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Para andar, conversar, brincar, comer, ler a revista Minas Faz Ciência, enfim, para
todas as atividades realizadas pelo corpo, o cérebro é indispensável. Mesmo que relativamente pequeno – ele pesa, em média, 1,5 quilo nos seres humanos –, o órgão
consome cerca de 20% de toda a energia do organismo. Pesquisadores comprovaram
que o utilizamos o tempo todo, inclusive enquanto dormimos. São cerca de 100 bilhões
de neurônios, um número ainda maior de conexões e perguntas que a ciência ainda não
conseguiu responder. Apesar de todos os avanços científicos e tecnológicos, é possível
dizer que há muito para se conhecer sobre o cérebro humano.
As Neurociências buscam compreender o funcionamento desse órgão, especialmente aqueles ligados ao comportamento humano. Para isso, congregam várias áreas,
passando pela Psicologia e pela Neurologia, que investigam o funcionamento do sistema nervoso e suas interações com o corpo. São muitos e diversificados os estudos
realizados dentro desse campo do conhecimento. A reportagem especial desta edição
traz um panorama das linhas de investigação em curso e as contribuições dessa ciência
para a melhor compreensão do nosso corpo.
Dengue, zika vírus e chikungunya são assuntos do momento. O País vive uma
epidemia grave, com números que não param de crescer, especialmente no caso da
dengue. O problema é também um desafio para a ciência nacional. Em todos os estados, pesquisadores se dedicam a estudar a doença sob vários aspectos: tratamentos
mais adequados, hábitos do mosquito transmissor e até mesmo as atitudes da população no que se refere ao cuidado contra a propagação das larvas do inseto. Minas Gerais
conta com um Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) – Dengue, um centro
de excelência que realiza pesquisas de ponta sobre o tema, muitas em parceria com
outras instituições. Esses estudos têm contribuído para combater a doença e fornecer
respostas. O repórter Téo Scalioni apresenta esses trabalhos e soluciona algumas dúvidas comuns, como a viabilidade, em curto prazo, de uma vacina eficaz para a dengue.
Outro destaque é o trabalho da Universidade Federal de Itajubá (Unifei) com as
microrredes energéticas inteligentes. Tais sistemas elétricos, que combinam fontes de
energia consideradas limpas, como o sol e o vento, ainda são raros no Brasil. O campus
da Unifei é um dos candidatos a receber esse sistema. Lá, já são realizados estudos
sobre geração e transmissão de energia, especialmente dentro do Centro de Excelência
em Redes Elétricas Inteligentes. Os resultados contribuem para gerar dados sobre a
qualidade do fornecimento e o consumo de energia, além de pensar alternativas para o
modelo energético adotado no País.
Temos, também, uma novidade. A seção Vida de Cientista apresentará, a cada
edição, o perfil de um pesquisador de renome, buscando retratar não apenas suas conquistas profissionais, mas também seu dia a dia fora do laboratório, suas fontes de
inspiração e seus hobbies. A ideia é mostrar que o cientista é uma pessoa como qualquer outra, com problemas, alegrias e dilemas. Para a “estreia”, a repórter Marina Mendes conversou com o físico Ado Jório Vasconcelos, do Instituto de Ciências Exatas da
UFMG. Recentemente, o professor, que estuda a aplicação de nanoestruturas em novos
materiais e Biomedicina, teve seu nome incluído na lista dos cientistas mais influentes
do mundo, segundo a editora norte-americana Thomson Reuters. Conheça um pouco
mais sobre sua trajetória a partir da página 45.
Aproveito esse espaço para dar uma dica aos nossos leitores. Recebemos, com
frequência, pedidos para envio das edições anteriores da Minas Faz Ciência. Com exceção dos números recentes, não temos esse material para distribuição. Mas todas as
edições estão disponíveis, na íntegra, em nosso blog (http://blog.fapemig.br) e no portal da FAPEMIG (www.fapemig.br), que, por sinal, está de cara nova. Que tal conhecer
um pouco da história da revista e da ciência no Estado?
Boa leitura!
Vanessa Fagundes
Diretora de redação
AO LEI TO R
EX P ED I EN T E
MINAS FAZ CIÊNCIA
Diretora de redação: Vanessa Fagundes
Editor-chefe: Maurício Guilherme Silva Jr.
Redação: Alessandra Ribeiro, Camila Alves
Mantovani, Marina Mendes, Maurício Guilherme Silva
Jr., Roberta Nunes, Tatiana Pires Nepomuceno, Téo
Scalioni, Thiago Malta,Vanessa Fagundes, Verônica
Soares e Vivian Teixeira
Diagramação: Fazenda Comunicação
Revisão: Sílvia Brina
Direção de arte: Felipe Bueno
Editoração: Unika Editora, Fatine Oliveira
Montagem e impressão: Rona Editora
Tiragem: 25.000 exemplares
Capa: Felipe Bueno
Í N D I CE
12
Entrevista
33
16
Engenharia
Elétrica
36
Ligado ao Instituto de Astrofísica
de Andaluzia (IAA), na Espanha,
Antônio Claret dos Santos fala de
ciência e ondas gravitacionais
Unifei baseia-se em projetos
estrangeiros para instalação
futura de microrrede inteligente
de energia elétrica
20
24
27
30
4
Meio ambiente
Em investigação sobre
alternativas sustentáveis
para produção de materiais,
cogumelos nascem de
sacolinhas plásticas
Química
Estudo da Universidade Federal
de Juiz de fora revela uso de
metais pesados em bijuterias
de baixo custo
6
Especial
Reportagem discute
objetivos, desafios,
limites e bases teóricas
das Neurociências
Farmácia
Na UFMG, especialistas
analisam efeitos do uso
do fármaco Ritalina por
estudantes que buscam
neuroaprimoramento
42
Energia
47
Vida de cientista
49
hiperlink
Pesquisadores da Universidade
Federal de São João del-Rei
(UFSJ) avaliam potencial
brasileiro para desenvolvimento
de energia eólica
biocombustível
Em Lavras, especialistas
investigam características
da produção de
biocombustível a partir da
batata-doce
Conheça a trajetória de Ado
Jorio Vasconcelos, que integrou
a lista de pesquisadores mais
produtivos em 2015
Geologia
Estações controladas por
pesquisadores da Unimontes
monitoram tremores de terra na
região de Montes Claros (MG)
Computação
Projeto auxilia desenvolvedores
a criar sites com maior
acessibilidade a pessoas com
deficiência
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
Conversas com o universo,
dengue, Sci-Hub e livros para
pequenos cientistas
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Combate à dengue
Combate à dengue, à
chikungunya e ao zika vírus é
alvo de inúmeras vertentes de
pesquisas no Estado
para o
meditação
relaxamento,
a concentração, o autoconhecimento ou
o autocontrole
“A maioria das pessoas que recorre
à prática de meditação tem, como objetivo principal, a busca de pelo menos um
dos itens citados na pergunta. Na verdade, não podemos achar que o resultado
virá instantaneamente. É um processo
contínuo. Acredito, sim, ter eficácia não
somente em um dos itens citados, mas
em todos. A prática deve ser constante,
independentemente do tempo”.
Eduardo Quintella Machado de Carvalho
Via Facebook
“Acredito totalmente! Acho que meditar é um dos caminhos mais lindos para
entrar em contato com quem a gente é de
verdade. Não é fácil, mas dá para sentir na
pele os benefícios. Vale muito a pena”.
Thainá Cunha
Via Facebook
“Meditar nos torna mais concentrados
e leves. Libera e capta energia, simultaneamente. Faz bem para o corpo e a mente. Mas
é, de preferência, um processo contínuo,
ininterrupto. Não é um remédio que se toma
somente em momentos de crise”.
Sônia Pessoa
Via Facebook
“Não acho que ‘acreditar’ seja uma
palavra boa, porque meditação não precisa
de fé ou de opinião para funcionar... É uma
técnica que, se usada corretamente, apresenta benefícios a qualquer praticante (exceto, talvez, pessoas com psicopatologias
?
severas). Estudo comprovando os benefícios em vários contextos é o que não falta”.
André Moura
Via Facebook
“Eu acredito e acho que a meditação
deveria ser mais incentivada e divulgada.
Em tempos como os que vivemos hoje, a tão
falada ‘mindfullness’ nos mostra o quanto a
cabeça da gente não para um só instante. E
o quanto é importante nos desligarmos um
pouco para contemplarmos a vida”.
Luiz Flávio Lima
Via Facebook
“Meditar é de grande poder! A ciência
tem comprovado os inúmeros benefícios da
meditação. Os desafios do dia a dia podem
levar uma pessoa a inibir o seu progresso
pessoal. Tensões no corpo e na mente, falta
de perspectiva, cansaço tristeza, dentre outros
fatores, podem levar ao afastamento da rotina diária e, até mesmo, do convívio pessoal.
A meditação tem se revelado grande aliada,
trazendo, às pessoas, mais concentração,
energia vital, além de corpo e mente mais
relaxados. Por meio da prática meditativa,
uma pessoa se torna mais confiante, sua
estima melhora, as respostas para suas dúvidas clareiam na mente, há um aumento do
bem-estar e, como consequência, até mesmo
doenças poderão ser sanadas ou minimizadas. A atividade da meditação é muito antiga,
porém, vem sendo resgatada e o número de
praticantes aumenta a cada dia. Teremos um
mundo melhor se a meditação fizer parte de
nossa rotina diária! Então, vamos meditar?”. Esther Magalhães
Via Facebook
MINAS FAZ CIÊNCIA tem por finalidade divulgar a produção científica e
tecnológica do Estado para a sociedade. A reprodução de seu conteúdo é
permitida, desde que citada a fonte.
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
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Ci ên ci a Ab erta
Você acredita
na eficácia da
especial
Das infinitudes
do cérebro
A compreensão do comportamento humano
é o foco das Neurociências, campo que se
destaca pela multidisciplinaridade
Alessandra Ribeiro e Camila Alves Mantovani
6
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
O estudo do corpo humano é algo
que fascina e desafia os homens desde
remotas eras. Os avanços das tecnologias
ampliaram muito as possibilidades de
compreender um pouco mais tal funcionamento, tendo em vista, principalmente,
o uso de técnicas não invasivas in vivo.
Dentre os vários sistemas e órgãos que se
dão a conhecer, o cérebro tem concentrado
grande esforço de pesquisa – e com foco
inicial não apenas na Biologia e nas áreas
de saúde. Nesse contexto, destaca-se o
surgimento e a consolidação das chamadas Neurociências (Sim, no plural!).
Apesar de o estudo do cérebro remontar há séculos e séculos, no que tange a efeitos disciplinares e acadêmicos,
considera-se a década de 1970 como
marco do surgimento de tal campo do conhecimento. A datação deve-se, em grande
medida, aos já mencionados avanços tecnológicos do século XX, que permitiram a
criação, por exemplo, da primeira máquina
de tomografia, cujo uso ampliado, para
além dos ambientes de pesquisa, deu-se
somente na década de 1990, devido aos
altos custos.
De acordo com Ângela Maria Ribeiro, professora e idealizadora do programa
de Pós-graduação em Neurociências da
Universidade Federal de Minas Gerais,
os avanços nos métodos e técnicas são
importantes não apenas pela ampliação
da capacidade de compreensão do cérebro e suas interações, mas, também, por
ressaltarem a primeira dimensão interdisciplinar da área.
Segundo a pesquisadora, a linha
divisória entre as disciplinas acaba por se
dissolver, inicialmente, no próprio método.
“Tomemos, por exemplo, a morfologia,
que, em essência, estuda a forma. É possível traçar uma história, desde Leonardo
da Vinci, com seus desenhos macro, até as
imagens geradas por microscópios, tomografias, ressonâncias. Isso foi um marco,
pois, com a evolução tecnológica, ao mesmo tempo em que observamos a forma,
vemos, também, a atividade”, explica.
Neste cenário, se o paciente ingere uma substância “marcada”, é possível
acompanhar, simultaneamente, a forma e
a atividade de circuitos e regiões específi-
cas no cérebro. “A ressonância magnética
funcional é uma técnica que exemplifica a
interdisciplinaridade entre a morfologia, a
bioquímica e a fisiologia. Trata-se de método desenvolvido por meio do conhecimento da Engenharia Eletrônica, da bioquímica, da morfologia e da fisiologia, e, hoje,
empregado em várias áreas, e não só nas
Neurociências”, conclui.
Para além da dimensão técnica, no
entanto, as Neurociências revelam-se um
campo de conhecimento que busca compreender o comportamento humano, a partir do funcionamento do sistema nervoso
e de suas interações com o corpo – a mediação principal para relacionamento dos
indivíduos com o mundo à sua volta. Com
base em tal pressuposto, Ângela Ribeiro
destaca a abrangência do tema, ao apontar
para as diversas subáreas que a compõem,
como os “territórios” molecular, sistêmico,
cognitivo e computacional. “No cerne das
Neurociências, há interações com a Psicologia, a psiquiatria, a neurologia, a neurobiologia e a neurofisiologia. Você pode
usar modelos animais ou diversos tipos de
estudos, em vários níveis, mas o objetivo
central é a compreensão do comportamento humano”, esclarece.
Pode-se perceber, portanto, que a
premissa – e, por conseguinte, o diferencial – dos estudos em Neurociências está
no fato de que qualquer aspecto do comportamento (motor, emocional, cognitivo)
tem bases biológicas ou físicas e que,
para os especialistas da área, isso não
envolve apenas o sistema nervoso. Há,
também, questões relativas aos sistemas
endócrino e imunológico.
Outro ponto fundamental é o fato de
as Neurociências adotarem o paradigma
darwiniano. Isso significa que, ao analisar
fenômenos e/ou estudos teóricos, neurocientistas buscam interpretar e compreender seus objetivos empíricos aos olhos da
teoria da evolução. “Até agora, é esse o
paradigma que usamos, mas pode surgir,
no horizonte, algo que modifique isso”,
pondera Angêla Ribeiro.
A partir de tal perspectiva, o indivíduo é visto como um ser “em relação com
os outros”. Daí o interesse pelo uso desse
conhecimento na busca por compreender
Referência aos princípios
da chamada teoria da evolução,
desenvolvida pelo naturalista
britânico Charles Robert Darwin
(1809-1882).
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
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as interações de comportamentos – as
quais, em suma, envolvem “intercâmbios
com o outro” e, de forma mais abrangente,
têm importância social.
Estímulos sociais
Nos últimos anos, ampliou-se, significativamente, a interface das Neurociências
com outros campos disciplinares, especialmente, no que diz respeito às Ciências Sociais e humanas. Exemplo de como tais áreas
têm lançado luz sob fenômenos similares
refere-se aos estudos em torno da chamada
“tomada de decisão”. Segundo Ângela Ribeiro, ao longo das descobertas das Neurociências, percebeu-se que os estímulos do meio
ambiente alteram a rede neural e, assim,
modificam o organismo. Consequentemente,
isso provoca mudanças nos processos decisórios, bem como nas atitudes e nas emoções dos indivíduos. Para a pesquisadora,
tudo isso aponta para o fato de que há um
processo em construção, contrapondo-se
à visão anterior, que considerava o sistema
como algo pronto, fechado.
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MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
O termo se refere a mudanças
hereditárias na expressão gênica
(genes ativos e inativos), que não
envolvem alterações na sequência
(base) de DNA. Há mudanças no
fenótipo, sem que algo ocorra no
genótipo. Isso afeta a forma como
as células leem os genes. A epigenética é uma ocorrência regular e
natural, mas também pode ser influenciada por fatores como idade,
ambiente, estilo de vida e doenças.
A especialista ressalta, ainda, que a
evolução de outras áreas da Biologia, como
a epigenética, tem auxiliado as Neurociências a revelar que os estímulos do meio
social são capazes de mudar o organismo
do indivíduo, a rede neural, e, assim, alterar
seu comportamento. O mais interessante,
porém, está no fato de que isso pode ser
transmitido a outras gerações. “Além de
variados, os estímulos sociais são detectados consciente ou inconscientemente pelo
organismo. Estudos de Neurociências já
apontam que as alterações provocadas pelos meios, na rede neural, ocorrem desde a
gestação”, enfatiza.
Uma série de estímulos, portanto, é
registrada e codificada no cérebro sem que
os indivíduos tenham consciência disso.
“O interessante é perceber que muitas decisões que tomamos, na verdade, já tinham
sido ‘tomadas’ por nossa rede neural, de
forma inconsciente. Esse conhecimento revela-se bastante importante, por exemplo,
para as Ciências Sociais”, explica.
Exemplos simples de estímulos do
meio, detectados pelo corpo a partir de
uma mesma estrutura físico-biológica – e
interpretados de modo diferente por indivíduos ou grupos de indivíduos –, referem-se à percepção sensorial. “Um perfume é
captado pela mesma via sensitiva por mim
e por você. Porém, na hora em que ele
chega ao cérebro, passa a ter significados
distintos para nós. Isso porque a informação vai interagir com outras já codificadas
na rede neural. Portanto, posso dar uma
resposta diferente da sua, a partir de um
mesmo estímulo”, exemplifica.
Para Ângela Ribeiro, as contribuições das Neurociências para as Ciências
Sociais e humanas vão além de métodos.
Envolvem, na verdade, um conhecimento
adquirido em torno das questões relativas ao comportamento. Isso diz respeito,
especialmente, à compreensão de que
as experiências adquiridas durante o desenvolvimento do indivíduo – não só de
ordem biológica, mas, também, relativas
ao meio em que cada um viveu – geram
similaridades e diferenças individuais importantes, devido aos contextos nos quais
os indivíduos (ou grupos) estão inseridos.
Respeito e crítica
O conhecimento das relações entre
as atividades dos sistemas neural, endócrino e imunológico com o comportamento
humano tem colaborado para estudos os
mais diversos. “A própria empatia, conceito
extremamente subjetivo, tem sido estudada
pelas Neurociências. Com a evolução da
área, conseguimos compreender aspectos
do comportamento humano que, anteriormente, nem pensávamos ser consequência,
por exemplo, de interações químicas na
rede neural”, comenta Ângela Ribeiro.
As interfaces entre Ciências Sociais
e Neurociências abrem um leque de possibilidades de entendimento sobre fenômenos relacionados ao comportamento
humano. Isso pode ter impactos positivos em relação à melhoria da qualidade
de vida das pessoas, em pesquisas, por
exemplo, sobre os hábitos nutricionais de
certas comunidades. “A aproximação entre os campos do conhecimento, porém,
precisa se dar de maneira respeitosa e
crítica, pois, ao olhar para um fenômeno cultural, com as lentes de um neurocientista, corre-se o risco de operar certo
reducionismo”, comenta, ao frisar que as
Neurociências surgiram “para somar”.
Isso significa que não se pode abrir
mão dos métodos e das teorias desenvolvidos pelas Ciências Sociais e humanas.
“As Neurociências devem ser vistas como
nova perspectiva – ou instrumento – para
o entendimento do comportamento humano, e, portanto, social”, conclui.
Construção de saber
No ver de Ângela Ribeiro, há poucas
iniciativas, nas universidades brasileiras,
para a formação de recursos humanos capazes de atuar em pesquisas situadas nas
interfaces entre as Ciências Sociais e as
Neurociências. “Na Europa e na América
do Norte, muitos países interessam-se em
produzir conhecimento nessa área. No Brasil, percebemos movimentos pontuais, de
pessoas que saíram da academia, formaram empresas e vendem esse know-how.
Antes disso, porém, precisamos produzir
tais saberes”, pondera.
Em 2010, quando coordenava o
Programa de Pós-graduação em Neurociências, a pesquisadora viu a oportunidade
de criar uma linha de pesquisa que buscasse consolidar as relações interdisciplinares com as Ciências Sociais e humanas.
Para tal, estabeleceram-se interações, na
UFMG, com professores das faculdades de
Ciências Econômicas (Face), de Filosofia e
Ciências Humanas (Fafich) e de Educação
(FaE). Como resultado inicial, Ângela destaca a oferta de uma disciplina em colaboração com o programa de pós-graduação
em Administração, já na quinta edição.
Para além disso, a pesquisadora
destaca a grande demanda por formação
na área, expressa pela procura de alunos
dos mais diversos campos do conhecimento. Apesar de já em curso um conjunto
de pesquisas com características interdisciplinares, verificou-se a necessidade de
formalizar a iniciativa na UFMG, pois ainda
há carências ligadas a infraestrutura, fundamental às propostas interdisciplinares.
Hoje, a formação em Neurociências
está vinculada, pelo menos, a sete unidades da UFMG: Escola de Engenharia,
Faculdade de Medicina, Escola de Música,
Fafich, FALE, ICEx e ICB. Apesar disso,
a estrutura de funcionamento da UFMG,
baseada em departamentos, dificulta os
objetivos centrais das investigações neurocientíficas. Com base em tal panorama,
Ângela Ribeiro destaca o esforço, junto a
outros pesquisadores, para formalização,
em 2016, da linha de pesquisa “Interfaces
entre Neurociências e Ciências Sociais”,
inédita no País. “Isso será muito interessante, pois fugiremos das colaborações
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
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voltadas, quase que exclusivamente, para
aplicações pontuais, como mecanismos e
métodos. Partiremos, então, para a efetiva
construção de conhecimento em bases interdisciplinares”, completa.
Razão X Emoção
Nas Ciências Sociais – e, principalmente, no que diz respeito às análises
orientadas pela Teoria da Ação Racional
–, a razão tem papel central no processo
decisório, interpretado, de forma objetiva,
por meio de metodologias de pesquisa ligadas, por exemplo, às Ciências Políticas
e Econômicas. Na última década, com os
avanços das Neurociências, diversos especialistas passaram a explorar o componente emocional inerente às tomadas de decisão. “O desenvolvimento de tecnologias
apropriadas, o conhecimento das manifestações comportamentais e dos respectivos
processos neurobiológicos envolvidos
nestes estados emocionais permitiraram
que pesquisadores de áreas diversas se
associassem a neurocientistas para compreender melhor o papel das emoções nos
processos decisórios”, relata o cientista
social Carlos Magno Machado Dias, doutorando do Programa de Pós-Graduação
em Neurociências da UFMG.
Com base em fundamentos do Neuromarketing e da Neuroeconomia, o pesquisador investiga as emoções associadas
à imagem de eleitores em relação a candidatos a cargos políticos – e como elas interferem em suas preferências e escolhas.
Uma das ferramentas usadas para “medir”
tais emoções é um programa de computador capaz de identificar a intensidade
das expressões faciais dos participantes
(supostos eleitores), ao assistirem a vídeos de um candidato fictício. A ideia é que
o político faça um mesmo discurso, mas
com quatro cenários diferentes de fundo.
Enquanto isso, os espectadores têm as
imagens faciais registradas.
As expressões são registradas e
classificadas pelo software de acordo com
imagens reunidas em uma base de dados.
Um novo estado facial é identificado se a
expressão persistir por mais de cinco segundos. As análises são feitas por meio
de um conjunto de algoritmos que permite
10
a identificação de marcas faciais básicas,
como felicidade, surpresa, medo, raiva,
nojo e tristeza. “A imagem facial capturada
pelo software é, essencialmente, um método biométrico cujas manifestações biológicas estão ligadas ao sistema límbico do
cérebro e são difíceis de medir, mas podem
ser inferidas por meio de avaliações indiretas”, descreve Carlos Magno.
Os dados são cruzados com um
questionário respondido pelos espectadores, antes de assistirem ao vídeo, repleto
de perguntas sobre gênero, etnia e preferências políticas gerais, além da autoidentificação de alinhamento ideológico,
segundo escala de esquerda à direita. Em
um segundo momento, repete-se o método durante a propaganda eleitoral gratuita, com candidatos reais. Gradativamente,
novas técnicas têm sido empregadas para
medir o papel das emoções no processo
de tomada de decisão política emoções, a
exemplo da técnica de eye tracking e dos
eletrocardiogramas.
Mindfulness
Um tipo de meditação, focada na
atenção ao momento presente, na consciência corporal e no autocontrole das
emoções, ganha espaço no ambiente corporativo, com o objetivo de aumentar a capacidade de tomada de decisões objetivas
e reduzir o estresse. Trata-se da Mindfulness Based Stress Reduction (MBSR) – ou
“atenção plena”, segundo expressão usada
no Brasil –, técnica criada pelo médico
norte-americano Jon Kabat-Zinn, na Faculdade de Medicina da Universidade de
Massachusetts, em 1979. Nas palavras do
próprio Kabat-Zinn, o método consiste em
“aprender a parar, pausar e observar o que
acontece no corpo e na mente”. O programa é desenvolvido ao longo de oito semanas, em encontros semanais com duração
de três horas.
A meditação é praticada, há séculos,
por religiões como o budismo e o hinduísmo. Embora tenha sido inspirada em tal
tradição, a técnica é “laica, orientada para
a promoção da saúde, acessível e inserida
no contexto ocidental contemporâneo”,
conforme define o Núcleo Mineiro de
Mindfulness (Numi). Atualmente, o méto-
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
O conceito refere-se a um
conjunto de tecnologias que
permite medir e registrar os
movimentos oculares de um indivíduo diante de estímulos em
ambientes reais ou controlados.
Desse modo, determina-se em
que áreas ele fixa a atenção, por
quanto tempo e em que ordem se
dá a exploração visual.
do é empregado em mais de 200 hospitais
e centros de saúde do mundo, para tratar
problemas como ansiedade, depressão e
dor crônica.
Estudioso da mindfulness, o médico
Ramon Cosenza, coordenador do curso de
Neuropsicologia da Faculdade de Ciências
Médicas de Minas Gerais, cita experiências
bem-sucedidas também nas escolas, onde
a técnica tem sido associada à melhoria da
aprendizagem e do relacionamento interpessoal entre os alunos, com redução nos
casos de violência e nos níveis de estresse
dos professores.
“A partir da década de 1980, começou a publicação de pesquisas científicas
que demonstram efeitos da mindfulness
na atenção, na memória, na regulação
emocional e na resposta imunológica
do organismo, dentre outros benefícios,
como a sensação de bem-estar”, afirma
Cosenza, ao apontar estudo publicado
nos anais da Academia de Ciências de
Nova Iorque, em 2014, segundo o qual o
acompanhamento de praticantes do método revelou reduções significativas do
cortisol e de imunoglobulinas circulantes
– elementos associados, respectivamente,
a menores níveis de estresse e à melhoria
da resposta imunológica.
Noutro artigo, publicado pela revista
Nature Reviews Neuroscience, em março
de 2015, são descritos estudos de neuroimagem que demonstram mudanças na
estrutura cerebral, com efeitos positivos,
associadas à prática da mindfulness. “Há
evidências de que ela modifica o processamento da cognição, e, particularmente,
a função executiva, bem como o processamento emocional”, relata o médico. No
entanto, admite-se, na mesma publicação,
que “os mecanismos neurais subjacentes
permanecem obscuros”, o que revela a necessidade de novas pesquisas para compreensão completa das bases neuronais e
moleculares de tais mudanças.
No Brasil, uma das referências no
estudo do tema é o Centro Brasileiro de
Mindfulness e Promoção da Saúde, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Em parceria com o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), o projeto atende a usuários do Sis-
tema Único de Saúde (SUS), desde 2011, no
Ambulatório de Mindfulness. As principais
queixas tratadas são estresse e dor crônica.
Em Minas Gerais, pesquisadores
da Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF) investigam a eficácia do método
para o fim do consumo do tabaco e de benzodiazepínicos. Um dos trabalhos buscou
instrumentos confiáveis para medir os efeitos desse tipo de meditação no tratamento
dos dependentes. A versão brasileira da
Escala de Atenção e Consciência Plenas
(Maas) foi analisada e considerada um recurso válido.
Para chegar a tal resultado, realizou-se
um estudo transversal, que envolveu 395
participantes, divididos entre pacientes de
uma Unidade de Atenção Primária à Saúde
municipal, pacientes em tratamento para
dependência de tabaco, estudantes universitários e meditadores. A iniciativa, do
Centro de Pesquisa, Intervenção e Avaliação em Álcool e Drogas (Crepeia), coordenado pelo professor Telmo Mota Ronzani,
do Departamento de Psicologia da UFJF,
teve apoio financeiro da FAPEMIG.
Mindfulness em 3 minutos
O exercício a seguir é proposto pelo Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção da Saúde da Unifesp e usa, como âncora, a própria respiração:
# Traga sua atenção para o ambiente: a temperatura, os sons… e apenas observe.
_ Agora, preste atenção em seu corpo: como está se sentindo neste
momento? Quais sensações corporais estão presentes?
# Note, também, seus pensamentos e sentimentos.
_ Atente-se para a respiração e não se procure em controlá-la.
# Deixe que ela encontre seu próprio ritmo. Sinta o ar entrando e saindo.
_ Se sua mente for a outro lugar, tudo bem! Apenas observe onde ela
estava e volte a sentir a respiração.
# Busque, agora, expandir a atenção, como se seu corpo inteiro estivesse a respirar e a te observar neste momento.
_ Entre em contato, então, com a temperatura e o som do ambiente,
por meio da “lente” de sua respiração, mas de modo consciente.
Participação da FAPEMIG
Projeto: Estudo sobre desenvolvimento, avaliação e implementação
de inovações em intervenções para
usuários de tabaco e outras drogas
Instituição: Universidade Federal de
Juiz de Fora
Coordenador: Telmo Mota Ronzani
Chamada: Programa de Apoio a
Núcleos Emergentes (Pronem)
Valor: R$ 119.568,06
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
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entrevista
Triunfos da
mente humana
Pesquisador do Instituto de Astrofísica de Andaluzia, na
Espanha, o brasileiro Antonio Claret dos Santos fala de seu
trabalho com as ondas gravitacionais, fenômeno previsto pela
teoria da relatividade geral e recentemente comprovado
Maurício Guilherme Silva Jr.
Formado em Física pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde
também concluiu mestrado, Antonio Claret
dos Santos viajou à Espanha para desenvolver o doutorado junto ao Instituto de
Astrofísica de Andaluzia (IAA) e ao Departamento de Física Teórica da Universidade
de Granada. No IAA, o pesquisador integra,
atualmente, o grupo de Astrofísica Robótica e de Altas Energias (Arae), responsável,
dentre outros estudos, por investigações
sobre as ondas gravitacionais, preconizadas por Albert Einstein (1879-1955).
Trata-se de perturbações no tecido espaço-tempo, resultantes do movimento e/ou da
deformação de um campo gravitacional,
que se propagam à velocidade da luz.
No que tange ao trabalho de Claret
com Astrofísica teórica, destacam-se os
projetos “Evolução estelar”, que investiga estrelas de nêutrons/quarks e buracos
negros, e “Plato”, que pretende a busca de
exoplanetas a partir de satélite homônimo
da Agência Espacial Europeia (ESA). O pes-
12
quisador dedica-se, ainda, ao “Carmenes”,
que procura exoplanetas similares à Terra,
e ao “Bootes”, iniciativa ligada à Física de
altas energias, aos telescópios robóticos e
às explosões de raios gama (GRB).
Para além de sua área de origem, o
físico dedica-se à Paleoantropologia. “Interessam-me a Astronomia no medievo espanhol e as causas da extinção dos dinossauros. Dedico-me ao estudo das pegadas
fósseis de tais animais no norte da Espanha, analisando-as físico-anatomicamente,
para determinar suas velocidades”, conta.
Nesta entrevista, Claret esclarece a importância das ondas gravitacionais, e discute
aspectos da produção científica no Brasil e
no mundo.
O que, exatamente, são as chamadas
ondas gravitacionais, preditas há um século pelo físico Albert Einstein?
Trata-se de perturbações no tecido
espaço-tempo, devido ao movimento e/ou
à deformação de um campo gravitacional,
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
que se propagam com a velocidade da luz.
As ondas podem induzir oscilações na forma de objetos nelas atravessados. Elas se
revelam, porém, de difícil detecção, devido
às pequenas amplitudes das deformações
resultantes. É como medir variações da
mesma ordem de grandeza de um núcleo
atômico. Há diferentes configurações astrofísicas capazes de gerar este tipo de
ondas, e, em princípio, de detectá-las,
como a explosão de uma supernova, a
formação de um buraco negro, a fusão de
duas estrelas de nêutrons, ou de dois buracos negros, e a rotação de uma estrela
de nêutrons não homogênea.
Joseph Weber foi pioneiro neste
campo. Seu experimento consistia em uma
barra de alumínio, de 2,5 metros de comprimento e meio metro de diâmetro, que
se deformaria ao ser atravessada por uma
onda gravitacional. Infelizmente, a sensibilidade do instrumento era muito baixa.
Além disso, havia grande dificuldade de
eliminar ruídos. Apesar dos problemas,
Arquivo Pessoal
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
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É necessário estender o interesse à ciência. Para tal, as
crianças são fonte permanente, pois sentem fascínio, por
exemplo, pelos dinossauros.
Se começamos com esse tema,
a criança é levada a se interessar, também, pela Geologia,
pela Química, pela Astrofísica.
Weber anunciou, na década de 1960, que
havia detectado as ditas ondas, fato não
confirmado por experimentos posteriores.
Pouco depois, e quase simultaneamente,
nos EUA e na antiga União Soviética – que,
por vezes, apesar da Guerra Fria, trabalharam em conjunto –, começou-se a idealizar
o detector por interferometria. Tal detector
também se baseava nas oscilações de um
corpo atravessado pelas ondas gravitacionais, mas as correspondentes distorções
seriam medidas por lasers.
Por outro lado, nos anos 1970, os
astrofísicos Hulse e Taylor encontraram
evidências indiretas das ondas. Ao medir a variação do período de um sistema
binário, constituído por duas estrelas de
nêutrons, os pesquisadores verificaram
um sistema compatível com uma configuração que perde energia ao emitir ondas
gravitacionais, e, portanto, em muito bom
acordo com a Relatividade Geral de Einstein. Em 2014, a equipe do Biceps [referência ao Background Imaging of Cosmic
Extragalactic Polarisation, radiotelescópio
instalado no Pólo Sul] anunciou que havia detectado ondas gravitacionais geradas
na etapa de rápida expansão do universo.
Porém, estas medidas foram questionadas,
e a detecção, descartada. Finalmente, pesquisadores e associados do Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory
(Ligo) – dois interferômetros, com quatro
e dois quilômetros de comprimento, localizados nos Estados Unidos – anunciaram,
em fevereiro de 2016, a detecção de ondas
gravitacionais provenientes da fusão de
dois buracos negros com massas 29 e 36
vezes maiores que a do Sol.
Para a ciência e, especificamente,
para a Física, o que representa a comprovação das ondas gravitacionais? Quais os
próximos desafios?
Acho um triunfo da mente humana.
Neste caso, de Albert Einstein, cuja descrição da gravitação é bastante exata, até onde
somos capazes de medir. Também foi um
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MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
triunfo da habilidade humana em conceber
e construir os interferômetros que possibilitaram a detecção das ondas. Lembremo-nos que, há décadas, observávamos o
universo apenas por meio da radiação
eletromagnética no visível, no ultravioleta
e no infravermelho. Logo, construíram-se
os radiotelescópios e nossa percepção aumentou de maneira significativa: víamos o
exterior através de uma janela maior! Em
seguida, tornaram realidade as observações em raios-X e gama. Mais janelas
abertas! Agora, aumentaremos nosso poder de visão e de compreensão, com telescópios sensíveis às ondas gravitacionais.
Eles são particularmente importantes nos
fenômenos relacionados com objetos muito compactos, tais como buracos negros e
estrelas de nêutrons.
Quanto às metas e aos desafios, há
muitos objetivos de vanguarda. O importante, porém, é não esquecer que a própria Física clássica ainda oferece campos
de pesquisas muito frutíferos. Ressaltaria
como grande desafio teórico a junção entre Física Quântica e Relatividade Geral,
tarefa, sem dúvida, muito árdua. No plano
acadêmico-experimental, mas de aplicação quase imediata, está a fusão nuclear.
Ou seja, a obtenção de energia por meio da
emulação das estrelas. Também a Computação Quântica e as aplicações da Nanotecnologia estão na lista de desafios e metas.
Quanto aos futuros resultados dos
observatórios de ondas gravitacionais,
eles nos ajudarão a compreender um pouco melhor a Física dos objetos compactos. Penso, contudo, que o melhor serão
as surpresas com que nos brindarão. De
fato, está previsto o lançamento da missão
espacial Lisa [Laser Interferometer Space
Antenna], projeto conjunto entre ESA e
Nasa [a agência espacial norte-americana]
que terá três naves aptas a detectar e medir,
simultaneamente, as mencionadas ondas.
Ao comparar Brasil e outros países,
quais as principais diferenças quanto à
atenção concedida às ondas gravitacionais? Temos pesquisa de ponta na área?
Segundo me consta, duas entidades
científicas brasileiras participaram da detecção das ondas gravitacionais: o Inpe
[Instituto Nacional de Pesquisas Especiais] e a Universidade Estadual Paulista
(Unesp). Dado o elevado número de instituições e autores envolvidos, é muito difícil
avaliar a contribuição de cada indivíduo e/
ou organização. A meu ver, porém, o fato
de as duas instituições brasileiras aparecerem na lista é um indício de que, nesta
modalidade, faz-se pesquisa de alta qualidade no País.
Como o senhor analisa o interesse
dos indivíduos pela Astrofísica?
A Astrofísica, como a Paleontologia,
tem um atrativo especial sobre o público
em geral, por tentar responder a perguntas-chave como “De que está constituído
e como se comporta o Universo?”, “Qual a
origem da vida?”, Qual a causa da extinção
dos dinossauros?”, “Como surgiu o Homo
sapiens?” etc. Esse interesse natural deve
ser reforçado pelo cientista, responsável
por escrever artigos e livros de divulgação,
além de realizar conferências e seminários
dirigidos ao público. É necessário estender
o interesse à ciência. Para tal, as crianças
são fonte permanente, pois sentem fascínio, por exemplo, pelos dinossauros. Se
começamos com esse tema, a criança
é levada a se interessar, também, pela
Geologia, pela Química, pela Astrofísica.
Estimulamos, assim, o descobrimento do
caráter interdisciplinar. Há, obviamente,
combinações alternativas, mas com resultantes que sempre apontam na mesma direção. Penso ser uma obrigação do
cientista divulgar os seus resultados ao
público, dentre outros motivos, porque são
essas pessoas que pagam nossos salários.
A divulgação da Astrofísica na
Espanha é boa. Os institutos têm, em
suas fileiras, jornalistas especializados.
Permita-me centrar-me em Granada, que
conheço melhor. Esta cidade tem três
centros dedicados à Astrofísica: o IAA, o
Departamento de Física Teórica da Universidade de Granada e o Instituto de
Radioastronomia Milimétrica. O IAA edita
uma revista de divulgação; às quintas-feiras, há conferências públicas; existem,
ainda, jornadas de portas abertas e visitas
ao Observatório de Sierra Nevada e ao
Radiotelescópio. O Parque das Ciências
de Granada, por outro lado, tem um moderno planetário, com produção própria e
um telescópio de 75 cm de diâmetro, que,
antes, funcionava em nosso observatório.
Não conheço em detalhes a divulgação
da Astrofísica no Brasil, mas sei que algumas
pessoas se dedicam a essa tarefa com seriedade e ótimos resultados. Creio, porém, que
se deveria potencializar ainda mais a divulgação científica em ambos os países. Por quê?
Porque ciência também é cultura. Infelizmente, é frequente a separação entre ciências e
letras. Uma pessoa, às vezes, é considerada
culta por ler os clássicos e/ou por frequentar
teatros. Contudo, se essa pessoa não tem os
conhecimentos mínimos de ciência, não deve,
a meu ver, ser considerada culta. É como habitar uma casa muito bonita e confortável, sem
saber como foi construída ou onde se localiza.
Por outro lado, se a pessoa tem sólidos conhecimentos científicos, mas ignora as artes
e as letras, sabe muito sobre a tal casa, mas
é incapaz de interpretar a beleza que a rodeia
ou a concepção artística envolvida em sua
construção. Penso que uma pessoa culta é
aquela que, além de possuir conhecimentos
literários, artísticos e humanísticos, tenha um
mínimo de cultura científica, ou vice-versa.
De que modo as mídias digitais interferem, hoje, na produção científica? O IAA
mantém conexões internacionais favorecidas pelas novas tecnologias?
Sem a tecnologia disponível nos dias
de hoje, muitas descobertas no mundo
da Astrofísica seriam quase impossíveis.
Centrarei no caso dos Gamma-Ray Bursts
(GRB) como exemplo. Esse fenômeno
pode ter diferentes origens: a) um choque
de duas estrelas de nêutrons; b) a explosão de uma hipernova (mais potente que
uma supernova normal). Ambos os fenômenos são altamente energéticos e rápidos. Curiosamente, terminei há pouco um
artigo, a ser publicado em breve, sobre
estrelas com altas taxas de rotação que,
segundo meus cálculos, podem dar lugar
ao segundo tipo de GRB porque, entre outros detalhes, a perda de momento angular
é anisotrópica. Voltando à questão, desde
o momento em que o satélite de raios gama
detecta a explosão, é necessária uma coordenação exemplar para dirigir os telescópios óticos à região do céu onde ocorreu o
tal evento, para identificar a fonte e iniciar
as observações espectrofotométricas. Até
os telefones celulares entram em ação.
O IAA conta com tais meios por meio da
rede Bootes, que é, em si, uma teia de aranha, que se torna o fio de uma teia ainda
maior, em certas ocasiões, como no caso
das ondas gravitacionais. A colaboração é
imprescindível. O elevado número de autores dos vários artigos sobre a detecção das
ondas, ou sobre a detecção do Bóson de
Higgs, respaldam a sentença anterior.
Por outro lado, o intercâmbio de
informações também se acelerou com as
novas tecnologias. Os processos de arbitragem dos artigos científicos são muito
mais rápidos, dado que, antes, se faziam
por correio comum e podia tardar muito até
que um artigo fosse publicado, sem contar
as esperadas discussões autor-referee. As
consultas bibliográficas também se beneficiaram das novas tecnologias. Dou um
exemplo local muito importante para mim:
a bibliotecária do Departamento de Física
da UFMG, Shirley Maciel, localizou rapidamente uma dissertação sobre P. Lund
(Lagoa Santa) a meu pedido, estabelecendo uma equação muito simples e clara:
gentileza + tecnologia = eficiência.
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
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ENGENHARIA ELÉTRICA
Energia
(inteligente)
para todos
Pesquisadores da Unifei inspiram-se em
centros mundiais de referência para criar
modelo avançado de rede elétrica
Vivian Teixeira
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MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
Em 2012, o furacão Sandy atingiu a
Costa Leste dos EUA e causou bilhões de
dólares em danos ao governo. Inúmeras
linhas de energia acabaram destruídas e o
fornecimento de eletricidade, para 3,5 milhões de residências e empresas, foi interrompido. Graças às microrredes energéticas inteligentes, (redes de menor dimensão
concebidas dentro dos conceitos das smart
grids), lugares como o Food and Drug Administration, órgão americano responsável
pelo controle dos alimentos, suplementos
alimentares, medicamentos, cosméticos,
equipamentos médicos, materiais biológicos e produtos derivados do sangue humano, manteve-se em funcionamento.
Isso aconteceu porque, no momento
da interrupção, as microrredes – que agem
como pequenos sistemas elétricos convencionais, capazes de extrair energia a partir
de fontes limpas, como o vento e o sol – se
desligaram do mecanismo comum de energia e continuaram a funcionar, mas de forma independente. Instituições que trabalham com equipamentos caros e dependem
da eletricidade para manter a segurança e a
continuidade de suas operações encontram
solução em tais mecanismos, justamente,
para atividades contínuas e seguras.
Na Universidade da Califórnia, em
San Diego, as microrredes inteligentes
são responsáveis por 92% da eletricidade
usada no campus – o que, também, gera
economia anual de mais de US$ 8 milhões.
O sistema inclui três fontes principais de
geração de energia: célula de combustível,
que transforma gás metano em eletricidade, sem combustão; captação solar, com
uso de painéis fotovoltaicos; e cogeração
a gás natural, empregada para ligar luzes e
equipamentos, além de produzir vapor para
aquecimento, ventilação e refrigeração.
Embora a ocorrência de furacões
não seja comum no Brasil, uma série de
problemas é capaz de deixar em risco o
fornecimento de energia, a exemplo da
variação no padrão da corrente elétrica,
das interrupções inesperadas no fornecimento e, até mesmo, de outros tipos de
catástrofes naturais.
O modelo usado na Califórnia ainda não existe em terras brasileiras, mas o
campus da Universidade Federal de Itajubá
(Unifei) é um dos candidatos a receber um
sistema semelhante no futuro. A necessidade foi percebida após a divulgação
de estudos prévios, que relacionaram a
grande quantidade de quedas de energia
na instituição a outras duas necessidades:
redução do consumo de energia elétrica
e premência por um laboratório especializado para aulas e experiências práticas
sobre o assunto.
Pesquisador do Instituto de Sistemas
Elétricos e Energia da Unifei, Paulo Márcio da Silveira trabalha com o tema desde
2008, com investigações, dentre outros
temas, sobre modelagens e análises que
podem ser aplicadas à tecnologia de redes elétricas inteligentes. Em 2011, com
apoio da FAPEMIG e da Japan International Cooperation Agency (Jica), ele viajou
ao Japão, onde se surpreendeu com o alto
nível das pesquisas e do desenvolvimento
na área. “Os japoneses têm muitas instalações de projetos-piloto sobre smart grids
e microgrids”. Já no ano de 2012, teve a
oportunidade de conhecer a Universidade
de Shanghai, “onde até mesmo uma planta
nuclear faz parte de sua geração própria,
funcionando ‘inclusive’ como laboratório
de ensino e pesquisa”, conta.
A preocupação com a produção energética levou a Unifei a fundar, em 2005, o
Laboratório de Qualidade, Medição e Proteção de Sistemas Elétricos (LQMP), e, em
2012, o Centro de Excelência em Redes
Elétricas Inteligentes (CERIn). De acordo
com Paulo Silveira, a importância do CERIn,
bem como de outros grupos de pesquisa,
está na atenção concedida à temática por
profissionais dos meios acadêmico e empresarial. O Centro se dispõe a trabalhar na
tríade ensino, pesquisa e extensão, em uma
busca permanente por inovações tecnológicas e científicas.
Solução alternativa
Na prática, a microrrede inteligente
da Unifei pretende oferecer aos usuários,
além da geração própria de energia – que
diminui os custos de consumo –, uma instalação elétrica mais flexível e confiável,
que apresente pouquíssimos desligamentos e possa trabalhar no “modo ilhado”
quando houver problemas externos com a
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
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concessionária local, a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). Nestes
casos, a microrrede continuará a suprir
cargas prioritárias.
Salas de aula, laboratórios de ensino e pesquisa e outros serviços do campus não teriam atividades interrompidas
por falta temporária de energia vinda da
concessionária. A eletricidade sairia dos
geradores alternativos, como os fotovoltaicos, e, também, de sistemas armazenadores. A microrrede da Unifei também
pretende estimular o uso de alternativas
de transporte mais sustentáveis, começando pelos pequenos veículos (scooters,
bicicletas etc.), além de realizar experiências e pesquisas próprias. “No futuro,
a depender do avanço das pesquisas e
dos investimentos, há possibilidade de
ampliar a oferta deste tipo de tecnologia,
incluindo postos de recarga de veículos
elétricos, algo ainda incipiente no Brasil”,
acrescenta o pesquisador.
Além de ampliar as possibilidades de
geração de energia, uma microrrede inteligente é reconhecida por gerar inúmeros
dados relativos ao consumo – e que podem ser acessados de computadores ou
dispositivos móveis. Ao invés de os usuários conhecerem o que consumiram apenas uma vez por mês, por meio do trabalho
do leiturista, poderão acessar informações
a qualquer hora, por meio de robusta plataforma de dados.
Isso facilita o gerenciamento dos dados e pode acarretar em mais economia de
energia. Segundo Paulo Silveira, uma rede
elétrica inteligente é, sobretudo, um assunto multidisciplinar. Primeiro, porque há
necessidade de duas grandes áreas de conhecimento: a Engenharia Elétrica – e seus
sistemas elétricos de potência, controle e
automação, além da eletrônica de potência
–, e a Engenharia de Telecomunicação.
Também é preciso incluir, em projetos de microrredes, profissionais de Engenharia da Energia, Engenharia Mecânica e
Engenharias de Recursos Naturais, além de
experts, por exemplo, em Física e Química,
áreas importantes para o desenvolvimento
de pesquisas sobre novos materiais para
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MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
geração, transmissão e armazenamento de
energia. É fundamental, ainda, a participação da comunidade acadêmica e da população do entorno, para que as microrredes
atendam às expectativas da sociedade, que
deve se envolver na busca de soluções.
Cenário brasileiro
Antes de vislumbrar um cenário
avançado como o da futura microrrede inteligente da Unifei, importante perceber o
atual cenário brasileiro. O formato padrão
de onda usado nas transmissões de energia é o senoidal. Segundo dados do Ministério de Minas e Energia (MME), mais
de 70% da produção energética consumida no Brasil provêm de hidrelétricas, mas,
em grandes períodos de seca, a eficiência
da geração torna-se ameaçada. Em tais
casos, as termelétricas entram em ação e
complementam a geração de energia em
mais de 20%.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), autarquia em regime especial,
vinculada ao MME, foi criada para regular
o setor elétrico brasileiro, e, entre suas
atribuições, constam a regulação da geração (produção), transmissão, distribuição
e comercialização de energia elétrica, além
da fiscalização – direta ou mediante convênios com órgãos estaduais – de concessões, permissões e serviços na área.
A Aneel produz indicadores para
acompanhar diversos aspectos do fornecimento de energia elétrica. Entre eles, está
a qualidade do serviço, o que inclui avaliação das interrupções no fornecimento,
e do produto oferecido aos consumidores
– com a avaliação da conformidade de tensão em regime permanente e das perturbações na forma de onda de tensão.
Segundo Gilson Paulillo, presidente
da Sociedade Brasileira de Qualidade da
Energia Elétrica (SBQEE), os indicadores
produzidos pela Aneel precisam nortear os
esforços de pesquisa e desenvolvimento
feitos no País, para que ocorra desenvolvimento científico e tecnológico na área de
energia elétrica e eles estejam de acordo
com os interesses da sociedade brasileira.
“É necessário pensar em soluções de geração baseadas em smart grids para que se
consiga melhorar o fornecimento e reduzir
os impactos da geração de energia. Para
isso, é fundamental melhorar a qualidade
dos medidores”, avalia.
Em 2010, foi debatida uma proposta
de regulamentação dos requisitos mínimos
para os medidores eletrônicos de energia,
por meio da Audiência Pública 43/2010,
que colheu contribuições da sociedade.
Segundo informações da Aneel, a regulamentação resultante da Audiência Pública
(Resolução Normativa nº 502/2012) está
com a aplicação suspensa devido ao fato
de o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) ainda não ter
aprovado sistemas de medição com as funcionalidades previstas.
Além da lentidão relacionada à legislação vigente, certos entraves podem
postergar a instalação da microrrede inteligente na Unifei. Segundo Paulo Silveira,
um grande desafio do momento é o período
de recessão enfrentado pelo País. Apostar
em incentivos governamentais e na ampliação das ofertas de tecnologia de baixo
custo para os consumidores – principalmente, para os de menor renda – seria um
ótimo incentivo. “Precisamos, também, de
um novo modelo de mercado de energia,
que coopere com esta política. Atualmente,
as próprias companhias distribuidoras enxergam dificuldades de incentivar o uso de
fontes renováveis para o público em geral,
considerando a perda de receita que isso
pode gerar para elas próprias”, critica o
pesquisador.
A Aneel identifica como principais
dificuldades para a implantação de modelos de smart grids os altos investimentos necessários e potencializados pelo
aumento do dólar, o processo de aprovação de medidores no Inmetro e as altas
cargas tributárias. Embora o cenário não
seja o mais positivo, no documento com
as considerações do Fórum de Inovação
Sustentável, a COP 21, ocorrido em Paris,
ao final de 2015, um dos tópicos de debate
direcionou-se a essa temática, “reconhecendo a necessidade de promover o acesso
universal à energia sustentável nos países
em desenvolvimento, particularmente na
África, por meio de uma maior implantação
das energias renováveis”.
Participação da FAPEMIG
Projeto: Tecnologia de redes
elétricas inteligentes - Modelagens e
análises
Coordenador: Paulo Márcio da
Silveira
Instituição: Universidade Federal de
Itajubá
Chamada: Programa Pesquisador
Mineiro
Valor: R$ 48.000,00
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
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microbiologia
Cogumelos
a brotar do
plástico
Sem aditivos químicos, processo biológico
reduz tempo de decomposição das sacolinhas
distribuídas nos supermercados
Alessandra Ribeiro
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MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
O que leva mais tempo: a decomposição de uma sacola plástica ou a aprovação
de um pedido de patente no Brasil? Em primeiro lugar, você precisa saber que a sacolinha pode demorar de 100 a 400 anos para
se desfazer. Se ela for do tipo oxibiodegrável, contudo, o prazo, supostamente, é de
18 meses, segundo os fabricantes. Pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa
(UFV) descobriram um processo que dá
início à degradação do plástico em apenas
45 dias, sem presença da luz solar. (Com
o sol, aliás, tudo fica ainda mais rápido!)
O pedido de patente do método tramita no
Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (Inpi) há mais de quatro anos.
Aplicado apenas às sacolas oxibiodegradáveis, o processo de biodegradação
descoberto pelos cientistas é desencadeado pelo fungo de podridão branca Pleurotus ostreatus. Na natureza, ele participa da
decomposição de resíduos vegetais e produz o cogumelo ostra ou hiratake, também
usado na culinária. O fungo foi colocado
em frascos de vidro esterilizados, misturado a sacolas cortadas em pedaços pequenos e a papel toalha umedecido em água.
Em seguida, armazenou-se o material
em temperatura ambiente por 90 dias. “Durante o período de incubação, foi observada
a colonização da superfície dos plásticos
pelo fungo, a formação de cogumelos e as
alterações na estrutura do material, como
rachaduras e pequenos orifícios”, descrevem os pesquisadores. A toalha de papel
exerce função estratégica, já que o fungo a
ataca primeiro. Por fim, as enzimas geradas
no processo, chamadas de lignocelulíticas,
também começam a degradar o plástico.
“Nosso principal objetivo, com o pedido de patente, é demonstrar a possibilidade de degradação das sacolas plásticas
por um processo biológico”, afirma Maria
Catarina Megumi Kasuya, coordenadora
do projeto e professora do Departamento
de Microbiologia do Instituto de Biotecno-
logia Aplicada à Agropecuária (Bioagro)
da UFV. Ela orientou a tese de doutorado
do bioquímico José Maria Rodrigues da
Luz, desenvolvida junto ao Programa de
Pós-graduação em Microbiologia Agrícola,
base de toda a investigação.
Enquanto aguardam a resposta do
Inpi, os pesquisadores buscam parceiros
para viabilizar o projeto. “Procuramos empresas ou instituições para licenciamento
da tecnologia ou estabelecimento de parceria, de modo a continuar a pesquisa, a
fim de obter um processo em escala industrial”, revela Maria Catarina. Prefeituras,
fabricantes de sacolas oxibiodegradáveis e
empresas que trabalham com o descarte de
resíduos sólidos são possíveis mercados.
Além da degradação do plástico, a
tecnologia tem potencial para a produção
de enzimas, a exemplo das lacases e celulases, com aplicação na indústria de papel e celulose, higiene e limpeza. Também
existe a possibilidade de aproveitamento
em processos de biorremediação, uso de
organismos vivos para limpeza ou descontaminação de áreas ambientais afetadas
por poluentes diversos. Outro resultado,
inusitado, é a produção de cogumelos comestíveis. Neste caso, é preciso avançar na
detecção de eventuais resíduos químicos,
antes da liberação para consumo humano.
A escolha do Pleurotus ostreatus não
foi aleatória. “Nossa experiência com fungos lignocelulolíticos, ou causadores da
podridão branca, está na base da proposta
de meu projeto de doutorado”, conta José
Maria Rodrigues, ao explicar que o estudo privilegiou uma espécie de fungo em
função de sua alta capacidade de produzir
enzimas extracelulares, além do já conhecido potencial de produção de cogumelos
comestíveis e do emprego em processos
de biorremediação. “Acredito que outros
fungos lignocelulolíticos possam ser usados na degradação das sacolas oxibiodegradáveis, mas isso requer estudos. Na
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
21
UFV, temos uma micoteca com mais de
100 isolados fúngicos aptos a serem submetidos a testes”, afirma.
As sacolas oxibiodegradáveis contêm
o aditivo D2W, acelerador do processo de
oxidação do plástico. Segundo os fabricantes, o prazo de degradação total do material
é de 18 meses. Há controvérsias sobre a
adoção das sacolas. Um dos argumentos
levantados pelos críticos de seu uso é a
toxicidade das substâncias catalisadoras
empregadas e sua permanência no meio
ambiente, mesmo após a fragmentação em
partículas menores. A pesquisa realizada na
UFV demonstrou que a exposição das sacolas à luz solar, durante 120 dias, não foi
suficiente para desencadear a desintegração
física, o que os leva a inferir que elas podem
se acumular na natureza, assim como os
objetos convencionais.
Polêmica infinita
Durante a conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, realizada em 2012, a
Associação Brasileira de Supermercados
(Abras) apresentou ao Ministério do Meio
Ambiente um relatório para redução do
uso de sacolas plásticas, que apontava
queda de 6,4%, equivalente a 953 milhões de “sacolinhas” no período de um
ano (2010-2011). Apesar de expressivo, o
número ganha outras dimensões se pensarmos que fica abaixo do total de sacolas
consumidas em apenas um mês no Brasil:
1,25 bilhão. Por dia, são 41 milhões.
O resultado apresentado pela Abras
refletiu uma série de iniciativas isoladas no
País, a exemplo da proibição das sacolas
convencionais nos supermercados de Belo
Horizonte, primeira capital a aplicar a medida, em 2011. A iniciativa, porém, não foi
adiante. Depois da polêmica cobrança pela
distribuição, e, até mesmo, da falsificação
de sacolas, uma lei estadual se sobrepôs
à municipal, ao determinar que apenas
cidades com coleta seletiva e usina de
compostagem poderiam exigir o plástico
biodegradável adotado por BH, que não
dispunha da infraestrutura.
Para saber mais!
▶ “Orientações sobre consumo consciente e propostas para redução de sacolas plásticas pelos consumidores” (Cartilha elaborada pelo Ministério do Meio Ambiente, 2011).
Disponível em www.mma.gov.br/estruturas/234/_arquivos/cartilha_3___consumidores_234.pdf
▶ Grupo de Trabalho Sacolas Plásticas:
Disponível em: www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/producao-e-consumo-sustentavel/gt-sacolas-plásticas
▶ Sacolas plásticas: aspectos controversos de seu uso e iniciativas legislativas
(Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados, elaborada por Maurício Boratto Viana)
Disponível em www2.camara.leg.br/documentos-e-pesquisa/publicacoes/estnottec/areas-da-conle/tema14/2011_4475.pdf
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MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
No ano passado, em meio a uma
série de questionamentos, a Prefeitura de
São Paulo proibiu a distribuição, pelos estabelecimentos, de sacolas brancas, substituídas pelas de bioplástico, predominantemente constituídas de material renovável.
Na esfera federal, vários projetos de lei sobre o uso das sacolas foram apresentados
no Congresso Nacional e propõem desde
o banimento do produto até a adoção de
diferentes materiais.
A falta de padronização sobre a matéria-prima a ser usada nas sacolinhas levou
a Abras a romper o pacto, firmado com o
Ministério do Meio Ambiente (MMA), de
reduzir em 40%, até 2015, o consumo
das embalagens nos supermercados. No
mesmo ano, o MMA publicou o relatório
de um grupo de trabalho sobre uso do material, que reuniu representantes de todas
as esferas envolvidas, dos consumidores à
indústria fabricante de plásticos. As atividades terminaram sem o estabelecimento
de um consenso. Neste cenário, portanto,
soluções como a proposta pelos pesquisadores da UFV são muito bem-vindas.
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
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biocombustíveis
Inusitada
alternativa
Pesquisadores da
Universidade Federal de
Lavras avaliam produção
de biocombustível a partir
da batata-doce
Roberta Nunes
24
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
Trata-se de planta reproduzida, capaz de garantir as mesmas
características da muda mãe.
A produção de biocombustíveis é
impulsionada, mundialmente, por fatores
ambientais e econômicos. Apesar de o
petróleo permanecer como principal matriz
energética, há muito, o etanol transformou-se em grande oportunidade de negócios.
No Brasil, a produção a partir de biomassa centraliza-se no setor sucroalcooleiro,
com ênfase na cana-de-açúcar. Estudos
recentes, porém, apresentam a batata-doce
como importante alternativa para fabricação de álcool biocombustível.
Em tal cenário, um projeto do Departamento de Agricultura, da Universidade
Federal de Lavras (UFLA) tem buscado obter e oferecer novos clones de batata-doce
que permitam seu efetivo uso como alternativa à produção de etanol combustível, e,
ao mesmo tempo, contribuam com o desenvolvimento de alimentos para nutrição
humana e animal.
Uma equipe multidisciplinar tem se
dedicado ao tema. O grupo é coordenado
pelo professor Wilson Magela Gonçalves,
responsável pelo desempenho econômico
e energético da cultura de batata-doce, e
conta com o auxílio do professor Wilson
Roberto Maluf, melhorista que se encarrega da obtenção dos clones.
Para avaliar o potencial do cultivo, os
pesquisadores usaram uma série de critérios de seleção (Veja box à página 26) para
definir quais eram as aptidões dos clones
de batata-doce. “Isso inclui ao menos cinco clones com tripla aptidão: alimentação,
produção de etanol e nutrição animal. Dentre eles, destacam-se os clones UFLA-0712 e UFLA-07-49, que apresentam altíssimas produtividade para as três funções”,
aponta Wilson Magela.
Vantagens
Segundo a pesquisa, a batata-doce
pode produzir de 40 a 100 toneladas de
raízes em cada ciclo, o que equivale a um
volume entre 6.400 e 16.000 litros de etanol por hectare – que, por sua vez, possui,
aproximadamente, o tamanho de um campo de futebol. Em comparação, a cana-de-açúcar apresenta rendimento de cerca de
8.100 litros por hectare.
Além disso, a batata-doce pode ser
plantada em todo o território nacional, inclusive em regiões onde, por força do regime hídrico, a cana-de-açúcar não se adapta. Wilson Magela acredita que, por meio
de clones selecionados para a produção de
biocombustível, é possível que, ao longo
de um ano, o rendimento de álcool da nova
cultura torne-se quatro vezes maior que o
verificado nos canaviais.
Os benefícios socioeconômicos e
ambientais do cultivo para a produção de
álcool etílico também se revelam diferenciais. “Em geral, a batata-doce é explorada
pela agricultura familiar. Além disso, conta
com baixa emissão líquida de CO2 na atmosfera e os resíduos sólidos gerados no
processo de obtenção de álcool, misturados à folhagem, podem ser usados como
ração destinada à pecuária”, acrescenta o
pesquisador.
Miniusina
Pioneiras na área, as pesquisas com
batata-doce, para produção de etanol,
iniciaram-se em 1996, por meio de um
projeto de pesquisa elaborado por Márcio
Antônio da Silveira, atual reitor da Universidade Federal do Tocantins (UFT). Desde
2014, o campus da UFT conta com uma
miniusina piloto para produção do álcool alternativo. A implantação foi realizada
a partir de Termo de Cooperação firmado
entre a instituição e a Superintendência de
Desenvolvimento da Amazônia (Sudam).
A miniusina destina-se à realização
de demonstrações, para que produtores,
empresários e agricultores possam aprender as técnicas e aplicá-las em seus contextos. “A batata-doce é uma matéria-prima
que se adequa aos objetivos de forma social, econômica e ambiental. Em pequenas
áreas, há altas produções. Desse modo,
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
25
garante-se oportunidade para pequenos
e médios agricultores”, afirma Márcio da
Silveira, ao também ressaltar que o desafio da produção é imenso, pois trata-se de
cultura de subsistência, de pouco valor.
“Muitos olham a batata in natura e não a
valorizam. Assim que processada, porém,
ela se transforma em mercadoria”, conclui.
Desafios
Diante do potencial da nova matéria-prima, fica clara a necessidade de outras
tantas pesquisas na área. “Ao ano, centenas de estudos com a cana-de-açúcar são
realizados, em diferentes regiões brasileiras. Com relação à batata-doce, não há
uma dezena de propostas”, enfatiza Wilson
Magela. Outro problema diz respeito ao
atual cenário econômico: com a grande
queda nos preços do petróleo, os combustíveis alternativos, o que incluir o etanol
proveniente da cana-de-açúcar, deixaram
de ser economicamente interessantes em
curto prazo. “A recuperação de preços de
petróleo, aliada às demandas ambientais,
pode reacender o interesse por combustíveis alternativos em geral”, explica.
Os desafios para que o uso da nova
matéria-prima seja otimizado passam pela
necessidade de melhoramento genético,
com o intuito de que se obtenham novos
clones de batata-doce, aptas para consumo in natura e resistentes a doenças e a
pragas de solo. São necessárias, também,
a melhoria da eficiência dos sistemas de
produção de mudas, a mecanização do
transplante, a colheita da batata e o aproveitamento de resíduos da destilação do
etanol na produção animal. Outro ponto
relevante refere-se à importância de identificar a viabilidade energética e econômica
do que se produz, da maneira a analisar se
compensam os custos e benefícios.
Hora de escolher!
Confira os critérios de seleção para que se “garimpem”, com objetivos distintos, as melhores batatas-doces.
Consumo humano
Raízes alongadas e com as extremidades mais estreitas do que o centro.
Peso médio em torno de 250 a 330 gramas por raiz.
Produção de etanol
Rendimentos de produção de etanol igual ou superior aos da cana-de-açúcar, sendo, no mínimo, 6 mil litros de etanol por hectare.
Nutrição animal
Quantidade de proteína bruta nas ramas e folha semelhante ou superior à da soja, tendo
como referência 1.2 mil quilos de proteína bruta por hectare.
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MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
Participação da FAPEMIG
Projeto: Batata-doce, a biomassa
para etanol biocombustível que
contribui para o aumento da produção
de alimentos
Coordenadores: Wilson Magela
Gonçalves
Instituição: Universidade Federal de
Lavras (Ufla)
Chamada: Programa Mineiro de
Desenvolvimento Tecnológico e
Produção de Biocombustíveis
Valor: R$ 164.078,71
geologia
Todo cuidado
é pouco
Instaladas por pesquisadores da Unimontes, estações de
averiguação sísmica monitoram tremores de terra na região
de Montes Claros (MG)
Alessandra Ribeiro
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
27
Com menos de 20 mil habitantes,
Itacarambi, no Norte de Minas Gerais, ganhou destaque no noticiário brasileiro em
9 de dezembro de 2007. Na ocasião, foi
registrada, ali, a primeira morte atribuída a
um tremor de terra no País, que atingiu 4,9
graus na escala Richter. O município fica a
cerca de 200 quilômetros de Montes Claros,
cidade pólo da região, onde também têm
sido percebidos terremotos de baixa magnitude, mas que assustam a população, como
o ocorrido em 19 de maio de 2012 – que
ultrapassou 4,0 graus na escala Richter. Em
tal caso, felizmente, sem vítimas.
Desde 2013, a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) registra
a atividade sísmica da região, a partir de
duas estações: uma definitiva, dentro do
Parque Estadual da Lapa Grande, nas imediações do Bairro Vila Atlântida, epicentro
de tremores ocorridos no município; e uma
provisória, na fazenda Chico do Haras, a
11 quilômetros do campus universitário.
“Os registros serão realizados, ainda, por
um período de seis a 12 meses nesta estação. Após a análise do comportamento sísmico no período, avaliaremos se ela será
instalada definitivamente no local, ou, provisoriamente, em outro ponto, para novas
observações”, explica o professor Expedito
José Ferreira, coordenador do Núcleo de
Estudos Sismológicos da Unimontes.
“Os dados provenientes das estações
transcendem a perspectiva de simples fornecedora de dados, pois, além de garantir
o registro dos eventos, permitem o monitoramento, constante e preciso, dos tremores”, destaca o geógrafo Maykon Fredson
Ferreira, ao apresentar os resultados do
projeto em vídeo veiculado na mostra “Inova Minas FAPEMIG”, realizada em novembro de 2015. “As informações registradas
nas estações subsidiarão a conduta e o gerenciamento dos elementos transformadores do espaço geográfico, além de garantir
tomadas de decisões seguras, por parte
dos gestores, com base em dados técnicos
e científicos”, completa.
Mais do que fornecer subsídios
para ações no âmbito da defesa civil, por
exemplo, a instalação das estações sis-
28
mográficas, pela Unimontes, abriu novo
campo de pesquisas na universidade, que
se aproximou de instituições tidas como
referências nacionais na área. Os registros
são transmitidos em tempo real, pela internet, ao Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB) e ao Centro de
Sismologia da Universidade de São Paulo
(USP), parceiros do projeto. A iniciativa
conta, ainda, com a colaboração do Instituto Estadual de Florestas (IEF), que cedeu o espaço ocupado no Parque da Lapa
Grande. A compra dos equipamentos das
duas estações, da ordem de R$ 142 mil, foi
viabilizada pela FAPEMIG e pela Secretaria
de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
de Minas Gerais..
Origem
Segundo Expedito Ferreira, logo
após o tremor ocorrido em maio de 2012,
em Montes Claros, pesquisadores do Observatório Sismológico da UnB e do Centro de Sismologia da USP se deslocaram
para a região e instalaram, na cidade, uma
rede provisória com nove sismômetros,
Como se medem os terremotos?
O tamanho relativo dos sismos é chamado de magnitude, que, por sua vez, é
medida por meio da chamada escala Richter, criada, em 1935, por Charles Richter.
O modelo é logarítmico – ou seja, de um grau a outro, há diferença de dez vezes na
amplitude das vibrações. Ao mesmo tempo, a distinção da quantidade de energia
liberada é de 30 vezes.
Outra maneira de medir os terremotos é avaliar os efeitos que causam em determinado lugar. Para isso, usa-se a escala Mercalli Modificada, que não se baseia em
medições realizadas com instrumentos, mas na avaliação visual do resultado provocado pelo tremor sobre objetos, construções e pessoas. Este procedimento é menos
preciso que do que a escala Richter. Por outro lado, é importante para a avaliação de
terremotos ocorridos há bastante tempo, em épocas nas quais não havia estações
sismográficas.
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
para investigar a origem do fenômeno. A
conclusão preliminar mostrou que os tremores mais fortes estavam associados a uma
falha geológica no sentido norte-noroeste/
sul-sudoeste, com dimensão de 1 a 2 quilômetros, cuja movimentação se dá por compressão da crosta. “Estas tensões geológicas
compressivas são as mesmas que causaram
os tremores de Manga (1990) e Caraíbas/Itacarambi (2007). [Elas] são também compatíveis com as que causaram o sismo de Brasília
(2000)”, descrevem os especialistas.
“Os tremores de Montes Claros devem ser resultado de ‘pressões’ geológicas
que atuam em ampla região do Brasil”, infere o professor da Unimontes, para quem há
possibilidade de reincidência: “Nos últimos
cinco anos, as ocorrências têm sido intensificadas. Na primeira semana de abril de
2014, por exemplo, ocorreram vários tremores”, lembra. Expedito Ferreira cita o relatório elaborado pelo professor Lucas Barros,
do Observatório Sismológico da UnB, que
revela a ativação de um novo segmento de
falha sismogênica na cidade, com dimensão
maior do que aquela determinada a partir
dos eventos de 2011 a 2013.
Terror no Brasil
O maior terremoto registrado no País ocorreu em 1955 e atingiu 6,2 graus na
escala Richter, com epicentro a 370 quilômetros de Cuiabá (MT). Em 1980, houve outro
tremor, com magnitude 5,2, sentido em praticamente todo o Nordeste, que provocou
o desabamento parcial de casas em Pacajus (CE). Em 8 de junho de 1994, a cidade
de Porto Alegre (RS) foi atingida pelas ondas sísmicas de um terremoto ocorrido na
Bolívia, a 2.200 km de distância. O abalo atingiu 7,8 graus na escala Richter.
Fonte: Serviço Geológico do Brasil
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
29
computação
Web
realmente
universal
Destinado a desenvolvedores de sites,
manual apresenta recomendações de
acessibilidade para pessoas com deficiência
Roberta Nunes
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MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
Tais indivíduos têm deficiências visuais (18,6%), motoras
(7%), auditivas (5,1%) e mentais
ou intelectuais (1,4%).
Todos os dias, milhões de pessoas
acessam a internet em busca de um universo de informações e atividades on-line. Na
era da informação, caso surja uma dúvida,
a resposta é encontrada após rápida busca
no Google. Por outro lado, se o intuito é a
comunicação, basta acionar o WhatsApp, o
Facebook e outras redes sociais, pois, em
alguns segundos, diversas mensagens são
enviadas. A web tornou-se meio para expressar opiniões, trocar conhecimento, realizar negócios, aprender, ensinar e outras
tantas ações. Apesar disso, a maioria dos
sites ainda não contempla 45,6 milhões de
pessoas com deficiência no País, segundo
censo do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
Por meio de pesquisa realizada em
2010, na qual analisaram-se 6 milhões de
portais governamentais, o Comitê Gestor
da Internet no Brasil (CGI.br) relata que
apenas 5% dos sites eram acessíveis a
pessoas com deficiência. Para compreender esses obstáculos, ponha-se no lugar
de indivíduos daltônicos, fotossensíveis
ou com problemas auditivos, visuais, motores ou intelectuais. De que modo, afinal,
acessar as milhões de informações disponíveis nos sites on-line?
Da busca de respostas para tal indagação, surgiu o projeto “Web semântica e
acessibilidade”, desenvolvido no Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
(campus de São João del-Rei), para auxiliar
os desenvolvedores iniciantes a deixar seus
sites semanticamente corretos e acessíveis
a usuários com deficiências diversas.
Com apoio da FAPEMIG, a coordenadora do projeto, Teresinha Magalhães, e estudantes de Gestão da Tecnologia e Informação
desenvolveram um manual com orientações
para que os desenvolvedores tornem os portais acessíveis e facilmente localizáveis pelos
motores de busca on-line. “Hoje, muitos
sites não são lidos pelos softwares de deficiência. O intuito é não só dar a forma,
mas fazer com que os recursos possam
garantir consistência a um portal, de forma que ele apareça nas primeiras linhas
da busca”, esclarece.
As dificuldades de navegação ficam
claras pelo relato de Alex Garcia, primeiro surdo-cego a se graduar no Brasil – e,
hoje, pós-graduado em Educação Especial
pela Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM). Natural do Rio Grande do Sul, ele
ainda possui 0,05% da visão no olho direito,
o que lhe permite usar o ampliador de telas
e de alto contraste como recurso assistivo.
Apesar disso, os obstáculos permanecem
enormes: “O maior desafio é ter paciência
para encontrar o que desejo quando os sites
mudam seu desenho. Alguns se alteram a
cada semana, enquanto outros apresentam
excesso de imagens e de movimento. Há,
ainda, aqueles que, devido a uma pirotecnia
danada, são terríveis para as pessoas com
deficiência”, comenta.
Diretrizes
Mestranda em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), Janicy Rocha esboçou
um panorama dos processos, nacionais
e internacionais, para padronização do
desenvolvimento de sites. Tais diretrizes
são abordadas no “E-acessibilidade e
usuários da informação com deficiência”,
no qual a pesquisadora destaca que os
parâmetros começaram em 1994, quando Tim Berners Lee fundou o World Wide
Web Consortium (W3C), com o intuito de
regulamentar os assuntos ligados à web,
por meio da elaboração de padrões para
construção de conteúdos. Segundo Janicy Rocha, os registros
dos primeiros trabalhos em prol da acessibilidade na web datam de 1997, a partir
de iniciativas realizadas no Canadá, nos
Estados Unidos e na Austrália. Em 1999,
a W3C cria um grupo de trabalho para
desenvolver diretrizes capazes de auxiliar
a construção e a implementação da acessibilidade na web – o Web Accessibility
Initiative (WAI).
No mesmo ano, a equipe publica a
primeira versão das “Diretrizes para a Acessibilidade do Conteúdo da Web (WCAG
1.0)”. Diante dos avanços das tecnologias,
foi necessário atualizá-la, em 2008, quando surge o WCAG 2.0. Em 1999, o governo
de Portugal define diretrizes de acessibilidade e a iniciativa é ampliada a 15 países
da União Europeia. Desde então, diversas
outras nações desenvolvem leis e modelos
próprios às suas realidades.
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
31
No cenário brasileiro, a primeira iniciativa legal para promoção da acessibilidade web surgiu com o Decreto 5.296/04,
de 2004. O documento determina procedimentos, em páginas governamentais, para
facilitação do acesso de usuários com deficiência visual e estabelece o prazo de 12
meses, prorrogável por igual período, para
a adequação. Como o Decreto não apresenta orientações para implementação, a
segunda iniciativa brasileira foi a criação
do Modelo de Acessibilidade do Governo
Eletrônico (e-MAG).
A primeira e a segunda versões da
proposta remontam a 2005. Para avaliar a
acessibilidade, o e-MAG recomenda a verificação do website com as diretrizes, por
meio do uso de validadores automáticos
e de testes realizados por usuários com
deficiência. Em maio de 2007, assim institucionalizado o e-MAG, determinou-se a
adoção do Modelo em todos os websites
da administração pública federal direta, indireta, autárquica e fundacional. Em 2011,
saiu a terceira versão do mecanismo, com
significativas diferenças.
Semânticas
Com base nas referidas diretrizes, a
equipe do projeto “Web semântica e acessibilidade” percebeu que, com a rapidez das novidades tecnológicas, seria necessário criar
um manual semanticamente correto para a
internet, capaz de contemplar outros tipos de
deficiências, já que a legislação brasileira determina a acessibilidade de websites apenas
para pessoas com problemas visuais.
Teresinha Magalhães ressalta que se
costuma pensar em acessibilidade como
uma via de mão única, como se as pessoas fossem apenas receptoras. Segundo
a coordenadora das pesquisas, porém,
isso está longe da verdade, especialmente
no caso da web. Quanto mais pessoas puderem acessar, mais contribuições haverá,
tanto para a internet quanto para a sociedade. “Não significa que se deva gastar
mais dinheiro. Basta ter maior cuidado na
criação, pois os sistemas web precisam ser
construídos com base nos diversos tipos
de usuários”, acrescenta.
Para compreender como isso funciona, o estudante Igor Campos Moraes,
32
bolsista do projeto, explica que o conteúdo de um site é escrito a partir do uso de
tags, os comandos da linguagem HTML,
que têm funções gerais ou específicas:
a tag semântica chamada <header>, por
exemplo, cria um bloco de conteúdo para
cabeçalhos; já a <div>, sem valor semântico, é responsável por blocos de conteúdo
ligados a qualquer coisa.
É muito mais fácil fazer um site sem
semântica, pois o desenvolvedor web não precisaria conhecer várias tags. Porém, ressalta o
estudante: “Isso dificultaria o acesso à informação on-line para usuários, pois os motores
de busca, como o Google, trabalham com um
algoritmo que identifica, na web, quais sites
possuem as palavras-chaves desejadas dentro
das tags com valor semântico”.
A semântica possibilita, ainda, a adaptação do site a usuários com algum tipo de
necessidade específica, como as pessoas com deficiência visual, que recorrem
aos softwares leitores de tela para traduzir as
informações ao meio auditivo. Por meio das
tags semânticas, os softwares identificam se
uma frase é um título ou um novo parágrafo,
facilitando o acesso ao conteúdo. Além disso, conforme explica Igor
Campos, o Google usa o algoritmo PageRank para medir a importância de um site
em meio a todos os outros. Para isso, o
buscador analisa quantos links externos
apontam para a página e decide, assim, a
posição de cada site na revelação de resultados. “A ‘web semântica’ garante que
o Google apresente a página no resultado
de buscas referentes ao assunto e a ‘acessibilidade web’ possibilita o acesso ao site
de maneira universal”, afirma Igor Moraes. Para desenvolvimento de um site
acessível, destinado aos diferentes tipos de
deficiências, o investimento fica em torno
R$ 8 mil. Diante do orçamento, muitos interessados revelam, à consultora, uma visão
estigmatizada do trabalho. “Por se tratar
de acessibilidade, as empresas costumam
pensar em assistencialismo e esperam que
o serviço que prestamos seja gratuito”, diz.
Quanto às leis que buscam regulamentar a acessibilidade na web, Lêda
Spelta revela-se cética e objetiva: “A questão só será levada a sério quando houver
criminalização. A sociedade ainda não tem
consciência da agressão aos direitos da
pessoa com deficiência, que, apesar de ser
um cidadão que paga os mesmos impostos, não tem direitos assegurados”. O verbo-chave para a questão da
acessibilidade na web parece ser horizontalizar. “O Brasil ainda está imerso na hierarquização do ser humano, segundo a qual
algumas pessoas valem e podem mais do
que outras”, reforça Alex Garcia. Justamente
por isso, segundo Teresinha Magalhães, um
dos principais desafios do Brasil está na capacitação de pessoas, de desenvolvedores
de sistemas a usuários. Afinal, conforme
preconizava Tim Berners-Lee: “O poder da
web está em sua universalidade. O acesso
por todas as pessoas, não obstante a sua
deficiência, é um aspecto essencial”.
Serviço especializado
Há empresas especializadas em
criar sites acessíveis a pessoas com deficiência. Uma das vencedoras da segunda
edição do Prêmio Nacional de Acessibilidade, produzido pela W3C, em 2013,
foi Lêda Spelta, consultora da Digital
Acesso, que presta serviços de desenvolvimento, capacitação e consultoria sobre
acessibilidade na web. Além disso, ela é
psicóloga, analista de sistemas e uma das
primeiras programadoras cegas a trabalhar no Rio de Janeiro.
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
Participação da FAPEMIG
Projeto: Web semântica e acessibilidade
Coordenadora: Teresinha Magalhães
Instituição: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (campus
São João del-Rei)
Chamada: Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação Científica (Probic)
Valor: R$ 4.400,00
Análise revela alta concentração de metais
pesados em bijuterias de baixo custo
Alessandra Ribeiro
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
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Química
Bonitinhas,
mas ordinárias
Quando se compra uma joia, a matéria-prima pode ter, literalmente, peso de
ouro, seja pela beleza, pelo preço ou por outros fatores subjetivos. Mas, e se o objeto de
aquisição for uma bijuteria? Você costuma
se preocupar com o material de que ela é
feita? Apesar de parecer inofensivo, aqueles
acessórios bonitos e baratos podem, muito
bem, oferecer sérios riscos à saúde.
A análise de 16 amostras de bijuterias, realizada pelo Núcleo de Pesquisas
em Instrumentação e Separações Analíticas
da Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF), revelou que 33% apresentavam
concentrações de cádmio e chumbo acima dos limites permitidos pela legislação
brasileira. Os dois metais são tóxicos e a
exposição a eles pode causar problemas
neurológicos, danos aos rins e, até mesmo, surgimento de câncer.
“Consideramos esse resultado preocupante, até porque as quantidades observadas foram muito acima do permitido, o
que pode colocar em risco as pessoas que
usam essas peças diariamente”, alerta Taimara Polidoro Ferreira, autora do estudo,
descrito em sua dissertação de mestrado.
Financiado pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), o trabalho foi orientado e coorientado, respectivamente, pelos professores
Denise Lowinsohn e Rafael Arromba de
Sousa, ambos do Departamento de Química da UFJF.
Parte das amostras foi adquirida no
comércio de Juiz de Fora, de forma aleatória, em diferentes estabelecimentos, ao
preço máximo de R$ 5. A pesquisadora
também analisou bijuterias apreendidas na
cidade pela Polícia Civil, que cedeu peças
para a pesquisa. “Os materiais geralmente
usados como matérias-primas provêm de
sucata, de lixo eletrônico (placas de circuitos etc.), soldas e baterias, que contêm,
naturalmente, os metais pesados avaliados
no projeto”, descreve Taimara.
Afora os riscos para a saúde, o uso
de substâncias tóxicas na confecção de
bijuterias acarreta a contaminação do meio
ambiente: ainda não existe preocupação
com o descarte adequado de tais objetos,
34
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
a exemplo do que já é feito com os remédios, em várias farmácias. “Peças recolhidas poderiam ser encaminhadas a aterros
apropriados ou a processos de reciclagem,
em que parte dos metais seria aproveitada
com outros fins”, sugere.
Metodologia
Na fase inicial da pesquisa, análises
por Fluorescência de Raios-X (FRX) mostraram informações preliminares da composição das amostras, como a presença
de metais pesados. Posteriormente, utilizou-se a Voltametria de Pulso Diferencial
(VPD), apontada como um dos diferenciais
do trabalho. Segundo a pesquisadora, não
há registro, na literatura, de uso da técnica
para materiais semelhantes. Os resultados
foram confirmados por meio da Espectrometria de Absorção Atômica com Chama
(FAAS), amplamente empregada em tal
tipo de análise.
“As técnicas eletroanalíticas [a exemplo da VPD] apresentam as vantagens de
determinar baixas concentrações de metais, além de permitir sua determinação
simultânea e, ainda, ter baixo custo, se
comparadas a técnicas espectrométricas”,
compara Taimara Polidoro. Além disso,
testaram-se dois tipos de “digestão” das
amostras: o modelo em chapa de aquecimento e o equipamento de micro-ondas,
que se mostrou mais adequado.
Novas regras
Em janeiro de 2016, o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecno-
Certas pessoas também
podem apresentar alergias na
pele, as chamadas dermatites de
contato ou eczemas. Trata-se de
processos inflamatórios induzidos pela exposição a um agente
sensibilizante externo. Os principais causadores do problema,
devido ao contato frequente com
o organismo, são metais como
alumínio, ouro, cobalto, cromo,
cobre e níquel.
logia (Inmetro) publicou, no Diário Oficial
da União, a portaria que estabelece limites
para o cádmio e o chumbo na fabricação
de bijuterias e joias comercializadas no
Brasil. No mercado nacional, a concentração dos metais em produtos não pode ser
igual ou superior, em peso, a 0,01% e a
0,03%, respectivamente.
Nas amostras analisadas na UFJF,
identificaram-se concentrações de até 4%
para o cádmio e de 7,55% para o chumbo.
“Um ponto importante da pesquisa é o fato
de o método eletroquímico empregado revelar-se sensível o suficiente para identificação
das bijuterias fora da especificação do Inmetro”, destaca o professor Rafael Arromba.
As regras abrangem bijuterias e
joias de uso adulto ou infantil, contas e
componentes metálicos para fabricação
de peças de joalheria, acessórios para o
cabelo, piercings, relógios de pulso e outros adornos. Fabricantes, comerciantes
e importadores têm 36 meses, a partir da
publicação da portaria, para se adequar às
exigências. Após tal prazo, estarão sujeitos
às penalidades previstas na lei, com multas
que podem chegar a R$ 500 mil.
As normas foram elaboradas a partir
de consulta pública, e, também, com a participação da Receita Federal e de representantes da indústria do setor. O Inmetro será
o responsável pela fiscalização – sobretudo, nos portos e aeroportos –, para evitar
a entrada de produtos irregulares no País.
Segundo o órgão, pretende-se, assim, proteger o meio ambiente contra metais pesados, resguardar a saúde do consumidor e
incentivar o mercado nacional, prejudicado
com a concorrência desleal dos produtos
de baixa qualidade.
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
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farm ácia
Pílula
mágica?
Uso da Ritalina por
estudantes, com o objetivo de
ampliar a capacidade do cérebro,
é tema de estudos na UFMG
Roberta Nunes
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MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
Existe uma solução para potencializar
o desempenho cerebral? Na ficção, o filme
americano Sem limite, dirigido por Neil
Burger, mostra o personagem Eddie Morra,
encenado por Bradley Cooper, recorrendo a
uma nova droga, capaz de aumentar a inteligência e melhorar a concentração. Eddie
percebe que o cérebro – usado, normalmente, em apenas 20% de seu limite – passa a
ser 100% aproveitado. Além disso, todos
os sentidos parecem ficar mais aguçados.
Na vida real, o cloridato de metilfenidato,
conhecido, comercialmente, como Ritalina,
é um medicamento prescrito para crianças
e adolescentes com transtorno de déficit de
atenção e hiperatividade (TDAH) – apesar
de algumas pessoas utilizarem-no, de forma
indiscriminada, para neuroaprimoramento.
Na internet, a procura pela “pílula
mágica” e as trocas de informações sobre
o medicamento são discutidas abertamente. Dhonatan Queiroz é concurseiro e
mantém um blog pessoal sobre as experiências com a Ritalina. “Achei que poderia
ser a solução dos meus problemas, já que,
na escalada para aprovação em concurso
público, eu ainda estava no início. Fantasiava que a Ritalina iria me tornar um supergênio, além de ultrapassar meus limites
com facilidade e absorver o máximo de
conteúdo possível. Não foi bem isso o que
ocorreu”, afirma.
Ao perceber a prática do uso de estimulantes cognitivos como estratégia para
elevar o desempenho em diferentes tarefas,
a estudante de Farmácia Raissa Cândido,
orientada pelos pesquisadores Edson Perini e Daniela Junqueira, da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), desenvolveu o projeto “Práticas de neuroaprimoramento farmacológico entre estudantes
universitários – o uso do metilfenidato
para a melhoria do desempenho cerebral”,
com apoio da FAPEMIG. A equipe optou por analisar os estudantes universitários da UFMG devido ao
contexto estudantil no qual estão inseridos. A partir dos dados recebidos por meio
de um questionário respondido voluntariamente pelos alunos, percebeu-se que,
dos 378 que responderam, 6% afirmaram
já ter consumido Ritalina para aprimorar o
desempenho. Desses, 60% fizeram uso há
apenas um mês. “Isso mostra que não se
trata de consumo esporádico. A pesquisa
foi realizada em diferentes momentos do
semestre e demonstra indícios de que o
uso da medicação, pelos estudantes, pode
ser frequente”, comenta Daniela. Além disso, observou-se que não se limita a um
único perfil de estudante, mas há maior
prevalência de consumo e do medicamento
para neuroaprimoramento entre estudantes
com renda familiar mensal superior a 5,1
salários mínimos.
Outro trabalho sobre o tema que
contribui para a compreensão de tal cenário é um estudo transversal, realizado
em Belo Horizonte, sob coordenação dos
professores Edson e Daniela. Trata-se do
projeto “Padrões de prescrição, dispensação e comercialização de metilfenidato”,
publicado pela Revista de Saúde Pública.
Os pesquisadores analisaram dados de
notificações de receitas de metilfenidato
e determinaram a dose diária definida e a
prescrita, o período médio de prescrição e
de dispensação, bem como a distribuição
regional das vendas do medicamento.
Concluiu-se que o consumo aumentou, na capital mineira, em áreas mais
favorecidas economicamente. As informações demonstram, ainda, que tanto a prescrição quanto a dispensação apresentam
características não compatíveis com as
recomendações farmacoterapêuticas e as
determinações legais. O estudo indica, por
fim, que o controle de venda do fármaco
deve ser monitorado e as alterações comportamentais, amplamente rediscutidas,
em concordância com os conceitos do uso
de medicamentos com boa qualidade.
Na pesquisa sobre o neuroaprimoramento, observou-se que 27% dos estudantes da amostra adquiriram o medicamento
sem prescrição. A venda é controlada e
há exigência de que a farmácia retenha a
receita médica. Muitos estudantes, no entanto, adquirem a Ritalina na internet ou
por meio do auxílio de colegas. Outro dado
preocupante diz respeito ao desconhecimento e à despreocupação dos usuários
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
37
quanto aos riscos a que estão expostos.
“É preciso considerar que o metilfenidato
apresenta potencial de abuso. Por isso,
merece ainda mais atenção, uma vez que
seu uso indiscriminado pode se transformar em grave problema de saúde pública”,
acrescenta Raissa.
Efeitos
Dhonatan conseguiu o remédio com
uma amiga, que com ele dividiu caixas de
Ritalina de 10 miligramas. “Notei grande
aumento em minha capacidade de concentração e, também, de aprendizado. Percebi
maior disposição e ausência de sono. No
início, como efeito colateral, tive dor de
cabeça, agitação fora do comum e leve
fadiga. Nos primeiros dias, também senti
mal-estar”, conclui. O jovem iniciou o uso
em fevereiro de 2016. Por isso, ainda não
há como mencionar os efeitos do medicamento em longo prazo.
Além disso, não existem pesquisas
que, hoje, mensurem os efeitos do medicamento para o neuroaprimoramento.
“Sabe-se que o uso do metilfenidato para as
indicações aprovadas, como o tratamento
do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), está associado a efeitos
prejudiciais, ou danosos, como infarto,
morte súbita, insônia e nervosismo, principalmente. A ingestão contínua, descontrolada e sem justificativa terapêutica pode estar
associada a efeitos prejudiciais adicionais e
desconhecidos atualmente”, afirma Daniela
Junqueira. Na literatura científica, encontram-se evidências de que as implicações
da Ritalina envolvem as mesmas regiões do
cérebro relacionadas aos mecanismos de
dependência química. Há indução de níveis
de dopamina no sistema límbico semelhantes àqueles observados em consequência
do uso de drogas de abuso.
Outro olhar
O metilfenidato é um psicoestimulante aprovado para o tratamento do TDAH,
sendo avaliado como a primeira escolha
terapêutica. Ainda assim, há divergência
quanto ao uso do medicamento. O professor e psiquiatra Arthur Kummer, da
UFMG, é um dos que acreditam na eficácia
e no benefício do medicamento. Para ele,
38
o metilfenidato é um fármaco de primeira
linha contra o TDAH, sendo que a maioria dos pacientes tolera bem a medicação,
que altera o organismo para ampliação da
eficiência do cérebro. “Trata-se de remédio
seguro, que apresenta até 80% de eficácia”, destaca.
Na visão de pesquisador, perguntar
se o metilfenidato contribui ou prejudica
quem não está doente, mas quer usá-lo
com o objetivo de neuroaprimoramento, seria o mesmo que questionar sobre
a eficiência de um antidepressivo para
quem não está deprimido. “Quanto maior o
quadro do TDAH, maior a margem de melhoria com o medicamento. Para quem tem
quadros mais leves, a eficácia será menor.
Para aqueles sem o transtorno, evidências
demostram melhoramento cognitivo, mas
pequeno e não milagroso”, conclui.
Na perspectiva da pesquisadora Daniela Junqueira, é preciso ter atenção com
os efeitos nos pacientes com o transtorno. “Crianças e adolescentes usando
metilfenidato para tratar TDAH têm 60%
mais chances de apresentar insônia e
266% de haver diminuição no apetite.
São efeitos adversos do medicamento que
podem prejudicar a qualidade de vida e,
até mesmo, a capacidade de aprendizado
do indivíduo”, enfatiza.
Para ela, em cada caso a ser tratado,
é preciso avaliar se os potenciais benefícios
realmente irão superar os danos. A pesquisadora enfatiza que revisões sistemáticas
recentes não demonstram resultados tão
acentuados no aprendizado. “Alguns efeitos
adversos concorrem com os benéficos, pois
uma criança ou adolescente com dificuldades para dormir, e sem se alimentar adequadamente, terá dificuldades na escola e nos
relacionamentos”, diz.
Desse modo, o aumento da concentração perde sentido, se comparado aos
efeitos prejudiciais – como nervosismo,
insônia, dor de cabeça, agitação fora do comum e fadiga. Em relação ao uso para neuroaprimoramento, a pesquisadora pergunta:
“Como aumentar a capacidade cognitiva
convivendo com tantos efeitos adversos?”.
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
PARTICIPAÇÃO DA FAPEMIG
Projeto: Práticas de neuroaprimoramento farmacológico entre estudantes
universitários – o uso do metilfenidato para a melhoria do desempenho
cerebral
Coordenadores: Edson Perini e
Daniela Rezende Garcia Junqueira
Instituição: Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG)
Chamada: Demanda Universal
Valor: R$ 14.028,00
Combate à dengue
Uma doença
sobre os
brasileiros
Pesquisas agem em diversas frentes
para compreender e evitar a proliferação
da dengue – e, mais recentemente, da
chikungunya e do zika vírus
Téo Scalioni
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
39
Com origem no grego clássico, a
palavra “epidemia” provém da conjunção
entre os termos “epi” (sobre) e “demos”
(povo). Atualmente, no Brasil, não se
pode negar que a dengue e outras doenças
transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti,
como chikungunya e zika vírus, estejam
literalmente “sobre o povo”, em uma das
piores epidemias já vivenciadas no País.
Segundo o Ministério da Saúde, o
Brasil fechou 2015 com cerca de 1,5 milhão
de casos de dengue. Em 2016, os números
são ainda piores, se comparados ao mesmo
período do ano anterior, com aumento de
48%. Em Minas Gerais, balanço divulgado
pela Secretaria de Estado da Saúde, no dia
22 de março, mostrou que os casos prováveis da doença, neste ano, já chegaram a
217 mil – contra 196 mil em 2015.
Diante de tais números, o “problema
dengue” se apresenta como desafio aos
pesquisadores, que se dedicam ao estudo
das doenças sob vários aspectos: procura de vacina, investigação dos hábitos do
mosquito transmissor, ou, até mesmo,
análise da educação das pessoas, no que
se refere a hábitos contra a propagação
das larvas do Aedes aegypti. Trata-se de
pesquisas, realizadas em todo o Brasil,
que interagem na busca pela minimização
do problema.
Em Minas, uma das pesquisas mais
relevantes tem sido realizada pelo Instituto
Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) –
Dengue, sediado na Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG) e coordenado
pelo professor Mauro Martins Teixeira.
Iniciado em 2009, e cofinanciado pela
FAPEMIG e pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPQ), o projeto busca estudar a doença
por meio de diversas frentes de trabalho.
Além disso, expandiu-se, recentemente,
aos estudos da chikungunya e da zika.
Na pesquisa, há cinco linhas de estudo. A primeira diz respeito ao mosquito.
Pretende-se saber, em suma, o que pode
ser feito para controlar a proliferação do
Aedes aegypti. A segunda se refere ao próprio vírus: que tipos têm circulado? Quais
as características de cada um e como inte-
40
ragem? Quanto à terceira frente de trabalho, investiga-se a patogênese. Busca-se
conhecer, pois, os motivos do adoecimento e
os porquês de, em algumas pessoas, a doença revelar-se branda e, em outras, mais grave.
A quarta linha está ligada a um estudo
educacional, que investiga, por exemplo, as
melhores maneiras de comunicar questões
sobre a enfermidade. Finalmente, por meio
do projeto “Observatório da dengue”, almeja-se compreender o que tem acontecido na
web, de maneira a usar esse conhecimento
para tentar monitorar a doença.
De acordo com Mauro Teixeira, desde a década de 1990, o Brasil enfrenta uma
epidemia cíclica de dengue, com picos em
determinadas épocas. Nos últimos quatro
anos, porém, os números têm se mantido
altos. “Hoje, a doença atinge mais de um
milhão de pessoas. O mosquito está aqui
todos os anos, mas, dessa vez, há, também, a chikungunya e o zika”, ressalta o
pesquisador, ao salientar que já se sabia
da chegada do primeiro ao Brasil, pois há
tempos está presente na América Central.
Quanto ao zika vírus, talvez tenha entrado
no País à época da Copa do Mundo. “Onde
há mosquito e gente, a infecção aparece.
O que não se esperava, principalmente em
relação ao zika, é o efeito colateral, principalmente, ligado à microcefalia”, afirma.
Vacina próxima?
O que muito tem se divulgado em relação à dengue é que uma possível vacina
está próxima de ser desenvolvida. De acordo
com Mauro Teixeira, há, realmente, pesquisas realizadas nesse caminho – inclusive, no
Brasil. Contudo, segundo o pesquisador, está
cedo para falar de solução para o problema.
“Já existe uma vacina com efeito protetor. Há
outra sendo testada pelo Instituto Butantan.
Trata-se, porém, de testes”, esclarece.
Quanto à ansiedade das pessoas em
relação à pesquisa, desejosas por resultados finais, Teixeira explica que se trata de
um processo com avanços lentos, principalmente, na área biológica. “Medicamentos chegam às prateleiras em torno de 15 a
20 anos, e a custos de bilhões de dólares.
É irreal achar que, com poucos milhões
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
de reais, será possível conseguir algo”,
lamenta, ao reforçar a importância da vacina como opção, à maneira do que ocorreu
com a febre amarela.
Em relação às pesquisas relacionadas à prevenção, há projetos que visam atingir diretamente o vetor, ou seja,
o mosquito. Na própria UFMG, existem
pesquisas que procuram desenvolver moléculas ou substâncias por meio de cores
e odores que atraiam o inseto, para que,
assim, ele possa ser atraído a uma armadilha. “Trata-se de formas de monitorá-lo,
pois, ao entender melhor o mosquito, podemos buscar soluções”, reforça.
Teixeira acredita ser necessária a
criação de novas alternativas para minimizar o aumento das doenças relacionadas ao
Aedes aegypti. “Não vai adiantar o exército
ir para a rua. O ‘fumacê’, da forma como
hoje é aplicado, ao atingir apenas 20% das
residências, não adianta. É preciso investir
em novas tecnologias e pesquisas, pois o
que existe não funciona”, garante.
Núcleos de INCT em todo o Brasil – e
fora dele – têm trabalhado, conjuntamente,
para combater a dengue. Segundo Teixeira,
não há pesquisa que não seja colaborativa, e que chegue a um resultado sem interação entre pesquisadores. “Pode haver
divergência, o que é saudável, mas existe
colaboração mútua”, orgulha-se.
Para o pesquisador, é preciso mudar
completamente o direcionamento das campanhas atuais, que visam a “acabar com o
mosquito”. Segundo ele, trata-se de um
discurso “absurdo”, pois não parece nada
razoável acabar com um inseto tão bem
adaptado à vida urbana e que consegue se
multiplicar em pequenas quantidades de
água, em um mundo com muito lixo e pobreza. “Em Cingapura, local com alto índice de desenvolvimento, caso sejam encontrados focos da doença, o responsável pelo
imóvel pode ser até preso. Mesmo assim,
não se conseguiu acabar com o mosquito”,
conta Mauro Teixeira
O desafio é saber como lidar com o
mosquito. Hoje, sabe-se avaliar o problema de forma bem mais clara – até mesmo
no que diz respeito à chikungunya e ao zika.
“No entanto, falta investimento em pesquisa no Brasil. Os recursos são pequenos e
os estudos se desenvolvem em curto espaço de tempo. Não temos capacidade de
planejar em longo prazo”, desabafa.
Alta tecnologia
A empresa mineira Communitor
apresentou sua contribuição ao combate
do Aedes aegypti. Trata-se de plataforma
baseada em sistemas de informação, que
busca a automação de todo o processo
de monitoramento das populações dos
mosquitos por meio de armadilhas denominadas ovitrampas. O equipamento
permite o cadastro e o gerenciamento dos
dados geográficos de posicionamento
das ovitrampas, para contagem dos ovos
recolhidos, o que é feito por meio de algoritmos de visão computacional, e para
a geração de mapas e relatórios sobre a
situação populacional do inseto.
A solução garante precisão e rapidez
de informações sobre os níveis de infestação do vetor, em razão do georreferenciamento das armadilhas, da contagem
automática dos ovos por visão computacional e do cruzamento e da apresentação
dos resultados de modo gráfico. “A plataforma permite melhor embasamento da
tomada de decisão dos gestores públicos
e privados acerca das ações de combate e
controle do vetor. Visa, em conjunto aos
esforços tradicionalmente encarregadosde vigilância, a aumentar a efetividade
da ação”, garante Helena Gomes, diretora
executiva da empresa.
A partir de resultados georreferenciados e análises numéricas, os gestores
públicos e privados serão capazes de
avaliar as ações de combate ao vetor, o
desempenho das equipes de vigilância sanitária e epidemiológica e a eficácia do uso
de controles químicos e biológicos. Além
disso, poderão melhorar o planejamento
do tipo de ação ou campanha a ser empreendida, tais como mutirões de limpeza,
fornecimento de materiais para proteção
ou vedação de depósitos e direcionamento
das equipes de saúde comunitária e de assistência básica. Participação da FAPEMIG
Projeto: Instituto Nacional de
Pesquisa em Dengue
Coordenador: Mauro Martins
Teixeira
Instituição: Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG)
Chamada: Apoio para projetos de
pesquisa
Valor: R$ 2.289.972,12
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
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Energia
Bons ventos virão
Com simulações e modelos atmosféricos, pesquisa da UFSJ avalia
potencial brasileiro e orienta instalação de parques eólicos
Verônica Soares
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MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
Segundo o Atlas do Potencial Eólico Brasileiro, a região
mais propícia à geração eólica, no
Brasil, é o Nordeste, com potencial
de 75 GW. Em seguida, estão o Sudeste, com potencial da ordem de
29,7 GW, e o Sul (22,8 GW).
Em 2015, o Brasil atingiu produção
recorde de energia eólica, ao gerar, em apenas um dia, 2.989,2 megawatts médios pela
força dos ventos – o suficiente para abastecer 13 milhões de pessoas. Prevê-se que
as fontes renováveis, na matriz energética
brasileira, possam chegar a 84% até 2023.
Tais dados, reveladores de um cenário favorável aos estudos das fontes de
energia eólica no País, mobilizaram pesquisadores da Universidade Federal de
São João del-Rei (UFSJ) a avaliar tal potencialidade em diversas regiões. À frente
do projeto “Reavaliação de potenciais eólicos regionais do Brasil” está o professor
Cláudio de Castro Pellegrini, do Departamento de Ciências Térmicas e dos Fluídos
da UFSJ. Seus objetivos concentram-se na
investigação da capacidade eólica regional, por meio da simulação em microcomputadores de alto desempenho.
“Inicialmente, as simulações restringiam-se a Minas Gerais, mas, com o
tempo, foram expandidas a estados como
Alagoas e Ceará”, explica. O projeto também prevê a identificação dos locais mais
propícios à instalação de parques eólicos
na região estudada, a fim de otimizar a
geração de energia. Outro objetivo é estabelecer uma metodologia livre para a
realização das simulações, uma vez que
diversos Atlas Eólicos, hoje disponíveis,
apresentam procedimentos fechados.
“Existem duas maneiras de avaliar
o potencial eólico de uma região: por observação direta ou via simulação”, detalha
o pesquisador. A observação direta consiste na instalação de torres anemométricas,
para coleta e posterior análise dos dados.
Recomendam-se, ao menos, três anos de
duração para tais séries de dados, apesar
de autores mais conservadores sugerirem
séries de 30 anos. “Levantar o potencial de
um país de dimensões continentais como o
Brasil por meio de dados anemométricos é
inviável no curto prazo, devido aos custos
das torres, da instrumentação, da manutenção e, claro, do tempo necessário para
medições mais representativas”, pondera.
Devido às dificuldades apontadas,
as simulações numéricas apresentam-se
como importante ferramenta para o levantamento do potencial eólico. Durante o
processo de estudo, são usados programas
de computador, denominados modelos atmosféricos, para simular a dinâmica da atmosfera, já que as máquinas reproduzem,
de forma confiável, o seu comportamento.
Cláudio Pellegrini relembra que, há pouco
mais de uma década, os programas só podiam ser implementados em computadores
de grande porte. Com o recente aumento
da capacidade de processamento e armazenamento, tornou-se possível empregar
microcomputadores de alto desempenho
– em geral, produzidos para o mercado
dos games –, na simulação de problemas
regionais e/ou específicos. Hoje, existem
Atlas do Potencial Eólico feitos por simulação para vários estados brasileiros, além
de um Atlas do Potencial Eólico Brasileiro.
Expansão
Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em 2015,
o Brasil tinha 269 usinas com capacidade
instalada de 6,6 GW (4,5 % do total), mas
o valor tem crescido rapidamente com novas instalações. A Associação Brasileira de
Energia Eólica conta, em 2016, com 360
centrais e 8,98 GW, caracterizando a eólica
como a energia que mais se expande no
País, em termos proporcionais. Foram os
resultados obtidos por simulação nos últimos anos que colaboraram para guiar a
implantação dos parques eólicos em estados do Nordeste e do Sul.
Cláudio Pellegrini, aliás, vê outros
espaços aptos à expansão. “Atualmente, a maior parte dos parques instalados
encontram-se no Rio Grande do Sul, em
Santa Catarina, no Ceará e no Rio Grande
do Norte. As simulações indicam outras
regiões com bom potencial, mas ainda
não exploradas, como o oeste do Paraná, o interior de São Paulo, a Região dos
Lagos Fluminense, o Triângulo Mineiro e
o interior da Bahia. Outros locais, como o
oeste do Mato Grosso do Sul, mostram
Rio Grande do Sul, Paraná,
Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Alagoas, Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte.
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
43
bom potencial, mas se encontram distantes dos grandes centros consumidores”,
avalia o pesquisador.
Embora os dados da pesquisa pareçam demonstrar que o cenário brasileiro é
promissor, Cláudio Pellegrini pondera que
o País está engatinhando no que tange à
energia eólica. No ver do pesquisador, melhorar a situação depende de uma série de
ações encadeadas, a começar por decisões
governamentais ligadas ao investimento em
pesquisa e ao incentivo à indústria nacional
de fabricação de equipamentos do setor.
O processo teria continuidade com a
adoção de políticas públicas de incentivo
à incorporação da energia eólica na matriz
nacional de geração e terminaria com a
fiscalização da quantidade e da qualidade
da energia produzida e entregue ao consumidor. “Em resumo, a cadeia produtiva depende de um estímulo governamental, com
ênfase na geração de conhecimento para
evitar a dependência científico-tecnológica
em relação a outros países”, observa.
O Brasil, portanto, está em franco desenvolvimento no setor, mas ainda
atrasado em relação aos demais. “Penso que o elo fraco na cadeia seja a falta
quase total de fabricantes nacionais de
equipamentos. Pouco nos adianta saber
identificar o potencial eólico e especificar
turbinas, mas continuarmos dependentes
de fornecedores estrangeiros para compra
e manutenção”, diz Pellegrini, ao ressaltar,
ainda, que, nos últimos anos, há “um triste
distanciamento entre os geradores de conhecimento e os tomadores de decisão,
resultando, geralmente, em desperdício de
recursos financeiros e materiais”.
No cenário mineiro, a Companhia
Energética de Minas Gerais (Cemig) foi a
primeira concessionária brasileira a instalar uma usina eólica conectada ao sistema
elétrico nacional, em 1994, na cidade de
Gouveia, com 4 turbinas e potência total
de 1 MW. O pioneirismo, no entanto, parou
por aí. Hoje, a central se encontra fora de
linha e nenhuma outra foi instalada. “Não
vejo, contudo, maiores desafios. Parece
apenas falta de disposição para investir
nesse tipo de energia no Estado”, avalia
Pellegrini, ao reforçar a existência de enorme espaço para o desenvolvimento científico na área também em solo mineiro.
No que tange à continuidade da
pesquisa, o professor argumenta que o investimento mais importante no momento
refere-se à coleta e à disponibilização de
dados de boa qualidade para a comunidade científica. “Acredito, também, que o desenvolvimento dos modelos atmosféricos
precisa de impulso, mas essa atividade
depende da anterior”, comenta, ao ressaltar projetos pessoais: “Devo permanecer
mais alguns anos no estudo de potenciais
regionais. Recentemente, comecei a trabalhar com o acoplamento eólico-hidroelétrico e resultados interessantes foram
obtidos e publicados. Além de colaborar
com colegas da Universidade Federal de
Itajubá (Unifei), tenho buscado soluções
analíticas em turbinas eólicas”, conclui.
PARTICIPAÇÃO DA FAPEMIG
Projeto: Reavaliação do potencial
eólico do Estado de Minas Gerais Fase II
Coordenador: Claudio de Castro
Pellegrini
Instituição: Universidade Federal de
São João del-Rei
Chamada: Programa Institucional de
bolsas de Iniciação Científica (PIBIC)
/ FAPEMIG
Valor: R$ 3.600,00
projeto: Influência da resolução
horizontal na simulação do potencial
eólico de Minas Gerais usando o WRF
Coordenador: Claudio de Castro
Pellegrini
Instituição: Universidade Federal de
São João del-Rei
Chamada: Programa Institucional de
bolsas de Iniciação Científica - PIBIC
/ FAPEMIG / UFSJ
Valor: R$ 4.320,00
44
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
Professor titular do Departamento de
Física da UFMG, Ado Jorio Vasconcelos
foi considerado, em 2015, um dos
pesquisadores mais influentes do mundo
Marina Mendes
Vida de cientista
Das pecinhas
de sucata à
nanociência
Se fosse possível voltar a “fita” do
tempo, encontraríamos o menino Ado Jorio Vasconcelos a desmanchar aparelhos
antigos e a derreter as peças nas panelas
de sua casa. O interesse pelos materiais,
afinal, já se revelava em experiências cotidianas da infância. Apesar disso, na
formação do hoje físico – e professor da
Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) –, a influência familiar se deu
mais pelo estímulo à busca de conhecimento do que, propriamente, pela trajetória
dos pais. “Meu pai era economista e minha
mãe se formou em História. Como os dois
estavam ligados às Ciências Sociais, lá em
casa havia muita, muita leitura”, conta.
Por meio do histórico escolar, é possível identificar um bom aluno nas disciplinas gerais, mas o gosto pelas “exatas”
conduziu o estudante à Engenharia Elétrica. O primeiro vestibular foi na UFMG,
onde fez os seis primeiros períodos do curso. “O ciclo básico da Engenharia era muito parecido com o da Física. Além disso,
o trabalho de iniciação científica do qual
participei colaborou para que eu fizesse a
transferência de graduação”, lembra.
Nascido na capital mineira, o físico
passou o início da infância em Sabará
(MG); já na adolescência, estava em Itabirito, na Região Metropolitana de Belo
Horizonte. Ado Jorio também morou na
França – enquanto fazia a especialização
e o doutorado sanduíche – e nos Estados
Unidos, no início dos anos 2000, para
realização do pós-doutorado no famoso
Massachusetts Institute of Technology
(MIT). Em tal período, começou as pesquisas com nanociência e nanotecnologia. “Hoje, trabalho com espectroscopia
Raman usando óptica, a luz para estudar
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
45
Diogo Brito/FAPEMIG
propriedade de matérias e desenvolver
métodos de diagnósticos que poderão ser
usados em nano, de modo a possibilitar
aplicações em áreas variadas, dos novos
materiais à Medicina”, resume.
Reconhecimento
O trabalho de Ado foi reconhecido
internacionalmente. Ele está, por exemplo, entre os cientistas mais influentes do
mundo, segundo a editora norte-americana
Thomson Reuters, que monitora a produtividade mundial de pesquisadores nas
áreas de ciência e inovação. O mineiro faz
parte de um ranking composto pelos 3.126
pesquisadores cujas produções científicas
mais causaram impacto entre 2003 e 2013.
Os nomes foram escolhidos após levantamento dos artigos mais citados em 21
áreas do conhecimento.
No processo de análise, cerca de nove
milhões de pesquisadores passaram pela
peneira dos especialistas em Bibliometria,
que avaliaram mais de 120 mil papers em
cada área do estudo, de modo a formar a lista, também composta por outros três cientistas que atuam no Brasil: Paulo Artaxo, da
Universidade de São Paulo (USP), Álvaro
Avezum, do Instituto de Cardiologia Dante
Pazzanese, e Adriano Nunes-Nesi, da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Sobre a lista, duas coisas chamam
a atenção do pesquisador: “A primeira diz
respeito à importância de integrá-la, pois
ela não se liga a questões políticas ou de
relacionamento, mas, sim, às métricas da
produção científica, que mostram o impacto real de nosso trabalho. A segunda
questão é a responsabilidade, transferida
ao pesquisador, de dizer algo sobre a importância da ciência e seu valor. Seguimos
trabalhando: ontem, eram dois; agora, são
quatro; depois, serão 40”, comemora.
Caminhos da ciência
Pesquisas ligadas à Biomedicina e à
física de materiais são as mais citadas na
lista da Thomson Reuters. Ado Jorio atua
em ambas. Para aprimorar conhecimento,
foi necessário, segundo o pesquisador,
buscar suporte fora do Brasil. Afinal, nos
centros de excelência, ocorre a internacionalização da ciência, pois o corpo técnico
é selecionado por uma “competição” mundial. Já no Brasil, poucos são os pesquisa-
46
dores estrangeiros que chegam, e muitos
os que saem. “Isso sem falar dos equipamentos e insumos oferecidos lá fora. Aqui,
se uma peça quebra, é preciso esperar
meses pela manutenção ou pela reposição,
assim como quando ocorre a necessidade
de uma compra”, ressalta.
Nada, portanto, é tão simples quanto
desmontar um rádio e desmanchar suas
peças no fogão de casa. Ainda assim, o
professor demonstra otimismo com a situação da pesquisa no Brasil. “Vivemos um
momento financeiro difícil, mas avançamos muito nos últimos 20 anos. A ciência
precisa ser estruturada dentro do País, e
isso acontece em décadas. Antes, todos
eram estimulados a fazer mestrado, doutorado e pós-doutorado no exterior. Meus
professores estudaram em outros países.
Já a minha geração não precisou disso,
pois havia instituições que conseguiam
oferecer bons doutorados”, esclarece.
E o que Ado Jorio espera, hoje, da
vida? Dedicar-se ao fortalecimento das
Quem é
instituições brasileiras. “Elas estão fortes,
mas ainda há resquícios de uma ciência,
digamos, importada. Trabalhei no Inmetro
[Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade
e Tecnologia], no Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, e tenho mesclado desenvolvimento científico e ensino. A administração científica está nisso tudo. Espero
colaborar para que o País e suas instituições continuem caminhando”, completa.
De certo modo, pode-se dizer que o
pesquisador já se encontra no futuro – ao
menos, da ciência. Se corrêssemos a tal “fita
do tempo”, é bem provável que nos surpreendêssemos com o resultado prático dos
estudos em que está envolvido. Atualmente,
ele integra um grupo de cientistas que atua
em pesquisas de ponta – ou “quentes”,
como tais estudos têm sido chamados.
Termino a entrevista e lhe agradeço.
Ado Jorio retribui, um pouco apressado,
pois já era hora de organizar o jantar das
filhas, de 11 e 13 anos. Mais uma vez, lá
estava ele... de volta às panelas!
ele?
Professor titular do Departamento de Física do Instituto de Ciências Exatas da
UFMG
Doutor em Física pela UFMG (1999)
Pós-doutor pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Cambridge
(EUA) (2000-2001)
Especialista em óptica para o estudo de nanoestruturas com aplicações em
novos materiais e em Biomedicina
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
Temos uma situação que classifico de
impasses da democracia no Brasil. Por impasse,
entendo uma crise de crescimento e de evolução
da cultura democrática no país. Se, de um lado,
todos os indicadores da prática democrática são
positivos, de outro parece existir um incômodo
em relação à democracia, que não chega a ser
um mal-estar e está relacionado a diversos indicadores: aumento das expectativas da população
em relação ao governo que não se traduziram em
melhor performance ou em piora de indicadores
de mídia em relação ao governo, como ocorre em
todas as democracias do mundo.
Em tempos de tensão política – e de
acalorados confrontos sobre os rumos da
nação –, esta obra de Leonardo Avritzer,
professor do departamento de Ciência
Política da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), pode se revelar bastante
elucidativa. Com base em extensas investigações, o pesquisador busca mostrar
“como o país chegou ao atual momento
de crise de desenvolvimento e de retrocesso da cultura democrática”, por meio
da elucidação de fatores como “a forma
de fazer política; os limites da participação popular; os paradoxos do combate à
corrupção; as consequências de status e
de reordenamento social provocadas pela
queda da desigualdade” e “o novo papel
do Poder Judiciário”.
Em cinco capítulos, Avritzer analisa
questões como “A democracia e os custos
Viagem às
A estrutura da internet tornou possível a
Web como meio. A tecnologia digital, associada a novos equipamentos, como smartphones,
e novos conceitos, como o do Facebook, vem
mudando nosso modo de vida. As noções de
privacidade e equilíbrio editorial encontram-se
em xeque. Quanto à internet, é difícil prever que
tipo de cenário teremos quando atingir a maturidade. Embora tenha levado várias décadas
para que o impacto de inovações como a nova
imprensa tipográfica, o telégrafo e a radiodifusão se tornasse plenamente visível, temos a
possibilidade, agora, de estudar as lições dessas eras anteriores da mídia para construir um
guia para o futuro provável.
pauta
do presidencialismo de coalização” e “Os
limites e a segmentação da participação
social (1990-2013)”. Além disso, apresenta pesquisa específica sobre as manifestações de junho de 2013 e problematiza
a relação entre a democracia, a corrupção
e a classe média. No texto de conclusão, o
professor discute saídas para o tumultuado
impasse político nacional.
Livro: Impasses da democracia no
Brasil
Autor: Leonardo Avritzer
Editora: Civilização Brasileira
Páginas: 155
Ano: 2016
origens da mídia
O título deste livro de Roger Parry, hoje presidente do Conselho do
Shakespare’s Globe Trust e Visiting Fellow
da Universidade de Oxford, remete ao complexo mecanismo evolutivo dos processos
humanos de comunicação midiática – das
eras gráfica (“desenhos, pinturas, placas”)
e oral (“sermões, discursos, teatro”) aos
tempos digitais (“web = multimídia”). Ao
abordar cerca de 3 mil anos de história, o
autor revela o modo como os meios “foram moldados pela interação entre política,
economia e tecnologia”.
Dividido em três partes, Ascensão
da mídia discute “Os elementos básicos
da comunicação”, “A jornada da mídia”
e “Tudo o que veio antes... e mais”. Nesta fascinante viagem, os leitores têm a
oportunidade não apenas de ampliar seu
repertório conceitual acerca das estratégias
comunicativas humanas, mas, também, de
conhecer nuances ligadas ao desenvolvimento, por exemplo, do teatro, dos livros,
dos cartazes, dos sistemas postais, dos jornais e revistas, dos quadrinhos, do cinema,
da TV, dos videogames e, claro, da web.
Livro: A ascensão da mídia – A história
dos meios de comunicação de Gilgamesh ao Google
Autor: Roger Parry
Editora: Campus
Páginas: 398
Ano: 2012
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
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LEITURAS
Democracia em
HI P ER LI N K
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MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
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50
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As imagens ao lado retratam tipos de madeira da Gráfica Ouro Preto e as gavetas para guardá-los, objetos pertencentes ao acervo do tipoeta Guilherme Mansur. As fotografias
integram a pesquisa de Cláudio Santos Rodrigues, que, em sua dissertação de mestrado – orientada pelo professor Sérgio Antônio Silva, junto ao programa de Pós-Graduação
em Design da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) –, investiga o modo como o design, aplicado às tecnologias de rede colaborativa, pode contribuir para a difusão
da memória coletiva da tipografia em território mineiro.
VARAL
Aproximando você
das fontes de financiamento
O Sistema Financiar disponibiliza, para acesso via web, informações sobre fontes
financiadoras para projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P,D&I).
Nossa equipe trabalha na busca e tratamento das informações dos mais diversos
tipos de oportunidades de financiamento para aproximar pesquisadores e gestores
das fontes de recursos para seus projetos, gerando economia de tempo e estímulo ao
aumento das pesquisas.
ESTÍMULO À
PESQUISA
ECONOMIA
DE TEMPO
Informações de editais
concentradas em um só
lugar disponibilizadas
de forma prática e de
fácil análise
DIVERSIDADE
Mais de 22 mil
oportunidades de
financiamento já
divulgadas, em todas
as áreas do
conhecimento
As informações
contidas no Sistema
Financiar levam ao
fortalecimento, estímulo e
diversificação da pesquisa
na instituição
INTERATIVIDADE
Divulgação seletiva e
automática de editais
nacionais e
internacionais de
acordo com as áreas
de interesse dos
usuários
www.financiar.org.br
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2016
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DE CA R A
N OVA
www. fapemig.br
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