RECEPÇÃO EM JORNALISMO ONLINE Um estudo exploratório do

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RECEPÇÃO EM JORNALISMO ONLINE Um estudo exploratório do
RECEPÇÃO EM JORNALISMO ONLINE
Um estudo exploratório do
consumo de sites jornalísticos
SADI JOSÉ RECKZIEGEL
UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS
COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO
TRABALHO DE CONCLUSÃO
RECEPÇÃO EM JORNALISMO ONLINE
Um estudo exploratório do consumo de sites jornalísticos
SADI JOSÉ RECKZIEGEL
Orientadora DENISE COGO
São Leopoldo, novembro de 2001
“Liberal ou conservador, o repórter é um ser primitivo
que poderia ir atrás da própria mãe por um boa
história” Richard Coben (Time, 10/11/1992)
Dedicatória
Dedico esta monografia à minha família. Ao meu pai,
Cleto, minha mãe, Irene, meus irmãos, Solange, Salete,
Sandro, Sandra, Silene, Sérgio, e também ao amor da
minha vida, Neide. Ela, que acompanhou de perto estes
dois últimos anos, sabe quão difícil foi chegar até aqui.
Agradecimentos
À professora Dra Denise Cogo, pelo seu empenho e
ajuda na orientação deste trabalho.
Aos colegas, que sempre me apoiaram e incentivaram
para o êxito desta caminhada.
À Unisinos, pela ajuda na realização do meu sonho.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.............................................................................. 7
1
JORNALISMO ONLINE ..........................................................11
1.1
Expansão da Internet e Jornalismo Online ........................................................................11
1.2
Hipertexto: a linguagem do Jornalismo Online................................................................. 15
1.3
Hipertexto: questões para a recepção............................................................................... 23
2
RECEPTOR .........................................................................27
2.1
Recepção e Cultura................................................................................................................... 30
2.2
A identidade na Internet........................................................................................................ 31
2.3
As Mediações ............................................................................................................................. 35
3
JORNALISMO ONLINE – A PESQUISA DE RECEPÇÃO ......................43
3.1
Percurso metodológico ............................................................................................................ 43
3.2
Perfil dos usuários da Internet............................................................................................ 46
3.3
Usos do Jornalismo Online..................................................................................................... 55
3.4
Temporalidade ............................................................................................................................ 61
3.5
Confiança na rede ..................................................................................................................... 62
3.6
As mediações ............................................................................................................................. 63
CONCLUSÃO ..............................................................................66
BIBLIOGRAFIA ...........................................................................70
ANEXOS ...................................................................................73
INTRODUÇÃO
Em 2000, quando da escolha do tema a ser abordado no meu trabalho de
conclusão de curso, fiquei logo muito inclinado ao Jornalismo Online (JOL). Mas o
grande problema era definir qual seria meu objeto de estudo. Poderia ser a
produção do JOL ou a recepção. O que foi muito discutido com um de meus
professores no curso de Jornalismo, pois eu não sabia que rumo tomar. Além do
mais, não existiam muitas bibliografias do referido assunto que pudessem me
auxiliar. Comecei então a ler as que haviam a respeito da recepção e acabei
optando por este objeto.
Em termos de perspectiva pessoal, desde 1997, quando fiz o 1° Curso de
Jornalismo Online da Unisinos, fiquei muito interessado em estudar esse tipo de
comunicação cada vez mais em evidência. Lembro que na época ficávamos
divagando sobre o assunto e não tínhamos referências, pois não existiam sites
para serem analisados. Os jornais estavam apenas começando a colocar algumas
reproduções da versão impressa na web.
8
Hoje, os sites dos grandes jornais já viraram super portais e não mais
imitam pura e simplesmente a versão impressa. O uso de mecanismos multimídia
ajuda na promoção dos sites. As grandes empresas do ramo estão investindo cada
vez mais nas versões online. Um exemplo é o clique RBS1, um mega portal que
abrange todos os veículos da RBS. As notícias são atualizadas a cada momento.
Neste portal, por exemplo, pode-se escutar um noticiário da Rádio Gaúcha que já
foi ao ar, ouvir ou assistir a previsão do tempo, entre outras coisas. Segundo
material de divulgação do próprio portal,
o clicRBS é um portal moderno que integra
características de personalização, e através do qual o
consumidor tem acesso a canais de televisão, rádio e
jornais adaptados para o uso on demand. Daqui a
pouquíssimo tempo, será possível ter o seu jornal
totalmente pessoal, via clicRBS.2
Portanto, há uma experiência social já em desenvolvimento que, em minha
opinião, merece ser analisada. Por outro lado, os estudos de recepção têm estado
pouco orientados à investigação das interações dos usuários com os espaços
online. Permanecem privilegiando as pesquisas com a mídia televisiva.
O presente trabalho tem como ponto de partida a contextualização da
Internet como espaço do Jornalismo. Apresenta números do Ibope e tendências
1
URL:”http://www.clicRBS.com.br
2
CABRAL, Pedro. Disponível na Internet. http://www.agenciaclick.com.br/ 20 nov. 2000.
9
da rede de acordo com Nicholas Negroponte. Em seguida, é enfocado o
hipertexto como linguagem usada no Jornalismo Online. Para este estudo, foram
utilizados os escritos de Pierre Levy, Marcos Palacios, Luciana Mielniczuk, André
Manta, entre outros.
O capítulo dois oferece uma base teórica sobre os estudos de recepção,
apresentando algumas tendências desses estudos apontados por autores como
Robert White, Thomas Linklof, Henry Jenkins, Ana Prado, Rosaly Brito. Neste
capítulo também é abordado a questão da identidade na era da Internet baseado
em estudo da autora Sherry Turkle.
Já o capítulo seguinte aborda a pesquisa empírica que fiz com 12
entrevistados através de formulário eletrônico pela Internet. Nesse capítulo,
apresento os resultados da pesquisa que em torno dos interesses e motivações
dos entrevistados quanto ao Jornalismo Online, buscando verificar, inicialmente,
se os usos do Jornalismo Online tem sido uma prática comum de quem tem acesso
a Internet. Na pesquisa, também busco saber as relações entre o consumo do
Jornalismo Online e os usos do computador em casa e no trabalho. Os
entrevistados fazem muito uso do correio eletrônico e, em sua maioria, acessam
sites de Jornalismo quando navegam na Internet.
A conclusão não apresenta respostas definitivas para o tema apresentado,
10
repercutindo o próprio patamar de desenvolvimento em que se encontra o
Jornalismo Online.
1 JORNALISMO ONLINE
1.1 Expansão da Internet e Jornalismo Online
O rápido crescimento experimentado pela Internet, bem como as múltiplas
possibilidades oferecidas por esse novo ambiente comunicacional têm provocado
discussões como uma via para democratizar a informação.
Democratizar a informação significa, no âmbito desse debate, para alguns,
torná-la acessível ao maior número de pessoas sem a limitação de espaço como
acontece com o jornal impresso e a revista. Como na Internet, as informações
são armazenadas digitalmente, é também muito mais fácil recuperar uma
informação já veiculada, de qualquer ponto da terra, basta que ela tenha sido
disponibilizada na Rede.
12
As mais recentes pesquisas feitas pelo IBOPE eRatings.com3 revelam que
em abril de 2001, os internautas brasileiros já totalizavam 10,4 milhões. Desde
setembro do ano passado, esse número manteve-se inalterado em 9,8 milhões. “O
interesse dos internautas tem crescido, porque os equipamentos estão mais
acessíveis e baratos. Além disso, a compra de computadores pode ser
financiada”, comenta Alexandre Magalhães, analista de Internet, do IBOPE
eRatings.com para a América Latina.
Esses dados deixam claro que a Internet definitivamente tem operado
transformações importantes no mundo das comunicações. Só para se ter uma
idéia, a televisão levou, desde o seu lançamento, em 1926, 26 anos para alcançar a
marca dos 50 milhões de usuários. Com a Internet, isso aconteceu em quatro
anos.4
Como sempre acontece todas as vezes que as formas de comunicação
humana passam por uma transformação radical, opera-se em conseqüência
mudanças culturais de grande impacto. A disseminação da Comunicação Mediada
3
Internautas
brasileiros
já
são
mais
de
10
milhões.
http://www.ibope.com.br/eratings/erat_press_ranknac1b.htm. 18 mai. 2001.
4
Disponível
na
Internet.
Fonte de dados da Revista Veja, julho de 1998, citados no texto “Aspectos do comportamento de grupos
virtuais”. Disponível na Internet. http://www.sbdg.org.br/cadernos/cad07-04.htm.
13
por Computadores (CMC)5 por intermédio de uma rede interativa, que permite
integrar no mesmo ambiente comunicacional a oralidade, a escrita e recursos
audiovisuais, tem suscitado reações e análises sob os mais diferentes enfoques.
Os prognósticos sobre a mídia do futuro apontam para uma grande ênfase
no consumo individualizado e personalizado da informação. Nicholas Negroponte6,
para quem, depois da era industrial, baseada no conceito de produção em massa,
estamos ingressando agora numa era da pós-informação, é categórico ao traçar o
cenário da vida digital num futuro próximo:
“Os modelos econômicos da mídia atual baseiam-se
quase que exclusivamente em “empurrar” a informação
e o entretenimento para o público. A mídia de amanhã
terá tanto ou mais a ver com o ato de “puxar”: você e eu
acessaremos a rede e conferiremos o que há nela, da
mesma forma como hoje fazemos numa biblioteca ou
videolocadora. Isso poderá ser feito de forma
explícita, ou seja, por nós mesmos, ou implícita, isto é,
um agente o fará por nós (...) A informação por
encomenda dominará a vida digital.”
Do ponto de vista do jornalismo, a oferta e o consumo personalizado de
informações via Internet representa uma ampliação de uma tendência que vem se
5
6
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo : Paz e Terra, 2000.
NEGROPONTE, Nicholas. A Vida Digital. São Paulo, Companhia da Letras, 1996. In: BRITO, Rosaly Seixas
e PRADO Ana. A vez dos donos da voz (?): reflexões acerca do jornalismo on-line. GT Jornalismo.
Manaus: Intercom, 2000. CD-ROM.
14
consolidando também em outras mídias. A TV, o rádio e o impresso já ofertam
programações
segmentadas
visando
a
atender
determinados
tipos
de
telespectadores, ouvintes e leitores.
Contudo, essa ampliação tem possibilitado transformações nas práticas de
leitura e apropriação do texto, uma vez que o assinante/usuário poderá
selecionar o menu de informações que deseja receber e acessá-las de maneira
rápida e com atualização instantânea, além de poder ele mesmo disponibilizar
suas informações na rede.
O termo Jornalismo Online, usado para designar versões eletrônicas de
jornais impressos na Internet, não passa de uma metáfora, já que a noção de
jornal sempre esteve associada ao papel, seu suporte material. O Jornalismo
Online representa o surgimento de um novo veículo de comunicação que reúne
características de todas as outras mídias, acrescido do fato de não ter
limitações de espaço impostas a jornais e revistas, além de garantir a
possibilidade de armazenamento e recuperação da informação.
O uso da metáfora, porém, é útil principalmente para o usuário , que vai
lidar com um produto que de alguma forma já lhe é familiar. Em parte, isso
explica porque muitas empresas jornalísticas que mantêm versões online de suas
publicações, optam por fazer quase que meramente uma transposição do
15
conteúdo impresso para a rede.
A expectativa é a de que o Jornalismo Online, ao distanciar-se do modelo
jornalístico e empresarial do jornal de papel, explore e encontre seus próprios
caminhos neste ambiente multimidiático que é a Internet. Estima-se que o
Jornalismo Online do futuro e o Jornalismo Online da atualidade mantenham a
mesma distância que separa a linguagem televisiva dos primeiros programas de
auditório da linguagem dos atuais videoclipes.7
A quebra da linearidade do texto, que permite ao
usuário traçar seu próprio percurso de “navegação”, a
partir de inúmeros links que são disponibilizados, tem
sido apresentada como uma das mais significativas
rupturas trazidas pelo texto digital, já que teria
alterado radicalmente a verticalidade na relação
escritor/leitor, rompendo todo um sistema de poder
sobre o qual a experiência literária está fundada. A
qualquer momento o leitor pode escolher outro link e
seguir sua leitura noutros rumos.
1.2 Hipertexto: a linguagem do Jornalismo Online
O hipertexto utilizado no ambiente das redes telemáticas vai permitir em
uma mesma tela a coexistência de textos, sons e imagens, tendo como elemento
7
MIELNICZUK, Luciana. Interatividade e hipertextualidade no jornalismo online: mapeamentos para uma
discussão. GT Jornalismo. Manaus: Intercom, 2000. CD-ROM.
16
inovador a possibilidade de interconexão quase instantânea através de links, não
só entre partes de um mesmo texto, mas entre textos fisicamente dispersos,
localizados em diferentes suportes e arquivos integrantes da teia de informação
constituída pela Web. Trata-se de um padrão de organização da informação até
então não utilizado na narrativa jornalística, sendo essencial buscar-se na teoria
do hipertexto, caminhos que possam subsidiar especulações sobre os formatos da
narrativa jornalística nessa nova situação de sua produção e consumo.
Utilizando o hipertexto e funcionando no ambiente das redes telemáticas,
o Jornalismo Online passa a apresentar características diferenciadoras em
relação aos formatos precedentes do texto jornalístico. Para Bardoel e Deuze
(2000)8 são quatro as características do Jornalismo Online: hipertextualidade,
multimidialidade, interatividade e personalização.
É evidente que nem todos esses elementos são novos. Com efeito, se
buscamos entender o processo de transformação porque passa o jornalismo nesse
novo formato, uma das palavras-chave dessa busca deve ser ‘potencialização’.
Características que podem ser identificadas em outros suportes (impresso,
rádio, TV) são estendidas e potencializadas na prática do Jornalismo Online.
8
BARDOEL, Jo & DEUZE, Mark. Network Journalism, http://home.pscw.uva.nl/deuze/publ9.htm
17
A constatação desse fenômeno de potencialização deve posicionar o
analista no sentido de buscar compreender como muda o formato da notícia (e,
portanto, sua produção e consumo) e não apenas o formato do veículo. Muitas
vezes, as definições das características são elaboradas contemplando somente a
esfera da publicação enquanto um todo, ou seja enquanto suporte, e não incluem a
perspectiva da notícia em si.
Veja-se o caso da interatividade: Bardoel e Deuze (2000) consideram que
a notícia online possui a capacidade de fazer com que o leitor/usuário sinta-se
parte do processo. Segundo eles, isto pode acontecer através da utilização de
diversos recursos interativos como a troca de e-mails entre leitores e
jornalistas, a disponibilização da opinião dos leitores em fóruns, os chats com
jornalistas. Os autores, no entanto, não contemplam a perspectiva da
interatividade no âmbito da própria notícia, ou seja, a navegação pelo hipertexto
que, conforme Machado (1997), constitui também uma situação interativa.
No Jornalismo Online, não se pode falar simplesmente em interatividade e
sim em uma série de processos interativos. Adota-se o termo multi-interativo
para designar o conjunto de processos que envolvem a situação do leitor de um
jornal online. Entende-se que diante do computador conectado à Internet, o
usuário estabelece relações: a) com a máquina; b) com a própria publicação,
18
através do hipertexto; e c) com outras pessoas - seja autor ou outros leitores através da máquina (Lemos, 1997, Mielniczuk, 1998).
Com relação à personalização, além de pensar a configuração dos produtos
de acordo com os interesses individuais dos usuários, pode-se considerar que o
fato do usuário percorrer seus próprios caminhos, optando entre os links
disponíveis e construindo uma linearidade narrativa particular (Palacios, 1999),
também caracteriza uma forma de personalização.
Ao incluir a esfera da notícia nas definições de interatividade e de
personalização, acaba-se por estender tais definições. E a partir desta
ampliação, torna-se possível afirmar que as características de multimidialidade,
de interatividade e de personalização são constitutivas da hipertextualidade.
Pois essa última vai implicar na existência de textos escritos, sonoros e visuais,
que estão organizados em blocos de informações interconectados. E a leitura
será feita através da navegação interativa por estes caminhos. Cada leitor irá
percorrer um caminho único (personalizado) ditado pelas suas escolhas entre as
opções possíveis.
Cabe incluir uma quinta característica do Jornalismo Online (Palacios,
1999): a memória. Na Internet, o acúmulo de informações é mais viável técnica e
economicamente do que em outras mídias, surgindo a possibilidade de armazenar
19
e acessar com maior facilidade material disponibilizado anteriormente, tanto no
momento da produção, quanto do consumo da informação jornalística. Os arquivos
online são um recurso que muitos veículos já oferecem em suas versões
hipertextuais.
Resgatando, mesmo que superficialmente, a definição de Theodor Nelson,
autor da expressão, o hipertexto constitui-se em “uma escrita não seqüencial,
num texto que se bifurca, que permite que o leitor escolha e que se leia melhor
numa tela interativa. De acordo com a noção popular, trata-se de uma série de
blocos de texto conectados entre si por nexos, que formam diferentes
itinerários para o usuário” (Nelson apud Landow, 1995, p.15). A partir desta
definição detecta-se três elementos - blocos de textos; ligações entre eles; e
meio digital/tela do computador - que vão dar sustentação a uma dinâmica
particular de funcionamento do hipertexto no que diz respeito à organização das
informações (escrita) e ao acesso das mesmas (leitura).
Segundo Lévy (1995) o hipertexto possui seis características básicas.
Cabe dizer que o autor também as denomina de ‘princípios abstratos’ do
hipertexto. Em linhas gerais, são eles: 1) Princípio de metamorfose, que referese ao fato da rede hipertextual encontrar-se em constante construção e
renegociação; 2) Princípio de heterogeneidade diz que os nós de uma rede
20
hipertextual podem ser compostos de imagens, sons, palavras. 3) Princípio de
multiplicidade e de encaixe das escalas, os nós ou conexões, podem ser eles
mesmos uma rede de nós e conexões, sucessivamente; 4) Princípio
de
exterioridade , o crescimento e diminuição da rede, bem como sua composição e
recomposição, dependem da adição ou subtração exterior de elementos ou
conexões; 5) Princípio de topologia, o funcionamento ocorre por proximidade; 6)
Princípio de mobilidade dos centros, os vários centros da rede são móveis,
formando ao redor de si uma ramificação em estrutura de rizoma. Landow (1997),
ao trabalhar a teoria do hipertexto vai apresentar o que ele considera as
características do hipertexto:
Intertextualidade - O hipertexto seria, essencialmente, um sistema
intertextual, enfatizando uma intertextualidade que ficaria limitada nos textos
em livros. As referências feitas a outros textos é potencializada no hipertexto
através do recurso do link, que realiza as conexões entres os blocos de textos.
Multivocalidade - A idéia de multivocalidade está relacionada ao conceito
de polifonia de Bakhtin: a possibilidade da existência de diversas vozes na
narrativa literária. A fragmentação do texto em léxias favoreceria a
multivocalidade, pois como explica Ladow, “a voz é sempre aquela destilada pela
experiência combinada do foco momentâneo, a lexia que se está lendo, e da
21
narrativa em contínua formação a partir da linha de leitura que o leitor segue”
(1997, p. 36).
Ocasionalmente, ocorre uma certa confusão no conceito de multivocalidade
devido à facilidade de elaboração de textos colaborativos no meio digital,
podendo ser interpretado também como a possibilidade de co-autoria na redação
dos textos. Fato esse que não deixa de ser pertinente. Talvez por isso, o
conceito de multivicalidade pudesse ser compreendido em relação a duas
questões: a primeira, no sentido de múltiplas vozes, relativo à construção de uma
narrativa literária e, em segundo, num sentido mais operacional, relacionado com
a cooperação de vários autores para a criação de um mesmo texto ou narrativa.
Descentralização - Esta característica refere-se ao fato de que, ao
contrário dos textos impressos que propõem um centro, oferecem uma ordem
para a leitura (que pode ou não ser obedecida pelo leitor), o hipertexto enquanto
uma malha de blocos de textos interconectados oferece a possibilidade de
movimentos de descentramento e recentramento contínuos. É o leitor, através
dos seus caminhos de leitura, que vai elegendo temporariamente os sucessivos
centros.
Rizoma - É um conceito desenvolvido por Deleuze e Guattari, no livro
intitulado Mil Platôs. Os autores utilizam a metáfora de um tipo de vegetação
22
aquática, que se desenvolve na superfície da água, não possuindo tronco ou caule,
ela é totalmente ramificada. Segundo Landow (1997) o rizoma opõe-se a idéia de
hierarquia, pois ao contrário da estrutura de uma árvore, um rizoma, em tese,
pode conectar qualquer ponto a qualquer outro ponto, oferecendo muitos começos
e muitos fins.
Intratextualidade - Esta característica é citada por Landow (1995, p. 53)
e refere-se às ligações internas estabelecidas entre léxias dentro do mesmo
sistema ou site. É interessante observar que Lévy pensa o hipertexto como um
mero recurso, uma tecnologia da escrita, enquanto Landow discorre sobre as
características do hipertexto já pensando-o como uma possibilidade da escrita
(hipertextual) literária. Mesmo partindo de perspectivas diferentes, as
caracterizações propostas por ambos autores estão bastante próximas.
O link é o elemento que configura melhor o uso do hipertexto. É através
dele que o leitor vai eleger a próxima tela, bloco de texto, ou ainda, a notícia.
Estando o leitor no centro eleito, como ele irá eleger e deslocar-se até o próximo
centro? Isso acontecerá pela avaliação/negociação feita através do link. Esta
negociação tem a ver com o link também enquanto título.
A sensação de profundidade e imersão presente nos sites é proporcionada
pela característica da linguagem HTML de construir links. Os links permitem que
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a página não seja apenas lida em duas dimensões, mas que o usuário também
entre no espaço. Por isso, são a base da linguagem hipertextual. Dentre as
infinitas conexões possíveis na rede, apenas os links escolhidos formam o
caminho do hipertexto e possibilitam filtrar o mundo de informações disponível.
Sendo assim, é possível afirmar que os links são modos de forjar relações
semânticas entre diversos assuntos. Na terminologia lingüística, o link (elo)
representa o papel da conjunção na frase, juntando duas idéias separadas. Ele
junta uma série de conhecimentos, trazendo algum tipo de ordem. A questão
passa a ser, então, não mais qual é essa ordem, mas quem a define.
1.3 Hipertexto: questões para a recepção
O link tem a função de realizar a transição entre o mundo do leitor e o
mundo do texto. Além de viabilizar a negociação, é o link que vai operacionalizar
essa escolha. E aqui que a função de transição é ampliada para o âmbito do
hipertexto, possibilitando a passagem entre os textos durante a navegação. Ao
mesmo tempo em que os links emolduram a notícia estabelecendo limites ao
texto, esta moldura funciona como zona de contato, possibilitando a transição
entre os textos/notícias.
Talvez a Internet seja o meio mais conhecido para se pensar no processo
24
de leitura hipertextual. No entanto, é possível observar tais relações em vários
outros setores de nossas vidas. Sempre que caminhos são traçados e opções de
bifurcações aparecem, têm-se uma estrutura hipertextual. Por exemplo, as
relações de comunicação. De acordo com Pierre Lévy, em uma conversa, cada nova
mensagem coloca em jogo o contexto e seu sentido. Cada frase colocada vai
definindo o rumo da conversa e construindo um caminho ainda não definido e que
pode mudar a cada instante. O contexto, longe de ser um dado estável, é algo que
está em jogo, um objeto perpetuamente reconstruído e negociado. Ao mesmo
tempo, cada palavra constrói redes de significação transitórias na mente de um
ouvinte, que terão significado diferente para cada pessoa, dependendo das
associações anteriores. Ninguém percorre o hipertexto da mesma maneira.
Assim, é possível dizer que cada palavra ou cada texto não apenas ilumina ou traz
à tona uma rede de associações, como também muda toda essa rede. Cada vez
que um caminho é percorrido, algumas conexões são reforçadas, outras caem em
desuso.
No entanto, o hipertexto também é análogo à maneira como o cérebro
funciona. Recentes estudos de neurociências sugerem que nossa maneira de
pensar, de fato, ocorre em rede. O modelo do hipertexto é análogo ao modo como
o cérebro trabalha: uma intrincada rede de neurônios conectados por trilhas de
energia elétrica, gerando informação mais das conexões do que das identidades
25
fixas. Os neurônios funcionam como se fossem blocos de construção desta rede,
mas o pensamento acontece quando os caminhos são percorridos pela rede
elétrica. As idéias emergem de milhões de neurônios e de suas combinações.
Clicar em um link é muito mais rápido do que folhear um livro, o que muda
completamente a relação do leitor com o meio. De acordo com Pierre Lévy9,
"a pequena característica de interface "velocidade"
desvia
todo
o
agenciamento
intertextual
e
documentário para outro domínio de uso, com seus
problemas e limites. Por exemplo, nos perdemos muito
mais facilmente em um hipertexto do que em uma
enciclopédia. (…) É como se explorássemos um grande
mapa sem nunca podermos desdobrá-lo, sempre através
de pedaços minúsculos."
E aí entra a segunda característica do hipertexto eletrônico: ele é aberto.
Construir um hipertexto na rede é como traçar um labirinto insolucionável, muito
diferente dos livros hipertextuais onde sempre há um fim. Questionar os
padrões lineares do tempo e de leitura sempre foi possível, mas, livros e filmes
são limitados pelo número de páginas, e sempre terão um início, um meio e um fim.
Num campo onde tem tanta informação espalhada e para todos os gostos, o
internauta precisa ser um pouco investigador “procurador” para encontrar o que
26
realmente interessa. Como cada um pode colocar suas informações da maneira
que bem entender. Encontrar o que realmente se procura, se tornou uma tarefa
difícil. No caso de informações jornalísticas, o navegador poderá ir diretamente
a sites noticiosos de grande renome. As grandes redes de comunicação que
dominam a televisão, o rádio e os veículos impressos, têm também grandes
portais na Internet, onde encontramos as informações veiculados nos outros
meios. Estes portais são visitados pela sua credibilidade e pela atualização das
informações.
Estudar o receptor, como propõe o capítulo seguinte, não é tarefa fácil
num meio de comunicação tão recente e com formato ainda não bem definido.
Sabe-se que este novo meio, chamado Internet, reúne o rádio, a televisão, o
jornal e a revista, num só grande meio.
9
LÉVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência. O futuro do pensamento na era da informática. São Paulo:
Editora 34, 1993.
2 RECEPTOR
Estudar a recepção, ou como prefere Robert White10, estudar a
interpretação das audiências “é baseada na premissa de que produtores e
usuários de mídia interagem na elaboração do significado de modo similar à
maneira que o significado é criado nas interações pessoais.” Uma informação
recebida da mesma maneira causa diferentes significados para grupos de pessoas
diferentes. Algumas culturas encontram meios para propor identidades, seja
através da tradição oral da narrativa de histórias, seja através de outros meios;
e hoje isso é feito principalmente pelos meios de comunicação.
Lindlof, Jensen11 e outros pesquisadores acham que um dos atalhos tomado
pela maioria das análises de Interpretação das Audiências encara o público como
10
WHITE, Robert A. Tendências dos estudos de recepção. Comunicação & Educação, São Paulo: vol 13 p.41
à 66, set/dez.1998.
11
LINKLOF, Thomas R. Media audiences as interpretative communities. JENSEN, Klaus Bruhn. When is
meaning? Pragmatism and mass media reception. In: Artigos internacionais, Tendências dos estudos de
recepção. Comunicação & Educação, São Paulo: vol 13 p.41 à 66, set/dez.1998.
28
um agregado de indivíduos isolados, cada um construindo uma leitura pessoal sem
relação com os demais membros de sua comunidade.
“... uma mensagem não produz jamais, de uma forma
automática, um sentido e sim um campo de efeitos de
sentidos. A relação entre a produção e a recepção (...) é
complexa: não há causalidade linear no universo do
sentido”.12
As
comunidades
interpretativas
não
são
definidas
por
laços
de
parentescos, mas por práticas comuns de uso da mídia. A maior parte da
experiência televisiva dos membros de uma família é compartilhada com outras
pessoas da mesma comunidade interpretativa.
“Potencialmente, todos os estudos etnográficos atuais
sobre a audiência eletrônica sugerem que a maior
experiência que se pode ter com a mídia é tornar-se
parte de uma comunidade interpretativa de fãs.”
Jenkins, Henry.13
O grande risco do novo paradigma é ceder à tentação de apresentar-se
como a solução mágica para entender os problemas colocados na relação entre os
meios de comunicação de massa e seu público receptor. Em outras palavras,
corre-se o risco de convertê-la no universo simétrico da teoria da manipulação e
12
BRITO, Rosaly Seixas e PRADO Ana. A vez dos donos da voz (?): reflexões acerca do jornalismo online. GT Jornalismo. Manaus: Intercom, 2000. CD-ROM.
29
se tornar prisioneiro de um movimento circular. Pois se o sentido se constrói na
interface do que é veiculado e o universo do receptor, cabe perguntar – como se
constitui este universo cultural? Ele não está também moldado pela versão massmediática de uma cultura hegemônica?14
Algumas das mais interessantes tenndências de pesquisa que seguem esta
abordagem são os estudos sobre a recepção dos programas de televisão. Esses
programas são utilizados como o meio através do qual se formam cadeias de
discussão entre grupos particulares, e especificamente, como meio de definição
e validação de identidades. As pessoas se identificam pelo que assistem e depois
discutem em grupo no ambiente organizacional e em outros encontros na
comunidade.
Com a disseminação da Internet, já está começando a acontecer o mesmo
que aconteceu com a televisão. Quando uma notícia é publicada, logo pode ser
distribuída pelo e-mail ( hoje mais conhecido). Nos sites dos jornais, aparecem
links para envio da mensagem para amigos e colegas. Esta prática poderá se
13
JENKINS, Henry. Textual poachers: fans & participatory culture. London: Routledge, 1992. In: Artigos
internacionais, Tendências dos estudos de recepção. Comunicação & Educação, São Paulo: vol 13 p41 à 66,
set/dez.1998.
14
BRITO, Rosaly Seixas e PRADO Ana. A vez dos donos da voz (?): reflexões acerca do jornalismo online. GT Jornalismo. Manaus: Intercom, 2000. CD-ROM.
30
tornar cada vez mais comum na medida que mais pessoas tiverem acesso a
Internet. Com a televisão acontece muito a conversa entre colegas de trabalho e
amigos que comentam os fatos ou noticiários assistidos na noite anterior.
2.1 Recepção e Cultura
A identidade cultural constitui um fenômeno de auto-reconhecimento,
tanto em nível individual quanto no coletivo, e neste configura um sistema de
referência em que todos se enxergam ao olhar o outro. A identidade cultural só é
reconhecível no coletivo, como uma espécie de espelhamento da imagem social,
em que os meios de comunicação desempenham uma função também referencial,
na medida em que podem espelhar ou não a imagem do coletivo em questão.
Ao espelhar, demonstram estar inseridos no espaço cultural e social do
qual são fruto; ao não espelhar, evidenciam seu deslocamento e as outras
possibilidades de identificação de um grupo social. De qualquer forma, a questão
é muito mais complexa, ambígua e dinâmica, pois se dá em presença de muitas e
diferentes variáveis, que interagem.
Entretanto, não há dúvida de que os meios de comunicação, especialmente
a TV, são atualmente o maior espelho do corpo social, e que ainda tentam
31
destacar a cara da nacionalidade. Como esta é sobretudo uma construção
ideológica, o auto-reconhecimento por parte de segmentos significativos dos
receptores pode não se concretizar, uma vez que seus referenciais culturais são
outros, baseados na identidade cultural. Colocada como interlocutora, a
identidade cultural realiza a contextualização do homem com seu meio, seu grupo,
sua história, em um processo de consciência que impede sua alienação.
Desta forma, a identidade cultural desempenha um papel fundamental
entre o sujeito, individual ou social, e a realidade circundante, mediando os
processos de produção e de apropriação dos bens culturais. É essa mediação que
garante significado da produção cultural e o sentido do consumo de bens
culturais para determinados grupos, sem a qual torna-se um processo vazio, com
perigo para tornar-se um ato alienado e alienador.
2.2 A identidade na Internet
Hoje em dia, as pessoas estão sendo ajudadas a desenvolver idéias sobre a
identidade enquanto multiplicidade através de uma nova prática da identidade na
vida online. As identidades virtuais são objetos propiciadores do pensamento.
Quando as pessoas adotam relações online, provocam reconfigurações ou outras
dinâmicas, cheias de significados e implicações. Algumas experimentam uma
32
sensação desconfortável de fragmentação, outras uma sensação de alívio.
Algumas
pressentem
as
possibilidades
de
autodescoberta,
ou
até
de
autotransformação do que lhes é oferecido.
No passado, a rápida alternância entre diferentes identidades não era uma
experiência facilmente acessível. As pessoas assumiam diferentes papéis e
máscaras sociais, mas, na maioria dos casos, o seu envolvimento vitalício com uma
determinada família e comunidade mantinha esta alternância sob um controle
bem apertado. Em alguns casos, este controle abria brechas, e havia papéis nas
margens da sociedade que permitiam fazer da alternância uma forma de vida. Na
era moderna, havia o vigarista, o bígamo, o travesti, segundo Sherry Turkle.15
Agora, na era pós-moderna, as identidades múltiplas perderam grande
parte do seu caráter marginal. Muitas pessoas apreenderam a identidade como
um conjunto de papéis que podem ser misturados e acoplados, cujo leque variado
de exigências precisam ser harmonizadas. A Internet converteu-se num
laboratório social significativo para realização de experiências com as
construções e reconstruções do eu que caracterizam a vida pós-moderna. Na sua
realidade virtual, moldamo-nos e criamo-nos a nós mesmos.
33
O anonimato dos MUDs (Multi-Users Domains) como prefere dizer Sherry
Turkle em seu livro “Life on the screen”, para nós são os famosos chats, onde só
somos conhecidos pelo nome da nossa personagem ou personagens, dá às pessoas
a oportunidade de expressarem múltiplas facetas da sua personalidade, muitas
vezes inexploradas, de brincar com a sua identidade ou experimentar novas
identidades. Os chats tornam possível a criação de uma identidade tão fluida e
múltipla que desafia os limites do próprio conceito. Afinal de contas, a identidade
refere-se a uma semelhança rigorosa entre duas qualidades, neste caso entre
uma pessoa e a sua máscara. Porém, nos chats, uma pessoa pode ser várias.
Quando as pessoas podem fingir que têm diferentes sexos e diferentes
vidas, não é de se espantar que, para algumas, este jogo se torne tão real como
aquilo a que convencionamos chamar de sua vida, embora para elas esta distinção
já não seja válida.16
Usamos os computadores para nos habituarmos às novas maneiras de
pensar acerca da evolução, das relações entre as pessoas, da sexualidade, da
política e da identidade. Os computadores não se limitam a fazer coisas por nós,
15
TURKLE, Sherry. A Vida no Ecrã. A Identidade na Era da Internet. Lisboa: Relógio D’Água Editores,
1997.
16
TURKLE, Sherry. op. cit.
34
fazem-nos coisas a nós, incluindo as nossas formas de pensar acerca de nós
mesmos e das outras pessoas. Há uma década, estes efeitos subjetivos da
presença do computador eram secundários, no sentido em que não eram
procurados pelas pessoas. Hoje, as pessoas recorrem explicitamente aos
computadores em busca de experiências que possam alterar suas maneiras de
pensar ou afetar a sua vida social e emocional.
Quando as pessoas exploram jogos de simulações e mundos de fantasia ou
entram em uma comunidade onde têm amigos e amantes virtuais, não pensam no
computador como aquilo a que Charles Babbage, o matemático do século XIX que
inventou a primeira máquina programável, chamou um maquinismo analítico.
Procuram no computador, isso sim, uma máquina intimista. Os monitores dos
computadores são os novos cenários para as nossas fantasias, tanto erótica como
intelectuais.
Os computadores, no meu entender, também são fontes de mediação, pois
são meios, intermediários, que ajudam na comunicação. O próximo item
irá
explicar o que é a mediação e como ela ocorre, segundo Orozco, Barbero, entre
outros.
35
2.3 As Mediações
Tal como acontece com o termo recepção, ainda não se sabe bem o que se
entende por mediação. No livro, O adolescente e a televisão, escrito pelos
professores Pedro Gomes e Denise Cogo, o termo mediação é definido por Angel
Pinto, como
toda intervenção de um terceiro elemento que
possibilita a interação entre os termos de uma relação.
(E continua), neste trabalho, o termo mediação é
utilizado para designar a função que os sistemas gerais
de sinais desempenham nas relações entre os indivíduos
e destes com o seu meio. Mais especificamente, é
utilizado para designar a função dos sistemas de signos
na comunicação entre os homens e na construção de um
universo sócio cultural.17
No mesmo livro, Orozco diz que
a mediação se manifesta por meio de ações e do
discurso, mas nenhuma ação singular ou significado
particular constitui uma mediação propriamente. A
mediação parece ser um processo estruturante mais
complexo e difuso, diferente da soma de seus
componentes. A mediação não deve ser entendida como
um objeto de observação, mas como algo semelhante à
17
PINTO, Angel. O conceito de mediação semiótica em Vygotsky e seu papel na explicação do psiquismo
humano. In GOMES, Pedro Gilberto, COGO, Denise. O Adolescente e a Televisão. São Leopoldo: ed
Unisinos, 1998. p.24.
36
classe social, que ninguém pode ver.18
Na realidade contemporânea, uma das principais mediações entre nós e a
realidade objetiva são os meios de comunicação. Nosso conhecimento do mundo,
desde as situações que povoam nosso cotidiano até aquelas que ocorrem a
quilômetros de nós, está mediado pela mídia.
Se hoje em dia o computador é usado para ler os noticiários que antes só
eram vistos na TV, no Rádio e no Jornal, então este computador é um meio usado
entre o emissor e o receptor. Ele pode também ser usado como um mediador dos
fatos. Segundo Orozco (1993), os meios são considerados fontes das mediações,
além é claro de todas as demais fontes como cultura, política, economia, classe
social, gênero, idade, etnicidade, as condições situacionais e contextuais, as
instituições e os movimentos sociais. Também se originam na mente do sujeito,
em suas emoções e experiências.
Orozco divide as mediações em quatro grupos: a individual, a situacional, a
institucional e a videotecnológica. A mediação individual “surge do sujeito, tanto
como indivíduo com um desenvolvimento cognoscitivo e emotivo específico, quanto
18
OROZCO, Guillermo. Hacia uma dialéctica de la recepción televisiva. In GOMES, Pedro Gilberto, COGO,
Denise. O Adolescente e a Televisão. São Leopoldo: ed Unisinos, 1998. p.28-29.
37
em sua qualidade de sujeito social, membro de uma cultura”.19 Já da mediação
situacional Orozco diz que “se multiplica de acordo com os diferentes cenários
nos quais se desenvolve a interação”.
As instituições sociais medeiam a agência do sujeito de
diferente maneiras. Uma maneira é significando os
roteiros de uma teleauditório para a integração social.
Cada instituição tem uma esfera diferenciável de
significados, ainda que todas as instituições
compartilhem vários aspectos e tenham elementos
básicos em comum que precisamente as convertem em
instituições.20
Outro tipo de mediação é a tecnológica. Orozco defende que
a mediação própria da TV não é um processo
estruturador derivado somente das características
videotecnológicas gerais do meio, mas um processo
muito específico que se origina principalmente em
gêneros televisivos por meio dos quais a TV efetua um
localização concreta de seu auditório.21
As mediações são múltiplas e se influenciam reciprocamente. Não é por
exemplo, apenas a faixa etária do indivíduo/sujeito que vai conduzir sua
percepção. A essa mediação se juntam as demais: classe social, gênero, etnia,
19
OROZCO, Guillermo. Hacia uma dialéctica de la recepción televisiva. In GOMES, Pedro Gilberto, COGO,
Denise. O Adolescente e a Televisão. São Leopoldo: ed Unisinos, 1998.
20
OROZCO, op. cit.
21
OROZCO, op. cit.
38
nível de escolaridade, etc. Para Martin Barbero22 as mediações são:
esse lugar a partir do qual é possível compreender a
interação entre o espaço da produção e o da recepção:
o que se produz na televisão não atende unicamente às
necessidades do sistema industrial e às estratégias
comerciais, mas também às exigências que vêm da
trama cultural e dos modos de ver. Estamos afirmando
que a televisão não funciona se assumir – e, ao assumir,
legitimar – as demandas que vêm dos grupos
receptores; mas, por sua vez, não pode legitimar essas
demandas sem ressignificá-las em função do discurso
social hegemônico”.
Espaço de passagem, as interações entre pólos às vezes opostos, as
mediações se constituem em elementos fundamentais para se pensar e se atuar
no campo da comunicação, lugar de produção do conhecimento. Constituem,
também, elemento fundamental para se pensar a recepção ( e não o consumo) dos
bens culturais.23
Para Maria Aparecida Baccega, a primeira mediação se dá no âmbito da
produção, a mediação que manifesta o modo que se organiza essa produção, seja o
programa de rádio ou televisão, seja a notícia, seja a publicidade. Trata-se da
mediação institucional, que leva em consideração seu público receptor,
22
23
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações. Rio: Ed.UFRJ, 1997.
BACCEGA, Maria Aparecida. O campo da comunicação/educação e as práticas de recepção: o papel da
mediações. GT Mídia e Recepção. Anais do Encontro da Associação Nacional dos Programas de Pós
Graduação em Comunicação (COMPÓS). 2001. CDROM.
39
procurando selecionar o que há de mais conveniente tanto aos interesses da
empresa a que pertence aquela mídia, quanto ao perfil médio do público, levando
ao senso comum, a uma repetição que procura travar o dinamismo da história.
Se é verdade que o receptor mobiliza seu universo cultural para
interpretar o que aparece nos meios de comunicação, também é verdade que
temos que levar em conta o filtro que antecede o que ele está vendo, ouvindo e
lendo. Ele só interpretará aquilo que chegou ao seu conhecimento.
Deslocar o eixo das pesquisas para as mediações não
significa desconsiderar a importância dos meios, mas
evidenciar que o que se passa na recepção é algo que diz
respeito ao seu modo de vida, cuja lógica deriva de um
universo cultural próprio, incrustado em uma memória e
em um imaginário que são decorrentes de suas
condições concretas de existência.24
Por mediação tecnológica, designa-se o fenômeno representado pela
incidência das novas tecnologias da informação nas práticas comunicativas. A
primeira mediação que a recepção introduz, vista como um lugar e não como
etapa, é a questão das anacronias e das diferentes relações com o tempo. Ao
contrário da visão hegemônica, não há só uma história, não há só uma direção da
história. A concepção progressista da história, de que ela vai numa só direção,
24
SOUSA, Mauro Wilton. (org). Sujeito, o lado oculto do receptor. São Paulo: Brasiliense, 1995. Pág. 153.
40
impediu de ver a multiplicidade de temporalidades, a multiplicidade de histórias,
com seus próprios ritmos e com suas próprias lógicas. Assim, a primeira questão
que se introduz na investigação da recepção é a de que não há mais só uma
história.
Em segundo lugar, vem a mediação das novas fragmentações sociais e
culturais. Essa fragmentação do habitat cultural vem reforçar a mais velha e
mais estrutural das divisões sociais, que é a divisão entre os que ascendem de
alguma forma ao poder, ou seja, os que tem informação para tomar decisões – e
sabemos que hoje o poder passa cada vez mais pela informação -, e a imensa
maioria da população, para a qual os meios de comunicação se dirigem.
O artifício consiste em nos darmos conta de que a
verdadeira proposta do processo de comunicação e do
meio não está nas mensagens, mas nos modos de
interação que o próprio meio transmite ao receptor.
Assim, é interessante saber que a recepção é um
espaço de interação.25
As novas tecnologias de comunicação – informática, fibra ótica, satélite,
bancos de dados, etc. – estão reforçando a divisão entre a informação e a cultura
dirigidas para aqueles que tomam decisões na sociedade, e outro tipo de
informação
e de cultura voltado para o entretenimento das grandes massas.
41
Hoje há um obsolescência muito rápida, não só dos aparatos, como também dos
conhecimentos, das habilidades, das destrezas. Há uma fragmentação muito
grande entre os jovens, que possuem uma espécie de empatia com a nova cultura
tecnológica, e os adultos, que se sentem impedidos de entrar nessa nova
sensibilidade.
Na medida que os objetos, dotados de significados personalizados e
familiares, funcionam com uma extensão do próprio eu, a linguagem com a qual a
gente discute sobre suas tecnologias nos fala de suas identidades, necessidades,
desejos, assim como de suas formas de interpretar o mundo e de relacionar-se
entre si (Lunt e Livingstone, en prensa). Homens e mulheres compartilham de
diferentes maneiras um discurso que descreve suas posições, se observam
também diferenças importantes: uns e outros utilizam a maioria das tecnologias
domésticas, mas o uso que fazem destas pode ser muito diferente, e, por isso
também, a sua compreensão. Por exemplo, todos assistem televisão, mas em
diferentes momentos durante o dia para ver programas diferentes, uns e outros
usam o telefone, mas para fazer chamadas de diversos tipos, também alguns
escutam rádio para acompanhar as atividades do lar. As diferenças em sua
justificação e compreensão destas tecnologias domésticas pode-se caracterizar
25
SOUSA, Mauro Wilton. (org). op. cit.
42
amplamente a partir de quatro construções chave: a necessidade, o controle, a
funcionalidade e a sociabilidade.26
Os estudos sobre a família são importantes para conhecer com exatidão
tudo que, com o passar do tempo, resultou da entrada das tecnologias da
comunicação e informação, assim como a resistência as mesmas e a sua
regulamentação no ambiente familiar. O significado deste assunto está
claramente citado em atuais projetos de investigação, como por exemplo, o
estudo referente a “domesticação” da tecnologia27, quer dizer, a entrada das
tecnologias na vida doméstica, no lar de cada um. É o uso de equipamentos
sofisticados por todos os membros do grupo familiar. Exemplo: microondas,
videocassete, etc.
26
SILVERSTONE, Roger. HIRSCH, Eric (eds.) Los efectos de la nueva comunicación – el consumo de la
moderna tecnología en el hogar y la familia. Barcelona: Bosch, 1996. 354p.
27
SILVERSTONE, Roger. HIRSCH, Eric (eds.) op. cit.
3 JORNALISMO ONLINE – A PESQUISA DE RECEPÇÃO
3.1 Percurso metodológico
Quando comecei com o projeto deste trabalho, o maior desafio era saber
se os internautas usavam a Internet à procura de informações ou somente para o
entretenimento. Achava até que muitos só a utilizavam para as salas de batepapo. Este desafio surgiu a partir de 1997, quando fiz o curso de Jornalismo
Online, o primeiro ou um dos primeiros da América Latina, na Unisinos. Quando
começamos a pensar nos entrevistados desde trabalho, surgiu a discussão de
como seria o formulário de perguntas a ser aplicado entre os usuários da
Internet. Eu precisava saber um pouco dos hábitos de navegação para saber o
que os tais internautas estavam realmente fazendo na hora de entrar na grande
rede. Me preocupei muito mesmo em saber se as pessoas acessavam com
freqüência a notícias online.
Definidas as perguntas, optei então por um questionário eletrônico e
44
busquei as respostas pela Internet, disponibilizando o formulário em um site
pessoal28 (anexo 1). No questionário, fui em busca de questões básicas como os
hábitos de navegação, freqüência de uso, acessos a rede em casa e no trabalho,
qual a freqüência de entrada em portais de Jornalismo Online, e se a Internet é
usada para os afazeres no trabalho.
Após a definição das perguntas e a própria montagem do formulário para
ser respondido na rede, fiz uma lista de 12 endereços eletrônicos (sete do sexo
masculino e cinco do sexo feminino), com os quais tive contato através de listas
de e-mail. Para a montagem do formulário eletrônico, tive que apreender um
pouco mais da linguagem html, pois não conseguia entender como funcionava a
entrega eletrônica das respostas dos entrevistados. Após vencer este desafio,
enviei um e-mail para esta lista explicando os motivos da carta e indicando um
link para o formulário de pesquisa. Após acessar o site, o pesquisado preencheria
os dados e enviaria através da rede. As respostas foram remetidos diretamente
para minha caixa postal eletrônica.
Neste processo, o mais interessante foi a rapidez com que obtive as
respostas dos pesquisados. Os e-mails foram enviados em 24 de julho às
28
RECKZIEGEL,
Sadi.
Pesquisa:
Recepção
em
Jornalismo
Online.
Disponível
na
Internet.
45
21h21min29, e as primeiras respostas começaram a aparecer logo após o envio.30
Oito respostas chegaram nas primeiras 24 horas de pesquisa. Este índice indica
que a maioria das pessoas acessou pelo menos uma vez neste intervalo, a sua
caixa postal eletrônica (e-mail), e não exclui as demais, pois estes podem ter
acessado mas não preenchido logo o formulário. Mais duas respostas chegaram no
dia seguinte31, outra, alguns dias após32, e a última veio dia 9 de agosto33. Este
pediu desculpas pela demora na resposta, porque havia esquecido. Um fato
curioso envolve uma amiga de uma das pesquisadas. Ela quis fazer parte da
pesquisa e também respondeu às questões. Na verdade, se todos tivessem
respondido a pesquisa, eu teria mais respostas do que pessoas consultadas por email.
Com base nas respostas apresentadas pelos pesquisados, faço a seguir
algumas considerações sobre a recepção propriamente dita, a partir da
organização dos dados pesquisados nas seguintes categorias: Usos do Jornalismo
online, Temporalidade, Confiança na rede, As Mediações.
http://www.sadireckziegel.hpg.ig.com.br/FormTC.html. 23 jul. 2001.
29
To: @LIST0CC5.PML Subject: Pesquisa: Recepcao em JOL Date sent: Tue, 24 Jul 2001 21:21:44
30
25/07/01 - 09:43:11, 25/07/01 - 14:55:16, 25/07/01 - 17:30:07, 25/07/01 - 21:24:28, 25/07/01
31
Formulário enviado em 14:47:32, 27/07/01 - 14:31:51, 27/07/01
32
Formulário enviado em 17:18:37, 03/08/01
46
3.2 Perfil dos usuários da Internet
A seguir, faço uma descrição de cada um dos 12 entrevistados pesquisados
através da Internet.
Entrevistado 1
A Webwriter, com idade entre 31 e 40 anos e terceiro grau incompleto,
mora em são Leopoldo. Tem jornada de trabalho de oito horas e utiliza o
computador há 9 anos. Teve o primeiro contato com a máquina na empresa.
Atualmente, tem computador em casa, o qual é dividido com o esposo. A
motivação para compra foi o trabalho, a faculdade e o lazer. O programa mais
utilizado é o Internet Explorer e o programa de e-mail.
Fica conectada à Internet durante 20 horas semanais e utiliza o provedor
NetU (da Unisinos). Tem hábito de entrar em sites de notícia em todas as
conexões. Os sites preferidos são o Terra e o NO (anexo 7). Possui e-mail
gratuito e recebe em média 300 mensagens por semana. Faz parte de listas de
discussão, acessa a sua conta bancária pela Internet e se diz satisfeita com as
33
Formulário enviado em 21:54:01, 09/08/01
47
compras online que já fez. Utiliza também a Internet no seu trabalho para
disponibilizar conteúdo e diz que, na empresa, o acesso é liberado.
Quanto ao acesso a outras mídias, ouve as rádios Gaúcha e PopRock, tem
um aparelho de TV em casa e assiste em média uma hora por dia. Não tem
assinatura de jornais ou revistas.
Entrevistado 2
O estudante de Jornalismo com idade entre 21 e 30 anos, residente em
São Leopoldo, tem quatro componentes em seu grupo familiar, utiliza o
computador há sete anos. O primeiro computador que teve contato foi um 386
pertencente à empresa em que trabalhava. Hoje possui computador em casa, e a
motivação para compra foi o trabalho, a faculdade e a Internet. No grupo
familiar, só o pai não utiliza o computador que fica situado no escritório da casa.
Quanto ao acesso a outras mídias, o futuro jornalista ouve as rádios
Cidade, Gaúcha, Guaiba e União, assiste em média uma hora de TV por dia, não
tem assinatura de jornais e revistas e também não tem TV por assinatura.
Entrevistado 3
A secretária com idade entre 21 e 30 anos, com terceiro grau incompleto,
48
residente em Porto Alegre, possui seis componentes no seu grupo familiar. Tem
um computador em casa que fica instalado no quarto do irmão. Todos utilizam o
computador que já faz parte da vida da secretária há sete anos. Os programas
mais utilizados são o Word, Excel, Internet Explorer e E-mail. Tem acesso à
Internet em casa e na empresa, onde o acesso é liberado. Fica plugada na
Internet durante oito horas semanais. Nas suas navegadas, aproveita para dar
uma olhada nas notícias sempre que tem interesse e prefere o UOL para consulta
de informações. Em casa, usa o computador para trabalhos da faculdade, correio
eletrônico e entretenimento. Recebe em torno de 25 e-mails por semana. Acessa
também a conta bancária pela rede. O próprio trabalho da secretária exige que
ela utilize a Internet para receber e enviar correspondências, convocações,
entre outras coisas.
A secretária não tem assinatura de jornais, revistas e TV a cabo. Ouve as
rádios Cidade, Atlântida e União. Assiste em média uma hora de TV aberta por
dia.
Entrevistado 4
A Jornalista com idade entre 21 e 30 anos, de São Leopoldo, trabalha oito
horas diárias e utiliza o computador há seis anos. O primeiro computador que
teve acesso era de sua propriedade. A motivação para compra foi a faculdade e o
49
desejo de obter experiência profissional. Define o computador como “a
ferramenta do futuro”. Tem dois computadores em casa. Um fica instalado no
quarto de seus pais e outro no seu quarto. Para acessar a Internet, utiliza o
provedor gratuito “IG” e fica plugada em média quatro horas semanais. Procura
na Internet informação, entretenimento e usa o webmail. Recebe uma média de
100 e-mails por semana e também assina listas de discussão. Tem medo de
comprar online por causa do “sigilo dos dados pessoais e da mercadoria comprada
não ser boa”.
Na empresa em que trabalha, o acesso a Internet não é liberado, mas ela
utiliza para consultas em geral, e-mails.
A jornalista possui quatro aparelhos de TV em sua casa e assiste em média
mais de quatro horas/dia. Não tem assinatura de revistas nem de TV a cabo.
Suas emissoras favoritas são a Jovem Pan, Atlântida e Ativa,
e salienta que
gosta de música e não procura muita informação no rádio.
Entrevistado 5
O analista de suporte com idade entre 15 e 20 anos, residente em São
Leopoldo e terceiro grau incompleto, utiliza o computador há cinco anos. Tem
computador em casa e fica conectado à Internet durante 12 horas por semana.
50
Entra em sites de notícia sempre que tem interesse. Clic RBS, Agestado e UOL
são os favoritos. Tem webmail gratuito. Usa o computador para o trabalho e a
faculdade. Quando está na Internet procura entretenimento e informação.
Recebe cerca de 600 e-mails por semana. Assina algumas listas de discussão,
acessa a conta bancária e já fez compras pela Internet. Usa a Internet no
trabalho, onde o acesso é liberado, para leituras técnicas.
Quanto aos acessos a outras mídias que não a Internet, o analista de
suporte têm três aparelhos de TV em casa e assiste em média uma hora/dia. Têm
também assinatura do jornal Vale dos Sinos e da revista Infoexame. O analista
não possui acesso a TV por assinatura.
Entrevistado 6
O Jornalista com idade entre 21 e 30 anos, morador de São Leopoldo, tem
jornada de trabalho de seis horas e utiliza o computador há cinco anos. Tem
computador em casa, e a motivação para compra foram os trabalhos de
faculdade, e a necessidade de uso de e-mails profissionais e pessoais. Os
programas mais utilizados são o Word, Internet Explorer, E-mail e jogos. O
computador é dividido com sua irmã, e fica instalado no quarto dela. O provedor
de acesso a Internet que o jornalista usa é o Tutopia e fica plugado em média 30
horas semanais.
51
Quanto à outras mídias, o jornalista ouve às rádios Gaúcha, Ipanema, 103.3
e PopRock. Possui três aparelhos de TV em casa e assiste em média uma hora/dia.
Têm assinatura do Jornal do Comércio e da revista Veja. Não têm assinatura da
TV paga.
Entrevistado 7
O auxiliar administrativo, com idade entre 15 e 20 anos e terceiro grau
incompleto, residente em São Leopoldo, utiliza o computador há seis anos. Tem
jornada de trabalho de oito horas. Possui computador em casa e lembra que o seu
primeiro era um 386. A motivação para compra foi o trabalho e a escola. Os
programas mais utilizados são o Word, Excel, Internet Explorer, Netscape e Email. Faz conexão à Internet através do provedor gratuito Tutopia. Fica
conectado 20 horas semanais.
Quanto ao acesso a outras mídias, o auxiliar administrativo ouve as rádios
Gaúcha, Guaiba, Bandeirantes e Atlântida. Assiste em média três horas de TV
por dia e possui uma televisão em sua casa. Têm assinatura do jornal Vale dos
Sinos e não possui TV a cabo.
Entrevistado 8
O Jornalista, com idade entre 21 e 30 anos residente em Porto Alegre,
52
utiliza o computador há 10 anos. Lembra do modelo do seu primeiro computador:
um XT. Seu grupo familiar é formado por três pessoas e todos utilizam o
computador. Os programas mais usados são o Word, Pagemaker, Quark,
Photoshop, E-mail e Internet. Na casa do jornalista, o computador fica instalado
na sala de estar. O computador é usado à noite quando todos chegam em casa.
Acessa a Internet pelo provedor Terra.
Quanto a outras mídias, o jornalista têm acesso à TV paga, e possui três
aparelhos de televisão em casa. Assiste em média quatro horas/dia. Têm
assinatura dos jornais Zero Hora e Correio do Povo e das revistas Bizz, Set,
MTV, Amanhã, Eaí e Atlântida.
Entrevistado 9
A recepcionista com e idade entre 15 e 20 anos e segundo grau completo,
residente em Novo Hamburgo, utiliza o computador há quatro anos. Sua jornada
de trabalho é de oito horas diárias e seu grupo familiar é composto de três
pessoas. Utiliza a Internet no seu trabalho para verificar inscrições e os dados
dos inscritos.
As rádios favoritas são a Cidade e a União. Têm dois aparelhos de
televisão em casa e assiste em média quatro horas por dia. Não possui assinatura
53
de jornais, revistas e TV paga.
Entrevistado 10
A Auxiliar de recepção com idade entre 21 e 30 anos e terceiro grau
incompleto, residente em São Leopoldo, utiliza o computador há apenas um ano.
Tem jornada de trabalho de oito horas, e o primeiro contato com a máquina foi na
empresa que trabalha. Os programas mais utilizados são o Word, Excel e
Internet Explorer. Possui webmail grátis e fica plugada na rede uma média de
cinco horas semanais.
Quanto ao acesso a outras mídias, a auxiliar de recepção ouve a União FM,
assiste em média uma hora de TV por dia e têm um aparelho de TV em casa.
Entrevistado 11
O estagiário de 21 a 30 anos com o terceiro grau incompleto, residente em
São Leopoldo, utiliza o computador há seis anos. Trabalha oito horas por dia, e
seu grupo familiar é formado por cinco pessoas. O primeiro computador que teve
acesso era dele, um Pentium 100. A motivação para compra foram os trabalhos
escolares. Os programas mais usados são o Word, Excel e Internet Explorer.
Todos os cinco componentes do grupo familiar usam o computador que fica
instalado no quarto do entrevistado. O acesso a Internet é feito através do
54
provedor Tutopia. Fica conectado em média duas horas semanais.
Quanto a outras mídias, o estagiário ouve às rádios Gaúcha, Guaiba, União,
103.3 e Bandeirantes. Têm três aparelhos de televisão em casa e assiste em
média uma hora por dia. Possui assinatura do jornal Vale dos Sinos.
Entrevistado 12
O Analista Financeiro, com idade entre 31 e 40 anos, especialista em
administração financeira, residente em São Leopoldo, utiliza o computador há
dez anos. Tem jornada de trabalho de oito horas, e seu grupo familiar é
composto por duas pessoas. O primeiro computador que teve acesso era da
empresa e o modelo era – ED 251 (Edisa). Tem computador portátil que é
utilizado por ele e pela esposa. A motivação para compra foi a escola e a
profissão. Tem acesso a Internet pelo provedor Terra e fica plugado em média
10 horas por mês.
Quanto às demais mídias, a rádio favorita é a União FM, têm três
aparelhos de televisão e assiste a uma média de três horas por dia. Têm
assinatura das revistas Brasileira de Contabilidade e Resenha BMF, e possui TV
paga.
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3.3 Usos do Jornalismo Online
Quanto ao Jornalismo Online, a webwriter diz que confia nas notícias
online e lê diversas versões sobre o mesmo assunto. Ler na tela do computador
não é a mesma coisa do que ler no jornal impresso, mas é fácil habituar-se. “São
situações e posturas diferentes”, ressalta. No tocante a diferença entre o
jornalismo impresso e o online ela diz:
“É como comparar rádio e televisão, que são meios
totalmente diferentes. No entanto, a TV utilizou-se do
rádio no seu primórdio. Creio que ocorra o mesmo no
Jornalismo Online em relação ao impresso. Cada vez
mais, a grande diferença é a atualidade da informação e
a ampliação do número de fontes e versões disponíveis
no jornalismo na web”.
O estudante de Jornalismo acessa sites de notícia sempre que tem
interesse e procura pelo “Agestado” e pelo “UOL” (anexo 2). Recebe
semanalmente uma média de 30 e-mails. Já fez compras online e ficou satisfeito.
Só tem medo quanto ao sigilo do número do cartão de crédito. Também acessa a
conta bancária pela Internet. Usa a rede para se manter atualizado e confia nas
notícias online. Lê diversas versões sobre o mesmo assunto.
A secretária acha que a leitura na tela do computador é mais dinâmica e
crê que “cada vez mais as pessoas dependem da informação online em função da
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rapidez com que ela chega até as mesmas”.
A jornalista acessa ao site do jornal que tem acesso na versão impressa
quando não consegue ler o jornal. “É legal ver a diferença do tratamento que a
informação recebe no papel e na Internet, pois são linguagens diferentes, mesmo
que escritas. É uma mistura da TV, rádio e jornal. Há o som, a imagem e o texto”.
Quanto ao critério para ler uma notícia completa na rede, ela diz que não
pode ser muito longa, que seja atraente visualmente e escrita de maneira leve
mas que informe. Para a jornalista, ler na tela não é a mesma coisa que ler em
papel impresso pois “a tela engana. Muitas vezes relemos um texto e só quando o
vemos no papel é que verificamos algum erro. Tenho uma colega na redação que
imprime seus textos para lê-los melhor e evitar erros”.
Quanto à tendência de ler no computador ela entende que está relacionado
aos processos culturais e socioeconômicos contemporâneos.
“As escolas estão adquirindo cada vez mais
computadores e há aqueles que nem sabem o que é um
quadro negro e giz. Mas essa tendência só será uma
realidade quando as diferenças sociais e o acesso for
permitido para todos. Situação que no Brasil é
complicada: uns passam fome e outros tem o acesso a
tecnologias de ponta”.
Quanto à diferença entre o online e o impresso, a jornalista responde:
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“o impresso pode ser mais detalhado, pois pode ser lido
a qualquer hora e a qualquer lugar (bem deitado na
cama, na beira da praia...). Já o online tem que ser algo
dinâmico e atrativo visualmente para chamar a atenção
do leitor. Ele não vai ficar horas sentado sem conforto
numa cadeira, lendo notícias, ainda mais se forem
chatas e cumpridas. A Internet tem muitas opções e se
não formos atraídos de certa maneira, a vontade de
clicar o mouse e percorrer outros mares da navegação é
incessante. Ai já está a sacada da rede: navegar é
percorrer outros mares, sempre em busca de novos
horizontes e descobertas”.
O analista de suporte acessa a sites de notícias em todas as conexões.
Quando está na Internet, procura entretenimento e informação. Recebe
semanalmente cerca de 100 e-mails. Participa de listas de discussão. Tem medo
para fazer compras online, e o motivo é: “falta de segurança dos dados”.
O jornalista usa a Internet para atualizar-se na profissão. Na empresa na
qual trabalha, o acesso a rede é liberado e ele a usa para “pegar” as notícias.
Costuma ler diversas versões sobre o mesmo assunto e confia nas notícias online.
Os sites de notícia favoritos do auxiliar administrativo são o Clic RBS
(anexo 4), Agestado e UOL. Utiliza o computador para trabalhos, pesquisas e a
Internet para informação, promoções, pesquisas e entretenimento. Recebe em
média 25 e-mails por semana. Já fez compras online e ficou satisfeito.
Na hora de ler as notícias dos jornais, ele acessa o site do jornal impresso
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quando não consegue dar uma olhada no papel ou quando quer saber antes de ter
a versão impressa. O auxiliar administrativo não costuma imprimir o que está
lendo na tela porém ressalta: “só se for algo de muita importância, ou algo que eu
precise ler e reler para analisar”. Quanto à diferença entre impresso e o online
ele afirma: “A maior diferença é o dinamismo das informações”.
O jornalista fica plugado em média cinco horas semanais. Os sites de
notícia mais visitados são o Clic RBS, e o Terra (anexo 3). O computador é
utilizado para o trabalho, comunicação, compras e entretenimento. Recebe em
média 70 e-mails semanais. Faz parte de listas de discussão pela rede. Acessa a
conta bancária, faz compras online e só tem uma ressalva quanto à segurança dos
dados: “Só compro em sites seguros e nunca pago com cartão, somente com
depósito ou boleto bancário”.
O trabalho do jornalista exige que ele utilize a Internet para e-mail e para
troca de arquivos. Tem acesso liberado na empresa que trabalha. Ele acha que ler
na tela do computador não é a mesma coisa do que ler em papel.
“A leitura na tela cansa e confunde. É preferível
imprimir (quando for mais que uma tela de leitura)para
ter uma leitura mais agradável. Mesmo com o
aprimoramento, acho difícil cancelar de vez o papel.
Isso mais serve para os livros e revistas. Somente o
jornal diário é que corre o risco (na minha visão) de se
tornar obsoleto”.
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Quanto às diferenças entre impresso e online sentencia:
“O impresso podemos guardar e é de fácil acesso.
Barato, também. Online é logicamente mais barato, mas
o acesso não é tão fácil (linhas congestionadas, links
que falham...) e a notícia não fica lá para sempre depois de um tempo, é substituída por uma nova. O que
não acontece com o impresso... Fora isso, acredito que a
maneira de fazer o jornalismo se diferencie apenas no
tamanho das matérias, pois no Jornalismo Online é
sucinto e mais direto do que o impresso!”
A recepcionista não tem costume de acessar a sites de notícia. Navega
apenas para entretenimento e a procura de novidades. Tem webmail e recebe em
média dois e-mails por semana. Nunca fez compras online e tem medo “por haver
casos de clonagem e acesso indevido”. A recepcionista acha que com o avanço
tecnológico, será cada vez mais comum acessarmos um jornal online, do que o
impresso.
A auxiliar de recepção acessa a sites de notícia sempre que tem
interesse. Usa a Internet para o trabalho e para atualizar-se na sua profissão.
Recebe em média 20 e-mails por semana. Confia nas notícias online e somente lê a
notícia completa quando muito lhe interessa. Raramente imprime alguma
informação para ser lida em papel. A diferença entre o impresso e o online é a
sua atualização instantânea.
O estagiário entra em sites de notícia em todas as conexões. Tem webmail
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e recebe semanalmente 25 e-mails. Procura na Internet entretenimento e
informação. Assina a listas de discussão. Na empresa em que trabalha o acesso é
liberado e lá ele usa a Internet para buscar informações.
O estagiário acessa a versão online do jornal que também tem acesso na
versão impressa, quando não conseguiu ler em papel. A versão online é mais
resumida. “É basicamente o lead” justifica. O critério para ler uma notícia
completa na rede é o interesse pelo fato. Quanto a imprimir para ler, ele diz: “Se
me interessa muito, imprimo e mostro para outras pessoas”. Quanto à tendência
de ler na tela do computador, o estagiário responde: “Só se for para daqui a
muitos anos. A Internet não é popular como o jornal impresso. Não são todos que
têm acesso a computadores”.
O analista financeiro acessa a sites de notícia em todas as conexões. Seus
favoritos são: Agestado, Uol, Terra, Valor online e Projeção. Utiliza serviços
gratuitos da Intermanagers, projeção (anexo 5),
stockpicker, infoinvest,
planetaações (anexo 6) e econofinance. Usa a internet para o trabalho, escola e
lazer. Não tem e-mail grátis e recebe uma média semanal de 50 e-mails. Assina
listas de discussão, acessa a conta bancária, faz compras online e não tem medo.
Usa a Internet para atualizar-se na profissão. O seu trabalho exige que use a
Internet para acesso aos bancos e notícias. Na empresa, o acesso é liberado.
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Quanto ao Jornalismo Online; ele confia nas notícias na rede; lê diversas
versões sobre o mesmo assunto; quando muito interessa, ou pela gravidade, lê a
notícia completa. Nunca imprime e acha cansativo ler na tela do computador.
Segundo o analista financeiro, a diferença entre impresso e online é o acesso
mais rápido, instantâneo.
3.4 Temporalidade
A questão do furo em jornalismo se destaca neste item. Qual o jornalista
que não gostaria de dar em primeira mão qualquer notícia? A Internet agilizou em
muito a publicação dos fatos. Para a recepcionista “o Jornalismo Online é rápido,
atualiza as manchetes conforme os fatos vão acontecendo. Essa é uma grande
vantagem da informação online”. Vários entrevistados ressaltaram a atualização
instantânea da informação quando falamos em temporalidade. Agora não é mais
preciso esperar o jornaleiro chegar para ver as notícias quentinhas, basta ter
acesso a rede e entrar no site de seu jornal favorito. Lá estarão todas, ou
somente as principais notícias da edição, com efeitos de som e vídeo para você
acessar. Dependendo do assunto, você encontrará uma infinidade de links
relacionados ao tema para que possas saber muito mais. Em comparação ao
impresso isso é quase impossível, ou pelo menos não se tem visto.
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Um fato que ilustra bem, creio, a velocidade com que as coisas acontecem
via Internet, é o fato do americano Steve Fosset, balonista que queria dar a
volta ao mundo, após pousar em solo gaúcho na manhã de sexta 17 de agosto de
2001. Logo a informação estava na Internet mundial, distribuída pela agência
RBS. A foto feita por Júlio Cordeiro/Zero Hora, ganhou em poucas horas, as
capas das páginas web do “The New York Times, CNN World, Chicago Tribune,
BBC Londres, entre outros sites mundiais. Recebeu também, ampla atenção em
sites brasileiros. A distribuição de fatos e fotos pelo mundo é muito mais rápida
com o advento da Internet. Quem tivesse acesso a Rede por exemplo, na sextafeira, não precisou esperar até sábado para receber a notícia pelo jornal
impresso. Bastou entrar num site de notícia e lá estava o fato com tudo que tinha
direito.
3.5 Confiança na rede
A grande reclamação dos entrevistados foi quanto à segurança dos dados
fornecidos na Internet. O medo se resume aos problemas noticiados quase que
diariamente nos meios de comunicação, como a clonagem do cartão de crédito.
Ninguém gostaria de ser surpreendido com uma fatura para pagar que não fosse
do titular do cartão. “Só compro em sites seguros e nunca pago com cartão,
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somente com depósito ou boleto bancário”, previne um jornalista. Já a webwriter
afirma que só utiliza os serviços em que confia. Outra entrevistada tem medo ou
receio da qualidade das mercadorias compradas: “Tenho medo da mercadoria não
ser boa, trocas, dados pessoais”. Já o analista de suporte também tem medo para
fazer compras online e o motivo é: “falta de segurança dos dados”.
A suposta falta de segurança aliada à desconfiança dos usuários na rede
talvez explique o fato de somente 50% dos entrevistados acessarem a sua conta
bancária via Internet. Alguns entrevistados também questionaram a veracidade
dos fatos divulgados na rede. A maioria respondeu que lê diversas versões sobre
um mesmo assunto para não cometer os enganos. Um jornalista definiu: “O
Jornalismo Online tem muita agilidade, mas, às vezes, essa pressa em colocar a
notícia no ar induz ao erro. Dessa forma, o jornal impresso se torna um pouco
mais confiável”.
3.6 As mediações
Uma mediação importante observada na pesquisa é o fato de que três dos
entrevistados são jornalistas e um é estudante de jornalismo. Como o Jornalismo
Online é assunto de discussão da área, é importante ver como os jornalistas vêem
a questão do JOL. Eles conhecem as lógicas e operações da mídia. Tem maior
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familiaridade com essas lógicas e por isso são mais críticos ao seu meio e fazem
observações mais profundas. Uma jornalista define a diferença entre Jornalismo
Online e impresso da seguinte maneira:
“O impresso pode ser mais detalhado pois pode ser lido
a qualquer hora e a qualquer lugar (bem deitado na
cama, na beira da praia...). Já o online tem que ser algo
dinâmico e atrativo visualmente para chamar a atenção
do leitor. Ele não vai ficar horas sentado sem conforto
numa cadeira, lendo notícias, ainda mais se forem
chatas e cumpridas. A Internet tem muitas opções e se
não formos atraídos de certa maneira, a vontade de
clicar o mouse e percorrer outros mares da navegação é
incessante. Ai já está a sacada da rede: navegar é
percorrer outros mares, sempre em busca de novos
horizontes e descobertas”.
A jornalista faz referência neste caso a vários tópicos como os lugares de
uso indicando nosso cotidiano. Também entra na questão da simultaneidade de
ofertas e faz ligação com as matrizes culturais.
A profissão de cada usuário da Internet é um fator importante de
mediação. Por exemplo, os jornalistas entrevistados nesta pesquisa fazem uso
diferenciado das notícias online. Já o analista financeiro fica plugado nas notícias
sobre o mercado financeiro, pois é importante que ele saiba como está o mercado
na hora de fazer aplicações ou resgates de fundos de investimento.
O grande número de e-mails recebidos pelos entrevistados faz uma
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referência importante a comunicação e troca de informações que certamente não
acontecia com tanta freqüência antes da chegada da Internet. Hoje, o e-mail é
usado em grande escala nas empresas e organizações, pois facilita o fluxo de
informações que antes eram trocadas através de impressos ou por telefone.
Creio que até exista uma grande economia de papel, ou pelo contrário, as pessoas
estejam imprimindo quase tudo o que recebem via rede. Alguns entrevistados
responderam que só imprimem o que acham muito importante para mostrar aos
colegas de repartição.
A mediação tecnológica, defendida por Baccega (2001), aparece quando
uma entrevistada faz referência a forma de apresentação das informações via
Internet. “É legal ver a diferença do tratamento que a informação recebe no
papel e na Internet, pois são linguagens diferentes, mesmo que escritas. É uma
mistura da TV, rádio e jornal. Há o som, a imagem e o texto”. Essa citação
também leva em conta a mediação que acontece no âmbito da produção, porquê é
necessário o uso de várias tecnologias para que se possa disponibilizar as
diversas mídias em uma só. Como foi citado, reunir o rádio, a televisão e o jornal,
num só grande meio.
CONCLUSÃO
O rápido crescimento da Internet, bem como as múltiplas possibilidades
oferecidas por esse novo ambiente comunicacional, têm provocado profundas
mudanças na vida das pessoas. O grande diferencial deste novo meio é a
globalização da informação fazendo com que não existam mais fronteiras. No
momento que o indivíduo tiver acesso a rede ele consegue informações
espalhadas em qualquer ponto da terra. Isso acontece quando acompanhamos o
USA Today (anexo 8) pela rede com as informações em tempo real. Quando
viajamos para outros países e queremos saber como andam as coisas na terra
natal, é só entrar no site do jornal, rádio ou TV da região e ver as notícias.
Até podemos assistir a programas de televisão, como o Fantástico da Rede
Globo (anexo 9), de qualquer ponto da terra. Isso já não seria possível pelo
sistema atual de transmissão via antena. O mesmo também acontece com o rádio
e o jornal. Receber o Herald Tribune (anexo 10) aqui em São Leopoldo seria
talvez impossível, mas se acessarmos o site do jornal na Internet, podemos ter
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acesso às informações nele veiculadas.
A maioria dos entrevistados tem acesso à rede em seu trabalho e usam a
ferramenta em algum horário do dia ou nos afazeres profissionais ou em casa.
Durante as navegadas, aproveitam para ver a caixa postal – correio eletrônico – e
dar uma olhada em sites de notícia.
Em 75% dos entrevistados o computador apareceu primeiro no trabalho e,
mais tarde, ele foi adquirido para consumo próprio e começou a fazer parte de
algum espaço na casa.
Hoje 84% dos entrevistados possuem computador em
casa, e este é utilizado para o trabalho, faculdade, lazer e Internet. Os
programas mais utilizados são da geração Microsoft, como Word, Excel, Internet
Explorer, Outlook entre outros. Os componentes do grupo familiar dos
entrevistados, na sua maioria, fazem uso do computador. Uma das reclamações
dos pesquisados é quanto à segurança dos dados para compras online e até para
acessar a conta bancária. A maioria já utiliza a rede para consultar saldos e até
mesmo para fazer pagamentos. O acesso a Internet é feita através de provedor
pago por 75% dos entrevistados, e os demais fazem o acesso através de
provedores gratuitos como IG e Tutopia.
No que se refere aos usos do Jornalismo Online, JOL, podemos classificar
os entrevistados em navegadores ávidos por notícias e os navegadores que
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somente entram em sites de notícia quando algum fato muito importante
acontece, e é comentado por colegas. O primeiro grupo acessa sites noticiosos
em todas as suas entradas na Internet. Este grupo representa 40% dos
pesquisados. Este índice elevado de pessoas que acessam a notícias pela rede
pode também ter alguma relação com as profissões dos entrevistados. No caso,
25% dos entrevistados são jornalistas, e estes, pela natureza da profissão,
procuram por notícias o tempo todo.
Deste grupo, também faz parte uma
webwriter.
O segundo grupo é formado por aqueles que não acessam sempre sites de
notícia na rede. Este grupo só entra nestes sites quando tem algum interesse
específico. Por exemplo, quando tem algum fato muito importante acontecendo e
é noticiado amplamente por outras mídias. Então surge o interesse para ver
detalhes do fato. Este grupo representa 50% da pesquisa. A grande influência
para este índice deve ser o interesse pela atualização na área de trabalho de
cada entrevistado.
Essa pesquisa foi apenas um começo. Muito ainda deve ser estudado sobre
a recepção em Jornalismo Online. Intensificar os estudos nessa área, poderá
colaborar para a compreensão do jornalismo através da rede mundial de
computadores. Distribuir e receber informação à “la carte” pode ser uma das
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grandes pedidas, segundo Nicholas Negroponte.
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34
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ANEXOS
Anexo 1
74
75
76
Anexo 2
Anexo 3
Anexo 4
Anexo 5
Anexo 6
81
Anexo 7
82
Anexo 8
83
Anexo 9
84
Anexo 10