Monografia completa - Calem
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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ Centro Acadêmico de Línguas Estrangeiras Modernas Curso de Especialização em Línguas Estrangeiras Modernas CURITIBA 2006 RANGEL PERUCHI Monografia de conclusão do Curso de Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas da UTFPR. Orietadora:Profa. Eliane Regina Costa Oliveira CURITIBA 2006 TERMO DE APROVAÇÃO Rangel Peruchi A SEGUNDA LÍNGUA: UMA ABORDAGEM TEÓRICA DE LINGUISTAS SOBRE A INTERLÍNGÜA Monografia aprovada com nota 7,0 como requisito parcial para obtenção de título de Especialista, pelo curso de Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas, do Centro Acadêmico de Línguas Estrangeiras Modernas – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, pela seguinte banca examinadora: Orientadora: Profa.Eliane Regina Costa Oliveira Universidade Tecnológica Federal do Paraná Profa. Regina Helena Urias Cabreira Universidade Tecnológica Federal do Paraná Profa . Márcia dos Santos Lopes Universidade Tecnológica Federal do Paraná Coordenadora: Profa. Carla Barsotti Universidade Tecnológica Federal do Paraná CURITIBA 2006 Dedicatória Dedico este trabalho aos meus pais,Jorge Peruchi e Rosa Manoel Martinho Peruchi, pois foi através da luta deles que obtive os meios necessários para crescer e me desenvolver enquanto pessoa. Agradecimentos Agradeço a todos os professores do curso de especialização, pois de uma forma ou de outra, todos cooperaram para a realização desta monografia. E um agradecimento em especial para Luciana Pereira Jasinski por ter me ajudado diretamente na realização deste trabalho. Epígrafe “Se eu não tivesse linguagem, seria uma pedra nesse mundo e não uma pessoa”. Egidio Romanelli SUMARIO DEDICATÓRIA............................................................................................................ii AGRADECIMENTOS..................................................................................................iii EPÍGRAFE..................................................................................................................iv RESUMO.....................................................................................................................v 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................01 2 O que significa aquisição de segunda língua?.................................................03 3 A teoria Behaviorista........................................................................................... 06 4 O que é interlíngua?.............................................................................................11 4.1 O modelo computacional da aquisição da segunda língua...........................13 4.2 Aspectos sociais da Interlíngua........................................................................13 4.2.1 Interlíngua como um stylistic continuum.....................................................14 4.2.2 O modelo de aculturação da aquisição da 2o língua...................................16 4.2.3 Identidade social e investimento no aprendizado da 2o língua..................17 5 Aspectos do discurso na Interlíngua..................................................................17 5.1 Adquirindo regras no discurso.........................................................................17 6 O papel do input e da interação na aquisição da 2o língua..............................18 7 Aspectos psicolingüísticos da Interlíngua.........................................................20 7.1 A transferência da 10 língua.......................................................................... 20 7.2 O papel da consciência na aquisição da 2o língua.........................................22 7.3 Operações de processamento..........................................................................23 7.3.1 Princípios operacionais..................................................................................24 7.3.2 Restrições de processamento.......................................................................24 7.4 Estratégias comunicativas................................................................................25 8 Aspectos lingüísticos da Interlíngua..................................................................25 9 Gramática Universal.............................................................................................26 9.1Learnability..........................................................................................................27 9.2 A hipótese do período critico...........................................................................27 9.3 Acesso a Gramática Universal..........................................................................28 9.4 Markedness........................................................................................................29 10 A visão de Stephen Krashen sobre a 2o língua...............................................31 CONSIDERACOES FINAIS .....................................................................................35 GLOSSÁRIO.............................................................................................................37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................38 RESUMO O objetivo deste trabalho é constrastar duas visões sobre a aprendizagem/aquisição da 2o língua. Para isso, a teoria Behaviorista de aprendizagem e a teoria cognitiva serão apresentadas, e com isso, iremos salientar as diferenças entre as duas teorias. Dessa forma, o leitor terá uma visão geral de como era e de como é atualmente percebido o complexo processo de aprendizagem/aquisição da segunda língua. Assim, o foco desse trabalho será o processo que veio as ser denominado Interlíngua, sendo este o processo pelo qual passa um aprendiz enquanto em processo de aprendizagem/aquisição de uma segunda língua. Sendo essa uma “língua” única, onde o aprendiz apresenta evolução no domínio gramática,vocabulário e pronúncia. Palavras-chave: aprendizagem/aquisição da segunda língua, interlíngüa da 1 1 INTRODUÇÃO Como professor de Língua Estrangeira Moderna (Inglês) em cursos de língua, e tendo lecionado para diferentes faixas etárias e em diferentes níveis de proficiência, pudemos claramente perceber que os alunos passam por estágios de aprendizagem/aquisição da língua estrangeira de maneira semelhante, suas construções gramaticais, seu nível de compreensão, suas suposições e, é claro, seus “erros”, assemelham-se muito. Assim, a prática diária nos levou a constantes indagações referentes à interferência do professor no que tange ao desenvolvimento do aluno, ou seja, até que medida o conhecimento do professor sobre as teorias lingüísticas pode ajudá-lo a melhor compreender os processos pelos quais passa um aluno de língua estrangeira moderna e dessa forma cooperar para que esse empreendimento ocorra de maneira mais eficaz?. Com esse questionamento acreditamos que o estudo da interlíngua poderá nos levar a um melhor entendimento do aluno em processo de aprendizagem/aquisição da segunda língua, e dessa maneira, pretendemos apresentar o papel da Interlíngua, pois assim teremos subsídios para melhor entender o aprendiz. Ou seja, as evidências fornecidas pelos teóricos nos levarão certamente não só a uma constatação dos fenômenos lingüísticos, mas ao questionamento dos processos pelos qual o aprendiz passa. Os autores pesquisados são (Rod Ellis e Stephen Krashen, Noam Chomsky entre outros), pois embora tenham em comum seus objetos de estudo, esses são analisados de forma diversa, muitas vezes, e é através dessa riqueza de abordagem que pretendemos apontar até que medida suas teorias se aproximam e/ou se distanciam e assim teremos uma visão mais ampla desse fenômeno tão complexo e intrigante que é a aprendizagem/ aquisição de uma segunda língua. Assim, esse trabalho tem como base o livro “Second Language Aquisition” onde o autor Rod Ellis transpõe de forma muita clara as pesquisas mais relevantes no processo de aquisição/aprendizagem da segunda língua. E é através dessa riqueza de abordagem que pretendemos guiar o leitor nas teorias e pesquisas mais aprendizagem/aquisição da segunda língua. recentes no processo de 2 Pretendemos então analisar até que medida os estudos dos autores escolhidos reforçam ou enfraquecem os princípios Behavioristas, tendo em vista que essa abordagem da língua continua ainda presente nos cursos de idiomas em muitos aspectos, seja na repetição exaustiva de sentenças e/ou no preenchimento de lacunas em exercícios. Assim, buscaremos apresentar as teorias mais relevantes sobre o processo de aquisição da segunda língua, especificamente o processo chamado interlíngua, salientando as evidências fornecidas pelos autores na busca da validação de suas teorias. Assim, pretendemos apresentar duas abordagens para o entendimento da segunda língua sendo uma delas a abordagem behaviorista e a outra abordagem cognitivista. Dentro da Abordagem Behaviorista escolhemos o método Áudiolingual visto que esse método segue a visão Behaviorista na aprendizagem da segunda língua. Já a abordagem cognitivista percebe a aprendizagem da segunda língua como um processo de construção, onde o processo de aprendizagem/aquisição da segunda língua ocorrerá como resultado da atuação do language acquisition device proposto por Chomsky. Dessa maneira, pretendemos salientar as evidências fornecidas pelos autores para explicar o intrigante processo de aprendizagem/aquisição da segunda língua. Poderemos assim apresentar os exemplos fornecidos pelos teóricos com o intuito de exemplificar para o professor de língua aprendizagem/aquisição da segunda língua. estrangeira o processo de 3 2 O QUE SIGNIFICA “AQUISIÇÃO DE SEGUNDA LÍNGUA” ? Antes de iniciar o estudo da aprendizagem/aquisição da segunda língua, se faz necessário entender o sentido real do termo, pois até mesmo esse pode guiar o leitor a um entendimento errôneo. Pois “segunda”, apesar de parecer transparente exige, na verdade, uma explicação detalhada visto que ele pode se referir a qualquer língua aprendida subseqüentemente a língua materna. Dessa maneira, o termo pode se referir também a uma terceira ou quarta língua, e não se deve confundir também, o termo “segunda” com estrangeira, uma vez que essa aprendizagem/aquisição pode se dar naturalmente no país onde ela é falada ou como instrução formal em sala de aula. Assim segundo Rod, (2005:4) “a aquisição da segunda língua pode ser definida como a forma em que as pessoas aprendem uma língua que não a sua língua materna, ocorrendo esse processo dentro ou fora de uma sala de aula”. Após definir o termo, temos uma nova indagação. Mas afinal qual é o objetivo da SLA (Second Language Acquisition)? Pode-se afirmar que o objetivo da SLA é descobrir de que maneira o aprendiz de segunda língua a aprende. Uma das possibilidades para se descobrir isso seria perguntar aos aprendizes de segunda língua que obtiveram êxito quais foram suas técnicas. Entretanto, a maioria deles não seria capaz de explicar como eles aprenderam, por ser esse um processo em muitos aspectos inconsciente. Segundo ELLIS (2005:4), “.uma abordagem mais interessante seria estudar o que os aprendizes fazem em oposição ao que eles pensam que fazem e, assim, o pesquisador poderia coletar exemplos daquilo que os aprendizes fazem quando escrevem e/ou falam a língua alvo. Esses recortes forneceriam evidências daquilo que o aprendiz sabe sobre a língua alvo num recorte longitudinal e, dessa forma, podemos verificar seu desenvolvimento”. Surge-nos então uma indagação bastante pertinente: Que fatos/características devem ser levados em consideração ao se avaliar o desenvolvimento lingüístico de um aprendiz? 4 A primeira coisa que nos vem à mente é o desenvolvimento da performance lingüística do falante, ou seja, sua habilidade em se comunicar de maneira fluente na língua alvo. Entretanto, segundo ELLIS (2005:4): “...em geral ,entretanto, o objetivo da SLA não tem sido focado no desenvolvimento do aspecto comunicativo da linguagem, mas nos aspectos formais da língua.Um exemplo poderia ser a pronuncia na segunda língua; como a pronúncia/sotaque dos aprendizes muda no decorrer do tempo. Outro exemplo seriam as palavras que o aprendiz usa e como ele constrói seu vocabulário. Freqüentemente, todavia, o foco têm sido a gramática da segunda língua, os pesquisadores escolhem uma estrutura gramatical como o plural e o relative clause, por exemplo, e verificam a habilidade do aprendiz em usar essas estruturas no decorrer do tempo.” Percebemos dessa forma que os objetivos da SLA podem ser colocados em duas linhas: a descrição da aquisição da segunda língua; e a explanação da aquisição da segunda língua. Na explanação, podemos ainda identificar os fatores internos e os externos que atuam no falante durante o processo de aprendizagem/aquisição. Os fatores externos estão associados às condições em que o aprendizado ocorre, pois estes influenciam nas oportunidades que um aprendiz tem para falar e ouvir a língua alvo, e também na atitude que ele irá desenvolver em relação à língua. Por exemplo, uma coisa é aprender uma língua a qual você a respeita e é respeitado pelos falantes nativos, outra é aprender uma língua na qual o individuo vivência hostilidade por parte dos falantes nativos. (ELLIS:2005:5). Compreendemos então que a identificação é parte importante no processo de aprendizagem/aquisição, e essa identificação não significa a negação da própria cultura, mas a busca em conhecer o outro. É essa busca em conhecer o desconhecido que irá motivar o aluno nesse processo de construção, e a falta dessa motivação irá provavelmente prejudicar seu desenvolvimento. Outro fator externo de extrema importância e que leva a nós professores a uma constante indagação é a qualidade do “input” que devemos oferecer aos 5 alunos. Ao trabalhar com turmas consideradas true beginners nos indagamos sempre até que medida devemos simplificar a linguagem para sermos compreendidos, pois uma coisa é aprender a segunda língua no país onde ela é falada, outra é ensinar essa língua numa sala de aula, visto que esse ambiente por mais recursos que possua não é capaz de reproduzir um ambiente real de comunicação, ou seja, o mundo real. Outro ponto a ser considerado são os mecanismos internos. Por mecanismos internos podemos entender os mecanismos cognitivos que habilitam o aprendiz a perceber, por exemplo, que a forma plural na língua Inglesa se realiza com o acréscimo da letra “s”. E, que pelo fato de já dominarem uma língua (a língua materna) eles serão capazes de construir regras com base naquelas presentes na primeira língua, e isso os ajudará a se comunicar. Seu conhecimento de mundo também os ajudará a resolver problemas lingüísticos, e ainda que suas estratégias comunicativas os ajudarão, por exemplo, a construir sentenças, substituir palavras e até mesmo criar novas palavras com o intuito de se fazerem entender. Acreditamos que essa explanação inicial expõe o que iremos tratar adiante, que é a visão de proeminentes lingüistas a respeito do papel da interlíngua durante o processo de aprendizagem/aquisição da segunda língua. Porém, antes de iniciarmos a apresentação das teorias vigentes sobre o papel da Interlíngua, pretendemos apresentar em que moldes se construíu o ensino de línguas nas décadas de 60 e 70, principalmente. Pois naquela época a metodologia dominante no ensino de línguas era o método Áudio-lingual, e esse foi construído tendo como base a teoria Behaviorista de aprendizagem de segunda língua. Assim, tendo em vista o que se acreditava ser o processo de aprendizagem de uma segunda língua, pretendemos salientar as incongruências desse método, pois este não levava em consideração o processo cognitivo que envolve o aprendizado de uma segunda língua. 6 3 A TEORIA BEHAVIORISTA De acordo com os Behavioristas, todo aprendizado seja ele verbal ou não verbal acontece sob o mesmo processo, formação de hábito. Ou seja, aprendizes recebem input lingüístico de falantes que estão no meio e positive reinforcement pela correta repetição e imitação. Assim, como resultado o hábito é formado. O desenvolvimento da linguagem é descrito como a aquisição de um grupo de hábitos e dessa maneira , acreditavasse que o uma pessoa que estivesse aprendendo uma segunda língua iniciaria esse processo com os hábitos associados com os da primeira língua. Por esse motivo, acreditavasse que os hábitos da primeira língua iriam interferir na performance da segunda (LIGTHBOWN & SPADA). Outro ponto a ser considerado diz respeito a como os erros na aprendizagem/aquisição são vistos na segunda língua. Para os behavioristas, os erros cometidos pelos aprendizes na tentativa de se comunicar na segunda língua advém dos hábitos previamente adquiridos na primeira língua. Ainda de acordo com eles, onde houver similaridade entre a primeira e segunda língua o aprendiz terá mais facilidade. Entretanto, a influência da segunda língua na primeira não se resume a uma mera transposição de hábitos, mas a tentativa de usar a linguagem previamente aprendida. Outro ponto a ser considerado é o fato de aprendizes de uma segunda língua, nesse caso a língua inglesa, tendo como língua materna diferentes línguas apresentam um similaridade na construção da língua Inglesa. Podemos citar como exemplo o uso de “NO+ NOUN” ( No understand) de que muitos aprendizes se utilizam. Com esse entendimento básico da teoria Behaviorista, pretendemos agora perceber como aconteceu a difusão desse método. Em momento anterior à Segunda guerra Mundial, na primeira metade do século passado, o “Método Direto” não havia funcionado nos EUA como na Europa, pois aquele país não encontrava com facilidade professores nativos. Também o sistema educacional americano estava fortemente convencido de que o objetivo do ensino de línguas estrangeiras deveria estar não mais 7 focado na comunicação oral, e sim na escrita. É por esse motivo que o sistema educacional americano retornou lá em meados dos anos 30 e 40 ao método “Grammar Translation”. No entanto, com o advento da Segunda Guerra Mundial, os EUA colocaram-se no meio de um conflito internacional acentuando a necessidade dos americanos em tornarem-se fluentes nas línguas não só de seus inimigos, mas nas de seus aliados. Estava assim pronto o cenário para uma revolução no ensino de línguas. Assim, o exército americano fundou cursos de línguas intensivos que focavam nas habilidades orais, conhecidos como “Army Specialized Trainning Program (ASTP). As características desse método eram a grande quantidade de pratica oral com ênfase na pronúncia, repetição e prática em conversação. A tradução e a gramática do “Método Direto” estavam totalmente banidas das salas de aula.(BROWN:1999:36) As características de uma aula com o método “Áudio-Lingual são”: 1- Material novo é apresentado em forma de diálogo. 2- Há dependência na imitação, memorização de sentenças e repetição. 3- As estruturas seguem uma seqüência através de análise contrastiva e assim são ensinadas uma a uma. 4- Padrões de estrutura da língua alvo são ensinados através da repetição. 5- Há pouca ou nenhuma explicação gramatical. A Gramática é ensinada através de analogia indutiva ao invés de explicação dedutiva. 6- O ensino de vocabulário é estritamente limitado e aprendido no contexto. 7- Há o uso intenso de fitas cassetes, laboratórios de língua e recurso visual. 8- Grande importância é colocada na pronúncia. 9- Não é permitido ao professores o uso da língua materna. 10-Respostas corretas são imediatamente enfatizadas. 11-Há um grande esforço em evitar com que os alunos produzam sentenças gramaticalmente erradas. 12-Há uma tendência em manipular a linguagem e desconsiderar o contexto. 8 É especificamente esse método (Áudio-lingual) que pretendemos usar como suporte para enfatizar suas inadequações em explicar o processo de aprendizagem/aquisição da Segunda língua e, com isso, guiaremos o leitor às mais recentes tendências de pensamento na área. Dessa forma, as diferenças serão evidenciadas e o leitor terá uma visão mais ampla da evolução de entendimento no processo de aprendizagem/aquisição da Segunda língua. Como já dito anteriormente, o método Áudio-lingual possui suas raízes na visão Behaviorista de linguagem, visto que essa visão pregava que o aprendizado de línguas era como qualquer outra forma de aprendizado, envolvia a formação de hábito, sendo esse formado quando aprendizes respondem a um estímulo do ambiente e, subseqüentemente, tem suas respostas enfatizadas e assim elas são memorizadas. Assim, o hábito é uma conexão estimulo-resposta. Acreditava-se que todo o comportamento, incluindo o complexo comportamento envolvido na aprendizagem/aquisição de uma segunda língua, podia ser explicado através da formação de hábito. Colocava-se que o aprendizado/aquisição acontecia quando o aprendiz tinha a oportunidade de praticar a resposta correta para uma certa pergunta e que quando os aprendizes imitavam modelos de linguagem correta (estímulo) e recebiam o retorno positivo, a retenção do conhecimento se processava. E, caso recebessem retorno negativo, por terem produzido uma sentença que se desviava da forma tida como correta, eles não iriam reter essa forma. Por exemplo, aprendizes podem ouvir a sentença “Give me a pencil”, e usá-la conseguindo com isso atingir seu objetivo comunicativo, ou seja, numa dada situação a sentença memorizada capacita o aprendiz a atingir seu objetivo. Mas a memorização dessa sentença, muitas vezes, não revela apropriadamente o domínio das estruturas gramaticais que a envolvem. Notamos então que através de uma abordagem Behaviorista, percebe-se apenas o que é diretamente observável (input e output) e deixa-se de lado a ”caixa preta” da mente do aprendiz, ou seja, as regras que a mente do aprendiz criam e que diferem daquelas presentes na língua alvo. Assim, o fato de um aprendiz proferir a sentença mencionada acima era vista apenas como o resultado de uma memorização anteriormente ocorrida. Percebemos que a abordagem Behaviorista não dá conta do complexo processo que envolve o 9 aprendizado de uma língua estrangeira visto que o output do aprendiz diverge, em muitos momentos, do input que lhe foi oferecido. (ELLIS:1997:31) Tendo trabalhado com o método Áudio-lingual, que tem em sua estrutura os princípios Behavioristas, pudemos perceber que apesar de os alunos apresentarem inicialmente uma performance animadora respondendo a estímulos lingüísticos prontamente, um acompanhamento longitudinal desses alunos se mostrou um tanto frustrante. Tivemos a oportunidade de lecionar para alguns alunos no momento em que eles eram considerados true beginners, e ao final do curso de dois (II) anos. Tendo eles passado por diferentes professores no decorrer desse período, sua proficiência não os habilitava a manterem uma conversa fluente na língua alvo. A forma como a língua era ensinada requerendo dos alunos a repetição e a memorização os treinava muito bem na repetição, mas tão logo se iniciava uma conversa natural com esses alunos seu comportamento era sempre muito semelhante, proferiam os verbos que eles necessitavam e a conversa tornava-se algo tão artificial que logo retornávamos a repetição que o método exigia. Percebemos então que todas às horas de aula, todas as repetições, não os habilitaram a se comunicar eficientemente na língua alvo. Foi através dessa constatação que começamos então a perceber que o processo de aprendizagem/aquisição está muito além da criação de hábitos que propunha a abordagem Behaviorista. Assim de acordo com Brown (1999:67): “We discovered that language was not really acquired through a process of habit formation and overlearning, that erros were not necessarily to be avoided at all costs, and that structural linguistics did not tell us everything about language that we needed to know”. Percebendo então que a mente do aprendiz cria sentenças nunca antes ouvidas, sentenças que desviam da forma padrão da língua alvo, a inadequação do método Áudio-lingual tornou-se evidente, pois este colocava o aprendiz como um mero repetidor das frases proferidas pelo professor. E essa repetição não o capacitava a tornar-se fluente na língua alvo, apesar de algumas vezes a retenção de frases, de vocabulário se processe através da 10 memorização. É sim, através de um processo muito mais complexo que o aprendiz se torna capaz de aprender uma língua e é justamente esse processo que pretendemos apresentar, o processo pelo qual o aprendiz passa e que poderá levá-lo, ou não, a tornar-se fluente na língua alvo. A língua criada pelo falante-aprendiz que viemos a chamar de Interlíngua. A inadequação da explicação Behaviorista a despeito da aprendizagem/aquisição da segunda língua levou os pesquisadores a buscar uma diferente explicação teórica para explicar esse processo. Houve então uma mudança de paradigma, partindo de como o meio afeta a forma de aprender, para como as propriedades inatas da mente humana afetam o aprendizado/aquisição. E, assim, a partir dos anos 60 e 70, uma teoria mentalista de aprendizagem/aquisição da segunda língua emergiu. De acordo com essa teoria, apenas seres humanos são capazes de aprender uma língua; a mente humana é equipada com um dispositivo para aprender línguas chamado “Language Aquisition Device”. Esta faculdade é diferente de outros tipos de atividades cognitivas como lógica e raciocínio, por exemplo; essa faculdade é a principal no dispositivo de aquisição da língua; input é necessário, mas apenas para iniciar a operação do “Language Acquisition Device”. 11 4 QUE É INTERLINGUA? O termo Interlíngua foi primeiramente cunhado pelo lingüista Americano Larry Selinker, para designar o sistema lingüístico que difere da primeira língua do aprendiz, mas também difere daquele da língua alvo. De acordo com ELLIS, “a interlíngua do aprendiz é uma sistema lingüístico único”.(ELLIS:1997:30) O conceito de Interlíngua envolve as seguintes premissas a respeito da aprendizagem/aquisição da segunda língua: 1 O aprendiz constrói um sistema de regras lingüísticas abstratas que se baseia na compreensão e produção da segunda língua. Este sistema é visto como uma “gramática mental” e é chamado Interlíngua. (ELLIS:1997:33) 2 A gramática do aprendiz é permeável, ou seja, ela esta aberta a influências externas (através do input) e é também influenciada por fatores internos como a omissão, generalização e a transferência de erros. 3 A gramática do aprendiz é transitória, ou seja, ela muda através do tempo acrescentando, omitindo e reestruturando o sistema. Dessa forma os aprendizes constroem uma serie de “gramáticas mentais” ou “interlínguas” a medida que aumenta a complexidade de seu conhecimento sobre a segunda língua. Por exemplo, aprendizes podem iniciar com uma gramática bastante simples nas quais apenas uma forma verbal é representada “paint”, por exemplo. Em seguida, essa forma pode evoluir para “painted” e/ou “painting” evidenciando que o aprendiz se apropriou de novas funções da linguagem usando o mesmo verbo. 4 Muitos pesquisadores têm afirmado que o sistema que os aprendizes constroem, possuem regras variáveis. Ou seja, os aprendizes estão propensos a ter regras competindo em um estágio do seu desenvolvimento lingüístico. Entretanto, outros pesquisadores têm insistido que a Interlíngua é um sistema homogêneo e que a variabilidade reflete os erros que os aprendizes cometem quando tentam usar o seu conhecimento para se comunicar, assim a variabilidade reflete um aspecto da performance mais 12 que da competência. Temos então que a questão da variabilidade da Interlíngua é ainda um tema controverso. 5 Aprendizes empregam várias estratégias de aprendizagem para desenvolver sua Interlíngua. Os diferentes tipos de erros refletem as diferentes estratégias de aprendizagem assim, por exemplo, erros de omissão sugerem que o aprendiz esta simplificando a tarefa de aprendizagem ignorando características gramaticais que ele ainda não esta pronto para processar. Generalização e transferência de erros, pode ser vista também como uma estratégia de aprendizagem. 6 A gramática do aprendiz esta propensa à fossilização. De acordo com Selinker apenas 5 % dos aprendizes desenvolvem uma gramática mental semelhante a do falante nativo. A maioria dos aprendizes para num estágio bastante inicial com erros fossilizados, sendo que estes não estão presentes na primeira língua.(SELINKER in ELLIS:1997:37) De acordo com ELLIS, “o conceito de Interlíngua incorpora elementos da teoria mentalista onde se afirma haver um “Language Acquisition Device”, e elementos da psicologia cognitiva, com as estratégias de aprendizagem”. Entretanto, essa constatação não oferece uma precisa explicação sobre quando o “input” funciona e quando não, ou do porque, as vezes, os aprendizes se utilizam da transferência da primeira língua e/ou da generalização, e o que causa a reestruturação da interlíngua, e ainda porque muitos aprendizes fossilizam 1 sua linguagem. Uma outra visão da interlíngua nos é passada através do pesquisador Adjemian, pois de acordo com ele interlínguas são línguas naturais, mas elas 1 Fossilization: It has been long noted that learners of L2 eventually reach a stage of learning--a stage short of success--and that they then stabilize (fossilize) at this stage. Typically speaking, aspects of fossilization will mostly constitute some form of functionalism: e.g., English Nom. Case gender *He(=she), *Him(=her), or 3Psg 'S (She cook often). In children (L1), of course, there is no fossilization. 13 são únicas pois sua gramática é permeável”. Ele também faz uma diferenciação entre as estratégias de aprendizagem que os aprendizes empregam e as regras lingüísticas que são “crucially concerned in the actual form of the language system” .(ADJEMIAN:1976:302) 4.1 O modelo computacional da aquisição da 2o língua O conceito de interlíngua pode ser visto como uma metáfora de como a aprendizagem/aquisição da segunda língua se processa. Isso implica que a mente humana funciona como um computador. O esquema abaixo representa a metáfora computacional básica chamada interlíngua. Assim, o aprendiz é exposto ao “input” que é processado em dois estágios, num primeiro momento a informação é armazenada na memória de tempo curto sendo chamada “intake”. Em seguida, uma parte do “intake” é armazenada na memória de longo prazo como conhecimento sobre a segunda língua. O processo responsável por criar o “intake” e o conhecimento sobre a segunda língua ocorre dentro da “ caixa preta” na mente do aprendiz onde a Interlíngua é construída. Finalmente, o conhecimento da segunda língua é usado pelo aprendiz para produzir linguagem falada e escrita. (ELLIS:1997:35) Input Intake L2 conhecimento Output 4.2 Aspectos sociais da Interlíngua A perspectiva dominante na Interlíngua é psicolinguista, como foi demonstrado através da metáfora computacional. Ou seja, pesquisadores têm primordialmente se preocupado com os mecanismos internos responsáveis pelo desenvolvimento da Interlíngua. (ELLIS:37:1997) Três diferentes abordagens que incorporam uma visão social no estudo da aprendizagem/aquisição da segunda língua podem ser identificados. O primeiro percebe a Interlíngua como sendo constituída de diferentes estilos no qual aprendizes se utilizam de acordo com as diferentes condições de uso da 14 linguagem(Interlíngua como um stylistic continuum); a segunda, considera como os aspectos sociais determinam o “input” que os aprendizes se utilizam para construir sua interlíngua (O modelo de aculturação da aquisição da segunda língua); o terceiro, considera como as identidades sociais com os quais os aprendizes negociam suas interações com os nativos podem modelar e, conseqüentemente, levá-los a aprender a 2o língua. (Identidade social e investimento no aprendizado da segunda língua).(ELLIS:1997:37) 4.2.1 Interlíngua como um stylistic continuum De acordo com Elaine Tarone (1997), “a Interlíngua envolve um stylistic continuum e que aprendizes desenvolvem a capacidade de usar a segunda língua e que isso leva a um comportamento regular no uso da linguagem. Essa capacidade se constitui num sistema lingüístico abstrato e é composto de diferentes estilos os quais podem ser acessados de acordo com uma variedade de fatores”. Esses estilos podem ser assim divididos: estilo cuidadoso e estilo vernacular. O primeiro consiste no comportamento do aprendiz que por sua escolha esta estudando as formas lingüísticas da linguagem, assim eles sentem a necessidade de estarem “corretos”. Do outro lado temos o estilo vernacular, onde os aprendizes fazem uso espontâneo das formas lingüísticas. Nesse mesmo estudo Tarone afirma, por exemplo, que estudantes japoneses aprendendo a língua Inglesa revelam dificuldade em produzir o som /z/. O acompanhamento longitudinal de alguns aprendizes japoneses revelou que eles apresentaram uma evolução na produção desse som na leitura de listas e de diálogos, e uma menor evolução enquanto falavam a língua alvo espontaneamente.(TARONE in ELLIS:1997:38). Assim, a teoria de Tarone sugere que a gramática da Interlíngua, embora diferente daquela do falante nativo, constrói-se sobre os mesmos princípios, pois ambas possuem um grupo variado de estilos e, dessa maneira, a teoria relaciona o uso da linguagem com o aprendizado da mesma. Ou seja, com esse exemplo podemos perceber que o estilo de aprendizagem (cuidadoso ou 15 vernacular) vai interferir na forma como esse aprendiz constrói sua linguagem e conseqüentemente em como esses “erros” pareceram. Entretanto, a autora sugere que a teoria tem problemas visto que muitos aprendizes nem sempre apresentam precisão no estilo cuidadoso e menos ainda no estilo vernacular. Há ainda aprendizes que apresentam bastante precisão no estilo vernacular,quando um detalhe gramatical específico é necessário para expor um sentido especifico na conversação, por exemplo. Tarone afirma também que o fator social permanece obscuro visto que falantes nativos mudam para o estilo cuidadoso para se dirigir àqueles que não fazem parte do seu convívio social e/ou àqueles que ocupam posição superior. E que o estilo vernacular é utilizado com pessoas do convívio social e para aqueles que estão na mesma posição social. Assim, de acordo com a autora: “style-shifting among native speakers reflects the social group they belong to”. (TARONE in ELLIS:1997:39) Outra teoria a respeito da variação estilística nos é apresentada por Howard Gile (1997), com a diferença que sua teoria é claramente mais social. Sua teoria conhecida como “accomodation theory” tenta explicar como o grupo social ao qual o aprendiz pertence influencia no curso da aprendizagem/aquisição. O autor sugere que quando um aprendiz interage com outrem ele tenta fazer com que seu discurso se pareça com o dessa pessoa, num processo de convergence, ou ainda, que o aprendiz tenta mostra sua diferença em relação ao outro tentando com isso marcar sua diferença social num processo chamado divergence. Podemos inferir, então, que quando os aprendizes se sentem motivados a atingir um nível de proficiência próximo ao do falante nativo, um elevado grau se proficiência se alcança, mas por outro lado, quando aprendizes são encorajados a permanecer em seu próprio grupo social o aprendizado se opera de forma menos eficaz. De acordo com Howard Gile “social factors influence interlanguage development via the impact they have on the attitudes that determine the kinds of language use learners engage in” (HOWARD GILE in ELLIS:1997:39). 16 4.2.2 O modelo de aculturação da aquisição da 2o língua John Shumann (1997) nos apresenta o modelo de aculturação que é construído com base na metáfora da distancia. Sua teoria é baseada no acompanhamento longitudinal (dez meses) de um Costa Riquenho de 33 anos chamado Alberto. De acordo com o pesquisador, Alberto apresentou pouco desenvolvimento no transcorrer desse período usando uma forma simplificada e reduzida da língua Inglesa. Alberto permaneceu no primeiro estágio no desenvolvimento de negativas (O uso de “no” + construções verbais) e continuou a usar essa ordem de palavras de frases declarativas ao invés da inversão. Por exemplo, na sentença ”where you get that?” Ele ainda não havia demonstrado se utilizar de verbos auxiliares , do uso dos verbos regulares no passado e do uso de substantivos de posse. Ele, no entanto, era capaz de usar adequadamente a forma plural da língua Inglesa ”s” e o verbo “to be”. A maneira com que ele trabalhava as estruturas da língua Inglesa pareciam ser uma conseqüência da sua primeira língua, Espanhol. Schumann descartou varias possibilidades como inteligência e idade para essa fossilização da linguagem, afirmando que na verdade o que havia ocorrido era um processo de pidginization 2 ,sendo este um processo que ocorre quando aprendizes fracassam ao se inserir no novo grupo social e em se adaptar na nova cultura. Essa distância, no entanto, não esta apenas ligada a distância social entre o aprendiz e um grupo falante da língua alvo, essa distância pode ser um distância psicológica que pode ser iniciada através do choque com a língua ou com diferentes níveis de motivação. (SCHUMMAN in ELLIS:1997:41) 2 Pidginization The process by which pidgins(i.e contact languages) are formed;according to Schumann,L2acquisition may involve a similar process) 17 4.2.3 Identidade social e investimento no aprendizado da 2o língua De acordo com Bonny Peirce, “aprendizes tem identidades sociais complexas que podem apenas ser compreendidas em termos de poder nas estruturas sociais. A identidade social de um aprendiz é múltipla e contraditória, e que um aprendizado efetivo apenas ocorre quando aprendizes são capazes de construir uma identidade que os capacita a serem ouvidos e tornarem-se senhores de seu discurso”. (BONNY PEIRCE in ELLIS:1997:42). A formação dessa identidade vai requerer investimento, e aprendizes apenas irão se lançar nesse empreendimento se sentirem que esse investimento aumentará o valor do seu capital cultural. 5. Aspectos do discurso na Interlíngua Acredita-se que os fatores sociais não atuam diretamente na “caixa preta” que é a mente do aprendiz, mas tem papel importante no curso e desenvolvimento da Interlíngua do aprendiz. O estudo do discurso do aprendiz tem tido até o momento dois diferentes objetivos: a tentativa de descobrir como o aprendiz adquire as “regras” do discurso na língua alvo: como a interação modela o desenvolvimento da Interlíngua.(ELLIS:1997:42) 5.1 Adquirindo regras no discurso Há regras, ou pelo menos, regularidades na forma como nativos mantém uma conversa. Nos EUA, por exemplo, um cumprimento requer uma resposta e a falta dele significaria um erro sociolingüístico. Além disso, cumprimentos na língua Inglesa em geral requerem do falante uma depreciação do objeto elogiado. Por exemplo: A I like your sweater. B It’s so old. My sister bought it for me in Italy some time ago . 18 Aprendizes, no entanto, falham muitas vezes nessa “regra” social respondendo com um simples “Thank you”. Assim, o desenvolvimento de regras no discurso assim como da aquisição de regras gramaticais ocorre de forma sistemática.(ELLIS:1997:45). 7 O papel do Input e da interação na aquisição da 2o lingua Grande parte da pesquisa do discurso do aprendiz tem focado em “como” e “se” o “input” e a interação afetam na aquisição da segunda língua. Através de uma perspectiva mentalista podemos nos questionar até que medida o discurso de um aprendiz difere daquele de um nativo, pois da mesma forma que pais modificam seu discurso enquanto cuidam de seu bebês (babe talk), assim também o fazem quando interagem com aprendizes. (foreigner talk). Dois tipos de “foreigner talk” podem ser percebido de acordo com Rod, o “ungrammatical foreigner talk” e o “grammatical foreigner talk”. O primeiro consiste na omissão, muitas vezes, do verbo “to be” verbos modais(can e must), o uso de alguns verbos na forma base (sem colocá-los no passado) e o uso de construções especiais como “no”+”verbo” e representa uma falta de respeito do nativo para como a aprendiz. O segundo (grammatical foreigner talk) consiste na emissão de sentenças de forma mais lenta, no uso de sentenças simplificadas, na omissão de estruturas gramaticais complexas e o uso de estruturas regularizadas como “will not” ao invés de “won’t”. (ELLIS:1997:47) Interessante percebemos que muitas das características presentes no discurso do falante nativo para com o aprendiz estão presentes na língua criada pelo aprendiz interlíngua levando-nos a crer que certamente o “Language Acquisition Device” atua na mente de cada um de nós independentemente da situação em que nos encontramos, seja enquanto estamos falando a primeira ou a segunda língua . A observação do discurso do aprendiz nos leva então a uma indagação imprescindível para aquele profissional que se lança no desafio de ensinar uma segunda língua, o papel do “input”. De acordo com Stephen Krashen 19 (1985),”a aquisição da segunda língua acontece quando o aprendiz compreende a informação que lhe é apresentada, com isso ele sugere a formula “i+I”, onde o nível a ser trabalhado com o aprendiz deve ser um pouco mais avançado que o seu atual nível”. Para o autor, o aprendizado se processa quando o aprendiz recebe um “input” compreensível. (ELLISllis:1997:48). Uma característica bastante presente no discurso do aprendiz, que é facilmente perceptível para aquele profissional atento, é a capacidade que eles apresentam de utilizar-se de “pedaços” do discurso do professor para construir o seu próprio. E, de acordo com Evelyn Hatch, “essa abilidade nomeada “scaffolding”, é a interação do aprendiz com seu interlocutor que irá construir seu discurso através da colaboração” .(Evelyn Hatch in (ELLIS:1997:50). Long (1991) foi outro pesquisador da área que apresentou uma interessante visão a respeito do papel da interação aprendizagem/aquisição na segunda língua indo um pouco alèm da hipótese do Input fornecida por Krashen. A hipótese de Long, chamada “Interaction Hypothesis”, faz parte de sua tese de doutorado e por isso mesmo foi estudada detalhadamente. Através do uso de instrução formal para jogos, entrevistas e a participação nesses jogos, Long realizou então um experimento onde dois grupos, um constituído de 16 pares de falantes nativos, e o outro grupo de 16 pares, sendo este grupo constituído de falantes nativos e aprendizes da língua. Cada grupo trabalhava isoladamente fornecendo dentro de seu grupo instruções para a realização do jogo. Percebeu-se que havia pouca diferença lingüística entre os dois grupos excetuando-se, é claro, o domínio de funções da linguagem. O grupo constituído por nativos e não nativos estava mais propenso a se utilizar de táticas conversacionais como repetição, confirmação, compreensão e pedidos de esclarecimento. As táticas utilizadas pelos falantes nativos para com os falantes menos fluentes parecem ser motivadas pela busca em resolver problemas de comunicação, e não o intuito de ensinar gramática. Assim, de acordo com a “Interaction Hypotheses” o esforço no trabalho colaborativo entre falantes 20 fluentes e menos fluentes é muito útil para o aprendizado da língua estrangeira visto que na tentativa de maximizar a compreensão a negociação de sentido entre os falantes irá incidentalmente refinar o input na segunda língua. Ou seja, os falantes fluentes irão garantir que o aprendiz receberá o nível adequado de informação “i+i” e não “i+3” ou “i+0”. (MITCHEL Rosamond & MYLES Florence:2002:129). Assim de acordo com Larsen-Freeman e Long (1991), “ Modification of the interactional structure of conversation... is a better candidate for a necessary (not sufficient) condition for acquisition.The role it plays in negotiation for meaning helps to make input comprehensible while still contains unknown linguistic elements, and, hence, potencial intake for acquisition”. 7 Aspectos psicolingüísticos da Interlíngua Entende-se por psicolingüística o estudo das estruturas mentais e processos envolvidos na aquisição e no uso da segunda língua. Quatro áreas principais podem ser delineadas: a transferência da primeira língua, o papel da consciência, operações de processamento e estratégias comunicativas. 7.1 A transferência da primeira língua A transferência da primeira língua refere-se à influência que a primeira língua do aprendiz exerce sobre a segunda língua. Ao contrário do que muitos podem pensar, essa influência nem sempre é negativa negative trasfer, e sim, muitas vezes positiva positive transfer. Podemos citar, por exemplo, a habilidade que falantes nativos de Árabe têm em produzir sentenças como :” The man whom I spoke to him is a millionarie” visto que a língua Árabe possui relative clause. Outras vezes, a transferência da primeira língua pode resultar em evitar “avoidance” de algumas estruturas, uma vez que a primeira língua do aprendiz não possui tal estrutura. Por exemplo, falantes nativos de chinês e japonês evitam o uso de “relative clause” porque sua língua não possui 21 estrutura gramatical semelhante. Além disso, a primeira língua do aprendiz pode levá-lo ao “overuse” de algumas estruturas uma vez que sua língua materna apresente tal semelhança. Como exemplo, podemos citar o “overuse” que falantes chineses apresentam quando pedem desculpas (apologizing) na língua Inglesa, visto que essa é uma norma em sua língua.(ELLIS:1997:52) Percebemos então que muitas vezes certas características da primeira língua podem facilitar o processo da aprendizagem/aquisição de uma segunda língua, visto que a semelhança pode guiar muitas vezes o aprendiz a um “overuse” da estrutura devido à semelhança, e assim fazer com que o aprendiz a use com mais propriedade devido à pratica. O entendimento dessa especificidade na interlíngua é muito interessante para o profissional de línguas, pois revela uma mudança de perspectiva em relação à abordagem Behaviorista que pregava a interferência da primeira língua como algo prejudicial e que deveria ser evitada ao máximo. Residia nessa crença, então, a necessidade em criar o hábito na segunda língua para com isso impedir a influência da primeira língua. Outro ponto a ser considerado é a fossilização que aprendizes revelam em sua interlíngua, pois através de uma perspectiva cognitiva temos acesso a um entendimento completamente diferente daquele pregado pela abordagem Behaviorista. De acordo com aquela teoria, a fossilização presente no discurso dos aprendizes estava associada a uma má pratica na repetição dos exercícios, e ainda, com base nessa teoria podemos inferir que essa fossilização estava muito associada com à inteligência do aprendiz em processar a informação. Já de acordo com uma abordagem cognitiva, a fossilização de erros esta associada às hipóteses que o aprendiz construiu com base em sua primeira língua. Assim, de acordo com ELLIS (1997:52), learners do not construct rules in a vacuum; rather they work with whatever information is at their disposal”. A transferência da primeira língua, entretanto, não ocorre de maneira aleatória, e sim, de forma organizada estando relacionada com o estágio de desenvolvimento do aprendiz. Pesquisadores perceberam, por exemplo, que falantes nativos de alemão e norueguês, enquanto aprendizes da língua 22 Inglesa como segunda língua, não transferem diretamente “post verbal negation” (I go not) presentes em sua língua materna para a segunda língua. Ao invés disso, eles usam a estrutura tão presente no discurso de alunos falantes de Língua Portuguesa, “I no go”. Só após algum tempo esses aprendizes percebem que algumas características de sua língua materna são transferíveis para a segunda língua e passam a utilizar-se desse recurso. 7.2 O papel da consciência na aquisição da 2o língua Uma questão de extrema importância a ser tratada e que está inserida na interlíngua é a distinção entre aprendizagem e aquisição.Quando falamos aprendizagem temos em mente algo aprendido de forma consciente através de instrução. Já no momento em que falamos aquisição, temos em mente um processo que ocorre de forma inconsciente, e que irá fazer parte do individuo, ou seja, que a aprendizagem pode ser esquecida enquanto a aquisição não. É quase inevitável compararmos a criança que aprende sua primeira língua ao adulto no momento em se lança no desafio de aprender uma segunda língua. Uma distinção é bastante clara para todos nos, a criança parece fazê-lo sem grande esforço, já o aprendiz adulto requer um grande esforço de tempo e energia. Porém, sabemos também, que adultos muitas vezes são capazes de “entender” a língua que está em volta deles assim como crianças o fazem. Stephen Karshen (1985) tem afirmado na necessidade de distinguir aquisição de conhecimento na segunda língua e aprendizado de conhecimento na segunda língua. A primeira é um conhecimento implícito da linguagem enquanto a segunda (aprendizado), é um conhecimento explícito sobre a linguagem. Dessa forma, a aquisição ocorre de forma subconsciente através de input compreensível no momento da comunicação, enquanto a segunda ocorre de forma consciente através do estudo da segunda língua. Assim, de acordo com o pesquisador os dois sistemas de conhecimento são inteiramente 23 independentes um do outro e que o conhecimento não pode ser convertido em aquisição e vice-versa. A afirmação de que a automatização através da prática leva à correção gramatical foi não apenas tida como correta, mas pregada pela abordagem Behaviorista, e percebemos que hoje a distinção entre elas é bastante clara. Percebemos então que falar uma segunda língua está muito além da criação de hábito, não que ela não ocorra, mas não é ela responsável por tornar um falante capaz de se comunicar na segunda língua. A memorização de palavras e sentenças não torna o falante proficiente e isso nos leva a crer que é sim o “Language Acquisition Device” o responsável por fazer com que o falante seja capaz de construir sua linguagem em meio ao caos que é o ato de aprender uma segunda língua. 7.3 Operações de processamento Uma outra forma de identificar os processos responsáveis pelo desenvolvimento da interlíngua é através da dedução das operações que aprendizes utilizam em seu “output”. Assim, dois desses princípios operacionais serão aqui discutidos, princípios operacionais e restrições de processamento. 7.3.1 Princípios Operacionais O estudo da aquisição da primeira língua em diferentes línguas identificou algumas estratégias nas quais as crianças se utilizam para extrair informação da língua que ouvem. De acordo com Dan Slobin, “essas estratégias, chamadas de princípios operacionais, são a busca do aprendiz em evitar interrupções, o rearranjo de unidades lingüísticas e a tentativa de evitar exceções. Um bom exemplo é o uso por parte dos aprendizes da forma “no+verb” que nada mais é que a busca em aplicar um sentido único para uma formula única”. (DAN SLOBIN in ELLIS:1997:58) 24 7.3.2 Restrições de processamento O projeto conhecido como ZISA (Zweitspracherwerb Itlienischer und Spanischer Arbeiter), investigou a ordem pela qual trabalhadores imigrantes tendo como primeira língua uma língua Romana adquiriram um grupo de “word order rules” em Alemão. Notou-se que os aprendizes iniciavam com a “canonical order strategy” (Subject-verb-object), e em seguida eles iniciavam a estratégia de “initialization/finalization” onde elementos do final da sentença vão para o inicio e vice-versa. Com o passar do tempo aprendizes podem não só adquirir essa regra como também a inversão do sujeito e do verbo em Alemão em sentenças como:”Gestern gebeich ins Kino” (Yesterday go I to the cinema).De acordo com Rod, a “word order rules” são adquiridas em uma seqüência enquanto outras como o verbo “to be”, por exemplo, podem ser adquiridas em qualquer estágio de desenvolvimento. 7.4 Estratégias comunicativas Baseado em nossa experiência enquanto falantes de uma segunda língua, e na observação dos discursos de nossos alunos, sabemos empiricamente que nos utilizamos de estratégias comunicativas no momento que nosso conhecimento da segunda língua se mostra deficiente para realizar a ação comunicativa. De acordo com Rod (1997), os alunos podem evitar certas estruturas gramaticais devido a sua complexidade como por exemplo o “Present Perfect Continuos “,ou ainda “emprestar” uma palavra de sua língua materna na falta de vocabulário na língua alvo. Muitas vezes eles criam uma palavra como “picture place” para dizer “art gallery” e/ou parafraseiam uma palavra na busca de serem entendidos. Interessante perceber que essas estratégias comunicativas evoluem a medida que o conhecimento do aprendiz na segunda língua evolui, assim suas estratégias deixam de se basear tão 25 somente na primeira língua e passam a ser construídas com base em seu conhecimento sobre segunda língua. 8 Aspectos lingüísticos da Interlíngua Tipológicos universais: Relative clause Sabemos que as línguas variam na forma em que usam o “relative clause”, sendo essa estrutura presente em línguas com Inglês e Árabe e ausentes em chinês e japonês. Assim de acordo com ELLIS, “aprendizes que possuem essa estrutura em sua primeira língua acharão mais fácil se apropriarem dela do que aqueles que não a possuem, e estes últimos por sua vez buscaram evita-la”.(ELLIS:1997:63) O uso de relative clause, por sua vez, não ocorre indistintamente nas sentenças, havendo sim uma gradação em sua freqüência de uso por parte do falante. Ou seja, parece haver uma gradação de dificuldade em seu uso. Alguns lingüistas afirmam que as línguas estão mais propensas a permitir o uso de relative clause com um subject pronoun.( ELLIS:1997:62) Percebemos então que a “acessibility hierarquicky” mostra a seqüência em que as estruturas serão aprendidas sendo o “subject pronoun”, por exemplo, um das primeiras estruturas que o aprendiz se apropria. Essa constatação nos leva a crer que a “acessibility hierarquicky” prevê a ordem de aquisição. No entanto, de acordo com ELLIS (1997) o “genitive relative clause” mostra diferentes níveis de dificuldade de apropriação por parte dos aprendizes revelando assim resultados inconclusivos. 26 9 Gramática Universal Proposta por Chomsky (1985), essa teoria afirma que a linguagem é governada por um conjunto de princípios abstratos que fornecem parâmetros os quais fornecem conjuntos particulares para uma dada língua. Um bom exemplo para esclarecer essa teoria é o uso do “reflexive”, visto que nem todas as línguas o possuem da mesma forma que a língua Inglesa. Na sentença: “Emily knew the actress would blame herself” a voz reflexiva se refere “actress” e não a Emily. Porém,falantes da língua japonesa apresentam dificuldade em dizer a qual das pessoas a voz reflexiva se refere, uma vez que na língua Japonesa essa sentença é ambígua. Uma pesquisa comparando o acerto no uso de tal estrutura por falantes proficientes na língua a aprendizes com nível básico, mostrou que ambos apresentavam dificuldade no uso de tal estrutura. A constatação desse fato nos sugere que os falantes de língua japonesa aprendizes de língua Inglesa como segunda língua, nesse caso, não apagaram o conjunto de regras que rege sua língua materna se apropriando do conjunto de regras que rege a segunda língua, nesse caso a língua Inglesa. Podemos certamente transferir o entendimento desse aspecto da linguagem do aprendiz para o nosso contexto enquanto falantes de língua Portuguesa, no momento de estamos nos apropriando de uma segunda língua, nesse caso a língua Inglesa. Ora, sabemos que algumas estruturas da língua Inglesa como o “Present Perfect”, por exemplo, se mostra um tanto problemática para falantes de língua Portuguesa. E como nos mostra a pesquisa, o falante não apaga o conjunto de regras que rege sua primeira língua, mas é sim, capaz de se apropriar do conjunto de regras que regem a segunda língua em maior ou menor grau. 27 9.1 Learnability De acordo com Chomsky, no momento em que as crianças estão aprendendo sua primeira língua elas se apóiam em seu conhecimento inato da linguagem (Language Acquisition Device), pois caso contrário o ato de aprender um língua seria algo impossível devido a pobreza de estímulo oferecido pelo ambiente.(ELLIS:1997:66). Uma criança aprendendo a língua Inglesa como sua primeira língua, percebe que uma sentença é gramaticalmente inadequada como por exemplo: “Sam kicked fiercely his toy car”. A ingramaticalidade na sentença reside no fato de a língua Inglesa não permitir o advérbio posicionado entre o verbo e o objeto direto. Temos então que se o “input” consiste de “positive evidence ” e que se os pais geralmente não corrigem seus filhos o “input” então não é totalmente responsável pelo aprendizado da primeira língua. Assim, de acordo com Chomsky alguns erros simplesmente não ocorrem na primeira língua porque não proibidos pela Gramática Universal. A pergunta que nos surge então é de que maneira a Gramática Universal atua na mente do falante no momento em que ele esta falando a segunda língua?. 9.2 A hipótese do período crítico Esta teoria afirma que há um período onde a aquisição de uma língua é fácil e completa (fluência semelhante a do falante nativo), e fora desse período ela é difícil e incompleta. A pesquisa a respeito do período crítico foi baseada em pessoas que perderam sua capacidade lingüística como resultado de um acidente, por exemplo, e que foram capazes de recuperar sua capacidade lingüística por completo antes da puberdade, mas não ao contrário, depois desse período. O estudo baseou-se também em indivíduos que foram privados do contato com a linguagem até o período crítico (puberdade), e em seguida, após terem sido 28 expostos a linguagem conseguiram desenvolvê-la, mas não por completo. Sua linguagem em muitos aspectos lembrava a interlíngua de aprendizes. Essas evidências nos sugerem que um aprendiz adulto é incapaz de desenvolver sua competência lingüística como a de um nativo em termos de pronúncia e gramática. E, caso contrário, se os indivíduos chegam ao país antes da puberdade eles têm maiores chances de alcançar competência lingüística semelhante ao do nativo. Percebemos então que não é o tempo de permanência no país, mas a idade de chegada que irá prever a competência do aprendiz. Entretanto, há muitos aprendizes que parecem não estar condicionados ao período critico atingindo competência semelhante a do nativo mesmo tendo iniciado o aprendizagem da segunda língua enquanto adultos. A análise dos aspectos que envolvem o período critico nos leva diretamente ao papel da Gramática Universal no processo de aprendizagem, e esse é um aspecto bastante controverso que merece total atenção. 9.3 Acesso à Gramática Universal Até o presente o momento os pesquisadores não chegaram a um consenso, se os aprendizes de segunda língua tem ou não acesso a gramática universal. Podemos agora analisar algumas posições teóricas a respeito da Gramática Universal. - Acesso completo: Acredita-se que o aprendiz é dotado de um conjunto de parâmetros que regem sua primeira língua, e que esse parâmetro pode guiar-se em direção ao que rege a segunda língua. Assim, acredita-se que o aprendiz é capaz de atingir competência lingüística como a do falante nativo e que o período critico não existe da forma como é apresentado. - Inexistência de acesso: Acreditasse que a Gramática Universal não esta disponível para os adultos aprendizes de segunda língua. Dessa maneira, o aprendizado ocorre através de estratégias de aprendizado. 29 Fundamentalmente o acesso a Gramática Universal ocorre de maneira diversa entre a primeira e a segundas línguas e que os falantes de segunda língua não atingirão competência completa. - Acesso parcial: Acredita-se que os falantes têm acesso a algumas partes da Gramática Universal, mas não a outras. Assim, os falantes têm acesso àqueles parâmetros operacionais presentes em sua primeira língua e que aqueles não presentes poderão ser aprendidos através da instrução formal e com a correção de erros. - Acesso dual: De acordo com essa posição teórica os aprendizes fazem uso da Gramática Universal e de estratégias de aprendizagem. O uso de estratégias de aprendizagem, no entanto, pode bloquear a operação da Gramática Universal fazendo com que aprendizes produzam erros impossíveis na língua alvo e que a competência completa não seja atingida. Dessa maneira aprendizes só atingiriam a competência completa se o seu aprendizado se baseasse por completo na Gramática Universal.(ELLIS:1997:70) Podemos perceber que a variação de posições a despeito do papel da Gramática Universal no processo de aprendizagem/aquisição de uma segunda língua nos leva a crer que seu papel é ainda envolto por incertezas . 9.4 Markedness Este termo refere-se à idéia de que algumas estruturas são mais “básicas” e/ou “simples” que outras estruturas. Podemos então dividi-las em estruturas unmarked e marked. De acordo com Chomsky, a primeira refere-se a estruturas que estão presentes na Gramática Universal e por isso são de mais fácil aprendizagem, enquanto a segunda refere-se a estruturas que não estão presentes na Gramática Universal sendo um acidente histórico na língua. Algumas pesquisas têm sugerido que “unmarked” estruturas são aprendidas antes de marked estruturas como já foi anteriormente sugerido na 30 “accessibility hierarchy”. Entretanto, precisamos nos questionar se o maior uso da unmarked estruturas esta ligado a uma maior facilidade de compreensão por parte dos aprendizes ou se está ligado ao maior uso no “input” fornecido aos aprendizes. Pesquisas têm mostrado que em muitos casos o maior uso de certas estruturas está sim ligado ao fato de certa estrutura estar presente na língua(unmarked). Dessa maneira os aprendizes teriam maior facilidade de transferir esse conhecimento para a língua alvo. Um exemplo que pode esclarecer essa colocação é, por exemplo, o fato de falantes nativos de língua Inglesa fazerem a distinção dos sons iniciais /t/ e/d/ (tin/din), sons no meio de palavras (betting)/bedding) e no final de palavras (wet)/wed). Quando aprendizes da língua Alemã, eles não apresentam grande dificuldade em perceber que nessa língua não há distinção para o som final visto que essa é uma estrutura marked. Por outro lado, falantes nativos da língua Alemã apresentam maior dificuldade em fazer a distinção nos sons finais quando aprendizes da língua Inglesa, visto que, como dito anteriormente, a língua Alemã não apresenta a distinção para esses sons em posição final. Percebemos então que a interlíngua é um sistema semelhante ao do sistema criando pela criança quando inicia o processo de aprendizagem da sua primeira língua. Assim de acordo com Brown:” Second language learners go through a systematic or quasistmematic developmental process as they progress to full competence in the target language.Sucessful interlinguage language development is partially a factor of utilizong feedback from others.(BROWN:1998:27) Assim a interlíngua de aprendizes varia consideravelmente entre formas lingüísticas sistemáticas e não sistemáticas, que na cabeça do aprendiz o que eles dizem ou compreendem esta correto, apesar de variar da forma do falante nativo. Um exemplo dessa forma incorreta criada pelo aprendiz é, por exemplo, a sentença: “Does John can sing?”. O aprendiz acredita firmemente que essa sentença é gramaticalmente correta devido a uma regra sistemática internalizada que requer o auxiliar “do” pré-posto para a formação de perguntas na língua Inglesa. Ainda de acordo com Brown, “o feedback que o professor fornece em sala de aula tem papel importante não tão somente para 31 acelerar o processo, mas no sucesso que o aprendiz terá nos estágios de desenvolvimento da interlíngua”.(BROWN:1988:28 ) 10 A visão de Stephen Krashen sobre a 2o língua A relevância de Krashen como pesquisador nas áreas de ensino e pesquisa de segunda língua tem sido relevante desde a década de 80. Apesar de todas as criticas que suas teorias têm sofrido devido à simplicidade de abordagem dos complexos processos de aprendizagem/aquisição da segunda língua. Primeiramente devemos apresentar uma visão geral de sua visão a respeito do processo que envolve a aprendizagem/aquisição da segunda língua. Sua teoria esta construída em cinco principais idéias sendo elas a ordem natural, a hipótese do monitoramento,a hipótese do input,a hipótese do filtro afetivo e a hipótese da aprendizagem/aquisição. A hipótese da ordem natural afirma que os aprendizes aprendem as regras da linguagem em uma ordem natural,e que essas regras têm uma gradação de dificuldade de processamento. Por esse motivo algumas estruturas são utilizadas pelos aprendizes antes de outras. Assim de acordo com Krashen (1985): “We acquire the rules of language in a predictable order, some rules tending to come early and others late. The order does not appear to be determined solely by formal simplicity and there is evidence that it is independent of order in which rules are taught in language classes”. O porquê de algumas estruturas parecerem ser mais difíceis não é ainda um consenso entre os pesquisadores da área de ensino de línguas. Alguns afirmam que a dificuldade está ligada á proximidade da estrutura da língua alvo com a língua materna do aprendiz. Há, ainda, a possibilidade da dificuldade estar ligada a uma complexidade de processamento na “caixa preta” que é a mente do aprendiz. (KRASHEN: 1985:3-4). 32 Já a hipótese do monitoramento afirma que o processo de aprender/adquirir uma segunda língua está ligado a um processo consciente do aprendiz que estando atento ao processo irá editar o que lhe for fornecido como input, e através desse processo ira compreender e produzir sentenças na língua alvo. O uso do monitoramento é afetado pela quantidade de tempo que o aprendiz tem para pensar na estrutura que ele está prestes a produzir para poder atentar na forma e no seu conhecimento lingüístico na língua alvo.Temos também a hipótese do input, sendo esta extremamente interessante para o profissional de línguas, pois a forma e a qualidade do input é uma das indagações diárias do professor. Nos questionamos se devemos falar o mais naturalmente possível com os alunos com o intuito de nos aproximarmos do ambiente em que a língua alvo é falada, o país. Mas, no entanto, sabemos que a sala de aula é incapaz de reproduzir o mundo real devido a vários fatores e é por esse motivo que devemos produzir um nível de linguagem que seja entendido pelo aluno, não necessariamente no todo, mas em partes.E é essa justamente a idéia que Krashen nos oferece através da hipótese do input. De acordo com Krasken, “seres humanos adquirem a linguagem em apenas uma maneira – através do entendimento da mensagem ou através de input compreensível. O nível de linguagem que devemos fornecer aos alunos pode ser entendido melhor através da formula “I+1”. Sendo “i” o estagio atual de conhecimento do aluno é “1” o próximo estágio a ser aprendido pelo aluno. (KRASHEN:1985). Outra teoria de Krasken de extrema relevância é a hipótese do filtro afetivo, pois de acordo com essa teoria não há aprendizado sem afetividade. Ora, todo o processo de ensino-aprendizagem deve estar cercado de afeto e para isso não precisamos de teorias que nos deixem mais seguros no terreno da linguagem pois sabemos empiricamente que o afeto é a chave fundamental desse processo. Assim, de acordo com Krasken “'a mental block, caused by affective factors… that prevents input from reaching the language acquisition device' (KRASHEN:1985:100). Talvez essa seja a hipótese mais intrigante e complexa de Krashen, visto que as criticas de outros pesquisadores da área são não apenas variadas mais plausíveis. Assim, antes de apresentarmos algumas criticas a teoria de 33 Krashen iremos primeiramente apresentar as idéias do pesquisador em questão. Krashen acredita que há uma clara distinção entre o processo de aprender uma língua e adquirir a mesma. Para ele o processo de aprender uma língua ocorre de forma consciente e explicita, na qual o uso de regras gramaticais eh utilizado em situações formais. O conhecimento explicito que o aprendiz possui sobre a segunda língua pode variar de acordo com o aprendiz e de acordo com Krashen “... most learners are only capable of learning fairly simple rules.”(ELLIS:1997:56). Faz-se necessário saber quais regras são consideradas simples e quais são consideradas complexas para termos de forma clara o que estamos tratando. Para Krashen o uso da forma plural “s” em língua Inglesa pode ser considerado uma estrutura simples enquanto o uso dos artigos “a” e “the” é uma estrutura complexa. O aprendiz que atinge o nível de proficiência na língua o faz devido a sua aptidão, sendo que todo o processo de aprendizagem ocorre em uma seqüência indo de estruturas simples em direção as mais complexas. Já a aquisição de uma língua, por outro lado, tem em teoria diferenças bastante marcantes em relação à aprendizagem. Para Krashen adquirir uma língua envolve um processo subconsciente em que as regras da língua alvo são adquiridas de forma implícita. Assim, a língua é adquirida em situações informais onde o aprendiz aprende a dominar as regras gramaticais através da intuição, ele “sente” quando uma regra é apropriada ou não. O aprendiz se torna proficiente na língua alvo devido a sua atitude em relação a ela e que a seqüência de aquisição esta relacionada a uma ordem estável. Assim, a aprendizagem não se converte em aquisição pois aquela ocorre em situações formais de ensino. Entretanto a distinção entre aprendizado e aquisição apesar de ter como suporte uma teoria extensa e detalhada não encontrou ate o presente momento aceitação completa entre os pesquisadores da área. De acordo com Mclaughin(1987) “aquisition-learning dichotomy is based on “ subconscious” and “conscious” processes respectively,which have not been clearly defined...” 34 Percebemos então que a distinção entre aprendizagem/aquisição não esta muito clara, e que o uso dos termos consciente/inconsciente para distinguir aprendizagem/aquisição é não somente simplista, mas falho. 35 Conclusão Neste trabalho procuramos apresentar, primeiramente, em que molde foi construído o método Behaviorista, para em seguida apresentar as teorias mais recentes a respeito do processo de aprendizagem/aquisição da segunda língua. Percebemos que a teoria Behaviorista pregava que o aprendizado/aquisição de uma segunda língua consistia na formação de hábito, e com essa visão de língua desenvolveu-se o método Áudio-Lingual, método esse que consistia na repetição de vocabulário e frases. Empiricamente notou-se que o método não era capaz de dar conta da complexidade que é a aprendizagem/aquisição de uma segunda língua, no entanto, não se negam o papel da repetição para a retenção de algumas estruturas e/ou palavras, mas ela não pode ser considerada como a única a atuar no processo. Com o fracasso da teoria Behaviorista em explicar o complexo processo de aprendizagem/aquisição da segunda língua, desenvolveu-se uma teoria mentalista de linguagem onde o foco não estava mais em como o ambiente atua na mente do falante, mas sim, em como as propriedades inatas da mente humana afetam o aprendizado/aquisição da segunda língua. Percebeu-se então que o falante profere sentenças nunca antes ouvidas, e através dessa observação concluiu-se que a aprendizagem/aquisição de uma segunda língua é muito mais complexa e que algo deve atuar na mente do falante. O falante passa a ser visto então como um agente criador, não mais como um sujeito que deveria apenas repetir frases emitidas pelo professor. Percebeu-se também que sua “língua” a qual passamos chamar interlíngua pode ser considerada com algo único, visto que ela evolui no transcorrer do processo de aprendizagem/aquisição. E, que um grupo de fatores atua na mente do aprendiz como fatores sociais, tipo de personalidade do aprendiz, a motivação para aprender uma dada língua e a identificação com os falantes da língua alvo, entre outros. Notamos que vários fatores atuam nesse processo, 36 evidenciando assim, que uma gramática deve provavelmente deve atuar na mente do aprendiz. Percebemos também, que o entendimento de “como” e “se” essa gramática mental que atua na segunda língua assemelha-se à da primeira língua, é ainda tema bastante controverso, pois não se chegou a um consenso. Sabe-se, contudo, que algo diferente da mera repetição pregada pela teoria Behaviorista, deve atuar na mente do aprendiz. Assim, compreendemos que o processo chamado interlíngua é não apenas complexo, mas intrigante, pois nos mostra até certa medida de que forma a mente atua nesse processo que é aprender uma segunda língua. 37 GLOSSÁRIO Acessibility hierarchy: Ordenação implicacional de funções de pronomes relativos ( Sujeito-verbo-complemento) em relação ao seu nível de marcação. Accomodation theory: De acordo com essa teoria fatores sociais influenciam no alcance em que aprendizes procuram ter seu discurso semelhante ao de falantes nativos. Foreigner talk: A variedade de linguagem usada por falantes nativos ao se dirigirem a falantes não nativos. Input. amostras de linguagem oral ou escrita a que um aprendiz é exposto quando esta aprendendo ou usando a 2o língua. Intake: a porção do input que aprendizes recebem e armazenam em sua memória de tempo curto Interlanguage: termo cunhado por Selinker quando se refere ao conhecimento sistemático da segunda língua que independe de ambas a língua alvo e a língua materna. Operating Principles: Termo que Slobin utiliza para as estratégias que as crianças se utilizam durante a aquisição da primeira língua no momento que elas segmentam e analisam o input do meio.E é esse input que irá fazer parte das propriedades de seu output. Relative clause: A relative clause é uma subordinate clause que modifica um substantive. Por exemplo, o noun phrase “the man who wasn't there” contem o substantivo “man” que é modificado pelo relative clause who wasn't there. Scaffolding:O processo pelo qual aprendizes se utilizam do discurso para ajudá-los a construir sentenças que estão além de sua competência atual. 38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS BROWN, H. Douglas.Teaching by principles: an interactive approach to language pedagogy.1941 GITSAKI, Christina.Second Language Acquisition Theories: Overview and Evaluation. Disponivel em:<http://eprint.uq.edu.au/archive/00002325> Acesso em: 10 de outubro de 2005. GALASSO, Joseph. A Working Paper on Second Language Acquisition Research: Some Notes on Theory and Method. 1999. Disponível em: <http://www.csun.edu/~galasso/wkpap.htm > Acesso em: 10 de outubro de 2005. Larsen-Freeman, Diane and Michael H. Long. An introduction to second language acquisition research 1991. New York: Longman. 333pp. Disponível em: http://www.sil.org/lingualinks/LANGUAGELEARNING/OtherResources/BiblgrphyOfLn ggLrnngRsrcs/LarsenFreemanAndLong1991.htm. Acesso em: 05 de agosto de 2006. NUNAN,D. Second language teaching and learning. 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