Allen Wood - verlaine.pro.br
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t<ar1t ALLEN W. WOOD Professor ele Filosofia nc1 Universidade de 5tanford, Califórnia Tradução Delarrwr José VolpatÇ> Dutra Consultoria, supervisão e revisão i técnica dest-.-1. edição: Valerio Robden Doutvr ', e livre-clucente em Filosoi f a pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com pós-doutorado na Universidade de Miinsw; Alemunha. Professor titular Je Filosofia na Universidade L_!tteraná do BrasiL A O·{tica da razão pura foi fundamental pelas contribuições filosófi· :as que tornam a obra ele Kant memorável para nós. A CrÍLica ela razi'io >rática foi um crescimento d a obra de Kant em uma segunda edição de sua >bra fundamental e também de sua tentativa de esclarecer os f un damcn os ela filosofia prática como ele os tinha apresentado na Fundamentação. É iifícil dizer por que Kant escreveu a Crítica ela fawldade elo ju{zo, a qual, �le afirma, leva sua empresa crítica i nteira a um termo (KU 5:170). Seu )bjetivo fundamental, claramente ad m itido, foi unir o que ele percebeu ;er um abismo infinito entre o tratamento da razão prática e da razão .eórica em sua filo so fia e, p or meio disso, unificar seu sistema filosófico. ::ontudo, qu al seria exatamente o problema tratado, ou qual seria suposta nente o problema em si mesmo, é m atéri a ele di s pu ta p rof1.1 n d a entre os �specialistas em I<ant até hoje. Em um estudo como este, cu evitarei expor :JUalquer opinião nessas questões, pois qualquer tratamento que eu pu des ;e dar ser ia inevitavelmente controverso e não hav eri a espaço aqui para �xplaná-lo ou defendê-lo. (Contudo, talvez eu possa cstnr certo de ret i rar :ríticas de todos os lados, ainda qne eu ofereça a modesta sugestão de :.�ue, sob o ponto de vista elo legado filosófico duradouro de Kant, as ques :ões obsc u ra s que circundam a un idade do sistema kantiano possam ser de menor interesse do que devotndos especialistas em I<ant geral mente pen :;am que seja.) /\parte desse objetivo fundamcn1al (aiuda que obscuro) , entretanto, o propósito de Kant na terceira e final CdLiru foi tamb ém tratar de dois tópicos que foram de gra nd e imponftncia filos ófi ca em seu rempo, bem como guiar algumas das coisas que foram ditas sobre eles e que, n a visão de KcnL, violavam os escriLos críticos que sua filosofia havia lançado . O 184 Allen W. primeiro tópico era o gosto, seus padrões próprios e as implicações de nossa experiência da beleza para a metafísica e a moralidade. Estas foram questões com as quais muito se ocupou, criativamente, o pensamento do s écu l o XVIII. O segundo tópico era a teleologia natural, sua função na ciência natural e suas implicações para a moralidade e as crenças religio sas. O ponto de vista mecanicista da natureza encabeçado por Descartes e grande parte do pensamento moderno em seu início, foi contrariado or Leibniz e pelos platônicos de Cambridge, sendo que a segunda metade do século XVIII testemunhou uma forte continuação dessa reação, especial mente por parle de certos pensadores alemães. Kant quis dar o devido respeito a essa reação, ainda que moderando alguns dos entusiasmos anti<.:ientíficos aos quais ele acreditava serem propensos. Contudo, ambos os tópicos, como Kant podia claramente perceber, eram perlinentes a problemas de sua própria filosofia crítica que ele via como ainda pendentes. Kant nomeou tais problemas em conjunto, referin do-os ao a bism o incalculável" entre sensível e supra-sensível, natureza e liberdade, razão teórica e pr ática (KU 5: 175-176). Quase imediatamente após a recepção da filosofia crítica de Kant, e desde então, ele tem sido acusado por alguns de estabelecer um conjunto de clualismos falsos e não saudáveis-entre fenômenos e coisas em si ·mesmas, natureza e moralidade inclinação e dever. A Crítica da faculdade do juízo é o reconhecimento des� sas crfticas pelo próprio Kant e a sua tentativa de respondê-las. 'ütl como a milior parte ela estética do Esclarecimento, Kant afirma haver uma conexão bastante estreita entre moralidade e sentimentos esté p " ticos do belo e do sublime. Ele vê tais sentimentos como conectando e mediando a razão moral e a nossa nalllreza sensível. Beleza c sublimidade nos dão um autêntico sentimento da moralidade o u até mesmo (na feliz ' frase de Paul Guyer) uma experiência da liberdacle.1 Como podemos atual mente ve1� na experiência da beleza, segundo o tratamento kantiano dado a ela, a faculdade do juízo medeia - e registra uma hannonia espontânea entre -nossa faculdade sensível da imaginação e nossa faculdade intelec tual elo entendimento, A experiência da beleza também nos fornece cons ciência de "idéias estéticas" - representações sensíveis ou imaginativas às quais nenhum conceito é adequado, que são o complemento das idéias da razão ou seja, representações intelectuais às quais nenhuma intuição sensível pode ser adequada. O outro tema maior da terceira Crítica, a teleologia da natureza, conecta, em última análise, nossa ciência teórica da natureza ao sistema dos fins morais, mostrando-nos uma visão da natu reza qne se harmoniza com nossa vocação moral, unindo, assim, o abismo entre razão teótica e prática, liberdade e natureza. Ao mesmo tempo, porém, a Crítica da fawldade do jufzo define cui dadosamente o único lugar d os juízos estéticos em nossa vida mental e -, determina o 185 Kant Wood papel especial e limitado dos juízos teleológicos em nossa investigação da natureza. Desse modo, ela também efetiva _o empreendi mento crítico de Kant, guardando os limites de nosso conhecunento co�tra uma espécie de entusiasmo estético ou religioso que ele vê como teoncamente irresponsável e praticamente perigoso. , . . Neste capitulo, examinarei brevemente o aspecto estettco do proJeto kantiano na terceira Crítica e sua relação com as teorias tradicionais do gosto que Kant estava tentando mediar e cuja oposição ele também estava tentando transcender. es. Eles não Juízos sobre um objeto ser belo ou fei o são muito peculiar · vezes, como são como meras asserções que podemos considerar, algumas "agr tclável" o obre agradáveis ou repugnantes-- que Kant chama de juízos � � cam de cha o agrade �mlla p�r ou "desagradável". Suponhamos que me ,:'a sct-vt-lo a num que cu o associe a minha velha e doce avó, que costuma agrade porque nao ele você a que passo ao , marzipã com criança quando -lo a vo:e como sua governanta com pele enrugada costumava empurrá s o qua!1uma espécie ele medicação punitiva acompanhada de uma repreen � cl e Nao au s sua para ruim ava consider ela que do você fazia alguma coisa não você e isso aprecio Eu r. discorda s possamo que o sobre 11á nada aqui ; em -e e Nós dois temos ciência desses fatos e sabemos como eles prevalec objeto é bel� e tudo o que há para isso. No entanto, se. eu digo que certo alguma cmsa sobre ndo discorda como s você diz que é feio, nós nos olhamo ira, então verdade for s asserçõe nossas de a um se que, os -nós dois pensam sido predicaclas a outra deverá ser falsa. Ambas as asserções parecem ter seu tamanh o de um objeto real ou de wna propriedade objetiva, tal como todos esses entende Kant mau. ou bom é ou sua massa ou, inclusive, se ele des o�jeti roprieda o jei s do do predican � como F caso, r e u � juízos, em qualq . _ mente uma hbta. obJetiva e hbra uma de arroz de saca Uma coisas.1 das vas instru é facas elas ão Uma faca que efetivamente serve às finalidades-padr faca que torna menlalmente ou funcionalmente boa, ao passo que uma a por leis proibid ação Uma ruim. é r alcança de difíceis essas finalidades estabelecem elas que ação uma que passo ao má, ente moralm é morais como meritória é moralmente boa. s do mesmo Nã.o obstante, juízos de beleza e feiúra não são objetivo a bondade sobre juízos que ou peso o e o nh a m a t o modo que juízos sobre é que ele nos objeto um de bele7.a a sobre l essencia coisa A e. maldad ou a z C an o os obje apraz e sobre a feiúra ele outro objeto é que nos desapra q� ncta em rela expene nossa e ada apropri tos são considerados ela maneira juizo genu.íno m u a os estranh fatores por da distorci é ção aos mesmos não . ? 186 Allen W. Wood ------ 187 Kont e---- - ele gosto). Nossos juizos de gosto divergem por que cada um de nós pensa que o ontro deva, no mínimo, estar apto a considerar o objeto dessa ma neira apropriada e q ue, quando isso a con tece, o out ro deve compraze r-se com o objeto que consideramos belo e não gostar do objeto que conside ra mos feio. Prazer e desprazer, porém, são sentimentos essencialmente sub jetivos. Como Kanl com req üência insiste, o mero fato ele que um obj eto nos ap. ra� ou des apra z nao nos dá q ua lq uer indicação de suas proprie da des o JetJvas, nem .me sm ? c e modo seme l hante a como a cor de um obje to me diZ algumn cotsa obJetiva sobre a luz que sua superfície reflete sob certas condições. A t.'mica i nformaç � o que eles dão é sobre o sujeito. Então, juízos de gosto parec em a pre senta r-nos um p ara doxo. Eles pos sivelmente não podem ser juízos objetivos sobre um objeto, mas nós os tratamos como se fossem . Beleza e feiüra funcionam no discurso como se fossem pro priedades objetivas das coisas, ainda que s aiba mos perfeitamente b em que n ã o são. Como pode acontecer que cheguemos a considerar um objeto como aprazível ou não-aprazível, ao menos quando é visto de um certo modo, como se fosse uma proptiedade objetiva dele? Poderia parecer que tratam os esse ca so especial de prazer e des p r azer como no rmati v o, como se quando ele foss e visto des se modo fo sse correto, em algum senti do, ser aprazido por um objeto belo e errado não ser ap razid o por ele . Kant é fTeqüentememe visto como t entand o med·iar ou trans cender a o posiçã o entre "racionalismo" e "em pi rismo" na teo ria do conhecimento. Con�udo, a únic a área da filosofia na qual ele entende sua própria tarefa precisamente nesses termos é n a estética (KU 5:346)1 Pode ajudar-nos a entender a sua teoria do gosto anal isarm os brevemente as sol.u ções "em piristas" e "racionalistas" dadas ao paradoxo sobre os juízos de gosto e vermos por que Kant considerou ambas as soluç ões insatisfatórias. Racio nalistas como Baumgarten ou Mendelssohn identificam a beleza com a bondade ou a perfeição, sendo apreendida preferencialmente pelos senti dos antes que p elo intelecto. O ca �·�t er específico desse modo de apreen são, para eles, reside não só no fato de ser confuso, mais q ue distinto, mas também no fato de que eles vêem o prazer e o d esp razer sensorial como indispensável p a ra nos motivar à ação. Empirisras como Hutcheson ou Hurne identificam a beleza c om o agra dá vel, mas uma agradabilidade é senti da somente sob certas condições -livre de in tere sse ou preconceitos, por alguém experiente no tipo de objeto estét ico que deve ser julgado. Kant rejeit a o ponto racionalista porque l ocal iza o ca rá ter eminentemente não subje ti vo e não-conceitual da beleza apenas no modo de sua apreensão, ao p asso que es ses aspectos pertencem à natureza da própria beleza. Ele c?nsi dera o ponto de vista empirista, em contraste, como inapto para con stderar adequadamente a normatividade dos juízos estéticos, visto que o padrão canônico das con diçõe s idealizadas dos juízos estéticos conta como norm a tivo somente porque juizos sobre a agradab il idad e , feitos sob tais � ? � eliciar nos�a apr �v ação - p? rque condições, ocorrem , mais uma vez, para noçao de JUÍZO estettc� nossa à veis agradá são ões condiç as próprias . do que, novameme, outro f<.�t.o mas isso tamb ém nunca pode ser mais . el adáv r g a empírico sob re o que consideramos . . t m de com b m� 1 a Uma s ol ução satisfatória ao prob lema do gosto � JUIZOS normatividade genuína ou a validade universal, a ncccss1dadc de tms ��e e o t fa o :' co , cl da e tivi para todos os sujeitos com sua essencial subj , ou de sa p taz , aprctz os n que ao ente eles sempre se referem fundamentalm p razer �u desp raze.r �e; e não a. qu alqu er proptiedade objetiva que c�L� sa Is so e de nossa ÍéiCUldacle cobrnJttva por me10 da qual �· � � � ramente por causa . . conhec ido. , plorar, sua propna teon 1 A solução proposta por Kant consiste em ex � im o s no Capi LUlo 2, o conheci de nossas facul dades cognitivas. Como v , el . tra da intuição s�n s 1v mento humano ocorre por meio da cooperação tlla conceJ sao estes , o t n e nd im vés dela objetos são dados e, através do e nte os sobre eles ,.. Considera ndo l izad os ' t ornan d o possíveis os juízos objetiv preocupad? co1�1 as :·e1a está 1 Ka os estétic : � nossa c'ap acidade para juízos ! s_ c�m a 1m�gmaçao -, a : n , umnça a com não to n e dim n ? ções do e nte tcta d� objet�� (c?n: visto que os juízos estéticos não c? n cernem a exrste! sens ive l patd a lll1d ntaçao represe dados na intuição) mas somente <J su a j uízo é a faculd�de O não.2 ou do existin como g�nação, sejam ele� dados . tos �ob os qu�I� o concel aos o çã a agin im na dado é ue q que relaciona 0 . de d01s npos. No J u�zo dado pode ser pensado. Essa relação pode, ser . ao passo que, no JUlZO determinante' um conceito é aplicado ao que e dado, s �a�o� reflexivo, um conceito é proc urado para o _que- dado_ Em a1�bos ? r�s re� e en t1 . ma hanno ou açao combm de forma a algum 0 que se requer é . . � nt çoes conce1tua�s, ese rep as e ão ç a in g ma i :_ ou o intuiçã da s e çõ presenta . oper�çao hat momo sa ent re as as quais residem , por seu nano, em uma , en d n:1 ento. ent do e pr óprias faculdades da imaginação , çao e a ope a to n e m a g Jul de ato er qualqu por to, . Pressuposta, portan :n repres :lma mento em em relação re cípr oca da imaginação e do e�tendt � essa op�raç ao nao pressu tação dada. Especialmente em juízos retlextvos, desses JUIZOS � ch,ega: um põe qualquer conceito dado, visto que o ponto . hvr� qu: Kan� cham d o em envolv m també conceito. Porém, os juízos � e, -.:LVI �er jogo" da imaginação e do entendimento em .relaçao mutua �oes ta rese rep mas � g l A .. Jto : i dize r, livre de orientação por q ua l quer conc� un <:_gmaçao c o n te nd im e nto são t ais, que já nesse livre jogo c o n du �em t� �a o �·epresenta esp?ntanea a uma relação harmoniosa ...0 que a una.gma açao pelo entendtmento mente é então bem-ajustado à sua conce1tualtz e s� ont ne a entre as facul nia sendo q ue 0 sujeito experimenta essa harmo pl l�açao de 9 t�al�uer con a .ela ntes a dade s imaginati v a e inte lecLUal ainda . esnmnla e VlVJfJccl (belebt) , amma ma harmo a s s e d ceito dado. A experiência de funcionamento d e c ada ambas as fac ulda d es, p orqu e a ativi dad e vital � � � � : ct: : � ,? : J 88 Allen W. Kant Wood uma é mais bem-sucedida e, nesse sentido, mais animada ou vivaz qua d tra balham�� hannonia. Sendo assim, para q ualq u er uma de no s sas fa u . dad: s, o SUJetto exp en me�ta seu exercício bem-sucedido na fom1a de um �� s: n nmento de prazer. E ntao, a harmonia ou animação mútua ela irnagina. çao e do entendimento em um livre jogo toma a forma de um prazet·. E sse s:- nttmento de prazer, na teona kant1ana, é o prazer estético ou a ex1)er1· en cr a d·a b�leza, O JU fzo estettco contrán o, aquele que percebe alguma coisa co n�o feta, ocorre quan ? o a representação impede o entendimento em sua . atiVIdade de c on_:e1tua l tzar o que é dado na imagin aç ão , de s orte que nos sas faculd�d es nao podem cooperar harmoniosamente com o conhec imen t o elo � ue e dado a el as , runda anles ele qualquer conc eito, mesmo que h aj a · . . • · ' · • · · . conceJt?s adequados prontos para tratar o objeto feio. O �UJ, zo de gosto q ue percebe alguma coisa corno bela ou feia tem de . . ser �UbJetlVO e, além dtsso, ter uma validade universal. A teoria de Kant explica esse aspecto at'ravés do fato de que a bele za é experi enciad a ern _ uma representaçao quey rodt�z prazer unicamente pela animação de nos . s�s faculdades em livre jOgo, l1vre de detennim1ção por qualquer conceito Vtsto que nossas fae� tl dades estão em livre jogo de qualquer conceiLo, . fonte d? pra�er estético é pura�ente subjetiva- é i ndependente de qunl . _ quer ;ur:o obJetivo sobre um objeto que poderia depender de um conceito d e term mado q ue serve ::omo p redicado. Ademais, como isso depende ape . . _ nas d _? natureza essenctal da 1 magmaçao e do entendimento em g eral que sao o ��smo .em tod os �s seres hurnan � -, as condições sob as quais ? , esse prazer e senttdo s er� umversa!mente vahda para todos os que experi mentarem a representa çao em termos elo livre jogo de suas faculdades. O prazer estético é, portanto, também comunicável universalmenle- é lU� prazer que po emos compartilhar e esperar compartilhar com todos os SUJer ��s q ue entretem as me�ma� representações de wna m aneira puramente . estétic a•. rsto é, através elo livro .Jogo de sua im aginação e entendimento em "harmoma mu�u �rnente estimulante. Como somos seres sociá ve is que têm praze�· na apttdao de comunicar-se com outros de nossa espécie, há tam bém, JUnto ao nosso prazer na animação mútua de nossas faculdades o prazer da s�ci�bilidade- o p razer de ter sensações que são un ivers alm n . te comumcave1s, partilháveis com os ou tros (KU 5:216-219). E m urna s:ção crucial da Analítica do Belo, Kant pergunta se no juízo de gosto o �entlmento �e prazer pre ced e ou segue o juízo do obj eto corno ?e_lo (ou feio) (KU 5 :217). Sua r� spos ta (talvez surpreendente) é que o JUIZO ter� de preceder o prazer, pots de outro modo o prazer poderia ser só . agradabJltdacle, e não prazer estético puro . Isso impli ca du a s ou�·as conclusões sobre o prazer estético que sã o . . dtg na� de not�. 1\. pnme1ra e, que o p raz er estético requer uma certa , . leflexivtdade. f•az p arte do propri o prazer estético que s eja mos conscientes dele como tendo uma espécie de validade universal. Se nosso juízo estéli- : _ � � • 189 co de t]Ue alguma coisa é bela é um juízo estético gemúno e correto, então estamos cientes de que qualquer outro sujeito que faça um jtúzo est ét ico genuíno sobre o objeto deve também te r prazer estético nele e julgá-lo como sendo belo. Além disso, essa ciênci a é ela mesma um ingredient e do próprio prazer estético, não uma mera ad ição a ele. A segu n da é que a experiência do p raz e r estético sempre tem referência direta total à su� comu nicabilidade aos outros e, por conse gu in te , à nossa sociabilidade. 'E essencial ao nosso gozo d o belo que sejamos conscientes dele como algu ma c ois a que os o utros podem (e inclusive devem) aprec iar como nós faze mos. S egue-se assim que o gozo da beleza cul t iva - nos ou educa-nos, e isso ele dois modos distintos, em bora relacionaclos1 De um lado, promove nos sos poderes cognitivos- em particul a r, a harmonia entre no ssa imagin ação e nosso entendimento. De outro lado, também culti.va nossos poderes men tais para a comunicação so c iável, de modo que a teoria kantiana do prazer estético mostra essas duas form as de cu ltivo mentaJ como estritamente inler-relacionadas. Em outras p alavras, é uma parte proflmda ela conce p ção kanti ana de nossas capacidades cognitivas que sentidos e e ntendime n to sej am concebidos como trabalhando juntos em harmonia, sendo que seu exercício tem ele ser social no contexto e na destinação. Esse ponto da doutrina kantiana desmente aqueles que a ceitam a imagem da filosofia kantiana como sendo construída sobre um severo dualismo entre a sensi bilidade e o entendimento e como individualista em sua concepção da aç·ão e do conhecimento humanos. As representações da imaginação são belas quando envolvem formas, regularidades, simetrias e contrastes que apelam ao nosso e ntendimen to, mesmo à parte da conformidade a qu alquer conceito sob o qual pode da mos querer trazê-los. Isso é especialmente verdadeiro quan do esse jargão envolve um desenvolvimento através elo tempo, como no caso das notas sucessivas na melodia ou nas m udanç as de acorde em uma peça de música, ou na su cessã o de p aJav ras em um poerna ou na composição de p inturas quando analisamos suas p arte s sucessivamente e, então, chegamos a com preendê -la como um todo. Esses asp ect os elo objeto belo constitue m o que ele chama de uma "forma da conformidade a fins" (KU 5:221), isto é, quan do eles são tão proximamente rela cion ados um ao outro, que suas re la ções envolvem um coerência que poderia ter sido o prod u to de um projeto pron tament e al cançad o pelo entendimento. Contudo, isso tem de ser - em ou tra frase paradoxal de Kan t- uma "conformidade a fms sem fim" (KU 5:220), visto que as relações de finali dade ou coerência são alcançadas à parte de qualquer conceito que especifique um fim determinado. Kant objetiva capturar os elementos de verd ade nas t eorias racionalista e emp iris ta do gosto, ainda que corrigindo as falhas de cada uma e indo além delas. O rac iona lista coloca a beleza na pe1jeição apreen dida sensi velme nte . A perfe ição está certamente muito próxima da conformidade a · 190 Allen W. Kont Wood 191 ----··· ----- fins da beleza na teoria de Kant, já que a perfeição de um múltiplo consiste na sua concordância o u unidade (KU 5:227), sendo isso o que leva 0 en tendimento a experienciar o d i verso d a imaginação como belo. A beleza portanto, é análoga à perfeição de coisas vivas (KU 5:375). A validad unive•:sal do juízo estético é similar à validade de um juízo objetivo que _ _ part1cular conforma-se à excelência da sua espé n os af1rma que u m a c01sa � _ Cie, denotada pelo conceito sob o qual nós a apreendemos. Todavia, falan do propriamenle, a perfeição sempre pressupõe o conceito de unidade constituindo aquela espécie de coisa e mostrando a conformidade da a seu conceito. Esse conceito determinado, contudo, está ausente no caso elos juízos de gosto puros. A consideração de Kant partilha com o tratamento empirista a idéia de que_ aquilo 9u� é be�� tem de agradar subjetivamente sob condições apropnadas ao JUIZO estet1co correto dele" Porém, ele identifica essas con dições não só com aquelas sob as quais podemos esperar contingentemente aprova r o juízo como propriamente estético, mas também com aquelas sob _ ?s qu_ats ��osso prazer ou desprazer é ocasionado apenas pelo livre jogo da Jmagmaçao e do entendimento, que propicia a validade universal do juízo de gosto. . cais� A teoria kantiana do jtúzo puro de gosto foi habitualmente entendida como favorecendo uma estética formalista e austera, na qual as formas abstratas dos objetos belos - em particular das obras de arte - predomi nam �m import�ncia estética sobre o conteúdo1 excluindo feições prazerosas , de ob��_tos estencos como atrac;ão e emoção. E verdé.lde que Kant distingue especJhc<lmente o efeito da beleza daquele efeito da atração e da emoção (KU 5:223), atribuindo a beleza dos objetos, nos juízos de gosto puros, à sua forma d a conformidade a fins" {ainda que sem um fim determ inado) e não a alguma coisa concernente a seu conteúdo ou aos fins humanos que podem servir (KU 5:221 -222). 'No entanto, em razão disso, não signi ÍICa que a teor a kantiana ignore o conleúdo das obras de arte, sendo que ao tratar ele lms obras ela tem recursos que permitem considerar o signifi cado estético que atribuímos ao conteúdo, à funcionalidade e ao apelo emocional das obras de arte. Kant era consciente da tese de Hume de que a beleza das obras de arte está especialmente relacionada com a sua utilidade e, ainda que ele pensasse que essa tese é falsa quanto aos juízos de gosto puros, ele quis assegurar sua verdade em uma esfera apropriada. Por essa razão, distin gue a "beleza livre", atribuída por um juízo estético puro, de uma "heleza aderente", atribuída por alguma coisa sob o fundamento que se conforma excelentemente ao conceito de sua espécie (KU 5:229). Assim, um cavalo belo ou uma casa de verão podem ser julgados de acordo com a aparência lllle adquirem ern conformidade com o ripo de excelência indicada pelos conceitos dessas espécies de coisas, inclusive por sua utilidade na vida " � ! como hum ana. Contudo, juízos estéticos puros são aqueles que não têm finalidad e qualquer conceito. . Uma flor é bela meramente por causa das fom1as e cores apreendidas quando a olhamos. Se, subseqüentemente, formamos um conceito_ CJ�le :eja normativo para a beleza, digamos, de uma tulipa ou de uma begoma, tsso envolve a snperimposição de um padrão de beleza aderente sobre a beleza ureza livre pertencente à flor simplesmente como um produto belo da n � t uma tem que humana arte da obras a relação em verdadeiro é o mesmo função - por exemplo, uma casa desenhada cte forma h � la ou uten:íl�os para se alimentar. A bel eza livre de sua forma, como o obJero de um _JlllZO de gosto p uro, é d istinta elo juízo estético sobre o mesmo e m _con or�mdade com um conceito de sua espécie ou relacionado à sua funçao., E dtgno de nota que isso é verdade em relação a obras ele arte que têm uma final idade moral - por exemplo, a eloqüência de um sermão ou a exortação moral, cuja util.idade para despertar nobres sentimentos em seus ouvintes perten ce somente à sua beleza aderente, sendo distinta da beleza livre que pode ria pertencer às propriedad es formais do modo como se usa a linguagem . [ ou das imagens e metáforas empregadas. . À luz disso, a pretensão de que Kant privilegia propriedades formais dos objetos estéticos em detrimento ele seu conteúdo ou de s � a de capaci _ dade de despertar emoções dependeria da tese de que os JUizos de gosto so�re juízos de os puros referentes a belezas livres cleve�sem ser privilegiad que Kant verdadeiro ente provavelm E gosto referentes a belezas aderentes. dos melhor no são assim pensar para razões as s nos mas tese aceite essa casos indiretas, pois têm a ver com a ênfase que ele coloca em sua teona dos juízos de gosto puros e com a relativa pouca atenção que ele devota à ' . beleza aderente. Se analisarmos os textos de Kant em busca de qualquer asserção explícita sobre tal tese, e especialmente ele qualquer argumento para eJ.a, eu penso que não encont1'aremos nenhum. Outra pmte controversa ela teoria estética kantiana um ponto levan tado bem cedo por seu ex-aluno Herder - é a sua alegação ele que os ju�zos estéticos possam pretender validade universal. Alguns pensaram que 1sso i�sultaria a relatividade cultural dos valores estéticos e também o fato de que as pessoas estão freqüentemente interessadas em . f�1�ar seus gostos pessoais únicos, assim como estão interessadas em reivmclJcar que o que elas experimentam como belo deva ser experimentado �essa forma pelos outros. Entretanto, Kant tem algumas respostas verdadeJramente cogentes capadda�e a essas objeções, uma vez que compreendamos que qualquer d de caso no � a�t� cn� individua l para j uízos estéticos - sobretudo m d tv tclu :Is s a I n� ne pe x e pelas limitada ser a a ad in dest é das pelo homem passadas, pelos condicionamentos culturais e pela conseque nte e�tensao s. de sué.l habilidad e adquirida de fazer juízos puros de goslo pertmente podem música de o apreciaçã de Pessoas educadas em diferentes tradições - �?ra_s · 192 Allen W. Wood Kont ------ não ter habilidade de julgar obras musicais em uma tradição esLTanha à sua. Não obstante, isso não significa que os juízos de gosto puros, formu lados por alguém com os recursos requeridos, nã o seriam válidos para eles, bem como significa que poderiam concordar com os juízos que formula riam se eles pudessem adquirir a perícia adequada na tradição alienígena. Outrossim, se formos juízes maduros e cultos, nosso objetivo no cul tivo de nosso próprio gosto não servirá para afirmar nossas próprias idios sincrasias ou mostrar nossas diferenças dos outros, mas, antes, para desen volver nossa perícia estétíca particular de modo a levar em con ta a l imita ção inevitável de nossos fundamentos e perspectivas . As pess oas também desenvolvem sua perícia em questões teóricas: algumas se especializam ern matem á tica ou bi oquími ca, outras em paleografía latina medieval, ou tras ainda em história política inglesa <lo século XVII. As verdades que cad a um des cob re (ú m edida que encontra a verdade sobre essas matérias) são válidas para todos os o u tros (de outro modo não seriam ve rdades) , mesmo para aqueles aos quais falta o desejo, o treino ou até mesmo talento natu ral para c h egar a conhecê-l as . Da mesma maneira, eu posso concentrar-me em desenvolve r meu gosto por música clássica européia, em vez dejazz ou músicfl clássica indiana, sem por isso estar em posição de declarar essas outras tradições musicais sem validade estética. E, se eu presumi declarar isso sem ter a pelicia exigida para ju lgá-las, m inhas declarações não preci sam ser levadas mais a sério do que aquela de um historiador que possa insensatamenle afirma não haver verdade algum a em algum ram o da matemática que nunca estudou. Questões de gosto, que surgem entre pes soas da mesma cultura e com experiência em julgar os mesmos objetos ou objetos similares, com muita freqüência têm respostas que raramente le vantam q uestões de relatividade ou incomensurabilid ade: a m úsica de Mozart é superior à de S ali eri, e qualquer um que prefira Lawrence Welk a D u kc Ellington deve ficar envergonhado de admitir isso. da aprovação moral que envolve uma distinção entre _virtude s na_tu rais e artificiais e o papel dos juízos de utilidade na produçao dos sentimentos morais, é mais compleJ!.a.) Para Kant, contudo, o juízo de gosto é � uida dosamcnte distinguido da agradabi l id ade subjetiva e de todos os JUÍzos objetivos sobre a bondade - tanto instrumental quanto moral . 'De um certo ponto de vista, isso significa que a t�o ria k� miana_ do gosto assegura o que alguns chamaram (usando a termt�ologta k an_tt a na, m�� d � um n:od? que o próprio Kan t nunca o fez) de a auto.n om 1a da esteuca, : Isso Sl�m , fica que os juízos estéticos são tratados como tendo seus propnos paclroes. Padrões de beleza ou mérito estético não são a p enas distintos de todos os padrões de moralidade ou utilidade ou de qualqu �r outra fo;m� de b o n dade, mas também são independentes destes.,Por tsso, Kant e v1sto como abandommclo a esté tica do século XVIII, a qual via a beleza, em geral, e a arte, em particular, em termos de sua função na p sicologia moral e n a ed ucação moral. 1Assim, Kant adentra e m u m a estética nova mais r�o ? derna e livre, na qual a arte é vista como te ndo suas própnas funçoes independentes na vida humana, à parte da moralidade ou de q u alque r empreendimento orientado para a bondade. . . Assim considerada a teoria kantiana, pode-se corretamente md1car seu papel na inspiração de uma tradição subseq üe n te na arte e na_ estética; contudo, tal consideração equivoca-se completamente quando vtsa a m a � Hi.festar o quamo o próprio ponto de vista de Kant sobre o assunto esta conectado a tais questões. Isso ocorre porque I<ant pertence firmemente à tradição da estética do século no que ta�1 ge ao pensamento de qu� a _ significação real da beleza e do gosto para a v1cla humana tem uma signifi cação moral fundamental.-1\. importânci a para Kant da chamada "autonomia da estética" é a seguinte: some nte quando os juí?.Os de gosto podem ser distinguidos dos juízos m orai s é que eles podem ser entendidos como de s em pe nha ndo o papel importante e positivo que de fato des emp enh am - e devem desempenhar - na vida moral. Kant entende interesse como um prazer experi mentado na existênci a de um objeto (ou estado de coisas). O p razer estético é desinteressado porque ele é um prazer na mera representação de objeto , indepen �n temente de seu objeto (IW 5 : 204-205). Por exe mpl o, nosso prazer estenco puro no projeto arquitetônico de uma casa é um prazer que sentimos inde pendentemente da expectativa de morar ou não na casa ou mesmo da expectativa de construí-la ., A motivação moral na ação ou u� fi:U moral mente bom é também desinteressado, do mesmo modo que nao e baseado em qualquer agradab ilidade subjetiva para nós na existência da ação o u do fim. Contudo, quando praticamos uma ação ou buscamos um fi m por que este é moralmente bom, nosso prazer nele é e_nvolvido com �m inte , resse, visto que nossa ciência de sua bond ade da ongem a um deseJO qu e a ação deva ser praticada ou o fim realizado, sendo que esse prazer nao se XvriT UI� A teoria kantiana do gosto lenta u ni r os elementos verdadeiros das teorias empirista e racionalista. Apesar disso, ela também difere das teo rias racionalista e empirista ele um modo crucial. Ambas as teorias, em última análise, identificam a beleza com bondade moral, visto que para o racionalismo a bondade consiste em uma petfeição, ao passo que para os teóricos do senso moral, como Hutcbeson e I lu me, a bondade é simples mente i den t ificada com o que excita nossa aprovação desinteressada. Hutcheson, em todo caso, considera in clusi ve a aprovação moral e estética como operações essencialmente do mesmo sentimento. (A te oria hum eana 193 ?