É preciso acabar com a `batota` dos apoios às soluções energéticas

Transcrição

É preciso acabar com a `batota` dos apoios às soluções energéticas
ENTREVISTA
por | RITA ASCENSO
fotografia | RICARDO GOMES
“É preciso acabar com a ‘batota’
dos apoios às soluções energéticas
com que o solar térmico concorre”
Estamos na sede da Caixa Geral de
Depósitos onde foi recentemente
instalada uma das maiores centrais
de solar térmico da Europa. Finalmente chegou a hora do solar?
Eu acho que sim. Esta instalação é
exemplar em vários aspectos mas não
podemos esquecer que a União Europeia e o Estado português têm objectivos muito exigentes. Nós temos um
compromisso de que o contributo das
renováveis no consumo energético
global seja de 20% em 2020.
Num workshop “Energia e Edifícios” promovido no edifício sede da Caixa
Geral de Depósitos, tivemos uma conversa com Nuno Ribeiro da Silva,
presidente da SPES (Sociedade Portuguesa de Energia Solar), sobre o
caminho do solar térmico. A par de um conjuntura ímpar, o factor crítico
está na implementação. É urgente “conjugar a informação com uma
verdade económica dos números e ainda com o exemplo do Estado…”
18 | Novembro/Dezembro climatização
E dentro desses 20% o solar térmico
ocupa que percentagem?
Até agora temos estado a fazer as
contas dos 42% de contributo para a
electricidade até 2010 – um objectivo fixado pelo Governo. Mas repare
que a electricidade representa apenas
22% do consumo global de energia.
Este objectivo dos 20% do contributo das renováveis para o todo da
energia reporta a toda a energia final
consumida e portanto é um desafio
muito ambicioso que não se satisfaz
só por via das tecnologias dirigidas à
produção eléctrica… As tecnologias
que temos estado a desenvolver e a
implementar no país, a hídrica que já
vinha de trás e a eólica são dirigidas à
electricidade. Agora, para atingirmos
os outros 78% que é gás, petróleo…, a
única fonte renovável que pode aportar um contributo qualitativamente
novo e quantitativamente relevante,
é o solar. O solar pode substituir no
residencial cerca de 40% do consumo, que representa 33% do consumo
global de energia do país. Pode aportar para as águas quentes sanitárias,
climatização Novembro/Dezembro | 19
ENTREVISTA
Válvulas e sistemas
Inovação + Qualidade
“Feitas as contas, o solar
no residencial pode reduzir
10 a 12% do total da energia
consumida pelo país. É chegado
o momento de as tecnologias
renováveis que utilizamos
não serem dirigidas só à
produção de electricidade. As
renováveis têm passar a ser
dirigidas para a produção de
outro tipo de usos finais que
não o eléctrico. E é aqui que o
contributo do solar é decisivo”.
aquecimento, arrefecimento… Feitas
as contas, o solar no residencial pode
reduzir 10 a 12% do total da energia
consumida pelo país. É chegado o momento de as tecnologias renováveis
que utilizamos não serem dirigidas
só à produção de electricidade. As
renováveis têm também de passar
a ser dirigidas para a produção de
outro tipo de usos finais que não o
eléctrico. E é aqui que o contributo
do solar é decisivo.
Existe, do seu ponto de vista, um
desajuste em relação às metas,
iniciativas e investimento levadas a
cabo pelo Governo. Devia ser dado
mais destaque ao solar.
Exactamente. Logo de início quando se desenvolveram um conjunto
de iniciativas ligadas ao eólico e ao
hídrico, devia ter-se criado o enquadramento necessário para relançar
solar. O solar de usos térmicos não
precisa de negociações críticas, de
apoios para promoção destas tecnologias… porque o solar térmico para
uso nos edifícios e nas nossas casas
é auto-sustentável, é competitivo e
com a vantagem de substituir em
grande escala o gás e os usos eléctricos. Teria sido desejável que este
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impulso tivesse começado mais cedo,
mas é uma realidade que os recentes diplomas aparecerem também
com esse objectivo. Por exemplo na
Grécia, é inimaginável existir uma
casa sem um painel solar térmico no
telhado. É de facto aqui que temos
que ir buscar um grande contributo
para o mix energético do país. De
acordo com os objectivos políticos e
imposição destas metas de Bruxelas,
o solar térmico é determinante para
os cumprirmos.
O enquadramento legal que hoje
existe, o Sistema de Certificação
Energética e os respectivos diplomas de regulamentação térmica
(RSECE e RCCTE), é importante para
despoletar esta viragem e mudar
esta cultura energética ou seriam
ainda necessárias outras medidas?
É um passo importante mas até que
a semente germine rapidamente é
aconselhável que se criem condições
para um despertar mais rápido…
As recentes medidas fiscais ajudaram…
Mas são críticas porque enquanto
continuarmos a ter o IVA a 5% sobre
o gás e electricidade, que concorrem
directamente com o solar térmico
onde é aplicado um IVA de 12%
para os equipamento e 20% para a
instalação, não podemos falar em
incentivos fiscais reais. Depois temos
um outro problema de base que é
o facto da electricidade estar a ser
subsidiada. Nós não estamos a pagar
o custo da electricidade. Agora com
os novos mecanismos de tarifas que
foram anunciados pela ERSE, o gás
vai também entrar em deficit tarifário
pela primeira vez no país. Estes sinais
são no fundo contraditórios com tudo
isto porque, por um lado diz-se para
promover o solar térmico mas ao mesmo tempo está a penalizar-se esse
caminho. A questão fiscal é crítica
sobre o ponto de vista de transmitir
os sinais correctos nos preços aos
agentes económicos e ao cidadão
para que se siga o caminho que é
correcto. Para que estas coisas aconteçam, tal como se fez para outras
áreas, é também aconselhável haver
Gama completa para todos os tipos de instalação
Cabeças termostáticas e
uniões para radiadores
Termóstatos e acessorios
de desenho exclusivo
Filtros e válvulas para
circuitos de gasóleo
„Unibox”controlo, individual,
da temperatura em salas
com pavimento radiante
Filtros de água „Aquanova“
e acessórios para para
água potável
„Copipe” tubo plastico,
multicamada e respectivos
acessórios „Cofit“
A solução para os
problemas da legionela „Aquastrom T plus”
Colectores em aço
inoxidável para pavimentos
radiante
Balanceamento hidráulico
„Regusol” e „Regumat” regulação para caldeiras e
energia solar
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ENTREVISTA
um programa que ponha na agenda
o solar térmico através, por exemplo,
de acções de instalação de equipamentos dentro do próprio Estado, em
edifícios públicos. Tratava-se de um
programa da Administração Central e
Local em que se assumia esse passo
desde logo dentro das instalações do
próprio Estado como forma de promoção desta solução. Estou a falar de
edifícios de serviços comuns, escolas que normalmente têm condições
muito boas, gimno-desportivos… Se
existisse um programa público com
este objectivo, estou certo de que o
arranque seria muito mais rápido e
com muito maior sucesso.
Que outras medidas é que podiam
ser tomadas?
Podemos imaginar medidas de carácter mais geral e medidas mais
orientadas. Que, aliás, em nenhum
dos casos, se estaria a fazer nada de
novo e diferente do que já se fez lá
fora. Agora, uma conjugação de um
programa continuado de informação
às pessoas, do lado didático e do lado
da economia dos processos salientar
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os méritos do solar térmico, podia ser
um bom começo. Ou seja, em relação
ao segundo aspecto economicista,
acabar com a “batota” dos apoios
às soluções energéticas com que o
solar térmico concorre. Conjugando
a informação com uma verdade económica dos números e ainda com o
exemplo do Estado, estou certo de
que seria suficiente e teria sucesso
porque as outras condições já existem. Ou seja, por uma lado temos o
recurso – o sol, há uma tecnologia
que é competitiva e há aquilo que
não existiu nos últimos 20 anos que
é uma sensibilidade das pessoas e
das empresas sobre estas questões e
vontade em encontrarem soluções. As
pessoas estão preocupadas e ávidas
de informação sobre os caminhos a
seguir no sentido da sustentabilidade,
da protecção do planeta…Tal como há
pouco dizia o Prof. Oliveira Fernandes,
nós fomos aculturados de forma a
termos uma atitude passiva perante
a energia. Temos a ficha, é só ligar
e depois vem a factura para casa.
Nada mais simples. Mudar esta postura para a pró actividade no sentido
das pessoas repensarem a sua vida
energética não é fácil, mas hoje existe
um conjunto de circunstâncias e preocupações mundiais que “abanaram”
as pessoas. Há que ensiná-las sobre
os caminhos a seguir.
A microgeração ao incentivar o
solar térmico ao lado do fotovoltaico foi importante também em
termos de sensibilização?
É uma medida relevante ao exigir que
na produção de electricidade própria,
exista um elemento de racionalidade
que é também terem solar térmico. Embora a microgeração não dê
um contributo relevante ao aprovisionamento energético do país, esta
medida tem dois méritos: a inclusão
do solar térmico e uma mudança de
actores. Ou seja, quem instala é colocado no lado de quem decide sobre
a questão energética. Passamos a ter
um consumidor com um papel activo
e condutor na busca e implementação da solução, seja numa empresa
ou numa habitação. Um segundo
aspecto também importante é que,
ao contrário da opção errada que foi
seguida para a instalação dos mega
parques fotovoltaicos, a microgeração
faz alguma difusão do solar fotovoltaico, que ainda tem problemas de
competitividade ao contrário do que
acontece com o térmico. Neste caso,
os fundos que o Governo usou para
criar escala no fotovoltaico, foram mal
utilizados no sentido em que foram
postos os ovos todos no mesmo cesto.
Aqui a microgeração acaba por estar
a difundir alguma popularização desta
tecnologia.
Entrando na regulamentação térmica que existe e no lado dos profissionais da climatização. No seu
entender é suficiente? Está bem
feita?
No geral é suficiente. Há sempre
umas simplificações e afinações que
poderiam ser feitas. O primeiro regulamento foi feito em 91, quando
eu estava no Governo, mas estas
questões no nosso país têm sempre
um aspecto crítico que a mim muito
me preocupa: a implementação e
seguimento dos processos da parte de
quem tem que acompanhar e fiscalizar estes regulamentos para que estas
iniciativas não caiam em “saco roto”.
Por isso, também é importante que
as coisas façam sentido e que para
além dos regulamentos, os aspectos
económicos destas decisões sejam
coerentes e estimulantes para que os
agentes económicos implementem.
Ou seja, não é só dizer: “tens aqui
um diploma e agora és obrigado a
cumpri-lo”. Importa também dizer
que estes diplomas para além de terem um carácter imperativo, apontam
para um caminho de razoabilidade
económica.
Acontece que existe um ruído de
fundo contrário e onde consta que
para o lado dos promotores, donos
de obra, consumidores… estes processo encarecem as soluções. Como
é que isto se ultrapassa?
Há certos aspectos que podem ser
simplificados na Lei e não me refiro
ao articulado que é quase sempre excessivamente complexo. Há algumas
soluções que talvez sejam demasiado
optimizadas e que os regulamentos
reflectem, ou seja, não podemos estar
Sistemas compactos em
kit destinados à produção
de águas quentes
sanitárias funcionando
pelo princípio de
termossifão para a escala
doméstica (200 e 300L).
Sistemas em Kit
destinados à produção de
águas quentes sanitárias,
desde a escala doméstica
até à industrial média
(de 200L a 2.000L).
Sistemas em Kit
combinados, destinados
tanto à produção
de águas quentes
sanitárias como ao apoio
do aquecimento de
ambiente e de piscinas
para a dimensão da
vivenda (de 580 a 2.000L).
Sistemas combinados
destinados tanto à
produção de águas
quentes sanitárias como
ao apoio do aquecimento
de ambiente e de piscina
s para dimensões médias
a grandes (de 2.000 a
5.000L)
Sistemas combinados
para grandes instalações
(acima de 5.000L)
preparados e projectados
à medida das necessidades.
A Rigsun é a nova marca nacional
de sistemas solares térmicos.
Técnicos experientes, que trabalham na área dos sistemas solares desde
a década de 70, desenvolveram a nova gama solar térmica - Rigsun.
Foram seleccionados os materiais e componentes adequados às
condições mais extremas do nosso clima. Utilizando as técnicas que
proporcionam maior rendimento e fiabilidade que existem no mercado,
a Rigsun é a sua nova solução.
Os sistemas Rigsun são
fornecidos em kit com
todos os componentes
necessários à sua instalação,
proporcionando um
conjunto coerente e bem
dimensionado de modo a
garantir um funcionamento
excepcional.
Os colectores Rigsun têm a
certificação máxima existente
no mercado internacional: a
SOLAR KEYMARK.
Com as certificações:
SOLAR
KEYMARK
Económica E amiga do ambiEntE
Usufrua de uma energia limpa e inesgotável. Poupe
dinheiro com a utilização da energia solar térmica.
Conforis: Lot. Industrial de Loulé, Lote 39, 8100-272 Loulé
T. 289 401 040 | F. 289 432 357 | [email protected] | www.rigsun.pt
ENTREVISTA
a comparar soluções para uma instalação como esta da CGD com uma
solução para uma moradia ou num pavilhão gimnodesportivo por exemplo.
Às vezes há a tendência para legislar
pelo óptimo sem ter em conta que
isso muitas vezes cria obstáculos para
a implementação das coisas porque
encarece, porque tecnicamente não
há a capacidade generalizada para
as pessoas dominarem as soluções.
Estamos a falar no stock construído
porque o problema, apesar de tudo
é menor nos novos edifícios.
“…temos um outro problema de
base que é o facto da electricidade estar a ser subsidiada. Nós
não estamos a pagar o custo da
electricidade. Agora com os novos mecanismos de tarifas que
foram anunciados pela ERSE,
o gás vai também entrar em
deficit tarifário pela primeira
vez no país. Estes sinais são no
fundo contraditórios com tudo
isto porque, por um lado diz-se
para promover o solar térmico
mas ao mesmo tempo está a
penalizar-se esse caminho.”
… todos os edifícios vão passar a
estar abrangidos a partir de Janeiro
do próximo ano. Para além de tudo
o que já falámos, acha que ficou
alguma coisa por regulamentar no
campo do solar térmico?
O meu lado pragmático leva-me a
dizer que não. Até porque já estive
do lado do Governo e prefiro que não
haja mais regulamentos porque o essencial já existe. Falta aquilo que já
falámos sobre a coerência do lado da
envolvente económica em relação ao
desígnio que os diplomas reflectem.
E não estamos a falar em subsidiar
as instalações, estamos a falar em
não subsidiar os vectores concorrentes com o vector solar térmico. Eu
diria que estas peças no essencial
são suficientes. Eu prefiro que haja
um desabrochar deste movimento e
que só de seguida é que se façam os
ajustes regulamentares necessários.
Tenho um enorme medo que existam
uma panóplia de regulamentações
a antever o que se poderá passar
em 2030 e que crie um emaranhado
de articulados que acabe por ser um
factor de entropia da dinâmica das
certificações.
Mas indo um pouco ao detalhe,
foi alterada a referência de 1m2
de painel por cada ocupante de
uma habitação porque este valor
foi considerado desajustado. Diz-se
que outros valores de referência
apontados e por serem excessivamente altos estão a prejudicar as
soluções de aquecimento com solar
térmico integrado…
Isso tem a ver com a falta de informação das pessoas no terreno e de
24 | Novembro/Dezembro climatização
algum “novo riquismo” nas soluções
renováveis. As pessoas promovem iniciativas para a promoção das renováveis mas muitas vezes têm uma visão
“purista” de que o sistema tem que
ser completamente renovável. Não
há meios-termos. Acontece que as
pessoas que mexem no dia a dia com
as tecnologias e a economia destes
projectos preferem que muitas vezes,
em vez de se optar por um tratamento
“mono medicamentado”, é melhor o
“cocktail” de soluções. Podia dar-lhe
imensos exemplos sobretudo do outro
lado das renováveis. Passa-se um bocadinho esta mensagem de que para
esta solução ser bem classificada, tem
que ser “pura”, 100% renovável etc…
Este tipo de pragmatismo e essa flexibilidade de integração de sistemas
e soluções, não está reflectida nos
regulamentos e acaba por penalizar
o seu potencial de penetração.
As dificuldades sentidas nos anos
80, e que de alguma forma colocaram um travão ao impulso do
solar, estão resolvidas? Já temos
uma rede de profissionais a funcionar?
Temos os agentes e actores em condições de responderem com sucesso e
que podem dar uma garantia de que
não vamos ter um “flop” na instalação
e manutenção. Mas se hoje já temos
os recursos, mais uma vez reforço que
se não tivermos uma campanha de
informação e uma organização de
fabricantes e instaladores, temo que
possam continuar a haver más experiências. Há o aspecto da informação
que deve ser prestada ao lado da procura e há também a responsabilidade
de, logo a montante, os fabricantes se
dotarem “in house” ou se articularem
com instaladores credenciados.
Essa preocupação já existe do lado
das empresas…
Existe mas ainda não estou confortado.
Falava há pouco do “novo riquismo” associado às renováveis. O
solar térmico continua a ser caro e
vende-se de tudo e o mercado ainda não está preparado. Este poderá
ser também um factor crítico?
climatização Novembro/Dezembro | 25
ENTREVISTA
“… o processo de instalação de
uma solução continua a não ser
fácil… Em contraponto a esta
“compra” de problemas existe o
facilitismo de ligar à corrente ou
abrir a torneira do gás natural.
Mas poderíamos resolver estas
questões através de empresas
que estudassem os consumos
actuais, os comparassem e
apresentassem uma solução de
venda daquilo que as pessoas
precisam: termias, calor etc… O
investimento, a instalação e a
manutenção estavam do lado
das empresas que apenas vendiam a energia às pessoas. Este
era o grande salto qualitativo”.
atingir a massa critica e começar a
ter economias de escala nos stocks,
nos contratos celebrados… Este impasse é normal quando chegam novas
tecnologias no mercado, por isso há
que desatar este novelo e fazer o
mercado desenvolver-se. Lembro-me
de quando estava no Governo passarse uma situação semelhante com a
gasolina sem chumbo. As gasolineiras
alegavam que não existiam carros a
gasolina sem chumbo e o mercado
automóvel não importava carros com
este combustível porque não havia
resposta das gasolineiras…A dada altura tem que se quebrar este impasse.
Nas apresentações que fazia há 15 e
20 anos atrás, alertava para que, se
queremos que as coisas funcionem,
é necessário levar “3 carrinhos em
harmónio” concertados: os aspectos
administrativos, económicos, de informação. Ou seja, muitas vezes há
um eco de voluntarismo do Governo
para colocar cá fora um diploma mas
26 | Novembro/Dezembro climatização
onda
irel es
s
Nova Gama
… e a fiscalização.
Exactamente. A nível da fiscalização
é necessário criar condições para que
as obrigações sejam cumpridas, assegurar os processos de certificação aos
equipamentos quando tal é exigido, a
certificação dos instaladores… todos
estes aspectos são determinantes e
merecem atenção redobrada porque
é neste campo da fiscalização que o
país falha grotescamente.
Perguntava-me se o mercado estava
maduro, falava nos equipamentos,
instaladores, se as pessoas estão informadas… Espero que as condições
económicas sejam as melhores para
que se dê um salto qualitativo nesta
matéria, que tem a ver com a criação
de empresas de serviços de fornecimento de calor e água quente. Ou
s
Mas temos uma outra realidade
que vai para além dos edifícios ou
habitação que necessitam passar
pelo SCE. Eu hoje não quero vender
a minha casa, não preciso do certificado energético mas posso querer
uma remodelação que passe pelo
solar térmico…
Exactamente e é aí que entra a importância das campanhas de divulgação
e de informação às pessoas.
O mercado está pouco maduro?
Pouco maduro e pouco esclarecido.
Estamos, pelos exemplos, a chegar
aquilo que falávamos há pouco. Uma
das medidas que deveria ser tomada
pelo Estado era a existência de um
programa próprio para os seus edifícios. Se bem feito e acompanhado,
pense no efeito didáctico que isso
teria numa escola, ou num edifício
municipal…Pense num programa estilo “Magalhães 2” aplicado aos paneis solares. Dizia-me que os painéis
continuam a ser relativamente caros
independentemente da qualidade,
e estamos num momento crítico de
w
Pode, mas os regulamentos existem
e exigem a certificação dos equipamentos. O factor crítico está na implementação…
Pressão
Humidade
Temperatura
Velocidade
Caudal
Qualidade do Ar
Sonómetros
s
Fabricante de
equipamentos
de medição
depois se isto não for enquadrado,
não resulta. Não chega plantar, é necessário criar as condições para que
a planta cresça e bem.
DICO FILTRO
Rua Dr Afonso Cordeiro, 80
4450-001 MATOSINHOS
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climatização Novembro/Dezembro | 27
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ENTREVISTA
Já temos exemplos da existência
desse mercado noutros países e a
funcionar?
Temos por exemplo na Holanda em
grande escala, a Grécia, Áustria… A
Grécia é curiosa pela banalização e
popularidade desta solução de serviços.
Já faz parte da realidade dos gregos.
Nesta solução de venda de energia
o consumidor deixa para a empresa
fornecedora todos os problemas…
E acha que este é o caminho?
Sem dúvida. Claro que para chegarmos
a este estágio, é preciso que se ganhe
uma certa massa critica ao nível do
mercado.
“As pessoas promovem iniciativas para a promoção das
renováveis mas muitas vezes
têm uma visão “purista” de
que o sistema tem que ser
completamente renovável. Não
há meios-termos. Acontece
que as pessoas que mexem no
dia a dia com as tecnologias e
a economia destes projectos
preferem que muitas vezes,
em vez de se optar por um
tratamento “mono medicamentado”, é melhor o “cocktail” de
soluções. Podia dar-lhe imensos
exemplos sobretudo do outro
lado das renováveis. Passa-se
um bocadinho esta mensagem
de que para esta solução ser
bem classificada, tem que ser
“pura”, 100% renovável etc…
Este tipo de pragmatismo e
essa flexibilidade de integração de sistemas e soluções,
não está reflectida nos regulamentos e acaba por penalizar o
seu potencial de penetração.”
28 | Novembro/Dezembro climatização
seja, o processo de instalação de uma
solução continua a não ser fácil. Repare,
se no seu condomínio tomar a iniciativa
de instalar um sistemas desta natureza
está a concorrer com a solução fácil de
“ligar à ficha” e resolver rapidamente as suas necessidades. Mas mesmo
neste contexto, resolve avançar. Primeiro tem que ver que equipamentos
existem, comparar preços, qualidade
etc., o que não é fácil. Depois de escolhido o equipamento “A” tem que
pensar na instalação, em convencer
os vizinhos, manter os equipamentos
a funcionar correctamente, assegurar
a manutenção, etc. Em contraponto
a esta “compra” de problemas existe o facilitismo de ligar à corrente ou
abrir a torneira do gás natural. Mas
poderíamos resolver estas questões
através de empresas que estudassem
os consumos actuais, os comparassem
e apresentassem uma solução de venda daquilo que as pessoas precisam:
termias, calor etc… O investimento, a
instalação e a manutenção estavam do
lado das empresas que apenas vendiam
a energia às pessoas. Este era o grande
salto qualitativo.
Acha que essa solução era possível
em termos económicos?
Claro que sim
Era vantajoso para ambas as partes?
O consumidor baixava a sua factura
energética e a empresa lucrava?
Se houver condições de mercado para
o desenvolvimento deste cenário, é
vantajosos para ambas as partes.
A ainda temos muito que caminhar.
Daqui a quanto tempo é que podemos ter mais instalações semelhantes a esta da CGD nos nossos
edifícios?
Há a questão dos novos edifícios e não
é expectável que nos próximos 3 anos
haja um grande “boom” a esse nível.
Mas nos existentes ao nível das remodelações?
Terá a ver com tudo o que já falámos, o
ambiente económico à volta da questão das renováveis… Quanto mais cara
for a electricidade e o gás natural, mais
campo estamos a abrir para a adopção
deste tipo de soluções.
Não acredita portanto que no quadro
actual se gere a dinâmica necessária.
Acredito que o quadro actual já é o
quanto baste para despoletar nos mais
atentos a adopção do solar. Agora, um
movimento mais dinâmico é mais difícil
perante o nosso cenário económico
actual.
O Eurosun veio na altura certa!
Claro que sim porque independentemente destes problemas, estamos
numa fase em que todas as pessoas,
dos mais diversos níveis, estão ansiosas
para encontrar novas soluções e sair
destas flutuações permanentes (gás
natural, carvão…) a que têm vindo a
estar sujeitas. Nesse sentido é um momento ímpar na história da energia
desde os anos 70. Há uma conjugação de factores única que deve ser
aproveitada.

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