Histórias no Avesso
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Histórias no Avesso
Histórias no Avesso FRANCISCO GREGÓRIO FILHO Brasileiros gostam de histórias, contar, ouvir e ilustrar. Há muito desenvolveram o gosto e a fruição pelas narrativas. Em todos os cantos e recantos do País as histórias jorram e se multiplicam. O prazer de inventar, aumentar e compartilhar as “imagens ditas”: vivências, imaginações, sonhos, invencionices, peripécias, gabolices, anedotas, piadas, canções, repentes e muitas outras. Diz-se “Palavras Pronunciadas”. A grande maioria das “Imagens Ditas” vem dos círculos familiares, fruto da convivência em rodas de conversas nas casas e nas ruas das comunidades. Essas vozes ancestrais ressoam até hoje. Os europeus quando aportaram pelas terras brasílis permutaram seus conhecimentos com os povos “índios” sempre por meio de imagens e dos sons de suas narrativas. Apuraram suas escutas e apreenderam muitos dos episódios desenvolvidos nos ritos de passagem que aqui já existiam, praticados nas diversas aldeias e aglomerados humanos. O intercâmbio foi intenso. O aprendizado foi relativamente rápido e as misturas se proliferaram. Agregaram, os dois lados, as maneiras, os trejeitos e as sonoridades das expressões. Inflexões foram amplificadas no vozerio desses ajuntamentos de culturas. Silêncios foram respeitados e perseveram até nossos dias, mesmo com as ruidosas parafernálias eletrônicas. Os olhares se complementam em elaborações de discursos. As imagens geradoras de textos oralizados ganham repercussões na diversidade dos comportamentos e saberes. O corpo fala, a voz repercute, os ritmos distribuem as cadências, suspiros e soluções se entrelaçam. Plataformas de argumentos, expressões e melodias. Encantamentos são gestados com lágrimas, dores e gargalhadas. Alegria de pertencer. Os mitos, os contos e as lendas se entremeavam com as experiências das andanças do dia/tempo. Das aventuras solitárias e/ou coletivas de mulheres e homens na estruturação da sociedade brasileira e/ou sociedades. Acalantos para enternecer foram aprimoradas pelos adultos em suas relações com as crianças. Ternura para fazer dormir e acordar com vida e energia. Nos grupos, a satisfação de convivências “geracional”. Os pensares, os fazeres e os dizeres repassados, e assumidos. Não absolutos, mas flexíveis. Relativização do previsível. O maravilhamento do inusitado e do imprevisível. A ação, a reação, a interação. Enriquecimento do exercício do narrador protagonista. Sou mestiço, caboclo, vermelho. Os negros africanos chegaram escravizados, mas inteligentemente sobreviveram e se libertaram pelas e com as histórias. Contadas e ouvidas. Escutadas. Também trouxeram seus ritos, suas crenças e seus deuses. Fez-se a luz das temperanças das misturas. O sofrimento esclarecendo a dor de todos. A insistência da necessidade da desobediência, da insurreição. Dos cortes, das rupturas. Da condição humana e sua reintegração aos componentes da natureza. Incompletude. A fé. Livres narradores das entranhas complexas, das certezas dos direitos às identidades, brasileiros. Ofícios, as orações e os sentimentos de solidariedade ganham profundidade. Os machucados celebram para além da sina. Há esforços e há dureza para se viver. Há conhecimentos. As geografias, paisagens, o Atlântico, o Pantanal, a Amazônia, os rios, as florestas, contidos no imaginário e nos cotidianos das aventuras de mulheres e homens, na luta por suas existências plenas em um Brasil plural, diverso e profundamente contraditório, conduzem os relatos dos sobreviventes. Convite inexorável la grande oreille - n°65 Brésil para os que estão em outros territórios chegarem em vida para as obras da paz. “Fio da meada”. Histórias de Trancoso. Ouvi muito. Ouço sempre. O livro de Gonçalo Trancoso “História de proveito e exemplo”. Exemplos e proveitos. Autor português muito difundido no Brasil e mais especialmente no norte e nordeste do País, desde da metade do século XVI, ganhou enraizamento na oralidade dos populares e ouvidos das crianças. Daí a expressão “Histórias de Trancoso”. Mas para minha experiência de letramento, o livro em que relacionava o que lia com as histórias contadas por meu avô foi o “Contos da Carochinha” organizado por Alberto Figueiredo Pimentel e publicado pela editora Garnier em 1894. Com distribuição nacional, chega em minhas mãos nos primeiros anos da década 1950 – século XX, em Rio Branco, Acre, terra onde nasci. Bairro da Capoeira. Reunia contos populares trazidos pelos europeus e amplamente divulgados nos quatros cantos das regiões brasileiras. Contos esses inspirados e adaptados dos escritos de Charles Perrault e dos Irmãos Grimm. Parece que é isso. Fato é que muitas dessas histórias “acrescidas” de elementos das culturas vividas pelo povo eram difundidas pelas vozes de nossos avós. Bom, aí surgiram a figura dos folcloristas, pesquisadores das culturas locais tradicionais, que coletaram muitas histórias repassadas nas diferentes regiões e comunidades das aldeias, comunidades quilombolas 1, das cidades, das colônias. Alguns registros dessas coletas foram la grande oreille - n°65 publicados em livros e periódicos e ocuparam as estantes das bibliotecas públicas, privadas e escolares. Cito aqui só poucos como exemplos: Basílio de Magalhães, Sílvio Romero e Câmara Cascudo. Estes e outros estudiosos contribuíram para a difusão das práticas da “Contação de Histórias” entre os urbanos do Brasil. Antropólogos, escritores, poetas, professores, sertanistas, entre outros, fecundaram essas cirandas viajantes das narrativas. Os veículos de comunicação como o rádio e a televisão alargaram esse horizonte. Hoje, as novas tecnologias adentraram nossas vidas com força e insistência e nos trazem um mundo – o mundo – de histórias. Viva o precioso acervo da Biblioteca Amadeu Amaral do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular. Viva o acervo da Biblioteca do Museu do Índio. Viva o acervo da Biblioteca Nacional. Viva o acervo da Casa de Rui Barbosa. Viva as Casas de Leitura espalhadas pelo Brasil e os Contadores de Histórias! A grande maioria dos autores contemporâneos que publicam livros para os jovens leitores – infantil/ juvenil – escreve recontando e/ou com inspiração nos contos populares tradicionais. Uma referência na literatura para os jovens no Brasil, sem dúvida é Monteiro Lobato. Aqui exemplos de só alguns que se tornaram clássicos contando boas histórias: Clarice Lispector, Cecília Meireles, Cora Coralina, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana, Guimarães Rosa, Henriqueta Lisboa, Simões Lopes Neto, Raquel de Queiroz e tantos outros. A partir da segunda metade do século XX com os programas de educação nas escolas revalorizando a leitura e a literatura, e com o processo de universalização da política pública para a educação, novos autores ganharam projeção e os cuidados das editoras com as publicações também registra o nascimento de profissionais brilhantes como ilustradores. Poderíamos citar desde então dezenas desses importantes escritores, ilustradores e editores na ampliação do mercado e das ações de incentivos à leitura. Por passagens de alguns períodos, pequenos grupos repudiaram a ideia da inclusão dos contadores de histórias como um dos agentes fomentadores do interesse das novas gerações pela leitura e a literatura. Porém a grande maioria dos educadores percebeu a grande importância desses narradores como protagonistas no exercício da difusão do livro, leitura e biblioteca. Os artistas, os arte-educadores e ainda os arte-terapeutas engrossaram o grande movimento no país dos grupos de contadores de histórias. Também a compreensão de que a formação de leitores não pode só acontecer na escola, mas sim, na família, no trabalho, nos clubes e centros culturais, nos centros comunitários, etc. “Descolarizar a leitura”, termo bastante discutido, entendido como promover as práticas leitoras para além das escolas, sem deixar de priorizá-las. Podemos registrar que foi a partir da década de 1960 que assistimos, então, aos argumentos dos novos conceitos produzidos por pesquisadores e especialistas estudiosos de que a prática de “ler em voz alta” e “contar história” ajudariam no fomento de novos procedimentos das ações de formação de leitores. Aconteceu então o “boom” da valorização dos narradores: tanto dos contadores populares, quanto também dos artistas apresentando textos autorais. Continua ainda com mais força e presença esses trabalhos artísticos de atores, cantores, poetas, trovadores, circenses, performáticos, dançarinos, instrumentistas, bonequeiros, artistas plásticos, carnavalescos, brincantes de folguedos, professores, locutores, comediantes, brincadores e tantos outros. Proliferam em diversos espaços os grupos e os solistas narradores de histórias. Daí que muita coisa boa vem surgindo cada vez mais. Da enorme quantidade, sempre alguns com qualidade. Minha sorte é ter convivido em infância com avô e avó contadores de histórias. Meu avô com os contos do universo dos chamados “Contos de Fadas” e os contos populares de origem europeia. Minha avó com os mitos, lendas e os contos de origem dos povos indígenas e de origem das culturas vindas da África. Meu avô cerimonioso. Minha avó despudorada. Uma riqueza de narrativas. Daí meu envolvimento com essas práticas de leitura e contação de histórias. Meu repertório e meu acervo se originam daí. Destaco o grande aprendizado que obtive com as leituras da dramaturgia (tragédias, comédias, dramas) e em especial a dramaturgia de escritores que escreviam inspirados nos contos populares. Pela dramaturgia foi que encontrei meu jeito de contar. Bom, passei à “contação”. Contar a ação. A ação dramática estruturada em cada narrativa. Narrando, apresento a história com a dramaticidade contida em seu plano do “enredo” e em seu plano do “discurso”. Meus avós, os contadores das feiras e também um grande mestre que iluminou minha trajetória chamado Fernando Lébeis, me deram um chão. Mas claro que pessoas acadêmicas ainda nortearam essa minha caminhada como contador e oficineiro de grupos de formação de novos narradores. Lembro aqui a professora Eliana Yunes, o poeta Affonso Romano de S'antana e o educador Paulo Freire. Em 1979, num encontro casual com o poeta Carlos Drummond de Andrade, fui aconselhado por ele a ler o filósofo Walter Benjamin, especialmente o texto “O narrador”. Foi então um deslumbramento. Agradeço sempre esse encontro. Leitura fundante. Tenho escrito minhas experiências e reflexões e publicado em periódicos e livros. Também publico minhas histórias preferidas, aquelas que conto muitas vezes. Escrevo como uma “oratura” = oralidade mais escritura. Palavra de meu gosto. As oficinas de formação de contadores de histórias, que realizo até hoje, tiveram inicio em 1991, ministradas por mim com a parceria da professora Eliana Yunes. Atividade que continuei a desenvolver por todos esses anos. Já passaram por elas, durante todo esse tempo, mais de 18.000 pessoas aproximadamente. Uma parcela significativa desse contingente continua a atuar em diversos espaços e regiões do Brasil. De quando em quando sou convidado para a direção de um espetáculo ou apresentação. Tenho viajado, a convite de diferentes grupos, pelo País, tanto as capitais, como cidades do interior. Gosto muito desse convívio com o movimento que tem se multiplicado constantemente. Hoje no Brasil há por volta de 100.000 contadores de histórias que exercem esse oficio, por meio de projetos, apresentações, espetáculos de rua, organizados em associações e ONGS e atuam em diferentes áreas, como educação, saúde, meio ambiente, cultura e turismo. Há muita produção intelectual no País sobre o tema, escrita por atuantes contadores de histórias, oficineiros e promotores de leitura. Textos que me instigam e me atualizam. Eliana Yunes, Regina Machado, Celso Sisto, Cléo Bussatto, Ricardo Azevedo são alguns desses nomes importantes para a área. Acredito que as práticas e as reflexões dos narradores têm acontecido de maneira dialética e descentralizada, com boas questões sempre suscitadas. Riqueza de ideias. Peço consentimento, permissão a vocês, caros leitores, para trazer aqui uma dessas minhas prediletas histórias. É um mito brasileiro, chamado “O nascimento das estrelas” da Cultura Bororo, povo indígena da região central do Brasil. NOTES 1. Na época da escravidão “quilombo” era o nome dado às comunidades escondidas de escravos foragidos. Hoje, com a atualização do conceito, as comunidades quilombolas são grupos étnicos – predominantemente constituídos pela população negra rural ou urbana –, que se autodefinem a partir das relações com a terra, o parentesco, o território, a ancestralidade, as tradições e práticas culturais próprias. Estima-se que em todo o Brasil existam mais de três mil comunidades quilombolas. la grande oreille - n°65 Brésil Nascimento das estrelas á muito tempo na época dos avós de nossos avós, em uma aldeia muito distante as mulheres decidiram preparar aquela comida que só os homens podem comer. Saíram carregando seus vasilhames vazios: bacias, peneiras, gamelas, cuias, potes, mochilas, panelas e baldes. Andaram, andaram, andaram e não encontraram um milharal, nenhuma espiga de milho, sequer um grão de milho. Milho tão necessário para o preparo daquela comida que só os homens podem comer. Então as mulheres reunidas decidiram convidar aquele menino mais peralta, mais travesso, o mais traquino, quem sabe ele não traria sorte. O menino topou. As mulheres e o menino com seus vasilhames vazios, saíram atrás do milho. Milho tão necessário para o preparo daquela comida que só os homens podem comer. As mulheres e o menino encontraram um milharal, encheram suas vasilhas vazias com espigas de milho. E retornaram carregados com as espigas de milho. Milho tão necessário para o preparo daquela comida que só os homens podem comer. Chegaram à cozinha da casa e derramaram as espigas de milho sobre o assoalho. As mulheres debulhavam... as mulheres debulhavam. E o menino com os dedos tentava provar, experimentar aquela comida que só os homens podem comer. As mulheres batiam nos dedos do menino e gritavam: sai menino! As mulheres ralavam, ralavam e ralavam. O menino, com os dedos pelas beiradinhas das panelas, queria provar, experimentar aquela comida que só os homens podem comer. As mulheres batiam nos dedos e nas mãos do menino e ralhavam: sai menino! Sai menino! la grande oreille - n°65 E temperavam, temperavam, temperavam. As mulheres. E o menino raspando as beiras das panelas tentava provar, experimentar aquela comida que só os homens podem comer. As mulheres batiam nos dedos do menino e gritavam: sai menino! Palmadas das mulheres nas mãos do menino cada vez mais fortes. E mexiam, mexiam , mexiam e o menino com os dedos pelas beiradinhas dos panelões, queria provar, experimentar aquela comida que só os homens podem comer. Por fim, uma das mulheres, apertando uma das mãos do menino vociferou: sai menino, que menino só serve para atrapalhar! O menino saiu e foi ter com os colegas. Então menino serve para dar sorte, mas na hora de experimentar aquela comida que só os homens podem comer, menino só serve para atrapalhar. O menino andou, andou, andou e foi ter com os colegas. E os colegas toparam. E os meninos saíram atrás do milho. Milho tão necessário para o preparo daquela comida que só os homens podem comer. E os meninos chegaram a um bambuzal e cortaram as canaletas ocas do bambu e carregaram em suas andanças atrás do milho. Andaram, andaram e encontraram um milharal. Encheram as canaletas ocas de bambu com as espigas de milho. Retornaram carregados de milho e foram direto para a casa da avó. A avó os esperava sentada na porta da cozinha de sua casa, pitando um cachimbo e com um papagaio no ombro. Os meninos derramaram as espigas no assoalho da cozinha, se juntaram bem pertinho da avó e pediram: vó, faz para nós, faz? Faz aquela comida que só os homens podem comer. Faz, vó, faz? A avó pensou, pensou, pensou e respondeu: faço, faço! O papagaio no ombro da avó repetiu: faço, faço! E foram todos para a cozinha. A avó debulhava as espigas do milho. Os meninos debulhavam. A avó ralava as espigas do milho. Os meninos, ralavam, ralavam, ralavam. A avó temperava o milho. Os meninos temperavam, temperavam. A avó mexia, mexia, mexia. Os meninos comiam, comiam. A avó voltou a sentar na porta da cozinha e se pos a olhar e pitar, pitar e olhar. Os meninos perceberam: a avó vai contar para as mulheres, as mães deles, o ocorrido ali na cozinha da casa dela. Os meninos, pensaram, pensaram, pensaram... e não tiveram dúvidas: cortaram a língua da avó! O papagaio que estava no ombro da avó disse: eu vi, eu vi... Então os meninos também cortaram a língua do papagaio. A avó assustada começou a gesticular com os braços e as mãos. Os meninos perceberam: ela vai contar para as mulheres, as nossas mães, com os gestos. Pensaram e não tiveram dúvida: amarraram os braços e as mãos da avó com as palhas das espigas do milho. Foi aí que o papagaio abanou as asas. Os meninos também amarraram as asas do papagaio com as mesmas palhas do milho. Desceram as escadas da cozinha da avó, foram para o quintal e iniciaram um assobio melodioso. E assobiavam e assobiavam. E veio descendo lá do céu um passarinho. Os meninos assobiavam e o passarinho se aproximava até que o pássaro chegou bem pertinho dos meninos e eles pediram: rouxinol pegue a ponta desse cipó, o leve lá no céu e a primeira árvore frondosa de tronco grosso que avistar, amarre o cipó bem firme, sim? O rouxinol bicou a ponta do cipó e voltou a subir rumo ao céu. Os meninos amarravam um cipó no outro, um cipó no outro e assobiavam bem forte. O rouxinol subiu, chegou ao céu e avistou aquela árvore frondosa de tronco grosso e amarrou bem forte a ponta do cipó com um nó duplo. Então lá do quintal, terreiro da casa da avó, os meninos iniciaram a subida pelo cipó. E os meninos subiam, subiam, subiam... e a mulheres, as mães vindo. Os meninos subindo e as mulheres vindo. Os meninos subindo e as mulheres vindo. Os meninos subindo e as mães chegaram. E avistaram o ocorrido na cozinha da casa da avó. Correram todas para o terreiro e muito bravas avistaram os meninos subindo pelo cipó. Então gritaram, esbravejaram: desçam já daí que serão castigados! Desçam, desçam já que nós vamos castigá-los. E os meninos continuaram a subir, E subia, e subiam. Então as mulheres perceberam que eles não desceriam. Chorando pediram: vocês desçam daí que nós amamos vocês! Desçam, desçam que nós amamos vocês! Choraram e pediram muito. Os meninos subiram e não ouviram os pedidos das mulheres, das mães. Já estavam lá muito alto. Chegaram ao céu e se puseram na beiradinha do céu e olharam e viram. As mães, as mulheres vinham subindo pelo cipó atrás deles. Os meninos pensaram, pensaram, pensaram... e não tiveram dúvidas, cortaram o cipó. E as mães, as mulheres despencaram na selva como feras. Transformadas em feras. Os meninos, na beiradinha do céu, perplexos, começaram a piscar, piscar, piscar... continuam até hoje, na beiradinha do céu, perplexos, piscando, piscando...indicando nossos caminhos! la grande oreille - n°65