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WWW.AUDIOPT.COM • REVISTA DE AUDIO, CINEMA EM CASA E NOVAS TECNOLOGIAS
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Apertura
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MARÇO/ABRIL 2015
WWW.AUDIOPT.COM
00251
5 607853 027434
COCKTAIL AUDIO X40,
UM COCKTAIL DE SONS
teste
iFi AUDIO iTUBE,
O SOM BINAURAL
Jorge Gonçalves
A
o fim de tantos anos escrevendo
sobre áudio, é refrescante ver alguém como que voltar às raízes
fundamentais do nosso sentido de audição e abordar temas tão interessantes como os artigos originais de Blumlein, que já
datam de há mais de oitenta anos.
De facto, embora seja uma personagem envolta em algum mistério e sobre
a qual nunca foi possível escrever a há
muitos anos prometida biografia, por dissidências com os dois filhos que lhe sobreviveram e devido a várias das suas
actividades terem sido conservadas sob
rigoroso sigilo, em face da sua participação na 2.ª Grande Guerra, Blumlein foi um
brilhante engenheiro ao qual se devem
descobertas de grande valor, a não menos importante das quais a invenção do
formato estereofónico, ou binaural, como
Blumlein lhe chamava.
Grande parte do seu trabalho foi desenvolvido entre 1921 e 1942, ano da sua
morte, causada pelo despenhamento de
um avião de carga que fazia testes ao sistema de radar H2S, o qual foi mais tarde
instalado nos bombardeiros britânicos pa-
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ra aumentar a precisão do lançamento de
bombas. Blumlein trabalhou primeiro nos
laboratórios da Bell, tendo passado depois
para a Columbia Gramophone Company, a
qual daria mais tarde origem à EMI. Para
além do som binaural, Blumlein inventou
igualmente a cabeça de corte de discos de
bobina móvel, ainda hoje utilizada na esmagadora maioria das máquinas de produção de discos master de vinilo.
Mas o que para aqui interessa é o excelente trabalho de Blumlein na área da
gravação e reprodução de som através de
duas fontes (altifalantes ou auscultadores) e que, embora pontualmente utiliza-
do nalgumas gravações, tem estado quase
completamente esquecido, salvo por parte de Tony Faulkner, um dos mais prestigiados engenheiros de som britânicos, e
Michael Gerzon, um ilustre matemático,
infelizmente já falecido e o qual levou o
conceito várias etapas adiante, com a invenção do formato surround Ambisonics e
ainda do microfone múltiplo Calrec. Pontualmente, a editora Nimbus lançou algumas gravações no formato Ambisonics.
Pois a iFi Audio, bem conhecida nestas
páginas pelos diversos testes já publicados
relativamente a equipamentos seus e ainda pelo prémio EISA 2014-2015 que rece-
MAR - ABR 2015
beu, resolveu investigar igualmente este
tecnologia e, depois de a ter incluído no
seu amplificador de auscultadores iCAN,
lançou agora o iTube, um buffer de sinais
de linha que tem a originalidade de incluir
uma válvula no circuito de áudio e que, ao
mesmo tempo, permite ter uma ideia interessante do sistema binaural de Blumlein,
o qual, neste caso, olha fundamentalmente para as frequências graves, mais difíceis
de localizar espacialmente, e introduz-lhes
uma alteração de fase que permite descobrir com facilidade se, por exemplo, um
timbale está mais à esquerda ou mais à direita, em vez de sempre ao centro em todas as gravações.
Um dos pressupostos por detrás do
lançamento do iTube tem a ver com o facto de a inserção da válvula no circuito,
um duplo-tríodo de especificação militar
da GE, permitir funcionar como «antídoto digital», retirando do som do CD muito
daquilo que se designa por digitalite. Ao
longo dos mais de 30 anos de existência
do CD muitos têm sido os equipamentos
deste género a serem lançados, desde totalmente passivos (caso, por exemplo do
transformador DLT-1 da Marantz, lançado
nos anos 90) a circuitos activos de maior
ou menor sofisticação.
Descrição técnica
O iTube não recorre a processamentos DSP
e limita-se a trabalhar o sinal no domínio
analógico, fazendo-o passara através de
filtros passivos RLC, que introduzem subtis
rotações de fase a determinadas frequências e ajudam a localizar os instrumentos
que emitem frequências de valores relativamente baixos. Segundo a iFi Audio, este iTube pode ser utilizado com excelentes propósitos numa grande variedade
de aplicações: sistema de áudio convencional, sistema de áudio portátil, som de
computador, sistemas de cinema em casa e até mesmo sistemas com fonte analógica – discos de vinilo! As afirmações da
iFI Audio são consubstanciadas pelos resultados de diversos estudos realizados pe-
la universidade de Frankfurt para a música
e artes performativas, nos quais se sujeitou um conjunto de alunos a um vasto número de audições «cegas» de um sistema
com electrónica totalmente de estado sólido e de um outro com electrónica a válvulas. De acordo com os resultados obtidos,
o som das válvulas aumentou o envolvimento emocional dos ouvintes, enquanto
alguns deles chegaram mesmo a desenvolver uma reacção de rejeição em relação ao sistema de estado sólido ao fim de
50 sessões de audição.
No interior do iTube temos então como
elemento activo uma válvula, alimentada
em termos de tensão de placa por uma
fonte de alimentação comutada baseada
no circuito integrado MC34063 com um
transístor SMD AN07 na saída. É de realçar que a válvula 5670 é uma versão NOS
(válvula original fabricada há muitos anos
pelo fabricante GE mas que nunca foi utilizada, permanecendo no stock de um armazenista), de especificação militar JAN
(Joint Army Navy) e tem a grande facilidade de manifestar uma excelente linearidade mesmo para tensões de placa bastante
afastadas dos 150 a 200 V, normalmente
utilizadas nas válvulas pré-amplificadoras.
O sinal de saída é proporcionado através
de dois transístores SMD, um por canal, de
modo a poder obter-se uma baixa impedância – inferior a 160 Ohm.
O restante circuito do iTube é extremamente simples, incluindo então a 5670 na
zona central, onde existe um corte no circuito impresso para acomodar a válvula na
posição horizontal e diversos componentes SMD, incluindo bobinas e condensadores, para implementar os circuitos de
filtragem que introduzem os efeitos holográficos e reduzem a digitalite. Muito interessante a solução encontrada pelos
projectistas da iFi Audio para conseguirem
montar a válvula na horizontal: montaram
a válvula num pequeno circuito impresso que serve como que de suporte soldado e instalaram sobre esse suporte aquilo
que se chama em inglês um pin header a
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90 graus, que encaixa num suporte vertical soldado no circuito impresso principal.
Por um lado facilita-se a inserção e remoção da válvula, por outro tem-se uma fixação bem sólida em termos mecânicos
e electrónicos. Na parte traseira da caixa
estão quatro fichas RCA para a entrada e
saída do sinal, enquanto no painel frontal encontramos um pequeno botão que
actua sobre o potenciómetro de volume e
dois comutadores miniatura de alavanca,
um para ligar ou desligar o circuito a que a
iFi Audio chama Antidote Plus, para «amaciar» o som dos leitores de CD’s, e o outro
que liga (com dois níveis de actuação) ou
desliga o circuito de filtragem para o som
holográfico, identificado de maneira simples como 3D. Um conjunto de comutadores DIP situado na parte inferior da caixa
permite escolher entre um ganho de 6 dB
ou 0 dB e utilizar ou não o controlo de volume. A caixa pertence à gama micro, em
termos de dimensões, e é completamente
selada, algo que não seria de esperar, em
face do calor libertado pelos filamentos da
válvula. De qualquer modo, a temperatura da caixa estabiliza rapidamente e nunca
detectei níveis de temperatura anómalos/
incómodos no exterior desta.
Audições
O iTube foi inserido no meu sistema, ficando intercalado entre a saída do leitor de
CD’s Accuphase DP85 (mais tarde substituído pelo Marantz CD12) e o prévio Constellation Inspiration Preamp 1.0, por sua vez
ligado ao amplificador de potência Constellation Stereo 1.0. As colunas eram as habituais Quad ESL-63 Pro. Claro que esta é
uma combinação que está bem para além
das aspirações do iTube em termos do tipo e preço dos equipamentos com que será normal ser combinado, mas é agora a
que define o meu sistema e, consequentemente, aquela que me permite tirar as
conclusões mais exactas em função de ser
a que conheço melhor.
E tenho que apontar já aqui duas dessas conclusões: a primeira é que o comutador Antidote Plus no meu caso não
introduziu qualquer acção benéfica, talvez
pela qualidade dos leitores de CD’s utilizados, razão porque o coloquei quase desde
o início das audições na posição de desligado.
Mas, por outro lado, o mesmo já não
posso dizer da actuação do circuito binaural/3D Holographic Sound. Na maior parte
do tempo ficou colocado na posição de actuação média deste circuito de igualização,
tendo eu igualmente escolhido o ganho
unitário (0 dB) e desactivado o potenciómetro de volume, tudo isto para que a
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teste
iFi Audio iTube
inserção do iTube no percurso do sinal produzisse o mínimo de alterações possível.
E não há dúvida de que o efeito 3D
é bem sensível, melhor dizendo audível,
fundamentalmente de dois pontos de vista: em primeiro lugar na ampliação do
palco sonoro, algo em que o conjunto da
Constellation já atinge um desempenho
bem marcante, e isto sem que a coerência
e solidez desse palco sonoro sejam afectadas; em segundo lugar numa posicionamento melhor definido de instrumentos
musicais de percussão, tais como os tambores, a bateria ou o contrabaixo. Era-me
muito mais fácil definir a periferia de cada instrumento em termos volumétricos e,
talvez por isso mesmo, os sons de baixa
frequência ganharam uma definição superior, quer em termos de limpidez e extensão de cada nota, quer ainda no que se
refere à percepção da intervenção desse
instrumento quando combinado com todos os outros. E esta definição traduziu-se
sempre num superior prazer de audição,
independentemente de se tratar de gravações com maior ou menor processamento em termos de trabalho de estúdio.
Apenas como um exemplo, cito a gravação de que já falei nestas páginas por mais
do que uma vez, e em que Phil Collins e
Chester Thompson fazem alarde da sua
mestria na bateria, ou dir-se-á melhor artilharia, porque cada um dos instrumentos
de percussão tem um verdadeiro arsenal
de tambores, isto na faixa Drum Duet, dos
Genesis. As palmas e intervenções pontuais do público (a faixa foi gravada ao vivo num tour dos Genesis, na altura ainda
com Phil Collins a fazer parte da composição do grupo) assumem aqui um calor
mais intenso e conseguimos seguramente atingir um patamar diferente de percepção em termos de nos sentirmos como
que mais imersos no meio do público. Com
o iTube no circuito continuamos a conseguir distinguir a cada momento em que
tambor é que cada baterista está a bater
num dado momento, mas agora com uma
ainda superior percepção do tambor em si
e com um pouco mais de envolvência em
termos tridimensionais. É um trabalho genial, que faz parte da colecção das 25 melhores faixas de interpretações de bateria,
e o iTube conseguiu adicionar um pouco
mais de envolvimento emocional quando
da sua audição. Outros estilos de música
em que a inclusão do iTube tornou muito
agradável a performance musical foram a
música de câmara e o jazz, principalmen-
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te nos pequenos grupos e nas gravações
efectuadas ao vivo. Temos como que um
calor acrescido na música, um ambiente
mais quente, em que as cordas e as peles ganham uma tonalidade, por um lado,
algo mais macia e, por outro, mais homogénea em relação à combinação da ressonância das cordas ou da pele com a da
caixa de madeira.
Fiz uma experiência rápida de combinação do iTube com o amplificador de
auscultadores Pioneer U-05-S, ficando ele
novamente inserido entre o leitor de CD’s
e o U-05-S, e utilizando como auscultadores os Sennheiser HD700. E não há dúvida de que o conceito binaural de Blumlein
funciona de modo quase perfeito com auscultadores, mesmo que a gravação original
tenha sido efectuada de modo convencional e não recorrendo à tecnologia binaural.
O som como que sai quase completamente fora de cabeça, ficando ali suspenso em
volta de nós, com uma superior individualização do posicionamento de cada executante dentro do conjunto.
Conclusão
Com o grande aliciante de não introduzir
colorações excessivamente evidentes na
música que estamos a ouvir, o iTube consegue introduzir um ligeiro «aroma» na
reprodução, que se traduz numa superior
espacialidade e que, inclusive, introduz algumas interessantes pistas nos termos da
localização exacta dos instrumentos de
percussão. Num sistema de alto nível em
termos de resolução, poderá sentir-se uma
ligeira perda de definição absoluta, mas
nada que se possa apontar como extremamente sensível e que, no extremo, podemos aceitar como uma «moeda de troca».
E, se considerarmos o preço do iTube, porque não inseri-lo num sistema com colunas de prateleira ou de som de computador com colunas externas? Em termos de
relação custo/benefício será muito difícil
fazer melhor investimento.
iFi Audio iTube
Preço 349 euros
Distribuidor Smartaudio
Telef. 919 909 545
www.smartaudio.pt

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