vicentinas aconteceram de 12 a 27 de janeiro,
na Paróquia São Pedro e Santa Edwiges, em Sepetiba e Nova
Sepetiba, zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. Estiveram
representados cinco ramos da Família Vicentina: Congregação da
Missão, Filhas da Caridade, Sociedade de São Vicente de Paulo,
Missionários Leigos Vicentinos (MISEVI) e Associação da
Medalha Milagrosa. Eram cerca de trinta missionários de fora e
cem missionários locais que trabalharam intensamente durante os
quinze dias de Missão, visitando casa por casa, celebrando,
convivendo, evangelizando, sendo evangelizados, aprendendo,
ouvindo...
2
O hino é de autoria da Irmã Maria Helena Azevedo, F.C.
22
2- A realidade do local
A Paróquia São Pedro e Santa Edwiges compreende dois
bairros da zona oeste da capital fluminense: Sepetiba e Nova
Sepetiba. Nos dois, a população gira em torno dos oitenta mil
habitantes. O contexto sócio-político é de muita pobreza. Falta
quase tudo que se espera encontrar num bairro: infra-estrutura em
geral, saneamento básico (os esgotos correm a céu aberto),
pavimentação das vias públicas, transporte satisfatório, saúde e
educação de qualidade. Há um único hospital na região. As
51
da Igreja como de todas as repartições públicas responsáveis por
promover o bem estar do povo.
Em todas as comunidades foram realizados encontros com
jovens, com crianças e com famílias, caminhadas, vias sacras,
orações, partilhas e troca de experiências de fé. Assim, o povo se
animou e se preparou para a festa de São Sebastião e para o
encerramento da Missão que aconteceu com uma caminhada
onde o povo de Taquaraçu e os missionários carregaram o andor
de São Sebastião, de São Vicente de Paulo e o Cruzeiro da
Missão que foi fincado na praça ao lado da Igreja Matriz.
Finalizamos a segunda etapa da Missão Popular Vicentina
em Taquaracu de Minas com uma avaliação da qual extraímos
significativas propostas para a Igreja local e para a Pós-Missão
que compreende a terceira etapa; um trabalho de formação para
as lideranças leigas e para o povo da paróquia do Santíssimo
Sacramento.
Queremos finalizar com as palavras do Padre José Pedro
Mol, que disse: “Taquaraçu de Minas não será mais a mesma
depois das Santas Missões Populares Vicentinas”.
Que São Vicente de Paulo e Nossa Senhora das Graças,
nos ajudem e nos dêem mais ousadia e esperança nessa
caminhada missionária.
Pe. Raimundo João da Silva, C. M.
Seminarista Vanderlei dos Reis
50
A beatificação aconteceu no dia 2 de dezembro, no
contexto do lançamento do novo projeto pastoral arquidiocesano e
da renovação do compromisso missionário daquela Igreja Local. O
Cardeal Dom Geraldo Majella Agnelo, arcebispo de Salvador e
primaz do Brasil, presidiu a celebração eucarística, ladeado por
mais de uma dezena de bispos e 300 sacerdotes. O rito de
beatificação foi oficiado pelo Cardeal Dom José Saraiva Martins,
prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, enviado do
Papa Bento XVI para esta finalidade. No Decreto Pontifício que
inscreve Irmã Lindalva no número dos Bem-aventurados, lê-se o
seguinte: “Nós, acolhendo o pedido do Arcebispo de São Salvador
da Bahia e Primaz do Brasil, Cardeal Geraldo Majella Agnelo, e
das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, bem como de
muitos irmãos no Episcopado e de muitos fiéis, depois de ter
recebido o parecer da Congregação das Causas dos Santos, por
força de nossa autoridade apostólica, concedemos que a
Venerável Serva de Deus Lindalva Justo de Oliveira, das Filhas da
Caridade de São Vicente de Paulo, entre as quais se consagrou,
por amor de Cristo, para servir aos seus irmãos, doravante seja
chamada bem-aventurada, e se possa celebrar a sua festa nos
lugares determinados segundo as regras estabelecidas pelo
direito, no dia 7 de janeiro”. Logo após a proclamação da nova
bem-aventurada, aplaudida entusiasticamente por todo o povo
reunido, procedeu-se à entrada das relíquias, fragmentos de suas
costelas e de sua falange,
conduzidas por sua mãe e por
um de seus irmãos, ao som do
seu hino. Fato notável e raro é
uma mãe tomar parte na
beatificação da própria filha. A
figura veneranda da D. Maria
Lúcia da Fé, do alto de seus
85 anos de idade, com seu
semblante emocionado e seus
passos lentos, causaram grande comoção a toda a assembléia. À
comoção, associávamos um sentimento de profunda gratidão
23
pela filha que gerou e generosamente ofereceu a Deus para o
serviço dos Pobres na Companhia das Filhas da Caridade. No
mesmo momento em que as relíquias eram levadas ao presbitério,
um painel com a foto da jovem mártir, colocado à esquerda do
altar, era descerrado. Nele, a Bem-aventurada Lindalva aparece
com o seu olhar sereno, tendo nas mãos a imagem do Cristo
Crucificado e, como pano de fundo, vê-se o Abrigo Dom Pedro II,
lugar da sua doação diária e do seu holocausto de amor. Impelida
pela caridade abrasadora do Crucificado, que conservava diante
dos olhos para tê-lo sempre impresso em seu coração, Lindalva
acolheu como dom de Deus a missão que lhe fora confiada,
fazendo de toda a sua vida um contínuo sacrificium laudis na
oferta de si mesma aos Pobres, concretamente àqueles velhinhos
do Abrigo. Esta consagração total de Irmã Lindalva ao Senhor
para o serviço despretensioso e humilde aos menores dos seus
irmãos constitui, pois, a principal chave de leitura do seu martírio.
As relíquias, colocadas perto do painel, foram ornadas por um
belo arranjo de lírios brancos, símbolo já consagrado da pureza de
coração, de que nos fala o Evangelho (cf. Mt 5,8) e que traduz a
virtude da transparência, característica das pessoas autênticas e
coerentes que se esforçam por amar a Deus com o coração
indiviso. O arranjo foi levado pela Superiora Geral e pela
Visitadora da Província de Recife. Concluído o rito de beatificação,
a celebração continuou o seu curso normal, no contexto do 1º
Domingo do Advento, fazendo-nos reviver espiritualmente a
esperança messiânica pela vinda do Salvador, acalentada pelo
povo de Israel, para acolhermos a permanente visita que o Senhor
nos faz e assumirmos a atitude fundamental da vigilância,
preparando-nos para um novo e definitivo parto da salvação de
Deus em nossa história, quando seremos conduzidos à plenitude
no amor. Neste caminho, serve-nos de estímulo o testemunho de
radicalidade evangélica da Irmã Lindalva.
Santas Missões Populares Vicentinas
em Taquaraçu – MG
Na primeira etapa, destacaremos a importância da
aceitação e da confiança que o pároco se dispôs a nos dar e a
sua colaboração em forma de presença amiga, e compreensão,
de muito ânimo e motivação. Para o povo, a notícia da Missão
despertou a curiosidade e a expectativa da chegada dos
missionários. Tudo isso contribuiu para que a Missão fosse
realizada com sucesso.
A segunda etapa foi propriamente a Missão que se iniciou
no dia 6 de janeiro com a chegada dos missionários na praça da
Matriz. Foram recepcionados pelo Pároco Pe. José Pedro Mol, e
pelo povo de Taquaraçu, com canções regionais e queima de
fogos.
Às 16 horas, o Arcebispo emérito de Belém do Pará, Dom
Vicente Zico, C. M., presidiu a celebração da Missa de abertura da
Missão e o envio dos missionários, entregando a cada um deles
uma cruz, o símbolo da Missão redentora de Jesus Cristo. Em
seguida, o prefeito da cidade, Marcílio Bezerra da Cruz, entregou
a chave da cidade ao Pe. Raimundo João da Silva, C. M.,
demonstrando a aceitação, recepção, alegria e acolhida do povo
de Taquaraçu de Minas aos Missionários.
No dia seguinte à beatificação, houve uma Eucaristia na
Catedral Basílica, também presidida pelo arcebispo de Salvador.
Nesta ocasião, pela primeira vez, foi celebrada a memória litúrgica
Milhares de famílias da região urbana e rural de Taquaraçu
receberam a visita de missionários, até mesmo as famílias
evangélicas e de outras religiões acolheram com carinho os
visitantes. Nesse sentido tivemos diversos desafios, enfrentamos
o indiferentismo religioso da parte de alguns, a falta de
compromisso com a fé e a religião por parte de outros e diversos
indicadores de problemas sociais que merecem a atenção tanto
24
49
Colégios. Não precisamos dar nomes. Nós o sabemos e mais o
sabe Deus que tem os Sacerdotes na palma de sua mão. Destes
cinco Jubilandos, apenas o nosso Padre Sebastião Dias não se
acha aqui no Retiro, por causa de sua cruz da cegueira cada vez
mais pesada. Mas seus 60 anos de Sacerdócio estão no coração
de Deus e de São Vicente nosso Fundador.
Também para estes queridos Coirmãos que celebram seu Jubileu
Sacerdotal queremos juntar nossas vozes de toda Província para
cantar com eles seu Salmo de ação de graças rezando:
Dai graças ao Senhor, porque ele é bom. Eterna é a sua
misericórdia.
TODOS: Dai graças ao Senhor, porque ele é bom. Eterna é a
sua misericórdia.
CONCLUINDO: Queremos, em nome de toda a Província, dos
que aqui se encontram e dos que não puderam comparecer,
apresentar a todos estes 16 Coirmãos no seu Jubileu ou de VIDA,
ou de VOCAÇÃO, ou de CONSAGRAÇÃO, ou de SACERDÓCIO,
NOSSOS PARABÉNS E NOSSO MUITO OBRIGADO, pelo
exemplo que deixam para toda a Província, de que vale a pena
fazer parte daquele terceiro grupo que não volta atrás, que não
pára, que continua a subida até o mais alto que Deus quiser.
Estes nossos Coirmãos nos fazem lembrara a águia pequena “que
nasceu para voar...e outro dia, outra vez recomeçar...não sou
águia se lá em cima eu não morar...vou ser quem sou e só assim
serei feliz.”
Convido a todos para cantarmos no final de nossa Celebração
com todos nossos Jubilandos presentes e ausentes o hino de
ação de graças daquela que é Mãe de Cristo, Mãe da Igreja e
nossa Mãe: O MAGNIFICAT
Pe. Luiz de Oliveira Campos, C. M.
da Bem-aventurada Lindalva Justo de Oliveira, Virgem e Mártir,
com os textos próprios aprovados pela Santa Sé3. Digna de
particular menção é a Oração do Dia, comum à Missa e à Liturgia
das Horas, cujo conteúdo ressalta o serviço aos Pobres,
concretização histórica da caridade cristã e do carisma vicentino,
como pólo dinamizador do martírio de Irmã Lindalva e o seu
principal legado apostólico4. No final da celebração, a Superiora
Geral dirigiu palavras de agradecimento por parte de toda a
Companhia a todos quantos colaboraram para a magnífica
realização do evento, primeira beatificação ocorrida no nordeste
brasileiro5.
Vinícius Augusto R. Teixeira, C. M.
3
O formulário litúrgico próprio da Bem-aventurada Lindalva Justo de Oliveira,
traduzido do latim para cinco línguas, já se encontra disponível no site da
Postulação Geral da Congregação da Missão e das Filhas da Caridade:
www.vincenziani.com/SpecialeLindalva.
4
A Oração diz o seguinte:“Ó Deus, que na Bem-aventurada Lindalva
consagrastes o serviço aos pobres com a coroa do martírio, concedei-nos, por
sua intercessão, que, praticando as obras do vosso amor, saibamos oferecer a
nossa vida como sacrifício que vos agrade”.
5
48
No âmbito da Família Vicentina, Irmã Lindalva é a primeira latino-americana a
ser declarada bem-aventurada. Outros processos estão em andamento, sob os
auspícios da Postulação Geral da Congregação da Missão e das Filhas da
Caridade [Ver a excelente coletânea de perfis biográfico-espirituais dos modelos
de santidade da Família Vicentina organizada por nosso Postulador Geral:
GUERRA, Giuseppe (org.). I Santi della Famiglia Vincenziana. Roma:
Vincenziane, 2007].
25
4º MOMENTO: JUBILANDOS DE SACERDÓCIO
BEM-AVENTURADA JOSEFINA NICOLI, F. C.
Caridade sem medidas
Mais uma vez, o horizonte da
santidade se descortina diante dos
filhos e filhas de São Vicente de
Paulo. No dia 3 de fevereiro de 2008,
em Cagliari (Itália), Irmã Josefina
Nicoli (1863-1924), da Companhia das
Filhas da Caridade, foi inscrita no rol
dos Bem-Aventurados como autêntico
modelo de vida cristã, destemida
servidora dos Pobres, formadora e
animadora de suas Irmãs e exímia
educadora da juventude.
Josefina Nicoli nasceu a 18 de
novembro de 1863, em Casatisma
(Pavia), uma pequena cidade do norte
da Itália. Junto aos pais, seu coração
foi forjado no amor a Deus e ao próximo. Este amor, fecundado no
silêncio da oração e renovado continuamente na doação de si
mesma aos irmãos, permanecerá indelevelmente gravado em seu
íntimo até os últimos dias de sua vida, como dirá, no vigor de sua
maturidade humana e espiritual, numa de suas Instruções:
“Somos Filhas da Caridade: ‘A Caridade de Jesus Cristo nos
impele’. Amamos Nosso Senhor, como diz São Vicente, ‘com o
suor da fronte e com a força dos braços’. Amemo-lo sem medidas,
com toda a nossa mente, com todo o nosso coração, alegrandonos com tudo aquilo que glorifica a Deus”. É o amor afetivo e
efetivo, de que falava São Vicente às primeiras Irmãs (cf. SV IX,
475) e que Josefina seguirá comunicando a quantos dela se
aproximarem.
26
1 – Padre Geraldo Nunes Costa – 08.12.1943 – 65 anos.
2 – Padre Sebastião Agatão Dias – 26.09.1948 – 60 anos.
3 – Padre Célio Maria Dell’Amore – 28.09.1958 – 50 anos.
4 – Padre Antônio Gomes Pereira – 28.09.1958 – 50 anos.
5 – Padre Wilson Belloni – 28.09.1958 – 50 anos.
Para os cinco Coirmãos muito queridos de nossa Província que
neste ano de 2008 comemoram seu Jubileu Sacerdotal de 65, 60
e 50 anos de SACERDÓCIO, e para todos nós que neste Retiro
meditamos bastante sobre a ternura de Deus, vale a pena buscar
em São Vicente, o arauto da ternura de Deus, algumas palavras
sobre o PADRE, saídas do coração profundamente sacerdotal de
São Vicente: Em Pierre Coste, volume 11, página 7, assim
podemos ler: “O caráter sacramental dos Sacerdotes é uma
participação do Sacerdócio do Filho de Deus que lhes deu o poder
de sacrificar o próprio corpo e dá-lo em alimento afim de que os
que dele comerem, tenham a vida eternamente...
Existe algo maior e mais admirável? Oh! meus irmãos, um bom
padre é uma grande dádiva...Dos Padres depende a felicidade do
Cristianismo.” Foi por isso com toda certeza que São Vicente
trabalhou tanto para colocar na Igreja e na França bons Padres. E
seus filhos, como estes cinco Coirmãos Jubilandos vão
trabalhando pelo mundo afora para serem bons Padres e
formarem bons Padres. Deus seja louvado.
E no mesmo Pierre Coste, volume 12, página 85, encontramos:
“Não há nada maior que um bom Padre, a quem Cristo dá o poder
de perdoar pecados.”
Nós que conhecemos estes nossos cinco Coirmãos que celebram
e celebraram seu Jubileu Sacerdotal, temos certeza de que estão
e estarão todo este ano cantando seu Salmo de ação de graças
por estes totais 275 anos de VIDA SACERDOTAL.
Paremos um pouquinho e imaginemos: Quantas missas, quantos
batismos, quantas absolvições, quantas unções, a quantos
doentes, quantas homilias, quanta catequese, quantas horas de
escuta, quantas horas de estudo, quantos momentos de oração,
quanta dedicação, quer nos Seminários, quer em nossas Casas
de Formação, quer em Colégios ou Paróquias?
São Sacerdotes que viveram anos e anos nos Seminários, anos e
anos em paróquias, anos e anos em nossas Casas de Formação,
anos e anos na Administração da Província, anos e anos em
47
Lemos em nossas Constituições e Estatutos: “Desejando
continuar a missão de Cristo, consagramo-nos a evangelizar os
Pobres durante toda a nossa vida. Para cumprir esta Vocação
abraçamos a Pobreza, a Castidade e a Obediência segundo
nossas Constituições e Estatutos. Por um quarto Voto especial de
Estabilidade, prometemos dedicar-nos ao fim da Congregação
durante todo o tempo de nossa Vida na dita Congregação,
executando os trabalhos que nos forem prescritos pelos
Superiores, segundo as Constituições e Estatutos.
Que nossa homenagem aos quatro Coirmãos Jubilandos de Votos
sirva de estímulo e de exemplo para nosso Irmão Adriano Ferreira
Silva, que daqui a pouco vai se consagrar a Deus por estes quatro
Votos. Entre estes Coirmãos queremos lembrar particularmente
nosso Coirmão Sebastião Mendes Gonçalves nas terras de
Moçambique, que está concretizando o Carisma Vicentino
expresso em Lucas 4,22, que vamos relembrar cantando:
CANTO: REPOUSA SOBRE MIM
Refrão: Repousa sobre mim / o Espírito do Senhor. / Ele me
escolheu, / me consagrou, me enviou! / Ele me escolheu, / me
consagrou, me enviou! /
1 – Para celebrar a sua glória / entre os povos. / Para dilatar o seu
Reino / entre as nações. / Para anunciar a alegria e a paz. / Para
consolar os corações.
Refrão: Repousa sobre mim...
2 – Para proclamar / a Boa Nova a seus Pobres. / Para anunciar a
libertação aos seus. / Para publicar o Ano do Senhor. / Exulto de
alegria em Deus!
Refrão: Repousa sobre mim...
Também para nossos Jubilandos de Votos, agradecemos
rezando:
Dai graças ao Senhor, porque ele é bom. Eterna é a sua
misericórdia.
TODOS: Dai graças ao Senhor, porque ele é bom. Eterna é a
sua misericórdia.
Chegamos, assim, ao quarto momento de nosso Salmo de ação
de graças:
O seio familiar foi o terreno fértil onde a vocação de
Josefina lançou suas primeiras raízes e de onde extraiu a seiva
que tornaria frondosa a sua caridade. De seu pai, aprendera o
amor a Deus como único absoluto e a capacidade de enfrentar a
dor com serenidade. De sua mãe, mulher de grande sensibilidade
humana, aprendera o valor da oração na vida cristã e a
preocupação para com os sofredores. Ainda criança, Josefina se
transferiu com a família para a cidade de Voghera. Ali, encontrou
como pároco o Padre Giacomo Prinetti. Logo, confiou-se à sua
direção espiritual. Padre Prinetti, entrevendo a largueza de
coração que caracterizava Josefina, jovem de inteligência
brilhante e com notável inclinação para o serviço dos Pobres,
falou-lhe do carisma e da missão das Filhas da Caridade,
sugerindo que entrasse em contato com as mesmas quando
julgasse oportuno. Aos 14 anos, Josefina passou pela dilacerante
experiência da morte de sua irmã Paulina, de apenas 2 anos de
idade. Um ano depois, a morte visitaria novamente a sua casa,
levando seu irmão Giovanni. Esses acontecimentos marcaram-na
profundamente, fazendo-a refletir sobre o mistério da vida e a
provisoriedade de todas as coisas. Despertou, então, para a
necessidade de amadurecer o seu desejo de consagrar-se
inteiramente a Deus.
Seguindo o exemplo de sua irmã, que acabara de formarse em Florença, Josefina, com apenas 16 anos, já se preparava
para ser professora. Devido à sua inteligência e perspicácia, logo
se tornou a primeira da classe e, três anos depois, em Pavia,
obteve o diploma com a mais elevada pontuação. Retornando a
Voghera, ambiente ideal em que lhe parecia mais vivo o ideal
missionário, tomou a iniciativa de ensinar a meninas pobres em
sua própria casa, descobrindo e desenvolvendo sempre mais sua
habilidade para o magistério. Em julho de 1883, animada por seu
diretor espiritual, escreveu à Visitadora da Província de Turim que,
apenas uma semana depois, lhe respondeu favoravelmente,
aceitando o seu pedido para ingressar na Companhia das Filhas
da Caridade. Com lágrimas nos olhos, despediu-se de sua família
tão amada. Todos, porém, sabiam reconhecer, na decisão de
Josefina, a amorosa iniciativa de Deus.
46
27
Acolhida pela Visitadora, Josefina iniciou o Postulado a 24
de setembro de 1883, pouco antes de completar 20 anos. Passou
apenas 3 meses no Postulado. Foi, então, enviada a Paris para
começar o Seminário (Noviciado) na Casa Mãe, que vivia sob o
jubiloso influxo das manifestações da Virgem da Medalha
Milagrosa à jovem Irmã Catarina Labouré. Uma epidemia de
cólera, entretanto, obrigou as Irmãs italianas a retornarem
imediatamente à Província de origem. Depois de um ano no
Seminário, Irmã Josefina recebeu sua primeira destinação: o
Instituto Sappa, perto do lugar em que viviam seus país. Passados
apenas três meses ensinando às meninas, no dia 31 de dezembro
de 1884, foi enviada a Cagliari, na Sardenha, depois de uma
viagem de barco que a fascinou sobremaneira.
Em Cagliari, trabalhou como professora e catequista no
Conservatório da Providência, uma escola de prestígio entre as
famílias burguesas da cidade. Fiel ao carisma dos fundadores,
Irmã Josefina solicitou e obteve permissão para ocupar-se de um
grupo de jovens pobres que freqüentavam a escola gratuitamente.
Deste modo, ensinava às jovens burguesas uma importante lição
de vida, facilitando a integração entre as classes sociais. Em fins
do século XIX, o analfabetismo se alastrava em proporções
arrasadoras na região da Sardenha. Apoiada por Felice Prinetti,
irmão do pároco de Voghera, Irmã Josefina avançou ainda mais
em seu compromisso com a dignidade humana e conseguiu abrir,
perto do Conservatório da Providência, um internato para meninos
pobres. Além disso, ensinava o catecismo aos domingos aos
menores de rua e o fazia de tal maneira que todos desejavam
voltar. Nasceu o primeiro grupo dos “Luigini”, reunindo jovens sob
o auspício de São Luís Gonzaga. Além dos estudos, todos
encontravam ali sadios e oportunos momentos de lazer. Irmã
Josefina dirigia a Associação com muita alegria e com a sabedoria
necessária para que os Pobres se sentissem reconhecidos,
amados e estimulados na superação das situações de miséria e
abandono social. Sua atividade como professora caracterizou-se
por uma peculiar mansidão que a todos encantava, mas sempre
associada a uma admirável firmeza, indispensável a todo
processo de formação humana. Conhecia de perto seus alunos e
sabia considerar, na tarefa de educá-los, a realidade concreta de
cada um deles. Certa vez, escreveu: “O futuro depende
inteiramente da educação. Como poderemos cumprir essa
28
Pedimos para estes Coirmãos...”Aqueles que Vós chamastes,
conservai-os em vosso nome e santificai-os na verdade.”
Certamente estão na Congregação da Missão por causa do superbelo Carisma de São Vicente, o arauto da ternura de Jesus Cristo.
Jesus Cristo que é para São Vicente a suavidade dos homens e
dos anjos, nosso pai, nossa mãe, nosso tudo. Por isso repetimos
nossa prece de ação de graças:
Dai graças ao Senhor, porque ele é bom. Eterna é a sua
misericórdia.
TODOS: Dai graças ao Senhor, porque ele é bom. Eterna é a
sua misericórdia.
Vamos assim para o terceiro momento de nosso Salmo de ação
de graças.
3º MOMENTO: JUBILANDOS
CONSAGRAÇÃO A DEUS.
DE
VOTOS
OU
DE
1 – Padre José Izabel da Silva Campos – 19.03.1948 – 60 anos.
2 – Padre José Debórtoli – 25.01.1958 – 50 anos.
3 – Padre Sebastião Mendes Gonçalves – 25.01.1958 – 50 anos.
4 – Padre José Gonzaga de Morais – 31.05.1983 – 25 anos.
Será que basta entrar na Congregação da Missão, fazer parte da
Família Vicentina, seguir a Jesus Cristo Evangelizador dos
Pobres?
O próprio São Vicente, manifestou claramente a seus Padres que
esse seguimento não era um seguimento qualquer, mas um
seguimento sob a forma de uma CONSAGRAÇÃO, que se
aperfeiçoa através dos VOTOS, particulares sim, mas “Santos
Votos”, estabelecidos na Congregação da Missão, logo depois de
seus começos, ainda no tempo de São Vicente. E não contente
com os três Votos de Pobreza, Castidade, e Obediência,
acrescentou para os Padres e Irmãos da Pequena Companhia, o
quarto Voto específico de permanência ou Estabilidade na
Congregação.
E não se esqueceu de acrescentar para as Filhas da Caridade,
também um quarto Voto específico de Serviço a Jesus Cristo na
pessoa dos Pobres.
45
CANTO:
Com carinho, desenhei este planeta, /com cuidado, aqui plantei o
meu jardim. /Com alegria, eu sonhei um paraíso,/ para a vida, dom
de amor que não tem fim.
Refrão: Ponho, então à tua frente / dois caminhos diferentes:/
Vida e morte, e escolherás. / Sê sensato: escolhe a vida!/
Parte o pão, cura as feridas! / Sê fraterno e viverás.
Foi justamente para partir o pão, curar as feridas e ser mais
fraterno, que mais alguns Coirmãos Jubilandos um dia escolheram
a Família Vicentina ou melhor dizendo a Congregação da Missão
para nela viverem os anos também preciosos de suas vidas. E
assim chegamos ao segundo momento do Salmo de ação de
graças.
2º MOMENTO: JUBILANDOS DE VOCAÇÃO, OU ENTRADA NA
CONGREGAÇÃO DA MISSÃO.
1 – Padre Geraldo Nunes Costa – 30.01.1938 – 70 anos.
2 – Padre José Guido Branta – 24.01.1938 – 70 anos.
3 – Padre José Athanásio Coelho – 06.03.1938 – 70 anos.
4 – Dom José Carlos Melo – 23.03.1948 – 60 anos.
5 – Padre Luiz Roberto Lemos do Prado – 22.02.1983 – 25 anos.
Se é gratificante contar os anos de VIDA para bendizer ao Senhor,
por um dom maior que não tem fim, como deve ser gratificante
para Deus e para nós contar os anos de VOCAÇÃO, para
agradecer a Deus de todo coração, um chamado especial: a
VOCAÇÃO na Congregação da Missão.
Palavra bem escolhida, pois quem diz VOCAÇÃO está recordando
um apelo de Deus e a resposta positiva do homem para uma
Missão.
Todos nós que conhecemos bem estes Coirmãos, entre eles um
Arcebispo da Santa Igreja, que não pôde estar presente, sabemos
que estão cantando seu Salmo de ação de graças neste segundo
MOMENTO.
295 anos de vida plenamente vivida na Província Brasileira da
Congregação da Missão.
Contemplando a vida destes cinco Coirmãos Jubilandos dá-nos
vontade de rezar mais uma vez a prece tão bíblica e vicentina:
TODOS: ESPERANÇA DE ISRAEL...
44
missão? Tendo um elevado conceito deste serviço importante e
tentando preparar-nos para bem fazê-lo, estudando métodos que
ajudem a formar o caráter dos nossos alunos: paciência, doçura,
firmeza, serenidade”. Mulher de oração, sempre atenta às
exigências do Evangelho, procurava viver em grande harmonia
com suas Irmãs, conservando a unidade na caridade. Aos 25
anos, na noite de Natal de 1888, emitiu os Primeiros Votos.
Enquanto fazia o retiro preparatório, recebeu a notícia da morte do
seu irmão Francisco. Consternada, escreveu à sua mãe, com
quem mantinha assídua correspondência: “A cruz produz sempre
frutos de vida eterna”.
O ritmo de trabalho de Irmã Josefina era incessante, seu
espírito generoso a animava a estar sempre disponível para tudo
na Comunidade. Em 1892, demonstrou sinais de debilidade, com
sintomas de tuberculose. A Irmã Servente sugeriu-lhe que fosse
descansar em uma casa nas montanhas. O ambiente e o clima
favoráveis ajudaram Josefina a recobrar suas forças e, revigorada,
retornou a Cagliari. Ainda em seu período de descanso, recebeu a
dolorosa notícia da morte de seu pai e de sua irmã Italina.
Os anos seguintes foram marcados por uma intensa e
variada atividade. Aos 36 anos, foi nomeada Irmã Servente
(Superiora Local) do Orfanato de Sassari, instituição que prestava
um relevante serviço às moças pobres do lugar. A respeito de
Irmã Josefina, diziam as jovens: “Sua instrução era simples, tinha
algo especial, tocava o coração”. Teve um papel importante na
promoção da juventude local. Interessou-se também pelas jovens
da burguesia, reunindo-as na Associação das Dorotéias e
consagrando-as à missão de testemunho cristão no mundo. As
moças mais habilidosas que encontrava convidava a inscreveremse na Escola de Religião, que organizou para o aprofundamento
da doutrina cristã e a formação de futuras catequistas. Em sua
paixão educativa, privilegiava sempre a pessoa e a sua relação
com Jesus Cristo. Nisto, Irmã Josefina Nicoli tornou-se uma
verdadeira fonte de inspiração para todas as gerações,
especialmente para suas Irmãs de Comunidade. Era uma mulher
carismática no campo da educação. Seu método suscitava
interesse entre os alunos e, com o passar do tempo, tornou-se
uma referência para a juventude. Preocupava-se, sobretudo, em
elevar a condição das famílias pobres e dos órfãos. Preparava e
29
celebrava com os jovens a Primeira Eucaristia e as festas de São
Vicente e da Medalha Milagrosa. A tuberculose, entretanto,
consumia as energias de Irmã Josefina. Em 1904, esteve a ponto
de morrer, por causa de uma pneumonia que a prostrou. Dentro
de pouco tempo, porém, recuperou a saúde e voltou aos seus
trabalhos habituais. Os relatos de suas companheiras assinalam
que Josefina permanecia sempre alegre e serena, mesmo em
meio à dor.
Como Irmã Servente de sua Comunidade, Irmã Josefina
era a primeira a obedecer, conforme o desejo e a inspiração de
São Vicente (cf. SV IX, 526). Era, realmente, fascinante a maneira
amável, respeitosa e humilde com que tratava e acompanhava
cada uma das Irmãs. Certa vez, uma delas deu o seguinte
testemunho: “Era uma verdadeira mãe e serva para as Irmãs da
Casa”. Além disso, sabia escutar com atenção a comunidade,
compreender as Irmãs em suas hesitações e fragilidades e
acolher os conselhos e idéias de suas companheiras,
possibilitando o necessário consenso entre todas. Falando, numa
ocasião, às Irmãs que estavam sob sua responsabilidade,
assegurou:
“Para adquirir a caridade, devemos respeitar muito
os outros e aceitar as suas opiniões, desde que
não haja pecado. Se aquilo que for proposto for
bom, aceitemo-lo, mesmo quando isso não estiver
de acordo com a nossa maneira de pensar. Não é
necessário que nosso próprio julgamento
prevaleça. Para que a paz possa reinar numa
Casa, é absolutamente necessário que todos
estejam dispostos a sacrificar as suas próprias
opiniões. Sem isso, sempre haverá guerra”.
Sua grande disponibilidade missionária faria com que
Josefina aceitasse dois encargos diferentes de tudo o que vinha
desenvolvendo até então como educadora. Em 1910, aos 47
anos, foi nomeada Ecônoma de sua Província e, dezoito meses
depois, Diretora do Seminário, onde se destacou como exímia
formadora das jovens que, como ela, desejavam consagrar-se
inteiramente a Deus para o serviço livre e generoso aos mais
pobres. Sob sua sábia, prudente e segura direção, passaram 59
Irmãs. A Visitadora, ao escolher Irmã Josefina para o ofício de
30
1º MOMENTO: O DOM DA VIDA. JUBILANDOS DE VIDA.
“Dai graças ao Senhor, porque ele é bom. Eterna é sua
misericórdia.”
TODOS: “Dai graças ao Senhor, porque ele é bom. Eterna é
sua misericórdia.”
1 – Padre José Athanásio Coelho – 02.05.1918 – 90 anos
2 – Padre Ézio Rodrigues de Lima – 22.09.1918 – 90 anos.
3 – Padre Nilson Mota Grossi – 14.11.1928 – 80 anos.
4 – Padre Sebastião Carvalho Chaves – 30.10.1938 – 70 anos.
Mesmo sem máquina calculadora, podemos descobrir que são
330 ANOS DE VIDA que, somados também os anos bissextos,
dão mais ou menos 122.532 dias de vida.
Mas no nosso caso, não é importante o número de anos e de dias,
mas de maneira especial, a qualidade destes anos de VIDA.
Se a VIDA é o maior dom de Deus, quantos motivos para
agradecer.
E quando todas estas VIDAS foram entregues a Deus, primeiro
numa VOCAÇÃO especial, depois inteiramente consagradas
pelos VOTOS e finalmente tornadas SERVIÇO na Igreja, pelo
SACERDÓCIO, então temos certeza que todos os quatro
Jubilandos de VIDA cantam um Salmo de ação de graças e toda a
Província se junta a eles para rezar mais ou menos assim:
“Damos graças a Deus, pelo dom de nossas VIDAS, não pelos
frutos que colhemos, mas pelo terreno que preparamos e pelas
sementes que lançamos. Não pelas desilusões que tivemos, mas
pela esperança quem fundimos. Não pelos aniversários
numerosos que celebramos, mas pelo que fomos e fizemos
nestes anos todos. Não pelas tantas vezes que recebemos
parabéns, mas pelas vezes em que nosso aniversário se tornou
uma CELEBRAÇÃO DE VIDA.”
Transformar estes aniversários de nossos quatro Jubilandos de
VIDA nos leva a cantar como tantas vezes cantamos na
Campanha da Fraternidade deste ano de 2008:
43
Prezado Dom Serafim Cardeal Fernandes de Araújo,
mensageiro da ternura de Deus, em nosso retiro.
Prezado Padre Agnaldo Aparecido de Paula, nosso
provincial, incentivador desta homenagem.
PREZADOS JUBILANDOS DE VIDA, DE VOCAÇÃO, DE
VOTOS E DE SACERDÓCIO
Prezados Coirmãos e Seminaristas.
A PROVÍNCIA BRASILEIRA DA CONGREGAÇÃO DA MISSÃO
CANTA UM SALMO DE AÇÃO DE GRAÇAS, EM QUATRO
MOMENTOS: PELA VIDA – PELA VOCAÇÃO – PELOS VOTOS
E PELO SACERDÓCIO DE NOSSOS QUERIDOS COIRMÃOS
JUBILANDOS.
“Dai graças ao Senhor, porque ele é bom. Eterna é a sua
misericórdia
TODOS: Dai graças ao Senhor, porque ele é bom. Eterna é a
sua misericórdia.
Bendito Dom José Elias Chaves, que, no seu tempo de Provincial,
começou este costume de homenagear os Jubilandos de toda a
Província, no final de cada retiro.
E hoje, após mais de 30 anos, isto já se tornou uma tradição que
São Vicente de Paulo, o arauto da ternura de Deus, lá do céu
certamente aplaude, pois esta simples homenagem não deixa de
ser um gesto de ternura para com nossos Jubilandos.
Este ano quis a direção da Província que fosse eu o escolhido
para rezar um Salmo de ação de graças para os 16 ou 18
Jubilandos, pois os nossos Coirmãos Padre Geraldo Nunes Costa
e Padre José Athanásio Coelho são Jubilandos duas vezes.
Quem sou eu para compor um Salmo?
Mas penso, que posso ajuntar as ações de graças de todos os
Jubilandos e as nossas de toda a Província rezando à maneira do
Salmista no salmo 118, em quatro momentos:
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Diretora do Seminário, anotou em seu caderno: “Esta Irmã é um
verdadeiro exemplo do que significa ser uma Filha da Caridade”.
De fato, suas instruções eram ratificadas por seu testemunho de
autenticidade e realização na vivência da vocação: “Sirvamos a
Deus com fervor e alegria. O fervor alimentará a alegria e a alegria
conservará o fervor”. Escrevendo, certa vez, à sua própria irmã,
deixou transbordar de seu coração confiante estas palavras:
“Não desanime! Sirvamos alegremente a Deus,
tentando ter sempre confiança nele. Abandonemonos inteiramente a ele. Mesmo as nossas próprias
fraquezas e misérias devem aumentar nossa
confiança nele. Vivamos pacífica e alegremente
nos braços de Deus, como uma criança descansa e
está feliz nos braços de sua mãe”.
Em função de sua saúde cada vez mais precária, depois
de apenas nove meses como Diretora do Seminário, foi destinada
novamente a Sassari, mas o diretor do Orfanato preferiu recusar
sua presença. Irmã Nicoli, em silêncio, confiou-se aos superiores
que a enviaram para uma outra casa de acolhimento a crianças e
jovens pobres, em Cagliari. Passou a trabalhar, então, no Asilo da
Marinha. Era o ano de 1914, início da Primeira Guerra Mundial.
Em Cagliari, muitos jovens foram chamados para as frentes de
batalha. Havia fome, instabilidade e pobreza. A genialidade
caritativa de Nicoli atraía a atenção de muitos dos que passavam
pelo Asilo. A estes também orientava para a caridade ativa.
Fundou o primeiro círculo da juventude católica feminina de
Cagliari. Dedicava grande parte do seu tempo à formação
catequética dos jovens e criou a Associação das Josefinas,
reunindo jovens que pertenciam às classes mais elevadas, a fim
de despertar-lhes a sensibilidade humana para a compaixão e a
solidariedade com os Pobres.
Seus últimos dez anos foram os mais intensos de sua vida,
dedicando-se à formação da juventude, tanto daqueles que viviam
pelas ruas como daqueles que conseguia reunir em grupos. De
fato, fundou um grupo de jovens empregadas que vinham de
países vizinhos para prestar serviço às famílias mais nobres da
cidade. Chamou-as “Zitine”, porque colocadas sob o auspício de
Santa Zita, padroeira das empregadas domésticas. Reuniu, para
formação humana e espiritual, jovens que trabalhavam na fábrica
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nacional de cigarros. Incentivou e alargou a Associação das Filhas
de Maria, difundindo, com impressionante zelo, a Medalha
Milagrosa. Incentivou, no norte da Itália, a associação das Damas
da Caridade e, com elas, empenhou-se na assistência aos
Pobres, sobretudo às crianças abandonadas.
Naquela época, em Cagliari, o número de meninos de rua
crescia enormemente, sobretudo de órfãos. Abandonados, viviam
à procura de pequenos serviços, tais como carregar mercadorias
em cestos que levavam sobre a cabeça de um mercado para o
outro ou do mercado para as casas. Freqüentemente, enganavam
as pessoas e se envolviam em assaltos. O olhar de Irmã Nicoli
sabia ultrapassar as aparências. Conhecia cada um pelo nome,
socorria-os em suas necessidades mais urgentes, reunia-os em
grupos escolares e catequéticos para ensinar-lhes a ler e escrever
e instruí-los na fé. Desejava ardentemente que o caráter de cada
um deles amadurecesse na retidão e na verdade. Chamava-os
Marianelli, crianças pobres de Maria. Queria que todos
soubessem que, embora órfãos ou abandonados pela família,
tinham uma Mãe zelosa no céu. Esta fundação será como que o
coroamento do zelo apostólico de Irmã Nicoli. A obra que haverá
de identificá-la para sempre. Irmã Nicoli, a partir de julho de 1915,
pensou em recolhê-los e não hesitou em dedicar-se a este
empreendimento tão audacioso. Não só conseguiu melhorar a
situação dos menores de rua, lutando pelo reconhecimento pleno
e efetivo de sua dignidade, mas quis também catequizá-los,
levando-os à participação na Eucaristia. Para ela, promoção
humana e formação cristã deveriam andar sempre juntas.
Ensinava-lhes a ler e a escrever e se interessou em abrir-lhes a
possibilidade de aprender uma profissão. São facilmente
imagináveis as dificuldades e as incompreensões que sofreu:
muitos diziam que seria impossível transformar aqueles jovens e
que não seria conveniente dedicar-se àquela gente de índole
duvidosa. Mas Irmã Nicoli, radicada em sua intimidade com Deus,
não desanimou frente a essas resistências que, às vezes, partiam
de suas próprias Irmãs de Comunidade. É curioso notar que as
mesmas pessoas que se opuseram ao seu projeto ficaram depois
admiradas e convencidas da utilidade da obra. Esses desafios se
somam às provas que enfrentou nos últimos anos de sua vida. Em
1924, houve mudança na administração do Asilo e as tensões e
problemas se tornaram ainda mais estridentes entre o
administrador e as Irmãs. Pensou-se a retirada das Irmãs, mas
graças à serenidade, condescendência e inteligência de Irmã
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Parecia gostar da vida. Fazia os exercícios da fisioterapia
com disciplina, participava da terapia ocupacional, ia passear no
shopping ou no parque de diversão, juntamente com os Coirmãos
e a profissional responsável. Não recusava uma oportunidade de
visitar seus parentes em São Paulo. Tinha muito carinho e consideração por eles.
Tal foi à vida, tal foi à morte. Era antevéspera da festa de
nosso fundador. Numa manhã do dia 25 de setembro de 2004.
Ainda bem cedo, o Pe. Luís Veras, então responsável pelos
idosos, certificou-se do visível agravamento do estado de saúde
do Ir. Manoel. Conversou com o médico da casa e decidiram leválo para o hospital. Ficando cada vez pior, mas plenamente lúcido,
ele disse ao Pe. Luís que iria morrer e que queria receber a
Comunhão Eucarística. O Pe. Silvio prontamente trouxe a
Comunhão. Segundo testemunho do Pe. Veras, nosso Irmão
recebeu, como sempre, piedosamente a Eucaristia e sem fazer o
menor alarde partiu para a comunhão plena com Deus, a quem
tanto amou nesta terra.
Ir. Manoel Raimundo de Lima nasceu no dia 21 de maio de
1911, em Arapiraca-AL. Era filho de Antônio Raimundo de Lima e
Maria Antônia da Natividade. Entrou para o Seminário Interno de
Petrópolis em 1º de novembro de 1941. Pela sua vida, pela sua
consagração, pelo serviço prestado na Pequena Companhia:
Demos graças a Deus!
Pe. Francisco Ermelindo Gomes, C. M.
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alguém que tinha uma confiança irrestrita em Deus. Sempre falava
da bondade de Deus. Nada o fazia duvidar disso. A Ele se
entregava totalmente. Ir. Manoel tinha filial e terna devoção à
Virgem Maria. Freqüentemente o víamos rezando o terço. Era já o
seu breviário, pois não podia mais ler. Gostava de falar de Nossa
Senhora. Maria é chamada de Virgem do silêncio e o nosso Irmão
parece ter aprendido dela essa lição. Causava admiração, ou até
talvez inquietação, o seu silêncio. Falava pouco, mas quando o
fazia era capaz de edificar, de convencer, sobretudo, por causa do
seu modo de viver.
Convivi também com o Ir. Manoel no Trevo, quando aí
eram acolhidos os idosos e enfermos. Vindo de Campina Verde,
chegou à nossa Comunidade com o mal de Parkinson bastante
agravado. Tremia muito e andava com grande dificuldade. Estava
muito dependente. Aceitava com humildade e resignação as
ajudas necessárias. Foi medicado e reagiu muito bem aos
medicamentos. Seu estado geral melhorou sensivelmente.
Conseguia se alimentar sozinho, andar em volta da casa, etc.
Estando melhor, fazia questão de assumir o que lhe era possível
executar.
Nesses tempos de convivência, em Campina Verde e Belo
Horizonte, era notável o encantamento que o Ir. Manoel causava
nas pessoas. Era de uma discrição incomparável. Sua presença,
embora marcada pelo silêncio e pela discrição, marcava e fazia
eco em muitos corações. Recordo-me de que o finado Pe. Rafael,
quando nosso formador, sempre se referia ao Irmão como sendo
um santo. Sempre o tomava por referência.
Embora com a idade já bastante avançada, tinha uma
invejável memória. Estive com ele várias vezes em sua última
colocação, Casa Dom Viçoso, e nunca percebi vacilo algum em
suas palavras. Sempre notava alguma diferença e comentava. Se
engordou, emagreceu, deixou barba. Sabia onde a gente estava
trabalhando, perguntava pelos Coirmãos da Obra. Lembrava de
fatos antigos em Campina Verde. Enfim, seus comentários eram
sintonizados com a realidade.
Nicoli o problema foi pacificamente contornado. A administração
civil reconheceu o labor das Filhas da Caridade e, nele, o
empenho de Josefina.
Aos 61 anos, ainda empenhada no serviço da caridade,
Irmã Josefina Nicoli foi chamada pelo Senhor, a quem “pertencera
toda a sua vida”, conforme sua própria declaração. Quando
morreu, a 31 de dezembro de 1924, vítima da tuberculose, já era
conhecida por suas obras, mas, sobretudo, por seu fascinante
testemunho de santidade, vivido na alegria, na humildade e no
serviço generoso aos irmãos e irmãs. Em 1932, seus restos
mortais foram transladados do cemitério de Cáller para a Capela
do Asilo da Marinha, onde ainda se encontram. Sua vida, toda
doada a Deus e aos Pobres, concretizou o ideal que tinha sempre
diante dos olhos: “A Filha da Caridade é a encarnação da Divina
Providência. É a prova palpável do amor de Deus para com os
Pobres”.
A vida da Bem-aventurada Josefina Nicoli haverá de
inspirar-nos, onde quer que estejamos, uma comprometedora e
criativa adesão ao Projeto de Mudanças de Estruturas, a fim de
que possamos permanecer sempre ao lado dos Pobres e ajudálos a encontrar caminhos de superação das causas da pobreza, a
partir do respeito e da valorização dos direitos humanos
fundamentais.
Fontes Bibliográficas
• ANTONELLO, Erminio. Una mistica della carità: Suor
Giuseppina Nicoli. Roma: Edizioni Vincenziane, 1999.
• FIGLIE DELLA CARITÀ. Giuseppina Nicoli, Figlia della
Carità.
• MALONEY, Robert P. Cinque visages de Giuseppina
Nicoli. In: Echos de la Compagnie, Paris, n. 2, p. 111-119,
mars/avril 2004.
• MONJAS, Concepción. Josefina Nicoli (1863-1924). Un
testimonio para nuestro tiempo. Anales de la Congregación
de la Misión y de las Hijas de la Caridad, Madrid, n. 3, p.
273-281, mayo/junio 2007.
• NICOLI, Giuseppina. Scritti Spirituali: istruzioni alle
seminariste. Roma: Edizioni Vicenziane, 2001.
Vinícius Augusto R. Teixeira, C. M.
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IRMÃO MANOEL RAIMUNDO DE LIMA, C.M.
LOGOTIPO DA FAMÍLIA VICENTINA
A Família Vicentina vive e manifesta a espiritualidade de
São Vicente de Paulo, que expressou e tornou vida de um modo
particular a experiência do Evangelho. A espiritualidade vicentina
se caracteriza por sua encarnação no mundo, por tornar visível no
meio dos mais pobres a salvação que vem do Senhor.
O mundo, a realidade atual, é o campo de ação de toda a
Família e é nele que procuramos concretizar a mensagem
evangélica do Senhor Jesus.
O mundo é o horizonte de ação da Família Vicentina. O
logotipo o representa pela linha do horizonte em azul. As linhas
em cores de fogo e as verdes buscam traçar uma imagem do
mundo, com seus paralelos e meridianos... A sigla FAMVIN está
marcada por essas linhas, simbolizando o compromisso com o
mundo. A Missão confiada à Família Vicentina desde São Vicente
de Paulo é o anúncio da Boa Nova aos Pobres, a partir da ótica do
Cristo Pobre.
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É, sem dúvida alguma, uma tarefa bastante difícil falar de
um ser humano como o Ir. Manoel, para mim, personalidade ímpar
na bela e rica história de nossa querida PBCM.
No ano de 1988, ocasião em que fui a São Paulo participar
da ordenação diaconal de meu tio, Joaquim Lourenço, vi o Ir.
Manoel pela primeira vez. Nesse tempo, ele era o sacristão do
Santuário São Vicente de Paulo, Moinho Velho-SP. Tinha também
a função de fabricar e vender velas para os fiéis. Naquele dia o
contato foi pequeno, mas suficiente para perceber algo diferente
naquele pequeno-grande homem.
Cinco anos mais tarde, fui fazer o Ensino Médio no
Seminário Menor São Justino de Jacobis, em Campina Verde. Lá
estava o Ir. Manoel, bem mais alquebrado, mas persistente no seu
ministério de sacristão da bela e imponente matriz de N. Sra. da
Medalha Milagrosa. Sofria muito com o mal de Parkinson, sua
visão já estava bem diminuída, os passos curtos e meio
arrastados, mas não se lamentava. Fazia tudo com a mística do
serviço abnegado. De segunda a segunda, o lugar mais acertado
para encontrar aquele sereno ancião era a sacristia da matriz. Ora
fazendo velas, ora arrumando as alfaias, o altar, ligando e
monitorando o som para a missa e ou rezando. Ficava sentado e
de braços cruzados, como era seu costume, em frente ao
gabinete da aparelhagem de som, de onde através de um altofalante ouvia piedosamente toda a missa. Olhos fechados, postura
ereta. Concentrava-se tanto que não percebia que, às vezes,
alterávamos o volume do som pertinho dele. Chamava a atenção
o jeito com que ele lidava com os objetos sagrados.
Naqueles três anos, 1992-1994, pude perceber mais de
perto a riqueza da personalidade daquele homem tão pobre. Era
39
•
•
vem a eterna luta de classes: os pequenos ainda
privados das delícias do Paraíso.
Entrave Religioso – Hoje se trava um “estranhamento
silencioso” referente aos padres idosos. A busca
excessiva pela imagem chegou nos terrenos da Igreja.
Muitos preferem padres novos e bonitos a padres
idosos. Muitos buscam uma capela bela. Muitos
deixam de ser comunidade de fé onde moram para ser
flutuante onde a capela e o Vigário lhe agradam.
Muitas pessoas escolhem para se casar-se ou batizar
seus filhos não a paróquia onde moram, mas
suntuosas capelas.
Entrave Ético/Moral – A Síndrome de Peter Pan se
ostenta em 3 instâncias:
1º. A individualização – cada um quer ser belo (“espelho,
espelho meu, existe alguém mais belo do que eu?”). Tudo pela
beleza para se destacar diante dos pobres mortais.
2º. A Terra do Nunca – A negação do mundo real. É preciso um
mundo novo, onde a beleza particular convergirá com um
ambiente encantado.
3º. Tanto o 1º. como o 2º. elemento traz uma assustadora tese:
já não se sustenta a beleza forçada, mas é preciso que se
produzam pessoas “naturalmente” belas. Entram em cena os
bancos de óvulos e espermas, onde as pessoas vão escolher os
pais belos e inteligentes para seus filhos. A tese da Eugenia, uma
“turma” perfeita para um mundo perfeito (entram também em cena
os transgênicos).
Eis um interessante tema a ser refletido com profundidade,
tendo como princípio básico a igualdade de direitos e de
conquistas.
Pe. Alex Sandro Reis, C. M.
As linhas verdes, além de traçarem uma “imagem das
linhas” do mundo, formam uma cruz. A missão da Família
Vicentina é descobrir no rosto de cada Pobre o rosto do Senhor
Crucificado e Ressuscitado. Cada rosto é uma imagem do Senhor
que se apresenta a nossos sentidos e questiona a vocação
missionária de toda a Família. A cor verde recorda que é uma cruz
de vida e de esperança.
As outras três linhas que “seguem” a cruz recordam as três
grandes “vocações” dentro da Família Vicentina: Os Missionários,
as Filhas/Irmãs da Caridade e os numerosos grupos leigos:
Associação Internacional de Caridades, Sociedade de São
Vicente de Paulo, Juventude Marial Vicentina, Associação da
Medalha Milagrosa, Missionários Leigos Vicentinos, etc. Estas três
linhas, nas cores do fogo, recordam a ação constante do Espírito
Santo, sempre ativo dentro da vida da Família, suscitando a cada
momento novos horizontes e novas formas de ação, reafirmando
a expressão de São Vicente: “O amor é inventivo ao infinito”.
A fonte tipográfica com que se escreveu FAMVIN é a
Myriad web em minúsculas, uma forma de indicar a pequenez da
Família Vicentina face aos desafios do mundo e um modo de
assinalar a juventude e a esperança. Duas letras foram postas
mais escuras: o F de “família” e o V de “vicentina”. Uma Família
que se reafirma na herança espiritual de São Vicente de Paulo e
de Santa Luísa de Marillac. Uma estrela em azul pousa sobre o
“i”. Ao mesmo tempo serve de pingo na letra e simboliza e
relembra que a vocação vicentina, cristocêntrica em toda a sua
expressão, conta com o apoio e a proteção da Mãe do Salvador,
“Estrela da Evangelização”. O “i” é também a inicial de
internacional. Hoje é fácil constatar que, onde a Família Vicentina
está presente, existe um lugar consagrado à Virgem da Medalha
Milagrosa.
O logotipo se completa com o título da Família Vicentina
nas três línguas oficiais; se for necessário, o nome da Família
poderia escrever-se nas línguas de onde a Família se faz
presença constante como sinal de vida, de alegria e justiça para
os Pobres.
Alexis Cerquera Trujillo,
Seminarista da C. M.
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35
O Mundo em Espelhos
E por falar em mudança
de época (Informativo S.V. n.
269), daremos continuidade a
esse assunto sob outro aspecto:
o narcisismo.
Em toda a história da
humanidade nunca se falou
tanto em beleza como nos dias
de hoje.
Far-se-á uma breve análise sobre a beleza a partir de um
texto clássico:
A Fábula da Branca de Neve – Dois personagens são
evidenciados pelo autor: a Branca de Neve, protagonista, que traz
em si uma beleza rara e acima dos padrões normais; do outro
lado, a madrasta, antagonista, traz em si uma beleza comum.
Diante desses dois personagens há um ponto e um contraponto.
Enquanto Branca de Neve “esconde” sua beleza e torna públicas
suas virtudes, a madrasta busca no espelho a auto-afirmação de
que é a mais bela de todo o reino; ela também faz tornar pública
não sua virtude, mas a sua perversidade movida pela inveja. O
autor, através da beleza, quer tornar presente uma clássica luta: o
embate entre virtude e vício, o bem e o mal.
Nos tempos atuais, a imagem deixou de ser um elemento
contributivo para o crescimento da compreensão humana sobre
suas realidades para ser um paradigma radical de padrão de vida.
A corrida pela afirmação da beleza trouxe à humanidade vários
elementos que provocam mudanças no costume de um povo,
entre eles:
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1º. A Síndrome de Peter Pan - A busca doentia pela beleza leva
o ser humano a insistir no prolongamento de sua existência na
terra. O paraíso é aqui. A beleza torna-se antídoto contra tudo
aquilo que se reflete como efêmero (velhice, doença, enfermidade,
derrotas, pobreza e, é claro, morte). Esta busca leva as pessoas a
cultuarem uma imagem de eterna juventude, recorrendo à
indústria da beleza (plásticas, malhação excessiva, uso de
energéticos, roupas e adereços que passam a imagem de eterno
Peter Pan).
2º. A Síndrome da Terra do Nunca – Se ser jovem e belo é não
envelhecer, torna-se mister criar um ambiente que seja coerente
com a eternidade corporal. Para que o paraíso seja aqui, cria-se
toda uma estrutura para eternizar um ambiente encantado para
pessoas “encantadas”. Surge a “imagetização”, ou seja entra em
cena a Era da Imagem. É a imagem com cores vibrantes para
destoar de um mundo velho e caótico. É a imagem para se
sobrepor a um mundo com cores cinzentas de um mundo
fracassado. É a imagem que chega para mostrar que o mundo
encantado saiu das obras de ficção para se concretizar em um
mundo real. Porém esse mundo encantado não é um pacote
ofertado a todos. Tanto a beleza como a proposta de um mundo
encantado vão trazer alguns entraves para a sociedade, como por
exemplo:
• Entrave Social – Qual é o grupo que tem acesso à
beleza e a um ambiente encantado? Que tipo de
pessoas tem a oportunidade de se deleitar diante de
uma TV Plasma/LCD? Ou de adquirir para os seus um
sistema de saúde de primeiro mundo, ou de ter acesso
a uma universidade e, conseqüentemente, a um
emprego com uma renda justa capaz de satisfazer
todas as necessidades básicas de um ser humano?
Diante destas e de outras interrogações, percebe-se
que tanto a ideologia da beleza como um ambiente
mágico são patrimônio de um grupo seleto. Por detrás
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