Fichamento - PET Filosofia

Transcrição

Fichamento - PET Filosofia
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
PET-Filosofia
Aluna: Jaqueline Silva Custódio
Data: 08/06/2016
Fichamento do cap. VIII, Joaquim, do livro O sentido da História, de Karl Löwith
No vigente capitulo, Löwith trata da interpretação histórica de Joaquim. Löwith
explica, na primeira nota de rodapé, que ao escrever sobre baseou sua apresentação
nos estudos de H. Grundmann e E. Benz, já que não havia uma versão das principais
obras de Joaquim, e a única tradução que ele encontrou foi a do escritor E. Aegerter,
“Joachim de Flore, I’évangile éternel” de 1928.
Löwith começa o capitulo ressaltando a importância do sistema de interpretação
de Joaquim, no qual é apresentada uma nova estrutura de épocas, modificando a
tradicional, de progresso religioso. A doutrina de Joaquim ficou conhecida como
<<Evangelho Eterno>>, essa doutrina propõem uma nova interpretação dos antigos e
novos testamentos, na qual a Revelação de São João tem um papel importante, que
Löwith trata mais à frente.
A interpretação de Joaquim do evangelho eterno vai além dos comentários
tradicionais de Bossuet sobre o Apocalipse, no qual a igreja católica romana, nas
palavras de Löwith, “(...) deve também continuar até o fim do mundo como a única
representação legítima da vontade de Deus na Terra” (p. 148). Joaquim aplica o termo
evangelho eterno de uma maneira mais espiritual, segundo Löwith, na qual a igreja
deixaria de ser apenas uma hierarquia clerical, e se tornara uma “comunidade monástica
de santos”, que terá o papel de curar um mundo em separação.
Porém, ao que tudo indica, a igreja não estava totalmente de acordo com tais
ideias, já que, como explica Löwith citando Rufus Jones, em 1254 foi escrito um livro
chamado “Introdução ao Evangelho Eterno” que fez com que o movimento dos
seguidores da doutrina de Joaquim crescesse, e o autor do livro, Gerardo de Borgo San
Donnino, foi condenado a prisão perpetua.
“(...) Como efeito, terminaram bruscamente, no seio dos membros da
Igreja oficial, os sonhos de uma nova época do Espirito, enquanto
levava para os campos da heresia um cada vez maior número de
sonhos, esperanças e expectativas”. (Rufus Jones, por Löwith, p. 149).
Progresso providencial para um eschaton histórico
Lowith descreve a relação que Joaquim teve com os escritos da Revelação de São
João, o Apocalipse, comparando-a com a revelação de Nietzche, sobre a verdade do
Eterno Retorno.
“O que Joaquim viu ser-lhe revelado foi simultaneamente o significado
histórico e místico dos símbolos e figuras do Antigo e Novo
Testamentos, convergindo numa imagem total da história da salvação
do princípio ao fim da realização histórica do Apocalipse”. (Löwith, p.
149).
A revelação de Joaquim o permitiu ver a relação entre os Testamentos e a
história atual, na qual os personagens apresentam uma função na história, para Joaquim
a história sagrada seria concordante com a história secular. Portanto Joaquim pode
prever de uma forma profética as fases futuras da história, já que ele explica quais foram
os acontecimentos passados e quais seriam os futuros, levando como corte entre as
épocas seu próprio século. A partir disso, como explica Löwith, Joaquim tenta explicar a
história através da religião e a Revelação de São João através da história.
A seguir, Löwith explica como funciona o esquema de interpretação de Joaquim,
que se baseia nas três pessoas da Santíssima Trindade: o Pai, o Filho e o Espirito Santo.
“A primeira época foi iniciada por Adão, assente no medo e sob o signo
da lei; desde Abraão que frutificara, vindo a concretizar-se em Jesus
Cristo. A segunda foi iniciada por Uzias, assente na fé e humildade e
sob o signo do Evangelho; desde Zacarias, o pai de São João Baptista,
que frutificara e se concretizara em épocas futuras. A terceira foi
iniciada por São Bento, assente no amor e na alegria e sob o signo do
Espirito; desaparecerá com o reaparecimento de Elias no fim do
mundo”. (Löwith, p. 151).
As três épocas não apresentam ao certo um fim e um começo totalmente
delimitados, já que elas se sobrepõem e a terceira não teria se concretizado totalmente,
pois como diz Löwith, caminha para a completa <<liberdade>> do <<espirito>>. Cada
época tem sua característica, que se somam ao final. A primeira, a época do Pai, é a
ordem dos casados e é levada através do trabalho; a segunda, a época do Filho é a ordem
dos clérigos, guiada pela aprendizagem e disciplina; a terceira, época do Espirito Santo,
é ordenada pela contemplação e louvor, é da ordem dos monges.
Para mostrar como as épocas estão interligadas, Löwith explica que o que ocorre
na terceira época já é mostrado nas duas épocas anteriores, porque o Antigo e o Novo
Testamento estão ligados, o que ocorre no Antigo é como uma previsão para o Novo se,
como diz Löwith, for interpretado espiritualmente.
O período das épocas de Joaquim leva cerca de 30 anos, pois o número 30
carrega uma bagagem espiritual, por ser a idade de Jesus “(...)quando adquiriu os seus
primeiros filii epirituales(...)” (Löwith, p. 152), e a partir disso a geração de Joaquim seria
a quadragésima1, portanto a partir da ideia de seus seguidores, após mais duas
gerações, como explica Löwith, Frederico II surgiria como o Anticristo.
Löwith ressalta que o mais inovador da doutrina de Joaquim não é seu
“(...)método profético-histórico de interpretação alegórica(...)” (Löwith, p.152), mas sim
sua forma de relacionar as Escrituras e a história, Löwith conclui que a partir da
interpretação de Joaquim, o tempo ocorrido não deve ser tratado da maneira
tradicional, como apenas algo do passado, e sim como algo que volta no futuro.
“A interpretação da história torna-se, deste modo, uma profecia, e a
interpretação correta do passado depende da perspectiva adequada em
relação ao futuro, em que os significados anteriores chegam ao fim” (Löwith,
p. 153).
A partir disso, que o eschaton transcendente é formado, já que a interpretação
de Joaquim nos leva a uma “nova eternidade”, que seria através da segunda vinda de
Cristo. Isso limita a igreja tradicional, já que a última época de Joaquim seria a última
face de Deus na Terra e no tempo, já que após isso seria a vinda da nova eternidade.
Portanto a igreja fica detida as duas primeiras épocas, porque na última se inicia a Era
do Espirito.
Löwith explica que mesmo com sua interpretação, Joaquim não critica a igreja
contemporânea a sua época, ele somente esperava uma renovação espiritual. A
revolução teria sido buscada mais tarde, por volta dos séculos XIII e XIV, pelos
franciscanos, seguidores de Joaquim, que buscavam “(...) transformar a igreja numa
comunidade dos Espirito Santo, sem papa, hierarquia clerical, sacramento, Sagrada
Escritura e teologia(...)” (Löwith, p. 154), eles previam o fim da Igreja clerical, e viam no
imperador a figura do Anticristo. Com isso acabaram por se envolver em muitos
conflitos, principalmente com a Igreja católica romana, que abrandou o movimento, o
tornando uma seita autorizada entre outras seitas.
No século XIV, critica Löwith, a escatologia político-religiosa animou a Itália, com
a vinda de Cola di Rienzo, um novo líder, que buscava a colocação de um novo imperador
messiânico no lugar de Frederico II, já que para ele, se baseando nos franciscanos, ”(...)
a descida do Espirito Santo não é um acontecimento único no passado, mas algo que
pode voltar a suceder(...)” (Löwith, p. 155). Portanto, Cola di Rienzo, acreditava que
poderia modificar a Igreja, mas acabou preso a mandato de Carlos IV.
1
Löwith explica que Joaquim baseou seus cálculos nos seguintes versículos da bíblia:
“Quanto ao átrio externo do Templo, deixa-o de lado e não meças, pois ele foi entregue ás nações que
durante quarenta e dois meses calcarão aos pés a Cidade Santa”. (Apocalipse, 11:2).
“e a Mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe havia preparado um lugar em que fosse alimentada por
mil, duzentos e sessenta dias”. (Apocalipse, 12:6).
“Portanto, o total das gerações é: de Abraão até Davi, quatorze gerações; de Davi até o exílio na
Babilônia, quatorze gerações; e do exílio na Babilônia até Cristo, quatorze gerações”. (Mateus. 1:17).
Conclusão
Löwith começa concluindo que as consequências que as previsões de Joaquim
acarretaram não foram previstas pelo mesmo, consequências essas que trouxeram
problemas a igreja, que teve de reafirmar as suas posições. A igreja insistiu na divisão
do Antigo e Novo Testamento, excluindo a terceira época de Joaquim, na qual surgia o
maior problema para a igreja, já que como explica Löwith na sua décima quarta nota de
rodapé (p. 156), através da ideia de Joaquim a igreja foi pensada como a vida, morte e
ressureição de Jesus, portanto a igreja também deve viver, morrer e ressurgir como a
Igreja do Espirito Santo.
Ressalta Löwith, que a doutrina de Santo Agostinho e São Tomás que dominaram
a história teologicamente, e que é a partir deles que a verdade cristã se coloca sobre
fatos históricos, diferentemente de Joaquim, que segundo a conclusão de Löwith, deixa
a verdade em um “horizonte aberto”. Em seguida, Löwith realça os pontos diferentes
entro o pensamento de Agostinho e Joaquim.
“Segundo o pensamento de Santo Agostinho, é possível a perfeição
religiosa em qualquer ponto do curso da história após Cristo; segundo o
pensamento de Joaquim, apenas num período definido de uma conjuntura
definida. Para Santo Agostinho, a verdade cristã é revelada num único
acontecimento, para Joaquim numa sucessão de idades. Um espera o fim do
mundo, o outro a época do Espirito Santo antes do fim derradeiro”. (Löwith,
p. 158).
Com a morte de Frederico II, que seria o Anticristo na visão dos joaquimitas, em
1250, dez anos antes da data definida para o juízo final, a interpretação históricoescatológica foi refutada, mesmo com esse erro os franciscanos tiveram, segundo
Löwith, importância para a igreja. “Reinstituiu os ideais e a esperança de um período em
que a fé cristã se via ainda confrontada com a idolatria e os padrões dos pagãos”.
(Löwith, p.159).
O Cristianismo sempre resistiu aos ataques que sofreu, desde os judeus e pagãos,
até o racionalismo cartesiano. Para Löwith, o problema da igreja contemporânea é a
falta de um adversário à altura, que Löwith chama de um “paganismo genuíno”,
Para Löwith a interpretação de Joaquim teve consequências ruins por meio do
joaquinismo, que ele não previa, compara a situação com a de Lutero, que também não
foi capaz de prever o que aconteceria com a sua intenção religiosa na mão de outros no
futuro.
“(...) a esperança de Joaquim de uma nova época de
<<plenitude>> poderia ter dois efeitos opostos: poderia fortalecer a
austeridade de uma vida espiritual à margem da humanidade da
Igreja, e logicamente que foi esta a sua intenção; mas encorajaria
também a luta por novas realizações históricas, e foi este o resultado
a longo prazo da sua profecia de uma nova revelação”. (Löwith, p.
160).
Löwith critica que as consequências de tais ideais, foram de certa forma a
secularização do mundo, e o pensamento escatológico teve um grande papel nisso, já
que a ideia de que o ultimo problema deve ser introduzido como penúltimo, acabou por
intensificar a tendência secular de que a solução final não pode ser dada através de seus
próprios meios, como explica Löwith.
Referências
LÖWITH, K. O Sentido da História. Lisboa, Edições 70, 1991.
Biblia de Jerusalém. São Paulo, Edição Paulus, 2002.

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