Monografia AI - IVE - Imagens e Vozes de Esperança
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Monografia AI - IVE - Imagens e Vozes de Esperança
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO COMUNICAÇÃO SOCIAL – PUBLICIDADE A EFICIÊNCIA DO APPRECIATIVE INQUIRY NA TRANSFORMAÇÃO ORGANIZACIONAL Augusto César da Costa Zimbres Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social, com especificação em Publicidade e Propaganda da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social, sob a orientação do Prof. Augusto Sampaio e o auxílio do Prof. Bernardo Monteiro. Rio de Janeiro Junho / Julho 2003 “Estamos num momento muito importante, quando uma velha idade de 400 anos está morrendo e uma outra está batalhando para nascer; uma mudança de cultura, da ciência, da sociedade e das instituições; algo o mais grandioso já experimentado pela humanidade. À frente, a possibilidade de regeneração dos relacionamentos, liberdade, comunidade e ética como o mundo nunca conheceu antes; harmonia com a natureza, uns com os outros e com uma inteligência divina, como o mundo nunca sonhou.” Dee Hock, Fundador da Visa International 2 RESUMO Uma mudança está se processando em todos os campos da atividade humana. No mundo empresarial, os velhos mas comumente métodos e sistemas utilizados pela grande maioria dos departamentos de recursos humanos das empresas, focando-se em aspectos técnicos, materiais e financeiros, relegam a segundo plano os sentimentos, emoções e expectativas das pessoas, que são, na realidade, a essência de qualquer organização. Criado pelo PhD em comportamento organizacional, Dr. David Cooperrider, o método Appreciative Inquiry (inquirição apreciativa) busca essencialmente o positivo nas pessoas e em suas organizações. Através de perguntas apreciativas é possível despertar o cerne de transformação positiva de uma empresa, o que lhe dá vida. As capacidades e potenciais de seus membros podem alcançar seus máximos ao lembrarem-se de momentos passados de sucesso, vitórias, força, transformação, despertar positivo. A partir disso, é possível criar uma visão poderosa para o futuro. Uma solução que parte de dentro da própria instituição, que precisa apenas aprender a focar-se no que é positivo e vital para ela. Cases de sucesso comprovam a eficiência do Appreciative Inquiry, como a Nutrimental, que teve sua estrutura completamente transformada pelo método. Nos EUA, também é possível darmos muitos exemplos, dos quais destacamos os do McDonald’s e da NASA. PALAVRAS-CHAVE: - positivo - apreciativo - essência 3 ÍNDICE 1 – O contexto da mudança Porque o modo como vemos o mundo é caótico! O convite a uma “Revolução Positiva” Mudando a mentalidade organizacional Apreciando o essencial Liderança é ter virtudes 5 5 6 7 8 9 2 – Promovendo a mudança nas organizações Indo até as raízes da transformação Descoberta Intuitiva Escolha de Tópico Afirmativo O processo apreciativo (os 4 Ds) - Descoberta - Sonho - Design - Destino Princípios Básicos do Appreciative Inquiry - Princípio Construtivista - Princípio da Simultaneidade - Princípio Poético - Princípio Antecipatório - Princípio Positivo Origem filosófica O que é mais importante: Inquirição ou Apreciação? Diferenças entre o método de “solução de problemas” e a inquirição apreciativa 10 10 10 12 12 13 13 14 14 16 16 16 17 17 17 18 19 20 3 – Cases de sucesso Perfis diversos – resultados semelhantes Nutrimental - Um marco na história da empresa - Impactos no cotidiano - Responsabilidade Social - Lições e resultados McDonald’s (EUA) NASA 21 23 24 24 26 26 27 29 32 4 – Minha experiência com o Appreciative Inquiry 34 4 1 – O CONTEXTO DA MUDANÇA O mundo está mudando! É uma mudança que aparece de uma forma sutil e que somente algumas poucas pessoas com uma sensibilidade mais aguçada podem perceber em meio ao caos que se alastra pelo mundo. Elas são poucas, mas estão espalhadas pelas diversas áreas do conhecimento humano. E como diz a sabedoria popular “Depois da tempestade, vem a bonança”. O trem da história está passando e cada um de nós tem que estar pronto para o que virá depois da tempestade. O porquê da mudança é muito simples. É apenas uma questão de mudarmos um pequeno detalhe desse mesmo ditado, que está implícito em seu significado: “Por causa da tempestade é que tem que vir a bonança”. Mas por quê a mudança? Porque o modo como vemos o mundo é caótico! As organizações são criações humanas e, desse modo, reproduzem o que está nas mentes de seus criadores. Se o homem perdeu o controle sobre sua criação, é porquê ele perdeu o controle sobre sua própria mente. O homem perdeu a consciência do que é realmente essencial. E o que é essencial para uma organização? As pessoas são a essência de uma organização. Talvez essa afirmativa já esteja um pouco batida, repetitiva. Mas será que foi assimilada? Talvez a maioria das pessoas não aceite pensar que os seus modos de ver o mundo são caóticos. No entanto, por mais que se fale em mudar o mundo, as pessoas simplesmente não querem ser mudadas. Qualquer tentativa de resolução de problemas tem que levar em conta a essência do problema. O modo como vemos o mundo é a essência do problema! Qualquer problema, em qualquer área de atuação humana. Nós criamos o mundo em que vivemos, então todos os problemas não podem ter sido criados por mais nada a não ser por nós próprios. Pessoas criaram e continuam constantemente criando as organizações. Continuamos criando o mundo em que vivemos através de cada pensamento, cada palavra, cada ato. De acordo com a nossa visão, é o nosso mundo. Se ele encontra-se em situação tão negativa, certamente é porque isso reflete a nossa visão e a nossa atitude diante dele. E isso é tudo que podemos fazer. Já que não podemos mudá-lo, podemos ao menos mudar a nossa atitude diante dele. Mas como fazer isso se nos concentramos em tarefas, atribuições, cargos, papéis e dizemos que não temos para pensarmos em outras coisas? Como, por exemplo, no que é realmente essencial para nossas vidas... Quantos de nós paramos para pensar: Por quê eu estou fazendo isso tudo? Trabalhar, ganhar dinheiro, me divertir e me sustentar com isso, mas e daí? Quantos no mundo têm a clareza de qual é seu propósito de vida? Ou será que é 5 meramente trabalhar? Onde vamos chegar com tudo isso? Pense bem: quando você estiver prestes a morrer, o que diria? Você diria que “Eu me tornei o melhor do mundo na minha área de atuação, me diverti e ganhei muito dinheiro”?! Mas e daí, o que você vai levar disso tudo? Então, qual é a importância verdadeira disso tudo? Essa também não é uma discussão nova, mas certamente essa reflexão é o ponto de partida para estarmos prontos para a mudança que está acontecendo. O convite a uma “Revolução Positiva” A globalização vem criando um sistema integrado mundial, num contexto global de democratização. Na mesma extensão em que isso torna mais visíveis para o mundo todo as contradições e problemas do sistema internacional, também torna mais visíveis as demonstrações de evolução do espírito humano, da conscientização de muitos sobre a mudança que está transformando essa realidade. Algo que ilustra isso e que está bem próxima da realidade do mundo empresarial é o rápido crescimento do 3º setor, para o qual as empresas procuram adaptar-se através de responsabilidade social. No início chamava-se “marketing social”, termo que já se tornou ultrapassado, mostrando a evolução das empresas nesse aspecto. O Fórum Social Mundial reúne anualmente milhares de pessoas que acreditam, como diz o slogan, que “um mundo novo é possível”. Aqueles que percebem a mudança fazem o seu movimento. Mas será que mesmo o 3º setor está ciente de que mudança é essa? “Queremos Paz!”, dizem todos. Certa vez fui a um evento de jovens lideranças e, na ficha de inscrição, perguntava quais temas eu gostaria que fossem abordados naquele tipo de encontro. Respondi que queria discutir sobre “a paz do ponto de vista da paz”. Todos querem paz, todos pedem por paz, mas falam de guerra. Na recente ocasião do ataque norte-americano ao Iraque, todos pediam por paz, mas xingavam o presidente americano. Para protestar contra a raiva dos americanos, o mundo todo também fica com raiva deles, mas pede por paz. Isso mostra duas coisas importantes. Em primeiro lugar, que qualquer um que sinta que há um processo de mudança no ar cria seu próprio movimento. Mas são poucos os que entendem o processo, que entendem a mudança. Em segundo lugar: “Nenhum problema pode ser resolvido no mesmo nível de consciência que o criou. Precisamos aprender a ver o mundo como novo”. Albert Einstein Então, por quê continuarmos engajados em consertar o mundo velho se podemos criar um mundo novo? 6 Mudando a mentalidade organizacional Passei mais de quatro anos na universidade ouvindo sobre a importância de desenvolver o tal senso crítico. De fato, todos são excelentes críticos. Na hora de falar mal dos outros, aparece um monte de gente à disposição: “Porque fulano blá blá blá. Beltrano blé blé blé...” Mas a maioria sente-se ofendido se alguém vem e pergunta: “E quanto a você?” Como é possível mudar algo para o bem, se vivemos com o foco no mal? Sabemos criticar muito bem as coisas e pessoas, mas será que sabemos apreciar? Por quê o especialista em artes precisa chamar-se crítico de artes? Por quê será que ele não pode chamar-se apreciador de artes? A etimologia da palavra transformação (trans-formação) nos mostra o significado real da palavra: ir além da forma. O que está além da forma é a essência positiva. Antes de falarmos ou agirmos, necessariamente pensamos antes. Por ser o pensamento o primeiro e mais profundo nível da nossa ação, para se promover uma mudança efetiva, é necessário primeiro ter uma atitude mental positiva. Tudo sairá de acordo com isso. Não é possível um mundo novo se as pessoas forem as mesmas. Um mundo renovado requer gente renovada. É nesse nível que a mudança ocorre, na mudança individual. No mundo organizacional, é exatamente o mesmo princípio: a qualidade individual é a base da qualidade total. O velho método de “solução dos problemas” está ultrapassado, por causa do foco no negativo. “Nós temos um problema”. E é para ele que vai o foco na grande maioria dos casos, ao invés de ir para a solução. O que torna uma organização num problema é a própria visão limitada e problemática de seus próprios membros. O que esses criam internamente será transposto para a organização, e o que ela cria internamente é transposto para o mercado. O clima de competição do mercado, por exemplo, é criado internamente nas próprias empresas, onde seus funcionários começam competindo com os próprios colegas. Antes do clima de disputa com as outras empresas, vem a disputa interna que alimenta a ocupação dos cargos hierárquicos. Porque alguém é incapaz de vencer a si mesmo, precisa vencer os outros em algo para se auto-afirmar. A competição detonou conceitos importantes e básicos como o de que para se atender uma demanda, é preciso servir à sociedade. Uma pessoa efetivamente positiva não vê problemas, só oportunidades. Mesmo o que os outros considerariam um grande problema, alguém positivo consideraria, no mínimo, uma chance de aprendizado. Diz a sabedoria popular que não há uma situação da qual não se possa tirar algum benefício. Uma pessoa negativa foca-se mais nos problemas que nas oportunidades e, com isso, torna coisas pequenas em grandes. A eficácia em resolver as dificuldades externas é resultado direto da capacidade de resolver as dificuldades internas. Desfocar o negativo e levar o foco para o positivo de qualquer coisa, pessoa ou situação é a condição básica para entender e viver a mudança. 7 Apreciando o essencial Nas organizações, logicamente isso não é diferente. Em primeiro lugar, temos que aceitar o fato de o termo Recursos Humanos ser extremamente negativo. Esse termo nivela os seres humanos, que são o essencial de uma empresa com os recursos financeiros, os recursos tecnológicos. É como se os recursos internos das pessoas tivessem o mesmo valor que os recursos materiais. Como se as pessoas fossem números ou máquinas. Entretanto o que dá vida a uma organização? São as pessoas. E o que dá vida às pessoas? O espírito que se manifesta através de valores. A prática comum do RH é a de comprar modelos e conceitos prontos, trazendo conceituações de fora sem adaptá-las às características próprias da empresa, de sua gente. Soluções vindas de fora raramente promovem resultados efetivos, porque quando há um desalinhamento entre o treinamento e os valores do indivíduo, o aproveitamento é naturalmente baixo. Os métodos tradicionais focam-se na técnica e na força. No entanto, vale lembrar que mesmo os grandes mestres das artes marciais só tornaram-se mestres em função do trabalho de auto-conhecimento que fizeram. A técnica e a força vêm com isso. Em uma empresa, pode-se ensinar técnica a um funcionário, mas se ele não é íntegro, muito pouco se pode fazer. De onde vem, então, a capacidade, a inteligência e o poder de um vencedor, de um empreendedor bem sucedido? Seria simplesmente do desenvolvimento de técnica e força? Ou é algo mais sutil e profundo? O que sustenta um campeão, antes de tudo, é uma fantástica força interior. O espírito que o anima é o seu diferencial. Como diz o presidente da Nutrimental e coordenador do Elos, Rodrigo Loures, “Na aprendizagem organizacional sabemos que, em geral, os programas de treinamento consistem em passar informação, desenvolver habilidades e adquirir know-how. No entanto, este modelo está mais para ‘adestramento’ do que para aprendizagem propriamente dita. Mas quando esse processo é apoiado respectivamente pela experiência, valores e sabedoria, o aprendizado é muito mais efetivo. Aprendizagem implica em mudanças de atitude, que decorrem de experiências reais e afetam o desenvolvimento de valores e princípios, levando as pessoas a alcançarem a sabedoria”. Vale a lembrança, também, de que a palavra educar vem do latim educare: tirar de dentro. Uma aprendizagem verdadeira não insere nada de fora, mas tira de dentro. As organizações são como icebergs: 90% está submerso. Porém as empresas tendem a produzir seu planejamento estratégico levando em conta apenas a parte visível da organização (sistemas, produtos, tecnologia), ao passo que há toda uma parte invisível (sentimentos, emoções, medos, crenças, valores, vontade) que condiciona o comportamento das pessoas e possui um peso muito maior. O que faz uma organização são as pessoas. O que faz as pessoas são seus recursos internos. O importante, então, é elevar esses recursos, capacidades e potenciais ao máximo. Como dizia Saint-Exupéry, em seu clássico “Pequeno Príncipe”, o essencial é invisível aos olhos. Numa pós-graduação em gestão de negócios, muito pouco vai se aprender sobre os 90% que movem o iceberg: desenvolvimento de valores e princípios, espírito de equipe, 8 alinhamento das vontades coletivas e individuais. Mas muito vai se aprender sobre os 10% acima da superfície: planejamento, gerência de produto, administração do conhecimento. Liderança é ter virtudes Pessoas virtuosas são comprovadamente líderes mais competentes. Liderança refere-se basicamente à prática virtuosa de alguém. A capacidade de liderar outros depende fundamentalmente da habilidade de liderar a si próprio, de administrar, organizar e conduzir sua própria vida. Um líder é alguém que consegue tirar dos outros o que eles têm de melhor, porque consegue fazer o mesmo de si mesmo. Nos últimos anos, as mulheres têm assumido cargos gerenciais com mais freqüência. O segredo disso resume-se a uma palavra que, para mim, é a mais importante característica de um líder: doçura! Não é aquela doçura falsa melosa. Mas na verdade, a doçura é uma síntese de todas as outras virtudes que uma pessoa possa ter. Doçura verdadeira sabe exatamente quando ser flexível e quando ser firme. É como o equilíbrio entre o amor da mãe e a lei do pai. Com esse equilíbrio, com uma sensibilidade muito mais aguçada e, principalmente, um entusiasmo que inspira os outros, as mulheres vêm tomando com grande mérito lugares de destaque nas grandes organizações. Para ilustrar, vou citar um exemplo do primeiro evento que fiz, o “Jovens pela Paz”, quando tentava uma parceria com o AfroReggae. Pessoas da Unesco, do Viva Rio e do Viva Favela me disseram que eu deveria falar com a Márcia Florência, coordenadora de projetos sociais do AfroReggae. No final eu fui descobrir porquê todos a colocavam como referência: além da doçura, um amor pelo que faz entusiasmante e uma dedicação inspiradora. De fato, uma líder verdadeira! Alguém que acredita tão firmemente no trabalho que faz, que deixa transbordar ânimo e entusiasmo sobre os garotos que optam pelo AfroReggae no lugar do tráfico de drogas. Hoje em dia no mundo organizacional, a tendência tem sido: os melhores chefes são homens e os melhores líderes estão passando a ser as mulheres. Certa vez, trabalhei na produção de um evento de grande porte, que durava mais de dois dias e que traria referências importantes do 3º setor e do governo federal ao Rio. Para isso é necessário um grande talento e, de fato, a produtora do evento possuía um currículo invejável, sendo até professora de eventos em pós-graduação. No entanto, a frieza tornava alguém que tinha um grande potencial para ser líder em uma chefa, o que fazia com que seus subordinados não se sentissem motivados. O desejo de boicotá-la era forte. Confesso que até mesmo da minha parte. Isso prova que o profissional mais competente, por mais que faça seu trabalho com muita qualidade, depende do trabalho de outros e, por isso é necessário tornar os outros participativos e fazê-los sentirem-se úteis e valorizados. O verdadeiro sentido da palavra delegar é inspirar outros. Liderança está intimamente conectada com a inteligência espiritual. Um chefe é alguém que possui um conhecimento técnico específico, um determinado know-how. Conhecimento sem experiência gera arrogância. Inteligência Espiritual não segue a lógica humana ordinária. Além de transcendê-la, possui uma vontade que vai além da capacidade material. Auto gestão verdadeira é saber gerenciar a inteligência espiritual, usando freqüentemente os valores internos e constantemente fazendo esforço para potencializar essa capacidade. 9 2 – PROMOVENDO A MUDANÇA NAS ORGANIZAÇÕES Dentro de pouco tempo, a mudança será tão visível em todos os campos de atuação humana, que as organizações que não se adaptarem a ela morrerão, independente da posição no mercado. Não importa que seja um líder de segmento, uma das marcas mais fortes do mundo ou um negócio com a melhor oportunidade do mundo. Todas que ainda não atentaram para a mudança e que não despertarem a tempo serão esmagadas. Indo até as raízes da transformação Conta uma história da mitologia grega que os deuses queriam esconder dos humanos o segredo da vida, o que os diferenciava dos humanos. Um deles sugeriu que ele fosse escondido no mais profundo oceano, aonde nenhum peixe sequer chegou perto e onde nenhuma alga jamais viveu. Mas alguém refutou: “Não! Os seres humanos dariam um jeito de chegar até lá”. Outro, então, sugeriu que fosse escondido no planeta mais distante da galáxia mais longínqua, um lugar tão longe onde os homens, mesmo depois de milhares de anos de evolução científica, nunca imaginariam que pudesse existir. Mas alguém discordou: “Não. Lá eles também chegariam de algum modo”. Então o deus mais sábio deu a idéia final: “Vamos colocar no coração do próprio homem”. A mudança é algo que não pode ser medido pela ciência, não pode ser tocado pelas mãos, não pode ser alcançado em uma exploração milionária. Não podemos ver a mudança no tronco de uma árvore, mas em seu cerne. Temos que penetrar profundamente na árvore para alcançarmos a mudança. Para transformarmos a árvore velha, temos que ir ao que dá vida a ela. Explorá-la até encontrarmos sua essência. O despertar da essência positiva de uma organização, a exploração e a descoberta de seu cerne de transformação positivo é o ponto a que precisamos chegar. As organizações são organismos vivos. Então temos que alcançar o que dá vida a elas, o que as movem. Podemos responder de forma simplória que o que as move são as pessoas, mas então o que move as pessoas? A sabedoria popular dá a isso o nome de “presença de espírito”. O espírito, a alma que move as pessoas é o mesmo que move as empresas. Para nos inserirmos na mudança, temos que despertar, animar, alimentar, dar força a isso que nos dá vida, a isso que nos leva adiante. Descoberta Intuitiva A grande maioria dos consultores não está atenta à mudança. Prova disso é que praticamente nenhum deles penetra no território do sensível. Ficam olhando para os 10% do 10 iceberg acima da superfície e não mergulham no âmbito das empresas. Os poucos que o fazem vão muito além. David Cooperrider, PhD em Comportamento Organizacional pela Case Western Reserve University, em Cleveland, começou a observar a maneira como sua esposa, pintora, trabalhava e daí iniciou uma reflexão sobre o que é intuição. Desse modo, começou a aventurar-se pelo espaço do sensível, aquilo a que Platão se refere como o Mundo das Idéias, e que vem antes do Mundo Físico. Daí mergulhou em perguntas como “Por que o ser humano faz as coisas da forma como faz?” Um homem que despertou para a mudança, como outros, e que começou a se engajar no foco da mudança: olhar para o positivo! Você também quer participar ativamente da mudança? É muito simples: olhe para o positivo. Esqueça-se de seus defeitos, dos defeitos do outros, dos defeitos da sua empresa e olhe apenas para o positivo, para o que dá vida, para a essência positiva. Um sinal da mudança surgiu com o Appreciative Inquiry (inquirição apreciativa). Em sua definição, pelo próprio Dr. David: “O Appreciative Inquiry trata da busca co-evolutiva pelo melhor nas pessoas, suas organizações e o mundo relevante ao redor delas. Em seu foco mais amplo, ela envolve uma descoberta sistemática do que dá ‘vida’ a um sistema vivo quando ele está mais vivo, mais efetivo e mais construtivamente capaz em termos econômicos, ecológicos e humanos. Envolve, de uma maneira central, a arte e prática de fazer perguntas que fortalecem a capacidade de um sistema de apreender, antecipar e intensificar seu potencial positivo. Ela centralmente envolve a mobilização de inquirição através da elaboração da “pergunta positiva incondicional” freqüentemente envolvendo centenas ou às vezes milhares de pessoas. Na inquirição apreciativa a árdua tarefa da intervenção dá lugar à velocidade da imaginação e inovação; em vez de negação, criticismo e diagnóstico em espiral, há descoberta, sonho e design. Busca, fundamentalmente, efetivar uma união construtiva entre pessoas integrais e a totalidade massiva do que elas mencionam como capacidades passadas e presentes: conquistas, recursos, potenciais inexplorados, inovações, pontos fortes, pensamentos elevados, oportunidades, marcas de nível, pontos altos, valores vividos, tradições, competências estratégicas, histórias, expressões de sabedoria, insights mais profundos sobre o espírito incorporado ou alma; e visões de futuros valorizados ou possíveis. Considerando todos estes juntos como uma gestalt, o Appreciative Inquiry deliberadamente, em tudo o que faz, busca trabalhar a partir de relatos deste “cerne da transformação positiva”! E ela pressupõe que cada sistema vivo tem muitos relatos ricos e inspiradores não penetrados do positivo. Ligue a energia deste cerne diretamente à agenda de transformação e transformações nunca pensadas como possíveis são súbita e democraticamente mobilizadas”. Repare o poder das palavras: APRECIAR – 1. valorizar; o ato de reconhecer o melhor nas pessoas ou no mundo ao nosso redor; afirmar pontos fortes, sucessos e potenciais passados e presentes; perceber aquelas coisas que dão vida (saúde, vitalidade, excelência) a sistemas vivos 2 . Aumentar em 11 valor, por exemplo, a economia apreciou em valor. Sinônimos: valorizar, premiar, estimar, honrar. INQUIRIR – 1. O ato de exploração e descoberta 2 – Fazer perguntas; estar aberto para ver novos potenciais e possibilidades. Sinônimos: descoberta, busca, exploração sistemática, estudo. O método já foi definido como um “new yoga of inquiry”, considerando a origem da palavra yoga, que vem do radical yug: conexão, lembrança. As pessoas conectam-se com suas próprias forças e com as forças à sua volta, através da lembrança de um passado vencedor e bem sucedido. Essa lembrança dá poder àquela experiência. Assim como a prática de yoga (meditação) é nada além do que ensinar a mente a pensar de forma positiva e elevada, a prática de explorar o potencial interno de forma apreciativa cria o hábito de se pensar positivamente e olhar tudo à sua volta com esse foco. Várias empresas e ONGs de grande representatividade e diversidade em vários países do mundo já se transformaram através do poder das perguntas positivas, como veremos mais adiante. E é muito fácil fazer isso: basta pensar positivo! Escolha de Tópico Afirmativo A parte mais importante de qualquer inquirição apreciativa é a escolha de tópico afirmativo. Ele é a semente da árvore! O tópico pode ser qualquer coisa que dê vida ao sistema. É isso que vai tornar os sistemas da organização efetivos. De nada adianta conhecermos teorias sobre processos sistêmicos se estes não são adequados àqueles que movem o sistema. Os “pacotes prontos” do RH estão com seus dias contados. Os sistemas precisam estar baseados no que lhes dá vida, pois uma organização é um organismo vivo. Tópicos transformacionais são possíveis em qualquer situação, em qualquer área de atuação, em qualquer campo de atuação humana. A grande evolução que podemos promover é a mudança de percepção, a criação de uma nova perspectiva para o futuro. Problemas facilmente se resolvem quando um novo cenário para a vida surge, mas não ao refletir sobre eles. Podemos usar os tópicos desde processos técnicos até projeções do futuro de cidades, desde eficiências financeiras até trabalhos religiosos. A premissa fundamental é que os sistemas humanos crescem na direção das suas perguntas mais freqüentes e mais profundas. É nesse momento que surge a “pergunta incondicionalmente positiva”. É ela que move a inquirição. É ela que inicia a viagem à mudança. O processo apreciativo (os 4 Ds) Depois da escolha de tópico, vamos para os 4 Ds, o método aplicado: 12 Descoberta (Discovery) Vejamos um excelente exemplo de escolha de tópico afirmativo: um trabalho feito pelo Dr. David Cooperrider em conjunto com o Dalai Lama: A Surpresa da Amizade! Poderíamos dizer que um objetivo-chave na vida é descobrir e definir o nosso propósito de vida, e então fazer o melhor possível para concretizá-lo. A – Você poderia compartilhar a história de um momento, ou de um período de tempo, no qual o propósito de sua vida apareceu e ficou claro para você? Um momento no qual o seu chamado aconteceu, onde houve um importante despertar ou aprendizado, onde houve uma experiência ou evento especial, ou no qual você recebeu uma visão muito inspiradora. B – Agora, para além desta história… Qual a sensação que você tem em relação ao que tem a fazer antes que sua vida, esta vida, termine? Um título atraente, um texto introdutório curto com afirmações indiscutíveis e as perguntas: a primeira sobre uma experiência do passado e a segunda para levar além. Isso é tudo! A mudança já está sendo despertada... O propósito da descoberta é mobilizar um sistema de inquirição completa para o cerne de transformação positiva. O processo de entrevistas apreciativas, que é o coração do método, gera a curiosidade necessária para criar um espírito de investigação. À medida que as pessoas que participam das entrevistas se conectam para estudar as qualidades, exemplos e analisar a essência positiva, a esperança cresce e o senso de comunidade se expande. Nesta fase, as pessoas compartilham histórias de sucesso, percebendo a história organizacional como uma possibilidade positiva. Sonho (Dream) Vejamos como foi conduzido o sonho do maior case brasileiro: Nutrimental, em 1997 (aprofundaremos esse assunto mais adiante): O que o mundo está nos chamando para nos tornarmos? Quais são as coisas sobre nós que não importa o quanto mudemos, nós queremos continuar no nosso futuro novo e diferente? Suponhamos que hoje à noite, enquanto estávamos todos dormindo, um milagre aconteceu e a Nutrimental tornou-se exatamente como gostaríamos que ela fosse – todas as suas melhores qualidades estão magnificadas, expandidas, multiplicadas do modo como nós gostaríamos de ver... de fato nós acordamos e agora é 2005... quando 13 vocês entram na Nutrimental hoje o que vocês vêm que é diferente, e como vocês sabem disso? O papel do sonho é criar uma visão clara orientada para resultados em relação ao potencial descoberto e em relação a questões de propósito superior, em função do que o mundo quer que nos tornemos, desafiando assim o status quo. O sonho é o foco estratégico, muito comumente consistindo de uma visão de um mundo melhor, um propósito poderoso e uma declaração convincente de intenção estratégica. A possibilidade de usar as artes nessa fase pode aumentar em muito a capacidade de mobilização das perguntas. Planejamento (Design) Em um trabalho com uma organização parceira do Save the Children, um sonho simples e poderoso foi projetado: “Cada pessoa no Zimbábue deve ter acesso à água limpa em cinco anos”. A mudança de design exigida era crítica e foi essa: Uma nova forma de organização baseada em uma rede de parcerias, não a hierarquia auto suficiente da burocracia. O princípio do design é criar proposições de possibilidades da organização ideal, um design de organização que as pessoas sintam ser capazes de ampliar para articular o sonho. A idéia é começar a sustentar o sonho com proposições viáveis para encaminhar a organização para as ações práticas. As imagens do futuro emergem através dos exemplos baseados na realidade do passado positivo da organização, que veio à tona na descoberta. Histórias de reportagens positivas são usadas para criar proposições que liguem o melhor do que existe com a aspiração coletiva do que pode vir a ser. Essa é a hora de planejar a arquitetura social e tecnológica da organização. Destino (Destiny) Um exemplo do sustento criado na última fase do Appreciative Inquiry, feito pela empresa americana GTE: Você alguma vez fez grupos de foco com o cliente 100% satisfeito? Que tal mudar medidas de call center? O que aconteceria se nós substituíssemos as medições de déficit por medidas do positivo igualmente poderosas? Como nós podemos revitalizar os grupos TQM, desmoralizados por uma análise espinha de peixe após a outra? O que aconteceria se nós aumentássemos a análise de variação com os estudos de profundidade que ajudam as pessoas a sonharem e definirem as próprias visões dos padrões de qualidade? Que tal um programa de histórias de estrela para gerar um ambiente narrativo rico, onde os clientes são solicitados a partilhar histórias de encontros com empregados excepcionais? 14 Que tal uma reunião com executivos seniors para que possamos celebrar nossa aprendizagem com eles, partilhar com eles sobre como ver o positivo mudou nosso trabalho e vidas de família e mesmo recrutá-los para unirem-se ao RTP? “De todas as criaturas da Terra, apenas os seres humanos podem mudar o seu padrão. Apenas o homem é o arquiteto do seu destino”. William James O processo de trabalho é mais importante que o resultado. Este naturalmente sai com a inquirição e os diálogos. O destino é o momento de sustentar as imagens de futuro. A idéia é fortalecer a capacidade afirmativa de um sistema inteiro, capacitando-o a construir esperança e impulso ao redor de um propósito profundo e criando processos para aprendizagem, ajustamento e improvisação. As pessoas assumem as ações necessárias para realizar o sonho. Isso funciona melhor quando as pessoas assumem a implementação das idéias que deram. O melhor que os facilitadores têm a fazer é afastar-se e deixar que a subversão positiva siga o seu caminho, que é virtualmente impossível de ser bloqueado. 15 Princípios Básicos do Appreciative Inquiry Antes de falar sobre os cinco princípios que são centrais na teoria do Appreciative Inquiry, vamos citar dois exemplos para ilustrá-los. Muitos estudos cuidadosamente controlados indicam que placebos (medicamentos inertes, sem efeito, usados em muitas pesquisas médicas) podem provocar resultados efetivos. Em uma ocasião, os médicos ofereceram a uma paciente sem resultados até então “uma poderosa nova droga”, que segundo eles inquestionavelmente aliviaria a sua náusea. O efeito placebo associado com a sugestão de que a droga aliviava as náuseas foi o suficientemente poderoso para agir na direção contrária do efeito farmacológico da droga em si. A peça Pigmalião, de Bernard Shaw, também transformada em filme, conta a história do Professor Higgins, que insiste que pode pegar uma florista humilde de Londres e, com um treinamento, fazê-la passar por uma duquesa. E ele tem sucesso. A nossa expectativa influencia a performance dos outros. Princípio Construtivista Há uma ligação direta entre o conhecimento humano e o destino organizacional. Um líder efetivo, um agente de mudança precisa ser capaz de assimilar o valor de que organizações são um organismo vivo. Se conhecer organizações é imprescindível para qualquer transformação, o modo como a conhecemos é decisivo. O modo como conhecemos a mudança é primordial para nos moldarmos a ela e nos inserirmos nela. O construcionismo é uma abordagem à ciência humana e à prática, que substitui o indivíduo pelo relacionamento como o local do conhecimento. Desta maneira o conhecimento é construído ao redor de uma forte apreciação do poder da linguagem e do discurso de todos os tipos (de palavras para metáforas, para formas narrativas etc.). O discurso determinista está completamente fora de qualquer abordagem aqui, bem como os discursos etnocentristas, pois entendemos que construímos nossas realidades baseadas em nossas experiências prévias, e não na simples teoria, coisa que é muito comum entre os teóricos: quem tem conhecimento e não tem experiência torna-se arrogante). Princípio da Simultaneidade Inquirição e apreciação não são momentos separados, mas simultâneos. O despertar para a mudança começa no momento em que se faz a primeira pergunta. Inquirição é intervenção. Quando é feita uma pergunta positiva a alguém, a pessoa que recebe a pergunta sofre, desde já, uma alteração de comportamento, pois esse tipo de abordagem favorece a auto-estima de outra pessoa. As perguntas que fazemos são parte do processo de mudança. Aquilo que as pessoas pensam e falam a respeito, o que elas descobrem e aprendem e as coisas que fornecem informações para o diálogo e inspiram imagens do futuro, tudo 16 isso está implícito na exata primeira pergunta que fazemos. As questões que perguntamos preparam o palco para o que nós “encontramos” e o que “descobrimos” (os dados) torna-se material lingüístico (as histórias), a partir das quais o futuro é concebido, conversado e construído. Princípio Poético Ao contrário do comportamento habitual do RH, as pessoas e organizações não são como máquinas, mas sim como um livro aberto em que as pessoas são co-autoras, da mesma forma como uma obra de arte pode ter inúmeras interpretações. Os passados, presentes e futuros são fontes intermináveis de aprendizagem, inspiração ou interpretação. Precisamente como, por exemplo, as possibilidades sem fim de uma boa obra artística. Não há um único tópico que não possa tornar-se afirmativo. Não há um único assunto que não possa ser focado para o lado positivo. Podemos estudar virtualmente qualquer tópico relacionado à experiência humana em qualquer organização ou sistema humano. Wittgenstein dizia que palavras movem mundos. As histórias criadas a partir da inquirição apreciativa movem mundos de capacidades e potenciais adormecidos nas pessoas. Princípio Antecipatório Nossas imagens positivas do futuro conduzem às nossas ações positivas: essa é a base crescentemente energizante e pressuposição básica da Appreciative Inquiry. A imagem do futuro é o que guia o comportamento real de qualquer organização. A imagem daquilo a que a mudança nos impele a nos tornarmos, desde o momento em que atentamos para ela. O recurso humano infinito que possuímos para a geração de mudança organizacional construtiva é a nossa imaginação e os discursos coletivos sobre o futuro. Nosso futuro está sempre sendo projetado em nosso presente. Investigar possíveis caminhos que remodelam a realidade antecipatória, especialmente a criação com arte, da imagem positiva numa base coletiva, pode ser a coisa mais prolífica que qualquer investigação pode fazer. “Uma imaginação vívida compele todo o corpo a obedecê-la”. Aristóteles Princípio Positivo Quanto mais positiva a pergunta que fazemos, mais bem sucedido é o esforço de mudança. A palavra esforço, em hindi, significa aquilo que é bom para o eu: puroshati. A abordagem positiva tem o poder de agregar, de realimentar. Não tem qualquer valor começarmos nossas investigações considerando o mundo como um problema a ser solucionado. Não estamos mais engajados em “consertar” o mundo velho, mas sim em criar um mundo novo. Este é o chamado do tempo! 17 Origem filosófica “Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro. A verdadeira tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz”. Platão Todas as obras de Platão se dão através de diálogos apreciativos, quase sempre protagonizados por seu mestre Sócrates, considerado o maior herói da civilização ocidental ao lado de Cristo. A máxima que domina toda sua filosofia é “Conhece-te a ti mesmo”, uma frase mais que imortalizada. Tão simples e, ao mesmo tempo, tão complexa. É muito por causa da influência da filosofia socrática sobre todo pensamento ocidental que a Grécia Antiga tornou-se o berço da civilização moderna ocidental. Em vez de estudar o mundo físico, como os filósofos naturalistas que o precederam, Sócrates dedicou-se ao estudo moral do homem e “fez descer a filosofia do céu à terra”. O método utilizado pela filosofia socrática é chamado maiêutica. É a arte de provocar as idéias, isto é de fazer com que o interlocutor descubra as verdades que nele já existiam, através de perguntas. Elas têm por fim fazer surgir na mente do interlocutor noções ou idéias novas, formadas à custa de outras já existentes, ou levar o discípulo ao conhecimento do próprio erro, para seguidamente o conduzir ao descobrimento da verdade. O processo parte das perguntas, nunca de definições. Nesse processo a resposta definitiva não vem, mas sim uma investigação que busca cada vez mais profundidade, sempre através de perguntas (e da oralidade). É um sistema de pesquisa, de exploração do conhecimento filosófico. O objetivo final é a revelação da verdade que cada alma traz em si. Vejamos os 5 princípios básicos do Appreciative Inquiry de acordo com a maiêutica: Princípio Construtivo – O conhecimento humano está diretamente ligado ao seu destino. A forma como Sócrates conhece é decisiva no processo de revelação da verdade. Princípio da Simultaneidade – As perguntas de Sócrates já traziam em si a verdade. A inquirição filosófica e o despertar da sabedoria, da verdade são momentos simultâneos. Ao perguntar, Sócrates já estava revelando a essência do objeto estudado. Princípio Poético – Não há um único assunto sobre o qual a filosofia não possa inquirir. As afirmações filosóficas são fontes de possibilidades de interpretações variadas. Princípio Antecipatório – A revelação da verdade, através do conhecimento filosófico, antecipa o futuro virtuoso do homem. O filosofar remodela a realidade antecipatória, através da verdade. Princípio Positivo – Quanto mais verdadeira uma afirmação de Sócrates, mais efetiva é a assimilação de virtudes. As perguntas filosóficas com poder para revelar a verdade são necessariamente “perguntas incondicionalmente positivas”. 18 O que é mais importante: Inquirição ou Apreciação? Dr. Rodrigo Loures, presidente da Nutrimental, diz que o forte não é a inquirição nem a apreciação, mas o foco no positivo. Para o Dr. David, também, essa é a essência do método, mas entre aqueles dois, diz que a inquirição é mais importante, pois se não houver indagação, não pode haver apreciação. Na pergunta, já está a semente da transformação. O método todo é movido pelas perguntas, mas o que move as perguntas é a atitude apreciativa. Muitas perguntas de diversos tipos diferentes nos são feitas, mas por quê estas perguntas têm poder especial de transformar? Porque são positivas, porque possuem uma pré-disposição de valorizar as experiências e as capacidades do ser humano. As questões são estritamente necessárias para a aplicação do método, porque nelas está o despertar do cerne da transformação positiva. Não seria possível mobilizar as pessoas com afirmações, mesmo que fossem apreciativas. Pessoas de baixa auto-estima dificilmente acreditam em afirmações positivas sobre si próprias. As perguntas são a chave para tirar das pessoas o que elas têm de melhor, porque em geral, elas não sabem de suas capacidades. O ser humano não conhece seu próprio poder. É somente através de questionamentos positivos que isso é possível. As perguntas movem o aprendizado, fazem com que o intelecto seja exercitado. Esse movimento interno de busca só pode ser provocado através de perguntas preenchidas de poder que obriguem as pessoas a responderem de forma apreciativa, de um modo que elas percebam o que lhes dá vida. Mas qual dos dois gera a transformação de fato? Se o despertar do cerne está nas perguntas, na exploração, o cerne em si está na apreciação, na valorização. Ele surge nas perguntas, mas isso só é possível porque antes mesmo da ação de perguntar, há um pensamento positivo e um sentimento de levar benefício, valorizando as experiências e as capacidades das pessoas. Isso cria uma intenção apreciativa que é transposta para as perguntas. A descoberta apreciativa que acontece com as perguntas é o que proporciona o alcance do cerne, da essência positiva. Então a mudança organizacional ocorre na extensão em que se foca no positivo, na extensão em que as perguntas são positivas. Ou seja, ambos se complementam, mas o espírito é a apreciação. O que dá vida e poder às perguntas é a atitude apreciativa e esse é o essencial do Appreciative Inquiry. Vejamos o poder da palavra: ATITUDE – norma de proceder; reação ou tendência determinada de comportamento em relação a qualquer estímulo ou situação; maneira de significar um propósito. O nosso propósito é nos adequarmos e estarmos prontos para a mudança. E é a apreciação que nos proporciona a estar aptos para a mudança. As perguntas são a forma de criar essa atitude apreciativa, que é o que fica depois que o método é aplicado. O que possibilita as pessoas, e conseqüentemente, a empresa a estarem preparados para a mudança é o foco no positivo, na solução e não nos problemas. 19 A apreciação é o espírito que move a inquirição! Diferenças entre o método de “solução de problemas” e a inquirição apreciativa RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS E O APPRECIATIVE INQUIRY Resolução de Problemas Identificação do Problema Análise das Causas Planejamento das Ações Premissa básica: A Organização é um problema a ser resolvido Appreciative Inquiry Apreciação e Valorização do melhor, do que dá vida: “O que é”. Visão de “O que pode ser” Diálogo sobre “O que deveria ser” Premissa básica: A organização é um mistério a ser abraçado. 20 3 – CASES DE SUCESSO Conhecemos as conseqüências do foco no problema: lamentação sobre o passado, falta de imagens positivas para o futuro, enfraquecimento dos relacionamentos... As palavras são batalha, risco, reavaliação de performance, crítico... Qualquer sistema organizacional que dê certo, é porque certamente tem o homem no seu coração. No atual processo de mudança em meio a um cenário de crise que não afeta apenas o Brasil, somente as empresas que se focarem no ser humano como seu elemento primordial, não como um mero recurso nivelado a qualquer outro (como sugere o termo “Recursos Humanos”), conseguirão estar no olho do furacão. O modelo de empresa focada meramente no mercado e nas oportunidades de negócios está mais que ultrapassado. Certa vez assistia a um seminário promovido pela Coca-cola na PUC e um dos gerentes do departamento de responsabilidade social, ao ouvir de um aluno o termo “marketing social”, interviu dizendo: “Esse termo não é bom. A empresa tem que fazer o bem”. Um tempo depois, também na PUC, ouvi da gerente de responsabilidade social da Shell, ao final de uma excelente palestra, responder uma pergunta de um aluno, dizendo: “O objetivo final é o lucro”. A teoria mais básica do marketing nos diz que para se atender uma demanda, é preciso servir a sociedade. No entanto a feroz competição do mercado fez com que se tentasse o lucro por outros meios, outras vias que não o benefício à sociedade. Trabalhei durante um tempo na área de marketing em uma empresa onde as pessoas tinham realmente um grande amor por ela, gostavam de fazer aquilo e faziam muito bem. Hoje ela é considerada uma das cinco melhores empresas do Brasil em sua categoria e os ex-membros, que àquela época iniciavam carreira, estão espalhados por empresas como Accenture, Shell e Young & Rubicam. Durante o tempo em que estive lá, ainda imaturo e sem experiência, quase arrumava brigas com os colegas porque não olhavam para o lado humano da empresa. O RH preocupava-se quase que exclusivamente com processos de seleção para a empresa e clientes. Um tempo depois de sair de lá, fiz um evento e tentei a parceria deles. Desisti no momento em que o presidente me disse: “É, vamos ver a visibilidade de marca que nós vamos ter”. Felizmente ainda não tinha conseguido as grandes parcerias do Viva Rio e do AfroReggae que dariam a tal visibilidade de marca que ele queria. Mas o fato é que eu estava fazendo um evento que tinha como foco o jovem como agente de transformação do mundo, e logicamente que jovens fazendo marketing social para suas empresas não se encaixavam no espírito do encontro. A mudança que se processa hoje em todos os campos da atuação humana não permitirá que empresas com esse perfil de lucro pelo lucro sobrevivam. Que será que vale mais a pena? Trabalhar em uma empresa líder de mercado com altos níveis de stress e dificuldades de relacionamentos ou trabalhar em uma empresa considerada pelo mercado como sendo menos significativa, mas onde exista uma cultura apreciativa e relacionamentos positivos, onde o funcionário sinta-se valorizado e possua níveis de stress mais baixos que gerem uma maior qualidade de vida? Acho interessante 21 quando alguém vem e enche a boca para dizer: “Eu trabalho em tal empresa”. No entanto, quando você pergunta algo simples do tipo de “Como você vai?”, então a pessoa sempre responde: “Ah, muito cansado, muito sem tempo”! Esse conceito moderno de que temos milhares de coisas para fazer e que por isso os executivos são muito ocupados e não têm tempo é uma grande ilusão: de horas e mais horas de trabalho, o que será que se produziu de fato? Trabalha-se muito e produz-se pouco. Dee Hock, fundador da Visa International, diz que os empresários gastam mais da metade de seus tempos com suas próprias burocracias internas. Isso acontece porque as pessoas não conhecem a si próprias, não têm noção de suas qualidades pois se preocupam exclusivamente com adquirir conhecimento, informação e know-how, e quando alguém lhe pergunta, por exemplo “Você não pensa em participar de um programa sobre qualidade de vida?”, a pessoa responde “Eu preciso muito, mas não tenho tempo”. Porque além de seu trabalho, que já é cansativo e estressante, se envolve em uma série de cursos para adquirir mais conhecimento pois pensam que aquilo é essencial para manter-se competitivo no mercado. Agora pergunte a uma pessoa assim: - Qual é a sua maior qualidade? - Ah, nunca pensei nisso? - Por falta de tempo? - Não. Porque... sei lá. É claro que assimilar conhecimento sobre as coisas que vêm de fora é importante, mas conhecer a si próprio é que é essencial. Conhecendo a si próprio é possível assimilar as coisas de fora com mais clareza e discernimento. Retomando o exemplo dos grandes mestres de artes marciais, a técnica e a força que assimilavam era fruto de um grande trabalho de auto-conhecimento. Quando vi frases de Bruce Lee em uma revista de kung fu, fiquei impressionado com sua sabedoria. Sua força vinha de dentro. Se uma empresa não obtém resultados ou mesmo os obtém, mas reclama de stress e cansaço mental, é porque está se focando em processos, técnica e sistemas, e não no ser humano. Stress é fruto de a pessoa estar centrada no que está fora ao invés de estar centrada em si mesma. Cansaço mental é fruto de pensamentos inúteis, não de esforço físico. O esforço mental é mais efetivo quando a pessoa é centrada em si, e não fora. O Appreciative Inquiry já fez várias organizações de grande relevância em diversos lugares do mundo mudarem seu foco e realmente transformarem-se através do despertar do cerne positivo, da essência positiva de seus membros e, conseqüentemente de toda empresa. A tomada de consciência do que é realmente vital para a vida organizacional é algo central nesse processo e é despertado através das perguntas apreciativas. Além do método velho e ultrapassado da “resolução de problemas” que se foca nos problemas (ao invés de se focar na solução), outro aspecto que torna fracassada a maioria das tentativas de se transformar o ambiente organizacional para aumentar a produtividade é o fato de se procurar adequar “pacotes prontos” sem considerar as características das pessoas que compõem a organização. A inquirição apreciativa é uma solução endógena, pois é a mudança positiva dos próprios funcionários que gera uma mudança positiva na atuação geral da empresa. Eles próprios, através do despertar de seus potenciais e especialidades, é que sustentarão os 22 pilares da empresa, pois isso proporciona a cada um maior capacidade de liderança e auto gestão, o que proporciona maior qualidade de vida aos ambientes de trabalho e, naturalmente, maior produtividade. Perfis diversos Resultados semelhantes É interessante observarmos a diversidade existente entre as organizações que obtiveram sucesso com a aplicação do Appreciative Inquiry. Vai desde grandes empresas norte-americanas até ONGs internacionais que trabalham com a religião e a espiritualidade. Vejo dois fatores em particular que explicam esse fato. Recorrendo ao Princípio Poético, lembramos que qualquer tópico do conhecimento ou da experiência humana pode ser foco de um trabalho de inquirição apreciativa, pois é possível tornar qualquer tópico afirmativo, focando-se em seus aspectos positivos. O outro aspecto é o fato de o método possuir uma forte veia espiritual. Ao definir o método, Dr. David fala em atingir as capacidades massivas dos potenciais passados e presentes, através de insights mais profundos sobre o espírito incorporado ou alma. Esse é um tópico que vem sendo muito valorizado pelas empresas nos últimos anos, que vêm assimilando termos como “inteligência espiritual” e criando salas de meditação para seus funcionários. Ao mesmo tempo a possibilidade de tornar o foco de qualquer coisa positivo é extremamente atraente para qualquer tipo de pessoa que busque qualidade de vida em todos os seus níveis. Nos EUA, empresas como Shell, British Airways, PriceWaterhouseCoopers, BP América, GTE, Omni Hotels, Myrada, Syntegra, DTE Energy Services, Star Island Corporation, Hunter Douglas Window Fashions Division, McDonald’s e até a NASA são exemplos de sucesso do Appreciative Inquiry. Aprofundaremos os cases destes dois últimos a seguir. Na América Latina, há experiências bem sucedidas como o recente trabalho para o governo do México, bem como para a Avon do mesmo país. Na Argentina, a Techint e no Brasil, a primeira empresa a utilizar o método foi a Nutrimental, case que aprofundaremos logo a seguir. Além dela, a Votorantim Metais, Alstom Brasil, SHN, Autopeças ROLES, Farma & Cia, Birello Calçados, CIMCORP, Fundação CESP e o Suzano e Bahia Sul Celulose. Além disso, institutos como o Ethos e o Elos utilizam freqüentemente o método para seus eventos focados, respectivamente, em responsabilidade social e liderança com espiritualidade. ONGs norte-americanas como Nature Conservancy, Imagine Chicago, Imagine Dallas, American Hospital Association, Group Health Cooperative e The Mountain Forum também experimentaram excelentes resultados. Organizações internacionais como a Universidade Espiritual Mundial Brahma Kumaris e a United Religions International também utilizam as entrevistas apreciativas. Esta última desde sua criação, em 1998. 23 Nutrimental Eu já conhecia previamente por alto sobre o sucesso do uso do Appreciative Inquiry na Nutrimental. Obtive o contato com o Dr. Rodrigo Loures e ele me passou à pessoa correta para me passar as informações. No primeiro e-mail que recebi dela, a despedida vinha do seguinte modo: Apreciativamente, Bruna Pachelli Gestão de Pessoas Nutrimental sa De cara, dois aspectos me chamando a atenção: “Apreciativamente” no lugar de “Atenciosamente” ou “Cordialmente” e “Gestão de Pessoas” no lugar de “Recursos Humanos”. Sobre o primeiro, pensei: Será que o método apreciativo foi tão bom assim para a empresa? Sobre o segundo pensei: Até que enfim um nome adequado! O que vim a saber depois é que o nome deve-se à junção da parte de departamento pessoal com a de desenvolvimento de pessoas. Um marco na história da empresa O primeiro contato da Nutrimental com o Appreciative Inquiry foi através de seu diretor, Dr. Rodrigo Loures, que participou de um seminário sobre a metodologia, em maio de 1997, no Taos Institute. Ele não sabia do que se tratava. Pensava que tinha alguma relação com o Taoísmo. Quando soube o que era o método, achou que era exatamente o que sua empresa precisava. A empresa trabalhava com merenda escolar e ia muito bem, até que o governo mudou a forma de compra de merenda, fazendo com que seus clientes quebrassem. Sendo assim, em junho do mesmo ano, a empresa organizou um projeto piloto, com 70 pessoas da Nutrimental e empresas coligadas para conhecer a metodologia. Em setembro, foi realizada uma Conferência de “Appreciative Inquiry e Future Search” (Investigação Apreciativa e Busca do Futuro), com o tema “Vamos Pensar Positivo”, facilitada pelo Dr. David Cooperrider. No primeiro dia de conferência, contou com a participação de todos os 700 funcionários da organização para a aplicação da descoberta e do sonho. Nesta fase, as perguntas apreciativas inspiraram todos a pensar sobre o que o mundo está os chamando para tornarem-se e como seria a Nutrimental ideal em 2005, com todas as potencialidades descobertas na primeira fase potencializadas. No segundo dia, o design e o destino tiveram a presença de um grande grupo de planejamento (aproximadamente 200 pessoas). Além de elaborar uma visão de futuro, projetos de ação foram assumidos por grupos voluntários. Desses trabalhos resultou o “Plano Estratégico 2001” em que a empresa criava uma nova missão, valores e visão de futuro. 24 A atual coordenadora da Gestão de Pessoas, Bruna Pachelli, entrou na Nutrimental em setembro e relata o ambiente da empresa àquela época: “Quando participei da integração dos novos estagiários, todos comentavam que a empresa estava em um processo de mudança e, com orgulho, atribuíam aquilo ao evento de setembro. Diziam que muitos haviam se emocionado. Eles falavam que ‘o apreciative é muito importante’ ”. Todos estavam muito empolgados e contentes. Todos só comentavam aquilo e a motivação era muito grande”. Foi um momento muito especial e um ponto de virada na história da Nutrimental. A partir daquele momento, o diálogo interno da empresa mudou, tornando-se mais positivo, com impactos em todos os setores, dos resultados financeiros à vida pessoal dos funcionários. Em 1998, outra conferência foi realizada, desta vez com o tema “Do Sonho e Valores para os Princípios da Ação Organizacional”, também envolvendo todos os funcionários. Nesse evento foram avaliados e reafirmados os valores definidos anteriormente, partindo-se para definir o que os funcionários consideravam fundamental para realizar a missão da empresa e viver de fato os valores escolhidos. Com as idéias levantadas, uma comissão voluntária redigiu onze princípios de ação, que foram depois referendados pelos colaboradores. Em 1999, o tema da Conferência foi “Reconceitualização” e tratou de aspectos estratégicos para o futuro da empresa, culminando com a definição de cinco áreas prioritárias para o desenvolvimento de conhecimentos e habilidades, que foram assumidas por cinco grupos de trabalhos, com a missão de desenvolver e disseminar as competências necessárias para o sucesso. Durante 2000 e 2001, a estrutura da empresa começou a ser reformulada e os processos apreciativos diários foram consolidados. Em 2001, um novo sistema de governo começou a ser aplicado, baseado em uma atuação democrática (diferente de democracia participativa), com os princípios de um fluxo auto-organizado que acontece naturalmente no universo de possibilidades, novas formas para a distribuição do poder e autoridades orgânicas na natureza. Os principais benefícios experimentados foram a reorganização acelerada, abrangente e de grande comprometimento. Propósito 1997 Sistema de Governo 2001 1997 Princípios 1998/99 2001 Estrutura 2000/01 Pessoas 1998/99 Conceitos 1999 25 Impactos no cotidiano A primeira empresa brasileira a adotar o Appreciative Inquiry passara a adotá-lo em todos os setores da organização, sendo desenvolvido e acompanhado por um grupo formado por colaboradores de todos os níveis operacionais da Nutrimental. O método tornou-se a linha-mestra de todos os processos, que passaram a ser alinhados a partir dele. O relacionamento com os clientes foi aprimorado através de vários eventos apreciativos com grandes grupos. A área de marketing realiza periodicamente eventos apreciativos, trazendo grupos de clientes à empresa para ouvir o que eles mais valorizam nos produtos da Nutrimental e como eles vêem o futuro. O ex-Recursos Humanos, além de ganhar um nome adequado, promove eventos para toda empresa ao menos uma vez por ano. Em processos seletivos, além de procurar fazer com que ninguém se passe por ridículo, as entrevistas são em estilo apreciativo, para ver se a pessoa possui os mesmos valores da empresa, pois não adianta ser um bom técnico se não tem valores. Os entrevistadores falam sobre sucesso e é comum que os candidatos se assustem. O processo de integração também foi totalmente revisto. Ao invés dos tradicionais “Não podem..., não devem...”, o programa foi reformulado focando o positivo: como a empresa deseja que o bom colaborador se comporte. As avaliações dos participantes e dos instrutores costumam superar 80% de excelente e muito bom. Responsabilidade Social A Responsabilidade Social da Nutrimental ocorre em função do trabalho de responsabilidade comportamental que a empresa produz internamente. De fato, uma empresa que faz um grande trabalho de responsabilidade social (algumas chegam a criar fundações que se tornam referências no 3º setor) e não cuida internamente da qualidade de vida e dos relacionamentos de seus funcionários, cria um ambiente de aprendizado contínuo mas focado apenas em know-how e não estimula todos se desenvolverem como pessoas faz um trabalho meramente pró-forma. A Nutrimental realmente põe em prática seus princípios e valores como horizontalidade, inovação e integridade. Horizontalidade é mais efetiva quando há uma hierarquia mais horizontal ou mesmo quando os líderes de uma hierarquia mais vertical são extremamente conscientes de seu papel de liderança, estimulando seus subordinados através de fazê-los sentirem-se valiosos. Inovação é naturalmente obtido em um ambiente apreciativo, pois estimula a criatividade de todos. Quanto à integridade, perguntei à Bruna o que ela acha ser mais importante e em que extensão: técnica ou valores. Ela me respondeu: “A parte mais importante são os valores. A parte técnica nós ensinamos, mas integridade nós não podemos ensinar. Entre uma pessoa tecnicamente boa e outra com o perfil da empresa, que tem uma predisposição a pensar positivamente, certamente escolhemos essa última. A empresa tem muito essa preocupação. O nosso ambiente é de colaboração. Uma pessoa competitiva não se encaixa aqui”. A Gestão de Pessoas (não mais Recursos Humanos) mudou o processo de integração, acabando com o velho método de apresentar a empresa para novos membros 26 com as tradicionais proibições. Isso foi reformulado, sendo desenvolvido um treinamento com os instrutores, incluindo dinâmicas de grupo para que os novos membros se conhecessem e se sentissem mais à vontade. Mesmo quando a pessoa se desliga da empresa, há um processo de entrevista de desligamento apreciativo enfocando os sucessos que ela teve na empresa. Outros trabalhos internos que são desenvolvidos são o jornal “O Apreciativo”, que enfoca sempre tudo de positivo que a empresa e os funcionários produzem. Há um projeto de estudo chamado “Projeto Crescer”, em que colaboradores e voluntários dão aula de 5 a a 8a série, o que mostra a aplicação daquele que talvez seja o valor principal da organização que é o aprendizado contínuo. Este se torna extremamente efetivo, quando trabalha em cima da origem e do sentido verdadeiro da palavra educar, que é tirar de dentro. Ao invés de encher os funcionários de teorias e know-how, a Nutrimental estimula um ambiente apreciativo, que proporciona motivação verdadeira aos funcionários, a partir de dar um sentido real ao trabalho deles. A base disso tudo foi o despertar apreciativo proporcionado pelo Appreciative Inquiry. Em uma apresentação feita ao Instituto Ethos sobre o trabalho de responsabilidade social da empresa, o presidente da Nutrimental, Dr. Rodrigo Loures, colocava uma visão geral sobre o processo de lidar com a totalidade. Por quê lidar com a totalidade? Visão sistêmica; Criatividade – o melhor das pessoas emerge quando o sistema todo está envolvido; Prontidão para a mudança – coisas extraordinárias acontecem e o entusiasmo que anima as pessoas é indescritível; Conexão com espírito, afeto e aprendizagem; Valorização da liberdade, responsabilidade, auto-organização e, em última análise, felicidade das pessoas... O próprio Dr. Rodrigo diz que o Appreciative Inquiry libera a “vida” na organização e a torna forte através da liderança positiva em todas as partes do negócio. Agora, então, entendemos o porquê de a Gestão de Pessoas (não RH) da Nutrimental dar tanta importância aos valores humanos de seus membros. Lições e resultados Vejamos os tópicos destacados pelo presidente da Nutrimental na apresentação feita para a Conferência Nacional do Instituto Ethos de 2001 sobre as lições e os resultados que a empresa obteve nesses anos de prática do Appreciative Inquiry: 27 Lições 1 – O nosso negócio deve ser baseado em inclusão e não em exclusão; 2 – Interesse pelo conhecimento é inato no ser humano... 3 – É preciso: - Rever as atitudes e procedimentos de gestão; - Liberdade para favorecer uma nova ordem baseada no compartilhamento de poder; - Ter a coragem de nos reinventarmos sempre; - Estar preparado para lidar com a ansiedade natural das pessoas; - Paciência e compreensão para deixar as resistências se esvaziarem sem recorrer ao uso do poder; - Ter fé e bons argumentos para sustentá-la... Resultados - Organização baseada em valores; - Nova e mais clara visão das possibilidades e caminhos disponíveis para a empresa; - “Energização” dos indivíduos e “sentimento de propriedade”; - Espírito de colaboração; - Melhoria contínua de produtividade e lucratividade; - Institucionalização da aprendizagem organizacional... - Prontidão para a mudança; - Alinhamento de todas as atividades – PADAs e Self Management Leadership; - As pessoas aplicando os conceitos aprendizados nos planos pessoal, familiar e comunitário; - Clientes e fornecedores engajando-se no processo... 28 McDonald’s (EUA) Para estar pronto para os desafios do século XXI, o McDonald’s começou a trabalhar em cima do slogan “People First”, cujo foco é atrair, educar e manter os melhores empregados, tornando-se um modelo para as práticas e oportunidades progressivas de empregabilidade e um membro admirado da comunidade global e de cada comunidade local onde atua. Sua meta é “Ser o melhor empregador em cada comunidade, ao redor do mundo”. Desse modo, o tópico da exploração apreciativa feita na empresa foi “Tornando-se o melhor em cada comunidade ao redor do mundo”. Em 1999, Jack Greenberg, CEO, chamou os profissionais de RH para substituir o tradicional “salário, compensação e benefícios” por uma estratégica parceria de negócios. Seu objetivo era construir o capital intelectual e social da organização e de suas pessoas, para preparar o McDonald’s para o futuro, entrando em parcerias catalíticas com proprietários / operadores de restaurantes ao redor do mundo para melhorar sua imagem e expandir o serviço de excelência. Esta substituição foi a maior e mais crucial mudança de cultura para a organização. Um evento apreciativo foi feito com o nome de “Tornando-se o melhor parceiro de negócios para o novo milênio”. A inquirição começou com os gerentes do RH do Grupo do McDonald’s do Meio Oeste entrevistando os mais importantes stakeholders (gerentes de restaurantes, gerentes operacionais, gerentes regionais, proprietários / operadores, gerentes de ponto de venda), com essas três perguntas centrais: 1. 2. 3. O que nos faz mais cheios de sucesso quando nós estamos em nosso melhor como parceiro estratégico de negócios (princípios para preservar)? Imagine o McDonald’s daqui há 3 anos como o melhor empregador em cada comunidade ao redor do mundo no setor de fast food. Como seria? O que nós estamos fazendo a mais e a menos de completamente novo (imagem para o futuro)? Se você pudesse desenvolver ou transformar a função do RH de qualquer modo para avançar completamente a agenda do “People First”, quais três desejos, em ordem de prioridade, você faria para contribuir para essa excelência (crescimento de oportunidades)? Na segunda fase, os gerentes de todas as divisões dos Recursos Humanos, supervisores, recrutadores, assistentes, coordenadores, além de alguns stakeholders foram reunidos no Encontro anual de negócios dos Recursos Humanos da divisão Meio Oeste. O 29 propósito era identificar “princípios para preservar”, explorando exemplos de performances de pico no passado. Princípios para preservar são valores, práticas, estratégias, estruturas e meios de fazer coisas com que o time tenha um valor tão forte que aquilo precise ser sustentado e nutrido, independente das mudanças que possam acontecer na organização para o futuro. Os princípios identificados pelo grupo incluíam: - integridade - confiança - valorizar a diversidade - confidencialidade - colaboração - experteza Na terceira fase, trabalharam juntos para desenvolver um guia positivo de seu futuro, identificando os desejos e expectativas mais importantes que eles tinham para o futuro, através da criação de um “mapa de oportunidades” das iniciativas estratégicas chave que eles queriam coletivamente perseguir nos três a cinco próximos anos. Ao final, os participantes criaram uma série de “design initiatives” com a intenção de traduzir aquelas oportunidades em ação. Eles formaram times ao redor de diferentes iniciativas e criaram planos para implementação, e então compartilharam-nos para um grupo maior a fim de obter patrocínios e compromissos para recursos. As iniciativas específicas incluíam: - Construindo as habilidades e conhecimento de negócios do time do RH - Treinamento em desenvolvimento organizacional para o time do RH - Reestruturando o Departamento de RH em um Departamento de Desenvolvimento - Iniciando um Appreciative Inquiry Global com o quadro de pessoal e recrutamento - Influenciando a organização para ganhar market share - Identificando e desenvolvendo estratégias para gerar o maior retorno por investimento O processo de Appreciative Inquiry continua no McDonald’s. Além das iniciativas acima, o departamento de Recursos Humanos do Meio Oeste responsabilizou-se pr organizar um simpósio global sobre tornar-se o melhor empregador em cada comunidade ao redor do mundo em fast food. O método foi usado para coletar e compartilhar as melhores práticas e para emergir inovações em recrutamento e manutenção de funcionários ao redor do mundo. No Brasil, por exemplo, o McDonald’s é uma das empresas que mais emprega. É incrível ver, por exemplo, que possui mais funcionários que os correios, mesmo não estando em todas as capitais do país. 30 Para a equipe do RH do Meio Oeste, o Appreciative Inquiry teve um impacto especial por dois motivos. Primeiro, porque elevou a energia positiva para mudança quando o time descobriu novamente as aspirações comuns de cada colega e de cada stakeholder. Segundo, porque inovação, na medida em que todos os stakeholders-chave visualizaram, planejaram e implementaram a mudança de uma forma apreciativa “em um único quarto”. Na maioria das organizações, a distribuição da informação é largamente feita para as pessoas mais importantes, enquanto que aqueles mais próximos ao cliente (que serão a amostra da empresa) geralmente têm as informações mais críticas. Um impacto muito positivo relaciona-se à mudança dessa consciência dentro do Departamento de Recursos Humanos do McDonald’s do Meio Oeste dos EUA. 31 NASA Em 1996, a NASA criou suas “Estratégias para o Século XXI”, que seria levado para os centros individuais e então para os vários escritórios a fim de criar planos estratégicos que se alinhassem com a visão de toda organização. O Escritório de Recursos Humanos (OHR) possuía 75 pessoas que sustentavam os mais de 2000 membros do Goddard Space Flight Center of NASA. Em abril de 1998, o trabalho com o Appreciative Inquiry começou como uma orientação primordial em guiar um plano estratégico de processos para o OHR. Além disso, o OHR havia sofrido há pouco uma significante diminuição de seu número de funcionários, o que tornou a rotina de muitos membros extremamente repleta, fazendo com que o humor de grande parte deles estivesse sitiado e cético. Uma recente mudança na liderança e, principalmente no estilo dela, havia sido experimentada causando um impacto negativo à instituição. As metas do trabalho com o Appreciative Inquiry eram criar um plano estratégico que fosse alinhado com a visão e valores da NASA como um todo, além de trabalhar para construir uma cultura organizacional mais inclusiva e participativa. Consta que nunca havia acontecido um evento que incluísse todo quadro de pessoal. O foco da inquirição apreciativa foi “Planejamento estratégico, mudança cultural”. Ao longo de um período de nove meses foi feito o trabalho com o ciclo dos 4 Ds, começando com entrevistas em pares em um retiro de dois dias com o time gerencial, composto por quatorze membros. Então um encontro com todo OHR foi feito em um evento de um dia inteiro. O uso de proposições provocativas causou um impacto estratégico que conduziu as metas no plano estratégico. Times de ação foram organizados para trabalhar através de como aquelas proposições poderiam ser implementadas. Os planos foram compartilhados em um segundo dia de evento e seu sustento, em um encontro três meses depois, onde os times foram altamente energéticos e criativos. A fase final do projeto envolveu grupos de ação integrando com o feedback desse encontro e trabalhando para criar um novo plano de operações que foi compartilhado e editado com toda equipe gerencial. O plano escrito foi compartilhado no encontro final três meses depois com todo OHR e muito bem sustentado. A partir de então, a organização começou a trabalhar com o projeto “Race for Change” que foi autogerenciado, sem a presença de consultores, durante um período maior que um ano. Dentre os benefícios descritos pelos membros do OHR, um senso mais forte de unidade e maior familiaridade e confiança. Eles demonstraram uma nova capacidade de entendimento mútuo e criatividade, aumentando a confiança e confidência com a nova liderança organizacional. Como comunidade, eles eram capazes de trabalhar através de suas reais prioridades. 32 A cultura organizacional experimentou grandes transformações, tornando-se mais aberta, honesta, inclusiva, além de um maior ambiente de aprendizado. O OHR também desenvolveu mais o foco no cliente, respondendo ao feedback da comunidade gerencial com dois compromissos: todas as ligações telefônicas seriam retornadas em até um dia e todos os compromissos criados pelo OHR seriam conhecidos por toda organização. Três áreas de prioridade emergiram: os processos internos, planejamento da força de trabalho e identificação das necessidades de treinamento. Finalmente a equipe de liderança foi reestruturada, passando a ter a metade de membros, sete, adotando um foco maior na continuação do processo de mudança com uma maior cooperação nas tomadas de decisões. Eles também articularam um convite aberto para maior iniciativa e empreendedorismo na NASA. 33 4 – MINHA EXPERIÊNCIA COM O APPRECIATIVE INQUIRY - Qual a sua visão de um mundo melhor? Quais as virtudes que embasam este mundo melhor? Crie uma ação prática para este mundo. Estas foram as três perguntas que serviram de base para o projeto mundial Global Cooperation for a Better World, conduzido pela Universidade Espiritual Mundial Brahma Kumaris em 1986. Ao ter contato com um material desse trabalho, Dr. David Cooperrider, viu a semelhança com o método criado por ele e procurou a Brahma Kumaris em Londres para oferecer uma parceria. Foi por causa disso que tive contato com o Appreciative Inquiry. Para uma organização que trabalha basicamente com os valores humanos intrínsecos de cada um, o método tinha diversos pontos em comum com o nosso trabalho. O foco no positivo, a capacidade de apreciar e mesmo a habilidade de fazer perguntas para extrair o melhor do ser humano sempre foram coisas recorrentes na Brahma Kumaris. Sendo assim o primeiro contato que tive com o método foi através do projeto Imagens e Vozes de Esperança, focado nos valores para a mídia, e que envolve até hoje alguns dos comunicadores mais importantes do Brasil engajados em transformar a mídia em um agente de benefício para o mundo. Depois o grupo de jovens de São Paulo começou a usá-lo também, o que me inspirou a começar a estudá-lo, pois era a época em que eu estava começando a assumir os projetos de jovens no Rio. Antes mesmo de conhecer profundamente os 4 Ds, comecei a utilizar as entrevistas apreciativas no primeiro workshop que criei para jovens, trabalhando a espiritualidade na saga de Guerra nas Estrelas. Desde a primeira vez em que o conduzi, na Assembléia Global da United Religions Internacional, pude experimentar o poder da inquirição e da apreciação nos olhos dos jovens. Além de contarem uma história de transformação em suas vidas, eles falavam sobre as principais virtudes do outro. Um dos participantes contou sua experiência largando as drogas. Aquela experiência foi tão positiva, que então pensei que se era possível obter um resultado como aquele na aplicação de um trecho da descoberta em menos de uma hora, imagine o método inteiro ao longo de dois dias inteiros. Em outra ocasião, tinha meia hora para fazer uma inquirição apreciativa em uma instituição religiosa. Ainda foi possível fazer uma mini-descoberta e um relaxamento conduzindo visões para o futuro da instituição. Ali vi o poder incrível da descoberta, fase que é geralmente usada quando se aplica parte do método. Outro exemplo interessante foi em um colégio do interior do Rio com o mesmo workshop do Guerra nas Estrelas para adolescentes de 15 e 16 anos, que não paravam um só segundo. A possibilidade de extrair as verdades internas de pessoas mais novas é muito interessante. Como diz o Dr. David, a criança é o melhor agente de inquirição que pode existir. 34 Continuo usando o método em vários workshops e sempre que crio um novo, a possibilidade de usá-lo é sempre uma garantia de resultados. É interessante que pelo fato de os jovens terem menos abertura a diálogos, isso gera um forte envolvimento à medida que quebra o gelo e não os coloca em situação de ridículo, como em muitas dinâmicas de grupo (assim como faz o RH). Quando foi a vez de conduzir um evento maior junto de outras três jovens mais experientes que eu àquela época, tínhamos apenas três horas. Jovens lideranças de 35 organizações diferentes haviam se reunido ali para os 4 Ds, o que não foi possível pelo tempo. As ações práticas do Jovens pela Paz ficariam para reuniões de trabalho meses depois. De qualquer forma, a descoberta de suas virtudes e o sonho do mundo ideal os encheu de esperança, entusiasmo e felicidade. A conexão entre pessoas tão diferentes, desde jovens das comunidades de baixa renda do Rio até senhoras mais velhas oriundas da classe média, foi tão poderosa que a única linguagem que eles falavam era a linguagem da transformação positiva do mundo. As pessoas com quem converso até hoje se mostram muito tocadas, cobrando mais e mais desdobramentos, mesmo quem eu havia tido a impressão de não ter ficado satisfeito: “Eu?! Que isso? Foi só impressão sua”! A continuação de um evento é um aspecto que merece certa reflexão, pois o alcance de metas em qualquer organização depende do sustento das idéias oriundas dos primeiros eventos, mesmo que o facilitador não tenha controle sobre o processo desde que sai de cena. Os 4 Ds giram em vários ciclos em várias fases do processo de mudança da empresa. Trocando experiências com outros facilitadores do Appreciative Inquiry, vemos o quanto a abordagem em cima do positivo abre maiores possibilidades e permite a exploração de terrenos que não se pensariam em alcançar se simplesmente pensássemos: “Isso é um problema”! Entretanto, por mais que o método em si seja muito simples, aplicálo e conduzir um evento apreciativo não é tanto. Como com tudo na vida, há uma diferença entre a teoria e a prática, entre o conhecimento e a experiência. Nas empresas, o que vemos é que os métodos do RH são tão naturalmente assimilados pelas empresas que parecem que estão corretos, sem problemas, que todo aquele “adestramento” de dar mais e mais informações faz parte do processo necessário. O ser humano é a parte menos importante do processo e poucos percebem isso. É como se as informações vindas de fora é que fossem essenciais, como se a empresa fosse a marca, as informações, os processos e, por último, vêm as pessoas. O market share torna-se mais importante que a qualidade de vida dos funcionários, suas satisfações e insatisfações. O stress tem tornado-se uma “coisa moderna”. O estressado está na moda hoje em dia. “Eu preciso de alguém estressado”, me disse uma vez um gerente de marketing de uma grande empresa que me entrevistava. E o que dizer das dinâmicas de grupo? O que será que eles buscam nelas? Os mais espertos?! E os critérios de avaliação? É como se escolhessem produtos em uma loja... Tanta inversão de valores fará com que empresas consideradas mais fortes fiquem para trás. Quem não der atenção à mudança e não mudar de acordo, talvez nem saiba porquê ficou para trás. A mudança está progredindo lenta e incognitamente, sem avisar que é ela. Mas quando muitos ficarem pelo caminho, não poderão dizer que ela não avisou. 35 Empresas em boa situação são bem menos abertas a novidades. Tão preenchidas com seus próprios sucessos, tão cheias de si próprias que não conseguem enxergar além. Outras só percebem-se da necessidade de se reciclarem quando estão quase quebrando. Mas a mudança nos obriga e inspira a repensarmos nossas práticas, nossas atitudes, processos, seu modo de ver a nós mesmos, a nossa organização e ao mundo. A oportunidade que o Appreciative Inquiry dá de pensar sobre si próprio de um modo positivo é algo tão simples e, ao mesmo tempo, tão forte. Poder verdadeiro é despertado, não aquele poder que os chefes pensam que têm por causa do cargo. Felicidade de pensar que eu tenho qualidades e um potencial fantástico que pode ser usado para meu próprio benefício e do mundo. Amor pelo que fazemos, entusiasmo e motivação para irmos além. Já vi algumas vidas sendo transformadas, pessoas saindo do imobilismo para ações positivas com um despertar de esperança e força. Vi pessoas importantes e influentes engajadas em mudanças que nunca haviam imaginado ser possíveis. Gente tocada e recarregada para mudar de fato seu ambiente interno e seu ambiente de trabalho. Estou certo de que isso tudo não é nada comparado ao que estou por ver e ouvir no futuro. A mudança não dará trégua enquanto não se consolidar. Ela está na nossa frente e quem não aprender a pensar e agir positivamente perderá o trem da história. E acredite: isso será em muito menos tempo do que se pensa! E mesmo que você não concorde com isso, é melhor não arriscar. 36 BIBLIOGRAFIA Comportamento Organizacional: Bacon B. e O’ Donnell K. – No Olho do Furacão. Série Diálogo com Notáveis, Casa da Qualidade. Salvador-BA, 1999. O’ Donnell K. – A Alma no Negócio: manual para uma gestão positiva. 7a edição. Editora Brahma Kumaris. São Paulo-SP, 2002. 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