Capítulo 1 - Portal de Programas de Pós
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Capítulo 1 - Portal de Programas de Pós
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICAS PÚBLICAS SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DO MARANHÃO ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO Maria Teresa Seabra Soares de Britto e Alves Salviana de Maria Pastor Santos Sousa Liberata Campos Coimbra (organizadores) São Luís, 2009 Universidade Federal do Maranhão Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas Rua Barão de Itapary, 155 Centro 65020-070 São Luís (MA) Fone: (98) 3232 1264 Fax (98) 3222 9663 E-mail: [email protected] site: www.pgsc.ufma.br Financiamento da Pesquisa: Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão – FAPEMA Edital PPSUS I 2004 Convênio nº 0192.00/04 processo SUS 4.06-1189/05 – Termo de outorga em 10 janeiro 2006, Edital BIC/FAPEMA/UFMA 2006 e Secretaria de Estado da Saúde do Maranhão Apoio: Fundação Sousândrade de Apoio ao Desenvolvimento da Universidade Federal do Maranhão Editoração eletrônica: Richardson Rosa (Estação) Editora da Universidade Federal do Maranhão – EDUFMA Tiragem: 1.000 exemplares Capa: Brincante “caboclo de pena” de Bumba-meu-boi de matraca fotografado por João Carlos Almeida dos Santos. Atenção à Saúde do adulto e da criança no Maranhão/Maria Teresa Seabra Soares de Britto e Alves, Salviana de Maria Pastor Santos Sousa e Liberata Campos Coimbra (organizadores). – São Luís: EDUFMA: FAPEMA, 2009. 84 p. 1. Saúde-Maranhão 2. Serviços de Saúde. I. Alves, Maria Teresa Seabra Soares de Britto. II. Sousa, Salviana de Maria Pastor Santos. III. Coimbra, Liberata Campos CDD 614 CDU 614 (812.1) ISBN 978-85-7862-072-1 ISBN e-book 978-85-7862-071-4 Impresso no Brasil/Printed in Brazil. Reitor da Universidade Federal do Maranhão Natalino Salgado Filho Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Fernando Carvalho Silva Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva Antonio Augusto Moura da Silva Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas Maria Ozanira da Silva e Silva Chefe do Departamento de Saúde Pública Raimundo Antonio da Silva Secretário de Estado da Saúde do Maranhão Edmundo Costa Gomes Presidente da Fundação de Amparo a Pesquisa do Maranhão Sofiane Labidi Equipe Técnica Coordenadora Maria Teresa Seabra Soares de Britto e Alves Coordenadora Geral de Campo Rosângela Fernandes Lucena Batista Pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva Antonio Augusto Moura da Silva Departamento de Saúde Pública Mestranda(o)s de Saúde Coletiva Ana Cleide Mineu Costa Deysianne Costa das Chagas Francilene Batista Madeira Helma Jane Ferreira Veloso Juliana Dallas Martha Rodriguez Nivaldo de Jesus Silva Soares Olga Lorena Maluf Guará Arlene de Jesus Mendes Caldas Departamento de Enfermagem Cecília Cláudia Costa Ribeiro Departamento de Odontologia Cláudia Maria Coelho Alves Departamento de Odontologia Érika Bárbara Abreu Fonseca Thomaz Departamento de Saúde Pública Humberto de Oliveira Serra Departamento de Medicina II Liberata Campos Coimbra Departamento de Enfermagem Raimundo Antonio da Silva Departamento de Saúde Pública Valdinar Sousa Ribeiro Departamento de Medicina III Pesquisadores do Grupo de Avaliação e Estudos da Pobreza e das Políticas Direcionadas à Pobreza Maria Ozanira da Silva e Silva Departamento de Serviço Social Maria Virgínia Moreira Guilhon Departamento de Serviço Social Salviana de Maria Pastor Santos Sousa Departamento de Serviço Social Valéria Ferreira Santos de Almada Lima Departamento de Serviço Social Núcleo de Monitoramento e Avaliação da Atenção Básica Secretaria de Estado da Saúde do Maranhão Lídia Saldanha Nicolau Maria do Carmo Lisboa Rabelo Maria do Perpétuo Socorro Ramos Neiva Sílvia Maria Costa Amorim Sônia Maria Ferreira da Silva Serra Bolsistas de Iniciação Científica Cristiane de Jesus Nunes dos Santos Danielle Pinto Lima João Reggiani Júnior Luciana Mendes de Carvalho Maria Letícia Vale Figueiredo Mayara Pereira da Silva Nathalia Almeida Cardoso da Silva Paula Figueiredo da Silva Rafaela David Brito Regimarina Soares Reis Thaís de Sousa Pereira Viviane Portela Ramos Entrevistadores Ana Maria Bacelar de Costa Angélica Maria Almeida Sousa Antônia Justino Patrício Danessa Silva Araújo Elane Viana Hortegal Eliane dos Santos Maria Eliza Sales Furtado Natália Rosa Santos Priscila Coimbra Rocha Da inefabilidade Estar certo todos os dias Não exclui de modo algum A possibilidade de se estar errado Em todas as vésperas. Aruã Alves SUMÁRIO Prefácio .................................................................................................................................................... 9 CAPÍTULO 1........................................................................................................................................ 13 A CONFIGURAÇÃO DO CENTRO COLABORADOR NO MARANHÃO...................................... 13 CAPÍTULO 2........................................................................................................................................ 23 ATENÇÃO À SAÚDE NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO: os caminhos percorridos......................................................................................................................... 23 1 APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................... 23 2 OBJETIVOS.................................................................................................................................... 24 3 METODOLOGIA............................................................................................................................ 24 CAPÍTULO 3........................................................................................................................................ 31 CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA DAS FAMÍLIAS PESQUISADAS NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO....................................................................... 31 1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO..................................................................................................... 31 2 DADOS DEMOGRÁFICOS E SOCIAIS....................................................................................... 32 CAPÍTULO 4........................................................................................................................................ 39 SITUAÇÃO DE SAÚDE DA CRIANÇA NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO.................................................................................................................................. 39 1 CARACTERÍSTICAS SÓCIO-DEMOGRÁFICAS....................................................................... 39 2 PREVALÊNCIA DE DIARRÉIA.................................................................................................... 40 3 INFECÇÃO RESPIRATÓRIA AGUDA......................................................................................... 41 4 HOSPITALIZAÇÃO....................................................................................................................... 42 5 MORBIDADE................................................................................................................................. 43 6 IMUNIZAÇÃO............................................................................................................................... 45 7 ALEITAMENTO............................................................................................................................. 46 8 ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL.......................................................................................................... 48 9 ANTROPOMETRIA....................................................................................................................... 51 CAPÍTULO 5........................................................................................................................................ 55 SITUAÇÃO DE SAÚDE DO ADULTO NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO.................................................................................................................................. 55 1 CARACTERÍSTICAS SÓCIO-ECONÔMICAS E DEMOGRÁFICAS........................................ 55 2 UTILIZAÇÃO DE SERVIÇOS DE SAÚDE.................................................................................. 55 3 HOSPITALIZAÇÃO....................................................................................................................... 59 4 HÁBITOS DE VIDA....................................................................................................................... 60 5 HIPERTENSÃO ARTERIAL.......................................................................................................... 61 6 DIABETES MELLITUS................................................................................................................. 62 7 ESTADO NUTRICIONAL E ANTROPOMETRIA....................................................................... 62 CAPÍTULO 6........................................................................................................................................ 67 SAÚDE DA MULHER NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO ESTADO DO MARANHÃO.................................................................................................................................. 67 1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................................. 67 2 CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA, DEMOGRÁFICA E REPRODUTIVA................ 67 3 UTILIZAÇÃO DE SERVIÇOS...................................................................................................... 71 CAPÍTULO 7........................................................................................................................................ 77 SITUAÇÃO DE SAÚDE BUCAL NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO.................................................................................................................................. 77 1 SAÚDE BUCAL EM ADULTOS................................................................................................... 77 2 SAÚDE BUCAL EM CRIANÇAS MENORES DE 5 ANOS........................................................ 80 Prefácio Marilisa Berti de Azevedo Barros A análise das condições de saúde da população e dos segmentos sociais que a compõem é tarefa fundamental para a obtenção de ganhos na qualidade de vida e na redução do grau das desigualdades sociais em saúde. As atividades de coleta, sistematização e análise dos dados de saúde, ao possibilitarem o monitoramento e a vigilância de indicadores, propiciam a identificação dos problemas de saúde com maior incidência, prevalência, letalidade e potencial de provocar limitações e seqüelas. Viabilizam também a identificação dos segmentos sociais mais vulneráveis (definidos por grupos de idade, gênero, raça, etnia, religião, nível socioeconômico e local de residência) além da avaliação global dos programas e das ações dos serviços (se estão ou não atingindo as metas propostas para a população alvo). A presente publicação incorpora-se nesta vertente de trabalho à medida que busca sistematizar e analisar um conjunto amplo de informações de saúde, comparando os dados coletados em 2006 com os obtidos em estudo prévio realizado em amostra do estado do Maranhão em 1995/96. É tarefa difícil tendo em vista as diferenças nas populações alvo, nos instrumentos utilizados e no tipo de amostragem, além de outras, presentes em estudos desta natureza. Mesmo considerando estas questões, os autores empenharam-se no sentido de buscar detectar as tendências dos indicadores, além de contraporem os valores observados aos constatados no cenário nacional e em outros municípios do país. É importante destacar que a aplicação dos resultados desta publicação é potenciada pelo fato de constituir fruto de trabalho coletivo, que além do Centro Colaborador da Universidade Federal do Maranhão envolveu gestores dos níveis estadual, regional e municipal, num projeto abrangente de desenvolvimento e implantação de métodos de monitoramento e avaliação das ações básicas de saúde. Apesar do grande volume de dados gerados no Brasil pelos registros contínuos, os sistemas nacionais de informação de óbitos, nascimentos, internações, atendimentos ambulatoriais e doenças de notificação compulsória, o presente estudo recorreu à realização de um inquérito de base populacional que é a única estratégia que pode prover a maior parte dos índices e indicadores analisados nesta publicação. A avaliação do estado de saúde das populações, que dependeu durante longo período de tempo quase que exclusivamente dos indicadores de mortalidade, exige hoje novo espectro de indicadores de saúde frente à forte redução das taxas de mortalidade, aumento da sobrevida e crescimento da prevalência de doenças crônicas. O novo espectro de problemas de saúde passou a requerer a construção de indicadores do impacto da morbidade nas atividades da vida diária e na qualidade de vida em saúde. Além disso, aquilatar a prevalência de fatores de risco e de determinantes sociais da saúde assume maior relevância quando políticas de promoção de saúde passam a ser efetivamente adotadas. Assim, na pesquisa ora publicada, além da prevalência de morbidade crônica e aguda, os autores avaliam o uso de álcool e tabaco e o estado nutricional de adultos, por meio da circunferência abdominal e do Índice de Massa Corporal, e o estado nutricional de crianças por meio de medidas 11 de peso e altura além do peso ao nascer. O presente estudo insere-se na trajetória atual brasileira de consolidação de inquéritos periódicos para a geração de informações essenciais ao planejamento e avaliação das políticas de promoção de saúde e de prevenção e controle de agravos. Em nível nacional, a sistematização do conteúdo e periodicidade dos suplementos saúde das Pesquisas Nacionais por Amostras de Domicílios (PNAD), a criação do Sistema de Vigilância de Agravos e Doenças Crônicas por Telefone (VIGITEL) e a Pesquisa de Saúde de Escolares (PENSE), entre outras iniciativas, são evidências desse processo. Experiências de âmbito menor que os inquéritos nacionais como a desenvolvida no presente projeto constituem oportunidade ímpar de experimentação e validação de instrumentos, de compreensão dos determinantes da variação dos valores médios nacionais ou regionais e de aprofundamento de questões que necessitam investigações mais detalhadas, além de atender a necessidades específicas de gestão estadual ou municipal, não contempladas pelas pesquisas nacionais. Os resultados desta pesquisa fornecem um amplo panorama que aponta para uma tendência temporal favorável quanto ao atendimento à saúde dos seis municípios mais populosos do Maranhão. O aumento da cobertura dos serviços de saúde é constatado no crescimento do percentual de crianças vacinadas (que já atinge as metas para BCG e VOP), na redução de quadros diarréicos e de sintomas respiratórios em menores de cinco anos de idade, no aumento do percentual de gestantes com acesso ao pré-natal, do número médio de consultas e na maior precocidade de início do prénatal, na proporção de partos hospitalares e dos partos atendidos por profissional médico. Também é verificada no crescimento da cobertura do Papanicolaou e do exame clínico das mamas. Os inquéritos de saúde constituem também estratégia de investigação com grande potencialidade para a análise e monitoramento da eqüidade em saúde. Estudos apontam que os segmentos de melhor nível socioeconômico vêm adotando mais rapidamente estilos de vida mais saudáveis, situação que tenderá a resultar em ampliação das desigualdades sociais na morbimortalidade. Dados da PNAD 2003 já apontavam que todas as condições crônicas estudadas nessa pesquisa (hipertensão, diabetes, artrite, depressão, doença do coração e outras) eram mais prevalentes no estrato de menor nível de escolaridade, à exceção de tendinite/sinovite (Barros et al, 2006). Outros inquéritos realizados no Brasil e em outros países apontam que as condições crônicas tendem a acometer mais intensamente as camadas de menor nível socioeconômico (Brasil, 2004, César et al, 2005, Theme-Filha et al, 2005). O efeito das desigualdades sócio-regionais é destacado nesta publicação ao constatar a distância que ainda separa a saúde da população do Maranhão das médias nacionais e, em relação a alguns indicadores, também das médias da região Nordeste. O pequeno percentual da população coberto por planos de saúde revela a intensidade com que a saúde da população maranhense depende de uma adequada e competente organização do SUS. A falta de acesso aos serviços odontológicos, relatada nesta publicação, reforça essa constatação. O estudo destaca também que 59% das pessoas hipertensas desconheciam esta condição, apontando a necessidade de maior atenção dos serviços de saúde para as doenças crônicas mais prevalentes. A verificação de um percentual de crianças obesas, equivalente ao daquelas com déficit 12 de altura, ilustra o complexo perfil epidemiológico que desafia os serviços de saúde também nas regiões de menor desenvolvimento econômico do país. Os resultados deste estudo comprovam fartamente a importância do monitoramento do estado de saúde das populações como tarefa fundamental para a formulação e avaliação das políticas e dos programas de saúde, de interesse de todos os níveis e setores de governo e da sociedade em geral na busca de melhores patamares de saúde. O inquérito de base populacional revelou-se uma estratégia apropriada e oportuna para a concretização do monitoramento de indicadores essenciais de saúde num contexto de avanço das políticas de promoção da saúde e de reorganização das ações básicas. Referências Barros M B A, César C L G, Carandina L, Torre G D. Desigualdades sociais na prevalência de doenças crônicas no Brasil, PNAD-2003. Ciência e Saúde Coletiva, 2006;11(4)911-26. Brasil. Ministério da Saúde, SVS/SAS/INCA. Inquérito domiciliar sobre comportamentos de risco e morbidade referida de doenças e agravos não transmissíveis – Brasil:15 capitais e Distrito Federal, 2002/2003. Rio de Janeiro: INCA, 2004. Cesar C L G, Carandina L, Alves M C G P, Barros M B A, Goldbaum M, (organizadores). Saúde e condição de vida em São Paulo. Inquérito multicêntrico de saúde no Estado de São Paulo- ISA-SP. (1ª ed.) São Paulo: FSP/USP, 2005. THEME-FILHA M M, SZWARCWALD C L, SOUZA-JÚNIOR P R B. Socio-demographic characteristics, treatment coverage and self-rated health of individuals who reported six chronic diseases in Brazil, 2003. Cad Saúde Pública. 2005; 21 sup:S43-S53.. 13 14 A CONFIGURAÇÃO DO CENTRO COLABORADOR NO MARANHÃO Capítulo 1 A CONFIGURAÇÃO DO CENTRO COLABORADOR NO MARANHÃO Maria Virgínia Moreira Guilhon Salviana de Maria Pastor Santos Sousa Antonio Augusto Moura da Silva Arlene de Jesus Mendes Caldas Liberata Campos Coimbra Maria Ozanira da Silva e Silva Maria Teresa Seabra Soares de Britto e Alves Humberto Oliveira Serra Raimundo Antonio da Silva Valéria Ferreira Santos de Almada Lima O Sistema Único de Saúde (SUS), instituído no Brasil no bojo de um amplo processo desencadeado pela sociedade civil em prol da democratização da esfera pública, além da universalização do atendimento e melhoria da qualidade dos serviços, reúne potencial para uma real mudança na forma como os serviços e práticas de saúde se organizam para que se pautem no paradigma da vigilância da saúde e na ampliação da cidadania. Um dos pré-requisitos a essa reorganização da atenção à saúde relaciona-se ao processo de gestão, o que realça a relevância do Programa Saúde da Família (PSF) como eixo estruturante dessa dinâmica, tendo repercussões re-ordenadoras para todo o sistema de saúde. Assim, a Saúde da Família vem sendo colocado como estratégia prioritária para organização dos serviços de atenção básica, tendo sido aprimorado e expandido desde sua criação em 1994 (COIMBRA, 2005). Na perspectiva de consolidá-lo como proposta orientadora dos serviços de atenção básica do SUS foi firmado, pelo Ministério da Saúde, acordo de empréstimo com o Banco Mundial tendo em vista viabilizar o Projeto de Expansão da Saúde da Família (PROESF). Este se estruturou em três componentes, sendo o primeiro o de Conversão e Expansão Municipal do PSF, o segundo, o de Desenvolvimento de Recursos Humanos do PSF e o último, de Monitoramento e Avaliação. Fortalecer os sistemas de monitoramento e avaliação da atenção básica, como um dos componentes da proposta, tinha como escopo incorporar essas ações no cotidiano das institui- ções de saúde, concebendo-os, portanto, como instrumentos de gestão do SUS. A qualificação dos profissionais, vista como processo permanente de aprendizado institucional constitui-se parte integrante do próprio desenvolvimento das ações avaliativas. Para executar esta primeira fase (Momento inicial (MI) – desenvolvimento da capacidade técnica), o Ministério recomendava a contratação, pelas secretarias estaduais de saúde, de Centros Colaboradores em Avaliação da Atenção Básica, situados como co-responsáveis pelo aprimoramento e qualificação dos processos de trabalho dos profissionais. Estes Centros Colaboradores, que deveriam ser instituições de ensino e pesquisa de excelência na área de avaliação em saúde e afins, deveriam concomitantemente assessorar as equipes técnicas das secretarias estaduais na direção na elaboração, implantação e institucionalização de uma proposta de avaliação da atenção básica nos estados que possa contribuir para melhorar os indicadores da saúde da população. No caso do Maranhão, as ações públicas de saúde não surtiam os efeitos desejáveis, especialmente para os setores mais empobrecidos da sociedade fazendo com que a situação dos indicadores de saúde apresentados por esse Estado fosse comparativamente pior que a do Nordeste e do Brasil. De fato, numa perspectiva comparativa, segundo dados do IBGE, pode-se observar que, enquanto no Maranhão, no ano de 2002, a mortalidade infantil era de 47,6 por mil nascidos vivos, no Nordeste era de 43,0 e no Brasil, de 28,7. Do mesmo modo, a esperança 15 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO de vida ao nascer no Maranhão, em 2001, era de 65,1 anos, menor que a do Brasil, que era de 68,9 e que a do Nordeste que era de 66,1. Em 2003, os municípios maranhenses prioritários para o Programa Nacional de Controle de Tuberculose apresentavam um percentual de cura de 64,4%, bem abaixo da meta nacional de 85%. A taxa de incidência da doença ainda era alta, sendo de 46,4 por 100 mil habitantes para casos de todas as formas (BRASIL, 2005). Em 2003 foram registrados 5.113 casos novos de hanseníase, dos quais 33,99% eram formas avançadas da doença e 11,16% acometiam menores de 15 anos. Mais de 50% da população do Estado vivia em municípios com prevalência superior a cinco casos por dez mil habitantes, quando a taxa ideal é menos de um caso por dez mil habitantes. Dentre as zoonoses, o Estado apresentava uma das maiores taxas de acidentes ofídicos (20 casos por 100 mil habitantes); a hantavirose era registrada em todos os municípios da Baixada Maranhense; o Estado é considerado de alto risco em raiva humana e tem baixa cobertura vacinal em cães. Além disso, em 2003, foram notificados 3.988 casos de leishimaniose tegumentar, representando o segundo maior número de casos do país. Dentre outras doenças transmissíveis apareciam ainda casos de tétano neonatal, rubéola, meningites e hepatites (BRASIL, 2005). Enquanto isso, a cobertura vacinal era, no mesmo ano, baixa para as vacinas tetravalente e hepatite B. Dentre os agravos e doenças não transmissíveis destacavam-se as do aparelho circulatório, as neoplasias, as doenças endócrinas. As causas externas representavam cerca de 61% do total de óbitos por causas conhecidas (BRASIL, 2005). A alternativa construída pelo Ministério da Saúde, em articulação com as Secretarias Estaduais de Saúde e os Municípios, como gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) passou a se centrar na elaboração e implementação do Pacto de Indicadores da Atenção Básica. Este visa articular práticas e percepções das distintas áreas técnicas envolvidas através de um processo de trabalho que objetiva fortalecer a estratégia Saúde da Família favorecendo maior capacidade de gestão do sistema, com conseqüente melhoria 16 da qualidade dos serviços e ações de saúde. Apesar desse esforço coletivo, a Secretaria Estadual de Saúde do Maranhão - SES-MA, pesar de dispor de instrumentos avaliativos, não vinha conseguido acumular conhecimentos sistematizados acerca do real funcionamento das ações de Atenção Básica de forma a elaborar um diagnóstico da realidade. Tal diagnóstico poderia subsidiar o processo de definição de estratégias e prioridades, além de favorecer a análise do desempenho dos diferentes programas, de forma a mensurar o grau de alcance dos objetivos, o nível de utilização dos recursos e as possíveis mudanças ocorridas nos indicadores. Com base nesses elementos, a secretaria estadual de saúde reconheceu a necessidade de institucionalizar um processo de monitoramento e avaliação das ações da Atenção Básica, contratando para assessorá-la a Universidade Federal do Maranhão como Centro Colaborador no contexto do estímulo financeiro e técnico-operativo do Ministério favorecido pela instituição do PROESF. O Centro Colaborador do Maranhão foi constituído por professores da Universidade Federal do Maranhão, particularmente, dos Grupos de Pesquisa: Grupo de Avaliação da Pobreza e das Políticas Direcionadas à Pobreza - GAEPP e Grupo de Estudos sobre Saúde Coletiva. A proposta de trabalho do Centro Colaborador no Maranhão incluiu três linhas de atuação: uma capacitação técnica, a realização de dois estudos técnicos e um processo acompanhamento e assessoramento com vistas à construção e implantação de uma proposta Metodológica de Monitoramento e Avaliação da Atenção Básica no Estado. A assessoria técnica e o acompanhamento, como atividades permanentes e sistemáticas do Centro Colaborador, foram desenvolvidos em todos os momentos do processo de gestão do Plano Estadual para o fortalecimento das ações de Monitoramento e Avaliação da Atenção Básica. A capacitação técnica, em consonância com o preconizado pelo Ministério, teve como propósito desenvolver um processo de ensino- aprendizagem institucional, centrado em avaliações formativas, com vistas a fomentar A CONFIGURAÇÃO DO CENTRO COLABORADOR NO MARANHÃO mudanças nas práticas rotineiramente utilizadas pelos profissionais. Constituiu-se em um pré-requisito essencial à elaboração da Proposta Metodológica de Monitoramento e Avaliação, tendo seu conteúdo incorporado aspectos referentes ao planejamento, às metodologias de monitoramento e avaliação e aos sistemas de informação. Foram realizados dois estudos técnicos. O primeiro referente ao Diagnóstico Situacional da Atenção Básica em todos os municípios do Maranhão, com base nos sistemas de informação disponíveis e outras fontes de informação. O segundo Estudo tratou da Atenção Básica nos seis municípios do PROESF (São Luís, São José de Ribamar, Imperatriz, Timon, Caxias e Codó). Tal estudo, baseado em dados primários, teve como escopo comparar os resultados obtidos em decorrência das ações empreendidas no programa com as condições identificadas no primeiro estudo. A Proposta Metodológica de Monitoramento das Ações de Atenção Básica foi elaborada com base em uma metodologia participativa, isto é, com o envolvimento direto dos técnicos e gestores da SES-MA e dos seis municípios maranhenses componentes do PROESF. Esta proposta representou a consolidação de todas as outras atividades desenvolvidas nas demais linhas de ação. Assim, conforme dito, a Universidade Federal do Maranhão, propôs-se a coordenar um processo de elaboração de uma proposta metodológica de avaliação construída coletivamente, com a participação dos principais sujeitos sociais envolvidos na implementação da política de saúde no Maranhão. Esta proposta deveria articular e tornar úteis as fontes de dados já disponíveis, além de indicar outros instrumentos capazes de captar elementos qualitativos do processo de implementação. Assim sendo, a proposta Metodológica de Monitoramento e Avaliação das Ações da Atenção Básica apresentada como parte de um movimento desencadeado pelo Ministério da Saúde com o objetivo de institucionalizar a avaliação da Atenção Básica no país resultou de esforço conjunto de reflexão, desenvolvido tanto no contexto de reuniões sistemáticas en- volvendo o Centro Colaborador e o Núcleo Estadual de Monitoramento e Avaliação da Atenção Básica (NEMAAB), quanto no âmbito de oficinas que compuseram um processo de capacitação de técnicos e gestores maranhenses da área da saúde. Da primeira oficina, onde o processo de reflexão coletiva foi desencadeado, participaram técnicos e representantes de diferentes setores da SES-MA. O seu conteúdo se centrou nas quatro questões avaliativas fundamentais: Por que avaliar? Para que avaliar? O que avaliar? Como avaliar? A partir dessas questões foram recolhidos subsídios para a definição dos elementos constitutivos da Proposta, quais sejam: a justificativa, os objetivos, o objeto e os procedimentos e técnicas de pesquisa a serem utilizados. Uma segunda oficina foi realizada com o propósito de sedimentar/reorganizar os aspectos conceituais e metodológicos sistematizados pelo Centro Colaborador, a partir dos dados coletados na primeira oficina e nas reflexões realizadas posteriormente com o NEMAAB. Sua dinâmica consistiu em reflexões, exposições, debates em plenárias e trabalhos de grupo que culminaram com a apreciação detalhada da proposta retrabalhada. A leitura crítica da Proposta retrabalhada desenvolveu-se a partir das seguintes questões: Qual a pergunta que deu origem à proposta? Que estratégia foi utilizada para responder a essa pergunta? Quais as vantagens dessa estratégia? Quais os limites dessa estratégia? Quais as sugestões dos grupos para adequação da proposta e como inseri-la na agenda e nos Planos Estadual e Municipal de Saúde? Os resultados consolidados nesse momento foram sistematizados, apresentados e discutidos na última plenária da oficina, trazendo importantes subsídios para a consolidação da Proposta em construção. As principais sugestões apresentadas pelos grupos nessa segunda oficina foram as seguintes: 1. Em relação ao item “Estratégias e Atribuições” - ampliação do papel das regionais de saúde na sistemática de monitoramento e avaliação. Isto foi justificado pelo fato de 17 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO já se desenvolverem nessas instâncias ações com este propósito, embora de forma pouco sistematizada e ainda não institucionalizada. 2. A maioria das demais sugestões foi relacionada ao item “Metodologia”, mais especificamente ao processo de implementação da política. Quais sejam: • Sobre “Infra-estrutura física” - especificar outros procedimentos e fontes de pesquisa capazes de avaliar o comportamento do indicador “Acessibilidade”, além de especificar o tipo de Observação melhor indicado como técnica de pesquisa a ser adotada. • Sobre “Recursos Humanos” - especificar como mensurar o comportamento dos indicadores “Competências” e “Condições de Trabalho” para os quais os procedimentos e fontes de pesquisa estabelecidas não se mostravam suficientes; • Na dimensão “Cotidiano do trabalho das equipes” - deslocar o indicador “Média anual de consultas médicas por habitante nas especialidades básicas” para compor a dimensão “Metas alcançadas”. Além disso, o indicador “trabalho em equipe” foi considerado bastante vago e para o indicador denominado “Operacionalização da estratégia saúde da família” foi sugerida a retirada de tal denominação e a permanência apenas dos indicadores que o especificam quais sejam: “Número e composição das equipes”, “Procedimentos e atividades realizadas”, “Média mensal de visitas domiciliares por família”. Cumpre ressaltar que, em relação a este último indicador, sentiu-se também a necessidade de seu deslocamento para a dimensão relacionada às metas alcançadas; • Na dimensão intitulada “Gestão” - o indicador “Qualidade das informações” deveria ser especificado como “Coerência interna das informações registradas e consistência face à realidade”; • Na dimensão “Metas alcançadas” – questionou-se o excessivo destaque dado às ações voltadas para a Saúde Bucal em detrimento das demais ações que com18 põem as Ações Básicas; • Na dimensão “Participação Social” - considerou-se vago o indicador “Qualidade da participação do Conselho Municipal de Saúde no planejamento e na supervisão das ações”. Foi sugerido então que se retirasse a palavra qualidade ou se especificasse melhor (qualidade em termos de quê?) 3. Por último, quanto ao Quadro que trata dos resultados das ações da Atenção Básica, foi sugerida apenas a sua atualização de acordo com o último protocolo dos indicadores pactuados. A última oficina de capacitação foi voltada para a consolidação da Proposta Metodológica, objetivando os seguintes desempenhos: identificar as limitações para a implantação da proposta; priorizar as ações da proposta possíveis de serem realizadas em curto e médio prazo; definir as responsabilidades de cada esfera do SUS no M&A da Atenção Básica; planejar e desenhar operações de M&A utilizando os indicadores e informações disponíveis; refletir sobre a concepção de Atenção Básica subjacente ao modelo preconizado pelo SUS. Esses desempenhos, que tiveram como suporte o conhecimento acumulado nos momentos anteriores, basearam-se em estudo de textos e trabalhos de grupos, além de exposições teóricas sobre técnicas de pesquisa documental, entrevista e observação participante. Estas últimas foram seguidas de exercícios práticos em campo. Ao final, foram construídas matrizes indicando, no contexto da proposta, o retrato do envolvimento dos diferentes setores da área da saúde participantes na Proposta Metodológica (SES-MA, Regionais e Municípios). As questões orientadoras dessas matrizes foram: O que fazer? Quem faz? Como fazer? Com quem fazer? Quando fazer? A sistematização de todo esse conteúdo levantado e discutido ficou ao encargo do Centro Colaborador, resultando Proposta Metodológica de Monitoramento e Avaliação da Atenção Básica a seguir apresentada. Esta proposta tem como objeto o funcionamento e os resultados das ações da Atenção A CONFIGURAÇÃO DO CENTRO COLABORADOR NO MARANHÃO Básica no Estado do Maranhão, que deverão ser monitorados e avaliados a partir de um trabalho integrado envolvendo as diferentes instâncias gestoras de âmbito estadual, regional e municipal. Em cada nível, deve-se, portanto, definir o grau de prioridade e, conseqüentemente, a temporalidade das ações a serem realizadas, o que deve resultar em diferentes projetos de trabalho. A proposta foi orientada pelo seguinte objetivo geral: conhecer o funcionamento e os resultados das ações de Atenção Básica no Estado do Maranhão, identificando os aspectos facilitadores e dificultadores, de forma a favorecer o processo de tomada de decisões, em direção à maior eficiência, eficácia e efetividade dos serviços ofertados. Os objetivos específicos da proposta foram assim definidos: 1. Estabelecer o grau de eficiência das ações de Atenção Básica em termos de otimização dos recursos, com base nos parâmetros de tempo e de custos; 2. Estabelecer o grau de eficácia das ações de Atenção Básica em termos de alcance da metas, em confronto com as necessidades identificadas e os propósitos originalmente definidos. Refere-se, ainda, à adequação dos meios empregados, metodologias utilizadas e condições gerais de realização do trabalho, face aos objetivos propostos. mento da política, restrita à esfera de execução, além de realizada de forma sistemática e em caráter contínuo pelos agentes envolvidos no processo de gestão. Seus resultados devem servir de subsídios para a avaliação. Esta, por sua vez, implica em apreciar o próprio mérito da política. Seu escopo, portanto, é apreender os fatores responsáveis pelos êxitos ou fracassos da política, bem como apontar medidas capazes de solucionar os problemas identificados. Os pressupostos metodológicos orientadores da presente proposta fundamentam-se no entendimento de que: • A realidade social é complexa e fruto de múltiplas determinações e contradições; • Qualquer esforço de avaliação de uma Política requer o envolvimento dos sujeitos responsáveis pelo seu processo de implementação e dos beneficiários dos serviços e ações desenvolvidos; • O desenvolvimento de qualquer processo avaliativo gera compromisso com mudanças na realidade em foco. Quanto aos pressupostos conceituais, tem-se que: monitoramento de políticas e programas sociais é uma forma de acompanhamento sistemático das ações desenvolvidas e um subsídio fundamental ao processo de avaliação. A avaliação, por sua vez, é uma modalidade de pesquisa social aplicada que envolve um julgamento de valor. Portanto, o ato de avaliar não é neutro nem exterior às relações de poder. É um ato técnico, mas também político. Não é desinteressado, mas exige objetividade e independência, fundamentando-se no conhecimento da realidade; A modalidade de avaliação adotada foi do tipo Avaliação Compreensiva, englobando o processo e os resultados das ações desenvolvidas. A avaliação de processo é vista como controle antecipado do tamanho e qualidade do efeito desejado, centrando-se em duas dimensões: no funcionamento das ações e dos serviços prestados e nas condições que facilitam e entravam o processo de 3. Estabelecer o grau de efetividade das ações de Atenção Básica, do ponto de vista da sua capacidade de modificar positivamente os indicadores de saúde pactuados no Estado; 4. Identificar os principais determinantes dos resultados das ações de Atenção Básica, apresentando proposições que contribuam para a melhoria da eficiência, da eficácia e efetividade da Política de Saúde no Estado do Maranhão. Em termos metodológicos, a proposta elaborada comporta dois movimentos que deveriam ser operacionalizados de forma concomitante e interdependente: o monitoramento e a avaliação das ações da Atenção Básica desenvolvidos nos municípios do Maranhão. Trata-se o primeiro de uma atividade gerencial de segui- 19 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO implementação. A Avaliação de resultados, por sua vez, procura identificar mudanças qualitativas e quantitativas decorrentes das ações e serviços sobre as condições de vida de uma população. Conforme já salientado, a proposta de monitoramento e avaliação teve como focos o processo de implementação e os resultados das ações da Atenção Básica desenvolvidas nos municípios do Maranhão. No primeiro caso, os critérios utilizados são o da eficiência e o da eficácia. A eficiência é entendida como otimização dos recursos, com base nos parâmetros de tempo e de custos; Já a eficácia é compreendida como o grau de alcance da metas, ou seja, a análise do cumprimento das expectativas no que se refere ao volume e à qualidade das ações de Ação Básica, em confronto com as necessidades identificadas e os propósitos originalmente definidos. Refere-se, ainda, à adequação dos meios empregados, metodologias utilizadas e condições gerais de realização do trabalho, face aos objetivos propostos. Os procedimentos básicos a serem utilizados no processo de Monitoramento e Avaliação do processo de implementação são: a análise da Programação Local e dos Relatórios de Atividades do PSF, dos Sistemas de Informação existentes e dos Planos e Relatórios Municipais de Gestão, além da criação de fóruns de debate coletivos que permitam confrontar demandas da sociedade e institucionais, quantitativo de recursos disponíveis e sua aplicação e a viabilidade das estratégias utilizadas pelos diferentes sujeitos sociais envolvidos no processo. Esses movimentos permitirão corrigir possíveis desvios identificados. Quanto à avaliação dos resultados, o critério adotado foi o da efetividade, entendida como a capacidade das ações e serviços da Atenção Básica de modificarem positivamente os indicadores de saúde do Estado. Tanto o processo de monitoramento quanto o de avaliação tinham como pré-requisitos a ampliação do número de trabalhadores e o desenvolvimento de uma sistemática de capacitação continuada de todos os sujeitos envolvidos, com vistas à construção de uma nova cultura de trabalho conjugado nos três níveis de gestão e em articulação com a sociedade, a partir CES/CMS. Os quadros a seguir, apontam as dimensões e os indicadores sistematizados a partir de um processo coletivo cujos resultados foram consolidados pelo Centro Colaborador. Neles estão dispostos os procedimentos de monitoramento e de avaliação propostos. O quadro I se refere aos parâmetros para verificação do processo de implementação das ações da Atenção Básica e o quadro II, dos seus resultados. Na operacionalização da presente Proposta partiu-se da idéia que os diferentes sujei- Quadro I: Dimensões, Indicadores e Procedimentos/Fontes de monitoramento e avaliação- implementação das ações da AB. Dimensões 20 Indicadores Procedimentos/Fontes Grau de confiabilidade dos sistemas de informação Regularidade da alimentação dos dados; Cobertura dos sistemas de informação. Validade dos sistemas de informação Estudos técnicos; Monitoramento dos sistemas de informação Recursos humanos Quantidade e categoria dos profissionais Carga-horária por categoria Nível de capacitação Vínculo de trabalho; Observação in loco; Análise da planilha dos indicadores de Incentivos Municipais do PROESF; Análise de documentos e dos sistemas de informação (CNES, SIAB) Análise dos documentos gerados no processo de monitoramento; A CONFIGURAÇÃO DO CENTRO COLABORADOR NO MARANHÃO Infra-estrutura física Número, tipo e estrutura física dos estabelecimentos de saúde Adequabilidade e suficiência dos equipamentos e material permanente em relação à demanda do Plano Diretor de Regionalização Adequabilidade e suficiência do material de consumo Acessibilidade geográfica, inclusive, para as pessoas com necessidades especiais Comparação entre as estruturas registradas e as instaladas nos municípios Observação in loco; Análise dos documentos gerados no processo de monitoramento; Verificação do prontuário para ver a indicação dos pacientes em relação à unidade. Cotidiano do trabalho das equipes Condições de trabalho Relação hora contratada/hora trabalhada Trabalho em equipe Tipo de demanda (organizada e espontânea); Número e composição das equipes de Saúde da Família; Procedimentos e atividades realizadas pelas equipes de Saúde da Família; Observação in loco; Análise dos dados do SIAB/SIA/SUS e IBGE Análise dos relatórios de gestão municipal Análise dos documentos gerados no processo de monitoramento; Gestão Existência de um setor coordenador das ações e serviços da Atenção Básica nos municípios. Existência de ações de supervisão e monitoramento; Número e tipos de sistemas de informação implantados e alimentados; Existência de Relatórios e Planos de Metas anuais para ações e serviços da AB; Número e tipos de ações de capacitação de recursos humanos (nos seis municípios do PROESF) Utilização dos indicadores dos sistemas de informação para o planejamento das ações Existência de normas e protocolos de gestão da AB Observação in loco Existência de dados atualizados nos sistemas- séries históricas (SIAB, SIA/ SUS); Análise dos documentos gerados no processo de monitoramento; Análise dos Planos e Relatórios municipais de gestão 21 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO Metas alcançadas Participação social Proporção da população coberta pelo PSF; Média mensal de visitas domiciliares por família realizadas pelas equipes de Saúde da Família Média anual de consultas médicas por habitante nas especialidades básicas Cobertura da 1ª consulta odontológica; .Razão entre os procedimentos odontológicos coletivos e a população de 0 a 14 anos Número e tipos das ações desenvolvidas por área Realização de Conferências; Composição dos Conselhos de Saúde; Regularidade das reuniões dos Conselhos Grau de participação do Conselho Municipal de Saúde no planejamento e na supervisão das ações Existência de mecanismos de aferição do grau de satisfação dos usuários tos coletivos assumem responsabilidades particulares relacionadas ao seu papel específico no campo da saúde. Nesse sentido, apenas o Centro Colaborador teve papel pontual no desenvolvimento do Plano de Monitoramento e Avaliação das Ações da Atenção Básica. Entende-se que as atividades dos demais sujeitos (SES, Regionais e Municípios) estendem-se por tempo não delimitado, uma vez que a Proposta Metodológica Estadual constitui-se em um retrato das ações a serem implementadas, de forma articulada com a sociedade, com vistas à institucionalização da Avaliação da Atenção Básica no Estado e por extensão, do próprio SUS no país. Desse modo, coube ao Centro Colaborador fortalecer a SES no desencadeamento do processo avaliativo e sistematizar todo o material técnico e bibliográfico produzido no perío22 Observação in loco Análise comparativa dos sistemas séries históricas (SIAB, SIA/SUS); Análise dos documentos gerados no processo de monitoramento; Análise dos relatórios de gestão municipal Entrevistas com representantes de movimentos sociais, CES e CMS; Análise dos relatórios de gestão municipal; Análise dos documentos gerados no processo de monitoramento; Análise da Atas dos Conselhos; Análise dos anais das Conferências do na concretização das linhas de atuação estabelecidas e destacadas anteriormente. Isso se traduziu mais especificamente em: 1. Qualificação de 45 técnicos, incluindo coordenadores das áreas técnicas da Atenção Básica da SES, consultores supervisores, membros do Núcleo Estadual de Monitoramento e Avaliação das ações da Atenção Básica (NEMAAB), gestores regionais e profissionais dos municípios. Tal qualificação compreendeu quatro oficinas de 40 horas e uma de 60 horas, totalizando 220 horas-aula, ministradas no período de Maio de 2005 a Dezembro de 2006; 2. Assessoramento técnico à SES na elaboração, sistematização e implementação da presente Proposta Metodológica de Monitoramento e Avaliação das Ações da Aten- A CONFIGURAÇÃO DO CENTRO COLABORADOR NO MARANHÃO ção Básica como atividade permanente e sistemática desenvolvida durante todo o período de vigência do contrato; 3. Realização de dois Estudos Técnicos, sendo o primeiro voltado para a configuração de um diagnóstico da situação de saúde no Estado do Maranhão, a partir de dados secundários fornecidos pelos Sistemas de Informação disponíveis, tendo sido efetivado no período de março a junho de 2006. Já o segundo estudo se centra nos seis municípios do PROESF (São Luís, São José de Ribamar, Caxias, Codó, Imperatriz e Timon), tomando por base dados primários e secundários. Tal estudo deverá ser desenvolvido no período de julho a dezembro de 2006. Aos Municípios compete fornecer informações consistentes e em tempo hábil acerca das ações da atenção básica desenvolvidas nos territórios sob sua jurisdição garantindo qualidade na alimentação dos sistemas de informação e na elaboração de relatórios gerenciais, que se constituem em instrumentos essenciais de uma sistemática de monitoramento e avaliação. Convém dizer que os Pactos de Indicadores, os Planos Municipais de Saúde e os Relatórios de Gestão se constituem, nesse âmbito, instrumentos essenciais ao processo de gestão da Atenção Básica e ao monitoramento das ações desenvolvidas. Cabe a essa instância, tanto planejar com base na realidade local, quanto acompanhar, numa perspectiva avaliativa, o comportamento dos indicadores pactuados e de outros indicadores relacionados ao processo de implementação das Ações da Atenção Básica. Já à instância Regional cabem os papéis de sensibilização e mobilização dos gestores municipais em relação à sistemática de monitoramento e avaliação, consolidação e análise de dados relativos à implementação e resultados das ações de AB nos municípios de sua jurisdição, bem como de articulação do nível municipal com o nível estadual de gestão. A SES, por seu turno, deve exercer as seguintes funções: de consolidação das informações advindas dos municípios, através das respectivas coordenações das áreas técnicas de AB; de sistematização, análise, interpretação e publi- cização dos dados que refletem os resultados da avaliação, bem como, de reorientação das ações com vistas à correção dos desvios identificados. Cabe, ainda, à SES no seu papel de macrogestora do Sistema Estadual de Saúde: integrar as diferentes áreas da AB e Vigilância Sanitária e Epidemiológica; analisar os sistemas de informação da AB; analisar o cumprimento do Pacto de Indicadores da AB e Programações Pactuadas Integradas junto com os Municípios; utilizar o pacto e as informações dos sistemas para planejamento das ações junto aos municípios; construir instrumentos informatizados que facilitem a integração entre os diferentes sistemas, dentre outras importantes atribuições previstas no Plano Estadual para o Fortalecimento das Ações de Monitoramento e Avaliação da Atenção Básica. Para o fortalecimento da capacidade técnica das equipes envolvidas nos processos de monitoramento e avaliação foram previstos metas e produtos em seu Plano Estadual para o Fortalecimento das Ações de Monitoramento e Avaliação da Atenção Básica apresentado ao Ministério, mas cabe ressaltar que das metas e produtos previstos pela SES, poucos foram efetivamente cumpridos até o momento em que se encerrou o trabalho do Centro Colaborador. Destacam-se, entre estes, os que se referem à contratação do Centro Colaborador, à qualificação de equipes da SES, das Regionais e dos Municípios que devem servir de agentes multiplicadores, bem como à apresentação e discussão da presente Proposta Metodológica no CIB e CES, com vistas à publicizar seus elementos e permitir a configuração de sistemáticas de controle por parte da sociedade. Não obstante, algumas outras metas ainda não foram alcançadas embora se apresentem como requisitos fundamentais para a operacionalização da referida Proposta. Merecem destaque negativo, particularmente, aquelas relacionadas à ampliação da infra-estrutura física e de recursos humanos da SES, Regionais e Secretarias Municipais de Saúde; atualização do CNES e dos outros sistemas, com a garantia da qualidade das informações registradas, em termos de coerência interna e consistência face à realidade. 23 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO É importante salientar, por fim, que a prioridade que cada dimensão/indicador deve assumir ao longo do tempo deve resultar de uma análise contextual desenvolvida em cada nível de gestão pelos sujeitos sociais envolvidos nos processos de monitoramento e avaliação. REFERÊNCIAS ARRETCHE, M T. Uma contribuição para fazermos avaliações menos ingênuas. In: Barreira, M C e Carvalho, M C (orgs.). Tendências e perspectivas na Avaliação de Políticas e Programas Sociais. São Paulo: IEE/PUC-S.P, 2001; p.43-56. CENTRO COLABORADOR DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA. Proposta de Trabalho. São Luís-Ma. 2004 CENTRO COLABORADOR DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA. Proposta Metodológica de Monitoramento e Avaliação da Atenção Básica. São Luís-Ma. 2006 COIMBRA, L C. Programa Saúde da Família:uma estratégia em (des)construção?. Tese (Doutorado em Políticas Públicas) – Universidade Federal do Maranhão. São Luís, 2005. 223p. DRAIBE, S M et al. Políticas sociales y programas de combate a la pobreza en el Brasil. In: Red de Centros de Investigación Económica Aplicada. Estratégias para combater la pobreza en América Latina: programas, instituiciones y recursos. Santiago, Banco Mondial de Dessarrollo, 1995. DRAIBE, S M et al. Avaliação de Implementação: esboço de uma metodologia de trabalho em Políticas Públicas. In: Barreira, M C e Carvalho, M C (orgs.). Tendências e perspectivas na Avaliação de Políticas e Programas Sociais. São Paulo: IEE/PUCSP. p.13-42. 2001 FIGUEIREDO, A; FIGUEIREDO, M. Avaliação de Política: um quadro de referência teórica. Caderno de Pesquisa. [IDESP], São Paulo, n. 15, p. 1-57, 1986. GRUPO DE AVALIAÇÃO E ESTUDOS DA POBREZA E DAS POLÍTICAS DIRECIONADAS À POBREZA. Proposta de avaliação externa das políticas sociais desenvolvidas pela Gerência de Desenvolvimento Social – GDS. São Luís. 2003. IBGE. Síntese de indicadores sociais 2004. Rio de Janeiro: IBGE, 2005. 24 MELLO JORGE, M H; GOTLIEB, S L D. As condições de saúde no Brasil: retrospecto de 1079 a 1995. Rio de Janeiro: Ed. FIOCRUZ, 2000. MENDES, E V. Os grandes desafios do SUS – tomo II Salvador-Ba: Casa da Qualidade Editora. 2001 BRASIL. Ministério da Saúde. Monitoramento na Atenção Básica de Saúde: roteiros para reflexão e ação. Brasília-DF. 2004. BRASIL. Ministério da Saúde. Avaliação Normativa do Programa Saúde da Família no Brasil: monitoramento da implantação e funcionamento das equipes de Saúde da Família. Brasília-DF .2001/2002. NEMES, M I B. Avaliação em saúde: questões para os programas de DST/Aids no Brasil. 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ATENÇÃO À SAÚDE NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULAÇÃO DO MARANHÃO: OS CAMINHOS PERCORRIDOS Capítulo 2 ATENÇÃO À SAÚDE NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULAÇÃO DO MARANHÃO: os caminhos percorridos Maria Teresa Seabra Soares de Britto e Alves Rosângela Fernandes Lucena Batista Antônio Augusto Moura da Silva Liberata Campos Coimbra 1. APRESENTAÇÃO A análise da realidade do Maranhão, do ponto de vista dos seus indicadores de saúde, aponta uma situação extremamente desfavorável, em termos de resultados das ações públicas na Atenção Básica. O Estado apresenta os piores índices comparativamente ao Nordeste e ao Brasil. A Secretaria da Saúde do Maranhão não tem conseguido acumular conhecimentos sistematizados acerca do funcionamento das ações de Atenção Básica de forma a elaborar um diagnóstico da realidade. Tal diagnóstico poderia subsidiar o processo de definição de estratégias e prioridades, além de favorecer a análise do desempenho dos diferentes programas, de forma a mensurar o grau de alcance dos objetivos, o nível de utilização dos recursos e as possíveis mudanças ocorridas nos indicadores. Na verdade, a SES conta com diversos instrumentos para monitorar as ações da Atenção Básica, consubstanciados, principalmente, nos sistemas de informação disponíveis. Entretanto, os dados coletados de rotina no âmbito das instituições de saúde são insuficientes para se ter uma idéia mais completa sobre o panorama sanitário, de modo a permitir a utilização de informações epidemiológicas confiáveis para o planejamento dos programas de saúde e avaliação da eficácia e eficiência das ações desenvolvidas. Por serem escassas as informações no Estado do Maranhão sobre a atenção à saúde, este estudo cumpre duas finalidades. A primeira é a atualização dos dados coletados em pesquisa realizada em 1996/1997 coordenada pelo Departamento de Saúde Pública da UFMA sobre a situação de saúde materno-infantil. Em segundo lugar, por serem praticamente desconhecidas as condições de saúde da população adulta, este estudo torna-se o primeiro a realizar diagnóstico de base da situação de saúde e da utilização de serviços de saúde por adultos. Outro momento importante para o desenvolvimento do SUS neste Estado foi a participação de técnicos da SES/MA em todas as fases de realização da pesquisa. O projeto de avaliação das ações da Atenção Básica, aqui apresentando seus principais resultados, incorpora essa perspectiva, e o esforço conjunto de reflexão, desenvolvido no contexto de oficina de trabalho. Delas, participaram, além da Universidade, o Núcleo Estadual de Monitoramento e Avaliação da Atenção Básica (NEMAAB) e técnicos representantes de diferentes setores da SES-MA. A partir dessa oficina foram recolhidos subsídios para a definição dos elementos constitutivos do projeto, tais como os objetivos, o objeto e os procedimentos e técnicas de pesquisa a serem utilizados. Os instrumentos de coleta foram elaborados de acordo com a demanda e após ampla discussão com a equipe, assim como a definição dos locais de pesquisa. Todos os municípios são beneficiários do Programa de Apoio da Estratégia Saúde da Família – PROESF. A realização de estudos transversais periódicos pode suprir as necessidades de monitoramento e de informação dos serviços de saúde. Também provê informações a respeito das coberturas alcançadas, dos principais problemas a serem contornados. Tendo em vista a importância do tema para a saúde e a recente reorganização do modelo de atenção local com fortalecimento da estratégia Saúde da Família em municípios com população acima de 100 mil habitantes, espera-se que dados sobre a atenção básica nesses municípios sirvam de base para 25 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO intervenções mais adequadas à realidade. Os próximos capítulos se referem à essa pesquisa e estão organizados de modo a permitir uma visão dos principais objetivos e dos procedimentos metodológicos seguido dos principais resultados. Estes estão organizados em capítulos por ciclos de vida: situação de saúde de crianças; adultos; e mulheres em idade fértil. Os principais indicadores da saúde bucal das crianças e adultos dessa população estão apresentados em um capítulo especifico. Esta pesquisa recebeu apoio financeiro da Secretaria de Estado da Saúde do Maranhão por meio do projeto do Centro Colaborador em Monitoramento e Avaliação da Atenção Básica e da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão – FAPEMA, por meio do Edital PPSUS 2005 e do Programa de Bolsas de Iniciação Científica. 2. OBJETIVOS Para cumprir o objetivo geral de estimar a prevalência dos principais indicadores de saúde e a utilização de serviços pela população residente nos seis municípios mais populosos do Estado do Maranhão, foram elaborados os seguintes objetivos específicos: 1. Avaliar características sócio-econômicos, ambientais e demográficas da população residente nos municípios de São Luís, Imperatriz, Caxias, Codó, Timon e São José de Ribamar; 2. Estimar a cobertura do programa de saúde da família; 3. Determinar a duração da amamentação mista e exclusiva ao seio; 4. Estimar a prevalência da desnutrição, diarréia aguda e infecções respiratórias agudas, em crianças menores de cinco anos; 5. Estimar a cobertura vacinal para as doenças do Programa Nacional de Imunizações; 6. Avaliar o grau de cobertura e a qualidade da assistência pré-natal; 7. Estimar prevalências das doenças crônicodegenerativas consideradas estratégicas na 26 atenção básica (obesidade, hipertensão arterial, diabetes, tabagismo, alcoolismo) 8. Analisar a utilização de serviços preventivos (puericultura, cobertura do preventivo de CA de mama, de colo uterino e planejamento familiar); 9. Analisar a utilização de consultas, hospitalizações e uso de medicamentos; 10. Analisar indicadores de saúde bucal do adulto e da criança. 3. METODOLOGIA Amostragem Foi utilizado um processo de amostragem por conglomerados em estágios múltiplos, com três etapas. Na primeira, foram identificados os municípios com população residente acima de 100.000 habitantes. Na segunda etapa foram sorteados os setores censitários em cada um dos seis municípios. Na terceira foi sorteado um ponto inicial dentro de cada setor a partir do qual foram visitados certo número de domicílios. O processo de amostragem teve início com a obtenção de listagem dos setores censitários do IBGE utilizados no censo de 2000 para os municípios selecionados. Em cada município foi feito o sorteio dos setores censitários para a coleta de dados de acordo com a distribuição populacional de cada município, conforme Tabela 1. Tabela 1 - Número total e setores censitários sorteados por Município. Maranhão, 2006. Município Número de setores Setores sorteados Caxias Codó Imperatriz Timon 89 61 174 73 07 06 15 08 São José de Ribamar 73 06 São Luís 751 58 TOTAL 1.221 100 Fonte: IBGE, censo de 2000. ATENÇÃO À SAÚDE NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULAÇÃO DO MARANHÃO: OS CAMINHOS PERCORRIDOS Dos setores sorteados foi obtido um mapa do IBGE. A partir do mapa do setor, os quarteirões nele existentes foram numerados e só então foi efetuado o sorteio do quarteirão inicial para visita de coleta de dados. As esquinas dos quarteirões sorteados foram identificadas com as letras (A, B, C, D, E...), efetuando o sorteio da letra. A esquina sorteada era o ponto inicial. A partir da casa da esquina sorteada, o quarteirão foi percorrido em sentido horário e as casas foram visitadas seqüencialmente até encontrarse 12 pessoas na faixa etária de 15 a 59 anos de idade e 12 crianças menores de 5 anos. Em casos em que esse número de crianças e/ou adultos não fosse encontrado nesse quarteirão, foi feito um sorteio de outro quarteirão dentro do mesmo setor, até atingir o número desejado. O tamanho da amostra foi definido utilizando-se a fórmula para cálculo de amostra em estudos de prevalência, assumindo população infinita, precisão de 4%, prevalência esperada dos indicadores de 50% com nível de confiança de 0,05 e efeito do desenho igual a 2. Instrumentos A pesquisa foi realizada utilizando-se três questionários padronizados para coleta de dados dos indivíduos residentes há mais de seis meses no domicilio: um para dados da casa/chefe do domicílio, outro para crianças menores de cinco anos e um terceiro para os demais adultos da casa, inclusive mulheres em idade fértil. Também foi realizado exame antropométrico de todos os entrevistados, medindo-se peso, altura e circunferência abdominal. Verificou-se, ainda, a pressão arterial dos adultos, além da medida da glicemia capilar em jejum dos adultos com mais de 30 anos de idade. Os questionários foram elaborados a partir de dados de literatura de estudos semelhantes, considerando as necessidades locais do Núcleo de Monitoramento e Avaliação da Atenção Básica da Secretaria de Estado da Saúde do Maranhão, identificadas em reuniões de trabalho de toda a equipe envolvida na pesquisa. No total foram visitados 1.280 domicílios onde foram aplicados questionários para coleta de dados da habitação e do chefe da família. Foram aplicados 3.771 questionários, sendo 1.214 crianças menores de cinco anos de idade, 1.277 adultos, aí incluídos 755 mulheres em idade fértil. Os dados sócio-econômicos foram estudados a partir da renda mensal familiar e per capita em salários mínimos, trabalho e ocupação do chefe de família (foi considerado chefe da família a pessoa de maior renda), condições de moradia, existência de água encanada e saneamento. A renda familiar foi registrada para cada membro da família que trabalhava, separadamente para depois realizar-se a soma no momento da análise. A partir de perguntas sobre posse de bens, utilizou-se, na análise dos dados, a classificação de classe social versão modificada da proposta de Bronfman e Tuirán (LOMBARDI, BRONFMAN et al., 1988). Também foi questionado se a família residia em área coberta pela Estratégia de Saúde da Família. O inquérito sobre doenças para as crianças menores de cinco anos abrangeu a incidência de diarréia no dia da entrevista, prevalência de diarréia nas duas últimas semanas, utilização de terapia de reidratação oral ou soro caseiro no tratamento da diarréia e informação sobre quem prescreveu o soro. Sobre Infecções respiratórias agudas perguntou-se sobre tosse, febre, respiração difícil e nariz entupido. Foi catalogada como Infecção respiratória aguda moderada a criança que apresentasse pelo menos tosse e febre; e grave, na presença de febre, tosse e respiração difícil sem obstrução nasal. Sobre alimentação foi interrogado o aleitamento materno: estar amamentando na data da entrevista através do método do status quo, sendo que na análise de dados foi utilizada a técnica da tábua de vida (MONTEIRO, 1988), época do desmame, e padrões de desmame. No final da entrevista foi interrogado o peso ao nascer anotando-se se este foi confirmado ou informado. Sobre utilização de serviços de saúde, foi interrogado sobre internação nos últimos três meses, o motivo, duração e o local dessa internação, a utilização de consultas na unidade de saúde por motivo de doença, local da consulta, uso de medicamentos e quem indicou. Foi investigado também sobre a utilização de programa de imunizações, onde se perguntou sobre o número de doses recebidas das vacinas 27 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO de acordo com o Programa Nacional de Imunização. Foi calculada a cobertura vacinal através da leitura do cartão de vacinas e, na falta deste, a informada pela mãe ou responsável (desde que descrito precisamente o local de vacinação). O inquérito para as mulheres em idade fértil investigou a realização de exame preventivo de câncer de colo de útero, realização de exame da mama, planejamento familiar, utilização de serviços de saúde e uso de medicamentos. Sobre a utilização de serviços preventivos de pré-natal foi perguntado se a mãe fez pré-natal, mês de início do pré-natal, número de consultas, exames realizados e cobertura da vacina antitetânica. Sobre a utilização de serviços de atenção ao parto, investigou-se se o parto foi hospitalar ou domiciliar e tipo de parto. O inquérito com os demais adultos da fa- mília incluiu perguntas sobre: uso do álcool, de fumo, presença de doenças crônico-degenerativas, utilização dos serviços de saúde e uso de medicamentos. Foi verificada a pressão arterial e a glicemia capilar em jejum dos adultos. O método utilizado para aferição da pressão arterial foi o método indireto, com técnica auscultatória utilizando estetoscópio tipo bi-auricular e esfigmomanômetro aneróide. A medida foi realizada com o entrevistado na posição sentada e o entrevistador de pé. A pressão foi medida no membro superior esquerdo. Foram realizadas duas aferições. Foi adotado para efeito do estudo o valor da última medida. Os valores encontrados foram classificados segundo as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2007), de acordo com o quadro 1. Quadro 1 – Classificação da pressão arterial de acordo com as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial de 2006. Pressão Sistólica (mmHg) Pressão Diastólica (mmHg) Classificação da Pressão Arterial Ótima < 120 < 80 Normal < 130 < 85 Limítrofe 130 a 139 85 a 89 Estágio 1 (leve) 140 a 159 90 a 99 Estágio 2 (moderada) 160 a 179 100 a 109 Estágio 3 (grave) = 180 = 110 Sistólica isolada = 140 < 90 Hipertensão O valor maior de sistólica ou diastólica estabelece o estágio do quadro hipertensivo. Quando as pressões sistólica e diastólica situam-se em categorias diferentes, a maior deve ser utilizada para a classificação do estágio. 28 ATENÇÃO À SAÚDE NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULAÇÃO DO MARANHÃO: OS CAMINHOS PERCORRIDOS A glicemia capilar foi verificada com jejum mínimo de 8 horas e os valores encontrados foram classificados segundo o Consenso Brasileiro sobre Diabetes (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2003) conforme o quadro 2. Quadro 2 – Classificação de diabetes mellitus de acordo com o Consenso Brasileiro sobre Diabetes 2002. 2h após Categoria JEJUM * 75g de CASUAL** glicose Glicose normal <110 <140 Tolerância à glicose diminuída >110 a <126 ≥ 140 a < 200 Diabetes mellitus ≥ 126 ≥ 200 ≥ 200 (com sintomas clássicos)*** * O Jejum é definido como a falta de ingestão calórica por no mínimo 8 horas; ** Glicemia plasmática casual é aquela realizada a qualquer hora do dia, sem se observar o intervalo desde a última refeição *** Os sintomas clássicos de DM incluem poliúria, polidipsia e perda não explicada de peso. Nota: O diagnóstico de DM deve sempre ser confirmado pela repetição do teste em outro dia, a menos que haja hiperglicemia inequívoca com descompensação metabólica aguda ou sintomas óbvios de DM. Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes, 2006. Os entrevistadores foram orientados a ler sempre as questões, ao invés de formulá-las a sua própria maneira, para garantir a uniformidade das perguntas. Em caso de filho adotado foi também preenchido um questionário. Cada filho gêmeo e cada criança de mães que moravam na mesma casa também tiveram um questionário preenchido. Se o entrevistador não tivesse certeza de que a resposta fornecida se encaixa em uma das opções constantes no questionário, ele foi orientado para escrever a resposta por extenso na margem e depois tirar a dúvida com o supervisor, ao invés de forçar uma resposta. Os dados foram anotados por escrito ou marcados com um “x” e ao final foram codificados pelo entrevistador em quadrados à direita no próprio questionário. Exame Antropométrico Após a aplicação do questionário, foi realizado o exame antropométrico no domicílio, onde se aferiu o peso e o comprimento ou altura das crianças e dos adultos entrevistados. O comprimento foi obtido para crianças de até 2 anos e a altura medida nas demais. Para medida do comprimento foram utilizados antropômetros. Para medida da altura foi utilizado um infantômetro. A criança foi medida e pesada sem roupas. No processamento de dados foi diminuído 1 cm do comprimento de cada criança para que elas pudessem ser comparáveis, pois o comprimento da criança é cerca de 1 cm maior que sua altura. Para o estudo antropométrico dos adultos foram realizadas medições de peso, altura e da circunferência abdominal na altura da cicatriz umbilical. O peso foi medido em quilogramas e aferido em balanças digitais portáteis do tipo “Eletronic Scale 890”, em local plano. A estatura foi obtida com as pessoas em posição ortostática, descalças com as pernas e calcanhares juntos, os braços ao longo do corpo e o olhar para frente, sem hiperextensão da coluna. Foi utilizada para mensuração da altura fita métrica com marcações em milímetros, afixada em uma superfície plana, em ângulo de 90º com o chão. Com base nestes dois parâmetros (peso e altura), foi determinado o Índice de Massa Corporal (IMC) ou Quetelet (P/A2). O estado nutricional foi classificado segundo os critérios preconizados pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (ABESO), ou seja, abaixo do peso (IMC abaixo de 18,5), peso normal (IMC 18,5 a 24,9), sobrepeso (IMC de 25 a 29,9), obesidade grau I (IMC 30 a 34,9), obesidade grau II (IMC de 35 a 39,9) e obesidade grau III (IMC de 40 ou mais). A medida da circunferência da cintura tem mostrado ser suficiente para estabelecer riscos, sendo considerada limites normais para 29 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO homens menos que 95 cm e para mulheres menos que 80 cm. O risco de existir pelo menos um fator clássico de risco coronariano aumenta substancialmente quando a medida ultrapassa nos homens 104 cm e nas mulheres 88 cm. Para avaliação da prevalência da desnutrição infantil foi utilizado o padrão WHO (2006), e aferidas as relações peso/idade, peso/ altura e altura/idade. Seleção e capacitação de entrevistadores A equipe de coleta de dados foi selecionada a partir de uma composição básica definida pelo tempo disponível para realização da coleta de dados, de forma que essa coleta ocorresse seqüencialmente e no menor tempo possível. Assim, cada equipe era composta por quatro pesquisadores, sendo um pesquisador-supervisor, com experiência comprovada em trabalho de pesquisa de campo e três alunos de cursos de graduação na área da saúde - medicina, enfermagem e nutrição - respondendo aos critérios pedagógicos do Núcleo de Pesquisa em Saúde Coletiva da UFMA. Alguns alunos eram bolsistas de iniciação científica da UFMA/FAPEMA. Os Secretários Municipais de Saúde dos municípios envolvidos foram informados sobre a realização do estudo e forneceram apoio logístico para a equipe de pesquisadores. Nesse processo contamos com a colaboração dos técnicos da Secretaria de Estado da Saúde. A partir desse contato inicial foi feito levantamento da existência de equipes de Saúde da Família nos locais sorteados para visita de modo a envolver o agente comunitário de saúde da área em questão na visita domiciliar de coleta de dados. Foi realizada capacitação, com duração de uma semana, de toda a equipe para a aplicação dos questionários e realização do exame antropométrico, assim como para a apresentação da pesquisa e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. 30 vistadores e dos supervisores, sendo que cada equipe dispunha de um docente responsável pelo acompanhamento. O piloto abrangeu desde o deslocamento até a área, a maneira de localizar o setor censitário, o sorteio do ponto inicial dentro do setor, a locomoção dentro da área e localização de domicílios, a identificação dos residentes nos domicílios e a seleção daqueles na faixa etária desejada, teste dos procedimentos a serem adotados em caso de casa fechada, recusa ou ausência dos moradores, a apresentação do entrevistador à família, a aplicação dos questionários, os exames e as mensurações, até a codificação dos questionários. Logística A equipe foi dividida em grupos de quatro pessoas, sendo três estudantes de graduação e um supervisor-pesquisador responsável pelo grupo. Os entrevistadores utilizaram mapas ou croquis dos setores como guia. Uma carta timbrada das instituições promotoras da pesquisa (UFMA/SES) serviu de identificação na apresentação. Cada entrevistador portou um crachá de identificação e era acompanhado pela Agente Comunitária da área, nos casos em que havia Programa de Saúde da Família no território. No mês de outubro de 2006 foi realizada a coleta de dados do primeiro município, São José de Ribamar, e logo em seguida, as equipes foram deslocadas para realizar a coleta nos municípios de Caxias, Codó, Imperatriz e Timon. A coleta de dados do município de São Luís envolveu toda a equipe e foi a última a ser finalizada, o que ocorreu no mês de fevereiro de 2007. Simultaneamente foi realizada a codificação de todos os questionários. A digitação dos dados em banco especifico, foi realizada por dois digitadores em tempos distintos. Iniciada em agosto de 2007, finalizou em dezembro do mesmo ano. Estudo Piloto Aspectos Éticos Foi realizado o estudo piloto abrangendo todas as etapas da pesquisa em quatro bairros de São Luís com a presença de todos os entre- O projeto atendeu aos critérios da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e suas complementares. Os entrevistados foram ATENÇÃO À SAÚDE NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULAÇÃO DO MARANHÃO: OS CAMINHOS PERCORRIDOS convidados a participar da pesquisa. Ao concordarem assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foi facultada a desistência sem qualquer prejuízo para o entrevistado e sua família. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão, conforme parecer CEP 275/06 Processamento de Dados e Análise A codificação dos questionários foi realizada pelo entrevistador no final do dia e verificada pelos supervisores de campo. O coordenador da pesquisa fez nova revisão final. A digitação foi realizada em duas cópias, realizando-se depois comparação das duas digitações para correção de erros. Os dados foram processados no Núcleo de Informática Biomédica da UFMA NIB-UFMA com a participação dos bolsistas de Iniciação Científica. A digitação e o processamento de dados foram realizados utilizando-se o programa EPI-INFO do CDC-Atlanta-EUA (DEAN, DEAN et al. 1991). A análise estatística incluiu cálculo de prevalências, e elaboração de tabelas de distribuição utilizando-se o pacote estatístico Stata 7,0 (BOSTON, SUMNER, 2003) e Epi Info (DEAN, DEAN et al. 1991). Os resultados dessas análises estão apresentados em cinco blocos distintos: Caracterização socioeconômica das famílias; Situação de saúde de menores de cinco anos; Situação de saúde dos adultos; Situação de saúde das mulheres em idade fértil e Situação de Saúde Bucal de adultos e crianças. REFERÊNCIAS BOSTON, R C ; SUMNER A E. STATA: a statistical analysis system for examining biomedical data. Adv Exp Med Biol 2003;537: 353-69. DEAN, A G; DEAN, J A et al. Epi Info: a general-purpose microcomputer program for public health information systems. Am J Prev Med 1991;7(3): 178-82. LOMBARDI, C; BRONFMAN, M et al. Operationalization of the concept of social class in epidemiologic studies. Rev Saude Publica 1988;22(4): 253-65. MONTEIRO, C A. Saúde e Nutrição das crianças de São Paulo: diagnóstico, contrastes sociais e tendências. São Paulo, Hucitec/Edusp. 1988. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial. Arq. Bras. Cardiol. 2007;89. SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Consenso brasileiro sobre diabetes 2002: diagnóstico e classificação do diabetes melito e tratamento do diabetes melito do tipo 2. Rio de Janeiro, Diagraphic. 2003 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Child Growth Standards: Length/Height-for-age, Weight-for-age, Weight-for-length, Weight-for-height and Body Mass Index-for age: methods and development Geneve: World Health Organization. 2006. 332 p. (Nonserial Publication ) 31 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO 32 CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA DAS FAMÍLIAS PESQUISADAS NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO Capitulo 3 CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA DAS FAMÍLIAS PESQUISADAS NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO Valéria Ferreira Santos de Almada Lima Maria Virgínia Moreira Guilhon Salviana de Maria Pastor Santos Sousa Raimundo Antonio da Silva 1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO A amostra para a realização desta pesquisa foi de 1.280 domicílios, distribuídos entre os municípios maranhenses com mais de 100.000 habitantes, integrantes do PROESF, conforme consta na tabela seguinte. talidade dos domicílios (1.257) está situada na área urbana, restando apenas 23 unidades domiciliares (1,8%) concentradas no meio rural. No que tange às características dos domicílios, o primeiro indicador considerado foi o número de moradores. Constatou-se, neste particular, que as unidades domiciliares tinham Tabela 1 – Domicílios por município, área rural e urbana e número de moradores nos seis municípios mais populosos do Maranhão, 2006-2007. VARIÁVEIS f % São Luís 769 60,1 São José de Ribamar 79 6,2 Caxias 71 5,5 Codó 76 5,9 Timon 107 8,4 Imperatriz 178 13,9 1257 98,2 23 1,8 1a3 338 26,4 4a6 720 56,3 7 a 10 184 14,4 10 e mais 38 2,9 TOTAL 1.280 100,0 MUNICÍPIO ÁREA Urbana Rural NÚMERO DE MORADORES São Luís, por ser a capital e a cidade mais populosa do Estado abriga, evidentemente, a maioria dos domicílios visitados, sendo seguido por Imperatriz (segundo maior município maranhense), Timon, São José de Ribamar, Codó e Caxias. Como pode ser observado, a quase to- entre um e quatorze moradores sendo que a maior quantidade delas abrigava quatro pessoas (26,3%), seguidas das que tinham cinco, três e seis moradores, nesta ordem. Estes dados permitem concluir ainda que, em média, os domicílios possuem 4,8 residentes. 33 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO 2. DADOS DEMOGRÁFICOS E SOCIAIS ções). Em segundo lugar, com participação bastante significativa, aparecem os trabalhadores manuais semi-especializados (mecânicos, eletricistas, montadores, soldadores, motoristas, pedreiros, pintores, encanadores, padeiros, dentre outros). Estão fora da população economicamente ativa 7,9%, incluindo-se dentre estes donas de casa e pensionistas. Os desocupados representam parcela desprezível dos chefes de domicílio da amostra. Em termos de situação conjugal, destacam-se os chefes de domicílio casados, com um percentual importante (37,1%), seguidos dos Quanto ao sexo do chefe de domicílio, 67,2% são homens. Portanto, as famílias chefiadas por mulheres, embora representem parcela não desprezível (32,8%), ainda são minoritárias na amostra pesquisada. No tocante à idade dos chefes de domicílio, as faixas de maior freqüência são, em ordem decrescente, as de 25 a 29, de 30 a 34 e de 35 a 39 anos, sendo que, em média, eles têm 38,2 anos. Chama a atenção a ocorrência de famílias chefiadas por pessoas menores de 16 anos, Tabela 02 – Domicílios segundo a faixa etária do chefe de família nos seis municípios mais populosos do Maranhão, 2006-2007. IDADE DO CHEFE f % 0 a 14 4 0,3 15 a19 13 1,0 20 a 24 104 8,1 25 a 29 188 14,8 30 a 34 172 13,5 35 a 39 149 11,6 40 a 44 131 10,2 45 a 49 131 10,2 50 a 54 127 9,9 55 a 59 84 6,6 60 a 64 62 4,8 65 a 69 46 3,6 70 a 74 29 2,3 75 ou mais 40 3,1 TOTAL 1.280 100,0 apesar de em número pouco expressivo. Este fato decorre de terem sido considerados chefes de domicílio aqueles que auferem maior renda, sendo este o caso de algumas crianças que recebem benefícios ou pensão do Estado. Quanto à ocupação, verifica-se uma grande concentração de chefes de domicílio atuando como trabalhadores manuais não-qualificados (lixeiros, serventes, empregados domésticos, estivadores, pescadores, vendedores ambulantes e outras atividades, segundo o código de ocupa34 que estão morando juntos (33,5%). Os solteiros têm participação de apenas 13,8%. Em relação à cor da pele, a grande maioria dos chefes de domicílio se classifica como parda, em conformidade com o perfil da população maranhense. Em segundo lugar, estão os brancos (24,5%) e em terceiro os pretos (10,2%). Os amarelos e indígenas têm participação irrelevante na amostra pesquisada. No que se refere à renda familiar, a parcela mais significativa dos domicílios visitados CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA DAS FAMÍLIAS PESQUISADAS NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO Tabela 03 – domicílios segundo a ocupação, situação conjugal e cor da pele do chefe da família nos seis municípios mais populosos do Maranhão, 2006-2007. CARACTERISTICAS DO CHEFE DO DOMICILIO OCUPAÇÃO Desocupados Proprietários Administradores, gerentes, diretores Profissionais de nível superior (não administradores e gerentes) Funções de escritório Trabalhadores manuais especializados (técnicos) Trabalhadores manuais semi-especializados Trabalhadores manuais não qualificados Fora da População Economicamente Ativa (PEA) Ignorado SITUAÇÃO CONJUGAL Com companheiro Sem companheiro Ignorado COR DA PELE Branca Preta Parda Amarela Indígena Não sabem TOTAL se situa na faixa de mais de um a dois salários mínimos, seguidos dos que auferem até um salário mínimo. Somados os números de domicílios nestas duas faixas de rendimento, eles representam 54% do total da amostra com uma renda familiar de no máximo dois salários mínimos mensas. f % 15 42 20 87 109 86 362 445 101 13 1,1 3,3 1,6 6,8 8,5 6,7 28,3 34,8 7,9 1,0 904 372 4 70,6 29,1 0,3 314 131 823 3 3 6 24,5 10,2 64,4 0,2 0,2 0,5 1.280 100,0 Considerando-se a posse de bens como forma de estimar o poder de compra das famílias pesquisadas e tomando-se como referência o Critério de Classificação Econômica Brasil os domicílios foram classificados em classes econômicas, conforme demonstrado na tabela 05 a seguir. Observa-se que a grande maioria das Tabela 04 – Domicílios segundo a faixa de renda familiar nos seis municípios mais populosos do Maranhão, 2006-2007. FAIXAS DE RENDA FAMILIAR (em salário-mínimo) f % Até 1 320 25,0 Mais de 1 a 2 370 28,9 Mais de 2 a 3 199 15,6 Mais de 3 a 5 171 13,4 Mais de 5 a 10 135 10,6 Mais de 10 a 20 49 3,7 Mais de 20 18 1,4 Ignorado 18 1,4 TOTAL 1.280 100,0 35 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO famílias pertence às classes D ou C, em conformidade com o perfil da sociedade brasileira, sendo que, no Brasil, a classe C tem maior peso (ABEP, 2008), enquanto na amostra pesquisada predominam as famílias classificadas na classe D, penúltima em termos de poder de compra. Chama a atenção ainda quantidade significativa de domicílios visitados em que a posse de bens revela um baixíssimo poder de compra, que os situa na classe E, segundo o Critério de Classificação Econômica Brasil. O tipo de habitação, se associado a outros indicadores sócio-econômicos, é considerado uma importante referência para mensurar as condições de vida e saúde de população de um determinado território. Os resultados da pesquisa expressos na tabela nº 6 indicam que a maioria dos domicílios da amostra são de tijolo, de madeira, de taipa ou mista ( tijolo e taipa), materiais de construção considerados adequados para a edificação de moradias de qualidade boa ou regular. Verificou-se também que um número menor de habitações é construído em pau-a-pique. Essa situação positiva da maioria dos domicílios pode ser reafirmada por meio dos dados apurados sobre as formas de coleta de lixo, de abastecimento de água e de o escoamento de dejetos (tabela 06 - pag 34). A análise desse indicador, expresso na tabela acima, de fato confirma a situação positiva apontada na tabela anterior para o conjunto dos domicílios participantes da amostra. De fato, em relação ao destino dado ao lixo, a pesquisa demonstra que a grande maioria das moradias é beneficiada pelo serviço público de coleta, seguida dos que fazem a queima, embora ainda haja um percentual menor de habitações cujo lixo é jogado em terreno baldio ou na maré. Em relação ao indicador destino dos dejetos, verifica-se que, embora ainda sejam utilizadas as opções fossa negra, vala, maré e mato como destinos finais dados aos dejetos, o escoamento feito pelos domicílios participantes da amostra se dá, predominantemente, através da rede coletora pública e da fossa séptica, dados que expressam um avanço das práticas preventivas nesses municípios. No que diz respeito ao abastecimento de água, os dados expressos na tabela nº 06 demonstram que a grande maioria dos domicílios pesquisados utiliza a rede pública com água encanada para abastecimento diário, seguida de poço artesiano. Nesse sentido, as opções poço, cacimba e chafariz ,embora apareçam, são utilizadas por um percentual bem menor dos participantes. Constata-se que nos resultados da pesquisa não aparece indicações para as alternativas “rio, riacho e lagoa” como fontes de coleta de água. Analisando-se os dados coletados, em relação aos seis municípios do PROESF em que se desenvolveu a pesquisa, verifica-se uma situação relativamente favorável. Tal situação pode indicar que neles tem havido um investimento relativo do setor público em equipamentos so- Tabela 05 – Domicílios segundo a classe econômica das famílias dos seis municípios mais populosos do Maranhão, 2006-2007. CLASSE ECONÔMICA DA FAMÍLIA 36 f % A2 2 0,2 B1 23 1,7 B2 57 4,5 C 309 24,1 D 670 52,3 E 217 17,0 Ignorado 2 0,2 TOTAL 1.280 100,0 CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA DAS FAMÍLIAS PESQUISADAS NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO Tabela 06 – Domicílios segundo o tipo de moradia, destino do lixo, destino dos dejetos e forma de abastecimento de água nos seis municípios mais populosos doMaranhão, 2006-2007. VARIÁVEIS TIPO DE CASA Tijolo Taipa Mista (tijolo e taipa) Madeira Pau-a-pique Outro COLETA DE LIXO Coleta pública Terreno baldio Queimado Maré Outro ESCOAMENTO DOS DEJETOS Rede de esgotos Fossa séptica Fossa negra Vala Mato Maré Outro Não sabe FORMA DE ABASTECIMENTO Encanada Poço artesiano Poço comum, cacimba Chafariz Outro TOTAL ciais, como sistema de coleta de lixo, de dejetos e de encanamento de água. Também pode apontar certa disseminação de uma concepção ampliada de saúde. É importante salientar, porém, que embora no seu conjunto a situação seja favorável, os dados indicam que mesmo nesses municípios ainda se verifica um grande número domicílios que expressam situação de precariedade, o que, sem dúvida, se reflete nas demandas para o serviço de atenção médico-hospitalar. Em relação aos benefícios governamentais de transferência de renda, verificou-se que 27,0% das famílias entrevistadas têm acesso a f % 1.170 63 21 23 02 01 91,4 4,9 1,6 1,8 0,2 0,1 1.206 18 43 11 02 94,2 1,4 3,5 0,8 0,1 585 515 125 11 14 16 8 6 45,7 40,2 9,8 0,9 1,1 1,3 0,6 0,4 1.133 122 11 02 12 1.280 88,5 9,4 0,9 0,2 1,0 100,0 algum programa dessa natureza. Fazendo-se uma comparação, esse percentual é superior aos 18,3% de domicílios que em âmbito nacional são beneficiados por esse tipo de política, mas inferior ao registrado para o Nordeste como um todo, que é de 35,9% em 2006, segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio), divulgada em março de 2008. De fato, o Nordeste e também a região Norte, são as regiões do país que recebem a maior parte dos recursos desses programas, especialmente os estados de Roraima, Maranhão e Piauí, de acordo com essa mesma pesquisa, obedecendo aos critérios de focalização sobre os grupos fa37 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO miliares com rendimentos mais baixos. Dentre os programas acessados, o Bolsa Família (PBF), coerentemente com o que ocorre no restante do país, é o que alcança a maior parcela de moradias, correspondendo, na população pesquisada, a 22,8%. Esse, inclusive, é um percentual mais elevado do que aquele verificado em âmbito nacional, no qual apenas 14,9% do total das moradias beneficiadas por algum programa de transferência de renda são atendidas pelo PBF (BRASIL, 2008). Embora este estudo não contemple pessoas acima de 60 anos, chama atenção, contudo, o baixo percentual de famílias (somente 0,3%) que recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC), enquanto esse percentual para o total do país é de 2,2% dos idosos e pessoas portadoras de deficiência (BRASIL, 2006), conforme pode se ver na tabela abaixo. O Programa Saúde da Família passou a se constituir numa estratégia estruturante dos sistemas municipais de saúde no sentido de reorientação do modelo assistencial e de adoção de nova dinâmica de organização dos serviços e ações de saúde. O modelo preconiza uma equipe de saúde da família de caráter multiprofissional (médico generalista, enfermeiro, auxiliar de enfermagem e agente comunitário de saúde) que trabalha com definição de território de abrangência, adscrição de clientela, cadastramento e acompanhamento da população residente na área. No caso da população pesquisada, verificou-se, quanto ao cadastramento, que mais da metade dos entrevistados não havia sido incluída no Programa, enquanto apenas 48,4% haviam sido cadastradas, indicando que as áreas de residência dos entrevistados não têm sido alcança- Tabela 07 – Domicílios nos seis municípios mais populosos do Maranhão, de acordo com tipo de benefício recebido, 2006-2007. TIPO DE BENEFÍCIO f % PETI 6 0,5 BPC 4 0,3 Previdência Social Rural 1 0,1 Agente Jovem 1 0,1 Bolsa Família 293 22,8 Outro 41 3,2 Não tem 932 72,8 Não sabe 2 0,2 TOTAL 1.280 100,0 das por essa estratégia. Quanto à realização de visitas domiciliares pelos profissionais da equipe de saúde da família, destaca-se, em primeiro lugar, que foi alta a proporção daqueles para quem “a pergunta não se aplicava” (mais de 40% em todos os casos), o que deve ter relação com o fato de grande parte dos entrevistados não ter sido cadastrada no Programa, conforme Tabela 08. Em seguida, verifica-se que entre os cadastrados a resposta “nenhuma visita” foi mais 38 apontada, mesmo para o agente comunitário (27,0% das respostas) para quem esta é a principal atividade. A resposta “uma visita” foi dada por 21,6% dos entrevistados, no caso do agente comunitário, mas foi irrelevante no do enfermeiro (0,9%) e do auxiliar de enfermagem (0,8), ficando em 1,2% no caso do médico. As respostas apontando “duas”, “três”, “quatro” e “cinco visitas” também registraram baixos percentuais, conforme pode ser visualizado na tabela abaixo (pag 36). CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA DAS FAMÍLIAS PESQUISADAS NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO Tabela 08 – Visitas dos profissionais de saúde recebidas no domicílio nos seis municípios mais populosos do Maranhão, 2006-2007. VISITAS RECEBIDAS Sim Não Não sabe ACS Nenhuma Uma Duas Três Quatro Cinco Não se aplica Não sabe MÉDICAS Nenhuma Uma Duas Quatro Não se aplica Não sabe ENFERMEIROS Nenhuma Uma Duas Quatro Não se aplica Não sabe AUXILIAR DE ENFERMAGEM Nenhuma Uma Quatro Não se aplica Não sabe TOTAL REFERÊNCIAS ABEP. Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. Critério de Classificação Econômica Brasil. 2008 disponivel no endereço eletrônico www. abep.org/codigosguias/Criterio_Brasil_2008_pdf f 619 655 6 % 48,4 51,2 0,4 345 277 54 11 12 2 566 13 27,0 21,6 4,2 0,9 0,9 0,2 44,2 1,0 685 15 1 1 567 11 53,4 1,2 0,1 0,1 44,3 0,9 289 11 1 2 566 11 53,7 0,9 0,1 0,2 44,2 0,9 690 10 1 568 11 1.280 53,9 0,8 0,1 44,3 0,9 100,0 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento social e combate à fome. Bolsa Família: relatórios e estatísticas. 2008. Disponível em http://www.mds. gov.br/bolsafamilia/menu_superior/relatorios_e_estatisticas BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Pesquisa nacional por amostra de domicílios Suplemento do Programa Social - PNAD 2006 disponivel em http://www.ibge.gov. br/estatistica (acessado em 18/Set/2007). 39 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO 40 SITUAÇÃO DE SAÚDE DA CRIANÇA NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO Capítulo 4 SITUAÇÃO DE SAÚDE DA CRIANÇA NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO Antônio Augusto Moura da Silva Cristiane de Jesus Nunes dos Santos Deysianne Costa das Chagas Francilene Batista Madeira Juliana Dallas Martha Rodriguez Luciana Mendes de Carvalho Maria Letícia Vale Figueiredo Nathalia Almeida Cardoso da Silva Paula Figueiredo da Silva Rafaela David Brito Thaís de Sousa Pereira Valdinar Sousa Ribeiro Viviane Portela Ramos 1. CARACTERÍSTICAS SÓCIO-DEMOGRÁFICAS O perfil sócio-demográfico de crianças até cinco anos, suas mães e famílias é indicador importante para análise da saúde de uma população. As profundas transformações históricas e sociais que a sociedade brasileira vem atravessando ao longo das décadas têm levado a profundas mudanças no quadro epidemiológico, na produção e distribuição social dos problemas de saúde (BRASIL, OPAS, 2006) Estudos mostram relação entre baixo peso ao nascer e sexo feminino, prematuridade, mãe adolescente, mãe idosa e paridade materna (COSTA, GOTLIEB, 1998). Maior risco relativo para baixo peso e/ou pré-termo esteve associado a mães com menos de 20 ou mais de 34 anos, não-casadas, com zero a sete anos de estudo, gestando o primeiro ou quarto e mais filhos (KILSZTAJN, ROSSBACH et al., 2003). Famílias numerosas apresentam maior tendência a possuir níveis mais elevados de prevalência de desnutrição e de taxa de mortalidade (FERRAZ, GRAY et al., 1988; FERRAZ, BERTOLUCCI et al., 1988; BEMFAM, 1996) Nesta pesquisa foram analisados os dados das mães com filhos menores que cinco anos residentes em São Luís e nos cinco municípios mais populosos do Maranhão (São José de Ribamar, Imperatriz, Caxias, Codó e Timon) no período de 2006 a 2007. Participaram da Tabela 1 - Condições sócio-demográficas de mães e menores de cinco anos nos seis municípios mais populosos do Maranhão, 2006/07*. VARIÁVEIS MUNICÍPIO São Luis S.J.Ribamar Caxias Codó Timon Imperatriz IDADE DA MÃE <20 20-24 25-29 30-34 35-39 40+ SEXO DA CRIANÇA Masculino Feminino IDADE DA CRIANÇA 0 a 11 meses 12 a 23 meses 24 a 35 meses 36 a 47 meses 48 a 59 meses COR DA CRIANÇA Branca Preta Parda Amarelo NÚMERO DE CRIANÇAS 0a2 3 a 12 N° DE FILHOS < 5 ANOS 0a2 3+ n % 706 72 84 73 95 184 58,2 5,9 6,9 6,0 7,8 15,2 122 440 303 195 89 65 10,0 36,2 25,0 16,1 7,3 5,4 619 595 51,0 49,0 275 215 240 258 226 22,7 17,7 19,8 21,2 18,6 328 49 822 7 27,2 4,0 68,3 0,5 995 219 82,0 18,0 1.118 96 92,1 7,9 *Os totais para cada variável podem diferir devido a dados ignorados. 41 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO pesquisa 1.214 crianças cujas mães responderam um questionário sobre seus dados e das crianças. A tabela 1 demonstra as características sócio-demográficas. Observa-se predomínio de crianças na cidade de São Luís (58,2%) em relação às outras quatro cidades, seguida por Imperatriz (15,2%), Timon (7,8%), Caxias (6,9%), São José de Ribamar (5,9%) e Codó (6,0%). A maioria das mães era da faixa etária de 20 a 24 anos (36,2%). Mães com idade menor que 20 anos (10,0%) e 40 anos ou mais (5,4%) foram menos freqüentes. Em relação à idade e ao sexo das crianças, não houve muita diferença considerando-se cada faixa etária. Crianças com até dois irmãos constituíram 82,0% do total e mães com até dois filhos menores de cinco anos, 92,1%. Em 1997 a freqüência de mães adolescentes era maior (13,5%) e era menor a de mães com 40 anos ou mais (4,8%) (SILVA, ALVES, 1997). Tal diferença pode ser explicada pelas diferentes características das cidades pesquisadas, pois em 1997 o estudo abrangeu uma amostra representativa de todas as cidades do estado e não somente as com mais de 100 mil habitantes. Os resultados mostram as mudanças que vem ocorrendo no perfil sócio-demográfico, como a diminuição da parcela de mães adolescentes (apesar de ainda existir uma alta incidência) e um aumento de mães acima dos 40 anos. 2. PREVALÊNCIA DE DIARRÉIA A prevalência de diarréia referida no momento da entrevista foi de 6,7%. Se considerarmos o relato de diarréia nas duas últimas semanas anteriores à entrevista, a prevalência foi estimada em 11,4%. A taxa de internação por diarréia em menores de cinco anos nos três meses anteriores foi estimada em 2,1%. Em estudo realizado no Estado do Maranhão, em 1996, sobre saúde, nutrição e mortalidade infantil, Ribeiro e Aragão (1997) analisaram um total de 1.290 crianças menores de cinco anos em 20 municípios, mostrando que a prevalência de diarréia no dia da entrevista era de 8,1%. A atual pesquisa mostrou decréscimo desse indicador, provavelmente devido ao fato de o estudo atual ter ocorrido apenas nos seis municípios com mais de cem mil habitantes, onde a população tem acesso a melhores condições de saneamento e serviços de saúde. Quando comparada a prevalência de diarréia nas últimas duas semanas em 1996 e 2006 a diferença foi mais evidente, passando de 16,1% para 11,4%. Essa prevalência mostrouse mais elevada do que a estimada para o Brasil em 2006 pela PNDS, onde 9,4% das crianças apresentaram diarréia nas duas últimas semanas antes da entrevista (BRASIL, 2008). Tabela 2 – Prevalência de diarréia em menores de cinco anos nos seis municípios mais populosos do Maranhão, 2006/2007 MORBIDADE REFERIDA n % Sim 81 6,7 Não 1132 93,2 1 0,1 DIARRÉIA NO DIA Ignorado DIARRÉIA NAS 2 SEM ANTERIORES Sim 138 11,4 Não 1069 88,1 7 0,5 Sim 26 2,1 Não 1183 97,4 Ignorado 5 0,4 TOTAL 1214 100,0 Ignorado INTERNADO POR DIARRÉIA 42 SITUAÇÃO DE SAÚDE DA CRIANÇA NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO 3. INFECÇÃO RESPIRATÓRIA AGUDA As infecções respiratórias agudas (IRA) representam doenças de diversas etiologias e grau de complexidade que atingem crianças nos diferentes períodos do ano. São problemas respiratórios que acometem crianças, principalmente nos primeiros cinco anos de vida pela suscetibilidade e imaturidade do trato respiratório nessa faixa etária. Constituem uma das principais causas de morbi-mortalidade em todo o mundo (MONTEIRO, SILVA et al., 2006). Há uma multiplicidade de expressão das infecções respiratórias que podem apresentarse como: resfriado comum, otite média aguda, amigdalite, pneumonia, entre outras. Assim, fez-se necessário definir previamente o tipo de IRA que se pretendia avaliar, para melhor escolha do método a ser utilizado no inquérito. Optou-se por seguir as categorias empregadas em estudos prévios, que consideram IRA moderada como a presença de tosse e febre e IRA grave como tosse, febre e respiração difícil sem obstrução nasal. A forma selecionada para investigar a prevalência de IRA moderada ou grave foi a de questionar, em primeiro lugar, se a criança teve tosse na última semana e, em caso afirmativo, se havia febre e/ou respiração difícil na ausência de obstrução nasal (RIBEIRO, ARAGÃO, 1997). A prevalência de tosse encontrada foi de 42,3%, febre de 23,0%, respiração difícil de 18,3% e congestão nasal de 31,1%. A de IRA moderada foi de 15,9% e IRA grave de 0,7%. No Estado do Maranhão, em 1996, a prevalência de tosse era de 55,1%, a de IRA moderada de 27,1% e IRA grave 2,1%. Apesar de o inquérito atual ter envolvido na sua amostragem apenas os municípios com mais de 100 mil habitantes, pode-se inferir que provavelmente houve queda na prevalência desses índices em relação ao estudo realizado no ano de 1996, apontando para um melhor controle das infecções respiratórias em menores de cinco anos. Tabela 3 - Sintomas respiratórios na semana anterior ao inquérito em menores de cinco anos nos seis municípios mais populosos do Maranhão, 2006/2007. MORBIDADE REFERIDA TOSSE Sim Não Febre Sim Não RESPIRAÇÃO DIFÍCIL Sim Não CONGESTÃO NASAL Sim Não IRA MODERADA IRA GRAVE n % 514 689 42,3 56,8 279 934 23,0 76,9 222 991 18,3 81,6 378 834 193 9 31,1 68,7 15,9 0,7 Nota: foram excluídos os ignorados 43 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO 4. HOSPITALIZAÇÃO TANO, BORDIN et al., 2002). Dentre as doenças relacionadas a cuidados ambulatoriais e/ou causas evitáveis de hospitalização figuram a diarréia, a pneumonia bacteriana, convulsões por epilepsia, asma e desnutrição (COHEN, MACWILLIAM, 1995; SILVA, GOMES et al., 1999; VANDERLEI, DA SILVA et al., 2003) Estudos mostram que mais de 40% das crianças menores de cinco anos internadas apresentavam doenças do aparelho respiratório com especial ênfase para a infecção respiratória aguda (CAETANO et al., 2002). Neste estudo realizado em 1.214 crianças, a taxa de hospitalização foi de 6,9%. Este valor foi bem menor do que o encontrado no estudo (16,7%) realizado no Maranhão em 1997. A internação por pneumonia representou 1,2% do total; problemas respiratórios, 1,3%; A hospitalização visa recuperar a saúde dos indivíduos. O estudo de internações em menores de cinco anos é parâmetro básico para o estabelecimento das necessidades de saúde desse grupo populacional. Alguns autores consideram as informações sobre taxas e causas de hospitalização como indicadores importantes na definição da qualidade de assistência oferecida e também indicadores indiretos da resolutividade ambulatorial (BOTELHO, CORREIA et al., 2003). Entre os fatores associados à hospitalização estão incluídos: baixo peso ao nascer, intercorrências neonatais, doença crônica, óbito de irmão menor de cinco anos, ser cuidado pela avó durante o dia, elevada densidade domiciliar e maior nível de escolaridade materna (CAE- Tabela 4 - Internação em menores de cinco anos nos seis municípios mais populosos do Maranhão, 2006/2007.* VARIÁVEIS HOSPITALIZAÇÃO Sim Não PNEUMONIA Sim Não PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS Sim Não DIARRÉIA Sim Não Outro Sim Não DIAS DE INTERNAÇÃO 1a5 6 a 10 11 a 20 21 a 30 LOCAL DE INTERNAÇÃO Setor pub. SUS Plano de saúde particular n % 84 1130 6,9 93,1 14 1.195 1,2 98,8 15 1.194 1,3 98,7 26 1.183 2,2 97,8 37 1.174 3,1 96,9 55 15 9 3 67,0 18,3 11,0 3,7 62 13 9 73,8 15,5 10,7 *Os totais para cada variável podem diferir devido a dados ignorados. 44 SITUAÇÃO DE SAÚDE DA CRIANÇA NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO diarréia, 2,2% e outras causas, 3,1%. No estudo realizado em 1997, diarréia (5,9%) e pneumonia (3,9%) foram as principais causas de internação. Estes resultados podem diferir devido à sazonalidade que aumenta ou diminuiu a prevalência de algumas morbidades em diferentes estações do ano. Além disso, existe uma limitação na comparação dos dois estudos, pois o estudo de 1997 foi realizado em amostra representativa do Maranhão, enquanto que este estudo foi realizado nas seis cidades mais populosas deste estado. A diarréia permaneceu com o mais alto percentual de internação mostrando ainda existência de falhas em políticas públicas de saúde e saneamento. O tempo de hospitalização foi predominantemente de 0 a 5 dias (67,0%) e local de internação foi preferencialmente no setor público do SUS (10,7%). No estudo de 97, a internação no setor público do SUS representou 75,5% do total. O pequeno período de internação mostra que a maioria das morbidades não evoluiu com complicações. O Setor Público permanece sendo o mais utilizado na procura de assistência hospitalar. 5. MORBIDADE O estudo da morbidade em crianças menores de cinco anos é parâmetro básico para o estabelecimento das necessidades de saúde desse grupo populacional. Pesquisas de morbidade são comuns nos países desenvolvidos. No entanto, o Brasil ainda possui poucos estudos nesta área. A morbidade no país, a partir da década de 1920, vem sendo avaliada de forma indireta, utilizando-se do perfil de morbidade referida (FONSECA, 2000). Avaliar a morbidade junto à população, por meio de questionários e entrevistas, significa incluir questões que não estão disponíveis nos sistemas nacionais de informações, como a percepção de saúde, comportamentos, fatores de risco, doenças, incapacidades, uso de serviços de saúde e características demográficas e socioeconômicas (THEME FILHA, 2008). Entretanto, os resultados desses inquéritos populacionais possuem difícil interpretação e uso limitado, devido à falta de padronização me- todológica e de rigor em sua aplicação (KILSZTAJN, ROSSBACH et al., 2003). Os dados do inquérito de morbidade referida devem considerar tais limitações. Nos últimos anos, observou-se uma mudança no perfil de morbimortalidade infantil em todo o Brasil. No período de 2002 a 2004, a mortalidade infantil diminuiu 7,44%. A redução da prevalência das doenças infecciosas, como a causada pelo Haemophilus influenzae tipo b e rotavírus; a redução da mortalidade por diarréia; a melhoria das condições nutricionais e de saúde têm sido fatores de extrema relevância na mudança deste perfil. Porém, vale ressaltar que o declínio da mortalidade infantil não ocorre de forma uniforme em todo o país, persistindo grandes diferenças inter-regionais. Dentre as 1.214 crianças que participaram da pesquisa, 59,0% apresentaram morbidade nos últimos três meses, sendo a gripe (50,8%) a principal causa da morbidade referida, seguida da diarréia (6,4%), infecção na garganta (5,5%) e outras causas. Nos últimos três meses, 66,2% das crianças que adoeceram procuraram consulta médica. Na pesquisa realizada no Maranhão em 1996, observou-se menor percentual de realização de consultas, 39,7%. Isto possivelmente se deve às melhores condições de acesso à saúde nos seis maiores municípios em 2006 (tabela pag 42). Apenas 17,0% dessas crianças possuíam seguro de saúde, sendo este percentual maior que em 1996 (4,5%). Em relação à categoria de atendimento, o setor público do SUS foi predominante (75,6%), seguido do seguro de saúde (15,7%). O setor contratado pelo SUS representou apenas 1,7% das consultas e o atendimento particular 6,5%. Em 1996 o atendimento pelo setor público representou 74,7%, o setor contratado pelo SUS 10,2%, seguro de saúde 3,7% e o atendimento particular 9,3%. Neste estudo, 904 (74,8%) crianças receberam algum medicamento no último mês, sendo a utilização desses medicamentos orientada principalmente por prescrição médica (63,2%). A automedicação representou 29,7%, o balconista da farmácia foi responsável por 4,7%, o enfermeiro por 0,8%, seguidas pela orientação do agente de saúde e benzedeira, ambos com 0,2%. No estudo de 1996, 68,3% receberam al45 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO Tabela 5 - Morbidade referida, consultas e consumo de medicamentos em menores de cinco anos nos seis municípios mais populosos do Maranhão 2006/2007.* VARIÁVEIS MORBIDADE REFERIDA NOS ÚLTIMOS 3 MESES Sim Não CAUSAS DE MORBIDADE REFERIDA Gripe Diarréia Infecção na garganta Febre Pneumonia Alergia Asma Virose Micose Furúnculose Verminose Gripe + Diarréia Gripe + Alergia Gripe + Otite Gripe + Vômito Tosse + Febre Diarréia + Vômito Diarréia + Vômito + Febre Diarréia + Febre Outras POSSE DE PLANO DE SAÚDE Sim Não CONSULTA MÉDICA NOS ÚLTIMOS 3 MESES Sim Não CATEGORIA DE ATENDIMENTO Setor público do SUS Setor contratado do SUS Plano de saúde Particular Outros MEDICAMENTO NO ÚLTIMO MÊS Sim Não PESSOA QUE INDICOU Médico Enfermeiro Balconista da farmácia Agente de saúde Benzedeira/Curandeira Automedicação Outro *Os totais para cada variável podem diferir devido a dados ignorados 46 n % 714 497 59,0 41,0 363 46 39 25 10 7 6 4 4 4 2 35 6 6 4 4 11 6 8 124 50,8 6,4 5,5 3,5 1,4 1,0 0,8 0,6 0,6 0,6 0,3 4,9 0,8 0,8 0,6 0,6 1,5 0,8 1,1 17,4 206 1007 17,0 83,0 500 255 66,2 33,8 384 9 80 33 4 75,3 1,7 15,7 6,5 0,8 904 304 74,8 25,2 569 7 42 2 2 267 11 63,2 0,8 4,7 0,2 0,2 29,7 1,2 SITUAÇÃO DE SAÚDE DA CRIANÇA NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO gum medicamento nos últimos quinze dias. A automedicação correspondeu a 40,2%, 32,4% foram orientados por prescrição médica, 9,8% pelo balconista da farmácia, 2,8% pelo agente de saúde e 1,3% por benzedeira/curandeira. Esta mudança nos valores pode ser resultado de um melhor acesso à saúde nos últimos 10 anos. 6. IMUNIZAÇÃO A vacinação de rotina é uma estratégia eficaz e de baixo custo, capaz de fornecer proteção individual específica contra doenças imunopreveníveis. Na coletividade, é ainda capaz de interromper a cadeia de transmissão de algumas dessas doenças, desde que a cobertura vacinal alcance níveis suficientes e homogêneos na população. Conhecer tais níveis permite avaliar a eficácia da estratégia em determinada localidade, além de otimizar o planejamento de intervenções (MORAES, 2003; BRASIL, 2007) A cobertura vacinal rotineiramente é estimada por meio de informações registradas nos boletins diários das salas de vacina dos estabelecimentos de saúde dividindo-se o número de doses aplicadas (1ª, 2ª, 3ª dose ou dose única, conforme a vacina) pela população alvo (por exemplo, população estimada de menores de 1 ano residentes no município) x 100 (BRASIL, 2008). Em recente nota, o Ministério da Saúde reconhece que tal metodologia está sujeita a importantes erros de registro, transcrição, estimativa da população alvo e outros. A escolha por utilização de inquérito domiciliar nesta pesquisa reduz erros, fornecendo dados mais fidedignos da situação local (BRASIL, 2007). Para estudo da cobertura vacinal, das 1.214 crianças que participaram da pesquisa, foram selecionadas aquelas com idade entre 12 e 59 meses (939 crianças). Desse total, excluíram-se duas crianças cujos responsáveis não sabiam se a criança tinha ou não cartão de vacinação, 15 crianças das quais o cartão de vacinação foi perdido e 164 crianças que, embora tivessem cartão de vacinação, este não foi visto pelo entrevistador. Dessa forma, a análise foi conduzida com 758 crianças, nas quais a situação vacinal pôde ser confirmada no cartão de vacinação. Adotar a faixa etária de 12 a 59 meses garantiu que, no momento da entrevista, todas as crianças já possuíssem idade suficiente para terem completado o calendário básico de vacinação até o primeiro ano de vida. Este consta de uma dose da vacina BCG (contra a tuberculose), três doses da vacina contra a hepatite B, três doses da vacina tetravalente, formada pela vacina tríplice bacteriana (DTP), contra difteria, coqueluche e tétano e pela vacina anti-Haemophilus influenzae tipo b (Hib), duas doses da Vacina Oral de Rotavírus Humano (VORH), três doses da vacina oral contra poliomelite (VOP) e uma dose da vacina tríplice viral (SRC), contra sarampo, caxumba e rubéola. As doses de reforço, por serem administradas após o primeiro ano de vida, não foram consideradas nesta análise (BRASIL, 2003; BRASIL, 2007). A VORH, por integrar o calendário nacional de imunização apenas a partir do ano de 2006, período em que a maior parte das crianças entrevistadas tinha idade acima do limite superior permitido para sua administração, não foi estudada. A vacina tetravalente (DTP+Hib) passou a integrar o calendário apenas no ano de 2002. Algumas crianças entrevistadas, por terem sido vacinadas previamente a essa data, receberam apenas a vacina tríplice bacteriana ou as duas vacinas de forma não combinada. No entanto, tal distinção não foi feita neste estudo, sendo apresentadas na tabela, no espaço atualmente correspondente à vacina tetravalente, as crianças que receberam apenas DTP ou DTP+Hib. Os dados apresentados na tabela 6 mostram que a meta estabelecida pelo Ministério da Saúde de vacinar 90% das crianças menores de cinco anos com BCG e DTP (BRASIL, 2003) foi alcançada para a BCG (98,9% de cobertura) mas não para a DTP (somente 86,7% das crianças completaram o esquema de três doses da vacina). Observa-se que a falha se encontra no recebimento da terceira dose, já que 94,3% das crianças receberam duas doses da vacina. Em relação à vacina oral contra poliomelite (VOP), vacina da hepatite B e vacina tríplice viral, a meta estabelecida é de 95% (BRASIL, 2003). Tal valor foi alcançado para VOP (95,5%), mas não para a hepatite B (92,4%). Mais uma 47 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO vez, observa-se falha no recebimento da terceira dose, dado que 97,4% das crianças receberam 2 doses dessa vacina. A maior inadequação, no entanto, foi observada para a vacina tríplice viral, recebida somente por 77,6% das crianças. Dados de um estudo realizado no estado do Maranhão, em 1996, em crianças da mesma faixa etária (12 a 59 meses) apontam que a vacina BCG foi recebida apenas por 44,9% das crianças, 32,6% delas receberam 3 doses da vacina tríplice bacteriana e 33,8% 3 doses da vacina oral contra poliomelite (valores confirmados no cartão de vacinação) (TONIAL, SILVA, 1997). Ainda que os resultados atuais sejam correspondentes apenas aos seis maiores municípios do estado, tais valores sugerem um avanço na cobertura vacinal das crianças maranhenses na última década, embora algumas metas ainda não tenham sido alcançadas. 7. ALEITAMENTO As vantagens da amamentação têm sido amplamente documentadas na literatura. O leite humano é o alimento ideal para o crescimento e desenvolvimento dos lactentes e confere proteção contra a desnutrição, diarréia, infecções respiratórias, enterocolite necrotizante e septicemia (em prematuros), diminuindo assim a mortalidade infantil (REGO, 2001). A OMS recomenda a prática da amamentação exclusiva por seis meses e a manutenção do aleitamento materno acrescido de alimentos até os dois anos de vida ou mais (BRASIL, 2005). A análise de dados das décadas de 70 e 80 mostrou que a duração do aleitamento materno, que era de 2,5 meses em 1975, passou para 5,5 meses em 1989 e para sete meses em 1996. As evidências favoráveis à prática da amamentação exclusiva ao seio também aumentaram desde a Tabela 6 - Esquema vacinal em menores de cinco anos nos seis municípios mais populosos do Maranhão 2006/2007. VARIÁVEIS BCG Sim Não HEPATITE B 1a dose 2a dose 3a dose Não recebeu VACINA ORAL CONTRA POLIOMIELITE 1a dose 2a dose 3a dose Não recebeu DTPa OU TETRAVALENTE (DTP +Hib)b 1a dose 2a dose 3a dose Não recebeu TRÍPLICE VIRAL (sarampo, rubéola e caxumba) Sim Não TOTAL n % 750 8 98,9 1,1 746 738 700 12 98,4 97,4 92,4 1,6 748 741 724 10 98,7 97,8 95,5 1,3 758 715 657 - 100,0 94,3 86,7 - 588 170 758 77,6 22,4 100,0 a DTP = vacina tríplice bacteriana (contra difteria, tétano e coqueluche). b Vacina tetravalente = vacina tríplice bacteriana + vacina anti-Haemophilus influenzae tipo b. 48 SITUAÇÃO DE SAÚDE DA CRIANÇA NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO década de 80. Entretanto, segundo resultados da Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde (PNDS), realizada em 1996, a prevalência da amamentação exclusiva em crianças menores de quatro meses de idade, estimada em 40%, ainda é muito baixa, distante de universalização dessa prática preconizada pela OMS e pelo Fundo das Nações Unidas para a infância (BRASIL et al., 1995). O estudo realizado no Estado do Maranhão em 1996 sobre saúde, nutrição e mortalidade infantil, que analisou um total de 1290 crianças menores de cinco anos em 20 municípios, mostrou que o percentual de aleitamento materno total no 1° mês de vida foi de 93,8% e aos seis meses de vida foi de 65,1% (Tonial e Silva, 1997). No atual estudo, no 1° mês de vida a prevalência da amamentação foi de 91,7% e aos seis meses esse percentual correspondeu a 70,8% (Tabela 7). Da- quelas crianças que já haviam parado de mamar, 62,0% estavam com 0 a 12 meses (Tabela 8). Quando se trata do aleitamento materno exclusivo (AME), a freqüência aos três meses de vida foi de 25,8% (Tabela7). No referido estudo de Tonial e Silva (1997), esse percentual foi de 28,2%. Das 1145 crianças que já haviam passado pelo aleitamento materno exclusivo, 27,0% teve duração do AME menor que três meses e 17,0% mais que seis meses (Tabela 8). A duração da amamentação tem como limitação o fato de estar sujeita a vieses recordatórios. Considerando que o presente estudo foi realizado nos seis municípios mais populosos do Maranhão, onde se espera que a população tenha acesso a melhores condições de saneamento e serviços de saúde, conclui-se, a partir dos dados aqui apresentados, que ainda há uma necessidade de reforçar o aleitamento materno; Tabela 7 - Aleitamento materno total e exclusivo em menores de 5 anos nso municípios mais populosos do Maranhão, 2006/2007. ALEITAMENTO TOTAL ALEITAMENTO EXCLUSIVO IDADE (meses) n % n % 1 22 91,7 11 45,8 2 24 96,0 6 24,0 3 27 87,1 8 25,8 4 23 92,0 6 24,0 5 17 94,4 2 11,1 6 17 70,8 0 - 7 17 85,0 0 - 8 13 65,0 0 - 9 9 50,0 0 - 10 13 81,3 0 - 11 20 71,4 0 - 12 14 77,8 0 - 15 13 59,1 0 - 18 5 33,3 0 - 21 7 58,3 0 - 24 9 42,9 0 - 36 4 25,0 0 - 48 1 5,0 0 - 49 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO Tabela 8 - Aleitamento materno em menores de cinco anos nos seis municípios mais populosos do Maranhão, 2006/2007. DURAÇÃO DO ALEITAMENTO MATERNO n % 0 a 12 505 62,2 13 a 24 237 29,2 25 a 48 70 8,6 <3 308 26,9 3-6 642 56,1 >6 195 17,0 ALEITAMENTO TOTAL (meses)* ALEITAMENTO EXCLUSIVO (meses)** * Foram consideradas apenas as crianças que já haviam parado de mamar e excluídas 9 respostas ignoradas. ** Foram excluídas 51 crianças que ainda mamavam exclusivamente e 18 respostas ignoradas. implementando ações de apoio e incentivo principalmente ao aleitamento materno exclusivo nos seis primeiros meses de vida. 8. ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL A atenção pré-natal de qualidade é de fundamental importância para a saúde materna e neonatal, pois se sabe que, quanto mais precoce o atendimento à gestante, maiores são as chances de redução dos riscos e complicações responsáveis pelas altas taxas de morbidade e mortalidade que ocorrem nesse período (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2006; ONIS, ONYANGO et al., 2007; BRASIL, 2008) Para um atendimento pré-natal de qualidade deve-se considerar a presença de cobertura adequada, com a captação precoce das gestantes, garantia de recursos humanos, físicos e materiais (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2006). A avaliação das medidas que visam à redução da morbidade e mortalidade materna e perinatal foi feita com base na cobertura do prénatal, no número de consultas realizadas durante a gravidez, no período de início das consultas e no número de doses da vacina antitetânica tomadas pela mulher. Foi avaliado também o peso da criança ao nascer. A Tabela 9 mostra que 97,3% das mulheres tiveram atendimento pré-natal e 82,1% realizaram cinco ou mais consultas com uma média de 6,5 consultas. Observou-se que 78,9% dos atendimentos se iniciaram no primeiro trimestre da gravidez. 50 Comparando-se estes dados com pesquisa semelhante realizada em todo o Maranhão em 1996, observou-se que a não realização de pré-natal em 2006/07 foi menor (2,7%) do que a obtida em 1996 (28,7%). Também a média de consultas de 3,7 em 1996 foi menor que a de 6,5 em 2006/7 e superior à média nacional que é de 5,5. O percentual de mães que iniciaram precocemente o pré-natal foi de 69,8% em 1996 e de 78,9% em 2006/7. Em relação aos dados nacionais de 2006, de acordo com a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS), 98,2% das mulheres tiveram atendimento pré-natal e 82,5% dos atendimentos iniciaram-se no primeiro trimestre da gestação. Esses dados apontam para o fato de que, embora a cobertura e a qualidade do prénatal tenham apresentado melhora os valores ainda são inferiores ao obtidos no nível nacional (BRASIL, 2008). Em relação à vacina antitetânica, 84,7% das mães ou já eram imunizadas ou receberam duas ou mais doses durante a gravidez. Esse percentual supera o encontrado no Maranhão em 1996 que era de 59,4%. Quanto à categoria de atendimento, o Sistema Único de Saúde – SUS - foi responsável por 83,5% dos atendimentos, sendo 83,1% no setor público e 0,4% no setor contratado. Apenas 6,5% dos atendimentos pré-natais foram particulares. No estudo no Maranhão em 1996 já referido, 90,4% dos atendimentos foram realizados pelo SUS, sendo 77,4% destes pelo setor público e 13% pelo setor contratado. SITUAÇÃO DE SAÚDE DA CRIANÇA NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO Um percentual de 8,2% dos atendimentos foi particular. Verificou-se que apenas 7,2% das crianças nasceram com peso menor que 2,5kg (baixo peso), sendo esse percentual inferior ao encontrado em 1996 (11,8%). Isso possivelmente se deve às melhores condições sócio-econômicas nos seis maiores municípios analisados em 2006, quando comparados com os dados coletados de todo o estado em 1996. Em relação à pessoa que atendeu ao pré-natal, 73,1% das mães afirmaram que foram atendidas pelo médico, 15,5% pelo médico e enfermeiro e 11,0% apenas pelo enfermeiro. A assistência à parturiente deve ser um acompanhamento atento e paciente do trabalho de parto que deve ser precedido de um acompanhamento não menos dedicado durante todos os meses que o antecedem. O Ministério da Saúde considera a necessidade de garantir o acesso à assistência ao parto nos Serviços de Saúde do SUS em sua plena universalidade. A assistência à gestante deve priorizar ações que visem à redução da mortalidade materna e perinatal, à necessidade de humanização da assistência à gravidez, ao parto e ao puerpério, no âmbito do SUS e a necessidade da melhoria de qualidade da assistência no pré- Tabela 9 - Condições do Pré-natal de mães de menores de cinco anos nos seis municípios mais populosos do Maranhão 2006/2007* VARIÁVEIS PESO AO NASCER Até 1500g 1500 a 2499g. 2500 a 2999g. Acima de 3000g NÚMERO DE CONSULTAS PRÉ-NATAL Não Fez 1a4 5 ou Mais PESSOA QUE ATENDEU AO PRÉ-NATAL Médico Enfermeiro Auxiliar de Enfermagem Médico e Enfermeiro LOCAL DO PRÉ-NATAL Setor Público do SUS Setor conveniado/Contratado do SUS Plano de Saúde Particular Outro MÊS DE INÍCIO DO PRÉ-NATAL 1-3 4-5 6+ DOSES DE VACINA ANTITETÂNICA Não Recebeu 1 2 3 Já Era Imunizada n % 9 79 235 891 0,7 6,5 19,4 73,4 33 184 997 2,7 15,2 82,1 825 124 5 174 73,1 11,0 0,4 15,5 951 4 113 75 1 83,1 0,4 9,9 6,5 0,1 907 158 85 78,9 13,7 7,4 31 139 150 499 291 2,8 12,5 13,5 45,0 26,2 *Os totais para cada variável podem diferir devido aos dados ignorados. 51 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO natal e no parto, objetivando a diminuição dos óbitos por causas evitáveis. Frente a todos esses desafios, a Portaria nº 985, de 5 de agosto de 1999, do Ministério da Saúde criou o Centro de Parto Normal - CPN, unidade de saúde para prestar atendimento humanizado e de qualidade exclusivamente ao apenas 47,1% dos partos foram realizados pelo médico, valor mais baixo que o aqui observado. Quanto ao tipo de parto, o vaginal correspondeu a 62,1%, a cesárea foi de 37,6%, maior que na pesquisa de 1996 (20,1%), e o uso de fórceps foi relatado em somente 0,3% dos casos. O atendimento ao parto em maior parte foi Tabela 10 - Características do parto e do puerpério de mães de menores de cinco anos nos seis municípios mais populosos do Maranhão, 2006/2007. VARIÁVEIS n QUEM FEZ O PARTO Médico 1069 Outros 106 TIPO DE PARTO Vaginal 750 Cesárea 454 Fórceps 3 ATENDIMENTO AO PARTO: SUS 1000 Particular 63 Plano de saúde 97 Outros 9 PARTO FEITO PELO MESMO MÉDICO QUE FEZ O PRÉ-NATAL: Sim 234 Não 912 CONSULTA PUERPERAL: Sim 590 Não 546 LOCAL DO PARTO: Hospital 1106 Casa 15 Outros 15 % 90,9 9,1 62,1 37,6 0,3 85,5 5,4 8,3 0,8 20,4 79,6 51,9 48,1 97,3 1,3 1,4 * Exceto os ignorados. parto normal sem distócias, no âmbito do SUS, visando ampliar o acesso ao atendimento da mulher no período gravídico-puerperal, remunerando também a assistência ao recém nascido na sala de parto por pediatra ou neonatologista (BRASIL, 1999) A tabela 10 mostra as características do parto e puerpério no Maranhão. A primeira variável mostra que o parto tem sido feito predominantemente pelo médico em 90,9%, e apenas 9,1% da assistência ao parto nesses municípios é prestada por enfermeira, auxiliar de enfermagem e parteira leiga incluídos na categoria outros. A pesquisa Saúde, Nutrição e Mortalidade Infantil no Maranhão, realizada em 1996, mostrou que 52 prestado pelo setor próprio ou conveniado/contratado pelo SUS correspondendo a 85,5% do tipo de atendimento ao parto. Um percentual de 8,3% foi atendido por planos de saúde e em somente 5,4% dos partos foi utilizado o serviço particular. Em 1996, 90,4% do atendimento ao parto foi prestado pelo SUS próprio e conveniado/contratado e apenas 5,9% foi particular. Os dados nacionais da PNDS de 2006 mostraram que 88,7% dos partos foram realizados por médicos e 44% foram do tipo cesariana, sendo menores do que os valores encontrados neste estudo (BRASIL, OPAS, 2006). Observa-se que nos municípios estudados, na maioria dos casos, o médico que fez o SITUAÇÃO DE SAÚDE DA CRIANÇA NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO pré-natal não foi o mesmo que fez o parto, correspondendo a 79,6% das mães entrevistadas. A consulta médica puerperal ocorreu em 51,9%, mostrando grande deficiência de assistência ao puerpério. Na pesquisa de 1996 este valor foi maior (69,8%). O local do parto foi predominantemente hospitalar com percentual de 97,3%, maior do que na pesquisa de 1996 (77,4%). Apenas 1,3% das mulheres tiveram o parto feito em casa e 1,4% em outros locais. 9. ANTROPOMETRIA A avaliação do estado nutricional de crianças fornece informações importantes, pois revela as diferenças nas condições socioeconômicas e condições de vida das famílias, sendo fundamental para o desenvolvimento e avaliação de políticas públicas voltadas à eqüidade em saúde (VITOLO, GAMA et al., 2008). O quadro nutricional do país já revela, há mais de 15 anos, mudanças de padrão, indicando a coexistência de desnutrição e obesidade em todos os segmentos da população. Estas são situações de extrema gravidade social, pois desequilibram a saúde do indivíduo expondo-o ao risco maior de adoecer ou morrer (BRASIL, 2008). Pela facilidade de obtenção e por refletir precocemente distúrbios no processo de crescimento, o peso é, muitas vezes, usado como triagem na avaliação nutricional, pois na ausência de edema (e obesidade) um ganho de peso satisfatório sugere um bom processo de crescimento. Porém, quando se identifica uma criança com baixo peso para idade em relação à população de referência não é possível, com essa única medida, estabelecer se este processo ocorreu recentemente ou cronicamente, tornando-se necessário avaliar também a estatura e seus índices antropométricos: peso por estatura e estatura por idade (ABRANTES, GOULART et al., 2005). Desta forma, os índices mais amplamente usados, recomendados pela Organização Mundial da Saúde – OMS e adotados pelo Ministério da Saúde para avaliação nutricional são: Peso por Idade (P/I) que expressa a massa corporal para a idade cronológica e é bastante adequada para o acompanhamento do crescimento infantil, porém não diferencia o comprometimento nutricional atual ou agudo dos pregressos ou crônicos; Peso por Estatura (P/E) que expressa a harmonia entre as dimensões de massa corporal e estatura. Apesar de ser sensível para o diagnóstico de excesso de peso, carece de medidas complementares para o diagnóstico preciso de sobrepeso e obesidade; Estatura por idade (E/I) que expressa o crescimento linear da criança, sendo considerado o indicador mais sensível para aferir a qualidade de vida de uma população, pois revela o efeito cumulativo de situações adversas sobre o seu crescimento (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2006; BRASIL, 2008). Nesse estudo, para quantificar valores antropométricos em relação à população de referência, foi utilizado o escore-Z que representa o número de desvios padrão a partir do ponto central da população referência: a mediana ou o percentil 50. A recomendação da OMS pelo uso do escore-Z deve-se ao fato deste discriminar melhor os valores extremos (ABRANTES, GOULART et al., 2005). No índice peso por idade são consideradas crianças com muito baixo peso para idade aquelas com um escore z inferior a -3, com baixo peso para idade aquelas entre - 3 e - 2; eutróficas aquelas entre - 2 e + 2; e acima do peso para idade aquelas com escore z acima de + 2. No índice peso por estatura são consideradas crianças com baixo peso para a estatura aquelas com um escore z inferior a -2, eutróficas aquelas entre – 2 e + 2; e acima do peso para a estatura aquelas com escore z acima de + 2. Já no índice estatura por idade são consideradas crianças com estatura baixa para a idade aquelas com um escore z inferior a - 2 e com estatura adequada para a idade aquelas com escore z igual ou acima de – 2 (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2006; ONIS, ONYANGO et al.,2007; BRASIL, 2008). A prevalência de crianças com peso adequado à idade apresentou uma maior proporção (89,7%) embora os dados obtidos apontem prevalências de crianças que apresentam pesos abaixo (4.4%) e acima (5.8%) dos pesos de referência para sua idade (Tabela 11). 53 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO Já no índice peso por estatura 3,9% das crianças apresentou uma prevalência de peso abaixo para a estatura de referência e 6,7% com peso acima dos padrões utilizados. Os dados estão disponíveis na Tabela 11. Segundo dados nacionais do PNDS de 2006, o déficit de peso versus estatura foi de 1,9%, valor inferior aos 3,9% encontrados nesta pesquisa. Em relação ao déficit de estatura versus idade os dados do PNDS foram de 7%, valor também inferior aos 8,5% encontrados neste estudo (BRASIL, 2008). Embora a maior parte das crianças tenha apresentado estatura adequada para sua idade (91,5%), o índice mostra uma prevalência de 8,5% de crianças com déficit de crescimento para idade no momento da coleta de dados (Tabela 11). Os resultados desse estudo indicam que, apesar da maior parte das crianças apresentarem peso e estatura normal para a idade, o quadro nutricional do Estado do Maranhão acompanha a mudança no padrão epidemiológico nutricional do país, apresentando prevalência tanto de crianças menores de cinco anos desnutridas, como de crianças acima do peso de referência utilizado pela Organização Mundial da Saúde. REFERÊNCIAS ABRANTES, M M; GOULART, E M A et al. Avaliação Nutricional com EPIINFO 2004. Rev Med Minas Gerais. 2005;v.15, n.2 Supl 3, p.S160-S233. Tabela 11 - Peso ao nascer e estado nutricional pelos critérios de peso por idade*, peso por estatura** e estatura por idade* em menores de cinco anos nos seis municípios mais populosos do Maranhão, 2006/2007. VARIÁVEIS n % Muito baixo peso 9 0,7 Baixo peso 79 6,5 Adequado 1126 92,7 Peso Muito Baixo para a idade 14 1,17 Peso Baixo para a idade 39 3,25 1076 89,74 70 5,84 46 3,91 Peso Adequado ou Eutrófico 1051 89,37 Peso elevado para a estatura 79 6,72 Baixa Estatura para a idade 100 8,50 Estatura adequada para a idade 1077 91,50 PESO AO NASCER CRITÉRIO PESO POR IDADE Peso Adequado ou Eutrófico Peso elevado para a idade CRITÉRIO PESO POR ESTATURA Peso Baixo para a estatura CRITÉRIO ESTATURA POR IDADE * WHO, 2006; 2007 ** WHO, 2006 Tabela 12 - Medidas descritivas do Peso e altura de menores de cinco anos nos seis municípios mais populosos do Maranhão, 2006/2007. VARIÁVEIS 54 f Média Desvio padrão PESO 1206 12,38 4,33 ALTURA 1197 86,23 15,38 SITUAÇÃO DE SAÚDE DA CRIANÇA NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO BEMFAM. Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde. BEMFAM. Rio de Janeiro. 1996 BOTELHO, C; CORREIA, A L. et al. Fatores ambientais e hospitalizações em crianças menores de cinco anos com infecção respiratória aguda. Cadernos de Saúde Pública. 2003;v.19, p.1771-1780. a case-control study. Am J Epidemiol. 1988;v.128, n.5, Nov, p.1111-6. FERRAZ, H B; BERTOLUCCI, P H et al. Chronic exposure to the fungicide maneb may produce symptoms and signs of CNS manganese intoxication. Neurology. 1988;v.38, n.4, Apr, p.550-3. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/ MS nº 985, de 05 de agosto de 1999. G. Ministro: Diário Oficial da União 1999. FONSECA, M J. M. E. A. Morbidade referida e uso de serviço de saúde em funcionários de banco estatal. Revista Brasileira de Estudos de População. 2000;17 1;2 p. BRASIL. Ministério da Saúde. 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Rev Saúde Pública. 2008; v.42(1), p.73-81. 55 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO TONIAL, S R; SILVA A A. Saúde, nutrição e mortalidade infantil no Maranhão. São Luis: UFMA/ UNICEF/SES. 1997. 112 p. TRAVASSOS, C; MARTINS, M. Uma revisão sobre os conceitos de acesso e utilização de servços de saúde. Cad. Saude Pública. 2004;v.20, n.Sup 2, p.5190-5198. VANDERLEI, L C M; SILVA, G A P et al. Risk factors for hospitalization due to acute diarrhea in children under two years old: a case-control study. Cad Saude Publica. 2003;v.19, n.2, Mar-Apr, p.455-63. VITOLO, M R; GAMA, C M et al. Some risk factors associated with overweight, stunting and wasting among children under 5 years old. J Pediatr (Rio J). 2008;v.84, n.3, May-Jun, p.251-7. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Child Growth Standards: Length/Height-for-age, Weight-for-age, Weight-for-length, Weight-for-height and Body Mass Index-for age: methods and development Geneve: World Health Organization. 2006. 332 p. (Nonserial Publication ) 56 SITUAÇÃO DE SAÚDE DO ADULTO NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO Capítulo 5 SITUAÇÃO DE SAÚDE DO ADULTO NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO Maria Teresa Seabra Soares de Britto e Alves Ana Cleide Mineu Costa Danielle Pinto Lima Helma Jane Ferreira Veloso João Reggiani Júnior Mayara Pereira da Silva Nivaldo de Jesus Silva Soares Olga Lorena Maluf Guará Priscila Coimbra Rocha 1. CARACTERÍSTICAS SÓCIO-ECONÔMICAS E DEMOGRÁFICAS 2. UTILIZAÇÃO DE SERVIÇOS DE SAÚDE Dos 1.277 participantes do inquérito populacional realizado nos seis maiores municípios do Estado do Maranhão em indivíduos de 15 a 59 anos, um total de 1059 adultos estava na faixa etária de 20 a 59 anos de idade, e compõem a amostra para o cálculo das prevalências estimadas neste capitulo. Das 1059 pessoas adultas 58,5% era residente em São Luís, em seguida Imperatriz com 14,8%, Timon com 8,6%, Caxias com 6,5%, São José de Ribamar com 6,1% e Codó com 5,5% do total de entrevistados. De acordo com os dados a Tabela 1, o perfil mais freqüente da amostra foi de indivíduos do sexo feminino em percentual de 60,4% (640), na faixa etária de 20 a 29 anos em 38,7% (410), de cor preta/parda em 75,4% (798), ensino médio completo em 37,3% (395) e renda familiar menor que dois salários mínimos em 49,1% (519). Em relação à escolaridade dos entrevistados, chamou atenção o percentual de 31,5% dos indivíduos da amostra ser analfabeto funcional e somente 6,2% ter informado nível superior completo. Em relação à renda familiar, somente 23,5% informou rendimento acima de quatro salários mínimos. Portanto, trata-se de uma população predominantemente de baixa escolaridade e baixo poder aquisitivo. O percentual de indivíduos que relataram problemas de saúde variou em função do indicador analisado, conforme os dados da Tabela 2. Aproximadamente 38,0% dos entrevistados informaram ter apresentado pelo menos uma doença nas duas semanas que antecederam a entrevista. Independente do indicador analisado as mulheres relataram mais morbidade do que os homens, porém as diferenças também variaram de acordo com o indicador. De maneira geral, a resposta afirmativa à ocorrência de morbidades nos últimos 15 dias entre as mulheres foi de 41,7% e entre os homens foi de 33,2%. Dor de cabeça/enxaqueca foi a principal causa da morbidade referida pelos entrevistados de ambos os sexos. No sexo masculino o percentual estimado foi de 46,0% seguido de dor nas costas/coluna em 42,4% entre os que referiram morbidade nos últimos 15 dias. A terceira morbidade referida mais freqüentemente foi alergia em 15,1%. Nas mulheres, o percentual foi de 62,5% para dor de cabeça/enxaqueca e de 47,2% para dor nas costas/coluna. Problemas emocionais do tipo ansiedade/depressão foram referidos por 26,2% das mulheres. A realização de consulta médica foi referida por 14,9% (158) dos indivíduos entrevistados, um percentual bem menor, quando comparado à morbidade referida no mesmo período. A freqüência de consultas entre as mulheres (18,0%) também foi maior do que a referida pelos homens (10,3%). Este diferencial explica-se em parte pelas varia57 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO Tabela 1 - Características sócio-demográficas de adultos e 20 a 59 anos nos seis municípios mais populosos do Maranhão, 2006/2007 CARACTERÍSTICAS SÓCIO-DEMOGRÁFICAS n % São Luis 619 58,5 S. J. Ribamar 65 6,1 Caxias 91 8,6 Codó 58 5,5 Timon 69 6,5 Imperatriz 157 14,8 Feminino 640 60,4 Masculino 419 39,6 20-29 410 38,7 30-39 293 27,7 40-49 205 19,4 50-59 151 14,3 Branca 247 23,3 Preta/Parda 798 75,4 Amarela 9 0,8 Indígena 3 0,3 Não sabe 2 0,2 Sem escolaridade 36 3,4 Fundamental incompleto 297 28,1 Fundamental completo 106 10,0 Médio incompleto 77 7,3 Médio completo 395 37,3 Superior incompleto 74 7,0 Superior completo 66 6,2 Não souberam responder 8 0,7 ≤ 1 salário 218 20,6 1 ┤2 salários 301 28,5 2 ┤3 salários 176 16,6 3 ┤4 salários 103 9,7 > 4 salários 249 23,5 Não responderam 12 1,1 1059 100,0 MUNICÍPIO SEXO IDADE (anos) COR DA PELE ESCOLARIDADE RENDA FAMILIAR (salário mínimo)* TOTAL Nota: * R$ 380,00. 58 SITUAÇÃO DE SAÚDE DO ADULTO NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO ções no perfil de necessidades de saúde entre os gêneros (MENDOZA-SASSI et al., 2003), incluindo-se as demandas associadas à gravidez e ao parto. Um outro fator apontado é o maior interesse das mulheres com relação à sua saúde (VERBRUGGE, 1989). Na nossa amostra, essa consulta ocorreu mais freqüentemente no setor público do SUS, em percentual maior para mulheres (71,5%) em relação aos homens (53,3%). O motivo mais usual de consulta médica para as mulheres foi para realização de exame preventivo de câncer de colo (3,3%) seguido de consultas “de rotina” (1,6%) e pré-natal (1,4%). Para os homens a maior ocorrência foi de consulta “de rotina” (2,1%%), em seguida consulta por motivo de dor de cabeça (1,2%). A realização de exame de próstata pelo menos uma vez na vida foi referida por 11,5% dos entrevistados. Este resultado demonstrou uma diferença entre os sexos também obtida em outros estudos, caracterizando demanda de acordo com o perfil tradicional da busca de consulta médica que é mais freqüente em mulheres na idade fértil, principalmente em consultas preventivas. Um total de 14,0% dos entrevistados (15,5% dos homens e 13,9% das mulheres) referiu posse de plano de saúde, o que representa uma diferença importante quando comparado a um estudo realizado na região metropolitana de São Paulo que estimou um percentual de 44% dos entrevistados com posse de plano de saúde (PESSOTO et al., 2007). Esse percentual representou metade do valor estimado pela PNAD em 1998 (PINHEIRO et al, 2002) em regiões urbanas do Brasil. Esse baixo resultado foi coerente com o perfil socioeconômico dos indivíduos desta amostra, assim como aponta a dependência da assistência médica prestada pelo SUS. Em relação ao consumo de medicamentos, 42,9% dos entrevistados referiu seu uso nos últimos três dias que antecederam a entrevista. A indicação para o uso do medicamento por médico ocorreu em 29,1% das indicações, sendo esta a categoria que mais freqüentemente indicou a medicação em ambos os sexos. A automedicação, aqui considerada como indicação feita por qualquer pessoa não habilitada para prescrição, foi referida por 17,2% dos entrevistados, correspondendo à segunda indicação mais freqüente. Tanto o uso de medicação, quanto a orientação feita por médico e automedicação foi sempre mais freqüente nas mulheres em relação aos homens. Do total de entrevistados, apenas 0,6% (6) dos entrevistados relataram história de Acidente Vascular Cerebral (AVC) no passado. Esse relato foi mais freqüente em pessoas do sexo feminino 0,8% (5) do que em homens 0,2% (1). Apenas 0,8% (9) referiu alguma cardiopatia. Sua freqüência segundo o sexo foi de 0,2% (2) homens e 1,2% (8) mulheres. Um importante fator a ser considerado em estudos que utilizam indicadores de morbidade referida é que a percepção de saúde pode variar em função de fatores ligados às experiências sociais dos indivíduos e à disponibilidade de serviços de saúde (SEN, 2002), o que não foi considerado neste trabalho. Tabela 2 – Morbidade referida, consultas e consumo de medicamentos em adultos nos seis municípios mais populosos do Maranhão, 2006/2007* VARIÁVEIS MORBIDADE REFERIDA ÚLTIMOS 15 DIAS Sim Não Ignorados MASCULINO n % 139 279 1 33,2 66,6 0,2 n FEMININO % 267 370 3 41,7 57,8 0,5 59 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO Tabela 2 – Morbidade referida, consultas e consumo de medicamentos em adultos nos seis municípios mais populosos do Maranhão, 2006/2007* (continuação) VARIÁVEIS CAUSA REFERIDA Dor cabeça/enxaqueca Dor nas costas/coluna Alergia Problemas emocionais/depressão/ansiedade Artrite/reumatismo/artrose Doença da pele Úlcera/doença digestiva crônica Doença renal crônica Asma, bronquite, enfisema Anemia Osteoporose Epilepsia Doença do coração AVC Tuberculose Câncer Doença de Chagas Esquistossomose Hanseníase CONSULTA MÉDICA ÚLTIMOS 15 DIAS Sim Não MOTIVO DA CONSULTA Preventivo Rotina Pré-natal Problema de pele Dor de cabeça Alergia Tontura Outros CATEGORIA ATENDIMENTO Setor público do SUS Setor contratado/conveniado do SUS Plano de Saúde Particular Outros USO MEDICAMENTOS ÚLTIMOS 3 DIAS Sim Não PESSOA QUE INDICOU Médico Enfermeiro Balconista da farmácia Agente de Saúde Automedicação Outros POSSE PLANO SAÚDE Sim Não EXAME DE PROSTATA Sim Não * excluídos ignorados 60 MASCULINO n % n FEMININO % 64 59 21 17 14 12 10 8 4 3 2 2 1 1 1 0 0 0 0 46,0 42,4 15,1 12,2 10,1 8,6 7,2 5,8 2,9 2,2 1,4 1,4 0,7 0,7 0,7 - 167 126 48 70 32 9 41 16 7 41 14 1 8 2 1 4 1 1 1 43 376 10,3 89,7 115 523 62,5 47,2 18,0 26,2 12,0 3,4 15,4 6,0 2,6 15,4 5,2 0,4 3,0 0,7 0,4 1,5 0,4 0,4 0,4 221,1 18,0 81,9 1 9 0 4 5 4 1 45 0,2 2,1 1,0 1,2 1,0 0,2 10,7 21 10 9 8 4 5 5 123 3,3 1,6 1,4 1,3 0,6 0,8 0,8 19,2 24 3 10 6 2 53,3 6,7 22,2 13,3 4,4 88 4 20 10 0 71,5 3,3 16,3 8,1 - 140 277 33,4 66,1 314 323 49,1 50,5 61 1 15 1 54 9 29,1 0,2 3,6 0,2 12,9 2,2 159 2 11 2 128 19 24,8 0,3 1,7 0,3 20,0 3,0 65 351 15,5 83,8 89 550 13,9 85,9 48 371 11,5 88,5 - - SITUAÇÃO DE SAÚDE DO ADULTO NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO 3. HOSPITALIZAÇÃO Segundo os dados da PNAD em 1998, os coeficientes de internação foram maiores para as mulheres (8,7%) em comparação aos homens (5,1%) considerando todo o Brasil (CASTRO et al., 2002). Os motivos dessa internação variaram de acordo com o sexo. Quase a metade das mulheres entrevistadas referiu internação por motivo obstétrico (48,1%), compatível com a faixa etária sexualmente ativa que compõe a amostra. O segundo motivo mais freqüente foi internação por causas cirúrgicas referido por 27,8%. Entre os homens, o motivo mais freqüente de internação foram causas cirúrgicas em 32,0% dos casos. Chama atenção o alto percentual (20,0%) de internação por causas externas (incidentes com armas e acidentes de carro), correspondendo à segunda causa, juntamente com sinais e sintomas mal definidos (20%). Destaca-se o setor público como o local mais procurado para internação em ambos os sexos. Os homens referiram internação em 84,0% dos casos, considerando-se o setor próprio e o contratado/conveniado. Para as mulheres o percentual de internações em serviços ligados ao SUS foi de 81,5%. As informações sobre as condições de saúde da população e suas demandas por serviços hospitalares são fundamentais para o planejamento da atenção a saúde. As condições de saúde da população adulta são praticamente desconhecidas no Maranhão. Estudos epidemiológicos com base populacional, ou seja, aqueles que estudam adultos residentes na comunidade fornecem este tipo de informação, mas estes estudos são ainda raros. Idade e sexo são características naturalmente associadas ao uso de serviços hospitalares, em razão da sua influência biológica na morbimortalidade (HULKA, WHEAT, 1985), e assim, as análises de utilização de serviços hospitalares foram realizadas considerando sexo. Esta pesquisa analisou o uso de serviços hospitalares por adultos na faixa etária de 20 a 59 anos a partir da ocorrência de internação referida no último ano, sua causa e local. Um percentual de 7,5% dos 1059 adultos entrevistados referiu ter sido internado, sendo esta afirmação mais freqüentes entre as mulheres (8,4%) do que entre os homens (6,0%). Tabela 3 – Hospitalização, motivo e categoria da internação de adultos nos seis municípios mais populosos do Maranhão, 2006/2007 VARIÁVEIS INTERNAÇÃO últimos 12 meses Sim Não MOTIVO DA INTERNAÇÃO Cirúrgico Obstétrico Sinais e sintomas Clínico Causas externas Doença Mental LOCAL DA INTERNAÇÃO Setor público do SUS Setor contratado/conveniado do SUS Plano de Saúde Particular Outros MASCULINO FEMININO n % n % 25 391 6,0 93,3 54 586 8,4 91,6 8 5 4 5 3 32,0 20,0 16,0 20,0 12,0 15 26 8 3 1 1 27,8 48,1 14,8 5,5 1,9 1,9 20 1 4 1 0 76,9 3,9 15,4 3,9 - 41 3 9 5 1 69,5 5,1 15,3 8,5 1,7 61 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO 4. HÁBITOS DE VIDA Os hábitos de vida na amostra estudada foram investigados pelo uso de álcool pelo menos uma vez na vida, sua freqüência semanal e fumo atual, considerado aquele que fuma há pelo menos 1 mês e quantidade diária de cigarros consumidos. O uso de álcool pelo menos uma vez na vida foi mais freqüente na população masculina (94,0%) em percentual muito próximo ao obtido na população feminina (81,7%). A freqüência semanal de ingestão foi sempre mais freqüente em homens do que em mulheres. Essa diferença cresceu acentuadamente em favor dos homens quanto maior foi a freqüência de ingestão semanal. Do total de indivíduos, 86,6% (917) referiu já ter ingerido bebida alcoólica pelo menos uma vez na vida. Porém, quando indagados quanto à freqüência deste consumo, a maioria das mulheres (58,1%) respondeu não beber usualmente; entre os homens este percentual foi de 34,4%. A prevalência de consumo de álcool de uma a três vezes por semana foi de 24,3% entre homens e de 6,3% entre as mulheres. No estudo feito em Pelotas no ano de 1999 um terço dos homens bebia com freqüência de dois ou mais dias na semana, sendo 10% das mulheres incluídas nesta categoria (CASTANHEIRA; OLINTO; GIGANTE, 2003). Entre os 1059 entrevistados 15,9% (168) referiu ser fumante. Na distinção entre sexos encontrou-se 12,3% (80) de mulheres e 21,2% (88) de homens fumantes. Este resultado mostra que a proporção de homens fumantes foi superior ao de mulheres corroborando com outros estudos feitos no Brasil. No entanto a prevalência de fumantes entre os adultos maranhenses foi inferior ao encontrado no estudo de Pelotas-RS em 1999 em que 34,6% dos homens e 25,5% das mulheres eram fumantes (CASTANHEIRA; OLINTO; GIGANTE, 2003). O resultado da presente pesquisa também traz porcentagens inferiores à Pesquisa Nacional sobre saúde e nutrição de 1989 e à Pesquisa Mundial de Saúde em 2003 em que o a prevalência do Tabela 4 – Uso de álcool e cigarros em adultos de 20 a 59 anos nos seis municípios mais populosos do Maranhão, 2006/2007 MASCULINO FEMININO n % n % Sim 394 94,0 523 81,7 Não 25 6,0 116 18,1 Não bebeu 144 34,4 372 58,1 Menos 1 vez 158 37,7 225 35,2 1 a 3 vezes 102 24,3 40 6,3 4 a 7 vezes 15 3,6 3 0,4 Sim 89 21,2 79 12,3 Não 330 78,8 560 87,5 1a9 31 35,2 44 56,4 10 a 19 28 31,8 17 21,8 20 a 39 29 33,0 16 20,5 40 ou mais 0 - 1 1,3 VARIÁVEIS USO DE ÁLCOOL NA VIDA FREQÜÊNCIA SEMANAL INGESTÃO ÁLCOOL FUMO ATUAL NÚMERO CIGARROS POR DIA 62 SITUAÇÃO DE SAÚDE DO ADULTO NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO fumo entre adultos brasileiros era de 34,57% e 18,3% respectivamente (OMS, 2006). Em 2006, o Ministério da Saúde realizou uma pesquisa telefônica com adultos residentes nas capitais brasileiras que revelou prevalência média de tabagismo de 16%, que se assemelha ao encontrado no presente estudo (VIGITEL, 2006). A redução na prevalência do fumo no Brasil e a prevalência atual entre os adultos maranhenses podem ser explicadas pela efetividade do Programa Nacional de Controle do Tabagismo, considerado um dos mais abrangentes do mundo. 5. HIPERTENSÃO ARTERIAL A análise dos dados de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) nesta pesquisa foi realizada a partir da sua prevalência auto-referida dita por médico e da aferição da PA no momento da entrevista, em todos os indivíduos com idade entre 20 e 59 anos (1059). A prevalência medida de HAS foi calculada considerando também os indivíduos com níveis pressóricos dentro dos limites de normalidade e que referiam uso de medicamento anti-hipertensivo. Quando questionados sobre a existência da doença, 13,5% (143 indivíduos) auto-referiram hipertensão arterial informada por médico. A prevalência de hipertensão arterial estimada foi de 23,1%, considerando níveis pressóricos ≥140/90 e hipertensos controlados, o que correspondeu a 242 participantes do estudo, exceto os ignorados. Dos hipertensos 46,7% foram classificados como hipertensão estágio 1 (140/90 mmHg a 159/99 mmHg), 14,8% hipertensão estágio 2 (160/100 mmHg a 169/109 mmHg), 4,6% hipertensão estágio 3 (≥180/110 mmHg) e 33,9% representaram os hipertensos controlados. Quando questionados em relação à exis- tência da doença, apenas 59,0% dos indivíduos hipertensos referiu ter conhecimento de sua doença, demonstrando que quase metade da população hipertensa não sabia da sua condição. Em estudo realizado por Pereira et al. (2007) sobre prevalência, conhecimento, tratamento e controle de hipertensão arterial sistêmica na população adulta urbana de Tubarão, a prevalência de hipertensos que não sabiam da sua condição foi de 46,4%. Isto evidencia que mesmo de fácil diagnóstico ainda há uma parcela significativa de hipertensos nos seis municípios mais populosos do estado do Maranhão que desconhecia ser portador de hipertensão arterial. Dentre os hipertensos que sabiam da sua doença, 42,7% apresentaram níveis pressóricos alterados (≥140/90 mmHg). Apesar de alguns estudos mostrarem prevalência ainda menor como 10,1% e 20,0% (TRINDADE, 1998; PEREIRA et al., 2007) isto indica que uma parte importante dos hipertensos não tinha controle adequado da sua pressão arterial. Um percentual de 84,6% (894) apresentaram PA ótima, normal ou limítrofe (<139/89 mmHg); 15,1% (160) apresenta PA elevada (PAS ≥ 140 mmHg ou PAD ≥ 90 mmHg). Entre as mulheres (640) observaram-se as seguintes percentagens: PA normal em 75,0% (480), PA limítrofe em 13,0% (83), PA alta em 11,4% (73) e ignorada em 0,6% (4). Entre os homens (419) observou-se: PA normal em 56,3% (236), PA limítrofe em 22,0% (92), PA elevada em 20,8% (87) e ignorada em 0,9% (4) segundo dados apresentados na Tabela 5. Somado ao alto percentual de hipertensos observou-se prevalência de 16,6% indivíduos com níveis pressóricos considerados limítrofes (130/85 mmHg a 139/89 mmHg). Segundo a V Diretriz Brasileira de Hipertensão da Socieda- Tabela 5 – Prevalência da Hipertensão Arterial Sistêmica em adultos de 20 a 59 anos nos seis municípios mais populosos do Maranhão, 2006/2007 VARIÁVEIS Normal Limítrofe Hipertensão Ignorado Total MASC n 236 92 87 4 419 FEM % 56,3 22,0 20,8 0,9 100,0 n 480 83 73 4 640 % 75,0 13,0 11,4 0,6 100,0 63 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO de Brasileira de Hipertensão Arterial (2006), a mortalidade por doença cardiovascular aumenta progressivamente com a elevação da pressão arterial a partir de 115/75 mmHg. Desta forma, os profissionais de saúde devem atentar para esses valores e trabalhar ativamente a prevenção com esses potenciais hipertensos. Isto é reafirmado se levarmos em consideração que para o Ministério da Saúde os níveis limítrofes classificam os indivíduos como pré-hipertensos (BRASIL, 2006). 6. DIABETES MELLITUS A ocorrência de Diabetes mellitus neste estudo foi avaliada a partir da sua prevalência auto referida para todos os 1059 adultos entrevistados e da realização de glicemia capilar em jejum, de no mínimo oito horas, em indivíduos na faixa etária de 30 a 59 anos (649 indivíduos) correspondendo a 61,3% da população entrevistada. Dos 1059 entrevistados, 2,5% (27) referiu ter diabetes mellitus informado por médico. Quando consideramos somente a faixa etária de 30 a 59 anos, essa prevalência aumentou para 4,0% (26). Esse valor foi próximo ao encontrado em pesquisa realizada em São Paulo no ano de 1996 em população de faixa etária de 30 a 69 anos que foi de 4,7%. Uma prevalência maior, 9,1% no conjunto da amostra sendo 4,7% de diabetes pré-diagnosticado, foi estimada em estudo mais recente realizado também em São Paulo com população dessa mesma faixa etária (GOLDEMBERG et al. , 1996; GOLDENBERG et al., 2003). Das pessoas com diabetes auto-referido que afirmaram ser acompanhadas pelo PSF por causa de diabetes, apenas 16,6% apresentou resultado da glicemia considerado normal. O maior percentual, 83,3%, apresentou resultado alterado, sendo 16,6% com resultado da glicemia entre 100 e 125,9mg% e 66,7% com glicemia de 126mg% ou acima. Somente 585 indivíduos realizaram exame de glicemia capilar em jejum, ocorrendo, portanto, 9,9% de perdas. Do total de indivíduos que efetivamente realizaram o exame, 15,7% (92) apresentou valores alterados; sendo que 11,8% (69) apresentou valores de glicemia de 100 a 125,9 mg%, e 3,9% (23) ≥ 126 mg%. Entre as mulheres que representaram 62,6% da amostra (366), 10,1% (37) apresentou glicemia entre 100 e 125,9mg%, e 4,1% (15) apresentou glicemia ≥126mg%. Entre os homens - 37,4% da amostra (219) - 14,6% (32) apresentou glicemia entre 100 e 125mg%, e 3,7% (8) apresentou glicemia ≥126mg%. A principal limitação do estudo foi a provocada pelo critério diagnóstico utilizado, pois realizou-se apenas uma aferição de glicemia de jejum e não foram investigados sinais e sintomas da doença. Entretanto, apesar de os valores obtidos nos resultados de glicemia capilar não serem suficientes para validação diagnóstica, podem ser utilizados na definição e adequação de políticas de saúde para o controle dessa doença. 7. ESTADO NUTRICIONAL E ANTROPOMETRIA Para estimar a composição corporal, várias relações entre estatura e massa corporal têm sido desenvolvidas, como, por exemplo, o índice de Quételet, que preenche o requisito de baixa correlação com a estatura e correlações mais elevadas com a massa corporal e medidas Tabela 6 – Prevalência de Diabetes mellitus em adultos 30-59 anos nos seis municípios mais populosos do Maranhão, 2006/2007 VARIÁVEIS < 100mg% 100 a 125,9mg% ≥126mg% Total 64 MASCULINO FEMININO n % n % 179 32 8 219 81,7 14,6 3,7 100,0 314 37 15 366 85,8 10,1 4,1 100,0 SITUAÇÃO DE SAÚDE DO ADULTO NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO de gordura corporal (ANJOS, 1992). O índice de Quételet, também denominado Índice de Massa Corporal (IMC), é calculado pela razão entre massa corporal (kg) e estatura (m) ao quadrado, sendo amplamente empregado em estudos epidemiológicos. O estado nutricional dos indivíduos adultos deste estudo foi realizado por meio do Índice de Massa Corporal e da circunferência abdominal. A coleta dessas medidas envolve baixo custo operacional e apresenta relativa simplicidade na sua aplicação, particularmente as medidas de massa corporal e estatura (NORGAN, 1994). Embora o IMC não meça diretamente a proporção de gordura corporal e não defina a distribuição desta, estudos realizados em grandes amostras populacionais, basicamente européias e norte-americanas, têm revelado alta correlação entre IMC e gordura corporal e, mais importante, aumento do risco de mortalidade associado a altos valores de IMC (MONTEIRO, 1998). Este índice parece ser adequado para expressar a gordura corporal total em estudos populacionais (GARROW, 1983). Dos 1059 entrevistados, 3,3% (35) apresentou baixo peso (IMC<18,5), 51,3% (543) apresentou eutrofia com 18,5≤IMC<25, 30,5% (323) apresentou sobrepeso com 25≤IMC<30 e 14,5% (154) dos indivíduos era obeso (IMC≥30), excetuando-se 4 (0,4%) indivíduos com IMC ignorado. Entre as mulheres 4,0% (26) apresentou IMC<18,5; 51,6% (332) apresentou 18,5≤IMC<25; 28,5% (183) apresentou 25≤IMC<30; e 15,4% (99) era obesa (IMC≥30). Entre os homens 2,2% (9) apresentou IMC<18,5; 50,7% (211) apresentou 18,5≤IMC<25; 33,7% (140) apresentou 25≤IMC<30; 13,2% (55) era obeso (IMC≥30). Os resultados encontrados nesta pesquisa assemelham-se às prevalências encontradas em estudos feitos em outras regiões brasileiras, inclusive pesquisas feitas no Sul e Sudeste do Brasil. Uma pesquisa realizada nas regiões nordeste e sudeste do Brasil estimou prevalências de sobrepeso em 28,3% e de obesidade em 9,7% (ABRANTES; LAMOUNIER; COLOSIMO, 2002). Em estudo realizado na região metropolitana de Belo Horizonte observou-se que 38,7% dos adultos se encontrava em sobrepeso e 10,2% apresentava obesidade. Em relação aos homens o sobrepeso e a obesidade estiveram presentes em 31,1 e 5,7% respectivamente (VELÁSQUEZ-MELÉNDEZ; PIMENTA; KAC, 2004). Outro estudo realizado com adultos residentes em Pelotas encontrou uma prevalência de obesidade de 21% e sobrepeso 40% (GIGANTE et al, 1997). No presente estudo, o valor da circunferência abdominal ≥ 102 cm ocorreu em 10,8% dos homens, e ≥ 88cm em 30,2% das mulheres, significando maior risco para Doença Cárdio Tabela 7 – Estado nutricional e antropometria em adultos 20 a 59 anos nos seis municípios mais populosos do Maranhão, 2006/2007. VARIÁVEIS MASC FEM n % n % Normal 374 89,3 449 70,2 Aumentada 45 10,7 191 29,8 9 2,1 26 4,0 Eutrófico 214 51,2 332 51,9 Sobrepeso 140 33,4 183 28,6 Obesidade 55 13,1 99 15,5 Ignorado 1 0,2 0 - 419 100,0 640 100,0 CIRCUNFERÊNCIA ABDOMINAL ÍNDICE DE MASSA CORPORAL Baixo Peso Total 65 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO Vascular (DCV) e infarto do miocárdio, segundo o padrão utilizado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia. Quando se compara estes resultados com os obtidos em um estudo realizado na cidade Pelotas-RS cujos resultados apontam 38,7% das mulheres com circunferência abdominal superior a 88cm e 18,5% dos homens apresentaram esta medida superior a 102cm (OLINTO et al, 2006), observou-se que os entrevistados dos municípios maranhenses estudados apresentaram percentuais inferiores de aumento de circunferência abdominal. REFERÊNCIAS ABRANTES, M M; LAMOUNIER, J A; COLOSIMO, E A. 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(Report of WHO Consultation on Obesity). 67 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO 68 SAÚDE DA MULHER NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO ESTADO DO MARANHÃO Capítulo 6 SAÚDE DA MULHER NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO ESTADO DO MARANHÃO Liberata Campos Coimbra Regimarina Soares Reis Dannielle Pinto Lima Mayara Pereira Rafaela David Brito 1. INTRODUÇÃO A saúde e a doença estão intimamente relacionadas e constituem um processo cujo resultado é fortemente influenciado por fatores sociais, econômicos, culturais e históricos. Isso implica em afirmar que o perfil de saúde e doença varia no tempo e no espaço, de acordo com o grau de desenvolvimento econômico, social e humano de cada região (LAURELL, 1983). As diferenças socioeconômicas e culturais se refletem de maneira diferenciada no processo de adoecer e morrer das populações e de cada pessoa em particular. As populações expostas a precárias condições de vida estão mais vulneráveis e vivem menos. Questões de gênero devem ser consideradas na formulação de políticas públicas de saúde, considerando que as históricas desigualdades de poder entre homens e mulheres implicam num forte impacto nas condições de saúde destas últimas (ARAÚJO, 1998). Derivado de uma pesquisa denominada “Atenção à saúde no Estado do Maranhão”, o presente capítulo tem como objetivo geral estudar a saúde de uma amostra de 755 mulheres de 15 a 59 anos residentes nos seis municípios mais populosos do Maranhão e, como objetivos específicos, caracterizar as mulheres de acordo com indicadores socioeconômicos, demográficos e reprodutivos; estimar a cobertura do exame preventivo de câncer do colo uterino e verificar a utilização de alguns serviços de saúde. Os indicadores socioeconômicos, demográficos, número de gestações, número de partos, número de abortos, utilização de método contraceptivo, exame das mamas por profissional de saúde, realização de mamografia e realização do Papanicolaou foram enfocados no sentido de otimizar a compreensão dos dados encontrados. 2. CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA, DEMOGRAFICA E REPRODUTIVA. Das 755 entrevistadas, 57,7% eram do município de São Luís; 15,2% de Imperatriz. Nos municípios de São José de Ribamar, Caxias, Codó e Timon foram entrevistadas 205 mulheres, o que corresponde a 27,1% da amostra estudada. Na tabela 1 é possível visualizar que 17,2% das mulheres encontravam-se na faixa etária de 20 a 24 anos no momento da pesquisa. As mulheres de 25 a 59 anos corresponderam a 67,4% da amostra. O Ministério da Saúde tem como população-alvo mulheres nesta última faixa etária referida, pois estudos revelam que o câncer do colo do útero predomina em mulheres acima dos 35 anos. Assim, o rastreamento iniciado a partir dos 25 anos e/ou depois de iniciada a vida sexual assegura a possibilidade de intervenção, caso seja necessário (BRASIL, 2002a). A escolaridade tem papel importante sobre as condições de vida das pessoas, além de ser um dos principais atributos para medir a desigualdade. É, também, considerada um elemento estratégico de mudança da realidade social de um país. Neste estudo pôde-se verificar que 33,9% das mulheres pesquisadas possuíam o ensino médio completo. O ensino superior (completo ou incompleto) foi referido por 12,8% das mulheres. O percentual de 3,2% corresponde às mulheres que nunca freqüentaram a escola. Em 1996 a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS) já apontava que 69 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO o nível de instrução afeta o comportamento reprodutivo, o uso de anticoncepção, bem como os cuidados com a saúde, higiene e alimentação (BEMFAM, 1996). Considerando-se o recorte étnico-racial na população brasileira, observa-se que a exclusão histórica da população afro-brasileira e de seus descendentes permite poucas chances de ascensão social, levando esse segmento, portanto, a viver em precárias condições físicas e ambientais. Na amostra aqui estudada um percentual de 64,4% das mulheres referiu cor da pele como parda. A cor “branca” foi referida por 23,2% das mulheres. A opção preta foi referida por 11% das mulheres (Tabela 1). Não houve aqui grande variação em relação à distribuição de mulheres por cor da pele verificada na PNAD de 2006 (IBGE, 2006). O relatório sobre a situação da População Mundial (BRASIL, 2002) demonstra que o número de mulheres que vivem em situação de pobreza é maior que o de homens e que cerca de metade do seu tempo é gasto em atividades não remuneradas, o que diminui o seu acesso aos bens sociais, inclusive aos serviços de saúde. Das 755 mulheres entrevistadas, pouco mais da metade se encontrava fora da População Economicamente Ativa (PEA). Este fato pode sugerir que estas mulheres se encontravam em um sistema de vida baseado na produção doméstica e de manutenção do lar, consoante ao encontrado em pesquisa realizada em 20 municípios do Maranhão em 1996, em que se verificou que 72,5% das mulheres não trabalhavam fora do lar (FRANÇA, 1997). A visão de que o trabalho doméstico é intrínseco à figura feminina e o fato do mesmo não ser remunerado leva à subvalorização do trabalho da mulher, apesar da suma importância deste como papel social. No Brasil, entre 1996 e 2006, o nível de ocupação das mulheres aumentou quase 5%, mas esse aumento não foi generalizado, no Maranhão observou-se uma queda de 7,9 pontos percentuais (IBGE, 2007). Aqui, o trabalho manual não-qualificado correspondeu à categoria com maior participação na amostra de mulheres estudadas que se encontravam inseridas no mercado de trabalho, correspondendo a 18,4%; seguido por trabalho 70 manual semi-especializado e funções de escritório com 9,4% e 7,4% respectivamente. Profissões de nível superior foram referidas por 5% das mulheres. As mulheres que tinham parceiro seja em união consensual ou casadas, constituíram 49,9% da amostra desse estudo. Declararam-se solteiras 40,4% das entrevistadas; as mulheres viúvas, desquitadas, separadas e divorciadas somaram 9,7% da amostra. Faz-se importante relatar esta variável uma vez que as mulheres que tem parceiro constituem um dos grupos-alvo para os serviços de assistência pré-natal, parto e planejamento familiar (FRANÇA, 1997). Quanto à caracterização da vida reprodutiva das mulheres, observa-se na Tabela 2 que 37,5% eram multigestas e 29,8% referiram nunca ter engravidado, em 1996 em pesquisa realizada no Maranhão onde foram utilizados métodos muito semelhantes, essas proporções foram de 48,2% e 26% respectivamente. Quanto ao número de partos, 35,3% declaram-se nulíparas – 6,9% a mais do que o verificado em 1996. Em relação à prática do aborto, 25,3% referiram já tê-lo praticado, elevando esta freqüência relativa em 6,5% após dez anos (TONIAL, SILVA, 2007). A paridade está associada com uma maior morbimortalidade materna. Nesta pesquisa das 755 mulheres, 30,3% eram multíparas, sendo importante ressaltar que mulheres com quatro filhos ou mais têm uma maior chance de adoecerem e morrerem por problemas ligados à gravidez. Em pesquisa realizada no Maranhão em 1996 o percentual de mulheres multíparas era de 44,4% (SILVA, MOCHEL, 1997). Com relação à anticoncepção, 53,8% das mulheres referiram fazer uso de métodos contraceptivos. Em 1996 na pesquisa Saúde, nutrição e mortalidade infantil no Maranhão esse valor foi de 47,6%. O método preferido pelas mulheres dez anos antes foi a laqueadura (38,5%) e esta preferência foi ratificada no presente estudo (31%), sendo que 18,3% realizaram a ligadura das trompas durante uma cesárea – em 1996 34,5% das laqueaduras tubárias foram realizadas durante cesárea (FRANÇA, 1997). Depois da laqueadura tubária, o uso da camisinha foi o método mais utilizado (11,4%), SAÚDE DA MULHER NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO ESTADO DO MARANHÃO Tabela 1 - Características socioeconômicas e demográficas das mulheres estudadas nos seis municípios mais populosos do Maranhão, 2006-2007 CARACTERÍSTICAS SOCIOECONOMICAS E DEMOGRÁFICAS IDADE (em anos) 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 44 45 a 49 50 a 54 55 a 59 ESCOLARIDADE Sem escolaridade Fundamental incompleto Fundamental completo Médio incompleto Médio completo Superior incompleto Superior completo Ignorado COR DA PELE* (auto-referida) Branca Preta Parda Amarela/Oriental Indígena OCUPAÇÃO* Desempregadas Proprietárias Administradores/gerentes Profissionais de nível superior Funções de escritório Trabalhadoras manuais especializadas Trabalhadoras manuais semi-especializadas Trabalhadoras manuais não-qualificadas Fora da PEA** SITUAÇÃO CONJUGAL* Casada Morando junto Solteira Separada Desquitada Divorciada Viúva TOTAL n % 116 130 111 94 80 63 71 58 32 15,4 17,2 14,7 12,5 10,6 8,3 9,4 7,7 4,2 24 199 89 86 256 52 45 4 3,2 26,4 11,8 11,4 33,9 6,9 5,9 0,5 175 83 486 7 1 23,2 11,0 64,4 0,9 0,1 6 11 10 38 56 14 71 139 407 0,8 1,5 1,3 5,0 7,4 1,9 9,4 18,4 53,9 206 171 305 36 5 10 21 755 27,3 22,6 40,4 4,8 0,7 1,3 2,8 100,0 *Foram excluídas três entrevistadas que não souberam referir a cor da pele, ocupação e uma a situação conjugal. **PEA – População Economicamente Ativa. 71 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO seguido do uso de anticoncepcional oral (7,2%), o que demonstra uma inversão de preferência quando os dados obtidos são comparados aos da pesquisa realizada em 1996 que evidenciou o uso de contraceptivo oral como o segundo método mais utilizado e o uso do preservativo masculino foi preferido em apenas 1% dos casos (FRANÇA, 1997). Este aumento na adesão à utilização do preservativo masculino pode demonstrar o fato de que as políticas nessa área foram redirecionadas e promoveram a responsabilização de ambas as partes sobre a concepção, assim como a conscientização sobre a exposição aos riscos das doenças sexualmente transmissíveis. No entanto, o percentual de 11% ainda é baixo e denota que a participação na contracepção ainda é marcadamente feminina. Tabela 2 - Características reprodutivas das mulheres de 15 a 59 anos estudadas nos seis municípios mais populosos do Maranhão, 2006 – 2007. CARACTERÍSTICAS REPRODUTIVAS n % Nuligesta 225 29,8 Primigesta 101 13,4 Sedundigesta 146 19,3 Multigesta 283 37,5 Nulípara 266 35,3 Primípara 112 14,8 Sedundípara 148 19,6 Multípara 229 30,3 Nenhum 563 74,6 Um 135 17,9 Dois 39 5,2 3a4 13 1,7 Cinco e mais 4 0,5 Ignorado 1 0,1 Sim 406 53,8 Não 136 18,0 Não se aplica 213 28,2 Laqueadura tubária durante a cesárea 138 18,3 Laqueadura tubária em outro momento 96 12,7 Pílula 54 7,2 Camisinha 86 11,4 DIU 2 0,3 Tabela 3 0,4 Outro 27 3,5 Não se aplica 349 46,2 TOTAL 755 100,0 GESTAÇÃO PARIDADE Aborto USO DE MÉTODO CONTRACEPTIVO TIPO DE MÉTODO CONTRACEPTIVO 72 SAÚDE DA MULHER NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO ESTADO DO MARANHÃO 3. UTILIZAÇÃO DE SERVIÇOS Cobertura do exame preventivo do câncer de colo uterino No Brasil, a principal estratégia utilizada para a detecção precoce do câncer do colo uterino é a realização da coleta de material para exames cito-patológicos cérvico-vaginal e microflora, conhecido popularmente como preventivo do câncer do colo do útero; exame de Papanicolaou; citologia oncótica; PapTest (BRASIL, 2006a). Conforme Silva (2005), a colpocitologia oncótica, introduzida na década de 40 por Papanicolaou e Traut, constituiu grande avanço no controle do carcinoma da cérvice uterina. O método foi gradativamente adquirindo adeptos, assimilado em serviços de ginecologia e, atualmente, representa importante forma de rastreamento deste tipo de neoplasia. A sua grande aceitabilidade, tanto pela população como pelos profissionais de saúde, aliada à facilidade de execução, têm permitido a redução significativa da mortalidade por câncer do colo do útero nos Tabela 3 – Cobertura do exame preventivo do câncer do colo do útero nos seis municípios mais populosos do Estado do Maranhão, 2006 – 2007. REALIZAÇÃO DO PAPANICOLAU REALIZAÇÃO DO EXAME ALGUMA VEZ NA VIDA* Sim Não PERÍODO DE REALIZAÇÃO DO ÚLTIMO EXAME (em anos) Menos de 1 ano 1a2 >2a3 Mais de três Nunca fez o exame Não sabe COBERTURA NOS ÚLTIMOS TRÊS ANOS Nenhum 1a3 Mais de três Nunca fez o exame Não sabe INTERVALO ENTRE O ÚLTIMO E O PENÚLTIMO EXAME (em anos) Menos de 1 1a2 >2 a 3 Mais de três Nunca fez o exame/só fez uma vez Não sabe LOCAL SUS Particular Outro Não sabe Nunca fez PROFISSIONAL QUE ATENDEU NO EXAME Médico Enfermeira Outro Nunca fez Não sabe TOTAL n % 560 194 74,2 25,7 308 200 21 20 194 12 40,8 26,5 2,8 2,6 25,7 1,6 25 404 99 194 33 3,3 53,5 13,1 25,7 4,4 175 238 13 4 259 66 23,2 31,5 1,7 0,6 34,3 8,7 394 160 2 5 194 52,1 21,2 0,3 0,7 25,7 364 179 13 194 5 48,2 23,7 1,7 25,7 0,7 755 100,0 *Foi excluída uma entrevistada que não soube referir se já havia realizado o exame. 73 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO países onde sua implementação foi ampla, principalmente nos centros mais desenvolvidos. Para Martins et al (2005) apesar do conhecimento cada vez maior nesta área, a abordagem mais efetiva para o controle do câncer do colo do útero continua sendo o rastreamento por meio do exame preventivo de Papanicolaou. Trata-se de exame rápido, relativamente de baixo custo e efetivo para a sua detecção precoce. De forma geral, o câncer do colo do útero corresponde a cerca de 15% de todos os tipos de cânceres que acometem mulheres, sendo o segundo tipo de câncer mais comum entre as mulheres no mundo. Em alguns países em desenvolvimento, é o tipo mais comum de câncer feminino, enquanto que em países desenvolvidos chega a ocupar a sexta posição (BRASIL, 2002b). De acordo com dados fornecidos pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) (BRASIL, 2007) estima-se que no Brasil o câncer do colo do útero seja o terceiro mais comum na população feminina, sendo superado pelo câncer de pele não melanoma e pelo de mama. A infecção por HPV (papiloma vírus), alta paridade, multiplicidade de parceiros sexuais, baixo nível socioeconômico, iniciação sexual precoce e tabagismo explicam o aumento do número de pacientes cada vez mais jovens (BRASIL, 2000). No Maranhão o câncer cérvico-uterino é a neoplasia maligna de maior incidência e mortalidade no sexo feminino (OLIVEIRA, 2006; BRASIL, 2007). Apesar do conhecimento cada vez maior nesta área, a abordagem mais efetiva para o controle do câncer do colo do útero ainda é o rastreamento através do exame de Papanicolaou. É fundamental que os serviços de saúde orientem sobre o que é e a importância do exame preventivo, pois a sua realização periódica permite reduzir em cerca de 70% a mortalidade por câncer cérvico-uterino na população de risco (QUEIROZ et al., 2007). Neste estudo identificou-se que 74,2% das entrevistadas já haviam realizado o Papanicolaou e, na faixa etária de 25 a 59 anos (população para a prevenção), 89% das mulheres realizaram o exame preventivo do câncer do colo do útero alguma vez na vida, ultrapassando o percentual de 80% estabelecido pela OMS 74 como o necessário para a obtenção de impacto epidemiológico (BRASIL, 2005). Tal observação apresenta um percentual mais elevado em relação à PNAD de 2003 em que foi verificada uma freqüência relativa de 61,8% em mulheres de 25 anos e mais para a realização do Papanicolaou no Maranhão, porém é preciso atentar para as faixas etárias diferentes das participantes de ambas as pesquisas (IBGE, 2003). Na pesquisa Saúde, nutrição e mortalidade infantil no Maranhão, realizada em 1996, foi verificado que apenas 34,5% das mulheres entrevistadas já haviam realizado o exame alguma vez na vida, observando-se, portanto, no presente estudo um percentual mais elevado de realização do exame. Há evidências de que, nos últimos anos, aumentou o percentual de mulheres que se submetem ao exame de Papanicolaou, possivelmente em razão da descentralização dos serviços de saúde ocorrida nas últimas décadas no Brasil (MARTINS; THUELER; VALENTE, 2005). Das 560 mulheres que já realizaram o exame alguma vez na vida, 26,5% estavam com o exame em atraso (tomando a periodicidade trienal recomendada pelo MS). A tabela 3 mostra, ainda, que 51,8% das mulheres realizaram mais de um exame nos últimos três anos e em 31,7% dos casos o intervalo entre a realização do último e do penúltimo exame foi de 7 a 12 meses. Porém, sabe-se que redução da incidência do câncer do colo do útero não varia significativamente entre os controles anuais e trienais, sendo 93% e 91%, respectivamente, logo, não se justifica a implantação de um programa anual (DAY apud FREITAS, 2006). Então, apesar da existência de um programa de saúde pública que orienta as ações preventivas do câncer do colo uterino, as recomendações do mesmo (após dois controles anuais com resultado normal passa-se ao controle trienal) não são seguidas. Nos anos de 2002 e 2003, em 16 capitais brasileiras, a cobertura estimada pelo MS do exame de Papanicolaou variou entre 74% e 93% e o percentual desses exames que foi realizado pelo SUS variou entre 33% e 64% (BRASIL, 2006b). Aqui, o SUS foi referido por 52,1% das entrevistadas como o setor de realização do Papanicolaou, o setor particular foi re- SAÚDE DA MULHER NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO ESTADO DO MARANHÃO ferido por 21,2% das mulheres (Tabela 3). Sob essa ótica, a Estratégia Saúde da Família, como modelo que visa deslocar a assistência centrada na doença para o foco de promoção da saúde e prevenção de doenças, deve ser fundamental no processo de identificação e captação das mulheres que deixam de realizar o exame e de buscar o resultado do mesmo. Para Amorim et al. (2006) os motivos alegados pelas mulheres para a não realização do exame remetem à necessidade dos serviços de saúde serem mais efetivos em estratégias e práticas educativas para maximizar a cobertura do exame, sobretudo dos grupos de maior vulnerabilidade social e dependentes do atendimento do SUS. Quando perguntadas sobre qual o profissional que atendeu na realização do preventivo de câncer cérvico-uterino, 48,2% das mulheres referiram que foram atendidas por profissional médico; enquanto que 23,7% afirmaram ter sido atendida por enfermeira(o). Considerando que nesta pesquisa o SUS foi responsável por cerca da metade dos exames preventivos, fica evidenciada a discrepância destas proporções, pois o maior número de coletas citopatológicas, em nível da atenção básica, é realizada por enfermeiro(a) (NOGUEIRA, MOURA, 2004). Tal proporção pode revelar como se porta o profissional de enfermagem frente ao paciente/usuário e diante do desafio de consolidar a Enfermagem como saber/ciência reconhecida. Para Horta (1979) este reconhecimento só poderá ser alcançado quando o profissional reconhecer a si mesmo como protagonista, comprometendo-se e engajando-se na profissão, indo além do “ter o que fazer” e assumindo sua identidade profissional. Exame de mama O câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais freqüente no mundo e o mais comum entre as mulheres. Os fatores de risco relacionados com a vida reprodutiva da mulher estão bem estabelecidos em relação ao desenvolvimento do câncer de mama. Além desses, a idade continua sendo um dos mais importantes fatores de risco. As taxas de incidência au- mentam rapidamente até os 50 anos, e posteriormente o mesmo se dá de forma mais lenta (BRASIL, 2007). No Brasil, o câncer de mama é a maior causa de óbitos por câncer na população feminina, principalmente na faixa etária entre 40 e 69 anos. Um dos fatores que dificultam o tratamento é o estágio avançado em que a doença é descoberta. A maioria dos casos de câncer de mama, no Brasil, é diagnosticada em estágios avançados (III e IV), diminuindo as chances de sobrevida das pacientes e comprometendo os resultados do tratamento (BRASIL, 2007). Quando perguntadas sobre a realização do exame clínico das mamas por médico ou qualquer outro profissional de saúde alguma vez na vida, observa-se na tabela 4, que 44,9% das mulheres entrevistadas nunca tiveram suas mamas examinadas, percentual este menor do que o observado em pesquisa realizada em 1996 com mulheres de 15 a 49 anos residentes no Estado do Maranhão (76,3%). Das que se encontravam na faixa etária em que predominam os óbitos por este tipo de câncer (40 a 59 anos) 26,8% referiram nunca ter tido as mamas examinadas por profissional de saúde. Tal achado contrasta com o Consenso para Controle do Câncer de Mama que recomenda o exame clínico das mamas para mulheres de todas as faixas etárias, como parte do atendimento integral à mulher. Para mulheres acima de 40 anos de idade, esse exame deve ser realizado anualmente. As mulheres que se encontram na faixa etária de 50 a 69 anos devem realizar, pelo menos, uma mamografia a cada dois anos (BRASIL, 2007). Na amostra estudada a realização do exame mamográfico alguma vez na vida foi referida por 28,2% das mulheres. E das mulheres de 50 a 59 anos 37,8% nunca haviam realizado mamografia. Em um estudo realizado no município de Campinas/SP com dados de 316 mulheres de 40 anos ou mais foi verificado que 44,8% não haviam realizado mamografia nos últimos dois anos (AMORIM, 2006). Apesar de ser considerado um câncer de relativamente bom prognóstico, se diagnosticado e tratado oportunamente, as taxas de mortalidade por câncer de mama continuam elevadas no Brasil, muito provavelmente porque a doen75 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO ça ainda é diagnosticada em estádios avançados (BRASIL, 2007). REFERÊNCIAS AMORIM, V M S L et al. Fatores associados à não realização do Papanicolaou: um estudo de base populacional no município de Campinas, São Paulo, Brasil. Cad Saúde Pública. 2006; 22(11):2329-38. ARAÚJO, M J O. 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No Brasil, observa-se distribuição desigual desses elementos entre as distintas áreas geo-políticas do território, de forma que a oferta de serviços de saúde, especialmente os de maior complexidade, concentra-se principalmente no eixo sul-sudeste (BRASIL. IBGE, 2006; GUIMARÃES, AMARAL, SIMÕES, 2006), ainda que se verifique, nos últimos anos, um aumento expressivo do setor nas regiões norte e nordeste (BRASIL. IBGE, 2006). Além disso, segundo Louvison et al. (2008), em geral, o acesso aos serviços de saúde, inclusive odontológicos, é maior entre aqueles com maior poder aquisitivo, na medida em que têm possibilidades de recorrer tanto ao setor público, quanto ao privado. Ao medir a utilização dos serviços e estudar sua acessibilidade, pode-se, indiretamente, avaliar a eqüidade de um sistema de saúde (LOUVISON et al., 2008). Os indicadores mais adequados para avaliar a existência de desigualdade na atenção à saúde devem, entre outros atributos, estimar a chance dos indivíduos obterem tratamento quando acometidos por alguma doença (CAIRNEY, ARNOLD, 1996; SILVA et al., 2000). Os dados, no estado do Maranhão, apontam para a existência de iniqüidades em saúde na população avaliada, pois se registraram diferenças expressivas entre as proporções de indivíduos que necessitavam de tratamento odontológico e aqueles que efetivamente foram atendidos, bem como diferenças no acesso entre homens e mulheres (Tabela 1). Nesse senti- do, apesar de haver poucos relatos na literatura sobre a atual situação organizacional dos serviços de saúde públicos no estado do Maranhão, inclusive aqueles que prestam atendimento aos problemas de saúde bucal (SILVA et al., 2007), pode-se especular que tais resultados sejam devidos a possíveis dificuldades no acesso às ações e serviços de saúde, os quais, segundo Silva et al. (2007), permanecem ainda estruturados segundo a lógica da livre demanda em alguns municípios do estado do Maranhão. Estes resultados estão de acordo com os achados de Fernandes e Peres (2005) ao afirmarem que o acesso aos serviços odontológicos no Brasil é limitado e desigual. Dentreaqueles que referiram ter tido acesso a tratamento odontológico nos últimos seis meses, a maioria relatou utilização do serviço privado (11,9% dos homens e 13,8% das mulheres), seguido pelo serviço público do SUS (8,6% dos homens e 11,6% das mulheres). Poucos relataram terem sido usuários dos setores contratado/conveniado do SUS e dos planos de saúde odontológicos (Tabela 1). De forma semelhante, BARROS e BERTOLINE (2002), com base nos dados levantados pela Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios - PNAD/98 (BRASIL. PNAD, 1998) na qual foram entrevistadas 344.975 pessoas residentes em 112.434 domicílios e 793 municípios do Brasil, registraram que a maioria dos atendimentos odontológicos ocorreu em serviços particulares (69%), seguido por atendimentos públicos financiados pelo SUS (24%), enquanto a minoria relatou utilização dos serviços odontológicos por meio de planos de saúde (17%). Esses achados contrastam com a tendência no atendimento médico, onde se observa uma proporção maior de utilização dos setores público do SUS, bem 79 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO Tabela 1 – Saúde bucal e utilização de serviços em adultos de 20 a 59 anos nos seis municípios mais populosos do Maranhão 2006/2007. MASCULINO NECESSIDADE TRATAMENTO ÚLTIMOS SEIS MESES Sim Não CONSULTA ODONTOLÓGICA ÚLTIMOS SEIS MESES Sim Não Ignorado CATEGORIA ATENDIMENTO Setor público do SUS Setor contratado/conveniado do SUS Plano de Saúde Particular Outros Ignorado Não consultaram TRATAMENTO ORTODÔNTICO Sim Não Ignorado TRATAMENTO DE CANAL Sim Não Ignorado EXTRAÇÃO Sim Não Ignorado RESTAURAÇÃO Sim Não Ignorado LIMPEZA Sim Não Ignorado como dos planos/seguros de saúde médicos, em detrimento do setor privado (BRASIL. PNAD, 1998; BAHIA, 2001). A observação de que a grande maioria da população estudada não teve acesso a tratamento odontológico nos últimos seis meses difere da realidade esperada, já que os estudos epide- 80 FEMININO n % n % 172 247 41,1 58,9 298 342 46,6 53,4 104 314 1 24,8 75,0 0,2 193 445 2 30,2 69,5 0,3 36 9 12 50 4 2 306 8,6 2,1 2,9 11,9 1,0 0,5 73,0 74 13 21 88 2 2 440 11,6 2,0 3,3 13,8 0,3 0,3 68,8 6 410 3 1,4 96,4 0,7 20 617 3 3,1 97,9 0,5 15 402 2 3,6 95,9 0,5 28 611 1 4,4 95,4 0,2 30 387 2 7,2 92,4 0,5 44 595 1 6,9 93,0 0,2 52 365 2 12,4 87,1 0,5 94 545 1 14,7 85,2 0,2 47 370 2 11,2 88,3 0,5 101 538 1 15,8 84,1 0,2 miológicos apontam para elevados índices de doenças bucais e uma grande demanda reprimida por tais serviços (BRASIL, 2004a). Na presente investigação, os serviços de saúde odontológicos prestados na atenção básica – restaurador (12,4% em homens e 14,7% em mulheres), periodontal básico (limpeza) (11,2% em SITUAÇÃO DE SAÚDE BUCAL NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO homens e 15,8% em mulheres) e exodôntico (7,2% em homens e 6,9% em mulheres) – foram os mais utilizados, se comparados aos tratamentos executados na atenção secundária – endodontia (3,6% em homens e 4,4% em mulheres) e ortodontia (1,4% em homens e 3,1% em mulheres) – (Tabela 1). O tratamento ortodôntico representou o tipo de tratamento menos executado entre os adultos dos seis municípios maranhenses mais populosos. Entretanto, chama a atenção o fato de que a literatura aponta para uma altíssima prevalência de problemas no posicionamento dos dentes (má oclusão dentária), tanto na dentição decídua (BRASIL, 2004a; THOMAZ, VALENÇA, 2005), quanto na permanente (BRASIL, 2004a). Ademais, nas últimas décadas, tem ocorrido uma demanda crescente por tratamento ortodôntico, devido à melhoria geral na saúde bucal (declínio da cárie dentária), maior consciência e expectativa com relação à saúde bucal e estética, bem como pela maior disponibilidade de tratamento odontológico (OLIVEIRA, 2004). A doença cárie dentária e suas seqüelas continuam sendo as responsáveis pelo maior número de atendimentos relacionados à saúde bucal, constituídos pelos tratamentos restaurador, endodôntico (canal) e exodôntico (Tabela 1). Tal fato expressa as particularidades da transição epidemiológica brasileira, inclusive na saúde bucal, que, mesmo sem conseguir superar os problemas causados pela cárie dentária, acumulou também os transtornos decorrentes de doenças crônicas típicas dos países desenvolvidos (FRENK et al., 1991), a exemplo das periodontopatias e oclusopatias. Nesse sentido, percebe-se que o setor público de saúde ainda não conseguiu organizar um arsenal terapêutico apropriado para o adequado enfrentamento de algumas das principais doenças bucais, que, atualmente, são responsáveis por grande parte da morbidade da população brasileira. Continua-se ainda tentando superar um antigo problema – cárie dentária – sem dar conta do tratamento dos novos males. Tal premissa pode ser confirmada no fato de que, em todo o estado do Maranhão, não há qualquer estabelecimento de saúde com oferta pública de tratamento ortodôntico e poucos são os Centros de Especialidade Odontológica (CEO)* com oferta da atenção de média complexidade distribuídos pelo estado (BRASIL, 2004). Todavia, já existem iniciativas no Brasil apontando para a necessidade de oferta desse tratamento no setor público de saúde (FRANCIULLI, 2006; MACIEL, KORNIS, 2006). Outro dado que merece destaque é a baixa freqüência de tratamento de “limpeza”, caracterizada pelo controle mecânico do biofilme realizado pelo profissional (11,2% dos homens e 15,8% das mulheres – Tabela 1), apontando para a necessidade de conscientização da população e dos profissionais de saúde sobre a importância dos procedimentos preventivos em Odontologia, além da necessidade de aumento da oferta por tais serviços. Pode-se especular que, devido à grande demanda reprimida por tratamento curativo em Odontologia e ao acesso limitado a tal serviço, os pacientes, ao conseguirem atendimento, solicitam a resolução de suas demandas mais graves e impactantes e nem sempre dão continuidade ao plano de tratamento. Essa lógica vai de encontro à racionalidade e princípios do Sistema Único de Saúde brasileiro, o qual preconiza que se deve dar ênfase às ações de promoção de saúde e prevenção de doenças na atenção básica para o enfrentamento dos problemas de saúde pública, tendo na Saúde da Família a estratégia prioritária para reorganização do modelo assistencial (BRASIL, 2004b, 2006). Tais procedimentos de baixa densidade tecnológica e alta efetividade no controle mecânico do biofilme dental representam uma parcela extremamente importante do processo de trabalho do cirurgião-dentista e sua equipe no sentido de evitar tanto a doença cárie dentária, quanto a gengivite/periodontite e suas complicações (BUISCHI, 2000; PEREIRA et al., 2003), contribuindo, assim, para inverter a lógica que leva à mutilação, ainda hoje predominante em grande parcela dos atendimentos no serviço público (NORO et al., 2008), o que repercute no aumento dos índices de tratamento restaurador, endodôntico, exodôntico e protético, ocasionando grande ônus aos cofres públicos e impactando, de forma relevante, o perfil de saúde bucal das populações humanas. 81 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO 2. SAÚDE BUCAL EM CRIANÇAS MENORES DE 5 ANOS Em se tratando da saúde bucal das crianças menores de cinco anos, diversas particularidades merecem ser apontadas. Destacam-se questões culturais de desvalorização da dentição decídua pelo cuidador/responsável dos menores; bem como aspectos de ordem educacionais relativos à adoção de comportamentos em saúde que favoreçam a instalação/progressão dos principais problemas de saúde bucal que afetam essa faixa etária, principalmente a cárie dentária. Além disso, o estudo sobre saúde bucal em crianças de até cinco anos de idade torna-se importante devido ao fato da experiência de cárie na dentição decídua ser considerada como preditor da doença na dentição permanente (SKEIE et al., 2006). O declínio da prevalência da cárie observado nas últimas décadas em diversas partes do mundo (BRATTHAL et al., 1996, CURY et al., 2004) não tem sido extensivo às crianças de 2 a 5 anos, já que dados epidemiológicos apontam para o aumento da prevalência em torno de 15% nessa faixa etária (BELTRÁN-AGUILAR, 2005). Medidas preventivas para crianças muito jovens não vêm sendo empregadas de maneira precoce o suficiente para serem efetivas na redução da cárie naquela faixa etária (MONROY, 2007). Além disso, algumas barreiras permanecem dificultando, em alguns países, especialmente nos mais pobres, o cumprimento das metas pactuadas internacionalmente para a re- Tabela 2 – Saúde bucal em menores de cinco anos* nos seis municípios mais populosos do Maranhão. 2006/2007. NECESSIDADE DE TRATAMENTO NOS ÚLTIMOS SEIS MESES Sim Não Ignorado CONSULTA ODONTOLOGICA NOS ÚLTIMOS SEIS MESES Sim Não CATEGORIA DE ATENDIMENTO Setor público do SUS Setor contratado/conveniado do SUS Plano de Saúde Particular Outros Ignorado TRATAMENTO ORTODÔNTICO Sim Não TRATAMENTO DE CANAL Sim Não EXTRAÇÃO Sim Não RESTAURAÇÃO Sim Não LIMPEZA Sim Não * Exceto 42 crianças sem dentição. 82 n % 138 1033 1 11,4 85,2 0,1 104 1069 8,6 88,1 58 4 13 20 7 1 4,8 0,3 1,1 1,6 0,6 0,1 0 1170 96,4 3 1169 0,2 96,3 11 1161 0,9 95,6 20 1152 1,6 94,9 69 1103 5,7 90,9 SITUAÇÃO DE SAÚDE BUCAL NOS SEIS MUNICÍPIOS MAIS POPULOSOS DO MARANHÃO dução dessa doença (WHO/FDI, 1988). Dessa forma, enquanto alguns países já conseguiram, desde o ano 2000, atingir a meta para o ano de 2010, no Brasil, alguns municípios, até hoje, sequer conseguiram alcançar as metas para o ano 2000 (PEREIRA et al., 2003). Nesse estudo, convém salientar que das 138 (11,4%) crianças com necessidade referida de tratamento odontológico, 104 (75,4%) tiveram acesso ao serviço nos últimos seis meses, sendo que a maioria o fez por intermédio da rede pública do Sistema Único de Saúde (55,8%), seguido do setor privado (19,2%) e dos planos de saúde (12,5%) – (Tabela 2). Esses dados podem refletir que ainda há carência de atendimento odontológico público destinado a essa faixa etária, o que está em conformidade com Silva et al. (2007) ao afirmarem que na capital São Luís, o atendimento odontológico público destinado a atender crianças em idade pré-escolar é escasso, apesar da elevada prevalência de cárie precoce na infância na capital do estado do Maranhão. Em estudo realizado no município de Sobral (Ceará – Brasil), Noro et al. (2008) registraram que 34,7% das crianças que haviam tido acesso ao tratamento dentário o realizaram há mais de um ano. A grande maioria das crianças que teve acesso a tratamento odontológico (85,4%) o realizou na rede pública, ou seja, por intermédio do SUS e apenas 7,5% das crianças tiveram acesso a serviços privados, enquanto 7,1% realizaram atendimento odontológico utilizando planos de saúde ou convênios. Os dados mostram um percentual considerável de crianças menores de cinco anos que, na atual investigação, referiram história recente de necessidade de tratamento odontológico (11,4%) (Tabela 2). Em pesquisa nacional sobre a situação epidemiológica dos principais problemas odontológicos da população brasileira, a cárie dentária esteve presente em 59,37% das crianças aos cinco anos de idade (BRASIL, 2004a), com distribuição desigual entre as macrorregiões do país, tendo na região Nordeste os mais altos percentuais de história de cárie na dentição decídua (65,08% das crianças). O número médio, em todo o país, de dentes cariados, com extração indicada e/ou restaurados foi de 2,8 dentes por criança; e de 3,21 para a região Nordeste. O componente de maior expressividade em todas as regiões do Brasil foi o cariado (com 98% para a região Nordeste), evidenciando a enorme demanda reprimida por tratamento odontológico em nosso país. A modalidade de tratamento mais executada foi a “limpeza” (5,7% das crianças avaliadas); seguido do tratamento restaurador (1,6%); da extração dentária (0,9%) e da terapia endodôntica (0,2%) – (Tabela 2), expressando a necessidade de adoção de medidas preventivas com vistas à redução dos casos severos da doença. Tais resultados podem estar refletindo a existência de lacunas nas políticas públicas em saúde bucal, especialmente aquelas voltadas para a educação em saúde, dado o caráter comportamental e cultural da doença cárie, uma das principais responsáveis pela morbidade decorrente de problemas bucais em crianças dessa faixa etária no Brasil (BUISCHI, 2000; PEREIRA et al., 2003). Assim, considerando-se que as políticas públicas de saúde bucal no Brasil representam ações governamentais extremamente novas, ainda em processo de implementação, e que, até então, se mostraram insuficientes para sanar o problema da imensa demanda reprimida por séculos no país, acredita-se que as dificuldades de acesso a esses serviços de saúde representem um nó crítico no processo de construção do SUS. Não obstante, o estudo desse problema deve mobilizar mentes e corações no intuito de encontrar alternativas viáveis que nos levem a experiências exitosas na busca pela melhoria da qualidade de vida de nossa população. 83 ATENÇÃO À SAÚDE DO ADULTO E DA CRIANÇA NO MARANHÃO REFERÊNCIAS BAHIA, L O. Mercado de planos privados e seguros de saúde no Brasil: tendências pós-regulamentação. In: Negri B, Di Giovanni G (org.). Brasil: radiografia da saúde. Campinas, São Paulo: Unicamp, 2001. p.325-361. BARROS, A J D; BERTOLINE, A D. Desigualdades na utilização e no acesso a serviços odontológicos: uma avaliação em nível nacional. Ciência & Saúde Coletiva 2002;7(4):709-717. BELTRÁN-AGUILAR, E D et al. Surveillance for Dental Caries, Dental Sealants, Tooth Retention, Edentulism, and Enamel Fluorosis - United States, 1988-1994 and 1999-2002. MMWR Surveill Summ 2005;54(03);1-44. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. 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