Autorreguladas - 9º ano

Transcrição

Autorreguladas - 9º ano
Língua Portuguesa
e Literatura
Aluno
Caderno de Atividades
Pedagógicas de
Aprendizagem
Autorregulada – 03
9º Ano | 3° Bimestre
Disciplina
Curso
Bimestre
Ano
Língua Portuguesa
Ensino Fundamental
3°
9º
Habilidades Associadas
1. Identificar o sentido especializado do termo “romance” diferenciando-o do uso comum
do termo
2. Relacionar características físicas e psicológicas dos personagens à sua composição como
um todo.
3. Utilizar pistas do texto para fazer antecipações e inferências a respeito do conteúdo.
4. Estabelecer as diferenças estruturais entre romance, conto e crônica.
Apresentação
A Secretaria de Estado de Educação elaborou o presente material com o intuito de estimular o
envolvimento do estudante com situações concretas e contextualizadas de pesquisa, aprendizagem
colaborativa e construções coletivas entre os próprios estudantes e respectivos tutores – docentes
preparados para incentivar o desenvolvimento da autonomia do alunado.
A proposta de desenvolver atividades pedagógicas de aprendizagem autorregulada é mais uma
estratégia pedagógica para se contribuir para a formação de cidadãos do século XXI, capazes de explorar
suas competências cognitivas e não cognitivas. Assim, estimula-se a busca do conhecimento de forma
autônoma, por meio dos diversos recursos bibliográficos e tecnológicos, de modo a encontrar soluções
para desafios da contemporaneidade, na vida pessoal e profissional.
Estas atividades pedagógicas autorreguladas propiciam aos alunos o desenvolvimento das
habilidades e competências nucleares previstas no currículo mínimo, por meio de atividades
roteirizadas. Nesse contexto, o tutor será visto enquanto um mediador, um auxiliar. A aprendizagem é
efetivada na medida em que cada aluno autorregula sua aprendizagem.
Destarte, as atividades pedagógicas pautadas no princípio da autorregulação objetivam,
também, equipar os alunos, ajudá-los a desenvolver o seu conjunto de ferramentas mentais, ajudando-o
a tomar consciência dos processos e procedimentos de aprendizagem que ele pode colocar em prática.
Ao desenvolver as suas capacidades de auto-observação e autoanálise, ele passa ater maior
domínio daquilo que faz. Desse modo, partindo do que o aluno já domina, será possível contribuir para
o desenvolvimento de suas potencialidades originais e, assim, dominar plenamente todas as
ferramentas da autorregulação.
Por meio desse processo de aprendizagem pautada no princípio da autorregulação, contribui-se
para o desenvolvimento de habilidades e competências fundamentais para o aprender-a-aprender, o
aprender-a-conhecer, o aprender-a-fazer, o aprender-a-conviver e o aprender-a-ser.
A elaboração destas atividades foi conduzida pela Diretoria de Articulação Curricular, da
Superintendência Pedagógica desta SEEDUC, em conjunto com uma equipe de professores da rede
estadual. Este documento encontra-se disponível em nosso site www.conexaoprofessor.rj.gov.br, a fim
de que os professores de nossa rede também possam utilizá-lo como contribuição e complementação às
suas aulas.
Estamos à disposição através do e-mail [email protected] para quaisquer
esclarecimentos necessários e críticas construtivas que contribuam com a elaboração deste material.
Secretaria de Estado de Educação
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Caro aluno,
Neste caderno, você encontrará atividades diretamente relacionadas a algumas
habilidades e competências do 3º Bimestre do Currículo Mínimo de Língua Portuguesa
do 9º ano do Ensino Fundamental. Estas atividades correspondem aos estudos durante
o período de um mês.
A nossa proposta é que você, Aluno, desenvolva estas Atividades de forma
autônoma, com o suporte pedagógico eventual de um professor, que mediará as trocas
de conhecimentos, reflexões, dúvidas e questionamentos que venham a surgir no
percurso. Esta é uma ótima oportunidade para você desenvolver a disciplina e
independência indispensáveis ao sucesso na vida pessoal e profissional no mundo do
conhecimento do século XXI.
Neste Caderno de Atividades, vamos estudar o romance “Vidas Secas” para
compreender melhor esse gênero literário de grande importância para sua formação
como aluno e como cidadão. Na primeira aula, vamos aprender as diferentes
definições para o termo “romance”. Na segunda aula, você vai aprender a relacionar as
características físicas e psicológicas dos personagens à sua composição como um todo.
Na aula 3, vamos aprender a inferir o significado de palavras desconhecidas no texto e
na aula 4 aprenderemos a utilizar as pistas do texto para fazer inferências de sentido.
Dedicaremos a aula 5 ao aprofundamento das diferenças entre romance, conto e
crônica. E, por fim, na aula 6, confrontaremos a estrutura do conto e da crônica com a
do romance.
Este documento apresenta 08 (oito) Aulas. As aulas podem ser compostas por
uma explicação base, para que você seja capaz de compreender as principais ideias
relacionadas às habilidades e competências principais do bimestre em questão, e
atividades respectivas. Leia o texto e, em seguida, resolva as atividades propostas. As
Atividades são referentes a dois tempos de aulas. Para reforçar a aprendizagem,
propõe-se, ainda, uma pesquisa e uma avaliação sobre o assunto.
Um abraço e bom trabalho!
Equipe de Elaboração
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Sumário
Introdução......................................................................................................... 03
Aula 01: Você sabe o que é romance................................................................ 05
Aula 02: Como são descritos os personagens................................................... 11
Aula 03: Palavras desconhecidas no texto........................................................ 15
Aula 04: Nas entrelinhas: descobrindo os sentidos........................................... 21
Aula 05: Diferenças entre crônica, conto e romance........................................ 23
Aula 06: Registrando as diferenças................................................................... 27
Avaliação........................................................................................................... 32
Pesquisa............................................................................................................ 36
Referências....................................................................................................... 37
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Aula 1: Você sabe o que é romance?
Nesta aula, vamos relembrar rapidamente os gêneros narrativos que focamos
no caderno anterior.
Você se lembra que estudamos os gêneros crônica e conto? Pois bem! Neste
caderno, vamos estudar um gênero que mantém uma relação muito estreita com a
crônica e o conto, pois apresenta algumas características em comum com esses
gêneros. Estamos falando do gênero “romance”.
Comecemos pensando o que nos remete a palavra “romance”. Certamente
você deve ter associado romance a relacionamento amoroso, namoro, enfim, algum
tipo de relação a dois que envolve o sentimento amor. Na verdade, esse é um dos
possíveis significados para a palavra romance, mas não é o único.
Veja, a seguir, os possíveis significados para o termo romance:
Romance
1. Narração histórica em versos simples.
2. Língua ou conjunto de línguas derivadas do latim.
3. Narração em prosa, de aventuras imaginárias, ou reproduzidas da realidade,
combinadas de modo a interessarem o leitor.
4. Fantasia.
5. Novela, conto.
6. Relacionamento amoroso.
Disponível em http://www.priberam.pt/dlpo/Default.aspx?pal=romance Acesso em 17 set. 2013.
Repare que há pelo menos seis definições possíveis para a palavra romance.
Portanto, neste caderno, quando falarmos de romance, estaremos nos referindo ao
gênero narrativo, literário, que pode vir ou não imerso em uma trama de amor. Você
já ouviu falar ou mesmo já leu algum romance policial, ou de aventura, ou de ficção
científica? Portanto, romance e amor não estão necessariamente ligados. Aqui, neste
caderno, consideraremos a definição 3 de romance descrita anteriormente: uma
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estrutura textual que apresenta um enredo (história), contado por um narrador,
vivenciado por personagens, dentro de um limite de tempo e espaço. Não são
exatamente esses mesmos elementos que podem aparecer também na crônica e no
conto? Sim, mas o romance se diferencia da crônica e do conto pelo fato de o romance
apresentar várias ações secundárias, que se desenrolam simultaneamente à ação
principal, enquanto que a crônica e o conto apresentam, via de regra, apenas uma
ação principal. Além disso, as personagens dos romances costumam apresentar uma
profundidade psicológica maior do que as personagens de um conto, por exemplo.
Também o tempo e o espaço apresentam organizações diferentes, não se limitando
apenas aos seus aspectos linear (5 minutos, um mês, três anos, um século) e físico, (a
casa, a rua, a fazenda, a feira), respectivamente.
Dessa forma, para estudarmos o gênero romance, retomaremos alguns
conceitos que já foram abordados no caderno anterior, porém, agora, com mais
profundidade. Vamos começar nossos estudos?
Atividade 1
A seguir, transcrevemos um fragmento do primeiro capítulo de um conhecido
romance da literatura brasileira, intitulado Vidas Secas, de Graciliano Ramos. A obra
retrata a dura saga de uma família de retirantes sertanejos que migram fugindo da
seca, da fome e da pobreza do sertão em busca de melhores condições de vida e
sobrevivência. Neste capítulo, temos a descrição da terra árida e do sofrimento da
família. Após a leitura, responda às questões propostas.
MUDANÇA
Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os
infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos.
Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do
rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma
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sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da
catinga rala.
Arrastaram-se para lá, devagar, Sinhá Vitória com o filho mais novo escanchado
no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a
cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro.
O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás.
Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôsse a chorar, sentou-se no chão.
- Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai.
Não obtendo resultado, fustigou-o com a bainha da faca de ponta. Mas o
pequeno esperneou acuado, depois sossegou, deitou-se, fechou os olhos. Fabiano
ainda lhe deu algumas pancadas e esperou que ele se levantasse. Como isto não
acontecesse, espiou os quatro cantos, zangado, praguejando baixo.
A catinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas
que eram ossadas. O voo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos
moribundos.
- Anda, excomungado.
O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso,
queria responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato
necessário - e a obstinação da criança irritava-o. Certamente esse obstáculo miúdo não
era culpado, mas dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde.
Tinham deixado os caminhos, cheios de espinho e seixos, fazia horas que
pisavam a margem do rio, a lama seca e rachada que escaldava os pés.
Pelo espírito atribulado do sertanejo passou a ideia de abandonar o filho
naquele descampado. Pensou nos urubus, nas ossadas, coçou a barba ruiva e suja,
irresoluto, examinou os arredores. Sinhá Vitória estirou o beiço indicando vagamente
uma direção e afirmou com alguns sons guturais que estavam perto. Fabiano meteu a
faca na bainha, guardou-a no cinturão, acocorou-se, pegou no pulso do menino, que se
encolhia, os joelhos encostados no estômago, frio como um defunto. Aí a cólera
desapareceu e Fabiano teve pena. Impossível abandonar o anjinho aos bichos do
mato. Entregou a espingarda a Sinhá Vitória, pôs o filho no cangote, levantou-se,
agarrou os bracinhos que lhe caíam sobre o peito, moles, finos como cambitos. Sinhá
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Vitória aprovou esse arranjo, lançou de novo a interjeição gutural, designou os
juazeiros invisíveis.
E a viagem prosseguiu, mais lenta, mais arrastada, num silêncio grande.
Ainda na véspera eram seis viventes, contando com o papagaio. Coitado,
morrera na areia do rio, onde haviam descansado, à beira de uma poça: a fome
apertara demais os retirantes e por ali não existia sinal de comida. Baleia jantara os
pés, a cabeça, os ossos do amigo, e não guardava lembrança disto.
Num cotovelo do caminho avistou um canto de cerca, encheu-o a esperança de
achar comida, sentiu desejo de cantar. A voz saiu-lhe rouca, medonha. Calou-se para
não estragar força.
Deixaram a margem do rio, acompanharam a cerca, subiram uma ladeira,
chegaram aos juazeiros. Fazia tempo que não viam sombra. Sinhá Vitória acomodou os
filhos, que arriaram como trouxas, cobriu-os com molambos. O menino mais velho,
passada a vertigem que o derrubara, encolhido sobre folhas secas, a cabeça encostada
a uma raiz, adormecia, acordava. E quando abria os olhos, distinguia vagamente um
monte próximo, algumas pedras, um carro de bois. A cachorra Baleia foi enroscar-se
junto dele.
Estavam no pátio de uma fazenda sem vida. O curral deserto, o chiqueiro das
cabras arruinado e também deserto, a casa do vaqueiro fechada, tudo anunciava
abandono. Certamente o gado se finara e os moradores tinham fugido.
Iam-se amodorrando e foram despertados por Baleia, que trazia nos dentes um
preá. Levantaram-se todos gritando. O menino mais velho esfregou as pálpebras,
afastando pedaços de sonho. Sinhá Vitória beijava o focinho de Baleia, e como o
focinho estava ensanguentado, lambia o sangue e tirava proveito do beijo.
A fazenda renasceria e ele, Fabiano, seria o vaqueiro, para bem dizer seria dono
daquele mundo.
Os troços minguados ajuntavam-se no chão: a espingarda de pederneira, o aió,
a cuia de água e o baú de folha pintada. A fogueira estalava. O preá chiava em cima
das brasas.
Uma ressurreição. As cores da saúde voltariam à cara triste de Sinhá Vitória. Os
meninos se espojariam na terra fofa do chiqueiro das cabras. Chocalhos tilintariam
pelos arredores. A catinga ficaria verde.
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Baleia agitava o rabo, olhando as brasas. E como não podia ocupar-se daquelas
coisas, esperava com paciência a hora de mastigar os ossos. Depois iria dormir.
Disponível em http://www.diciomario.com.br/vidas_secas_101.html Acesso em 15 set. 2013.
Disponível em http://alimenteocerebro.com/a-aridez-e-a-frieza-de-vidas-secas/ Acesso em 15 set. 2013.
1) Que personagens aparecem no capítulo “Mudança”?
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2) Em que espaço os personagens vivenciam os fatos narrados?
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3) Em relação do foco narrativo, o narrador conta a história em 1ª ou 3ª pessoa?
Justifique sua resposta com um fragmento do texto.
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4) Nos romances, é muito comum o enredo não ser linear, ou seja, não obedecer a
uma ordem temporal fixa, cronológica, em que um fato se sucede ao outro. No
capítulo “Mudanças”, o narrador faz um recuo no tempo e volta a acontecimentos
anteriores aos fatos que está narrando. Transcreva do texto uma passagem que
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exemplifica um retrocesso do narrador, ou seja, um fato que aconteceu em um
momento anterior ao momento em que está narrando as ações para o leitor.
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5) No trecho “O pirralho não se mexeu. Fabiano desejou matá-lo.” Por que esse desejo
do vaqueiro não se concretizou? Explique.
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6) Considerando a estrutura da narrativa, dividida em apresentação ou exposição,
complicação, clímax e desfecho, responda: a que parte do romance Vidas Secas
pertence o capítulo “Mudança”? Justifique.
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Aula 2: Como são descritos os personagens?
Nesta aula, vamos aprender a identificar e relacionar as características físicas e
psicológicas das personagens à sua composição como um todo.
Ao lermos uma história, quase sempre o narrador tem a preocupação de
descrever os personagens para que o leitor possa fazer uma idéia de como eles são,
tanto nos seus aspectos físico quanto psicológico.
As características físicas geralmente estão associadas aos sentidos que o corpo é
capaz de perceber (tato, paladar, audição, olfato e visão). Por exemplo, se uma pessoa
é alta/baixa, magra/gorda, tem olhos azuis, verdes ou castanhos, se tem cabelos
curtos/longos, lisos/cacheados, se é branca, negra ou morena, se possui dentes
alinhados, tortos, brancos, amarelados ou se é banguela, forte/fraco, doente/
saudável... Enfim, as características físicas das personagens são descritas por meio de
adjetivos, que constituem uma classe de palavra cujo objetivo principal é caracterizar
os seres. Assim, pela utilização dos adjetivos no texto, o narrador é capaz de expor os
traços exteriores do ser, como os traços faciais, as partes do corpo, o jeito de falar, de
andar e de se vestir.
Por outro lado, as características psicológicas são aquelas que dizem respeito aos
aspectos emocionais, mentais e comportamentais do ser, tais como comportamento,
defeitos, virtudes, personalidade, caráter, preferências. Portanto, dizer que uma
pessoa é simpática/antipática, mentirosa, misteriosa, traiçoeira, falsa/confiável,
determinada, pessimista/otimista, segura/insegura, triste/alegre, destemida/covarde,
inteligente/estúpida são características psicológicas que os personagens podem
apresentar numa narrativa.
Por fim, cabe lembrar que nem sempre as características psicológicas das
personagens aparecem de modo explícito no texto, assim como as características
físicas. Muitas das características psicológicas podem ser percebidas por meio de
inferências (deduções), a partir da análise das ações, falas e comportamentos das
personagens.
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Atividade 2
1) Observe com bastante atenção as imagens a seguir. A partir delas, preencha o
quadro com as características físicas de cada personagem do romance “Vidas Secas”.
Personagens
Características físicas
Fabiano
http://www.festlatinosp.com.br/2013/filme_vidas_secas.php
Sinhá Vitória
http://www.exopto.com/
Menino mais velho
http://www.palmeiraespirita.com.br/files/vidas_secas.htm
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Baleia
http://expirados.com.br/loja/products/Vidas-Secas-%252d1963.html
2) Agora, propomos que você aponte uma característica psicológica de cada
personagem que aparece no capítulo “Mudança” da aula anterior. Após, transcreva
uma ação vivenciada por cada uma das personagens e que se relacione com a
característica que você indicou.
Personagem
Característica psicológica
Fragmento do texto
Fabiano
Sinhá Vitória
Menino mais
velho
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Baleia
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Aula 3: Palavras desconhecidas no texto
Nesta aula, vamos estudar a importância de inferir, ou seja, deduzir, concluir,
identificar o sentido com que uma palavra desconhecida está sendo usada num texto.
Esta habilidade de leitura – inferir o significado de palavras desconhecidas no
texto – é de extrema importância para uma leitura eficiente, uma vez que, em muitos
momentos, você precisará ler um texto e compreendê-lo sem, contudo, dispor de um
dicionário ou internet para pesquisar o significado de possíveis termos desconhecidos.
Vamos fazer um rápido exercício para você compreender melhor como é possível
deduzir o significado de uma palavra a partir do contexto em que ela está inserida.
Observe o seguinte título de um texto:
Como dirimir o trabalho infanto-juvenil no Brasil.
(Disponível em: http://inez-nerez.blogspot.com.br/2012/06/como-dirimir-o-trabalho-infantojuvenil.html)
Repare que há, nesse título, uma palavra que pode ser estranha para você:
dirimir.
Inicialmente, para que seja possível chegar a alguma conclusão sobre o possível
significado da palavra “dirimir”, procure reconhecer:
1) O tema que está sendo anunciado no título do texto.
Percebeu que
certamente o texto irá tratar de algo relacionado ao trabalho infanto-juvenil?
2) Em seguida, procure refletir em torno do contexto em que a palavra
“dirimir” aparece; pense que relação de sentido essa palavra estabelece com o
tema que será abordado no texto, o trabalho infantil.
3) Agora já é possível imaginar o significado de “dirimir”: extinguir, acabar, fazer
cessar, abolir, resolver, solucionar, entre outros.
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Além dessa estratégia de análise do contexto, você também provavelmente
utilizou seu conhecimento de mundo para chegar ao possível significado do termo
desconhecido. Você já leu, já ouviu pessoas comentarem, já assistiu na TV reportagens
ou até mesmo teve uma aula na escola sobre os prejuízos acarretados pelo trabalho
infantil. Sendo assim, você não imaginaria que “dirimir” poderia apresentar um
significado diferente de “extinguir”, “resolver”, pois seria no mínimo estranho alguém
ser a favor do trabalho infantil nos dias de hoje, escrever sobre isso e principalmente,
publicar na internet.
Atividade 3
Agora você vai ler um fragmento do terceiro capítulo de “Vidas Secas”,
intitulado “Cadeia”. Pela primeira vez aparece a figura do soldado amarelo, que mais
tarde voltará simbolizando a autoridade do governo. Também, pela primeira vez,
insinua-se a ideia de que não é apenas a seca que faz de Fabiano e sua família pessoas
animalizadas. Ele é preso sem qualquer motivo e torna a analisar sua situação de
homem-bicho. Só que, desta vez, não tem mais coragem de sonhar com um futuro
melhor. No final do capítulo, Fabiano está ciente de sua condição de homem vencido
e, pior ainda, sem ilusões com relação à vida de seus filhos.
CADEIA
Aí certificou-se novamente de que o querosene estava batizado e decidiu beber
uma pinga, pois sentia calor. Seu Inácio trouxe a garrafa de aguardente. Fabiano virou
o copo de um trago, cuspiu, limpou os beiços a manga, contraiu o rosto. Ia jurar que a
cachaça tinha água. Por que seria que seu Inácio botava água em tudo? perguntou
mentalmente. Animou-se e interrogou o bodegueiro:
- Por que é que vossemecê bota água em tudo?
Seu Inácio fingiu não ouvir. E Fabiano foi sentar-se na calçada, resolvido a
conversar. O vocabulário dele era pequeno, mas em horas de comunicabilidade
enriquecia-se com algumas expressões de seu Tomás da bolandeira. Pobre de seu
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Tomás. Um homem tão direito sumir-se como cambembe, andar por este mundo de
trouxa nas costas. Seu Tomás era pessoa de consideração e votava. Quem diria?
Nesse ponto um soldado amarelo aproximou-se e bateu familiarmente no
ombro de Fabiano:
- Como é, camarada? Vamos jogar um trinta-e-um lá dentro? Fabiano atentou
na farda com respeito e gaguejou, procurando as palavras de seu Tomás da bolandeira:
- Isto é. Vamos e não vamos. Quer dizer. Enfim, contanto, etc. É conforme.
Levantou-se e caminhou atrás do amarelo, que era autoridade e mandava.
Fabiano sempre havia obedecido. Tinha muque e substância, mas pensava pouco,
desejava pouco e obedecia.
Atravessaram a bodega, a corredor, desembocaram numa sala onde vários
tipos jogavam cartas em cima de uma esteira.
- Desafasta, ordenou o polícia. Aqui tem gente.
Os jogadores apertaram-se, os dois homens sentaram-se, o soldado amarelo
pegou o baralho. Mas com tanta infelicidade que em pouco tempo se enrascou.
Fabiano encalacrou-se também. Sinha Vitória ia danar-se, e com razão.
- Bem feito.
Ergueu-se furioso, saiu da sala, trombudo.
- Espera aí, paisano, gritou o amarelo.
Fabiano, as orelhas ardendo, não se virou. Foi pedir a seu Inácio os troços que
ele havia guardado, vestiu o gibão, passou as correias dos alforjes no ombro, ganhou a
rua.
Repetia que era natural quando alguém lhe deu um empurrão.
Outro empurrão desequilibrou-o. Voltou-se e viu ali perto o soldado amarelo,
que o desafiava, a cara enferrujada, uma ruga na testa. Mexeu-se para sacudir o
chapéu de couro nas ventas do agressor. Com uma pancada certa do chapéu de couro,
aquele tico de gente ia ao barro. Olhou as coisas e as pessoas em roda e moderou a
indignação. Na catinga ele às vezes cantava de galo, mas na rua encolhia-se.
- Vossemecê não tem direito de provocar os que estão quietos.
- Desafasta, bradou o polícia.
E insultou Fabiano, porque ele tinha deixado a bodega sem se despedir.
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- Lorota, gaguejou o matuto. Eu tenho culpa de vossemecê esbagaçar os seus
possuídos no jogo?
Engasgou-se. A autoridade rondou por ali um instante, desejosa de puxar
questão. Não achando pretexto, avizinhou-se e plantou o salto da reiuna em cima da
alpercata do vaqueiro.
- Isso não se faz, moço, protestou Fabiano. Estou quieto. Veja que mole e
quente é pé de gente.
O outro continuou a pisar com força. Fabiano impacientou-se e xingou a mãe
dele. Aí o amarelo apitou, e em poucos minutos o destacamento da cidade rodeava o
jatobá.
- Toca pra frente, berrou o cabo.
Fabiano marchou desorientado, entrou na cadeia, ouviu sem compreender uma
acusação medonha e não se defendeu.
- Está certo, disse o cabo. Faça lombo, paisano.
Fabiano caiu de joelhos, repetidamente uma lâmina de facão bateu-lhe no
peito, outra nas costas. Em seguida abriram uma porta, deram-lhe um safanão que o
arremessou para as trevas do cárcere. A chave tilintou na fechadura, e Fabiano ergueuse atordoado, cambaleou, sentou-se num canto, rosnando:
- Hum! hum!
Disponível em http://www.diciomario.com.br/vidas_secas_101.html Acesso em 16 set. 2013.
1) Desde o primeiro capítulo de “Vidas Secas”, você deve ter se deparado com várias
palavras desconhecidas. Entretanto, é possível deduzir o significado de muitas delas ao
considerar o contexto em que aparecem. A partir disso, aponte os possíveis
significados dos termos destacados nos fragmentos a seguir. Uma dica: procure voltar
ao texto e ler o parágrafo onde o termo se encontra. Assim, facilita a identificação do
seu significado.
a) “Atravessaram a bodega, a corredor, desembocaram numa sala onde vários tipos
jogavam cartas.”
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b) “- Desafasta, ordenou o polícia. Aqui tem gente.”
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c) “Sinha Vitória ia danar-se, e com razão.”
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d) “Com uma pancada certa do chapéu de couro, aquele tico de gente ia ao barro.”
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e) “A chave tilintou na fechadura...”
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2) Você deve ter percebido que o fragmento do capítulo “Cadeia” traz algumas
expressões bastante populares utilizadas na linguagem coloquial, aquele nível de
linguagem que usamos com nossos amigos e familiares, em situações que não exigem
formalidade. Observe os trechos transcritos a seguir e explique o significado de cada
termo destacado, considerando-se o contexto em que aparecem.
a) Aí certificou-se novamente de que o querosene estava batizado e decidiu beber
uma pinga, pois sentia calor.
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b) Tinha muque e substância, mas pensava pouco, desejava pouco e obedecia.
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c) Na catinga ele às vezes cantava de galo, mas na rua encolhia-se.
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d) - Lorota, gaguejou o matuto.
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e) Em seguida abriram uma porta, deram-lhe um safanão que o arremessou para as
trevas do cárcere.
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3) O capítulo “Cadeia” conta como aconteceu a prisão de Fabiano. Leia o capítulo
novamente, identifique os elementos dessa parte da narrativa e preencha o quadro
seguir.
Personagens
Conflito
Espaço
Tempo
Narrador
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Aula 4: Nas entrelinhas: descobrindo os sentidos
Caro aluno, nesta aula 4, vamos estudar um dos aspectos mais importantes da
leitura que é a identificação de sentidos implícitos nos textos.
Em muitos momentos, ao lermos um texto, temos a impressão de extrair dele
algumas informações que não estavam escritas, mas tudo nos levava àquela conclusão.
Certamente, isso já lhe aconteceu, pois essa situação é muito comum. Ser capaz de
perceber informações “escondidas”, subentendidas ou pressupostas nos textos
constitui-se uma habilidade essencial de leitura. Mas, para realizar uma leitura
eficiente, o leitor deve captar tanto os dados explícitos quanto os implícitos, uma vez
que leitor perspicaz é aquele que consegue ler nas “entrelinhas”. Muitos textos
exploram de forma produtiva informações implícitas, porque, de fato, para atingir os
efeitos que se deseja, torna-se necessário trabalhar num nível mais profundo de
leitura.
Nos capítulos de “Vidas Secas” que temos estudado até aqui, há vários
momentos em que informações implícitas são veiculadas pelo narrador, sem que, no
entanto, estejam escritas letra por letra. A compreensão dessas informações
subentendidas é condição essencial para se garantir um bom nível de leitura do
romance. Dessa forma, em várias situações, aquilo que não é dito, mas apenas
sugerido, importa muito mais do que aquilo que é dito abertamente.
Vamos ver um pouco mais sobre isso na atividade a seguir.
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Atividade 4
1) Vamos relembrar um trecho do capítulo “Mudança”. Releia:
“Ainda na véspera eram seis viventes, contando com o papagaio. Coitado,
morrera na areia do rio, onde haviam descansado, à beira de uma poça: a fome
apertara demais os retirantes e por ali não existia sinal de comida. Baleia jantara os
pés, a cabeça, os ossos do amigo, e não guardava lembrança disto.”
Repare que, nesse fragmento, há uma informação explícita e outra informação
implícita a respeito do fato que ocorrera ao papagaio. Com base nisso, responda: para
quem o papagaio serviu de comida? Explique.
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2) Leia o último parágrafo do capítulo Baleia:
“Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as
mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam
com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de
preás, gordos, enormes.”
Disponível em http://veja.abril.com.br/blog/todoprosa/antologia/que-cena-a-morte-de-baleia-emvidas-secas/ Acesso em 17 set. 2013.
O que podemos deduzir do sonho de Baleia? O que ela imagina existir?
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Aula 5: Diferença entre crônica, conto e romance
Nesta aula, você vai aprender a identificar as principais características que
diferenciam e aproximam os gêneros crônica, conto e romance.
Mas você pode estar se perguntando: o que, afinal, distingue crônica, conto e
romance? Veja, na tabela, as seguintes definições para cada um dos gêneros
narrativos.
Crônica
Conto
Romance
A crônica se caracteriza É uma narrativa mais curta É uma narrativa longa, que
por ser um texto curto, que o romance e que tem habitualmente envolve um
leve,
que
geralmente como característica central número
aborda temas do cotidiano condensar
um
maior
único personagens
de
complexos,
e, devido à sua atualidade, conflito, tempo, espaço e maior número de conflitos,
geralmente é veiculada no reduzir
meio jornalístico.
o
número
personagens.
de tempo
e
espaço
mais
aprofundados.
Uma crônica pode contar, É uma espécie de flash da É possível classificar o
comentar, descrever ou vida das personagens
romance quanto à sua
ainda analisar um fato.
temática: de amor, de
aventura, de memórias,
policial, histórico, ficção
científica, psicológico, etc.
(GANCHO, Cândida Vilares. Como analisar narrativas. São Paulo: Ática, 2006.)
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Atividade 5
Agora, você vai ler último capítulo de “Vidas Secas”. Com a nova seca, Fabiano
juntou todas as coisas, a sua família e seguiu caminho. Mais uma vez estavam de
mudança. Como não queria confronto com o patrão, fugira de madrugada, mas não
sabia para onde iria, sabia apenas que tinha que prosseguir.
Capítulo XIII – Fuga
A vida na fazenda se tornara difícil. Sinhá Vitória benzia-se tremendo, manejava
o rosário, mexia os beiços rezando rezas desesperadas. Encolhido no banco do copiar,
Fabiano espiava a catinga amarela, onde as folhas secas se pulverizavam, trituradas
pelos redemoinhos, e os garranchos se torciam, negros, torrados. No céu azul as
últimas arribações tinham desaparecido. Pouco a pouco os bichos se finavam,
devorados pelo carrapato. E Fabiano resistia, pedindo a Deus um milagre. Mas quando
a fazenda se despovoou, viu que tudo estava perdido, combinou a viagem com a
mulher, matou o bezerro morrinhento que possuíam, salgou a carne, largou-se com a
família, sem se despedir do amo. Não poderia nunca liquidar aquela dívida exagerada.
Só lhe restava jogar-se ao mundo, como negro fugido.
Saíram de madrugada. Sinhá Vitória meteu o braço pelo buraco da parede e
fechou a porta da frente com a tramela. Atravessaram o pátio, deixaram na escuridão
o chiqueiro e o curral, vazios, de porteiras abertas, o carro de bois que apodrecia, os
juazeiros. Ao passar junto às pedras onde os meninos atiravam cobras mortas, Sinhá
Vitória lembrou-se da cachorra Baleia, chorou, mas estava invisível e ninguém
percebeu o choro.
Desceram a ladeira, atravessaram o rio seco, tomaram rumo para o sul. Com a
fresca da madrugada, andaram bastante, em silêncio, quatro sombras no caminho
estreito coberto de seixos miúdos - os meninos à frente, conduzindo trouxas de roupa,
Sinhá Vitória sob o baú de folha pintada e a cabaça de água, Fabiano atrás, de facão de
rasto e faca de ponta, a cuia pendurada por uma correia amarrada ao cinturão, o aio a
tiracolo, a espingarda de pederneira num ombro, o saco da matalotagem no outro.
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Caminharam bem três léguas antes que a barra do nascente aparecesse. Fizeram alto.
E Fabiano depôs no chão parte da carga, olhou o céu, as mãos em pala na testa.
Arrastara-se até ali na incerteza de que aquilo fosse realmente mudança. Retardara-se
e repreendera os meninos, que se adiantavam, aconselhara-os a poupar forças. A
verdade é que não queria afastar-se da fazenda. A viagem parecia-lhe sem jeito, nem
acreditava nela. Preparara-a lentamente, adiara-a, tornara a prepará-la, e só se
resolvera a partir quando estava definitivamente perdido. Podia continuar a viver num
cemitério? Nada o prendia aquela terra dura, acharia um lugar menos seco para
enterrar-se. Era o que Fabiano dizia, pensando em coisas alheias: "o chiqueiro e o
curral, que precisavam conserto, o cavalo de fábrica, bom companheiro, a égua alaza,
as catingueiras, as panelas de losna, as pedras da cozinha, a cama de varas. E os pés
dele esmoreciam, as alpercatas calavam-se na escuridão. “Seria necessário largar
tudo?”As alpercatas chiavam de novo no caminho coberto de seixos. Agora Fabiano
examinava o céu, a barra que tingia o nascente, e não queria convencer-se da
realidade. Procurou distinguir qualquer coisa diferente da vermelhidão que todos os
dias espiava, com o coração aos baques. As mãos grossas, por baixo da aba curva do
chapéu, protegiam-lhe os olhos contra a claridade e tremiam.
Os braços penderam, desanimados.
- Acabou-se.
Disponível em:
http://www.portaleducarbrasil.com.br/Userfiles/P0001/File/Vidas_secas_de_Graciliano_Ramos.pdf
Acesso em set. 2013.
1) Você deve se lembrar da estrutura clássica da narrativa: apresentação ou exposição,
complicação, clímax e desfecho. A que parte do enredo pertence o Capítulo XIII –
Fuga? Explique.
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_______________________________________________________________
2) Por que Fabiano resolveu deixar a fazenda? Explique.
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_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
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3) Por que Fabiano foi embora, de madrugada, sem, sequer, despedir do fazendeiro?
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4) Ao abandonar a fazenda e reiniciar sua peregrinação fugindo da seca, que
sentimento impulsiona Fabiano a buscar um lugar melhor para viver? Comprove sua
resposta com uma passagem do capítulo XIII.
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5) O capítulo XIII – “Fuga” e o capítulo I – “Mudanças” apresentam uma semelhança
em relação às ações das personagens, isto é, uma marca constante no enredo e que
fica ainda mais evidente nesses dois capítulos. Aponte essa semelhança na narrativa.
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Aula 6: Registrando as diferenças
Lembra-se de quando você estudou no caderno anterior os gêneros crônica e
conto? Certamente você deve ter percebido que esses gêneros apresentam
características semelhantes e distintas em relação ao romance. Uma dessas diferenças
diz respeito à estrutura e à temática mais complexa nos romances. Para entender
melhor essas diferenças, você irá ler, a seguir, exemplos desses três gêneros. Então,
releia a crônica “O homem trocado” e o conto “Por que o cachorro foi morar com o
homem” que você já estudou no caderno anterior a este. Não se lembra destes textos?
Não tem problema. Eles estão aqui e podem ser relidos com calma por você. Considere
também os capítulos de “Vidas Secas” que você já leu neste caderno e observe as
particularidades da crônica, do conto e do romance.
Texto 1 - Crônica
O homem trocado
O homem acorda da anestesia e olha em volta. Ainda está na sala de
recuperação. Há uma enfermeira do seu lado. Ele pergunta se foi tudo bem.
- Tudo perfeito - diz a enfermeira, sorrindo.
- Eu estava com medo desta operação...
- Por quê? Não havia risco nenhum.
- Comigo, sempre há risco. Minha vida tem sido uma série de enganos...
E conta que os enganos começaram com seu nascimento. Houve uma troca de
bebês no berçário e ele foi criado até os dez anos por um casal de orientais, que nunca
entenderam o fato de terem um filho claro com olhos redondos. Descoberto o erro,
ele fora viver com seus verdadeiros pais. Ou com sua verdadeira mãe, pois o pai
abandonara a mulher depois que esta não soubera explicar o nascimento de um bebê
chinês.
- E o meu nome? Outro engano.
- Seu nome não é Lírio?
- Era para ser Lauro. Se enganaram no cartório e...
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Os enganos se sucediam. Na escola, vivia recebendo castigo pelo que não fazia.
Fizera o vestibular com sucesso, mas não conseguira entrar na universidade. O
computador se enganara, seu nome não apareceu na lista.
- Há anos que a minha conta do telefone vem com cifras incríveis. No mês
passado tive que pagar mais de R$ 3 mil.
- O senhor não faz chamadas interurbanas?
- Eu não tenho telefone!
Conhecera sua mulher por engano. Ela o confundira com outro. Não foram
felizes.
- Por quê?
- Ela me enganava.
Fora preso por engano. Várias vezes. Recebia intimações para pagar dívidas que
não fazia. Até tivera uma breve, louca alegria, quando ouvira o médico dizer:
- O senhor está desenganado.
Mas também fora um engano do médico. Não era tão grave assim. Uma
simples apendicite.
- Se você diz que a operação foi bem...
A enfermeira parou de sorrir.
- Apendicite? - perguntou hesitante.
- É. A operação era para tirar o apêndice.
- Não era para trocar de sexo?
Disponível em: http://pensador.uol.com.br/frase/MjMxNDk5/ Acesso em 08 ago. 2013.
Texto 2 – Conto
Por que o cachorro foi morar com o homem
O cachorro, que todos dizem ser o melhor amigo do homem, vivia antigamente
no meio do mato com seus primos, o chacal e o lobo.
Os três brincavam de correr pelas campinas sem fim, matavam a sede nos
riachos e caçavam sempre juntos.
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Mas, todos os anos, antes da estação das chuvas, os primos tinham dificuldades
para encontrar o que comer. A vegetação e os rios secavam, fazendo com que aos
animais da floresta fugissem em busca de outras paragens.
Um dia, famintos e ofegantes, os três com as línguas de fora por causa do forte
calor, sentaram-se à sombra de uma árvore para tomarem uma decisão.
– Precisamos mandar alguém à aldeia dos homens para apanhar um pouco de
fogo - disse o lobo.
– Fogo?- perguntou o cachorro.
– Para queimar o capim e comer gafanhotos assados - respondeu o chacal com
água na boca.
– E quem vai buscar o fogo?- tornou a perguntar o cachorro.
– Você!- responderam o lobo e o chacal, ao mesmo tempo, apontando para o
cão.
De acordo com a tradição africana, o cão, que era o mais novo, não teve outro
jeito, pois não podia desobedecer a uma ordem dos mais velhos. Ele ia ter que fazer a
cansativa jornada até a aldeia, enquanto o lobo e o chacal ficavam dormindo numa
boa.
O cachorro correu e correu até alcançar o cercado de espinhos e paus pontudos
que protegia a aldeia dos ataques dos leões. A notícia, e das cabanas saía um cheiro
gostoso. O cachorro entrou numa delas e viu uma mulher dando de comer se distrair
para ele pegar um tição.
Uma panela de mingau de milho fumegava sobre uma fogueira. Dali, a mulher,
sem se importar com a presença do cão, tirava pequenas porções e as passava para
uma tigela de barro.
Quando terminou de alimentar o filho, ela raspou o vasilhame e jogou o resto
do mingau para o cão. O bicho, esfomeado, devorou tudo e adorou. Enquanto comia, a
criança se aproximou e acariciou o seu pêlo. Então, o cão disse para si mesmo:
– Eu é que não volto mais para a floresta. O lobo e o chacal vivem me dando
ordens. Aqui não falta comida e as pessoas gostam de mim. De hoje em diante vou
morar com os homens e ajudá-los a tomar conta de suas casas.
E foi assim que o cachorro passou a viver junto aos homens. E é por causa disso
que o lobo e chacal ficam uivando na floresta, chamando pelo primo fujão.
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BARBOSA, Rogério Andrade. Histórias Africanas para contar e recontar.
Disponível em: http://docenciaonlinesaberespedagogicos.blogspot.com.br/2012/10/alguns-contosafricanos.html Acesso em 11 ago. 2013.
Atividade 6
Agora, preencha o quadro a seguir e registre as diferenças existentes entre a
crônica “O homem trocado”, o conto “Por que o cachorro foi morar com o homem” e o
romance “Vidas secas”.
CRÔNICA (O homem
trocado)
CONTO (Por que o cachorro
foi morar com o homem?)
Qual a trama?
ROMANCE (Vidas Secas)
Onde ocorre a trama (espaço)?
Quando ocorre a trama (tempo)?
Quais os personagens da trama?
30
Qual o desfecho da trama?
É possível dar continuidade à história? Como você imagina essa continuidade?
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Avaliação
Caro(a) aluno(a),
Agora que você estudou as seis aulas deste bimestre, está preparado para
testar os conhecimentos adquiridos ao longo destas quatro semanas! A seguir, você
deverá responder às questões propostas. Elas foram formuladas, de acordo com as
habilidades trabalhadas neste caderno. Bom trabalho e boa prova!
Nas questões a seguir, propomos que você leia outro fragmento de “Vidas
Secas” para poder respondê-las.
Leia o Capítulo VI – O menino mais velho – para responder às questões de 1 a 3.
Capítulo VI – O menino mais velho
Animara-se a interrogar Sinhá Vitória porque ela estava bem-disposta. Explicou
isto a cachorrinha com abundância de gritos e gestos. Ele nunca tinha ouvido falar em
inferno. (...) Sinhá Vitória, distraída, aludiu vagamente a certo lugar ruim demais, e
como o filho exigisse uma descrição, encolheu os ombros. O menino foi à sala
interrogar o pai, encontrou-o sentado no chão, com as pernas abertas, desenrolando
um meio de sola. - Bota o pé aqui. A ordem se cumpriu e Fabiano tomou medida da
alpercata: deu um traço com a ponta da faca atrás do calcanhar, outro adiante do
dedo grande. Riscou em seguida a forma do calçado e bateu palmas: - Arreda. O
pequeno afastou-se um pouco, mas ficou por ali rondando e timidamente arriscou a
pergunta. Não obteve resposta, voltou à cozinha. (...) Naquele dia a voz estridente de
Sinhá Vitória e o cascudo no menino mais velho arrancaram Baleia da modorra e
deram-lhe a suspeita de que as coisas não iam bem. Foi esconder-se num canto, por
detrás do pilão, fazendo-se miúda entre cumbucos e cestos. (...) O pequeno sentou-se,
acomodou nas pernas a cabeça da cachorra, pôs-se a contar-lhe baixinho uma história.
Tinha um vocabulário quase tão minguado como o do papagaio que morrera no tempo
da seca. Valia-se, pois, de exclamações e de gestos, Baleia respondia com o rabo, com
a língua, com movimentos fáceis de entender. (...) Como não sabia falar direito, o
menino balbuciava expressões complicadas, repetia as sílabas, imitava os berros dos
32
animais, o barulho do vento, o som dos galhos que rangiam na catinga, roçando-se.
Agora tinha tido a ideia de aprender uma palavra, com certeza importante (...) Não
acreditava que um nome tão bonito servisse para designar coisa ruim. (...) Achava as
pancadas naturais quando as pessoas grandes se zangavam, pensava até que a zanga
delas era a causa única dos cascudos e puxavantes de orelhas. Está convicção tornavao desconfiado, fazia-o observar os pais antes de se dirigir a eles. (...) A cadelinha
chegou-se aos pulos, cheirou-o, lambeu-lhe as mãos e acomodou-se. Como era
possível haver estrelas na terra? Entristeceu. Talvez Sinhá Vitoria dissesse a verdade. O
inferno devia estar cheio de jararacas e suçuaranas, e as pessoas que moravam lá
recebiam cocorotes, puxões de orelhas e pancadas com bainha de faca.
Disponível em http://textolivre.com.br/livre/24886-vidas-secas-de-graciliano-ramos-carcara-cega-matae-come-mas-nao-os-comeram Acesso em 28 set. 2013.
1) No trecho “(...) - Bota o pé aqui. A ordem se cumpriu e Fabiano tomou medida da
alpercata (...)” há presença do discurso direto. Assinale a alternativa que apresenta a
transposição INCORRETA do trecho em destaque para o discurso indireto.
a) (...) Fabiano mandou que o filho botasse o pé lá.
b) (...) O pai havia dito para o filho colocar o pé ali.
c) (...) Fabiano ordenou ao filho que botasse o pé aí.
d) (...) O pai disse ao menino que botasse o pé no local indicado.
2) Nesse capítulo, fica evidente que uma das características psicológicas mais marcantes
do menino mais velho era a
a) inteligência.
b) curiosidade.
c) obediência.
d) doçura.
3) Em qual das passagens a seguir evidencia-se a presença de um narrador onisciente,
aquele que revela os sentimentos e pensamentos das personagens?
a) “Ele nunca tinha ouvido falar em inferno.”
b) “A ordem se cumpriu e Fabiano tomou medida da alpercata (...)”
c) “Como era possível haver estrelas na terra? Entristeceu. Talvez Sinhá Vitoria dissesse
a verdade.”
33
d) “O pequeno sentou-se, acomodou nas pernas a cabeça da cachorra, pôs-se a contarlhe baixinho uma história.”
4) O termo “romance” pode apresentar vários significados. Assinale a alternativa que
melhor caracteriza o romance como um gênero literário, tal como “Vidas Secas”.
a) “O negócio do romance está se tornando rapidamente em uma indústria
multibilionária, e a ilha de Grand Bahama encontrou uma forma de fazer dinheiro
nesse nicho de crescente de mercado. Butiques exclusivas como o hotel Old Bahama
Bay, na ponta oeste de Grand Bahama, e o Pelican Bay, em Lucaya, têm feito
casamentos encantadores e pacotes de lua-de-mel desenhados para seduzir a maioria
dos casais com seus gostos e necessidades distintas.”
(Disponível em: http://www.bahamasturismo.com.br/bahamas/noticias_show/1 Acesso em 02 out.
2013.)
b) “Encontram-se agrupadas sob a designação de línguas românicas todas aquelas que
tiveram a sua origem no Latim, em particular no Latim Vulgar, e a partir dele
evoluíram. (...) a partir do século V, motivado pela invasão dos povos bárbaros a
unidade linguística desfez-se, dando origem a diferentes falares, os romances, que
correspondiam à contaminação do latim vulgar por diversos substratos e superstratos.
Entre os romances que se formaram entre o século V e o século X, temos o castelhano,
o leonês, o galo-provençal, o romance lusitânico, do qual o português é um
prolongamento.”
(Disponível em http://esjmlima.prof2000.pt/hist_evol_lingua/R_GRU-D.HTM Acesso em 02 out. 2013.)
c) “Romance é uma forma literária do gênero narrativo literário que transpõe para a
ficção a experiência humana. Suas características são a narrativa longa, geralmente
dividida em capítulos, os personagens variados e complexos em torno das quais
acontece a história principal e também histórias paralelas a essa, pode apresentar
espaço e tempo variados.
Disponível em http://obelletrista.wordpress.com/2012/10/10/conceito-e-caracteristicas-do-romance/
Acesso em 02 out. 2013.
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d) “Um primeiro olhar nesses números pode até levar a concluir que não, a amizade
não existe - é sempre um romance fracassado ou dormente. Mas especialistas dizem
que é justamente por causa dessa atração que a amizade pode surgir. Na verdade,
mesmo quando não há envolvimento sexual, pode haver atração.”
Disponível em: http://super.abril.com.br/cotidiano/namoro-ou-amizade-535998.shtml
35
Pesquisa
Para esta atividade, é importante que você organize grupos com os seus
colegas. Se possível, pesquise na sala de informática ou em jornais, revistas e livros na
sala de leitura da escola.
Bom trabalho para vocês!
O romance foi escrito em 1938 e narra em 13 capítulos a história de uma típica
família de nordestinos brasileiros, sobreviventes das secas. A história passa-se no semiárido do nordeste brasileiro, iniciando com a “Mudança” e terminando com a “Fuga”.
O leitor tem a impressão de que a saga da família é circular: as mesmas dificuldades
que a família enfrenta durante todo o livro ainda se repetirão diversas vezes em sua
constante peregrinação.
A partir dessas informações, pesquise na internet ou em outras fontes as
seguintes informações:
1. O enredo de Vidas Secas
2. Qual o problema social que permeia Vidas Secas?
3. Contexto histórico de Vidas Secas.
4. Pesquise fotos sobre a seca de 2013 no nordeste brasileiro.
5. De posse das informações e das fotos, é hora de montar o painel. Cole algumas fotos
e abaixo delas coloque as informações pesquisadas sobre Vidas Secas. Ao término,
reflita com seus colegas de grupo sobre o seguinte questionamento: o que mudou de
1938 para 2013 para a população nordestina?
Caro aluno, esperamos que após o estudo do romance “Vidas Secas”, você
tenha
se
interessado
pela
leitura
integral
da
obra.
Acesse
o
link
http://colegioconexaoserradamesa.com.br/public/material/material_1ano_em_livro_v
idassecas.pdf e leia esse grande clássico da literatura brasileira. Boa leitura!
36
Referências
[1] ABAURRE, Maria Luiza M.; ABAURRE, Maria Bernadete M.; PONTARA, Marcela.
Português: contexto, interlocução e sentido. São Paulo: Moderna, 2010. 2º vol., p. 174230.
[2] Brasil, Ministério da Educação. PDE: Plano de Desenvolvimento da educação: SAEB:
ensino médio: matrizes de referência, tópicos e descritores. Brasília: MEC, SAEB; Inep,
2008.
[3] CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagens. V.
2, ensino médio. 7. ed. ref. São Paulo: Saraiva, 2010.
[4] GANCHO, Candida Vilares. Como analisar narrativas. São Paulo: Ática, 2006.
[5] ILARI, Rodolfo. Introdução à semântica: brincando com a gramática. 5 ed. São
Paulo: Contexto, 2004.
[6] KOCH, Ingedore. Ler e compreender os sentidos do texto. São Paulo: Contexto,
2006.
[7] MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. 3.
ed. São Paulo: Parábola, 2008, p. 233.
[8] (Org.) Editora Moderna. Projeto Araribá. Português 7ª série. São Paulo: Ed.
Moderna, 2006.
[9] PLATÃO, Francisco; FIORIN, José Luiz. Para entender o texto: leitura e redação. 10.
ed. São Paulo: Ática, 1995.
[10] Rio de Janeiro. Secretaria de Estado de Educação. Orientações Pedagógicas para o
9º ano do Ensino Fundamental – 1º e 2º ciclos do 3º bimestre. Rio de Janeiro, 2013.
[11] Rio de Janeiro. Secretaria de Estado de Educação. Roteiro de Atividades para o 9º
ano do Ensino Fundamental – 1º e 2º ciclos do 3º bimestre. Rio de Janeiro, 2013.
SITES PESQUISADOS:
http://www.priberam.pt/dlpo/Default.aspx?pal=romance Acesso em 17 set. 2013.
http://www.diciomario.com.br/vidas_secas_101.html Acesso em 15 set. 2013.
37
http://alimenteocerebro.com/a-aridez-e-a-frieza-de-vidas-secas/ Acesso em 15 set.
2013.
http://www.festlatinosp.com.br/2013/filme_vidas_secas.php
http://www.exopto.com/
http://www.palmeiraespirita.com.br/files/vidas_secas.htm
http://expirados.com.br/loja/products/Vidas-Secas-%252d-1963.html
http://veja.abril.com.br/blog/todoprosa/antologia/que-cena-a-morte-de-baleia-emvidas-secas/ Acesso em 17 set. 2013.
http://veja.abril.com.br/blog/todoprosa/antologia/que-cena-a-morte-de-baleia-emvidas-secas/ Acesso em 18 set. 2013.
http://www.portaleducarbrasil.com.br/Userfiles/P0001/File/Vidas_secas_de_Gracili
ano_Ramos.pdf Acesso em set. 2013.
http://pensador.uol.com.br/frase/MjMxNDk5/ Acesso em 08 ago. 2013.
http://docenciaonlinesaberespedagogicos.blogspot.com.br/2012/10/alguns-contosafricanos.html Acesso em 11 ago. 2013.
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Equipe de Elaboração
COORDENADORES DO PROJETO
Diretoria de Articulação Curricular
Adriana Tavares Maurício Lessa
Coordenação de Áreas do Conhecimento
Bianca Neuberger Leda
Raquel Costa da Silva Nascimento
Fabiano Farias de Souza
Peterson Soares da Silva
Marília Silva
PROFESSORES ELABORADORES
Andréia Alves Monteiro de Castro
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Flávia dos Santos Silva
Gisele Heffner
Leandro Nascimento Cristino
Lívia Cristina Pereira de Souza
Tatiana Jardim Gonçalves
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