Utilizando Mapas Dinâmicos Georeferenciados para Suportar
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Utilizando Mapas Dinâmicos Georeferenciados para Suportar
Utilizando Mapas Dinâmicos Georeferenciados para Suportar Monitoramento e Análise de Informações de um Sistema Municipal de Saúde Joaquim Cezar Felipe1, Alexandre Rezende2, Virgilio Cavicchioli Neto2, Beatriz Berardo2, Wagner Lúcio Gueleri3, Domingos Alves 2,4 1 Departamento de Física e Matemática - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (USP), Brasil 2 Laboratório Interdisciplinar de Computação Científica (LICC – COC) - Faculdades COC, Brasil 3 Departamento de Informática - Secretaria Municipal de Saúde de Ribeirão Preto (SMS-RP) Brasil 4 Programa de Mestrado em Saúde Coletiva - Universidade Católica de Santos (UNISANTOS) Brasil Resumo – Este trabalho apresenta o desenvolvimento de um sistema para monitoramento e análise espaçotemporal aplicada a dados de saúde, motivado pela relevância que o elemento espaço adquire, enquanto categoria de análise, em contextos tais como o controle de epidemias. A idéia geral é que os dados sobre os usuários cadastrados em um sistema de saúde possam compor de forma efetiva um sistema de informações, incorporando recursos que permitam ao usuário do sistema explorar com propriedade e flexibilidade o conteúdo da base de dados disponível. Assim, o desenvolvimento do sistema proposto inclui o projeto e a implementação de um banco de dados para fins da assistência integral à saúde, contando com recursos gráficos, incluindo mapas e ortofotos da região determinada, utilizando como estudo de caso a área e as informações de saúde do município de Ribeirão Preto. Palavras-chave: georeferenciamento, sistemas de informações em saúde, bancos de dados geográficos Abstract – This work presents the development of a system for space-time monitoring and analysis of data from health systems, motivated by the need to incorporate the space as a category of analysis. The information about the patients of a health system becomes an effective information system through a set of features that allow the system users to explore the available database in a flexible and efficient way. Therefore, the development of the system presented here includes the design and the implementation of a database to be used in integral health assistance, supported by computer graphics devices, including maps and spatial photos of epidemic areas.This is shown here more specifically with a case study, namely the area of Ribeirão Preto city. Key-words: geographic systems, health information systems, geographic databases Introdução A mudança do paradigma nos sistemas de saúde e na sua prestação de serviços em todo o mundo tem levado a uma crescente demanda por informações que permitam o gerenciamento de recursos públicos, com o objetivo de oferecer melhores serviços a menores custos, atingindo o maior número possível de pessoas. Entretanto, nenhum modelo pode ser implantado e gerenciado sem um suporte adequado de informação que permita avaliar seu desempenho e ajustá-lo de acordo com as avaliações realizadas. Para isso, estamos trabalhando no geoprocessamento dos dados em saúde de Ribeirão Preto. Encontram-se em desenvolvimento aplicativos que acessam os dados do sistema de forma amigável e rica em recursos para a análise do usuário, incluindo entre esses recursos o uso de mapas georeferenciados e ortofotos das diferentes regiões do município. Estas implementações deverão resultar em um sistema que disponibiliza mapas computadorizados dinâmicos onde os dados históricos ou em tempo real poderão ser visualizados, podendo ser utilizados para apresentar a informação no curso do estudo de uma doença, por exemplo, e não somente para registrar os resultados após a conclusão do estudo [1]. Dessa forma, poderemos contribuir para a evolução do sistema de atenção primária à saúde pública, por meio de recursos que proporcionarão melhoria da qualidade da informação nesse setor, como, por exemplo, a modernização dos atendimentos nas UBS, ou então o acompanhamento e controle de epidemias por parte dos órgãos responsáveis [2]. Metodologia Sistemas de Informações Geográficas (Geographic Information Systems - GIS) comportam diferentes tipos de dados e aplicações, em várias áreas do conhecimento. Exemplos são: otimização de tráfego, controle cadastral, gerenciamento de serviços de utilidade pública, demografia, cartografia, administração de recursos naturais, monitoramento ou controle de epidemias e planejamento urbano [3]. A utilização de GIS facilita a integração de dados coletados de fontes heterogêneas [4]. A sua utilização em análise de epidemias é de fundamental importância, pois, como os mapas são georeferenciados, o uso do GIS se torna uma ferramenta valiosa para a realização de avaliações espaços-temporais [5]. O sistema aqui apresentado incorpora recursos da tecnologia GIS para promover a integração da base de dados dos usuários de um arquivo municipal de saúde com a base cartográfica. Tipicamente, trabalhamos com mapas digitais de um município específico, cobrindo 100% da área urbana da cidade em uma escala de aproximadamente 1:2000. Parte-se da divisão da base cartográfica de acordo com algum critério de interesse (por setor censitário ou por cobertura das Unidades Básicas de Saúde, por exemplo) e aplicam-se recursos capazes de identificar distribuições espaço-temporais no mapa e analisálas, fornecendo relatórios estatísticos e gráficos. Em adição, para o desenvolvimento desse trabalho, foi necessário projetar e disponibilizar a infra-estrutura para o armazenamento persistente de todas as informações relacionadas às tarefas especificadas e implementadas. Esse armazenamento foi feito por meio de um sistema de gerenciamento de bases de dados relacional (SGBD), através do qual as informações pertinentes a todos os grupos serão manipuladas e integradas. São utilizados recursos específicos de modelagem, indexação e manipulação de dados que contemplem características de bancos de dados geográficos, a fim de otimizar ao máximo as tarefas de georeferenciamento e análise evolucionária, que são predominantes no projeto. A Figura 1 apresenta o diagrama entidaderelacionamento relativo à base de dados implementada. Figura 1 – Modelagem da base de dados que suporta a infra-estrutura de armazenamento de informações do sistema. Especificamente, é necessário estabelecer um mecanismo de transformação de endereços (da forma como são armazenados nos sistemas de informações legados disponíveis) em coordenadas geográficas, e vice-versa. Na Figura 1, vemos que cada domicílio, cadastrado na tabela Casa possui suas coordenadas geográficas x e y armazenadas respectivamente nos atributos coordx e coordy. Essas coordenadas constituem a chave para o georeferenciamento de cada ocorrência de doenças, ou para a análise estatística de distribuições sócio-econômicas da população. Obviamente, as bases de dados legadas, mantidas pelos órgãos oficiais de saúde do município, não contém essas informações, mas apenas o endereço de cada domicílio cadastrado. Nos sistemas de saúde, o endereço de correspondência é a forma de referência espacial mais encontrada. É também a forma de localização espacial mais utilizada pela população. Isto torna o endereço a chave de acesso mais adequada para armazenar e recuperar informações espaciais em um Sistema de Informações Geográficas urbano [6]. Dessa forma, a geração das coordenadas geográficas de todos os domicílios cadastrados consiste em tarefa crucial para o funcionamento do projeto. O método desenvolvido constituiu-se nas seguintes etapas: • Divisão de cada logradouro (rua, avenida, etc) em segmentos de retas e obtenção das coordenadas dos pontos extremos de cada segmento; • Armazenamento dessas coordenadas em uma tabela específica (Segmento) do banco de dados; • Cálculo do comprimento de cada segmento e do comprimento total do logradouro; • Distribuição uniforme de todos os domicílios localizados em um logradouro, ao longo dos seus segmentos, de acordo com a seqüência numérica dos números das casas; • Cálculo das coordenadas de cada domicílio, a partir das coordenadas dos pontos extremos do segmento onde ele se localiza e da sua posição na seqüência numérica de números das casas. A aquisição dos segmentos e das coordenadas dos pontos extremos foi realizada manualmente, com auxílio de um programa de computação gráfica, sobre mapas detalhados de cada bairro da cidade. Para exemplificar o processo, tomemos a rua Álvaro de Lima, destacada na Figura 2. Por se tratar de uma rua não retilínea, são marcados 4 pontos (mostrados com um X) que dividem a rua em 3 segm entos. As coordenadas de cada ponto são então obtidas diretamente do sistema que manipula o mapa. Cada segmento, juntamente com seus respectivos pontos são armazenados na tabela Segmento. X X X X Figura 2 - Aquisição dos segmentos de uma rua. A seguir, com a distância entre os pontos, é calculado o comprimento de cada segmento. Os domicílios vão sendo distribuídos ao longo dos segmentos e as suas coordenadas são calculadas e armazenadas na tabela Casa. Esse procedimento gera o mapeamento entre o endereç o de cada domicílio, contido nas tabelas legadas, e as coordenadas desses domicílios, para a tabela Casa. Posteriormente, a partir dessas coordenadas, cada domicílio da área urbana do município poderá ser plotado em mapas que obedecem ao mesmo sistema de coordenadas do mapa de origem das coordenadas dos segmentos dos logradouros. O cálculo e o armazenamento dos dados intermediários e finais foram realizados por meio de Stored Procedures do SGBD. Resultados A seguir mostramos alguns avanços na construção do sistema discutido anteriormente. Particularmente, apresentamos aqui o EpiCASimGIS (ainda uma versão preliminar para demonstração) desenvolvido para monitoramento de epidemias em uma dada região, servindo como um sistema de vigilância epidemiológica. Mais especificamente, o exemplo mostrado na seqüência fornece um mapa digital dinâmico para a atualização visual e análise, dos dados existentes da distribuição geográfica (com georeferenciamento de pacientes por endereço) e evolução temporal (com data dos primeiros sintomas) dos casos (autóctones) de dengue nos últimos anos (de 1998 a 2003) na cidade de Ribeirão Preto. O EpiCASim-GIS é bastante robusto no que se refere a inserção de novos casos, permitindo ao agente de saúde trabalhar com bastante flexibilidade. Na Figura 3 é mostrado o procedimento padrão de inserção a partir da Ficha Individual de Investigação. Com os casos cadastrados, é possível a construção de um mapa temático da atualização do controle do vetor (Aedes Egypts) por domicílio ou região. Figura 3 - Modo de inserção de um caso de Dengue a partir dos dados coletados da Ficha Individual de Investigação. A partir desse sistema, ainda é possível monitorar uma distribuição espacial (clusters) da incidência da dengue, conciliando a ocorrência temporal de casos com a quantificação da propagação da doença (Figura 4). É possível observar na figura o aparecimento de clusters. Figura 4 - Evolução temporal da Dengue em dois momentos do desenvolvimento dessa epidemia. Na Figura 5 é mostrada, uma outra possibilidade de saída do EpiCASim-GIS, onde, a partir da localização dos eventos, são registradas as quantidades de ocorrências por área (quadrat analysis) [7], o que permite avaliar se a distribuição espacial é aleatória ou não. Os resultados são representados em gráficos para o usuário final, com dados reais dessa epidemia, de localização e aglomeração. Figura 5 – Exemplo de análise de clustering espaço-temporal do EpiCASim-GIS. Discussão e Conclusões Agradecimentos No exemplo particular da disseminação da epidemia da dengue na cidade de Ribeirão Preto, mostrado na seção precedente, podemos verificar que, com a definição das unidades espaciais em conjunto com as ocorrências temporais, o sistema fornece um suporte valioso para a análise e o entendimento da proliferação dessa epidemia. A percepção desse cenário facilita a identificação de áreas com risco elevado de ocorrência ou avaliação de riscos em torno de uma fonte de contaminação visando o estabelecimento de medidas de controle, podendo orientar o desenvolvimento de novas ações da Secretaria da Saúde do município. De uma maneira mais geral esse sistema, esta sendo projetado para receber as informações da realização de um censo para o cartão-saúde da cidade de Ribeirão Preto, onde a coleta de dados esta sendo feita em fichas eletrônicas in loco, identificando as características dos domicílios e seus moradores, de acordo com as normas do Ministério da Saúde e com as particularidades do município de Ribeirão Preto. Finalmente, vale a pena destacar, que o sistema, de forma global, está sendo projetado para receber as informações e mapas de qualquer município específico. Este trabalho tem o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, FAPESP (processo número: 2002/03564-8). Também é subvencionado através do convênio entre a Secretaria Municipal de Saúde de Ribeirão Preto, SMS-RP e o Laboratório Interdisciplinar de Computação Científica, LICC – COC (Lei número 10025, publicada em 1/4/2004, no Diário Oficial do Município de Ribeirão Preto). Referências [1] Alves, D., Neto, V. C., Rezende, A., Berardo, B., Gueleri, W. L. (2004), “Visualização e Análise Exploratória dos Agregados Espaçotemporais das Epidemias de Dengue em Mapas Digitais Dinâmicos”, Anais do VI Congresso Brasileiro de Epidemiologia. Recife - Brasil, 1923 Junho. [2] Datasus (2004), "Conjunto Essencial de Informações do Prontuário do Paciente para Integração da Informação em Saúde". Documento PRC: 1999-11-12; v1.0. http://www.datasus.gov.br/prc/prcdown.htm (acessado em 09/2004). [3] Câmara, G., Monteiro, A. M., Paiva, J., Gomes, J. and Velho, L. (2000), "Towards a Unified Framework for Spatial Data Models", Journal of the Brazilian Computing Society, Brasil. [4] Câmara, G. (1996), "Anatomia de Sistemas de Informação Geográfica", X Escola de Computação, Instituto de Computação, UNICAMP, Campinas – Brasil. [5] Carvalho, M. S. (2003), "Proposta de implantação de um Sistema de informações Geográficas para apoio ao Programa de Agentes Comunitários de Saúde", Programa de Saúde da Família. http://www.cpqam.fiocruz.br/nicc/ofrecife.htm (acessado em 08/2003). [6] Davis, C. (2004), "Banco de Dados para Aplicações Urbanas", http://www.dpi.inpe.br/gilberto/livro/bdados/cap7 -aplicurbanas.pdf (acessado em 09/2004). [7] Werneck, L. G., Struchner, J. C. (1997), "Estudos de Agregados de Doenças no EspaçoTempo: Conceitos, Técnicas e Desafios", Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 13(4):611-624, out -dez. Contato Prof. Domingos Alves Programa de Mestrado em Saúde Coletiva, UNISANTOS, Av. Dr Carvalho de Mendonça, Santos, SP e-mail: [email protected]