Informativo São Vicente – Janeiro a Abril de 2008
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Informativo São Vicente – Janeiro a Abril de 2008
elemento fundamental para que uma comunidade se mantenha mais unida, livre de fofocas e coisas do tipo. Também tenho minha sexta-feira livre. É quando saio com os amigos mais próximos da Comunidade, da faculdade, ou quando encontro amigos brasileiros para alguma atividade de lazer. No México, o pessoal vai muito ao cinema. Eu também tenho ido muito. Cinema, museus, lugares turísticos, cafés, jardins, bibliotecas, shows, teatro se tornaram meus hábitos de lazer nas sextas-feiras. Pois bem, já escrevi muito. Com esse panorama geral de minha vida no México, quero dizer que estou feliz, estou bem. Certamente, tenho meus momentos de nostalgia e tristeza. Creio que é normal. Até agora, nada conseguiu me derrubar. Sou muito grato à PBCM por ter me dado essa oportunidade e creiam que tudo o que estou aprendendo aqui será colocado em prática a serviço da CM. No dia 21 de fevereiro, renovei o Bom Propósito. Já estou (e já faz muito tempo, creio que desde quando entrei para o Propedêutico) pensando nos votos perpétuos. Penso neles com um único sentido: entregar-me definitivamente a esta vida, tendo como ponto fundamental o seguimento de Jesus Cristo Servidor e Evangelizador dos Pobres, Regra da Missão. Despeço-me com um abraço fraterno, cheio de saudade e carinho por toda essa Província do Rio de Janeiro. Desejo que as luzes do Santo Espírito de Deus recaiam sobre cada um de vocês, dando-lhes força em seu labor missionário e serviço na messe do Senhor. Que Maria, a Virgem de Guadalupe, Aparecida e das Graças esteja cada vez mais presente em suas vidas, ensinando como suportar as dificuldades e vencer os desafios. Fiquem em paz! Fraternalmente, seu coirmão no seguimento de Jesus ao modo de São Vicente, Denilson Matias, C.M. 74 Informativo São Vicente Boletim de circulação interna DA PROVÍNCIA BRASILEIRA DA CONGREGAÇÃO DA MISSÃO y Ano XLI - no. 271 Janeiro – Abril de 2008 Rua Cosme Velho, 241 22241-090 Rio de Janeiro - RJ Telefone: (21) 3235 2900 Fax: (21) 2556 1055 E-mail: [email protected] ou [email protected] www.pbcm.com.br Equipe responsável pelo Informativo São Vicente - Diác. Osmar Rufino Dâmaso - Ir. Gentil José Soares da Silva - Vinícius Augusto R. Teixeira Correção e Revisão: - Pe. Lauro Palú Formatação e Impressão: - Cristina Vellaco - Equipe de Mecanografia Colégio São Vicente de Paulo do “Para que a cultura da vida possa ser promovida de modo autêntico, vivo e vibrante, cabe a cada um de nós buscar um relacionamento mais íntimo com o Deus da Vida, viver uma espiritualidade fundada na oração, nos sacramentos e na vida fraterna, a partir do que nos foi revelado na Sagrada Escritura e do que nos foi comunicado pela Tradição da Igreja nesses mais de vinte séculos de existência. Desenvolver a espiritualidade da vida é crescer na fé, que se manifesta no amor a Deus e aos irmãos, respeitando a sacralidade de cada pessoa, imagem e semelhança de Deus, habitação da Trindade” (Texto Base da Campanha da Fraternidade de 2008, n. 255). SUMÁRIO Editorial ......................................................................................................... Carta do Superior Geral ................................................................................ Palavra do Visitador. ..................................................................................... 1 3 8 Artigos Espiritualidade Vícios na Espiritualidade..................................... Pe. Paulo Roberto Gomes, M.S.C. 10 Vida Eclesial Situando o Laicato Vicentino no coração da Igreja da América Latina ................................. Pe. Marcus Alexandre Mendes de Andrade, C. M. 14 Memória da Beatificação de Ir. Lindalva Justo de Oliveira, F. C.................................................. Vinícíus Augusto R. Teixeira, C. M. 21 Herança Vicentina II Bem-Aventurada Josefina Nicoli, F.C. .............. Vinícius Augusto R. Teixeira, C. M. 26 Família Vicentina Logotipo da Família Vicentina............................ Alexis Cerquera Truijllo 34 Análise de Conjuntura O Mundo em espelhos........................................ Pe. Alex Sandro Reis, C. M. 36 Memória Ir. Manoel Raimundo de Lima C. M.................... Pe. Francisco Ermelindo Gomes, C. M. 39 Jubilandos Saudações aos Jubilandos 2008........................ Pe. Luiz de Oliveira Campos, C. M. 42 Missões Vicentinas Taquaraçu - MG.................................................. Pe. Raimundo João da Silva, C. M. Vanderlei dos Reis 49 Sepetiba e Nova Sepetiba.................................. Pe. Emanoel Bedê Bertunes, C. M. 51 Notícias ........................................................................................................ 56 Herança Vicentina I pessoais, etc. Dos três Padres que temos lá, dois mexicanos e um espanhol, dois já estão idosos, sobra muito serviço para mim e para meu irmão de comunidade, César, que trabalha lá comigo. Dos 72 quilos que tinha quando cheguei ao México, restam-me 60. Que bom, o trabalho ajuda a evitar a obesidade (e a obesidade mórbida). Minha vida acadêmica vai de vento em popa. Estou no último semestre do 2º ano de teologia. Tenho conseguido passar com êxito. Claro, quase todos os dias, durmo às 2 da manhã e acordo às 6 para as Laudes que rezamos às 6:30. Aqui tenemos tareas todos los días, santos o no. Creio que já sabem, o Distrito Federal (nome real da Ciudad de México) é um monstro, o trânsito é infernal e, muitas vezes, demoramos muito para chegar a algum lugar. Para a faculdade, por exemplo, 1h30 é pouco. É o tempo em que aproveito para dormir ou fazer alguma leitura atrasada. Gosto muito da faculdade, o IFTIM (Instituto de Formación Teológica Intercongregacional de México), filiada à Pontificia Facultad Javeriana de Colombia, dos Jesuítas. O ritmo é bem puxado, mas o resultado em aprendizado é muito bom. Tenho o privilégio de morar em uma comunidade de muchachos muy listos (inteligentes). Em janeiro deste ano, tive uma surpresa. Tivemos o EFEVI (Encuentro de Formadores y Estudiantes Vicentinos), em Lagos de Morenos, estado de Jalisco, no Seminário Menor. Neste encontro, fui nomeado representante dos estudantes da Província para a Comissão de Formação. A principio, não queria aceitar. Onde já se viu, um estrangeiro, representante de estudantes de outra província? Foi o que pensei. Dei meus motivos para não aceitar, os quarenta e poucos estudantes deram os deles para que eu aceitasse e, assim, fiquei. Tenho crescido muito nesta Comunidade. O sentimento de família que o mexicano tem é muito lindo. Em tempos de férias, por exemplo, nunca me falta a casa de um dos meninos para que eu vá e me recebem como um membro da família. Fazem-me sentir em casa, e bem. Eles têm muito carinho por mim, sinto isso por parte de toda a Província. Nuestro negrito brasileño, assim dizem. O sentido de ajuda mútua e co-responsabilidade, também a correção fraterna são muito observados aqui. A princípio, essa coisa de correção fraterna me caía mal, mas pouco a pouco fui aprendendo seu real sentido e compreendendo que é um 73 Notícias de Denilson Matias (México) México, Distrito Federal, 26 de fevereiro de 2008. Caríssimos Pe. Agnaldo Aparecido de Paula e Coirmãos do Conselho Provincial, Saudações em Jesus Cristo, Servidor e Evangelizador dos Pobres! Já faz tempo que não escrevo dando notícias sobre minha vida e caminhada formativa no México. Através desta pequena carta, quero falar um pouco do que tenho vivido, como tenho vivido e sentido aqui no México. Outra coisa é que não vou escrever uma carta formal, com dados estatísticos ou coisa parecida. Vou me expressar livremente. Durante o tempo em que tenho estado aqui, percebo que cresci muito: espiritual, afetiva, comunitária, acadêmica e humanamente. De fato, nunca estaremos prontos nesta vida. Por isso, tenho muito que trabalhar em todas estas áreas e sempre. Minha vida tem sido sempre nova, cheia de atividades em casa e fora dela: no apostolado e na academia. Aqui em casa, sou o coordenador da comissão de espiritualidade, ou seja, o responsável por tudo o que se refere à vida espiritual de nossa Casa de Formação. Elegeram-me em agosto do ano passado. No início, tive certo medo, mas agora já me acostumei. Tenho cumprido meu papel com carinho e, pouco a pouco, vou aprendendo como fazê-lo bem. Já me sobraram chamadas de atenção por alguma falha e, com isso, aprendo. Continuo vivendo meu apostolado na Paróquia de San Agustín, Ecatepec, no Estado do México. Com duas horas de viagem todos os sábados de manhã e retorno cansativo de duas horas na tarde de domingo, quase sempre chegando em casa à noitinha, fregado, como dizem aqui. É um trabalho muito bonito o que faço lá. Já estou um pouco triste, porque vou cumprir dois anos trabalhando neste apostolado e certamente me mudarão de trabalho ao final de maio. Em agosto, depois das férias de verão, já estarei em outra ocupação pastoral, não necessariamente em paróquia. Em San Agustín, trabalho basicamente com formação: com as Filhas de Maria, Associação da Medalha Milagrosa, Missionários Leigos Vicentinos, Catequese, Adolescentes, Jovens, Retiros, Celebrações, Bênçãos em geral, Exéquias, conversas 72 “Eles, porém, insistiram com Jesus dizendo: ‘Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando.’ Então Jesus entrou para ficar com eles. Sentou-se à mesa com os dois, tomou o pão e abençoou, depois o partiu e deu a eles. Nisso os olhos dos discípulos se abriram, e eles reconheceram Jesus” (Lc 24, 29-31a). Caríssimos leitores, SHALOM! Na alegria do Cristo Vivo, na certeza de que Deus caminha conosco, faz história em nossa história, o informativo de nossa Província mais uma vez chega às suas mãos. Na simplicidade, quer ser também um instrumento de propagação da Boa Nova do Reino. Assim como o coração dos discípulos ardia quando o Senhor lhes explicava as Escrituras, que o nosso coração possa se alegrar com os artigos e as notícias deste nosso primeiro informativo do ano. E por falar em primeiro, queremos explicar o atraso do mesmo. Pedimos desculpas a todos os nossos Coirmãos e aos leitores pela demora da publicação (que deveria ser de jan/fev). O que aconteceu? A nova equipe do Informativo só foi constituída no começo do ano; tivemos, por vários motivos, dificuldades em nos organizarmos para o começo dos trabalhos. Agora sim! Já estamos prontos para ajudar na divulgação da nossa atuação missionária vicentina. Nestes quatro primeiros meses do ano, vivenciamos momentos importantes na província (destacamos o dia-a-dia de cada obra missionária onde a CM realiza seu carisma, as missões Populares Vicentinas, o retiro espiritual, uma consagração perpétua e uma ordenação), como também em toda a Igreja do Brasil (destacamos a reflexão e oração da Campanha da Fraternidade). E no momento presente somos chamados a festejar a Ressurreição do Homem-Deus Jesus de Nazaré. Somos chamados a testemunhar em todas as nossas obras missionárias, em nossa fraternidade como Coirmãos (irmãos que se amam por ele e nele), a Páscoa do Senhor. Celebrar a passagem da morte 1 para a vida, da escravidão para a libertação, é configurar tudo o que somos e tudo o que temos à própria pessoa de Jesus Cristo. Como sabemos, o informativo provincial, além de comunicar o que aconteceu e avisar o que vai acontecer, é também meio de divulgação das reflexões feitas por Coirmãos e outras pessoas. Sendo assim, agradecemos a colaboração de cada um que envia seu artigo e as notícias para serem publicadas. O que vamos ler nesta primeira edição do informativo? O texto do Pe. Paulo Roberto, MSC, apresenta-nos alguns riscos em nossa intimidade com Deus. O artigo intitulado “Vícios da Espiritualidade” vem nos ajudar a fortalecer nosso estado de pessoas orantes. Pe. Marcus Alexandre, fazendo ressonância ao documento de Aparecida, apresenta-nos uma reflexão da vivência eclesial a partir do Laicato. O Pe. Alex Sandro, com o texto: “O Mundo em Espelhos”, vem ajudar na reflexão sobre análise de conjuntura. Temos também a memória do saudoso Ir. Manuel, o espaço do estudante, outros artigos e o espaço das nossas notícias. A equipe do Informativo deseja, ainda no tempo da Páscoa, que Cristo possa ressuscitar na vida e no trabalho de cada Coirmão. Sejamos todos construtores do Reinado de Deus, que é, entre vários significados, a plena felicidade do humano e a dignidade da vida. Escolhamos, pois, a Vida. Boa leitura! AGOSTO/2008 Dia Atividade Local 05 a Encontro Provincial dos Missionários, A definir 07 Párocos e Vigários Paroquiais (PBCM) 19-20 Conselho Provincial – PBCM Rio de Janeiro OUTUBRO/2008 Dia 1º 7-8 16 a 22 Atividade Local Reunião da Comissão de (PBCM) Conselho Provincial – PBCM XIIIª Assembléia da CLAPVI DEZEMBRO/2008 Dia Atividade 9-10 Conselho Provincial Formação Belo Horizonte – MG Rio de Janeiro Argentina Local Rio de Janeiro Diác. Osmar Rufino Dâmaso, C. M. 2 71 MAIO/2008 Dia 1-7 20 22-25 22-25 27-28 30/5 a 1/6 Atividade Local Visita da Presidente Internacional da JMV à Província de Belo Horizonte Reunião da Comissão de Formação (PBCM) Assembléia Nacional da Juventude Marial Vicentina – presença da Presidente Internacional, dos Visitadores/as da CM e das FC no Brasil Encontro Interprovincial dos Visitadores/as da CM e das FC no Brasil Conselho Provincial da PBCM Caraça - MG Plenária Nacional da SSVP Jundiaí (SP) Minas Gerais Belo Horizonte – MG Recife – PE A todos os membros da Congregação da Missão Recife – PE Caríssimos irmãos em São Vicente de Paulo, JUNHO/2008 Dia 8 24-25 29/06 19/07 Atividade Local Ordenação Presbiteral do Diácono Osmar Rufino Dâmaso Conselho Provincial – PBCM (a confirmar) Curso de Liderança Servidora (para Visitadores e 1 acompanhante) Campina Verde (MG) Rio de Janeiro Paris (França) JULHO/2008 Dia Atividade 1-2 6 a 12 Conselho Provincial – PBCM (a confirmar) Rio de Janeiro Encontro Latino Americano de Paróquias Chile Vicentinas (CLAPVI) Ordenação Presbiteral do Diácono Pedro Malhada - BA Dias de Lima 19 Local 70 18 de fevereiro de 2008 Festa de São Francisco Regis Clet A graça e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo encham seus corações agora e sempre! Gostaria de fazer-lhes uma pergunta: O que os Pobres podem esperar de nós? Podem esperar que sejamos rotineiros, sem interesse, homens sem inspiração, satisfeitos com o que sabemos e com nosso modo atual de trabalhar? Ou os Pobres podem esperar mais dos seguidores de São Vicente de Paulo? Vocês já sabem minha resposta. Fiz estas perguntas para que saibam aonde quero chegar. Nenhum de nós negará, estou seguro, que os Pobres poderiam esperar mais dos Vicentinos. Eles ouviram falar de nosso Fundador. Ficaram impressionados com a visão que ele tinha das coisas. Ouviram contar como encontrou meios criativos para devolver-lhes a esperança. São Vicente lhes mostrou o amor de Deus. Meus irmãos, faz parte de nossa vocação vicentina que também nós sejamos criativos e originais em nosso serviço aos Pobres. Não podemos fazer menos que isso. A chave de nossa própria renovação permanente e de nosso ministério é a formação contínua. Fiel à vontade dos Visitadores, e contando com o apoio unânime de meu Conselho, escrevo-lhes a todos e a cada um de 3 vocês para refletir profundamente sobre a importância da formação permanente em sua vida pessoal, assim como na vida da comunidade local, em sua Província e em toda a Congregação. CALENDÁRIO DE ATIVIDADES DA PROVÍNCIA - 2008 MARÇO/2008 No México, nosso debate sobre a importância da formação vicentina nos levou a formular claramente que nós mesmos somos nossos melhores recursos; não há outros melhores. Por conseguinte somos moralmente obrigados a fazer tudo o que esteja em nossas mãos para assegurar que a todos e a cada um dos Coirmãos da Congregação da Missão se dê a oportunidade de se prepararem a partir de uma base permanente para serem fiéis à nossa missão de seguir Jesus Cristo, evangelizador dos Pobres. Como estabelece o artigo 2 de nossas Constituições: “Em razão de seu fim, tendo em vista o Evangelho e sempre atenta aos sinais dos tempos e aos apelos mais urgentes da Igreja, a Congregação da Missão procurará abrir caminhos novos e empregar meios adequados às circunstâncias dos tempos e dos lugares. Além disso, terá o cuidado de avaliar e organizar suas obras e ministérios, de modo a permanecer em estado de renovação contínua.” Dia Atividade 7-9 Encontro dos Jovens da SSVP – Região II 31 Conselho Provincial – PBCM 31/3 a 04/04 Retiro Provincial Meus irmãos, as Constituições o dizem claramente. Somos chamados a viver num estado de renovação contínua, pessoal e comunitariamente, para responder fielmente ao Evangelho, aos sinais dos tempos e aos apelos da Igreja. Mais ainda, nossos senhores e mestres merecem o melhor de nós mesmos. 4 Faremos bem em ser fiéis a isto, se não quisermos ouvir palavras semelhantes às que foram escritas à Igreja da Laodicéia: “conheço teu modo de viver: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Pois bem, porque és morno, e não frio nem quente, vou vomitar-te de minha boca” (Ap 3, 15-16). Nossas Constituições definem nossos direitos e deveres. Se as vivermos fielmente e permitirmos que nos formem e renovem, seremos capazes de viver nosso carisma vicentino com vitalidade e gosto. Local ABRIL/2008 Dia Atividade 1-5 11-13 Vº Encontro Interprovincial Vocacional Província da Vicentino (CM e FC) Amazonia Assembléia Provincial - PBCM Fazenda do Engenho - MG Conselho Provincial - PBCM Fazenda do Engenho - MG Ordenação Presbiteral do Diác. Marcus Contagem – 18 Alexandre Mendes de Andrade horas Fortaleza Encontro Nacional da Família Vicentina 21-26 Encontro dos Coirmãos Jovens da PBCM 25-30 Visita da Presidente Internacional da JMV à Rio de Janeiro Província do Rio de Janeiro Aparecida - SP Romaria Nacional da SSVP 5 5 26-27 Local Na síntese do Encontro Internacional de Visitadores, refletiu-se sobre certos aspectos básicos da formação vicentina. 4 Juiz de Fora (MG) Fazenda do Engenho (MG) Fazenda do Engenho (MG) 69 A definir Gostaria de destacar estes aspectos: 1. Perspectivas fundamentais para a formação permanente vicentina: Cultivar nossa vocação missionária. NATALÍCIO (acima de 50 de 10 em 10 anos; após os 80 de 5 em 5 anos) Pe. José Atanásio Coelho 90 2/5/1918 Pe. Ézio Rodrigues de Lima 90 22/9/1918 Pe. Sebastião de Carvalho Chaves 70 30/10/1938 Pe. Nilson Grossi 80 14/11/1928 VOCAÇÃO O seguimento de Cristo, evangelizador dos Pobres, constitui o principal eixo da formação vicentina. Nossa identidade como missionários não nos é dada de uma vez por todas; é antes o resultado de nossa relação diária com Cristo, com a comunidade a que pertencemos, com o mundo e com os Pobres. Estamos convencidos de que a formação não é um estado já adquirido, mas antes um caminho: a formação inicial é uma introdução a este caminho que dura toda a vida. 2. Os objetivos que devemos alcançar na formação permanente. (acima de 50 de 10 em 10 anos; após os 70 de 5 em 5 anos) Pe. José Guido Branta 70 24/1/1938 Pe. Geraldo Nunes Costa 70 30/1/1938 Pe. Luiz Roberto Lemos do Prado 25 22/2/1983 Pe. José Atanásio Coelho 70 6/3/1938 Dom José Carlos Melo 60 23/3/1948 EMISSÃO DOS VOTOS (acima dos 60 de 5 em 5) Pe. José Debórtoli Pe. José Izabel da Silva Campos Pe. Sebastião Mendes Gonçalves Pe. José Gonzaga de Morais 50 60 50 25 25/1/1958 19/3/1948 25/1/1958 31/5/1983 O primeiro objetivo da formação permanente é a santidade que corresponde à vida do missionário (RC I, 3). Unido a este objetivo fundamental está o crescimento contínuo no âmbito humano e profissional, que leva o Coirmão a adquirir uma capacidade ainda mais profunda para relacionar-se com os outros e a ser competente na proclamação da Palavra e na prática da caridade. Como se disse anteriormente, o missionário vicentino é chamado por conseguinte a estar sempre em sintonia com os tempos, a sentir-se intimamente afetado por tudo o que acontece ao seu redor, sabendo discernir nos acontecimentos diários a missão a que Deus o chama. Isto o leva, em fidelidade ao Evangelho, a adaptar seu próprio ministério às necessidades reais das pessoas, aprendendo a ser flexível e criativo em seu apostolado. ORDENAÇÃO SACERDOTAL 3. Os níveis operativos da formação permanente (acima de 60 de 5 em 5) Pe. Sebastião Agatão Dias Pe. Célio Maria Dell’Amore Pe. Antônio Gomes Pereira Pe. Wilson Belloni Pe. Geraldo Nunes Costa • 60 50 50 50 65 68 26/9/1948 28/9/1958 28/9/1958 28/9/1958 8/12/1943 No nível pessoal, o Coirmão assume a responsabilidade de sua formação contínua; não pode delegá-la ou fazer-se substituir por outra pessoa ou estratégia. Nas distintas etapas de nossa vida (juventude, adultez, maturidade e idade avançada) e em qualquer dos ministérios que exerçamos, todos os Coirmãos temos que cultivar a disciplina constante da formação permanente. 5 • • • • No nível local, a comunidade constitui o contexto principal da formação em que cada Coirmão é desafiado constantemente a crescer. No nível provincial, o Visitador é chamado a criar, onde ainda não exista, a Comissão para a formação permanente, dandolhe os meios para que ajude o desenvolvimento da motivação pessoal sobre a importância da formação permanente em todos os Coirmãos. No nível das Conferências de Visitadores e de Províncias, hoje são indispensáveis os encontros de formação, os intercâmbios e as avaliações. No nível da Congregação, é necessário desenvolver algumas linhas de formação específica vicentina (Ratio Formationis, Guia Prático para a Formação Permanente ou Linhas de Ação). 4. Obstáculos encontrados na formação permanente No caminho da formação, os Coirmãos encontram, ao longo de sua vida, muitos obstáculos, começando pelos que se manifestam no nível pessoal, tais como a debilidade da dimensão espiritual, a preguiça intelectual, a falta de interesse pela leitura e pelo estudo, o abuso dos meios de comunicação (Internet), o pragmatismo apostólico que não deixa espaço para uma reflexão atenta e constante sobre os sinais dos tempos, o individualismo nos ministérios, que se deixa levar pelo desejo da realização pessoal. No nível comunitário, os obstáculos assumem a forma duma mudança para valores e para um estilo de vida burgueses, a falta de projetos de formação e de programas concretos operativos, a dificuldade na relação de uns com os outros de forma responsável e madura, e o distanciamento em relação aos Pobres, que torna proporcionalmente mais difícil o conhecimento da realidade deles. Finalmente, no nível cultural, os principais obstáculos na formação permanente incluem aspectos como o consumismo, o fundamentalismo, o relativismo, o debilitamento da verdade, etc. Tudo isto contrasta com o viver, buscar e testemunhar a verdade com simplicidade e humildade, que constituem os primeiros passos no seguimento de Cristo. 6 A Assembléia convocada e presidida pelo Visitador Provincial, Pe. Agnaldo Aparecido de Paula, contou com a participação de 47 sócios. Pe. Geraldo Eustáquio Mól Santos, ecônomo provincial, apresentou à análise, discussão e aprovação dos assembleístas o Consolidado Financeiro do exercício 2007, pareceres do Conselho para Assuntos Econômicos e Fiscais da Província e dos auditores independentes, como prescreve a lei. Aprovado os relatórios, Pe. Geraldo Mól apresentou uma série de outras informações administrativas, tributárias, filantrópicas, trabalhistas e dos investimentos que vêm sendo efetuados para manutenção, conservação e melhoria dos bens da Província. 10. Ordenação do Pe. Marcus Alexandre, C. M. No espírito de Lc 24, 13-35, relato evangélico da experiência do Ressuscitado pelos discípulos de Emaús, o Diácono Marcus Alexandre, recebeu o sacramento da Ordem Presbiteral do Arcebispo emérito de Belo Horizonte, Cardeal D. Serafim Fernandes de Araújo. A bela celebração aconteceu na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, Contagem, na noite de 05 de abril. Vieram uma caravana de Itanhandu – M.G. (terra natal do ordinando), assim como inúmeros familiares, amigos, Filhas da Caridade, Coirmãos e amigos do curso de Teologia do Padre Marcus no ISTA. Em grande espírito de fé a paróquia rezou junto com o jovem Padre, consagrando-o como tal ao proferir a invocação do Espírito Santo da oração consacratória, antes que o Bispo ordenante o fizesse... Nossos votos de um feliz e fecundo ministério presbiteral a este filho de São Vicente de Paulo. 67 8. Emissão dos Votos do Ir. Adriano São Vicente dizia “Os que se libertam do apego aos bens da terra, da ânsia de prazeres e de sua própria vontade, se convertem em filhos de Deus e gozam de uma liberdade perfeita, pois a liberdade se encontra só no amor de Deus. Estas são pessoas livres, que não têm lei, que voam cada vez mais alto; nada as detém, nem são jamais escravas do demônio, nem de suas paixões. Ditosa liberdade dos filhos de Deus” (XII,301). No dia 4 de abril, durante a eucaristia celebrada no encerramento do Retiro Provincial, Ir. Adriano Ferreira da Silva emitiu os Santos Votos na Congregação da Missão. A emissão dos votos na pequena companhia fundada por São Vicente representa o comprometimento com um estado de vida e de missão voltados para o seguimento de Jesus Cristo evangelizador dos Pobres. Manifesta, também, a mais plena liberdade da pessoa, fruto da conquista de um importante grau de maturidade, nunca completamente concluída, mas já bem construída e necessária para que se possa, de fato, dispor da própria vida. Ao Ir. Adriano os nossos sinceros votos de realização plena na vida consagrada missionária vicentina. 9. Assembléia Provincial Em cumprimento às exigências estatutárias da Província Brasileira da Congregação da Missão, realizou-se no dia 4 de abril de 2008, na Fazenda do Engenho (Caraça), município de Santa Bárbara (MG), a Assembléia Geral Ordinária com as seguintes finalidades: 5. Os valores da formação permanente A formação permanente, voltando às fontes que a alimentam, revendo e atualizando as ferramentas recebidas na formação inicial, mantém vivo o carisma vicentino, aprofunda-o, aperfeiçoa-o e o reinterpreta frente aos novos desafios. A formação permanente é parte importante da ajuda para aperfeiçoar-nos na arte de amar os Pobres. Ao mesmo tempo, a formação permanente nos proporciona os instrumentos necessários para compartilhar, de modo autêntico, o amor de Deus com todas as pessoas. Recomendo encarecidamente a cada um de vocês, individual e comunitariamente, que cumpram o que foi escrito nesta carta e especialmente os objetivos assinalados. Sei que em muitas Províncias já se reconhece a importância da formação permanente para os Coirmãos de todas as idades. Impressionoume muito o número de programas criados para que os Coirmãos possam preparar-se adequadamente para a missão que lhes foi confiada. Por outra parte, as conseqüências duma falta de formação permanente são nefastas. E os que mais as sofrem são os Pobres que somos chamados a servir. A formação permanente, quando bem feita, só pode melhorar a qualidade de nossa missão. Com relação ao tema da formação permanente, o número 3 da Vincentiana de 2007 foi dedicado aos conteúdos da reunião do México. Ali vocês encontrarão a apresentação que fundamentou a reflexão dos Visitadores e também o processo que indicou o caminho a seguir para realizá-la e os resultados desse caminho, como aparecem no resumo apresentado pelos que sintetizaram as idéias dos grupos. Peço a todos vocês que reflitam seriamente sobre o que dizem nossas Constituições e Estatutos acerca da formação permanente. Aceitem essa reflexão como um desafio para uma fidelidade criativa cada vez maior. Além do artigo 2 das Constituições, já mencionado, peço-lhes que reflitam e rezem sobre estes outros artigos das Constituições: 25 § 2 (e o artigo 42 dos Estatutos); 77 § 1 e § 2; 78, § 1, § 2 e § 4; e 81. Seu irmão em São Vicente, 1. Tomar conhecimento do Balanço Patrimonial e das Demonstrações Contábeis e apová-los. 2. Tratar de outros assuntos de interesse geral da PBCM. 66 G. Gregory Gay, C. M., Superior Geral 7 7. Retiro Provincial Caríssimo Coirmão, estimado(a) leitor(a), O Retiro espiritual da PBCM foi realizado na Fazenda do Engenho de 31 de março a 4 de abril e contou com a participação de 48 Coirmãos, incluindo a participação dos admitidos no seminário interno. Ao participarmos das celebrações litúrgicas com certa freqüência ouvimos o convite para prolongamos na vida cotidiana a realidade celebrada na liturgia. O desafio é grande, mas o convite é nobre e merece toda nossa atenção e esforço. Que possamos apresentar a Deus em nossos corpos uma vida que seja verdadeiramente um culto agradável a Deus! Celebramos na Páscoa o acontecimento mais importante da fé cristã: a Vida que vence a Morte, a Ressurreição do Senhor. Realidade fácil de ser professada com os lábios, mas difícil de ser entendida pela razão e assimilada na prática. Expressões como “no primeiro dia da semana”, “ainda estava escuro” (Jo 20,1), “estavam como que cegos, e não o reconheceram” (Lc 24,16), “nisso os olhos dos discípulos se abriram e eles reconheceram Jesus” (Lc 24,31) e a insistência na expressão “viu”, mas não reconhecer instantaneamente o Senhor, querem nos informar que para “ver” o Senhor Ressuscitado que continua presente na história e na vida do seu povo faz-se necessário ultrapassarmos os limites do conhecimento humano, sem, no entanto, prescindirmos do mesmo. Não se pode esquecer que o Ressuscitado é o Verbo que se fez Carne. O Ressuscitado é o mesmo Jesus que foi Crucificado “Não tenha medo. Eu sei que você está procurando Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui. Ressuscitou, como havia dito!” (Mt 28,5-6). A morte de Jesus ocorreu como conseqüência da fidelidade à vontade do Pai, cujo projeto continua atual e é exigência para toda pessoa que aceita o dom e a aventura de ser discípulo de Jesus. Este projeto é a construção do Reino de Deus, Reino que é boa notícia para os Pobres (Lc 4,18) e que pertence aos Pobres (Lc 6,20). O Retiro Espiritual Anual promovido pela Direção da Provincial tem como objetivo proporcionar aos membros da Província um tempo forte para: - revestir-se de Cristo, imbuindo-se da doutrina do Evangelho, avaliar as coisas e acontecimentos diante de Deus e perseverar em seu amor e misericórdia (C.41); - procurar na oração os sinais da vontade divina e se esforçar por imitar as disposições de Cristo, avaliando tudo segundo seu espírito (C.40 § 2); - renovar a fé, o amor fraterno e o zelo apostólico. “Pela íntima união entre a oração e o apostolado, o missionário torna-se contemplativo na ação e apóstolo na contemplação” (C. 42). Dom Serafim Fernandes de Araújo, cardeal arcebispo emérito de Belo Horizonte, que por diversas vezes explicitou o seu carinho e agradecimento pela formação recebida dos Coirmãos no Seminário de Diamantina, orientou todo o retiro a partir da temática da ternura de Deus. No pensamento de Dom Serafim a ternura “resgata, recria, regenera, transforma, perdoa e devolve a paz. Quem não cuida da ternura termina por encontrar a depressão”. 8 65 Hugo de Vasconcelos Paiva * 08/02/1928 † 01/05/2008 Dia 1º de maio, ontem à tarde, faleceu, num desastre de carro, Hugo de Vasconcelos Paiva, nascido em 1928, ordenado padre em 1955, deixou a congregação em 1982. Será sepultado hoje à tarde em Nova Era. O Paiva foi um dos maiores estudiosos e peritos de pastoral, tendo-se especializado na França e depois multiplicando no Rio, através do Instituto Superior de Pastoral Catequética, o que tinha aprendido. Ampliou seu trabalho, dando mais de 400 cursos para bispos e padres, religiosos e leigos, no Brasil, no Chile e em muitíssimos países da América Latina e também na África. Nas duas vezes em que fui nomeado diretor do Colégio São Vicente, trabalhei com ele, que tinha uma capacidade extraordinária de coordenação, de liderança, de atualização, de questionamento crítico e de soluções adequadas. Quando saiu da Congregação, continuou trabalhando lealmente conosco, no Colégio, e na formação de lideranças leigas na Diocese de Nova Iguaçu, onde coordenava a pastoral e mantinha cursos de formação política para leigos. Engajou-se, no interior do Estado do Rio e de Minas, na preparação de Confrades das Conferências de São Vicente para um serviço atualizado dos Pobres. A Província colaborou após sua saída, com uma ajuda no pagamento de seu plano de saúde. Vinha lutando com algumas dificuldades e vencendo as operações de próstata, etc., sempre animado e corajoso. E morreu num desastre de carro. Falei com duas de suas irmãs, e celebraremos aqui a missa de sétimo dia, quando Marta, sua esposa, voltar de Minas. O Paiva deu um testemunho muito grande de fidelidade ao serviço dos mais abandonados, desde os tempos em que vivia no Colégio e foi morar numa favela, trazendo para a Província uma reflexão muito corajosa de inserção e de escolha de métodos eficazes para o serviço de promoção dos mais necessitados. Até o fim de sua vida, pedia textos de São Vicente, para animar suas reflexões e os cursos que dava. Que em paz descanse. Pe. Lauro Palú, C. M. 64 Para todos os cristãos e de modo muito especial para os membros da Família Vicentina, os Pobres são os sinais privilegiados da presença de Cristo no mundo atual. As marcas da paixão, tão presentes na vida dos Pobres, podem ofuscar a realidade da Ressurreição, mas pela fé temos a certeza da vitória da justiça sobre a injustiça, da graça sobre o pecado e da vida sobre a morte. Apontar os sinais de vida e celebrar as conquistas dos Pobres, mesmo pequenas, são estratégias importantes a serem adotadas por todos os membros da Família Vicentina. Apontar os sinais de vida e celebrar as conquistas dos Pobres por vida digna será nosso maior testemunho de que o Deus dos Pobres está vivo e continua atuando na implantação do seu Reino através da vida, da prática e dos ensinamentos dos discípulos e discípulas de Jesus. Apontar os sinais de vida e celebrar as conquistas dos Pobres também servirá para reavivar a fé, a esperança e a coragem de tantos irmãos e irmãs que se encontram desiludidos ou cansados por não perceberem que as “coisas de Deus” acontecem de maneira pura e simples. Estimado Coirmão, prezado(a) leitor(a) a Campanha pela Mudança de Estruturas, da Família Vicentina, apresenta-se como uma excelente e promissora oportunidade para a descoberta e a prática de novas estratégias que ultrapassem muitas de nossas ações que são assistencialistas ou que promovem a inserção, mas em estruturas alicerçadas sobre a perversa raiz do mal da exploração, da injustiça, da corrupção e da destruição, na busca do lucro, do prestígio e do poder. A Campanha da Família Vicentina parte do princípio de que nem mesmo projetos de “promoção” dos Pobres são suficientes, pois as estruturas atuais não são adequadas para o estabelecimento das relações que tenham a preservação e a proteção da vida como valor fundamental. Não se pode colocar remendo de pano novo sobre tecido velho. Para uma nova Sociedade, para um novo Ser Humano, serão necessárias novas estruturas. O caminho não está pronto, às vezes sentimos nossa visão bastante ofuscada, mas temos a convicção de que as estruturas atuais não são adequadas e que é imperativo avançar rumo a mediações sociais, políticas, econômicas e religiosas que visibilizem de forma mais lúcida e transparente a presença do Cristo Ressuscitado e do Reino de Deus. Pe. Agnaldo Aparecido de Paula, C. M. Visitador Provincial 9 Belchior Cornélio da Silva * 14/02/1925 Vícios na Espiritualidade Existem, entre outros, dois vícios que envenenam a espiritualidade e que podem estar presentes em nossa vida: a impaciência e a ansiedade. A impaciência: A impaciência se refere ao espaço. Ela nos separa das pessoas porque não aceitamos que o nosso espaço seja invadido pelos outros. Nele só pode entrar quem está de acordo com nossos esquemas e nos agrada. A impaciência é fechamento ao (à) irmão (ã). O impaciente não tolera os defeitos alheios, não suporta que os outros modifiquem seus planos ou interrompam suas atividades ou intimidade. Ele(a) é inimigo do exterior. Ele despreza os demais. O impaciente não tem descanso, não encontra calma. Está sempre perturbado pelos erros e defeitos alheios, por isso não pode ter um coração sereno. Infelizmente, ele pensa que paciência é sinônimo de fraqueza. Ter paciência não significa deixar-se maltratar; não é permitir passivamente que os outros nos firam constantemente e se aproveitem de nós. Ao contrário, é necessário defender a própria dignidade e os direitos próprios. No entanto, se decidimos servir aos outros, ajudá-los a levar as cargas da vida e anunciarlhes o Evangelho, com maior razão devemos ser pacientes com eles, tolerando suas limitações, aceitando que nos tirem parte de nosso tempo, que nos contradigam ou que não nos ouçam. A impaciência termina nos enfraquecendo por dentro, torna-nos inimigos daqueles que devemos amar. † 17/04/2008 No dia 17 de abril deste ano de 2008, faleceu, no Rio de Janeiro, em casa, assistido pela esposa e por seu casal de filhos, o nosso ex-Coirmão Belchior Cornélio da Silva, nascido em 1925, ordenado padre em 1949 e que obteve dispensa dos compromissos sacerdotais e se casou em 1970. Era primo dos Coirmãos Zico (Dom Belchior, Pe. Tobias e Dom Vicente). Fui aluno dele, no 2º ano do Seminário Interno, em Petrópolis, onde ensinou Lógica, no tempo em que era Diretor dos Estudantes. Depois foi nomeado superior do Seminário Maior São José, de Mariana, onde vivi sob sua orientação o primeiro ano de meu sacerdócio. Trabalhei com ele, esporadicamente, durante os anos seguintes, ajudando-o na revisão da tradução doe poemas de Carlos Drummond de Andrade para o latim. Nos últimos anos, quando voltei a ser diretor do Colégio São Vicente, fui ao apartamento dele, muitíssimas vezes, levando-lhe com certa freqüência a Comunhão e várias vezes lhe dei a unção dos enfermos, quando se agravavam suas condições de saúde ou devia fazer alguma cirurgia. No próprio dia 17, dei-lhe a absolvição poucos minutos antes de seu falecimento. O corpo foi velado no Memorial do Carmo, onde foi cremado na manhã do dia 19. A missa de sétimo dia foi na capela da nossa Casa Provincial, com a presença de muitos amigos da Família e de colegas do magistério superior. Era professor de lingüística e filologia românica, um grande humanista, que deixou inédita uma obra poética de muito valor e publicados vários livros de filologia. Embora estivesse sofrendo de vários males, no final de sua vida, sempre perguntava pelo Colégio, pelo Caraça, pelos Coirmãos, pela Congregação. Que em paz descanse. Pe. Lauro Palú, C. M. Por isso, a primeira coisa que devemos fazer para sermos pacientes com alguma pessoa é dar-lhe importância, valorizá-la, recordar que ela é obra de Deus, criada por amor. Podemos 63 10 Chegou à Casa Dom Viçoso em novembro de 2007, trazido de Arcos-MG para o Hospital Madre Teresa para exames. Estava bem combalido pela fraqueza e perda de sangue. Saiu do hospital com suspeita de LLC = leucemia linfóide crônica, em 01/12/2007. Hospedou-se na Casa Dom Viçoso. Regressou para Arcos em 12/12/2007, um tanto mais fortalecido. Daí foi uma série de alternâncias de idas e vindas de sua residência para o Hospital ou Casa Dom Viçoso. Às vezes sentia fortes dores no peito. Era bem assistido pelo médico da casa e as enfermeiras e Ir. Edmar. Mas ia controlando a caminhada de seu sofrido calvário. Confortado com os Sacramentos da Unção dos enfermos e Eucaristia, na presença dos Coirmãos, em nossa capela interna, deu mostras de alívio e maior suporte do sofrimento, que lhe roubava as energias. Sentiu sensível melhora. Decorridos alguns dias, retorna a Arcos para convívio da família e passar seu aniversário de 73 anos. Retorna dia 08 de abril e já é levado para o Hospital e internado na U.T.I. Saindo daí para o quarto, lá mesmo, adormeceu no Senhor, `s 22.50 de 14/04/2008 trasladado para Arcos. Contou com a presença do filho padre: Pe. Agnaldo, que lhe prestou imenso carinho e assistência na enfermidade e lhe presidiu as exéquias no Campo Santo da cidade. Presentes Padres e Seminaristas de Belo Horizonte, da Congregação da Missão, que compartilharam com a família o sofrimento da separação juntamente com parentes e amigos. Descanse em PAZ! Pe. Célio M. Dell’Amore, C.M. 62 também ser pacientes, procurando reconhecer e agradecer as coisas boas que o outro tem. Ninguém é só obscuridades, só defeitos. Os defeitos de uma pessoa não significam que tudo nela seja negativo ou falso. A pessoa que eu não tolero certamente teve experiências da vida que eu não tive e não compreendo. Nós não somos só luzes, só bondade, só generosidade e desinteresse. Para além das fraquezas e dos aspectos irritantes que eu vejo, para além de suas imperfeições e erros, ela traz dentro de si um chamado para a plenitude. Primeiro: devo reconhecer a paciência de Deus para com todos, respeitando seus condicionamentos, seu tempo e sua liberdade. Segundo: Deus sempre teve paciência comigo e ofereceu-me sua amizade. Terceiro: as mudanças de comportamento dependem de profundas transformações interiores e, às vezes, levam anos. Alguns só começam a mudar quando se sentem aceitos como são, sentem-se amados e sabem que alguém espera seu crescimento com carinho e sem ansiedade. Jesus era sumamente paciente com os pecadores, com os imperfeitos e com os infiéis (Lc 23,33-34). Ele olhava com compaixão, com carinho tão humano e divino as fraquezas e imperfeições de seus discípulos. Não podemos ser pacientes com o coração cheio de ira, raiva, rancor e antipatias. Perceber que a pessoa age assim por causa de alguma ferida não curada, pelo sentimento de inferioridade, por recordações que lhe causam sofrimentos, etc. nos ajuda a acolher o outro com paciência, demonstrando grande força interior e nobre grandeza de alma. A ansiedade. A ansiedade é uma espécie de “nervosismo” ou pressa interior permanente. Por fora, a pessoa pode aparentar calma, mas dentro é apressada. Sente uma necessidade imperiosa de resolver todos os problemas. A pessoa quer terminar rapidamente tudo o que deve fazer, sem deixar nada pendente. Quando está fazendo alguma coisa, está pensando no que terá que fazer depois. A pessoa ansiosa se atropela, atropela os demais e seus processos. Não dá a atenção devida a Deus ou às pessoas com as quais trata. Ouve-as pensando no que deverá responder ou no que terá que fazer depois. Não saboreia a vida, as relações, o trabalho, Deus, etc. A pessoa ansiosa tem desejos de ser ilimitada, de fazer tudo imediatamente, de experimentar 11 tudo sem perder nada, de ter tudo sob o controle, sem que nada escape ao planejamento e à atividade. Doce ilusão. Não perdemos o controle de nada, perdemos a ilusão de que em algum momento tivéssemos o controle de alguma coisa. A vida é também improviso, novidade, surpresa, impensado e imprevisto. Planejar é necessário, mas sem pretender prever e preparar tudo. Os planos de Deus podem nos levar por caminhos nunca pensados e planejados. Para o ansioso, a atividade deixa de ser fonte de satisfação e se torna cansaço, desgaste. No fim do dia, encontra-se exaurido em suas forças. Algumas vezes o olhar do outro nos torna ansiosos pela preocupação de sermos eficientes, darmos conta do trabalho, agradar-lhes, buscar ser amado e aprovado. Certas atividades tornam-se uma obsessão a serviço da auto-estima, no lugar de serem prazerosas e libertadoras. Quando há ansiedade, há desordem. Com a mente cheia de projetos e vivendo antecipadamente tudo, na multidão de pensamentos reina uma grande confusão e nada é bem feito. O ansioso não faz nada com qualidade, bem feito, com alegria. Pensa que viver é fazer mil trabalhos desordenados de uma só vez. A Palavra de Deus nos convida a deter-nos em cada coisa, em cada pessoa, em cada atividade. O Senhor nos convida a crescer com um coração sereno, calmo, sem angústias ou pressa diante do seu olhar de amor. Deus conhece nossas capacidades sem termos que provar nada. Ele percebe até a oferenda da viúva pobre (Lc 21,2-4). Jesus passou quase toda a vida trabalhando na obscuridade e simplicidade de Nazaré como carpinteiro. Ele se detinha longamente com as pessoas (Jo 3,1-21; 4,1-28; Lc 19,1-10). Ao contrário de suportar as pessoas, olhava-as com profunda atenção amorosa (Mc 10,21). Convidava seus discípulos a se deterem na contemplação da natureza (Lc 12,24-27; Jo 4,35) e dos gestos das pessoas (Lc 21,2-3). Nada de pressa. Os outros e a realidade mereciam sumo respeito, dedicação, tempo e atenção afetuosa. Sabia que só vive em profundidade quem é capaz de fazer tudo com sentido e com certa tranqüilidade. Maria, a mãe de Jesus, ao conservar “cuidadosamente” tudo no seu coração (Lc 2,51), não permanecia na superfície; refletia sobre a vida, 12 5. Posse do novo Pároco de Contagem Na noite do dia 24 de março de 2008 o Padre Tadeu Porto, C. M., foi empossado como Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, Contagem, M.G. Conferiu-lhe o mandato Pe. Afonso de Fátima Ribeiro, Vigário Episcopal, delegado pelo Arcebispo Dom Valmor O. de Azevedo. Compareceram à celebração o Provincial, Pe. Agnaldo, diversos Coirmãos da região de Belo Horizonte, seminaristas e o povo de Deus da referida Paróquia, assim como uma pequena caravana da Paróquia do Pai Misericordioso, onde padre Tadeu atuou como Vigário Paroquial. Foi uma celebração simples e bonita. Atuou como cerimoniário o Ir. Luís Carlos do Vale, conforme orienta a Sagrada Liturgia da Igreja. 6. Notas de Falecimento Braz José de Paula * 05/04/1935 † 14/04/2008 Bráz José de Paula, filho de José Benedito de Paula e Zulmira Delfina do Nascimento, nasceu no dia 05/04/1935, em Formiga (MG). Casado com Helena Valadão de Paula (13/06/1960) era pai de 5 filhos: Pe. Agnaldo, Edlamar, Édla, Edilene, Aparecida Estelamar. Mineiro de pouca conversa e discreto, a seu modo, sempre se mostrou dedicado pai com imensa admiração pelo filho, pelas filhas, netos e netas. Como trabalhador braçal era respeitadíssimo pelos seus companheiros, amigos e patrões. 61 uma maneira saudável e comprometida com o carisma vicentino, não sendo uma mera cumpridora de tarefas e atividades, mas uma família que testemunha a ternura do Ressuscitado. 4. Abertura do Seminário Interno – 2008 No dia 15 de janeiro deste ano (2008), às 8 horas, aconteceu a cerimônia de abertura do Seminário Interno interprovincial da Congregação da Missão no Brasil. A Celebração Eucarística, na Capela São Vicente de Paulo, em Petrópolis (RJ), presidida pelo Pe. Fernando Barbosa dos Santos (Visitador da Província de Fortaleza) e concelebrada pelos Padres Agnaldo Aparecido de Paula (Visitador da Província do Rio de Janeiro) e Fantico Nonato Borges Silva, contou com a participação de representantes de alguns ramos da Família Vicentina, da Comunidade do Sertão do Carangola e da Comunidade Católica Jesus Menino. saboreava fatos e acontecimentos, penetrava em tudo com a luz do amor. Sabia que tudo tem seu tempo e sua hora. A nós, ao contrário, a ansiedade nos torna superficiais porque nos leva a passar rapidamente de uma atividade a outra, sem nos aprofundarmos em nada. Com o coração ansioso não somos capazes de nos deter em coisa alguma. Não suportamos a quietude. Não sabemos saborear o mais agradável das coisas. Não está no momento de nos curarmos da impaciência e da ansiedade para deixarmos o Espírito de Cristo agir mais e melhor em cada um de nós? Pe. Paulo Roberto Gomes, M.S.C. Os Seminaristas que foram admitidos ao Seminário Interno são: José Valdo dos Santos Filho (PBCM), Luciano Alves Dias (PBCM) e Eurismar Silva de Sousa (PFCM). Nesta mesma celebração, o Pe. Fantico Nonato Borges Silva assumiu o ofício de Diretor do Seminário Interno Interprovincial. Nos meses de janeiro e fevereiro, o Pe. Fantico será auxiliado pelo Pe. Eduardo Raimundo dos Santos, até que em março o Pe. Paulo Eustáquio Venuto assuma o ofício de administrador da Comunidade Local, sendo auxiliar da formação e dando atendimento à Comunidade do Sertão do Carangola. 60 13 Situando o Laicato Vicentino no coração da Igreja da América Latina “Considerarão que não pertencem a uma congregação religiosa, já que esse estado não vai bem com as ocupações de sua vocação. (...) Vosso mosteiro é a casa dos enfermos (...). Vossa cela é vosso quarto de aluguel. Nisso sois semelhantes a Nosso Senhor. Tendes como capela a igreja paroquial, na qual tendes que assistir o santo sacrifício e dar bom exemplo, sendo edificação do povo, ainda que sem deixar por isso o serviço necessário aos enfermos. Vosso claustro são as ruas da cidade, pelas quais tendes que ir para atender os enfermos. Vosso claustro é a obediência, já que a obediência tem que ser vossa clausura, não passando nunca além do lugar para onde vos chamaram e mantendo-vos fechadas ali dentro. Por grade, tereis o temor de Deus. E por véu levareis a santa modéstia” (Conferência de 24 de agosto de 1659 – ES IX, 1178-1179). Pe. Toni, Pe. Raimundo, Wanderson, Fernando; Paróquia Pai Misericordioso: Pe. Antônio Gomes; Nova Belém: Paulo Veloso; o retiro da comunidade realizou-se nos dias 27, 28 e 29 de março na cidade de Igarapé - MG, com o tema “testemunhando o Cristo Ressuscitado na vida comunitária”, momento de reflexão e muito silêncio, sendo nós ajudados pelo Pe. André Ferraz, o qual proporcionou e provocou profundas análises das atitudes incoerentes com a opção que foi feita por cada propedeuta. Num clima de Jesus Ressuscitado, no dia 25 de março esta comunidade realizou a celebração eucarística festiva e posteriormente participou de uma deliciosa confraternização, onde houve muita alegria e comunhão entre todos os membros da comunidade; mais uma vez, a pedido do provincial da PBCM, os propedeutas participaram da homenagem feita aos jubilandos de nossa província, proporcionando felicidades e muita satisfação aos que festejavam seu jubileu de idade, vocação, ordenação e de votos. A comunidade do Instituto do São Vicente de Paulo é constituída hoje por 10 propedeutas, sendo eles: José Nunes (2º de filosofia e 3º de propedêutico); Marcelo Santos (1º de gestão pastoral e 4º de propedêutico); Mirandi (1º gestão pastoral e 2º de propedêutico); Paulo Dantas (1º de filosofia e 2º de propedêutico); Gilberto Leandro (1º de filosofia e 2º de propedêutico); Edimilson Vicente (1º de filosofia e 2º de propedêutico); Paulo Veloso (filosofia concluída, 1º propedêutico); Fernando (1º propedêutico); Daniel (1º propedêutico); Wanderson (1º propedêutico); também formam essa comunidade os padres: Alexandre Nahas (superior da casa), Vandeir (formador), Weliton (auxiliar de formação e SAV), Raimundo João (coordenador da FV de BH) e Antônio Gomes. Nesta ocasião é possível pontuar que a equipe de formação e os propedeutas se encontram em festa pela chegada de seus novos membros. A fase que esta comunidade vive agora é de conhecimento mútuo, em que muitos largaram recentemente a família originária e optaram por outra família, a qual deve possuir um caráter intenso de acolhimento e de amizade sincera. Aqui se pode afirmar que, em meio a uma multiplicidade de dons e características diversas, é possível concretizar a fusão e a unidade de forças e desejos comuns. Esta comunidade vive de 59 14 3. Novos Seminaristas (Propedêutico) e Semana Santa do I.S.V.P. “Aqui se vive a ternura” A comunidade do Instituto São Vicente de Paulo no ano de 2008 recebeu mais cinco membros: Pe. Vandeir (formador); Fernando, de Paraibuna-SP; Wanderson, de Alvorada-TO; Daniel, do Senhor do Bonfim-BA e Paulo Veloso, de Nova Belém-MG. A entrada desses novos membros afirma que esta comunidade se caracteriza pela multiplicidade de culturas; com isso, é construída a identidade primeira dessa casa, pois é na superação das diferenças culturais e da personalidade individual que resulta uma comunidade alegre, dinâmica, irmã, acolhedora e acima de tudo comprometida com o projeto cristão. Neste primeiro trimestre de 2008 a comunidade teve diversas atividades, sendo elas: inicio de ano; retiro; Semana Santa missionária: celebração da páscoa na comunidade; homenagem aos jubilandos; participação em atividades provinciais; envio de representantes para integração da família vicentina do regional de Belo Horizonte (José Nunes e Edimilson Vicente); vida pastoral bem comprometida. Dentre estas atividades é possível destacar e pormenorizar: o início do ano letivo aconteceu oficialmente no dia 19 de fevereiro na casa São Justino de Jacobis, momento em que também aconteceu a emissão e a renovação do Bom Propósito dos residentes da casa São Justino de Jacobis; na semana santa a comunidade do ISVP assumiu sua missionaridade e colocou-se a caminho, sendo os membros enviados para diversas localidades de Minas Gerais (Francisco Badaró: Pe. Vandeir, Marcelo Santos e Mirandi; Santo Antônio de Itambé: Pe Alexandre, José Nunes, Paulo Dantas e Gilberto; Paróquia Pio X: Edimilson; Bertópolis: Danil; Taquaraçu de Minas: 58 Apesar de este texto ser a Carta Magna de São Vicente de Paulo às Filhas da Caridade, constituídas mais tarde como Sociedade de Vida Apostólica e, por isso, participante da Vida Consagrada, o que nos interessa aqui é a intenção de São Vicente, que, diante da grande pobreza e falta de assistência dos pobres e sofredores de seu tempo, organizou, ao lado de Santa Luisa de Marillac, a Companhia das Filhas da Caridade, uma associação de jovens leigas, totalmente dedicadas aos Pobres, que se consagravam anualmente para tal serviço, doando, para isso, sua vida, suas energias e sua capacidade de amar. Vicente de Paulo é, certamente, alguém que aceitou, para dar respostas coerentes ao seu tempo, o desafio da secularização, não pensada como secularismo, como abandono de Deus e do sagrado em favor das autonomias, liberdades e individualidades modernas e contemporâneas, mas secularização pensada como capacidade de entrever o mundo, perceber a dinâmica que lhe é intrínseca, tomar consciência da inexpressividade e do arcaísmo das fórmulas de evangelização e serviço do mundo de então e ainda propor alternativas eficazes e seguras para a transformação da sociedade e da Igreja. Vicente de Paulo está convicto de que a máquina do mundo não funciona de maneira natural, pura, desinteressada. Percebe com clareza que há um processo de controle do mundo e de exclusão social, de irresponsabilidade diante da vida e de abandono de princípios irrenunciáveis ética e religiosamente. Por isso, em sua Carta Magna às Filhas da Caridade, São Vicente seculariza as formas tradicionais de consagração e evangelização, tudo relativizando para melhor compreender o mundo e inserir evangelizadores qualificados no coração sofrido do mundo, com o intuito de, realmente, resolver ou, pelo menos, apontar possibilidades para emperar tamanha desordem e miséria. Seu processo de secularização parte de uma mudança de mentalidade, que não mais vê o clero como único promotor do Reino, mas seculariza a evangelização, colocando-a nas mãos dos leigos, “homens e mulheres do século, do mundo”; faz com que as formas que asseguravam a tranqüilidade e a ordem religiosa sejam todas colocadas a serviço de uma nova perspectiva: a inserção no mundo e a proximidade com os pobres e sofredores, possivelmente as únicas formas possíveis de real evangelização. Muda, inclusive, o conceito de Deus, de um Deus 15 intocável, mítico e senhor de um mundo em ordem, para o Deus misericordioso, que sofre com os seus e entrega a história como espaço de libertação e humanização. Uma outra palavra para este desafio da secularização assumido por Vicente de Paulo é inserção no mundo. Seu grande objetivo era colocar, no mundo, pessoas do mundo com o coração transformado por Deus e abrasado pela caridade de Nosso Senhor. Em vez do grande mosteiro, gradeado e murado, o lugar do seguidor de Jesus é a casa dos Pobres, verdadeiro lugar da experiência de Deus, desviada do privilégio litúrgico-monástico para a vida cotidiana e serviçal. A cela, lugar do escondimento e da experiência de Deus, é agora o quarto de aluguel, a experiência-limite da carência e do abandono, da falta de segurança institucional e da cotidianidade da vida pobre e peregrina, sempre dependente dos irmãos, das pessoas próximas e do trabalho remunerado, para assegurar a própria subsistência. Em vez de capela pessoal e reservada, organizada para uma pequena elite eclesiástica, a igreja paroquial, onde as pessoas se encontram, os laços podem ser refeitos e a experiência de Deus é feita por pessoas concretas, não idealizadas, por pessoas que se encontram entre si e com Deus e não por pessoas separadas da vida concreta e real. Por fim, como claustro, o espaço do descanso e da meditação, os seguidores de Jesus inseridos no mundo têm as ruas da cidade, o lugar do conflito e do encontro, do trabalho e da fadiga, da peregrinação e da construção de novas realidades, do esforço e das possibilidades do novo. “Existem duas frases recentes que, em sua expressividade concreta, esclarecem bem o que esse apressado diagnóstico teológico poderia deixar em abstração difícil e pouco compreensível. A primeira – “uma Igreja que não serve, não serve para nada” – é do bispo Jacques Gaillot e expressa muito bem a necessidade, da parte da Igreja, de descentrarse de si mesma para, conforme o encargo e o exemplo de Jesus, encontrar sua genuína essência na entrega à missão salvífica no mundo. A segunda é de Eduardo Schillebeeckx e indica, admiravelmente, por seu expresso contraste com o paradigma antigo, a profundidade do repensamento que se nos exige: ‘Fora do mundo não há salvação’”1. 2. Missionário Vicentino premiado No dia 23 de fevereiro, a revista espanhola “Mundo Negro”, dos Missionários Combonianos, concedeu o Prêmio “Mundo Negro à Fraternidade 2007” ao nosso Coirmão, Padre Pedro Opeka, por seu empenho em favor da promoção dos mais pobres em Madagascar. Pedro Opeka, filho de imigrantes eslovenos, nasceu em San Martín, Buenos Aires (Argentina). Há 33 anos, vive e trabalha em Madagascar como Missionário. Com um grupo de voluntários, começou, num pequeno terreno onde funcionava um depósito de lixo, a construção das primeiras moradias do que viria a ser mais tarde a cidade de Akamasoa, hoje com mais de 20 mil habitantes. Atualmente, há mais de 7 mil jovens matriculados nas escolas locais e em seus cursos profissionalizantes (carpintaria, mecânica, artesanato, etc.). Terminada a preparação teórica e técnica exigida, os mesmos jovens podem ser empregados nas oficinas onde foram formados para a transmissão do que aprenderam. Nestes tempos, em que queremos descobrir caminhos novos para mudar as estruturas geradoras de pobreza, sirva-nos de inspiração o exemplo deste nosso Coirmão. Eslovênia e Mônaco propuseram o nome do Padre Opeka para o Prêmio Nobel da Paz. Ele já recebeu vários prêmios e condecorações internacionais, incluindo a Medalha da Legião de Honra, máxima distinção francesa. Para conhecê-lo melhor: www.perepedro.com 1 QUEIRUGA, Andrés Torres. Um Deus para hoje. Trad. João Rezende Costa. São Paulo: Paulus, 2003. 2.ed. p.41-42. 16 57 Exatamente por esta sua característica secular, de inserção e acolhimento generoso e alegre do mundo, os movimentos leigos ganham na Família Vicentina um amplo espaço e uma legitimidade sem igual, sendo, pode-se dizer, uma de suas marcas fundamentais e estruturais. 1. Encontro dos Responsáveis da Família Vicentina De 31 de janeiro a 2 de fevereiro de 2008, celebrou-se em Roma, na Cúria Geral da Congregação da Missão, o Encontro Anual dos Responsáveis Internacionais da Família Vicentina. Ao todo, eram 24 participantes, representando 13 ramos. Dentre os assuntos tratados, destacam-se os seguintes: a) Celebração da solenidade de São Vicente de Paulo 2008, com a proposta de continuidade da reflexão iniciada no ano passado sobre o Projeto “Mudança de Estruturas”; b) Primeiras sugestões para a comemoração dos 350 anos da morte de São Vicente e de Santa Luísa, em 2010; c) Comunicações a respeito do Projeto “Mudança de Estruturas”, incluindo a possibilidade de subsidiar projetos de promoção humana e social, valendo-se dos recursos colocados à disposição dos Ramos por uma Fundação Internacional, e a proposta de sessões continentais para os Assessores da F.V.; d) Estudo sobre a pertença de pessoas em situações particulares às Associações da F.V.; e) Informes sobre os lugares históricos vicentinos; f) Representação da F.V. na ONU e na União Européia; g) Encontro da Juventude Vicentina por ocasião da Jornada Mundial da Juventude (Sidney-Austrália). Todos os participantes saíram do Encontro ainda mais convictos da atualidade da herança espiritual e apostólica que nos foi legada por São Vicente. Uma síntese da ata do evento e a carta do Superior Geral sobre o mesmo estão disponíveis em: www.famvin.org. A próxima reunião terá lugar em Madri, de 30 de janeiro a 1º de fevereiro de 2009. 56 A Associação Internacional de Caridades – AIC, a Sociedade de São Vicente de Paulo – SSVP, a Juventude Marial Vicentina – JMV, a Associação da Medalha Milagrosa – AMM, os Missionários Leigos Vicentinos – MISEVI e alguns outros movimentos formam um imenso contingente de homens e mulheres, jovens, adultos e crianças que se dispõem à evangelização e, particularmente, ao serviço aos Pobres, na busca da construção de mundo mais justo e solidário. Esta consagração no mundo, a partir das realidades concretas em que cada leigo e leiga se situa, parte da convicção de que todos formam o Povo de Deus, que “está constituído em sua maioria por fiéis leigos, chamados por Cristo como Igreja, agentes e destinatários da Boa Nova da Salvação, a exercer no mundo, vinha de Deus, uma tarefa evangelizadora indispensável” (Santo Domingo 94). De fato, é irrenunciável para os leigos, na eclesiologia de hoje, a missão evangelizadora, concebida não mais como suplência, para os lugares e situações em que há falta de clero, mas como verdadeira missão batismal, constitutiva de sua experiência e conseqüente dignidade batismal, “ponto de início de toda espiritualidade cristã que se funda na Trindade” (Aparecida 240). Uma vez inseridos na vida de Deus, por Jesus Cristo, na ação do Espírito Santo, o fiel assume para si a graça do próprio Senhor, participando intimamente de sua vida e de sua missão, de suas opções e de suas escolhas, de seus sonhos e de seu destino. “Como todos os membros da Igreja, participam da tríplice função profética, sacerdotal e real do Cristo, em vista da realização de sua missão eclesial” (Medellín 10,8; cf. Puebla 786; Aparecida 209). Revestido do Espírito de Cristo, são chamados a fazer de própria vida uma oferenda agradável a Deus, uma profecia para o mundo, um testemunho eloqüente da misericórdia do Senhor. 17 “Exorto-vos, pois, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito” (Rm 12,1s). Certos de que “a fidelidade e coerência com as riquezas e exigências do seu ser lhe conferem a identidade de homem de Igreja no coração do mundo e de homem do mundo no coração da Igreja” (Puebla 786; cf. Aparecida 209), pode-se afirmar que a santidade leiga vicentina está intimamente ligada à intensidade e efetividade com que se insere no mundo concreto, com todas as suas demandas e exigências. Não existe santidade sem inserção nem inserção sem santidade, isto é, toda forma de seguimento de Jesus, na compreensão carismática vicentina, passa pela inserção no mundo dos sofredores e pela solidariedade com os mais pobres e desamparados. Os Pobres são, neste sentido, condição sine qua non do seguimento de Jesus, crivo da verdadeira espiritualidade, razão de ser de qualquer movimento vicentino, sujeitos da transformação do mundo e espaço sagrado da experiência de Deus. E, para fortalecer esta espiritualidade missionária como caminho seguro de santidade, alguns princípios devem ser estabelecidos para os leigos e leigas da Família Vicentina, no intuito de apontar-lhes horizontes espirituais e possibilidades missionárias. Conseqüentemente, após olhar os princípios que devem nortear a atuação e a vida de santidade missionária dos leigos, é mister que se apresentem alguns desafios que, mais que depressa, precisam ser considerados, refletidos e viabilizados. E isso se fará seguindo os documentos da Igreja na América Latina, são a partir do qual olhamos a realidade e experienciamos nosso carisma. ética e espiritualidade para um outro mundo possível; mobilização social: sujeitos em ação; mediação de conflitos; políticas sociais na construção da cidadania; o projeto como instrumento de gestão e de avaliações. Com este curso, auxiliados pela nossa formação e observando os ensinamentos de São Vicente, pretendemos fazer uma retrospectiva histórica da cultura ocidental, na ótica das ciências humanas, para entender o processo de construção e significação da ética e da espiritualidade, aprofundar a reflexão crítica sobre o mundo globalizado, buscando uma nova consciência espiritual e ética. Contribuir com a reflexão crítica sobre a sociedade atual, possibilitar a apropriação de alguns elementos importantes para a análise da sociedade, despertar um interesse crítico sobre a realidade atual, proporcionar uma visão histórica dos movimentos sociais no Brasil, possibilitar uma compreensão e discussão do papel dos movimentos sociais hoje, compreender a atuação dos movimentos sociais que têm atuação no Distrito Federal e nos arredores. É com esse intuito que acolhemos os desafios da missão, propondo-nos novas reflexões, levando-se em conta a altitude da meta a ser alcançada e de tudo que está implicado, segundo o Evangelho, no nosso encaminhamento para ela, sabendo que não podemos assinalar limites para os dons de Deus. De toda conveniência é, enfim, que a nossa formação comece e termine inserida no projeto de serviço aos Pobres, como quer São Vicente de Paulo, veiculada pelas condições da historicidade, feita a partir de um acontecimento, feita por meio da experiência junto ao povo sofrido e abandonado. Uma formação desenvolvida segundo uma lei de progressão, como no processamento de que, de fato, dão testemunho os dois Testamentos. A nossa vocação realiza-se no presente, mas com abertura para o futuro. É a nossa destinação quando confiamos na bondade divina. Ainda não somos o que Deus quer de nós, mas com nossa história e com a nossa formação queremos convergir para Deus a cada dia. Que assim Deus nos inspire palavras e ações em nossa missão. João Paulino da Silva Neto Hélio Correia Maia 18 55 Temos a certeza de que, para ser discípulo de Jesus, o Missionário do Pai, é indispensável fazer a experiência profundamente pessoal e intransferível de encontro com Jesus, capaz de marcar um antes e um depois em minha vida. Assim aconteceu na vida de Vicente de Paulo, que, ao ir ao encontro do Pobre, encontrou a Deus, urgente e escandalosamente estampado no rosto e no grito daqueles miseráveis da França do seu tempo. Nesse sentido, o projeto da Família Vicentina constitui caminho atual e autêntico para o discípulo que anseia por esse encontro com Jesus, sem o qual não se constrói e não se assimila uma espiritualidade radicalmente evangélica. Continuemos caminhando com passos firmes rumo ao horizonte missionário que o Cristo nos oferece, pois temos a garantia de que "ele estará sempre conosco até o fim dos tempos" (Mt 28,20). Pe. Emanoel Bedê Bertunes, C. M. Formação dos Nossos / Experiência formativa em Brasília Em fevereiro de 2007, chegamos à Congregação da Missão para iniciarmos os estudos e a caminhada vicentina, Hélio, já tendo o curso de filosofia e vindo da Ordem dos Carmelitas, e eu, João Paulino, também com o mesmo curso, vindo do Seminário da Diocese de Patos de Minas. No primeiro semestre, estudamos no Instituto São Vicente de Paulo, juntamente com os estudantes de filosofia e o propedêutico. Seguindo as normas da Congregação da Missão e os desígnios de Deus, fomos enviados em missão para a Paróquia de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa do Riacho Fundo II, em Brasília. Aqui, tendo como base os valores deixados por São Vicente e as regras que fundamentam a formação dos estudantes vicentinos, sob a orientação de nosso formador, Padre Manoel Bonfim, iniciamos, na Universidade Católica de Brasília (UCB), um curso para formação de líderes, que tem as seguintes temáticas: 54 Princípios ü “Apostolado no contexto de um compromisso histórico libertador” (Medellín 10,4): Toda ação evangelizadora tem como meta a construção do Reino de Deus, que é dom do Pai, que deve ser acolhido com generosidade e disposição pelos fiéis. ü “Compromisso impregnado pelas circunstâncias peculiares de seu momento histórico presente” (Medellín 10,9): A ação evangelizadora e a santidade de vida e nas relações partem, necessariamente, do chão concreto em que se vive. A história presente é o espaço único de realização da santidade e o campo acertado da atuação dos filhos e filhas de Deus. ü “Evangelização da mentalidade e dos costumes, das leis e das estruturas” (Medellín 10,9): A santidade não é algo apenas pessoal, fechado no mundo das individualidades. O projeto do Reino é para toda a sociedade e deve chegar até às estruturas sociais, a fim de que, a partir da mudança das consciências, convertidas pela força do Espírito, segundo o paradigma de Jesus, o Reino de Deus se estenda para todas as dimensões da vida e da existência. ü “Vocação laical situada na Igreja e no mundo” (Puebla 787): O leigo é aquele que mais propriamente está inserido no mundo como Igreja, como batizado, seguidor de Jesus, e, na Igreja, como cidadão do mundo, autônomo, livre e responsável, que pensa amplamente e não a partir da tutela das grandes instituições. ü “Promoção do bem comum, na defesa da dignidade do homem e de seus inalienáveis direitos” (Puebla 792): A santidade e a evangelização têm como objetivo a promoção do bem comum, atentando-se especialmente para os mais sofredores e para as grandes situações em que a morte está minando a vida. ü “Inteligência e aptidão para uma ação eficaz” (Puebla 793): A atuação dos leigos na evangelização garante a inteligência e a aptidão necessárias para a eficácia da missão da Igreja. Sua presença no mundo, sua formação profissional e as possibilidades inerentes à vida secular facilitam a compreensão da Igreja sobre o mundo e a escolha de métodos e projetos eficazes para a construção do Reino de Deus, sem contar com a colaboração de todas as ciências sociais e humanas e o próprio desenvolvimento das técnicas e do conhecimento. 19 ü “Pobres que evangelizam Pobres” (Santo Domingo 94): O leigo tem a grande vantagem de estar em um mundo muito concreto, marcado por desigualdades e esperanças, valores e desacertos. E a partir deste mundo concreto, falando de igual para igual, os Pobres recebem missionários que fazem a mesma experiência de sofrimento e luta que eles. ü “Credibilidade da fé manifestada na autenticidade e na coerência de sua conduta” (Aparecida 210): O testemunho de vida marca a autenticidade da pregação do Evangelho e do acolhimento da proposta de Jesus. Fé traduzida em atitudes existenciais. ü “Participação ativa e criativa na elaboração e execução de projetos pastorais” (Aparecida 213): Valorização do leigo como protagonista do processo de evangelização e responsável autêntico pela missão da Igreja. Missão que não acontece apenas na execução de projetos, mas que se inicia em sua elaboração e sistematização. ü “Construção da cidadania e de eclesialidade pelos leigos como um só e único movimento” (Aparecida 215): Compreensão unitária da existência, pensando a Igreja como inserida no mundo e participante de seu destino e o mundo como espaço histórico da realização humana. Desafios ü “Fomentar uma espiritualidade própria de leigos” (Medellín 10,17). ü “Não se fechar em si mesmos e não se aferrar a estruturas demasiado rígidas” (Medellín 10,4). ü “Descobrir na realidade a presença do Senhor” (Puebla 797). ü “Promover um laicato livre de todo clericalismo” (Santo Domingo 97). ü “Transformar as realidades para a construção de estruturas justas segundo os critérios do Evangelho” (Aparecida 210) ü “Sólida formação doutrinal, pastoral e espiritual” (Aparecida 212). ü “Abrir a mentalidade do clero para entender o leigo e aceitá-lo como co-responsável” (Aparecida 213). Pe. Marcus Alexandre Mendes de Andrade, C. M. 20 Com isso, avaliamos que o curto período das missões serviu mais como pré-missão do que propriamente Missão. 4. A continuidade de um projeto missionário O projeto missionário do Regional do Rio de Janeiro da Família Vicentina é de planejar as Missões na Paróquia São Pedro e Santa Edwiges para três anos. Estivemos lá e conhecemos (in loco) a realidade e suas exigências. Agora é preciso "avançar para águas mais profundas" (cf. Lc 5,4), continuar nos preparando para o trabalho na Messe do Senhor. Voltamos para casa desafiados e inquietos com tudo o que vimos e ouvimos e animados e convictos de que estamos caminhando na direção correta, apontada pelo Mestre: "O Senhor me enviou para evangelizar os Pobres" (Lc 4,18). Um dos horizontes apontados pelo documento final da Conferência de Aparecida, para o qual nos chama a atenção o Pe. Comblin, é "orientar toda a ação da Igreja para a missão, missão que tem como protagonistas os leigos. Estes vão ajudar a Igreja a retomar o caminho missionário e a ir ao encontro dos que estão longe da paróquia, daqueles que nem a linguagem e nem a ação centralizadora da paróquia conseguem alcançar. O documento convida à conversão pastoral de nossas comunidades, a qual deve nos levar, além de uma pastoral de mera conservação, para uma pastoral decididamente missionária" (cf. n. 370). Percebe-se que o projeto missionário da Família Vicentina está em sintonia com os anseios da Igreja LatinoAmericana. Assim como a Igreja deve se deixar renovar pela ação transformadora do Espírito e ter a coragem de se abrir à renovação pela conversão, revitalizando sua ação missionária, também a Família Vicentina, à luz do Espírito e a exemplo de seu patrono, Vicente de Paulo, deve continuar a caminhada missionária, atenta e sensível aos sinais dos tempos, às novas realidades de missão, às suas exigências e desafios para que seja sempre sinal profético e fecundo da graça de Deus no seio da Igreja e na vida do Povo de Deus. 53 escolas não são suficientes para atender ao número de crianças e adolescentes. Há uma falsa sensação de paz garantida pela existência de milícias que substituem o poder da polícia. Os moradores vão buscar em outros bairros os serviços de banco e correios. A praia de Sepetiba, que constituía a principal opção de lazer da região, está poluída. O panorama religioso não difere muito dos grandes centros urbanos. O pluralismo é evidente e é assustador o número de "religiões" de linha pentecostal. Encontram-se pequenas igrejas com os nomes mais variados possível. Também é significativo o número de espíritas e praticantes de umbanda e candomblé. O mais preocupante e desafiador à evangelização é o crescente número de indiferentes ou dos que se declaram sem nenhuma religião. Já afirmam cabalmente que mais de 50% da população não se denominam católicos. 3- As Missões As Missões aconteceram somente em nove comunidades, divididas em sete setores. O método aplicado encontra-se no Evangelho, sugerido pelo próprio Jesus, Missionário do Pai: "Vão de dois a dois e visitem todos os que os acolherem..." (cf. Mt 10,515). Durante o dia, abordamos as famílias através das visitas, que constituem a atividade prioritária e mais intensa da missão; a noite é sempre reservada para os encontros celebrativos e atividades formativas. No que tange às visitas, alguns pontos nos chamaram a atenção e servem de iluminação para rever a metodologia das Missões Vicentinas, quando na região a ser missionada não houver características rurais: muitas casas fechadas (pois o povo levanta tarde e os que levantam cedo estão para o trabalho); a receptividade foi maior por parte dos não-católicos, o que pede do missionário abordagem mais ecumênica; dos que se denominavam católicos, boa parte não se entusiasmou com a visita do missionário e quase sempre havia uma boa desculpa para não o receber. 52 MEMÓRIA DA BEATIFICAÇÃO DE IRMÃ LINDALVA JUSTO DE OLIVEIRA, F.C. Tarde do dia 2 de dezembro de 2007. O sol reverberava no horizonte. Uma multidão de aproximadamente 25 mil pessoas enchia as arquibancadas do estádio Manuel Barradas (Barradão), em Salvador (Bahia), para a solene celebração eucarística de beatificação da Irmã Lindalva Justo de Oliveira, jovem Filha da Caridade de São Vicente de Paulo, martirizada no ano de 1993. O Povo de Deus reunido, leigos e leigas provenientes das 116 paróquias da Arquidiocese de Salvador, bispos e padres de várias outras dioceses, religiosas e religiosos vindos de diferentes lugares associavam-se à transbordante alegria da Família Vicentina ao celebrar o reconhecimento oficial do testemunho de uma de suas Irmãs, agora proposta como autêntico modelo de vida cristã. A Família Vicentina esteve representada por mais de 600 Filhas da Caridade, oriundas de diversas partes do mundo, sobretudo das Províncias latino-americanas, juntamente com a Superiora Geral, Irmã Evelyne Franc, e o seu Conselho. O Superior Geral, Padre Gregory Gay, impossibilitado de fazer-se presente, foi representado pelo Padre Giuseppe Guerra, Postulador Geral. Lá estava também o Diretor Geral das Irmãs, Padre Javier Álvarez, bem como os Diretores de grande parte das Províncias ali representadas, além de outros Coirmãos. Não 21 menos significativa foi a participação de numerosíssimos leigos e leigas vicentinos de diferentes ramos, tais como a Associação Internacional de Caridades (AIC), a Juventude Marial Vicentina (JMV) e a Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP). Missões Populares Vicentinas em Sepetiba e Nova Sepetiba - RJ "Discípulos e Missionários de Jesus Cristo" A cerimônia de beatificação foi precedida por um tríduo, celebrado nos dias 28, 29 e 30 de novembro, na Capela do Instituto Nossa Senhora do Salette, colégio das Filhas da Caridade, para o qual todo o Povo de Deus fora convidado. As celebrações, preparadas com esmero pelas Irmãs e realizadas no final da tarde de cada dia, constavam de cantos, orações e reflexões inspiradas na Palavra de Deus e na vida de Irmã Lindalva. No dia 1 de dezembro, houve uma solene e concorrida Vigília de Oração. Nela, foi exposta pela primeira vez à veneração dos fiéis a imagem de Irmã Lindalva, entronizada na capela por suas companheiras de Seminário, ao som do seu belo hino, que tem como refrão: “Seguindo a voz do seu Senhor, Lindalva segue sem hesitar. Vai em busca de Jesus, o seu amor, com a missão de servir e se doar”2. Ali, relemos a experiência do apóstolo Paulo, à luz do significado mais profundo da oblação de nossa mártir: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, os perigos, a espada? (...). Mas em tudo isso somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou” (Rm 8, 35-37). 1- A Família Vicentina Há algum tempo que o Regional da Família Vicentina no Rio de Janeiro vem se organizando através de reuniões, encontros, celebrações... Em termos de organização e articulação dos diversos ramos da Família, tudo é muito incipiente. Os primeiros passos ainda são recentes. Não obstante, os primeiros frutos começam a aparecer, a saber: o Dia de Oração em comum para celebrar a solenidade de São Vicente de Paulo, os encontros mensais dos representantes dos ramos da Família, os encontros de formação missionária e, mais recente, as Missões Populares Vicentinas. As Missões Vicentinas aconteceram de 12 a 27 de janeiro, na Paróquia São Pedro e Santa Edwiges, em Sepetiba e Nova Sepetiba, zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. Estiveram representados cinco ramos da Família Vicentina: Congregação da Missão, Filhas da Caridade, Sociedade de São Vicente de Paulo, Missionários Leigos Vicentinos (MISEVI) e Associação da Medalha Milagrosa. Eram cerca de trinta missionários de fora e cem missionários locais que trabalharam intensamente durante os quinze dias de Missão, visitando casa por casa, celebrando, convivendo, evangelizando, sendo evangelizados, aprendendo, ouvindo... 2 O hino é de autoria da Irmã Maria Helena Azevedo, F.C. 22 2- A realidade do local A Paróquia São Pedro e Santa Edwiges compreende dois bairros da zona oeste da capital fluminense: Sepetiba e Nova Sepetiba. Nos dois, a população gira em torno dos oitenta mil habitantes. O contexto sócio-político é de muita pobreza. Falta quase tudo que se espera encontrar num bairro: infra-estrutura em geral, saneamento básico (os esgotos correm a céu aberto), pavimentação das vias públicas, transporte satisfatório, saúde e educação de qualidade. Há um único hospital na região. As 51 da Igreja como de todas as repartições públicas responsáveis por promover o bem estar do povo. Em todas as comunidades foram realizados encontros com jovens, com crianças e com famílias, caminhadas, vias sacras, orações, partilhas e troca de experiências de fé. Assim, o povo se animou e se preparou para a festa de São Sebastião e para o encerramento da Missão que aconteceu com uma caminhada onde o povo de Taquaraçu e os missionários carregaram o andor de São Sebastião, de São Vicente de Paulo e o Cruzeiro da Missão que foi fincado na praça ao lado da Igreja Matriz. Finalizamos a segunda etapa da Missão Popular Vicentina em Taquaracu de Minas com uma avaliação da qual extraímos significativas propostas para a Igreja local e para a Pós-Missão que compreende a terceira etapa; um trabalho de formação para as lideranças leigas e para o povo da paróquia do Santíssimo Sacramento. Queremos finalizar com as palavras do Padre José Pedro Mol, que disse: “Taquaraçu de Minas não será mais a mesma depois das Santas Missões Populares Vicentinas”. Que São Vicente de Paulo e Nossa Senhora das Graças, nos ajudem e nos dêem mais ousadia e esperança nessa caminhada missionária. Pe. Raimundo João da Silva, C. M. Seminarista Vanderlei dos Reis 50 A beatificação aconteceu no dia 2 de dezembro, no contexto do lançamento do novo projeto pastoral arquidiocesano e da renovação do compromisso missionário daquela Igreja Local. O Cardeal Dom Geraldo Majella Agnelo, arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, presidiu a celebração eucarística, ladeado por mais de uma dezena de bispos e 300 sacerdotes. O rito de beatificação foi oficiado pelo Cardeal Dom José Saraiva Martins, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, enviado do Papa Bento XVI para esta finalidade. No Decreto Pontifício que inscreve Irmã Lindalva no número dos Bem-aventurados, lê-se o seguinte: “Nós, acolhendo o pedido do Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil, Cardeal Geraldo Majella Agnelo, e das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, bem como de muitos irmãos no Episcopado e de muitos fiéis, depois de ter recebido o parecer da Congregação das Causas dos Santos, por força de nossa autoridade apostólica, concedemos que a Venerável Serva de Deus Lindalva Justo de Oliveira, das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, entre as quais se consagrou, por amor de Cristo, para servir aos seus irmãos, doravante seja chamada bem-aventurada, e se possa celebrar a sua festa nos lugares determinados segundo as regras estabelecidas pelo direito, no dia 7 de janeiro”. Logo após a proclamação da nova bem-aventurada, aplaudida entusiasticamente por todo o povo reunido, procedeu-se à entrada das relíquias, fragmentos de suas costelas e de sua falange, conduzidas por sua mãe e por um de seus irmãos, ao som do seu hino. Fato notável e raro é uma mãe tomar parte na beatificação da própria filha. A figura veneranda da D. Maria Lúcia da Fé, do alto de seus 85 anos de idade, com seu semblante emocionado e seus passos lentos, causaram grande comoção a toda a assembléia. À comoção, associávamos um sentimento de profunda gratidão 23 pela filha que gerou e generosamente ofereceu a Deus para o serviço dos Pobres na Companhia das Filhas da Caridade. No mesmo momento em que as relíquias eram levadas ao presbitério, um painel com a foto da jovem mártir, colocado à esquerda do altar, era descerrado. Nele, a Bem-aventurada Lindalva aparece com o seu olhar sereno, tendo nas mãos a imagem do Cristo Crucificado e, como pano de fundo, vê-se o Abrigo Dom Pedro II, lugar da sua doação diária e do seu holocausto de amor. Impelida pela caridade abrasadora do Crucificado, que conservava diante dos olhos para tê-lo sempre impresso em seu coração, Lindalva acolheu como dom de Deus a missão que lhe fora confiada, fazendo de toda a sua vida um contínuo sacrificium laudis na oferta de si mesma aos Pobres, concretamente àqueles velhinhos do Abrigo. Esta consagração total de Irmã Lindalva ao Senhor para o serviço despretensioso e humilde aos menores dos seus irmãos constitui, pois, a principal chave de leitura do seu martírio. As relíquias, colocadas perto do painel, foram ornadas por um belo arranjo de lírios brancos, símbolo já consagrado da pureza de coração, de que nos fala o Evangelho (cf. Mt 5,8) e que traduz a virtude da transparência, característica das pessoas autênticas e coerentes que se esforçam por amar a Deus com o coração indiviso. O arranjo foi levado pela Superiora Geral e pela Visitadora da Província de Recife. Concluído o rito de beatificação, a celebração continuou o seu curso normal, no contexto do 1º Domingo do Advento, fazendo-nos reviver espiritualmente a esperança messiânica pela vinda do Salvador, acalentada pelo povo de Israel, para acolhermos a permanente visita que o Senhor nos faz e assumirmos a atitude fundamental da vigilância, preparando-nos para um novo e definitivo parto da salvação de Deus em nossa história, quando seremos conduzidos à plenitude no amor. Neste caminho, serve-nos de estímulo o testemunho de radicalidade evangélica da Irmã Lindalva. Santas Missões Populares Vicentinas em Taquaraçu – MG Na primeira etapa, destacaremos a importância da aceitação e da confiança que o pároco se dispôs a nos dar e a sua colaboração em forma de presença amiga, e compreensão, de muito ânimo e motivação. Para o povo, a notícia da Missão despertou a curiosidade e a expectativa da chegada dos missionários. Tudo isso contribuiu para que a Missão fosse realizada com sucesso. A segunda etapa foi propriamente a Missão que se iniciou no dia 6 de janeiro com a chegada dos missionários na praça da Matriz. Foram recepcionados pelo Pároco Pe. José Pedro Mol, e pelo povo de Taquaraçu, com canções regionais e queima de fogos. Às 16 horas, o Arcebispo emérito de Belém do Pará, Dom Vicente Zico, C. M., presidiu a celebração da Missa de abertura da Missão e o envio dos missionários, entregando a cada um deles uma cruz, o símbolo da Missão redentora de Jesus Cristo. Em seguida, o prefeito da cidade, Marcílio Bezerra da Cruz, entregou a chave da cidade ao Pe. Raimundo João da Silva, C. M., demonstrando a aceitação, recepção, alegria e acolhida do povo de Taquaraçu de Minas aos Missionários. No dia seguinte à beatificação, houve uma Eucaristia na Catedral Basílica, também presidida pelo arcebispo de Salvador. Nesta ocasião, pela primeira vez, foi celebrada a memória litúrgica Milhares de famílias da região urbana e rural de Taquaraçu receberam a visita de missionários, até mesmo as famílias evangélicas e de outras religiões acolheram com carinho os visitantes. Nesse sentido tivemos diversos desafios, enfrentamos o indiferentismo religioso da parte de alguns, a falta de compromisso com a fé e a religião por parte de outros e diversos indicadores de problemas sociais que merecem a atenção tanto 24 49 Colégios. Não precisamos dar nomes. Nós o sabemos e mais o sabe Deus que tem os Sacerdotes na palma de sua mão. Destes cinco Jubilandos, apenas o nosso Padre Sebastião Dias não se acha aqui no Retiro, por causa de sua cruz da cegueira cada vez mais pesada. Mas seus 60 anos de Sacerdócio estão no coração de Deus e de São Vicente nosso Fundador. Também para estes queridos Coirmãos que celebram seu Jubileu Sacerdotal queremos juntar nossas vozes de toda Província para cantar com eles seu Salmo de ação de graças rezando: Dai graças ao Senhor, porque ele é bom. Eterna é a sua misericórdia. TODOS: Dai graças ao Senhor, porque ele é bom. Eterna é a sua misericórdia. CONCLUINDO: Queremos, em nome de toda a Província, dos que aqui se encontram e dos que não puderam comparecer, apresentar a todos estes 16 Coirmãos no seu Jubileu ou de VIDA, ou de VOCAÇÃO, ou de CONSAGRAÇÃO, ou de SACERDÓCIO, NOSSOS PARABÉNS E NOSSO MUITO OBRIGADO, pelo exemplo que deixam para toda a Província, de que vale a pena fazer parte daquele terceiro grupo que não volta atrás, que não pára, que continua a subida até o mais alto que Deus quiser. Estes nossos Coirmãos nos fazem lembrara a águia pequena “que nasceu para voar...e outro dia, outra vez recomeçar...não sou águia se lá em cima eu não morar...vou ser quem sou e só assim serei feliz.” Convido a todos para cantarmos no final de nossa Celebração com todos nossos Jubilandos presentes e ausentes o hino de ação de graças daquela que é Mãe de Cristo, Mãe da Igreja e nossa Mãe: O MAGNIFICAT Pe. Luiz de Oliveira Campos, C. M. da Bem-aventurada Lindalva Justo de Oliveira, Virgem e Mártir, com os textos próprios aprovados pela Santa Sé3. Digna de particular menção é a Oração do Dia, comum à Missa e à Liturgia das Horas, cujo conteúdo ressalta o serviço aos Pobres, concretização histórica da caridade cristã e do carisma vicentino, como pólo dinamizador do martírio de Irmã Lindalva e o seu principal legado apostólico4. No final da celebração, a Superiora Geral dirigiu palavras de agradecimento por parte de toda a Companhia a todos quantos colaboraram para a magnífica realização do evento, primeira beatificação ocorrida no nordeste brasileiro5. Vinícius Augusto R. Teixeira, C. M. 3 O formulário litúrgico próprio da Bem-aventurada Lindalva Justo de Oliveira, traduzido do latim para cinco línguas, já se encontra disponível no site da Postulação Geral da Congregação da Missão e das Filhas da Caridade: www.vincenziani.com/SpecialeLindalva. 4 A Oração diz o seguinte:“Ó Deus, que na Bem-aventurada Lindalva consagrastes o serviço aos pobres com a coroa do martírio, concedei-nos, por sua intercessão, que, praticando as obras do vosso amor, saibamos oferecer a nossa vida como sacrifício que vos agrade”. 5 48 No âmbito da Família Vicentina, Irmã Lindalva é a primeira latino-americana a ser declarada bem-aventurada. Outros processos estão em andamento, sob os auspícios da Postulação Geral da Congregação da Missão e das Filhas da Caridade [Ver a excelente coletânea de perfis biográfico-espirituais dos modelos de santidade da Família Vicentina organizada por nosso Postulador Geral: GUERRA, Giuseppe (org.). I Santi della Famiglia Vincenziana. Roma: Vincenziane, 2007]. 25 4º MOMENTO: JUBILANDOS DE SACERDÓCIO BEM-AVENTURADA JOSEFINA NICOLI, F. C. Caridade sem medidas Mais uma vez, o horizonte da santidade se descortina diante dos filhos e filhas de São Vicente de Paulo. No dia 3 de fevereiro de 2008, em Cagliari (Itália), Irmã Josefina Nicoli (1863-1924), da Companhia das Filhas da Caridade, foi inscrita no rol dos Bem-Aventurados como autêntico modelo de vida cristã, destemida servidora dos Pobres, formadora e animadora de suas Irmãs e exímia educadora da juventude. Josefina Nicoli nasceu a 18 de novembro de 1863, em Casatisma (Pavia), uma pequena cidade do norte da Itália. Junto aos pais, seu coração foi forjado no amor a Deus e ao próximo. Este amor, fecundado no silêncio da oração e renovado continuamente na doação de si mesma aos irmãos, permanecerá indelevelmente gravado em seu íntimo até os últimos dias de sua vida, como dirá, no vigor de sua maturidade humana e espiritual, numa de suas Instruções: “Somos Filhas da Caridade: ‘A Caridade de Jesus Cristo nos impele’. Amamos Nosso Senhor, como diz São Vicente, ‘com o suor da fronte e com a força dos braços’. Amemo-lo sem medidas, com toda a nossa mente, com todo o nosso coração, alegrandonos com tudo aquilo que glorifica a Deus”. É o amor afetivo e efetivo, de que falava São Vicente às primeiras Irmãs (cf. SV IX, 475) e que Josefina seguirá comunicando a quantos dela se aproximarem. 26 1 – Padre Geraldo Nunes Costa – 08.12.1943 – 65 anos. 2 – Padre Sebastião Agatão Dias – 26.09.1948 – 60 anos. 3 – Padre Célio Maria Dell’Amore – 28.09.1958 – 50 anos. 4 – Padre Antônio Gomes Pereira – 28.09.1958 – 50 anos. 5 – Padre Wilson Belloni – 28.09.1958 – 50 anos. Para os cinco Coirmãos muito queridos de nossa Província que neste ano de 2008 comemoram seu Jubileu Sacerdotal de 65, 60 e 50 anos de SACERDÓCIO, e para todos nós que neste Retiro meditamos bastante sobre a ternura de Deus, vale a pena buscar em São Vicente, o arauto da ternura de Deus, algumas palavras sobre o PADRE, saídas do coração profundamente sacerdotal de São Vicente: Em Pierre Coste, volume 11, página 7, assim podemos ler: “O caráter sacramental dos Sacerdotes é uma participação do Sacerdócio do Filho de Deus que lhes deu o poder de sacrificar o próprio corpo e dá-lo em alimento afim de que os que dele comerem, tenham a vida eternamente... Existe algo maior e mais admirável? Oh! meus irmãos, um bom padre é uma grande dádiva...Dos Padres depende a felicidade do Cristianismo.” Foi por isso com toda certeza que São Vicente trabalhou tanto para colocar na Igreja e na França bons Padres. E seus filhos, como estes cinco Coirmãos Jubilandos vão trabalhando pelo mundo afora para serem bons Padres e formarem bons Padres. Deus seja louvado. E no mesmo Pierre Coste, volume 12, página 85, encontramos: “Não há nada maior que um bom Padre, a quem Cristo dá o poder de perdoar pecados.” Nós que conhecemos estes nossos cinco Coirmãos que celebram e celebraram seu Jubileu Sacerdotal, temos certeza de que estão e estarão todo este ano cantando seu Salmo de ação de graças por estes totais 275 anos de VIDA SACERDOTAL. Paremos um pouquinho e imaginemos: Quantas missas, quantos batismos, quantas absolvições, quantas unções, a quantos doentes, quantas homilias, quanta catequese, quantas horas de escuta, quantas horas de estudo, quantos momentos de oração, quanta dedicação, quer nos Seminários, quer em nossas Casas de Formação, quer em Colégios ou Paróquias? São Sacerdotes que viveram anos e anos nos Seminários, anos e anos em paróquias, anos e anos em nossas Casas de Formação, anos e anos na Administração da Província, anos e anos em 47 Lemos em nossas Constituições e Estatutos: “Desejando continuar a missão de Cristo, consagramo-nos a evangelizar os Pobres durante toda a nossa vida. Para cumprir esta Vocação abraçamos a Pobreza, a Castidade e a Obediência segundo nossas Constituições e Estatutos. Por um quarto Voto especial de Estabilidade, prometemos dedicar-nos ao fim da Congregação durante todo o tempo de nossa Vida na dita Congregação, executando os trabalhos que nos forem prescritos pelos Superiores, segundo as Constituições e Estatutos. Que nossa homenagem aos quatro Coirmãos Jubilandos de Votos sirva de estímulo e de exemplo para nosso Irmão Adriano Ferreira Silva, que daqui a pouco vai se consagrar a Deus por estes quatro Votos. Entre estes Coirmãos queremos lembrar particularmente nosso Coirmão Sebastião Mendes Gonçalves nas terras de Moçambique, que está concretizando o Carisma Vicentino expresso em Lucas 4,22, que vamos relembrar cantando: CANTO: REPOUSA SOBRE MIM Refrão: Repousa sobre mim / o Espírito do Senhor. / Ele me escolheu, / me consagrou, me enviou! / Ele me escolheu, / me consagrou, me enviou! / 1 – Para celebrar a sua glória / entre os povos. / Para dilatar o seu Reino / entre as nações. / Para anunciar a alegria e a paz. / Para consolar os corações. Refrão: Repousa sobre mim... 2 – Para proclamar / a Boa Nova a seus Pobres. / Para anunciar a libertação aos seus. / Para publicar o Ano do Senhor. / Exulto de alegria em Deus! Refrão: Repousa sobre mim... Também para nossos Jubilandos de Votos, agradecemos rezando: Dai graças ao Senhor, porque ele é bom. Eterna é a sua misericórdia. TODOS: Dai graças ao Senhor, porque ele é bom. Eterna é a sua misericórdia. Chegamos, assim, ao quarto momento de nosso Salmo de ação de graças: O seio familiar foi o terreno fértil onde a vocação de Josefina lançou suas primeiras raízes e de onde extraiu a seiva que tornaria frondosa a sua caridade. De seu pai, aprendera o amor a Deus como único absoluto e a capacidade de enfrentar a dor com serenidade. De sua mãe, mulher de grande sensibilidade humana, aprendera o valor da oração na vida cristã e a preocupação para com os sofredores. Ainda criança, Josefina se transferiu com a família para a cidade de Voghera. Ali, encontrou como pároco o Padre Giacomo Prinetti. Logo, confiou-se à sua direção espiritual. Padre Prinetti, entrevendo a largueza de coração que caracterizava Josefina, jovem de inteligência brilhante e com notável inclinação para o serviço dos Pobres, falou-lhe do carisma e da missão das Filhas da Caridade, sugerindo que entrasse em contato com as mesmas quando julgasse oportuno. Aos 14 anos, Josefina passou pela dilacerante experiência da morte de sua irmã Paulina, de apenas 2 anos de idade. Um ano depois, a morte visitaria novamente a sua casa, levando seu irmão Giovanni. Esses acontecimentos marcaram-na profundamente, fazendo-a refletir sobre o mistério da vida e a provisoriedade de todas as coisas. Despertou, então, para a necessidade de amadurecer o seu desejo de consagrar-se inteiramente a Deus. Seguindo o exemplo de sua irmã, que acabara de formarse em Florença, Josefina, com apenas 16 anos, já se preparava para ser professora. Devido à sua inteligência e perspicácia, logo se tornou a primeira da classe e, três anos depois, em Pavia, obteve o diploma com a mais elevada pontuação. Retornando a Voghera, ambiente ideal em que lhe parecia mais vivo o ideal missionário, tomou a iniciativa de ensinar a meninas pobres em sua própria casa, descobrindo e desenvolvendo sempre mais sua habilidade para o magistério. Em julho de 1883, animada por seu diretor espiritual, escreveu à Visitadora da Província de Turim que, apenas uma semana depois, lhe respondeu favoravelmente, aceitando o seu pedido para ingressar na Companhia das Filhas da Caridade. Com lágrimas nos olhos, despediu-se de sua família tão amada. Todos, porém, sabiam reconhecer, na decisão de Josefina, a amorosa iniciativa de Deus. 46 27 Acolhida pela Visitadora, Josefina iniciou o Postulado a 24 de setembro de 1883, pouco antes de completar 20 anos. Passou apenas 3 meses no Postulado. Foi, então, enviada a Paris para começar o Seminário (Noviciado) na Casa Mãe, que vivia sob o jubiloso influxo das manifestações da Virgem da Medalha Milagrosa à jovem Irmã Catarina Labouré. Uma epidemia de cólera, entretanto, obrigou as Irmãs italianas a retornarem imediatamente à Província de origem. Depois de um ano no Seminário, Irmã Josefina recebeu sua primeira destinação: o Instituto Sappa, perto do lugar em que viviam seus país. Passados apenas três meses ensinando às meninas, no dia 31 de dezembro de 1884, foi enviada a Cagliari, na Sardenha, depois de uma viagem de barco que a fascinou sobremaneira. Em Cagliari, trabalhou como professora e catequista no Conservatório da Providência, uma escola de prestígio entre as famílias burguesas da cidade. Fiel ao carisma dos fundadores, Irmã Josefina solicitou e obteve permissão para ocupar-se de um grupo de jovens pobres que freqüentavam a escola gratuitamente. Deste modo, ensinava às jovens burguesas uma importante lição de vida, facilitando a integração entre as classes sociais. Em fins do século XIX, o analfabetismo se alastrava em proporções arrasadoras na região da Sardenha. Apoiada por Felice Prinetti, irmão do pároco de Voghera, Irmã Josefina avançou ainda mais em seu compromisso com a dignidade humana e conseguiu abrir, perto do Conservatório da Providência, um internato para meninos pobres. Além disso, ensinava o catecismo aos domingos aos menores de rua e o fazia de tal maneira que todos desejavam voltar. Nasceu o primeiro grupo dos “Luigini”, reunindo jovens sob o auspício de São Luís Gonzaga. Além dos estudos, todos encontravam ali sadios e oportunos momentos de lazer. Irmã Josefina dirigia a Associação com muita alegria e com a sabedoria necessária para que os Pobres se sentissem reconhecidos, amados e estimulados na superação das situações de miséria e abandono social. Sua atividade como professora caracterizou-se por uma peculiar mansidão que a todos encantava, mas sempre associada a uma admirável firmeza, indispensável a todo processo de formação humana. Conhecia de perto seus alunos e sabia considerar, na tarefa de educá-los, a realidade concreta de cada um deles. Certa vez, escreveu: “O futuro depende inteiramente da educação. Como poderemos cumprir essa 28 Pedimos para estes Coirmãos...”Aqueles que Vós chamastes, conservai-os em vosso nome e santificai-os na verdade.” Certamente estão na Congregação da Missão por causa do superbelo Carisma de São Vicente, o arauto da ternura de Jesus Cristo. Jesus Cristo que é para São Vicente a suavidade dos homens e dos anjos, nosso pai, nossa mãe, nosso tudo. Por isso repetimos nossa prece de ação de graças: Dai graças ao Senhor, porque ele é bom. Eterna é a sua misericórdia. TODOS: Dai graças ao Senhor, porque ele é bom. Eterna é a sua misericórdia. Vamos assim para o terceiro momento de nosso Salmo de ação de graças. 3º MOMENTO: JUBILANDOS CONSAGRAÇÃO A DEUS. DE VOTOS OU DE 1 – Padre José Izabel da Silva Campos – 19.03.1948 – 60 anos. 2 – Padre José Debórtoli – 25.01.1958 – 50 anos. 3 – Padre Sebastião Mendes Gonçalves – 25.01.1958 – 50 anos. 4 – Padre José Gonzaga de Morais – 31.05.1983 – 25 anos. Será que basta entrar na Congregação da Missão, fazer parte da Família Vicentina, seguir a Jesus Cristo Evangelizador dos Pobres? O próprio São Vicente, manifestou claramente a seus Padres que esse seguimento não era um seguimento qualquer, mas um seguimento sob a forma de uma CONSAGRAÇÃO, que se aperfeiçoa através dos VOTOS, particulares sim, mas “Santos Votos”, estabelecidos na Congregação da Missão, logo depois de seus começos, ainda no tempo de São Vicente. E não contente com os três Votos de Pobreza, Castidade, e Obediência, acrescentou para os Padres e Irmãos da Pequena Companhia, o quarto Voto específico de permanência ou Estabilidade na Congregação. E não se esqueceu de acrescentar para as Filhas da Caridade, também um quarto Voto específico de Serviço a Jesus Cristo na pessoa dos Pobres. 45 CANTO: Com carinho, desenhei este planeta, /com cuidado, aqui plantei o meu jardim. /Com alegria, eu sonhei um paraíso,/ para a vida, dom de amor que não tem fim. Refrão: Ponho, então à tua frente / dois caminhos diferentes:/ Vida e morte, e escolherás. / Sê sensato: escolhe a vida!/ Parte o pão, cura as feridas! / Sê fraterno e viverás. Foi justamente para partir o pão, curar as feridas e ser mais fraterno, que mais alguns Coirmãos Jubilandos um dia escolheram a Família Vicentina ou melhor dizendo a Congregação da Missão para nela viverem os anos também preciosos de suas vidas. E assim chegamos ao segundo momento do Salmo de ação de graças. 2º MOMENTO: JUBILANDOS DE VOCAÇÃO, OU ENTRADA NA CONGREGAÇÃO DA MISSÃO. 1 – Padre Geraldo Nunes Costa – 30.01.1938 – 70 anos. 2 – Padre José Guido Branta – 24.01.1938 – 70 anos. 3 – Padre José Athanásio Coelho – 06.03.1938 – 70 anos. 4 – Dom José Carlos Melo – 23.03.1948 – 60 anos. 5 – Padre Luiz Roberto Lemos do Prado – 22.02.1983 – 25 anos. Se é gratificante contar os anos de VIDA para bendizer ao Senhor, por um dom maior que não tem fim, como deve ser gratificante para Deus e para nós contar os anos de VOCAÇÃO, para agradecer a Deus de todo coração, um chamado especial: a VOCAÇÃO na Congregação da Missão. Palavra bem escolhida, pois quem diz VOCAÇÃO está recordando um apelo de Deus e a resposta positiva do homem para uma Missão. Todos nós que conhecemos bem estes Coirmãos, entre eles um Arcebispo da Santa Igreja, que não pôde estar presente, sabemos que estão cantando seu Salmo de ação de graças neste segundo MOMENTO. 295 anos de vida plenamente vivida na Província Brasileira da Congregação da Missão. Contemplando a vida destes cinco Coirmãos Jubilandos dá-nos vontade de rezar mais uma vez a prece tão bíblica e vicentina: TODOS: ESPERANÇA DE ISRAEL... 44 missão? Tendo um elevado conceito deste serviço importante e tentando preparar-nos para bem fazê-lo, estudando métodos que ajudem a formar o caráter dos nossos alunos: paciência, doçura, firmeza, serenidade”. Mulher de oração, sempre atenta às exigências do Evangelho, procurava viver em grande harmonia com suas Irmãs, conservando a unidade na caridade. Aos 25 anos, na noite de Natal de 1888, emitiu os Primeiros Votos. Enquanto fazia o retiro preparatório, recebeu a notícia da morte do seu irmão Francisco. Consternada, escreveu à sua mãe, com quem mantinha assídua correspondência: “A cruz produz sempre frutos de vida eterna”. O ritmo de trabalho de Irmã Josefina era incessante, seu espírito generoso a animava a estar sempre disponível para tudo na Comunidade. Em 1892, demonstrou sinais de debilidade, com sintomas de tuberculose. A Irmã Servente sugeriu-lhe que fosse descansar em uma casa nas montanhas. O ambiente e o clima favoráveis ajudaram Josefina a recobrar suas forças e, revigorada, retornou a Cagliari. Ainda em seu período de descanso, recebeu a dolorosa notícia da morte de seu pai e de sua irmã Italina. Os anos seguintes foram marcados por uma intensa e variada atividade. Aos 36 anos, foi nomeada Irmã Servente (Superiora Local) do Orfanato de Sassari, instituição que prestava um relevante serviço às moças pobres do lugar. A respeito de Irmã Josefina, diziam as jovens: “Sua instrução era simples, tinha algo especial, tocava o coração”. Teve um papel importante na promoção da juventude local. Interessou-se também pelas jovens da burguesia, reunindo-as na Associação das Dorotéias e consagrando-as à missão de testemunho cristão no mundo. As moças mais habilidosas que encontrava convidava a inscreveremse na Escola de Religião, que organizou para o aprofundamento da doutrina cristã e a formação de futuras catequistas. Em sua paixão educativa, privilegiava sempre a pessoa e a sua relação com Jesus Cristo. Nisto, Irmã Josefina Nicoli tornou-se uma verdadeira fonte de inspiração para todas as gerações, especialmente para suas Irmãs de Comunidade. Era uma mulher carismática no campo da educação. Seu método suscitava interesse entre os alunos e, com o passar do tempo, tornou-se uma referência para a juventude. Preocupava-se, sobretudo, em elevar a condição das famílias pobres e dos órfãos. Preparava e 29 celebrava com os jovens a Primeira Eucaristia e as festas de São Vicente e da Medalha Milagrosa. A tuberculose, entretanto, consumia as energias de Irmã Josefina. Em 1904, esteve a ponto de morrer, por causa de uma pneumonia que a prostrou. Dentro de pouco tempo, porém, recuperou a saúde e voltou aos seus trabalhos habituais. Os relatos de suas companheiras assinalam que Josefina permanecia sempre alegre e serena, mesmo em meio à dor. Como Irmã Servente de sua Comunidade, Irmã Josefina era a primeira a obedecer, conforme o desejo e a inspiração de São Vicente (cf. SV IX, 526). Era, realmente, fascinante a maneira amável, respeitosa e humilde com que tratava e acompanhava cada uma das Irmãs. Certa vez, uma delas deu o seguinte testemunho: “Era uma verdadeira mãe e serva para as Irmãs da Casa”. Além disso, sabia escutar com atenção a comunidade, compreender as Irmãs em suas hesitações e fragilidades e acolher os conselhos e idéias de suas companheiras, possibilitando o necessário consenso entre todas. Falando, numa ocasião, às Irmãs que estavam sob sua responsabilidade, assegurou: “Para adquirir a caridade, devemos respeitar muito os outros e aceitar as suas opiniões, desde que não haja pecado. Se aquilo que for proposto for bom, aceitemo-lo, mesmo quando isso não estiver de acordo com a nossa maneira de pensar. Não é necessário que nosso próprio julgamento prevaleça. Para que a paz possa reinar numa Casa, é absolutamente necessário que todos estejam dispostos a sacrificar as suas próprias opiniões. Sem isso, sempre haverá guerra”. Sua grande disponibilidade missionária faria com que Josefina aceitasse dois encargos diferentes de tudo o que vinha desenvolvendo até então como educadora. Em 1910, aos 47 anos, foi nomeada Ecônoma de sua Província e, dezoito meses depois, Diretora do Seminário, onde se destacou como exímia formadora das jovens que, como ela, desejavam consagrar-se inteiramente a Deus para o serviço livre e generoso aos mais pobres. Sob sua sábia, prudente e segura direção, passaram 59 Irmãs. A Visitadora, ao escolher Irmã Josefina para o ofício de 30 1º MOMENTO: O DOM DA VIDA. JUBILANDOS DE VIDA. “Dai graças ao Senhor, porque ele é bom. Eterna é sua misericórdia.” TODOS: “Dai graças ao Senhor, porque ele é bom. Eterna é sua misericórdia.” 1 – Padre José Athanásio Coelho – 02.05.1918 – 90 anos 2 – Padre Ézio Rodrigues de Lima – 22.09.1918 – 90 anos. 3 – Padre Nilson Mota Grossi – 14.11.1928 – 80 anos. 4 – Padre Sebastião Carvalho Chaves – 30.10.1938 – 70 anos. Mesmo sem máquina calculadora, podemos descobrir que são 330 ANOS DE VIDA que, somados também os anos bissextos, dão mais ou menos 122.532 dias de vida. Mas no nosso caso, não é importante o número de anos e de dias, mas de maneira especial, a qualidade destes anos de VIDA. Se a VIDA é o maior dom de Deus, quantos motivos para agradecer. E quando todas estas VIDAS foram entregues a Deus, primeiro numa VOCAÇÃO especial, depois inteiramente consagradas pelos VOTOS e finalmente tornadas SERVIÇO na Igreja, pelo SACERDÓCIO, então temos certeza que todos os quatro Jubilandos de VIDA cantam um Salmo de ação de graças e toda a Província se junta a eles para rezar mais ou menos assim: “Damos graças a Deus, pelo dom de nossas VIDAS, não pelos frutos que colhemos, mas pelo terreno que preparamos e pelas sementes que lançamos. Não pelas desilusões que tivemos, mas pela esperança quem fundimos. Não pelos aniversários numerosos que celebramos, mas pelo que fomos e fizemos nestes anos todos. Não pelas tantas vezes que recebemos parabéns, mas pelas vezes em que nosso aniversário se tornou uma CELEBRAÇÃO DE VIDA.” Transformar estes aniversários de nossos quatro Jubilandos de VIDA nos leva a cantar como tantas vezes cantamos na Campanha da Fraternidade deste ano de 2008: 43 Prezado Dom Serafim Cardeal Fernandes de Araújo, mensageiro da ternura de Deus, em nosso retiro. Prezado Padre Agnaldo Aparecido de Paula, nosso provincial, incentivador desta homenagem. PREZADOS JUBILANDOS DE VIDA, DE VOCAÇÃO, DE VOTOS E DE SACERDÓCIO Prezados Coirmãos e Seminaristas. A PROVÍNCIA BRASILEIRA DA CONGREGAÇÃO DA MISSÃO CANTA UM SALMO DE AÇÃO DE GRAÇAS, EM QUATRO MOMENTOS: PELA VIDA – PELA VOCAÇÃO – PELOS VOTOS E PELO SACERDÓCIO DE NOSSOS QUERIDOS COIRMÃOS JUBILANDOS. “Dai graças ao Senhor, porque ele é bom. Eterna é a sua misericórdia TODOS: Dai graças ao Senhor, porque ele é bom. Eterna é a sua misericórdia. Bendito Dom José Elias Chaves, que, no seu tempo de Provincial, começou este costume de homenagear os Jubilandos de toda a Província, no final de cada retiro. E hoje, após mais de 30 anos, isto já se tornou uma tradição que São Vicente de Paulo, o arauto da ternura de Deus, lá do céu certamente aplaude, pois esta simples homenagem não deixa de ser um gesto de ternura para com nossos Jubilandos. Este ano quis a direção da Província que fosse eu o escolhido para rezar um Salmo de ação de graças para os 16 ou 18 Jubilandos, pois os nossos Coirmãos Padre Geraldo Nunes Costa e Padre José Athanásio Coelho são Jubilandos duas vezes. Quem sou eu para compor um Salmo? Mas penso, que posso ajuntar as ações de graças de todos os Jubilandos e as nossas de toda a Província rezando à maneira do Salmista no salmo 118, em quatro momentos: 42 Diretora do Seminário, anotou em seu caderno: “Esta Irmã é um verdadeiro exemplo do que significa ser uma Filha da Caridade”. De fato, suas instruções eram ratificadas por seu testemunho de autenticidade e realização na vivência da vocação: “Sirvamos a Deus com fervor e alegria. O fervor alimentará a alegria e a alegria conservará o fervor”. Escrevendo, certa vez, à sua própria irmã, deixou transbordar de seu coração confiante estas palavras: “Não desanime! Sirvamos alegremente a Deus, tentando ter sempre confiança nele. Abandonemonos inteiramente a ele. Mesmo as nossas próprias fraquezas e misérias devem aumentar nossa confiança nele. Vivamos pacífica e alegremente nos braços de Deus, como uma criança descansa e está feliz nos braços de sua mãe”. Em função de sua saúde cada vez mais precária, depois de apenas nove meses como Diretora do Seminário, foi destinada novamente a Sassari, mas o diretor do Orfanato preferiu recusar sua presença. Irmã Nicoli, em silêncio, confiou-se aos superiores que a enviaram para uma outra casa de acolhimento a crianças e jovens pobres, em Cagliari. Passou a trabalhar, então, no Asilo da Marinha. Era o ano de 1914, início da Primeira Guerra Mundial. Em Cagliari, muitos jovens foram chamados para as frentes de batalha. Havia fome, instabilidade e pobreza. A genialidade caritativa de Nicoli atraía a atenção de muitos dos que passavam pelo Asilo. A estes também orientava para a caridade ativa. Fundou o primeiro círculo da juventude católica feminina de Cagliari. Dedicava grande parte do seu tempo à formação catequética dos jovens e criou a Associação das Josefinas, reunindo jovens que pertenciam às classes mais elevadas, a fim de despertar-lhes a sensibilidade humana para a compaixão e a solidariedade com os Pobres. Seus últimos dez anos foram os mais intensos de sua vida, dedicando-se à formação da juventude, tanto daqueles que viviam pelas ruas como daqueles que conseguia reunir em grupos. De fato, fundou um grupo de jovens empregadas que vinham de países vizinhos para prestar serviço às famílias mais nobres da cidade. Chamou-as “Zitine”, porque colocadas sob o auspício de Santa Zita, padroeira das empregadas domésticas. Reuniu, para formação humana e espiritual, jovens que trabalhavam na fábrica 31 nacional de cigarros. Incentivou e alargou a Associação das Filhas de Maria, difundindo, com impressionante zelo, a Medalha Milagrosa. Incentivou, no norte da Itália, a associação das Damas da Caridade e, com elas, empenhou-se na assistência aos Pobres, sobretudo às crianças abandonadas. Naquela época, em Cagliari, o número de meninos de rua crescia enormemente, sobretudo de órfãos. Abandonados, viviam à procura de pequenos serviços, tais como carregar mercadorias em cestos que levavam sobre a cabeça de um mercado para o outro ou do mercado para as casas. Freqüentemente, enganavam as pessoas e se envolviam em assaltos. O olhar de Irmã Nicoli sabia ultrapassar as aparências. Conhecia cada um pelo nome, socorria-os em suas necessidades mais urgentes, reunia-os em grupos escolares e catequéticos para ensinar-lhes a ler e escrever e instruí-los na fé. Desejava ardentemente que o caráter de cada um deles amadurecesse na retidão e na verdade. Chamava-os Marianelli, crianças pobres de Maria. Queria que todos soubessem que, embora órfãos ou abandonados pela família, tinham uma Mãe zelosa no céu. Esta fundação será como que o coroamento do zelo apostólico de Irmã Nicoli. A obra que haverá de identificá-la para sempre. Irmã Nicoli, a partir de julho de 1915, pensou em recolhê-los e não hesitou em dedicar-se a este empreendimento tão audacioso. Não só conseguiu melhorar a situação dos menores de rua, lutando pelo reconhecimento pleno e efetivo de sua dignidade, mas quis também catequizá-los, levando-os à participação na Eucaristia. Para ela, promoção humana e formação cristã deveriam andar sempre juntas. Ensinava-lhes a ler e a escrever e se interessou em abrir-lhes a possibilidade de aprender uma profissão. São facilmente imagináveis as dificuldades e as incompreensões que sofreu: muitos diziam que seria impossível transformar aqueles jovens e que não seria conveniente dedicar-se àquela gente de índole duvidosa. Mas Irmã Nicoli, radicada em sua intimidade com Deus, não desanimou frente a essas resistências que, às vezes, partiam de suas próprias Irmãs de Comunidade. É curioso notar que as mesmas pessoas que se opuseram ao seu projeto ficaram depois admiradas e convencidas da utilidade da obra. Esses desafios se somam às provas que enfrentou nos últimos anos de sua vida. Em 1924, houve mudança na administração do Asilo e as tensões e problemas se tornaram ainda mais estridentes entre o administrador e as Irmãs. Pensou-se a retirada das Irmãs, mas graças à serenidade, condescendência e inteligência de Irmã 32 Parecia gostar da vida. Fazia os exercícios da fisioterapia com disciplina, participava da terapia ocupacional, ia passear no shopping ou no parque de diversão, juntamente com os Coirmãos e a profissional responsável. Não recusava uma oportunidade de visitar seus parentes em São Paulo. Tinha muito carinho e consideração por eles. Tal foi à vida, tal foi à morte. Era antevéspera da festa de nosso fundador. Numa manhã do dia 25 de setembro de 2004. Ainda bem cedo, o Pe. Luís Veras, então responsável pelos idosos, certificou-se do visível agravamento do estado de saúde do Ir. Manoel. Conversou com o médico da casa e decidiram leválo para o hospital. Ficando cada vez pior, mas plenamente lúcido, ele disse ao Pe. Luís que iria morrer e que queria receber a Comunhão Eucarística. O Pe. Silvio prontamente trouxe a Comunhão. Segundo testemunho do Pe. Veras, nosso Irmão recebeu, como sempre, piedosamente a Eucaristia e sem fazer o menor alarde partiu para a comunhão plena com Deus, a quem tanto amou nesta terra. Ir. Manoel Raimundo de Lima nasceu no dia 21 de maio de 1911, em Arapiraca-AL. Era filho de Antônio Raimundo de Lima e Maria Antônia da Natividade. Entrou para o Seminário Interno de Petrópolis em 1º de novembro de 1941. Pela sua vida, pela sua consagração, pelo serviço prestado na Pequena Companhia: Demos graças a Deus! Pe. Francisco Ermelindo Gomes, C. M. 41 alguém que tinha uma confiança irrestrita em Deus. Sempre falava da bondade de Deus. Nada o fazia duvidar disso. A Ele se entregava totalmente. Ir. Manoel tinha filial e terna devoção à Virgem Maria. Freqüentemente o víamos rezando o terço. Era já o seu breviário, pois não podia mais ler. Gostava de falar de Nossa Senhora. Maria é chamada de Virgem do silêncio e o nosso Irmão parece ter aprendido dela essa lição. Causava admiração, ou até talvez inquietação, o seu silêncio. Falava pouco, mas quando o fazia era capaz de edificar, de convencer, sobretudo, por causa do seu modo de viver. Convivi também com o Ir. Manoel no Trevo, quando aí eram acolhidos os idosos e enfermos. Vindo de Campina Verde, chegou à nossa Comunidade com o mal de Parkinson bastante agravado. Tremia muito e andava com grande dificuldade. Estava muito dependente. Aceitava com humildade e resignação as ajudas necessárias. Foi medicado e reagiu muito bem aos medicamentos. Seu estado geral melhorou sensivelmente. Conseguia se alimentar sozinho, andar em volta da casa, etc. Estando melhor, fazia questão de assumir o que lhe era possível executar. Nesses tempos de convivência, em Campina Verde e Belo Horizonte, era notável o encantamento que o Ir. Manoel causava nas pessoas. Era de uma discrição incomparável. Sua presença, embora marcada pelo silêncio e pela discrição, marcava e fazia eco em muitos corações. Recordo-me de que o finado Pe. Rafael, quando nosso formador, sempre se referia ao Irmão como sendo um santo. Sempre o tomava por referência. Embora com a idade já bastante avançada, tinha uma invejável memória. Estive com ele várias vezes em sua última colocação, Casa Dom Viçoso, e nunca percebi vacilo algum em suas palavras. Sempre notava alguma diferença e comentava. Se engordou, emagreceu, deixou barba. Sabia onde a gente estava trabalhando, perguntava pelos Coirmãos da Obra. Lembrava de fatos antigos em Campina Verde. Enfim, seus comentários eram sintonizados com a realidade. Nicoli o problema foi pacificamente contornado. A administração civil reconheceu o labor das Filhas da Caridade e, nele, o empenho de Josefina. Aos 61 anos, ainda empenhada no serviço da caridade, Irmã Josefina Nicoli foi chamada pelo Senhor, a quem “pertencera toda a sua vida”, conforme sua própria declaração. Quando morreu, a 31 de dezembro de 1924, vítima da tuberculose, já era conhecida por suas obras, mas, sobretudo, por seu fascinante testemunho de santidade, vivido na alegria, na humildade e no serviço generoso aos irmãos e irmãs. Em 1932, seus restos mortais foram transladados do cemitério de Cáller para a Capela do Asilo da Marinha, onde ainda se encontram. Sua vida, toda doada a Deus e aos Pobres, concretizou o ideal que tinha sempre diante dos olhos: “A Filha da Caridade é a encarnação da Divina Providência. É a prova palpável do amor de Deus para com os Pobres”. A vida da Bem-aventurada Josefina Nicoli haverá de inspirar-nos, onde quer que estejamos, uma comprometedora e criativa adesão ao Projeto de Mudanças de Estruturas, a fim de que possamos permanecer sempre ao lado dos Pobres e ajudálos a encontrar caminhos de superação das causas da pobreza, a partir do respeito e da valorização dos direitos humanos fundamentais. Fontes Bibliográficas • ANTONELLO, Erminio. Una mistica della carità: Suor Giuseppina Nicoli. Roma: Edizioni Vincenziane, 1999. • FIGLIE DELLA CARITÀ. Giuseppina Nicoli, Figlia della Carità. • MALONEY, Robert P. Cinque visages de Giuseppina Nicoli. In: Echos de la Compagnie, Paris, n. 2, p. 111-119, mars/avril 2004. • MONJAS, Concepción. Josefina Nicoli (1863-1924). Un testimonio para nuestro tiempo. Anales de la Congregación de la Misión y de las Hijas de la Caridad, Madrid, n. 3, p. 273-281, mayo/junio 2007. • NICOLI, Giuseppina. Scritti Spirituali: istruzioni alle seminariste. Roma: Edizioni Vicenziane, 2001. Vinícius Augusto R. Teixeira, C. M. 40 33 IRMÃO MANOEL RAIMUNDO DE LIMA, C.M. LOGOTIPO DA FAMÍLIA VICENTINA A Família Vicentina vive e manifesta a espiritualidade de São Vicente de Paulo, que expressou e tornou vida de um modo particular a experiência do Evangelho. A espiritualidade vicentina se caracteriza por sua encarnação no mundo, por tornar visível no meio dos mais pobres a salvação que vem do Senhor. O mundo, a realidade atual, é o campo de ação de toda a Família e é nele que procuramos concretizar a mensagem evangélica do Senhor Jesus. O mundo é o horizonte de ação da Família Vicentina. O logotipo o representa pela linha do horizonte em azul. As linhas em cores de fogo e as verdes buscam traçar uma imagem do mundo, com seus paralelos e meridianos... A sigla FAMVIN está marcada por essas linhas, simbolizando o compromisso com o mundo. A Missão confiada à Família Vicentina desde São Vicente de Paulo é o anúncio da Boa Nova aos Pobres, a partir da ótica do Cristo Pobre. 34 É, sem dúvida alguma, uma tarefa bastante difícil falar de um ser humano como o Ir. Manoel, para mim, personalidade ímpar na bela e rica história de nossa querida PBCM. No ano de 1988, ocasião em que fui a São Paulo participar da ordenação diaconal de meu tio, Joaquim Lourenço, vi o Ir. Manoel pela primeira vez. Nesse tempo, ele era o sacristão do Santuário São Vicente de Paulo, Moinho Velho-SP. Tinha também a função de fabricar e vender velas para os fiéis. Naquele dia o contato foi pequeno, mas suficiente para perceber algo diferente naquele pequeno-grande homem. Cinco anos mais tarde, fui fazer o Ensino Médio no Seminário Menor São Justino de Jacobis, em Campina Verde. Lá estava o Ir. Manoel, bem mais alquebrado, mas persistente no seu ministério de sacristão da bela e imponente matriz de N. Sra. da Medalha Milagrosa. Sofria muito com o mal de Parkinson, sua visão já estava bem diminuída, os passos curtos e meio arrastados, mas não se lamentava. Fazia tudo com a mística do serviço abnegado. De segunda a segunda, o lugar mais acertado para encontrar aquele sereno ancião era a sacristia da matriz. Ora fazendo velas, ora arrumando as alfaias, o altar, ligando e monitorando o som para a missa e ou rezando. Ficava sentado e de braços cruzados, como era seu costume, em frente ao gabinete da aparelhagem de som, de onde através de um altofalante ouvia piedosamente toda a missa. Olhos fechados, postura ereta. Concentrava-se tanto que não percebia que, às vezes, alterávamos o volume do som pertinho dele. Chamava a atenção o jeito com que ele lidava com os objetos sagrados. Naqueles três anos, 1992-1994, pude perceber mais de perto a riqueza da personalidade daquele homem tão pobre. Era 39 • • vem a eterna luta de classes: os pequenos ainda privados das delícias do Paraíso. Entrave Religioso – Hoje se trava um “estranhamento silencioso” referente aos padres idosos. A busca excessiva pela imagem chegou nos terrenos da Igreja. Muitos preferem padres novos e bonitos a padres idosos. Muitos buscam uma capela bela. Muitos deixam de ser comunidade de fé onde moram para ser flutuante onde a capela e o Vigário lhe agradam. Muitas pessoas escolhem para se casar-se ou batizar seus filhos não a paróquia onde moram, mas suntuosas capelas. Entrave Ético/Moral – A Síndrome de Peter Pan se ostenta em 3 instâncias: 1º. A individualização – cada um quer ser belo (“espelho, espelho meu, existe alguém mais belo do que eu?”). Tudo pela beleza para se destacar diante dos pobres mortais. 2º. A Terra do Nunca – A negação do mundo real. É preciso um mundo novo, onde a beleza particular convergirá com um ambiente encantado. 3º. Tanto o 1º. como o 2º. elemento traz uma assustadora tese: já não se sustenta a beleza forçada, mas é preciso que se produzam pessoas “naturalmente” belas. Entram em cena os bancos de óvulos e espermas, onde as pessoas vão escolher os pais belos e inteligentes para seus filhos. A tese da Eugenia, uma “turma” perfeita para um mundo perfeito (entram também em cena os transgênicos). Eis um interessante tema a ser refletido com profundidade, tendo como princípio básico a igualdade de direitos e de conquistas. Pe. Alex Sandro Reis, C. M. As linhas verdes, além de traçarem uma “imagem das linhas” do mundo, formam uma cruz. A missão da Família Vicentina é descobrir no rosto de cada Pobre o rosto do Senhor Crucificado e Ressuscitado. Cada rosto é uma imagem do Senhor que se apresenta a nossos sentidos e questiona a vocação missionária de toda a Família. A cor verde recorda que é uma cruz de vida e de esperança. As outras três linhas que “seguem” a cruz recordam as três grandes “vocações” dentro da Família Vicentina: Os Missionários, as Filhas/Irmãs da Caridade e os numerosos grupos leigos: Associação Internacional de Caridades, Sociedade de São Vicente de Paulo, Juventude Marial Vicentina, Associação da Medalha Milagrosa, Missionários Leigos Vicentinos, etc. Estas três linhas, nas cores do fogo, recordam a ação constante do Espírito Santo, sempre ativo dentro da vida da Família, suscitando a cada momento novos horizontes e novas formas de ação, reafirmando a expressão de São Vicente: “O amor é inventivo ao infinito”. A fonte tipográfica com que se escreveu FAMVIN é a Myriad web em minúsculas, uma forma de indicar a pequenez da Família Vicentina face aos desafios do mundo e um modo de assinalar a juventude e a esperança. Duas letras foram postas mais escuras: o F de “família” e o V de “vicentina”. Uma Família que se reafirma na herança espiritual de São Vicente de Paulo e de Santa Luísa de Marillac. Uma estrela em azul pousa sobre o “i”. Ao mesmo tempo serve de pingo na letra e simboliza e relembra que a vocação vicentina, cristocêntrica em toda a sua expressão, conta com o apoio e a proteção da Mãe do Salvador, “Estrela da Evangelização”. O “i” é também a inicial de internacional. Hoje é fácil constatar que, onde a Família Vicentina está presente, existe um lugar consagrado à Virgem da Medalha Milagrosa. O logotipo se completa com o título da Família Vicentina nas três línguas oficiais; se for necessário, o nome da Família poderia escrever-se nas línguas de onde a Família se faz presença constante como sinal de vida, de alegria e justiça para os Pobres. Alexis Cerquera Trujillo, Seminarista da C. M. 38 35 O Mundo em Espelhos E por falar em mudança de época (Informativo S.V. n. 269), daremos continuidade a esse assunto sob outro aspecto: o narcisismo. Em toda a história da humanidade nunca se falou tanto em beleza como nos dias de hoje. Far-se-á uma breve análise sobre a beleza a partir de um texto clássico: A Fábula da Branca de Neve – Dois personagens são evidenciados pelo autor: a Branca de Neve, protagonista, que traz em si uma beleza rara e acima dos padrões normais; do outro lado, a madrasta, antagonista, traz em si uma beleza comum. Diante desses dois personagens há um ponto e um contraponto. Enquanto Branca de Neve “esconde” sua beleza e torna públicas suas virtudes, a madrasta busca no espelho a auto-afirmação de que é a mais bela de todo o reino; ela também faz tornar pública não sua virtude, mas a sua perversidade movida pela inveja. O autor, através da beleza, quer tornar presente uma clássica luta: o embate entre virtude e vício, o bem e o mal. Nos tempos atuais, a imagem deixou de ser um elemento contributivo para o crescimento da compreensão humana sobre suas realidades para ser um paradigma radical de padrão de vida. A corrida pela afirmação da beleza trouxe à humanidade vários elementos que provocam mudanças no costume de um povo, entre eles: 36 1º. A Síndrome de Peter Pan - A busca doentia pela beleza leva o ser humano a insistir no prolongamento de sua existência na terra. O paraíso é aqui. A beleza torna-se antídoto contra tudo aquilo que se reflete como efêmero (velhice, doença, enfermidade, derrotas, pobreza e, é claro, morte). Esta busca leva as pessoas a cultuarem uma imagem de eterna juventude, recorrendo à indústria da beleza (plásticas, malhação excessiva, uso de energéticos, roupas e adereços que passam a imagem de eterno Peter Pan). 2º. A Síndrome da Terra do Nunca – Se ser jovem e belo é não envelhecer, torna-se mister criar um ambiente que seja coerente com a eternidade corporal. Para que o paraíso seja aqui, cria-se toda uma estrutura para eternizar um ambiente encantado para pessoas “encantadas”. Surge a “imagetização”, ou seja entra em cena a Era da Imagem. É a imagem com cores vibrantes para destoar de um mundo velho e caótico. É a imagem para se sobrepor a um mundo com cores cinzentas de um mundo fracassado. É a imagem que chega para mostrar que o mundo encantado saiu das obras de ficção para se concretizar em um mundo real. Porém esse mundo encantado não é um pacote ofertado a todos. Tanto a beleza como a proposta de um mundo encantado vão trazer alguns entraves para a sociedade, como por exemplo: • Entrave Social – Qual é o grupo que tem acesso à beleza e a um ambiente encantado? Que tipo de pessoas tem a oportunidade de se deleitar diante de uma TV Plasma/LCD? Ou de adquirir para os seus um sistema de saúde de primeiro mundo, ou de ter acesso a uma universidade e, conseqüentemente, a um emprego com uma renda justa capaz de satisfazer todas as necessidades básicas de um ser humano? Diante destas e de outras interrogações, percebe-se que tanto a ideologia da beleza como um ambiente mágico são patrimônio de um grupo seleto. Por detrás 37
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