RECEPÇÃO EM JORNALISMO ONLINE Um estudo exploratório do
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RECEPÇÃO EM JORNALISMO ONLINE Um estudo exploratório do
RECEPÇÃO EM JORNALISMO ONLINE Um estudo exploratório do consumo de sites jornalísticos SADI JOSÉ RECKZIEGEL UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO TRABALHO DE CONCLUSÃO RECEPÇÃO EM JORNALISMO ONLINE Um estudo exploratório do consumo de sites jornalísticos SADI JOSÉ RECKZIEGEL Orientadora DENISE COGO São Leopoldo, novembro de 2001 “Liberal ou conservador, o repórter é um ser primitivo que poderia ir atrás da própria mãe por um boa história” Richard Coben (Time, 10/11/1992) Dedicatória Dedico esta monografia à minha família. Ao meu pai, Cleto, minha mãe, Irene, meus irmãos, Solange, Salete, Sandro, Sandra, Silene, Sérgio, e também ao amor da minha vida, Neide. Ela, que acompanhou de perto estes dois últimos anos, sabe quão difícil foi chegar até aqui. Agradecimentos À professora Dra Denise Cogo, pelo seu empenho e ajuda na orientação deste trabalho. Aos colegas, que sempre me apoiaram e incentivaram para o êxito desta caminhada. À Unisinos, pela ajuda na realização do meu sonho. SUMÁRIO INTRODUÇÃO.............................................................................. 7 1 JORNALISMO ONLINE ..........................................................11 1.1 Expansão da Internet e Jornalismo Online ........................................................................11 1.2 Hipertexto: a linguagem do Jornalismo Online................................................................. 15 1.3 Hipertexto: questões para a recepção............................................................................... 23 2 RECEPTOR .........................................................................27 2.1 Recepção e Cultura................................................................................................................... 30 2.2 A identidade na Internet........................................................................................................ 31 2.3 As Mediações ............................................................................................................................. 35 3 JORNALISMO ONLINE – A PESQUISA DE RECEPÇÃO ......................43 3.1 Percurso metodológico ............................................................................................................ 43 3.2 Perfil dos usuários da Internet............................................................................................ 46 3.3 Usos do Jornalismo Online..................................................................................................... 55 3.4 Temporalidade ............................................................................................................................ 61 3.5 Confiança na rede ..................................................................................................................... 62 3.6 As mediações ............................................................................................................................. 63 CONCLUSÃO ..............................................................................66 BIBLIOGRAFIA ...........................................................................70 ANEXOS ...................................................................................73 INTRODUÇÃO Em 2000, quando da escolha do tema a ser abordado no meu trabalho de conclusão de curso, fiquei logo muito inclinado ao Jornalismo Online (JOL). Mas o grande problema era definir qual seria meu objeto de estudo. Poderia ser a produção do JOL ou a recepção. O que foi muito discutido com um de meus professores no curso de Jornalismo, pois eu não sabia que rumo tomar. Além do mais, não existiam muitas bibliografias do referido assunto que pudessem me auxiliar. Comecei então a ler as que haviam a respeito da recepção e acabei optando por este objeto. Em termos de perspectiva pessoal, desde 1997, quando fiz o 1° Curso de Jornalismo Online da Unisinos, fiquei muito interessado em estudar esse tipo de comunicação cada vez mais em evidência. Lembro que na época ficávamos divagando sobre o assunto e não tínhamos referências, pois não existiam sites para serem analisados. Os jornais estavam apenas começando a colocar algumas reproduções da versão impressa na web. 8 Hoje, os sites dos grandes jornais já viraram super portais e não mais imitam pura e simplesmente a versão impressa. O uso de mecanismos multimídia ajuda na promoção dos sites. As grandes empresas do ramo estão investindo cada vez mais nas versões online. Um exemplo é o clique RBS1, um mega portal que abrange todos os veículos da RBS. As notícias são atualizadas a cada momento. Neste portal, por exemplo, pode-se escutar um noticiário da Rádio Gaúcha que já foi ao ar, ouvir ou assistir a previsão do tempo, entre outras coisas. Segundo material de divulgação do próprio portal, o clicRBS é um portal moderno que integra características de personalização, e através do qual o consumidor tem acesso a canais de televisão, rádio e jornais adaptados para o uso on demand. Daqui a pouquíssimo tempo, será possível ter o seu jornal totalmente pessoal, via clicRBS.2 Portanto, há uma experiência social já em desenvolvimento que, em minha opinião, merece ser analisada. Por outro lado, os estudos de recepção têm estado pouco orientados à investigação das interações dos usuários com os espaços online. Permanecem privilegiando as pesquisas com a mídia televisiva. O presente trabalho tem como ponto de partida a contextualização da Internet como espaço do Jornalismo. Apresenta números do Ibope e tendências 1 URL:”http://www.clicRBS.com.br 2 CABRAL, Pedro. Disponível na Internet. http://www.agenciaclick.com.br/ 20 nov. 2000. 9 da rede de acordo com Nicholas Negroponte. Em seguida, é enfocado o hipertexto como linguagem usada no Jornalismo Online. Para este estudo, foram utilizados os escritos de Pierre Levy, Marcos Palacios, Luciana Mielniczuk, André Manta, entre outros. O capítulo dois oferece uma base teórica sobre os estudos de recepção, apresentando algumas tendências desses estudos apontados por autores como Robert White, Thomas Linklof, Henry Jenkins, Ana Prado, Rosaly Brito. Neste capítulo também é abordado a questão da identidade na era da Internet baseado em estudo da autora Sherry Turkle. Já o capítulo seguinte aborda a pesquisa empírica que fiz com 12 entrevistados através de formulário eletrônico pela Internet. Nesse capítulo, apresento os resultados da pesquisa que em torno dos interesses e motivações dos entrevistados quanto ao Jornalismo Online, buscando verificar, inicialmente, se os usos do Jornalismo Online tem sido uma prática comum de quem tem acesso a Internet. Na pesquisa, também busco saber as relações entre o consumo do Jornalismo Online e os usos do computador em casa e no trabalho. Os entrevistados fazem muito uso do correio eletrônico e, em sua maioria, acessam sites de Jornalismo quando navegam na Internet. A conclusão não apresenta respostas definitivas para o tema apresentado, 10 repercutindo o próprio patamar de desenvolvimento em que se encontra o Jornalismo Online. 1 JORNALISMO ONLINE 1.1 Expansão da Internet e Jornalismo Online O rápido crescimento experimentado pela Internet, bem como as múltiplas possibilidades oferecidas por esse novo ambiente comunicacional têm provocado discussões como uma via para democratizar a informação. Democratizar a informação significa, no âmbito desse debate, para alguns, torná-la acessível ao maior número de pessoas sem a limitação de espaço como acontece com o jornal impresso e a revista. Como na Internet, as informações são armazenadas digitalmente, é também muito mais fácil recuperar uma informação já veiculada, de qualquer ponto da terra, basta que ela tenha sido disponibilizada na Rede. 12 As mais recentes pesquisas feitas pelo IBOPE eRatings.com3 revelam que em abril de 2001, os internautas brasileiros já totalizavam 10,4 milhões. Desde setembro do ano passado, esse número manteve-se inalterado em 9,8 milhões. “O interesse dos internautas tem crescido, porque os equipamentos estão mais acessíveis e baratos. Além disso, a compra de computadores pode ser financiada”, comenta Alexandre Magalhães, analista de Internet, do IBOPE eRatings.com para a América Latina. Esses dados deixam claro que a Internet definitivamente tem operado transformações importantes no mundo das comunicações. Só para se ter uma idéia, a televisão levou, desde o seu lançamento, em 1926, 26 anos para alcançar a marca dos 50 milhões de usuários. Com a Internet, isso aconteceu em quatro anos.4 Como sempre acontece todas as vezes que as formas de comunicação humana passam por uma transformação radical, opera-se em conseqüência mudanças culturais de grande impacto. A disseminação da Comunicação Mediada 3 Internautas brasileiros já são mais de 10 milhões. http://www.ibope.com.br/eratings/erat_press_ranknac1b.htm. 18 mai. 2001. 4 Disponível na Internet. Fonte de dados da Revista Veja, julho de 1998, citados no texto “Aspectos do comportamento de grupos virtuais”. Disponível na Internet. http://www.sbdg.org.br/cadernos/cad07-04.htm. 13 por Computadores (CMC)5 por intermédio de uma rede interativa, que permite integrar no mesmo ambiente comunicacional a oralidade, a escrita e recursos audiovisuais, tem suscitado reações e análises sob os mais diferentes enfoques. Os prognósticos sobre a mídia do futuro apontam para uma grande ênfase no consumo individualizado e personalizado da informação. Nicholas Negroponte6, para quem, depois da era industrial, baseada no conceito de produção em massa, estamos ingressando agora numa era da pós-informação, é categórico ao traçar o cenário da vida digital num futuro próximo: “Os modelos econômicos da mídia atual baseiam-se quase que exclusivamente em “empurrar” a informação e o entretenimento para o público. A mídia de amanhã terá tanto ou mais a ver com o ato de “puxar”: você e eu acessaremos a rede e conferiremos o que há nela, da mesma forma como hoje fazemos numa biblioteca ou videolocadora. Isso poderá ser feito de forma explícita, ou seja, por nós mesmos, ou implícita, isto é, um agente o fará por nós (...) A informação por encomenda dominará a vida digital.” Do ponto de vista do jornalismo, a oferta e o consumo personalizado de informações via Internet representa uma ampliação de uma tendência que vem se 5 6 CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo : Paz e Terra, 2000. NEGROPONTE, Nicholas. A Vida Digital. São Paulo, Companhia da Letras, 1996. In: BRITO, Rosaly Seixas e PRADO Ana. A vez dos donos da voz (?): reflexões acerca do jornalismo on-line. GT Jornalismo. Manaus: Intercom, 2000. CD-ROM. 14 consolidando também em outras mídias. A TV, o rádio e o impresso já ofertam programações segmentadas visando a atender determinados tipos de telespectadores, ouvintes e leitores. Contudo, essa ampliação tem possibilitado transformações nas práticas de leitura e apropriação do texto, uma vez que o assinante/usuário poderá selecionar o menu de informações que deseja receber e acessá-las de maneira rápida e com atualização instantânea, além de poder ele mesmo disponibilizar suas informações na rede. O termo Jornalismo Online, usado para designar versões eletrônicas de jornais impressos na Internet, não passa de uma metáfora, já que a noção de jornal sempre esteve associada ao papel, seu suporte material. O Jornalismo Online representa o surgimento de um novo veículo de comunicação que reúne características de todas as outras mídias, acrescido do fato de não ter limitações de espaço impostas a jornais e revistas, além de garantir a possibilidade de armazenamento e recuperação da informação. O uso da metáfora, porém, é útil principalmente para o usuário , que vai lidar com um produto que de alguma forma já lhe é familiar. Em parte, isso explica porque muitas empresas jornalísticas que mantêm versões online de suas publicações, optam por fazer quase que meramente uma transposição do 15 conteúdo impresso para a rede. A expectativa é a de que o Jornalismo Online, ao distanciar-se do modelo jornalístico e empresarial do jornal de papel, explore e encontre seus próprios caminhos neste ambiente multimidiático que é a Internet. Estima-se que o Jornalismo Online do futuro e o Jornalismo Online da atualidade mantenham a mesma distância que separa a linguagem televisiva dos primeiros programas de auditório da linguagem dos atuais videoclipes.7 A quebra da linearidade do texto, que permite ao usuário traçar seu próprio percurso de “navegação”, a partir de inúmeros links que são disponibilizados, tem sido apresentada como uma das mais significativas rupturas trazidas pelo texto digital, já que teria alterado radicalmente a verticalidade na relação escritor/leitor, rompendo todo um sistema de poder sobre o qual a experiência literária está fundada. A qualquer momento o leitor pode escolher outro link e seguir sua leitura noutros rumos. 1.2 Hipertexto: a linguagem do Jornalismo Online O hipertexto utilizado no ambiente das redes telemáticas vai permitir em uma mesma tela a coexistência de textos, sons e imagens, tendo como elemento 7 MIELNICZUK, Luciana. Interatividade e hipertextualidade no jornalismo online: mapeamentos para uma discussão. GT Jornalismo. Manaus: Intercom, 2000. CD-ROM. 16 inovador a possibilidade de interconexão quase instantânea através de links, não só entre partes de um mesmo texto, mas entre textos fisicamente dispersos, localizados em diferentes suportes e arquivos integrantes da teia de informação constituída pela Web. Trata-se de um padrão de organização da informação até então não utilizado na narrativa jornalística, sendo essencial buscar-se na teoria do hipertexto, caminhos que possam subsidiar especulações sobre os formatos da narrativa jornalística nessa nova situação de sua produção e consumo. Utilizando o hipertexto e funcionando no ambiente das redes telemáticas, o Jornalismo Online passa a apresentar características diferenciadoras em relação aos formatos precedentes do texto jornalístico. Para Bardoel e Deuze (2000)8 são quatro as características do Jornalismo Online: hipertextualidade, multimidialidade, interatividade e personalização. É evidente que nem todos esses elementos são novos. Com efeito, se buscamos entender o processo de transformação porque passa o jornalismo nesse novo formato, uma das palavras-chave dessa busca deve ser ‘potencialização’. Características que podem ser identificadas em outros suportes (impresso, rádio, TV) são estendidas e potencializadas na prática do Jornalismo Online. 8 BARDOEL, Jo & DEUZE, Mark. Network Journalism, http://home.pscw.uva.nl/deuze/publ9.htm 17 A constatação desse fenômeno de potencialização deve posicionar o analista no sentido de buscar compreender como muda o formato da notícia (e, portanto, sua produção e consumo) e não apenas o formato do veículo. Muitas vezes, as definições das características são elaboradas contemplando somente a esfera da publicação enquanto um todo, ou seja enquanto suporte, e não incluem a perspectiva da notícia em si. Veja-se o caso da interatividade: Bardoel e Deuze (2000) consideram que a notícia online possui a capacidade de fazer com que o leitor/usuário sinta-se parte do processo. Segundo eles, isto pode acontecer através da utilização de diversos recursos interativos como a troca de e-mails entre leitores e jornalistas, a disponibilização da opinião dos leitores em fóruns, os chats com jornalistas. Os autores, no entanto, não contemplam a perspectiva da interatividade no âmbito da própria notícia, ou seja, a navegação pelo hipertexto que, conforme Machado (1997), constitui também uma situação interativa. No Jornalismo Online, não se pode falar simplesmente em interatividade e sim em uma série de processos interativos. Adota-se o termo multi-interativo para designar o conjunto de processos que envolvem a situação do leitor de um jornal online. Entende-se que diante do computador conectado à Internet, o usuário estabelece relações: a) com a máquina; b) com a própria publicação, 18 através do hipertexto; e c) com outras pessoas - seja autor ou outros leitores através da máquina (Lemos, 1997, Mielniczuk, 1998). Com relação à personalização, além de pensar a configuração dos produtos de acordo com os interesses individuais dos usuários, pode-se considerar que o fato do usuário percorrer seus próprios caminhos, optando entre os links disponíveis e construindo uma linearidade narrativa particular (Palacios, 1999), também caracteriza uma forma de personalização. Ao incluir a esfera da notícia nas definições de interatividade e de personalização, acaba-se por estender tais definições. E a partir desta ampliação, torna-se possível afirmar que as características de multimidialidade, de interatividade e de personalização são constitutivas da hipertextualidade. Pois essa última vai implicar na existência de textos escritos, sonoros e visuais, que estão organizados em blocos de informações interconectados. E a leitura será feita através da navegação interativa por estes caminhos. Cada leitor irá percorrer um caminho único (personalizado) ditado pelas suas escolhas entre as opções possíveis. Cabe incluir uma quinta característica do Jornalismo Online (Palacios, 1999): a memória. Na Internet, o acúmulo de informações é mais viável técnica e economicamente do que em outras mídias, surgindo a possibilidade de armazenar 19 e acessar com maior facilidade material disponibilizado anteriormente, tanto no momento da produção, quanto do consumo da informação jornalística. Os arquivos online são um recurso que muitos veículos já oferecem em suas versões hipertextuais. Resgatando, mesmo que superficialmente, a definição de Theodor Nelson, autor da expressão, o hipertexto constitui-se em “uma escrita não seqüencial, num texto que se bifurca, que permite que o leitor escolha e que se leia melhor numa tela interativa. De acordo com a noção popular, trata-se de uma série de blocos de texto conectados entre si por nexos, que formam diferentes itinerários para o usuário” (Nelson apud Landow, 1995, p.15). A partir desta definição detecta-se três elementos - blocos de textos; ligações entre eles; e meio digital/tela do computador - que vão dar sustentação a uma dinâmica particular de funcionamento do hipertexto no que diz respeito à organização das informações (escrita) e ao acesso das mesmas (leitura). Segundo Lévy (1995) o hipertexto possui seis características básicas. Cabe dizer que o autor também as denomina de ‘princípios abstratos’ do hipertexto. Em linhas gerais, são eles: 1) Princípio de metamorfose, que referese ao fato da rede hipertextual encontrar-se em constante construção e renegociação; 2) Princípio de heterogeneidade diz que os nós de uma rede 20 hipertextual podem ser compostos de imagens, sons, palavras. 3) Princípio de multiplicidade e de encaixe das escalas, os nós ou conexões, podem ser eles mesmos uma rede de nós e conexões, sucessivamente; 4) Princípio de exterioridade , o crescimento e diminuição da rede, bem como sua composição e recomposição, dependem da adição ou subtração exterior de elementos ou conexões; 5) Princípio de topologia, o funcionamento ocorre por proximidade; 6) Princípio de mobilidade dos centros, os vários centros da rede são móveis, formando ao redor de si uma ramificação em estrutura de rizoma. Landow (1997), ao trabalhar a teoria do hipertexto vai apresentar o que ele considera as características do hipertexto: Intertextualidade - O hipertexto seria, essencialmente, um sistema intertextual, enfatizando uma intertextualidade que ficaria limitada nos textos em livros. As referências feitas a outros textos é potencializada no hipertexto através do recurso do link, que realiza as conexões entres os blocos de textos. Multivocalidade - A idéia de multivocalidade está relacionada ao conceito de polifonia de Bakhtin: a possibilidade da existência de diversas vozes na narrativa literária. A fragmentação do texto em léxias favoreceria a multivocalidade, pois como explica Ladow, “a voz é sempre aquela destilada pela experiência combinada do foco momentâneo, a lexia que se está lendo, e da 21 narrativa em contínua formação a partir da linha de leitura que o leitor segue” (1997, p. 36). Ocasionalmente, ocorre uma certa confusão no conceito de multivocalidade devido à facilidade de elaboração de textos colaborativos no meio digital, podendo ser interpretado também como a possibilidade de co-autoria na redação dos textos. Fato esse que não deixa de ser pertinente. Talvez por isso, o conceito de multivicalidade pudesse ser compreendido em relação a duas questões: a primeira, no sentido de múltiplas vozes, relativo à construção de uma narrativa literária e, em segundo, num sentido mais operacional, relacionado com a cooperação de vários autores para a criação de um mesmo texto ou narrativa. Descentralização - Esta característica refere-se ao fato de que, ao contrário dos textos impressos que propõem um centro, oferecem uma ordem para a leitura (que pode ou não ser obedecida pelo leitor), o hipertexto enquanto uma malha de blocos de textos interconectados oferece a possibilidade de movimentos de descentramento e recentramento contínuos. É o leitor, através dos seus caminhos de leitura, que vai elegendo temporariamente os sucessivos centros. Rizoma - É um conceito desenvolvido por Deleuze e Guattari, no livro intitulado Mil Platôs. Os autores utilizam a metáfora de um tipo de vegetação 22 aquática, que se desenvolve na superfície da água, não possuindo tronco ou caule, ela é totalmente ramificada. Segundo Landow (1997) o rizoma opõe-se a idéia de hierarquia, pois ao contrário da estrutura de uma árvore, um rizoma, em tese, pode conectar qualquer ponto a qualquer outro ponto, oferecendo muitos começos e muitos fins. Intratextualidade - Esta característica é citada por Landow (1995, p. 53) e refere-se às ligações internas estabelecidas entre léxias dentro do mesmo sistema ou site. É interessante observar que Lévy pensa o hipertexto como um mero recurso, uma tecnologia da escrita, enquanto Landow discorre sobre as características do hipertexto já pensando-o como uma possibilidade da escrita (hipertextual) literária. Mesmo partindo de perspectivas diferentes, as caracterizações propostas por ambos autores estão bastante próximas. O link é o elemento que configura melhor o uso do hipertexto. É através dele que o leitor vai eleger a próxima tela, bloco de texto, ou ainda, a notícia. Estando o leitor no centro eleito, como ele irá eleger e deslocar-se até o próximo centro? Isso acontecerá pela avaliação/negociação feita através do link. Esta negociação tem a ver com o link também enquanto título. A sensação de profundidade e imersão presente nos sites é proporcionada pela característica da linguagem HTML de construir links. Os links permitem que 23 a página não seja apenas lida em duas dimensões, mas que o usuário também entre no espaço. Por isso, são a base da linguagem hipertextual. Dentre as infinitas conexões possíveis na rede, apenas os links escolhidos formam o caminho do hipertexto e possibilitam filtrar o mundo de informações disponível. Sendo assim, é possível afirmar que os links são modos de forjar relações semânticas entre diversos assuntos. Na terminologia lingüística, o link (elo) representa o papel da conjunção na frase, juntando duas idéias separadas. Ele junta uma série de conhecimentos, trazendo algum tipo de ordem. A questão passa a ser, então, não mais qual é essa ordem, mas quem a define. 1.3 Hipertexto: questões para a recepção O link tem a função de realizar a transição entre o mundo do leitor e o mundo do texto. Além de viabilizar a negociação, é o link que vai operacionalizar essa escolha. E aqui que a função de transição é ampliada para o âmbito do hipertexto, possibilitando a passagem entre os textos durante a navegação. Ao mesmo tempo em que os links emolduram a notícia estabelecendo limites ao texto, esta moldura funciona como zona de contato, possibilitando a transição entre os textos/notícias. Talvez a Internet seja o meio mais conhecido para se pensar no processo 24 de leitura hipertextual. No entanto, é possível observar tais relações em vários outros setores de nossas vidas. Sempre que caminhos são traçados e opções de bifurcações aparecem, têm-se uma estrutura hipertextual. Por exemplo, as relações de comunicação. De acordo com Pierre Lévy, em uma conversa, cada nova mensagem coloca em jogo o contexto e seu sentido. Cada frase colocada vai definindo o rumo da conversa e construindo um caminho ainda não definido e que pode mudar a cada instante. O contexto, longe de ser um dado estável, é algo que está em jogo, um objeto perpetuamente reconstruído e negociado. Ao mesmo tempo, cada palavra constrói redes de significação transitórias na mente de um ouvinte, que terão significado diferente para cada pessoa, dependendo das associações anteriores. Ninguém percorre o hipertexto da mesma maneira. Assim, é possível dizer que cada palavra ou cada texto não apenas ilumina ou traz à tona uma rede de associações, como também muda toda essa rede. Cada vez que um caminho é percorrido, algumas conexões são reforçadas, outras caem em desuso. No entanto, o hipertexto também é análogo à maneira como o cérebro funciona. Recentes estudos de neurociências sugerem que nossa maneira de pensar, de fato, ocorre em rede. O modelo do hipertexto é análogo ao modo como o cérebro trabalha: uma intrincada rede de neurônios conectados por trilhas de energia elétrica, gerando informação mais das conexões do que das identidades 25 fixas. Os neurônios funcionam como se fossem blocos de construção desta rede, mas o pensamento acontece quando os caminhos são percorridos pela rede elétrica. As idéias emergem de milhões de neurônios e de suas combinações. Clicar em um link é muito mais rápido do que folhear um livro, o que muda completamente a relação do leitor com o meio. De acordo com Pierre Lévy9, "a pequena característica de interface "velocidade" desvia todo o agenciamento intertextual e documentário para outro domínio de uso, com seus problemas e limites. Por exemplo, nos perdemos muito mais facilmente em um hipertexto do que em uma enciclopédia. (…) É como se explorássemos um grande mapa sem nunca podermos desdobrá-lo, sempre através de pedaços minúsculos." E aí entra a segunda característica do hipertexto eletrônico: ele é aberto. Construir um hipertexto na rede é como traçar um labirinto insolucionável, muito diferente dos livros hipertextuais onde sempre há um fim. Questionar os padrões lineares do tempo e de leitura sempre foi possível, mas, livros e filmes são limitados pelo número de páginas, e sempre terão um início, um meio e um fim. Num campo onde tem tanta informação espalhada e para todos os gostos, o internauta precisa ser um pouco investigador “procurador” para encontrar o que 26 realmente interessa. Como cada um pode colocar suas informações da maneira que bem entender. Encontrar o que realmente se procura, se tornou uma tarefa difícil. No caso de informações jornalísticas, o navegador poderá ir diretamente a sites noticiosos de grande renome. As grandes redes de comunicação que dominam a televisão, o rádio e os veículos impressos, têm também grandes portais na Internet, onde encontramos as informações veiculados nos outros meios. Estes portais são visitados pela sua credibilidade e pela atualização das informações. Estudar o receptor, como propõe o capítulo seguinte, não é tarefa fácil num meio de comunicação tão recente e com formato ainda não bem definido. Sabe-se que este novo meio, chamado Internet, reúne o rádio, a televisão, o jornal e a revista, num só grande meio. 9 LÉVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência. O futuro do pensamento na era da informática. São Paulo: Editora 34, 1993. 2 RECEPTOR Estudar a recepção, ou como prefere Robert White10, estudar a interpretação das audiências “é baseada na premissa de que produtores e usuários de mídia interagem na elaboração do significado de modo similar à maneira que o significado é criado nas interações pessoais.” Uma informação recebida da mesma maneira causa diferentes significados para grupos de pessoas diferentes. Algumas culturas encontram meios para propor identidades, seja através da tradição oral da narrativa de histórias, seja através de outros meios; e hoje isso é feito principalmente pelos meios de comunicação. Lindlof, Jensen11 e outros pesquisadores acham que um dos atalhos tomado pela maioria das análises de Interpretação das Audiências encara o público como 10 WHITE, Robert A. Tendências dos estudos de recepção. Comunicação & Educação, São Paulo: vol 13 p.41 à 66, set/dez.1998. 11 LINKLOF, Thomas R. Media audiences as interpretative communities. JENSEN, Klaus Bruhn. When is meaning? Pragmatism and mass media reception. In: Artigos internacionais, Tendências dos estudos de recepção. Comunicação & Educação, São Paulo: vol 13 p.41 à 66, set/dez.1998. 28 um agregado de indivíduos isolados, cada um construindo uma leitura pessoal sem relação com os demais membros de sua comunidade. “... uma mensagem não produz jamais, de uma forma automática, um sentido e sim um campo de efeitos de sentidos. A relação entre a produção e a recepção (...) é complexa: não há causalidade linear no universo do sentido”.12 As comunidades interpretativas não são definidas por laços de parentescos, mas por práticas comuns de uso da mídia. A maior parte da experiência televisiva dos membros de uma família é compartilhada com outras pessoas da mesma comunidade interpretativa. “Potencialmente, todos os estudos etnográficos atuais sobre a audiência eletrônica sugerem que a maior experiência que se pode ter com a mídia é tornar-se parte de uma comunidade interpretativa de fãs.” Jenkins, Henry.13 O grande risco do novo paradigma é ceder à tentação de apresentar-se como a solução mágica para entender os problemas colocados na relação entre os meios de comunicação de massa e seu público receptor. Em outras palavras, corre-se o risco de convertê-la no universo simétrico da teoria da manipulação e 12 BRITO, Rosaly Seixas e PRADO Ana. A vez dos donos da voz (?): reflexões acerca do jornalismo online. GT Jornalismo. Manaus: Intercom, 2000. CD-ROM. 29 se tornar prisioneiro de um movimento circular. Pois se o sentido se constrói na interface do que é veiculado e o universo do receptor, cabe perguntar – como se constitui este universo cultural? Ele não está também moldado pela versão massmediática de uma cultura hegemônica?14 Algumas das mais interessantes tenndências de pesquisa que seguem esta abordagem são os estudos sobre a recepção dos programas de televisão. Esses programas são utilizados como o meio através do qual se formam cadeias de discussão entre grupos particulares, e especificamente, como meio de definição e validação de identidades. As pessoas se identificam pelo que assistem e depois discutem em grupo no ambiente organizacional e em outros encontros na comunidade. Com a disseminação da Internet, já está começando a acontecer o mesmo que aconteceu com a televisão. Quando uma notícia é publicada, logo pode ser distribuída pelo e-mail ( hoje mais conhecido). Nos sites dos jornais, aparecem links para envio da mensagem para amigos e colegas. Esta prática poderá se 13 JENKINS, Henry. Textual poachers: fans & participatory culture. London: Routledge, 1992. In: Artigos internacionais, Tendências dos estudos de recepção. Comunicação & Educação, São Paulo: vol 13 p41 à 66, set/dez.1998. 14 BRITO, Rosaly Seixas e PRADO Ana. A vez dos donos da voz (?): reflexões acerca do jornalismo online. GT Jornalismo. Manaus: Intercom, 2000. CD-ROM. 30 tornar cada vez mais comum na medida que mais pessoas tiverem acesso a Internet. Com a televisão acontece muito a conversa entre colegas de trabalho e amigos que comentam os fatos ou noticiários assistidos na noite anterior. 2.1 Recepção e Cultura A identidade cultural constitui um fenômeno de auto-reconhecimento, tanto em nível individual quanto no coletivo, e neste configura um sistema de referência em que todos se enxergam ao olhar o outro. A identidade cultural só é reconhecível no coletivo, como uma espécie de espelhamento da imagem social, em que os meios de comunicação desempenham uma função também referencial, na medida em que podem espelhar ou não a imagem do coletivo em questão. Ao espelhar, demonstram estar inseridos no espaço cultural e social do qual são fruto; ao não espelhar, evidenciam seu deslocamento e as outras possibilidades de identificação de um grupo social. De qualquer forma, a questão é muito mais complexa, ambígua e dinâmica, pois se dá em presença de muitas e diferentes variáveis, que interagem. Entretanto, não há dúvida de que os meios de comunicação, especialmente a TV, são atualmente o maior espelho do corpo social, e que ainda tentam 31 destacar a cara da nacionalidade. Como esta é sobretudo uma construção ideológica, o auto-reconhecimento por parte de segmentos significativos dos receptores pode não se concretizar, uma vez que seus referenciais culturais são outros, baseados na identidade cultural. Colocada como interlocutora, a identidade cultural realiza a contextualização do homem com seu meio, seu grupo, sua história, em um processo de consciência que impede sua alienação. Desta forma, a identidade cultural desempenha um papel fundamental entre o sujeito, individual ou social, e a realidade circundante, mediando os processos de produção e de apropriação dos bens culturais. É essa mediação que garante significado da produção cultural e o sentido do consumo de bens culturais para determinados grupos, sem a qual torna-se um processo vazio, com perigo para tornar-se um ato alienado e alienador. 2.2 A identidade na Internet Hoje em dia, as pessoas estão sendo ajudadas a desenvolver idéias sobre a identidade enquanto multiplicidade através de uma nova prática da identidade na vida online. As identidades virtuais são objetos propiciadores do pensamento. Quando as pessoas adotam relações online, provocam reconfigurações ou outras dinâmicas, cheias de significados e implicações. Algumas experimentam uma 32 sensação desconfortável de fragmentação, outras uma sensação de alívio. Algumas pressentem as possibilidades de autodescoberta, ou até de autotransformação do que lhes é oferecido. No passado, a rápida alternância entre diferentes identidades não era uma experiência facilmente acessível. As pessoas assumiam diferentes papéis e máscaras sociais, mas, na maioria dos casos, o seu envolvimento vitalício com uma determinada família e comunidade mantinha esta alternância sob um controle bem apertado. Em alguns casos, este controle abria brechas, e havia papéis nas margens da sociedade que permitiam fazer da alternância uma forma de vida. Na era moderna, havia o vigarista, o bígamo, o travesti, segundo Sherry Turkle.15 Agora, na era pós-moderna, as identidades múltiplas perderam grande parte do seu caráter marginal. Muitas pessoas apreenderam a identidade como um conjunto de papéis que podem ser misturados e acoplados, cujo leque variado de exigências precisam ser harmonizadas. A Internet converteu-se num laboratório social significativo para realização de experiências com as construções e reconstruções do eu que caracterizam a vida pós-moderna. Na sua realidade virtual, moldamo-nos e criamo-nos a nós mesmos. 33 O anonimato dos MUDs (Multi-Users Domains) como prefere dizer Sherry Turkle em seu livro “Life on the screen”, para nós são os famosos chats, onde só somos conhecidos pelo nome da nossa personagem ou personagens, dá às pessoas a oportunidade de expressarem múltiplas facetas da sua personalidade, muitas vezes inexploradas, de brincar com a sua identidade ou experimentar novas identidades. Os chats tornam possível a criação de uma identidade tão fluida e múltipla que desafia os limites do próprio conceito. Afinal de contas, a identidade refere-se a uma semelhança rigorosa entre duas qualidades, neste caso entre uma pessoa e a sua máscara. Porém, nos chats, uma pessoa pode ser várias. Quando as pessoas podem fingir que têm diferentes sexos e diferentes vidas, não é de se espantar que, para algumas, este jogo se torne tão real como aquilo a que convencionamos chamar de sua vida, embora para elas esta distinção já não seja válida.16 Usamos os computadores para nos habituarmos às novas maneiras de pensar acerca da evolução, das relações entre as pessoas, da sexualidade, da política e da identidade. Os computadores não se limitam a fazer coisas por nós, 15 TURKLE, Sherry. A Vida no Ecrã. A Identidade na Era da Internet. Lisboa: Relógio D’Água Editores, 1997. 16 TURKLE, Sherry. op. cit. 34 fazem-nos coisas a nós, incluindo as nossas formas de pensar acerca de nós mesmos e das outras pessoas. Há uma década, estes efeitos subjetivos da presença do computador eram secundários, no sentido em que não eram procurados pelas pessoas. Hoje, as pessoas recorrem explicitamente aos computadores em busca de experiências que possam alterar suas maneiras de pensar ou afetar a sua vida social e emocional. Quando as pessoas exploram jogos de simulações e mundos de fantasia ou entram em uma comunidade onde têm amigos e amantes virtuais, não pensam no computador como aquilo a que Charles Babbage, o matemático do século XIX que inventou a primeira máquina programável, chamou um maquinismo analítico. Procuram no computador, isso sim, uma máquina intimista. Os monitores dos computadores são os novos cenários para as nossas fantasias, tanto erótica como intelectuais. Os computadores, no meu entender, também são fontes de mediação, pois são meios, intermediários, que ajudam na comunicação. O próximo item irá explicar o que é a mediação e como ela ocorre, segundo Orozco, Barbero, entre outros. 35 2.3 As Mediações Tal como acontece com o termo recepção, ainda não se sabe bem o que se entende por mediação. No livro, O adolescente e a televisão, escrito pelos professores Pedro Gomes e Denise Cogo, o termo mediação é definido por Angel Pinto, como toda intervenção de um terceiro elemento que possibilita a interação entre os termos de uma relação. (E continua), neste trabalho, o termo mediação é utilizado para designar a função que os sistemas gerais de sinais desempenham nas relações entre os indivíduos e destes com o seu meio. Mais especificamente, é utilizado para designar a função dos sistemas de signos na comunicação entre os homens e na construção de um universo sócio cultural.17 No mesmo livro, Orozco diz que a mediação se manifesta por meio de ações e do discurso, mas nenhuma ação singular ou significado particular constitui uma mediação propriamente. A mediação parece ser um processo estruturante mais complexo e difuso, diferente da soma de seus componentes. A mediação não deve ser entendida como um objeto de observação, mas como algo semelhante à 17 PINTO, Angel. O conceito de mediação semiótica em Vygotsky e seu papel na explicação do psiquismo humano. In GOMES, Pedro Gilberto, COGO, Denise. O Adolescente e a Televisão. São Leopoldo: ed Unisinos, 1998. p.24. 36 classe social, que ninguém pode ver.18 Na realidade contemporânea, uma das principais mediações entre nós e a realidade objetiva são os meios de comunicação. Nosso conhecimento do mundo, desde as situações que povoam nosso cotidiano até aquelas que ocorrem a quilômetros de nós, está mediado pela mídia. Se hoje em dia o computador é usado para ler os noticiários que antes só eram vistos na TV, no Rádio e no Jornal, então este computador é um meio usado entre o emissor e o receptor. Ele pode também ser usado como um mediador dos fatos. Segundo Orozco (1993), os meios são considerados fontes das mediações, além é claro de todas as demais fontes como cultura, política, economia, classe social, gênero, idade, etnicidade, as condições situacionais e contextuais, as instituições e os movimentos sociais. Também se originam na mente do sujeito, em suas emoções e experiências. Orozco divide as mediações em quatro grupos: a individual, a situacional, a institucional e a videotecnológica. A mediação individual “surge do sujeito, tanto como indivíduo com um desenvolvimento cognoscitivo e emotivo específico, quanto 18 OROZCO, Guillermo. Hacia uma dialéctica de la recepción televisiva. In GOMES, Pedro Gilberto, COGO, Denise. O Adolescente e a Televisão. São Leopoldo: ed Unisinos, 1998. p.28-29. 37 em sua qualidade de sujeito social, membro de uma cultura”.19 Já da mediação situacional Orozco diz que “se multiplica de acordo com os diferentes cenários nos quais se desenvolve a interação”. As instituições sociais medeiam a agência do sujeito de diferente maneiras. Uma maneira é significando os roteiros de uma teleauditório para a integração social. Cada instituição tem uma esfera diferenciável de significados, ainda que todas as instituições compartilhem vários aspectos e tenham elementos básicos em comum que precisamente as convertem em instituições.20 Outro tipo de mediação é a tecnológica. Orozco defende que a mediação própria da TV não é um processo estruturador derivado somente das características videotecnológicas gerais do meio, mas um processo muito específico que se origina principalmente em gêneros televisivos por meio dos quais a TV efetua um localização concreta de seu auditório.21 As mediações são múltiplas e se influenciam reciprocamente. Não é por exemplo, apenas a faixa etária do indivíduo/sujeito que vai conduzir sua percepção. A essa mediação se juntam as demais: classe social, gênero, etnia, 19 OROZCO, Guillermo. Hacia uma dialéctica de la recepción televisiva. In GOMES, Pedro Gilberto, COGO, Denise. O Adolescente e a Televisão. São Leopoldo: ed Unisinos, 1998. 20 OROZCO, op. cit. 21 OROZCO, op. cit. 38 nível de escolaridade, etc. Para Martin Barbero22 as mediações são: esse lugar a partir do qual é possível compreender a interação entre o espaço da produção e o da recepção: o que se produz na televisão não atende unicamente às necessidades do sistema industrial e às estratégias comerciais, mas também às exigências que vêm da trama cultural e dos modos de ver. Estamos afirmando que a televisão não funciona se assumir – e, ao assumir, legitimar – as demandas que vêm dos grupos receptores; mas, por sua vez, não pode legitimar essas demandas sem ressignificá-las em função do discurso social hegemônico”. Espaço de passagem, as interações entre pólos às vezes opostos, as mediações se constituem em elementos fundamentais para se pensar e se atuar no campo da comunicação, lugar de produção do conhecimento. Constituem, também, elemento fundamental para se pensar a recepção ( e não o consumo) dos bens culturais.23 Para Maria Aparecida Baccega, a primeira mediação se dá no âmbito da produção, a mediação que manifesta o modo que se organiza essa produção, seja o programa de rádio ou televisão, seja a notícia, seja a publicidade. Trata-se da mediação institucional, que leva em consideração seu público receptor, 22 23 MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações. Rio: Ed.UFRJ, 1997. BACCEGA, Maria Aparecida. O campo da comunicação/educação e as práticas de recepção: o papel da mediações. GT Mídia e Recepção. Anais do Encontro da Associação Nacional dos Programas de Pós Graduação em Comunicação (COMPÓS). 2001. CDROM. 39 procurando selecionar o que há de mais conveniente tanto aos interesses da empresa a que pertence aquela mídia, quanto ao perfil médio do público, levando ao senso comum, a uma repetição que procura travar o dinamismo da história. Se é verdade que o receptor mobiliza seu universo cultural para interpretar o que aparece nos meios de comunicação, também é verdade que temos que levar em conta o filtro que antecede o que ele está vendo, ouvindo e lendo. Ele só interpretará aquilo que chegou ao seu conhecimento. Deslocar o eixo das pesquisas para as mediações não significa desconsiderar a importância dos meios, mas evidenciar que o que se passa na recepção é algo que diz respeito ao seu modo de vida, cuja lógica deriva de um universo cultural próprio, incrustado em uma memória e em um imaginário que são decorrentes de suas condições concretas de existência.24 Por mediação tecnológica, designa-se o fenômeno representado pela incidência das novas tecnologias da informação nas práticas comunicativas. A primeira mediação que a recepção introduz, vista como um lugar e não como etapa, é a questão das anacronias e das diferentes relações com o tempo. Ao contrário da visão hegemônica, não há só uma história, não há só uma direção da história. A concepção progressista da história, de que ela vai numa só direção, 24 SOUSA, Mauro Wilton. (org). Sujeito, o lado oculto do receptor. São Paulo: Brasiliense, 1995. Pág. 153. 40 impediu de ver a multiplicidade de temporalidades, a multiplicidade de histórias, com seus próprios ritmos e com suas próprias lógicas. Assim, a primeira questão que se introduz na investigação da recepção é a de que não há mais só uma história. Em segundo lugar, vem a mediação das novas fragmentações sociais e culturais. Essa fragmentação do habitat cultural vem reforçar a mais velha e mais estrutural das divisões sociais, que é a divisão entre os que ascendem de alguma forma ao poder, ou seja, os que tem informação para tomar decisões – e sabemos que hoje o poder passa cada vez mais pela informação -, e a imensa maioria da população, para a qual os meios de comunicação se dirigem. O artifício consiste em nos darmos conta de que a verdadeira proposta do processo de comunicação e do meio não está nas mensagens, mas nos modos de interação que o próprio meio transmite ao receptor. Assim, é interessante saber que a recepção é um espaço de interação.25 As novas tecnologias de comunicação – informática, fibra ótica, satélite, bancos de dados, etc. – estão reforçando a divisão entre a informação e a cultura dirigidas para aqueles que tomam decisões na sociedade, e outro tipo de informação e de cultura voltado para o entretenimento das grandes massas. 41 Hoje há um obsolescência muito rápida, não só dos aparatos, como também dos conhecimentos, das habilidades, das destrezas. Há uma fragmentação muito grande entre os jovens, que possuem uma espécie de empatia com a nova cultura tecnológica, e os adultos, que se sentem impedidos de entrar nessa nova sensibilidade. Na medida que os objetos, dotados de significados personalizados e familiares, funcionam com uma extensão do próprio eu, a linguagem com a qual a gente discute sobre suas tecnologias nos fala de suas identidades, necessidades, desejos, assim como de suas formas de interpretar o mundo e de relacionar-se entre si (Lunt e Livingstone, en prensa). Homens e mulheres compartilham de diferentes maneiras um discurso que descreve suas posições, se observam também diferenças importantes: uns e outros utilizam a maioria das tecnologias domésticas, mas o uso que fazem destas pode ser muito diferente, e, por isso também, a sua compreensão. Por exemplo, todos assistem televisão, mas em diferentes momentos durante o dia para ver programas diferentes, uns e outros usam o telefone, mas para fazer chamadas de diversos tipos, também alguns escutam rádio para acompanhar as atividades do lar. As diferenças em sua justificação e compreensão destas tecnologias domésticas pode-se caracterizar 25 SOUSA, Mauro Wilton. (org). op. cit. 42 amplamente a partir de quatro construções chave: a necessidade, o controle, a funcionalidade e a sociabilidade.26 Os estudos sobre a família são importantes para conhecer com exatidão tudo que, com o passar do tempo, resultou da entrada das tecnologias da comunicação e informação, assim como a resistência as mesmas e a sua regulamentação no ambiente familiar. O significado deste assunto está claramente citado em atuais projetos de investigação, como por exemplo, o estudo referente a “domesticação” da tecnologia27, quer dizer, a entrada das tecnologias na vida doméstica, no lar de cada um. É o uso de equipamentos sofisticados por todos os membros do grupo familiar. Exemplo: microondas, videocassete, etc. 26 SILVERSTONE, Roger. HIRSCH, Eric (eds.) Los efectos de la nueva comunicación – el consumo de la moderna tecnología en el hogar y la familia. Barcelona: Bosch, 1996. 354p. 27 SILVERSTONE, Roger. HIRSCH, Eric (eds.) op. cit. 3 JORNALISMO ONLINE – A PESQUISA DE RECEPÇÃO 3.1 Percurso metodológico Quando comecei com o projeto deste trabalho, o maior desafio era saber se os internautas usavam a Internet à procura de informações ou somente para o entretenimento. Achava até que muitos só a utilizavam para as salas de batepapo. Este desafio surgiu a partir de 1997, quando fiz o curso de Jornalismo Online, o primeiro ou um dos primeiros da América Latina, na Unisinos. Quando começamos a pensar nos entrevistados desde trabalho, surgiu a discussão de como seria o formulário de perguntas a ser aplicado entre os usuários da Internet. Eu precisava saber um pouco dos hábitos de navegação para saber o que os tais internautas estavam realmente fazendo na hora de entrar na grande rede. Me preocupei muito mesmo em saber se as pessoas acessavam com freqüência a notícias online. Definidas as perguntas, optei então por um questionário eletrônico e 44 busquei as respostas pela Internet, disponibilizando o formulário em um site pessoal28 (anexo 1). No questionário, fui em busca de questões básicas como os hábitos de navegação, freqüência de uso, acessos a rede em casa e no trabalho, qual a freqüência de entrada em portais de Jornalismo Online, e se a Internet é usada para os afazeres no trabalho. Após a definição das perguntas e a própria montagem do formulário para ser respondido na rede, fiz uma lista de 12 endereços eletrônicos (sete do sexo masculino e cinco do sexo feminino), com os quais tive contato através de listas de e-mail. Para a montagem do formulário eletrônico, tive que apreender um pouco mais da linguagem html, pois não conseguia entender como funcionava a entrega eletrônica das respostas dos entrevistados. Após vencer este desafio, enviei um e-mail para esta lista explicando os motivos da carta e indicando um link para o formulário de pesquisa. Após acessar o site, o pesquisado preencheria os dados e enviaria através da rede. As respostas foram remetidos diretamente para minha caixa postal eletrônica. Neste processo, o mais interessante foi a rapidez com que obtive as respostas dos pesquisados. Os e-mails foram enviados em 24 de julho às 28 RECKZIEGEL, Sadi. Pesquisa: Recepção em Jornalismo Online. Disponível na Internet. 45 21h21min29, e as primeiras respostas começaram a aparecer logo após o envio.30 Oito respostas chegaram nas primeiras 24 horas de pesquisa. Este índice indica que a maioria das pessoas acessou pelo menos uma vez neste intervalo, a sua caixa postal eletrônica (e-mail), e não exclui as demais, pois estes podem ter acessado mas não preenchido logo o formulário. Mais duas respostas chegaram no dia seguinte31, outra, alguns dias após32, e a última veio dia 9 de agosto33. Este pediu desculpas pela demora na resposta, porque havia esquecido. Um fato curioso envolve uma amiga de uma das pesquisadas. Ela quis fazer parte da pesquisa e também respondeu às questões. Na verdade, se todos tivessem respondido a pesquisa, eu teria mais respostas do que pessoas consultadas por email. Com base nas respostas apresentadas pelos pesquisados, faço a seguir algumas considerações sobre a recepção propriamente dita, a partir da organização dos dados pesquisados nas seguintes categorias: Usos do Jornalismo online, Temporalidade, Confiança na rede, As Mediações. http://www.sadireckziegel.hpg.ig.com.br/FormTC.html. 23 jul. 2001. 29 To: @LIST0CC5.PML Subject: Pesquisa: Recepcao em JOL Date sent: Tue, 24 Jul 2001 21:21:44 30 25/07/01 - 09:43:11, 25/07/01 - 14:55:16, 25/07/01 - 17:30:07, 25/07/01 - 21:24:28, 25/07/01 31 Formulário enviado em 14:47:32, 27/07/01 - 14:31:51, 27/07/01 32 Formulário enviado em 17:18:37, 03/08/01 46 3.2 Perfil dos usuários da Internet A seguir, faço uma descrição de cada um dos 12 entrevistados pesquisados através da Internet. Entrevistado 1 A Webwriter, com idade entre 31 e 40 anos e terceiro grau incompleto, mora em são Leopoldo. Tem jornada de trabalho de oito horas e utiliza o computador há 9 anos. Teve o primeiro contato com a máquina na empresa. Atualmente, tem computador em casa, o qual é dividido com o esposo. A motivação para compra foi o trabalho, a faculdade e o lazer. O programa mais utilizado é o Internet Explorer e o programa de e-mail. Fica conectada à Internet durante 20 horas semanais e utiliza o provedor NetU (da Unisinos). Tem hábito de entrar em sites de notícia em todas as conexões. Os sites preferidos são o Terra e o NO (anexo 7). Possui e-mail gratuito e recebe em média 300 mensagens por semana. Faz parte de listas de discussão, acessa a sua conta bancária pela Internet e se diz satisfeita com as 33 Formulário enviado em 21:54:01, 09/08/01 47 compras online que já fez. Utiliza também a Internet no seu trabalho para disponibilizar conteúdo e diz que, na empresa, o acesso é liberado. Quanto ao acesso a outras mídias, ouve as rádios Gaúcha e PopRock, tem um aparelho de TV em casa e assiste em média uma hora por dia. Não tem assinatura de jornais ou revistas. Entrevistado 2 O estudante de Jornalismo com idade entre 21 e 30 anos, residente em São Leopoldo, tem quatro componentes em seu grupo familiar, utiliza o computador há sete anos. O primeiro computador que teve contato foi um 386 pertencente à empresa em que trabalhava. Hoje possui computador em casa, e a motivação para compra foi o trabalho, a faculdade e a Internet. No grupo familiar, só o pai não utiliza o computador que fica situado no escritório da casa. Quanto ao acesso a outras mídias, o futuro jornalista ouve as rádios Cidade, Gaúcha, Guaiba e União, assiste em média uma hora de TV por dia, não tem assinatura de jornais e revistas e também não tem TV por assinatura. Entrevistado 3 A secretária com idade entre 21 e 30 anos, com terceiro grau incompleto, 48 residente em Porto Alegre, possui seis componentes no seu grupo familiar. Tem um computador em casa que fica instalado no quarto do irmão. Todos utilizam o computador que já faz parte da vida da secretária há sete anos. Os programas mais utilizados são o Word, Excel, Internet Explorer e E-mail. Tem acesso à Internet em casa e na empresa, onde o acesso é liberado. Fica plugada na Internet durante oito horas semanais. Nas suas navegadas, aproveita para dar uma olhada nas notícias sempre que tem interesse e prefere o UOL para consulta de informações. Em casa, usa o computador para trabalhos da faculdade, correio eletrônico e entretenimento. Recebe em torno de 25 e-mails por semana. Acessa também a conta bancária pela rede. O próprio trabalho da secretária exige que ela utilize a Internet para receber e enviar correspondências, convocações, entre outras coisas. A secretária não tem assinatura de jornais, revistas e TV a cabo. Ouve as rádios Cidade, Atlântida e União. Assiste em média uma hora de TV aberta por dia. Entrevistado 4 A Jornalista com idade entre 21 e 30 anos, de São Leopoldo, trabalha oito horas diárias e utiliza o computador há seis anos. O primeiro computador que teve acesso era de sua propriedade. A motivação para compra foi a faculdade e o 49 desejo de obter experiência profissional. Define o computador como “a ferramenta do futuro”. Tem dois computadores em casa. Um fica instalado no quarto de seus pais e outro no seu quarto. Para acessar a Internet, utiliza o provedor gratuito “IG” e fica plugada em média quatro horas semanais. Procura na Internet informação, entretenimento e usa o webmail. Recebe uma média de 100 e-mails por semana e também assina listas de discussão. Tem medo de comprar online por causa do “sigilo dos dados pessoais e da mercadoria comprada não ser boa”. Na empresa em que trabalha, o acesso a Internet não é liberado, mas ela utiliza para consultas em geral, e-mails. A jornalista possui quatro aparelhos de TV em sua casa e assiste em média mais de quatro horas/dia. Não tem assinatura de revistas nem de TV a cabo. Suas emissoras favoritas são a Jovem Pan, Atlântida e Ativa, e salienta que gosta de música e não procura muita informação no rádio. Entrevistado 5 O analista de suporte com idade entre 15 e 20 anos, residente em São Leopoldo e terceiro grau incompleto, utiliza o computador há cinco anos. Tem computador em casa e fica conectado à Internet durante 12 horas por semana. 50 Entra em sites de notícia sempre que tem interesse. Clic RBS, Agestado e UOL são os favoritos. Tem webmail gratuito. Usa o computador para o trabalho e a faculdade. Quando está na Internet procura entretenimento e informação. Recebe cerca de 600 e-mails por semana. Assina algumas listas de discussão, acessa a conta bancária e já fez compras pela Internet. Usa a Internet no trabalho, onde o acesso é liberado, para leituras técnicas. Quanto aos acessos a outras mídias que não a Internet, o analista de suporte têm três aparelhos de TV em casa e assiste em média uma hora/dia. Têm também assinatura do jornal Vale dos Sinos e da revista Infoexame. O analista não possui acesso a TV por assinatura. Entrevistado 6 O Jornalista com idade entre 21 e 30 anos, morador de São Leopoldo, tem jornada de trabalho de seis horas e utiliza o computador há cinco anos. Tem computador em casa, e a motivação para compra foram os trabalhos de faculdade, e a necessidade de uso de e-mails profissionais e pessoais. Os programas mais utilizados são o Word, Internet Explorer, E-mail e jogos. O computador é dividido com sua irmã, e fica instalado no quarto dela. O provedor de acesso a Internet que o jornalista usa é o Tutopia e fica plugado em média 30 horas semanais. 51 Quanto à outras mídias, o jornalista ouve às rádios Gaúcha, Ipanema, 103.3 e PopRock. Possui três aparelhos de TV em casa e assiste em média uma hora/dia. Têm assinatura do Jornal do Comércio e da revista Veja. Não têm assinatura da TV paga. Entrevistado 7 O auxiliar administrativo, com idade entre 15 e 20 anos e terceiro grau incompleto, residente em São Leopoldo, utiliza o computador há seis anos. Tem jornada de trabalho de oito horas. Possui computador em casa e lembra que o seu primeiro era um 386. A motivação para compra foi o trabalho e a escola. Os programas mais utilizados são o Word, Excel, Internet Explorer, Netscape e Email. Faz conexão à Internet através do provedor gratuito Tutopia. Fica conectado 20 horas semanais. Quanto ao acesso a outras mídias, o auxiliar administrativo ouve as rádios Gaúcha, Guaiba, Bandeirantes e Atlântida. Assiste em média três horas de TV por dia e possui uma televisão em sua casa. Têm assinatura do jornal Vale dos Sinos e não possui TV a cabo. Entrevistado 8 O Jornalista, com idade entre 21 e 30 anos residente em Porto Alegre, 52 utiliza o computador há 10 anos. Lembra do modelo do seu primeiro computador: um XT. Seu grupo familiar é formado por três pessoas e todos utilizam o computador. Os programas mais usados são o Word, Pagemaker, Quark, Photoshop, E-mail e Internet. Na casa do jornalista, o computador fica instalado na sala de estar. O computador é usado à noite quando todos chegam em casa. Acessa a Internet pelo provedor Terra. Quanto a outras mídias, o jornalista têm acesso à TV paga, e possui três aparelhos de televisão em casa. Assiste em média quatro horas/dia. Têm assinatura dos jornais Zero Hora e Correio do Povo e das revistas Bizz, Set, MTV, Amanhã, Eaí e Atlântida. Entrevistado 9 A recepcionista com e idade entre 15 e 20 anos e segundo grau completo, residente em Novo Hamburgo, utiliza o computador há quatro anos. Sua jornada de trabalho é de oito horas diárias e seu grupo familiar é composto de três pessoas. Utiliza a Internet no seu trabalho para verificar inscrições e os dados dos inscritos. As rádios favoritas são a Cidade e a União. Têm dois aparelhos de televisão em casa e assiste em média quatro horas por dia. Não possui assinatura 53 de jornais, revistas e TV paga. Entrevistado 10 A Auxiliar de recepção com idade entre 21 e 30 anos e terceiro grau incompleto, residente em São Leopoldo, utiliza o computador há apenas um ano. Tem jornada de trabalho de oito horas, e o primeiro contato com a máquina foi na empresa que trabalha. Os programas mais utilizados são o Word, Excel e Internet Explorer. Possui webmail grátis e fica plugada na rede uma média de cinco horas semanais. Quanto ao acesso a outras mídias, a auxiliar de recepção ouve a União FM, assiste em média uma hora de TV por dia e têm um aparelho de TV em casa. Entrevistado 11 O estagiário de 21 a 30 anos com o terceiro grau incompleto, residente em São Leopoldo, utiliza o computador há seis anos. Trabalha oito horas por dia, e seu grupo familiar é formado por cinco pessoas. O primeiro computador que teve acesso era dele, um Pentium 100. A motivação para compra foram os trabalhos escolares. Os programas mais usados são o Word, Excel e Internet Explorer. Todos os cinco componentes do grupo familiar usam o computador que fica instalado no quarto do entrevistado. O acesso a Internet é feito através do 54 provedor Tutopia. Fica conectado em média duas horas semanais. Quanto a outras mídias, o estagiário ouve às rádios Gaúcha, Guaiba, União, 103.3 e Bandeirantes. Têm três aparelhos de televisão em casa e assiste em média uma hora por dia. Possui assinatura do jornal Vale dos Sinos. Entrevistado 12 O Analista Financeiro, com idade entre 31 e 40 anos, especialista em administração financeira, residente em São Leopoldo, utiliza o computador há dez anos. Tem jornada de trabalho de oito horas, e seu grupo familiar é composto por duas pessoas. O primeiro computador que teve acesso era da empresa e o modelo era – ED 251 (Edisa). Tem computador portátil que é utilizado por ele e pela esposa. A motivação para compra foi a escola e a profissão. Tem acesso a Internet pelo provedor Terra e fica plugado em média 10 horas por mês. Quanto às demais mídias, a rádio favorita é a União FM, têm três aparelhos de televisão e assiste a uma média de três horas por dia. Têm assinatura das revistas Brasileira de Contabilidade e Resenha BMF, e possui TV paga. 55 3.3 Usos do Jornalismo Online Quanto ao Jornalismo Online, a webwriter diz que confia nas notícias online e lê diversas versões sobre o mesmo assunto. Ler na tela do computador não é a mesma coisa do que ler no jornal impresso, mas é fácil habituar-se. “São situações e posturas diferentes”, ressalta. No tocante a diferença entre o jornalismo impresso e o online ela diz: “É como comparar rádio e televisão, que são meios totalmente diferentes. No entanto, a TV utilizou-se do rádio no seu primórdio. Creio que ocorra o mesmo no Jornalismo Online em relação ao impresso. Cada vez mais, a grande diferença é a atualidade da informação e a ampliação do número de fontes e versões disponíveis no jornalismo na web”. O estudante de Jornalismo acessa sites de notícia sempre que tem interesse e procura pelo “Agestado” e pelo “UOL” (anexo 2). Recebe semanalmente uma média de 30 e-mails. Já fez compras online e ficou satisfeito. Só tem medo quanto ao sigilo do número do cartão de crédito. Também acessa a conta bancária pela Internet. Usa a rede para se manter atualizado e confia nas notícias online. Lê diversas versões sobre o mesmo assunto. A secretária acha que a leitura na tela do computador é mais dinâmica e crê que “cada vez mais as pessoas dependem da informação online em função da 56 rapidez com que ela chega até as mesmas”. A jornalista acessa ao site do jornal que tem acesso na versão impressa quando não consegue ler o jornal. “É legal ver a diferença do tratamento que a informação recebe no papel e na Internet, pois são linguagens diferentes, mesmo que escritas. É uma mistura da TV, rádio e jornal. Há o som, a imagem e o texto”. Quanto ao critério para ler uma notícia completa na rede, ela diz que não pode ser muito longa, que seja atraente visualmente e escrita de maneira leve mas que informe. Para a jornalista, ler na tela não é a mesma coisa que ler em papel impresso pois “a tela engana. Muitas vezes relemos um texto e só quando o vemos no papel é que verificamos algum erro. Tenho uma colega na redação que imprime seus textos para lê-los melhor e evitar erros”. Quanto à tendência de ler no computador ela entende que está relacionado aos processos culturais e socioeconômicos contemporâneos. “As escolas estão adquirindo cada vez mais computadores e há aqueles que nem sabem o que é um quadro negro e giz. Mas essa tendência só será uma realidade quando as diferenças sociais e o acesso for permitido para todos. Situação que no Brasil é complicada: uns passam fome e outros tem o acesso a tecnologias de ponta”. Quanto à diferença entre o online e o impresso, a jornalista responde: 57 “o impresso pode ser mais detalhado, pois pode ser lido a qualquer hora e a qualquer lugar (bem deitado na cama, na beira da praia...). Já o online tem que ser algo dinâmico e atrativo visualmente para chamar a atenção do leitor. Ele não vai ficar horas sentado sem conforto numa cadeira, lendo notícias, ainda mais se forem chatas e cumpridas. A Internet tem muitas opções e se não formos atraídos de certa maneira, a vontade de clicar o mouse e percorrer outros mares da navegação é incessante. Ai já está a sacada da rede: navegar é percorrer outros mares, sempre em busca de novos horizontes e descobertas”. O analista de suporte acessa a sites de notícias em todas as conexões. Quando está na Internet, procura entretenimento e informação. Recebe semanalmente cerca de 100 e-mails. Participa de listas de discussão. Tem medo para fazer compras online, e o motivo é: “falta de segurança dos dados”. O jornalista usa a Internet para atualizar-se na profissão. Na empresa na qual trabalha, o acesso a rede é liberado e ele a usa para “pegar” as notícias. Costuma ler diversas versões sobre o mesmo assunto e confia nas notícias online. Os sites de notícia favoritos do auxiliar administrativo são o Clic RBS (anexo 4), Agestado e UOL. Utiliza o computador para trabalhos, pesquisas e a Internet para informação, promoções, pesquisas e entretenimento. Recebe em média 25 e-mails por semana. Já fez compras online e ficou satisfeito. Na hora de ler as notícias dos jornais, ele acessa o site do jornal impresso 58 quando não consegue dar uma olhada no papel ou quando quer saber antes de ter a versão impressa. O auxiliar administrativo não costuma imprimir o que está lendo na tela porém ressalta: “só se for algo de muita importância, ou algo que eu precise ler e reler para analisar”. Quanto à diferença entre impresso e o online ele afirma: “A maior diferença é o dinamismo das informações”. O jornalista fica plugado em média cinco horas semanais. Os sites de notícia mais visitados são o Clic RBS, e o Terra (anexo 3). O computador é utilizado para o trabalho, comunicação, compras e entretenimento. Recebe em média 70 e-mails semanais. Faz parte de listas de discussão pela rede. Acessa a conta bancária, faz compras online e só tem uma ressalva quanto à segurança dos dados: “Só compro em sites seguros e nunca pago com cartão, somente com depósito ou boleto bancário”. O trabalho do jornalista exige que ele utilize a Internet para e-mail e para troca de arquivos. Tem acesso liberado na empresa que trabalha. Ele acha que ler na tela do computador não é a mesma coisa do que ler em papel. “A leitura na tela cansa e confunde. É preferível imprimir (quando for mais que uma tela de leitura)para ter uma leitura mais agradável. Mesmo com o aprimoramento, acho difícil cancelar de vez o papel. Isso mais serve para os livros e revistas. Somente o jornal diário é que corre o risco (na minha visão) de se tornar obsoleto”. 59 Quanto às diferenças entre impresso e online sentencia: “O impresso podemos guardar e é de fácil acesso. Barato, também. Online é logicamente mais barato, mas o acesso não é tão fácil (linhas congestionadas, links que falham...) e a notícia não fica lá para sempre depois de um tempo, é substituída por uma nova. O que não acontece com o impresso... Fora isso, acredito que a maneira de fazer o jornalismo se diferencie apenas no tamanho das matérias, pois no Jornalismo Online é sucinto e mais direto do que o impresso!” A recepcionista não tem costume de acessar a sites de notícia. Navega apenas para entretenimento e a procura de novidades. Tem webmail e recebe em média dois e-mails por semana. Nunca fez compras online e tem medo “por haver casos de clonagem e acesso indevido”. A recepcionista acha que com o avanço tecnológico, será cada vez mais comum acessarmos um jornal online, do que o impresso. A auxiliar de recepção acessa a sites de notícia sempre que tem interesse. Usa a Internet para o trabalho e para atualizar-se na sua profissão. Recebe em média 20 e-mails por semana. Confia nas notícias online e somente lê a notícia completa quando muito lhe interessa. Raramente imprime alguma informação para ser lida em papel. A diferença entre o impresso e o online é a sua atualização instantânea. O estagiário entra em sites de notícia em todas as conexões. Tem webmail 60 e recebe semanalmente 25 e-mails. Procura na Internet entretenimento e informação. Assina a listas de discussão. Na empresa em que trabalha o acesso é liberado e lá ele usa a Internet para buscar informações. O estagiário acessa a versão online do jornal que também tem acesso na versão impressa, quando não conseguiu ler em papel. A versão online é mais resumida. “É basicamente o lead” justifica. O critério para ler uma notícia completa na rede é o interesse pelo fato. Quanto a imprimir para ler, ele diz: “Se me interessa muito, imprimo e mostro para outras pessoas”. Quanto à tendência de ler na tela do computador, o estagiário responde: “Só se for para daqui a muitos anos. A Internet não é popular como o jornal impresso. Não são todos que têm acesso a computadores”. O analista financeiro acessa a sites de notícia em todas as conexões. Seus favoritos são: Agestado, Uol, Terra, Valor online e Projeção. Utiliza serviços gratuitos da Intermanagers, projeção (anexo 5), stockpicker, infoinvest, planetaações (anexo 6) e econofinance. Usa a internet para o trabalho, escola e lazer. Não tem e-mail grátis e recebe uma média semanal de 50 e-mails. Assina listas de discussão, acessa a conta bancária, faz compras online e não tem medo. Usa a Internet para atualizar-se na profissão. O seu trabalho exige que use a Internet para acesso aos bancos e notícias. Na empresa, o acesso é liberado. 61 Quanto ao Jornalismo Online; ele confia nas notícias na rede; lê diversas versões sobre o mesmo assunto; quando muito interessa, ou pela gravidade, lê a notícia completa. Nunca imprime e acha cansativo ler na tela do computador. Segundo o analista financeiro, a diferença entre impresso e online é o acesso mais rápido, instantâneo. 3.4 Temporalidade A questão do furo em jornalismo se destaca neste item. Qual o jornalista que não gostaria de dar em primeira mão qualquer notícia? A Internet agilizou em muito a publicação dos fatos. Para a recepcionista “o Jornalismo Online é rápido, atualiza as manchetes conforme os fatos vão acontecendo. Essa é uma grande vantagem da informação online”. Vários entrevistados ressaltaram a atualização instantânea da informação quando falamos em temporalidade. Agora não é mais preciso esperar o jornaleiro chegar para ver as notícias quentinhas, basta ter acesso a rede e entrar no site de seu jornal favorito. Lá estarão todas, ou somente as principais notícias da edição, com efeitos de som e vídeo para você acessar. Dependendo do assunto, você encontrará uma infinidade de links relacionados ao tema para que possas saber muito mais. Em comparação ao impresso isso é quase impossível, ou pelo menos não se tem visto. 62 Um fato que ilustra bem, creio, a velocidade com que as coisas acontecem via Internet, é o fato do americano Steve Fosset, balonista que queria dar a volta ao mundo, após pousar em solo gaúcho na manhã de sexta 17 de agosto de 2001. Logo a informação estava na Internet mundial, distribuída pela agência RBS. A foto feita por Júlio Cordeiro/Zero Hora, ganhou em poucas horas, as capas das páginas web do “The New York Times, CNN World, Chicago Tribune, BBC Londres, entre outros sites mundiais. Recebeu também, ampla atenção em sites brasileiros. A distribuição de fatos e fotos pelo mundo é muito mais rápida com o advento da Internet. Quem tivesse acesso a Rede por exemplo, na sextafeira, não precisou esperar até sábado para receber a notícia pelo jornal impresso. Bastou entrar num site de notícia e lá estava o fato com tudo que tinha direito. 3.5 Confiança na rede A grande reclamação dos entrevistados foi quanto à segurança dos dados fornecidos na Internet. O medo se resume aos problemas noticiados quase que diariamente nos meios de comunicação, como a clonagem do cartão de crédito. Ninguém gostaria de ser surpreendido com uma fatura para pagar que não fosse do titular do cartão. “Só compro em sites seguros e nunca pago com cartão, 63 somente com depósito ou boleto bancário”, previne um jornalista. Já a webwriter afirma que só utiliza os serviços em que confia. Outra entrevistada tem medo ou receio da qualidade das mercadorias compradas: “Tenho medo da mercadoria não ser boa, trocas, dados pessoais”. Já o analista de suporte também tem medo para fazer compras online e o motivo é: “falta de segurança dos dados”. A suposta falta de segurança aliada à desconfiança dos usuários na rede talvez explique o fato de somente 50% dos entrevistados acessarem a sua conta bancária via Internet. Alguns entrevistados também questionaram a veracidade dos fatos divulgados na rede. A maioria respondeu que lê diversas versões sobre um mesmo assunto para não cometer os enganos. Um jornalista definiu: “O Jornalismo Online tem muita agilidade, mas, às vezes, essa pressa em colocar a notícia no ar induz ao erro. Dessa forma, o jornal impresso se torna um pouco mais confiável”. 3.6 As mediações Uma mediação importante observada na pesquisa é o fato de que três dos entrevistados são jornalistas e um é estudante de jornalismo. Como o Jornalismo Online é assunto de discussão da área, é importante ver como os jornalistas vêem a questão do JOL. Eles conhecem as lógicas e operações da mídia. Tem maior 64 familiaridade com essas lógicas e por isso são mais críticos ao seu meio e fazem observações mais profundas. Uma jornalista define a diferença entre Jornalismo Online e impresso da seguinte maneira: “O impresso pode ser mais detalhado pois pode ser lido a qualquer hora e a qualquer lugar (bem deitado na cama, na beira da praia...). Já o online tem que ser algo dinâmico e atrativo visualmente para chamar a atenção do leitor. Ele não vai ficar horas sentado sem conforto numa cadeira, lendo notícias, ainda mais se forem chatas e cumpridas. A Internet tem muitas opções e se não formos atraídos de certa maneira, a vontade de clicar o mouse e percorrer outros mares da navegação é incessante. Ai já está a sacada da rede: navegar é percorrer outros mares, sempre em busca de novos horizontes e descobertas”. A jornalista faz referência neste caso a vários tópicos como os lugares de uso indicando nosso cotidiano. Também entra na questão da simultaneidade de ofertas e faz ligação com as matrizes culturais. A profissão de cada usuário da Internet é um fator importante de mediação. Por exemplo, os jornalistas entrevistados nesta pesquisa fazem uso diferenciado das notícias online. Já o analista financeiro fica plugado nas notícias sobre o mercado financeiro, pois é importante que ele saiba como está o mercado na hora de fazer aplicações ou resgates de fundos de investimento. O grande número de e-mails recebidos pelos entrevistados faz uma 65 referência importante a comunicação e troca de informações que certamente não acontecia com tanta freqüência antes da chegada da Internet. Hoje, o e-mail é usado em grande escala nas empresas e organizações, pois facilita o fluxo de informações que antes eram trocadas através de impressos ou por telefone. Creio que até exista uma grande economia de papel, ou pelo contrário, as pessoas estejam imprimindo quase tudo o que recebem via rede. Alguns entrevistados responderam que só imprimem o que acham muito importante para mostrar aos colegas de repartição. A mediação tecnológica, defendida por Baccega (2001), aparece quando uma entrevistada faz referência a forma de apresentação das informações via Internet. “É legal ver a diferença do tratamento que a informação recebe no papel e na Internet, pois são linguagens diferentes, mesmo que escritas. É uma mistura da TV, rádio e jornal. Há o som, a imagem e o texto”. Essa citação também leva em conta a mediação que acontece no âmbito da produção, porquê é necessário o uso de várias tecnologias para que se possa disponibilizar as diversas mídias em uma só. Como foi citado, reunir o rádio, a televisão e o jornal, num só grande meio. CONCLUSÃO O rápido crescimento da Internet, bem como as múltiplas possibilidades oferecidas por esse novo ambiente comunicacional, têm provocado profundas mudanças na vida das pessoas. O grande diferencial deste novo meio é a globalização da informação fazendo com que não existam mais fronteiras. No momento que o indivíduo tiver acesso a rede ele consegue informações espalhadas em qualquer ponto da terra. Isso acontece quando acompanhamos o USA Today (anexo 8) pela rede com as informações em tempo real. Quando viajamos para outros países e queremos saber como andam as coisas na terra natal, é só entrar no site do jornal, rádio ou TV da região e ver as notícias. Até podemos assistir a programas de televisão, como o Fantástico da Rede Globo (anexo 9), de qualquer ponto da terra. Isso já não seria possível pelo sistema atual de transmissão via antena. O mesmo também acontece com o rádio e o jornal. Receber o Herald Tribune (anexo 10) aqui em São Leopoldo seria talvez impossível, mas se acessarmos o site do jornal na Internet, podemos ter 67 acesso às informações nele veiculadas. A maioria dos entrevistados tem acesso à rede em seu trabalho e usam a ferramenta em algum horário do dia ou nos afazeres profissionais ou em casa. Durante as navegadas, aproveitam para ver a caixa postal – correio eletrônico – e dar uma olhada em sites de notícia. Em 75% dos entrevistados o computador apareceu primeiro no trabalho e, mais tarde, ele foi adquirido para consumo próprio e começou a fazer parte de algum espaço na casa. Hoje 84% dos entrevistados possuem computador em casa, e este é utilizado para o trabalho, faculdade, lazer e Internet. Os programas mais utilizados são da geração Microsoft, como Word, Excel, Internet Explorer, Outlook entre outros. Os componentes do grupo familiar dos entrevistados, na sua maioria, fazem uso do computador. Uma das reclamações dos pesquisados é quanto à segurança dos dados para compras online e até para acessar a conta bancária. A maioria já utiliza a rede para consultar saldos e até mesmo para fazer pagamentos. O acesso a Internet é feita através de provedor pago por 75% dos entrevistados, e os demais fazem o acesso através de provedores gratuitos como IG e Tutopia. No que se refere aos usos do Jornalismo Online, JOL, podemos classificar os entrevistados em navegadores ávidos por notícias e os navegadores que 68 somente entram em sites de notícia quando algum fato muito importante acontece, e é comentado por colegas. O primeiro grupo acessa sites noticiosos em todas as suas entradas na Internet. Este grupo representa 40% dos pesquisados. Este índice elevado de pessoas que acessam a notícias pela rede pode também ter alguma relação com as profissões dos entrevistados. No caso, 25% dos entrevistados são jornalistas, e estes, pela natureza da profissão, procuram por notícias o tempo todo. Deste grupo, também faz parte uma webwriter. O segundo grupo é formado por aqueles que não acessam sempre sites de notícia na rede. Este grupo só entra nestes sites quando tem algum interesse específico. Por exemplo, quando tem algum fato muito importante acontecendo e é noticiado amplamente por outras mídias. Então surge o interesse para ver detalhes do fato. Este grupo representa 50% da pesquisa. A grande influência para este índice deve ser o interesse pela atualização na área de trabalho de cada entrevistado. Essa pesquisa foi apenas um começo. Muito ainda deve ser estudado sobre a recepção em Jornalismo Online. Intensificar os estudos nessa área, poderá colaborar para a compreensão do jornalismo através da rede mundial de computadores. Distribuir e receber informação à “la carte” pode ser uma das 69 grandes pedidas, segundo Nicholas Negroponte. 34 34 NEGROPONTE, Nicholas. A Vida Digital. São Paulo, Companhia da Letras, 1996. In: BRITO, Rosaly Seixas e PRADO Ana. A vez dos donos da voz (?): reflexões acerca do jornalismo on-line. GT Jornalismo. Manaus: Intercom, 2000. CD-ROM. BIBLIOGRAFIA BACCEGA, Maria Aparecida. O campo da comunicação/educação e as práticas de recepção: o papel da mediações. GT Mídia e Recepção. COMPÓS, 2001. CDROM. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa : Edições 70, 1977. 225 p. BARDOEL, Jo & DEUZE, Mark. 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