O Menino da Porteira

Transcrição

O Menino da Porteira
UM MENINO, UMA PORTEIRA E UM CLÁSSICO
Não perdi sequer um minuto e pus-me a pesquisar na pequena caixinha preta.
Queria saber a extensão do presente que ganhara, encontrando a pequena
relíquia. Ao clicar pela primeira vez sobre o botão avançar fui levado a uma tela
onde se lia a letra da canção: O Menino da Porteira. Não me contive, tinha que
ouvir, agorinha, os modestos acordes e a melodia até um pouco simplória do
maior clássico criado em Língua Portuguesa do Brasil. Acostumem-se comigo.
A partir daqui, sempre que me referir à Língua Portuguesa, estarei me referindo
ao Português do Brasil. Entre mil lembranças da infância fui então embalado
pelos acordes e pela letra do Menino da Porteira, gravada por Luizinho, Limeira
e Zezinha. A música foi composta por Teddy Vieira e Luizinho (o do trio), no
distante: 1955. Posso descrever assim a emoção de ouvir tal música. Jamais
ouvi uma coisa tão simples e comovente. Uma letra que tem começo, meio e
fim e que narra em poucos e objetivas palavras um grande drama. Ou seja, a
mãe que perde um filho, vítima de uma agressão de um boi, parte de uma
boiada estourada (esta parte eu imaginei). Por outro lado, a amizade sincera de
um boiadeiro e um menino conhecido e ao mesmo tempo desconhecido. Dele
sequer sabia o boiadeiro o nome. Finalmente, uma característica marcante das
pessoas daquele tempo. Ao perderem uma pessoa querida, faziam promessas,
fosse de não passar mais em determinado lugar ou não usarem mais uma peça
de roupa ou qualquer coisa que fosse uma manifestação externa da perda. O
Menino da Porteira mereceu muitas outras gravações, incluindo uma dos anos
70 ou 80, de Sérgio Reis. Ele promoveu uma mudança na letra da música,
introduzindo uma correção em uma das frases que continha um erro de
Português. Onde se dizia, na letra original: "...toca o berrante seu moço que é
prá mim ficar ouvindo", Sérgio Reis alterou para: "...toca o berrante seu moço
que é prá eu ficar ouvindo." Não vejo grande relevância em tal alteração. A voz
de Sérgio Reis é muito suave e se enquadra perfeitamente no espírito da
música. Mas, a gravação original tem muito mais a ver com o drama narrado.
Você pode acessar a gravação original, a do Sérgio e Reis e muitas outras,
através do youtube.
O Menino da Porteira
Teddy Vieira e Luizinho
Toda vez que eu viajava pela Estrada de Ouro Fino.
De longe eu avistava a figura de um menino.
Que corria abria a porteira, depois vinha me pedindo:
__ Toque o berrante seu moço que é pra mim ficá ouvindo.
Quando a boiada passava que a poeira ia baixando,
eu jogava uma moeda e ele saía pulando:
__ Obrigado boiadeiro, que Deus vá lhe acompanhando;
pra aquele sertão à fora meu berrante ia tocando.
Nos caminhos desta vida muitos espinhos eu encontrei,
mas nenhum calou mais fundo do que isso que eu passei.
Na minha viagem de volta qualquer coisa eu cismei:
vendo a porteira fechada o menino não avistei.
Apeei do meu cavalo e no ranchinho a beira chão.
Ví uma mulher chorando, quis saber qual a razão:
__ Boiadeiro veio tarde, veja a cruz no estradão:
quem matou o meu filhinho foi um boi sem coração!
Lá pras bandas de Ouro Fino levando gado selvagem.
Quando passo na porteira até vejo a sua imagem.
O seu rangido tão triste mais parece uma mensagem:
daquele rosto trigueiro desejando-me boa viagem.
A cruzinha do estradão do pensamento não sai.
Eu já fiz um juramento que não esqueço jamais.
Nem que o meu gado estoure, e eu precise ir atrás:
neste pedaço de chão berrante eu não toco mais.

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