graduação em saúde materno – infantil a família e

Transcrição

graduação em saúde materno – infantil a família e
INSTITUTO MATERNO INFANTIL PROFESSOR FERNANDO
FIGUEIRA
CURSO DE PÓS – GRADUAÇÃO EM SAÚDE
MATERNO – INFANTIL
A FAMÍLIA E O PROCESSO DE ADOECER DE CÂNCER DE
BOCA. UM ESTUDO TIPO OBSERVACIONAL COM ENFOQUE
QUALITATIVO EM MULHERES PORTADORAS DE
NEOPLASIAS ORAIS
MÔNICA CRISTINA BATISTA DE MELO
RECIFE/PE – 2005
MÔNICA CRISTINA BATISTA DE MELO
A FAMÍLIA E O PROCESSO DE ADOECER DE CÂNCER DE
BOCA. UM ESTUDO TIPO OBSERVACIONAL COM ENFOQUE
QUALITATIVO EM MULHERES PORTADORAS DE
NEOPLASIAS ORAIS
Dissertação apresentada por Mônica
Cristina Batista de Melo, sob orientação
do Prof. Dr. Felipe Rinald Barbosa
Lorenzato e Co– orientação do Prof. Dr.
José Eulálio Cabral Filho e Dra. Zélia
Maria
de
Melo
como
requisito
à
obtenção do título de Mestre em Saúde
Materno Infantil.
RECIFE/PE – 2005
Dedico este trabalho a todas as pessoas que acreditam em dias melhores,
promovem o crescimento humano, não deixam de olhar a natureza e
agradecem por tudo a cada dia.
Posso todas as coisas naquele que me fortalece.
(Filipenses 4: 13 / Bíblia Sagrada)
AGRADECIMENTOS
A Deus pelo que sou e por tudo que me concedeu.
Ao programa de mestrado do IMIP pelo incentivo à interdisciplinaridade e pelo
acolhimento.
Ao Prof. Dr. Felipe Lorenzato pela sua maneira singular de ser, respeitando, ouvindo e,
de fato, orientando para que este trabalho fosse concluído.
Ao Prof. Dr. José Eulálio Cabral pela colaboração, disponibilidade e apoio, sempre.
À Profa. Dra. Zélia Maria de Melo pela amizade, acolhimento e abertura para entrar
neste universo da Oncologia.
À Profa. Dra Fátima Vilar por estar sempre presente direta ou indiretamente nos
trabalhos que faço.
À Profa. Dra. Silvana Orestes Cardoso por ter sido tão disponível nas horas mais
difíceis.
Às minhas colegas de turma pelo carinho, companheirismo e pelo tanto que aprendi
com elas.
A Odimeres pelo apoio e incentivo e a Taciana, minha colaboradora.
À minha grande família: meu pai, minha mãe, minha irmã, minha cunhada, meus
sobrinhos, meus filhos e meu marido por estararem sempre perto, e serem muito
família.
Às pacientes que contribuíram para a realização deste trabalho e ao Hospital do Câncer
de Pernambuco, local onde foi realizado este estudo.
E ao meu irmão por ter me ensinado a determinação e sobre o verdadeiro compromisso
familiar.
SUMÁRIO
Pag
Lista de siglas
Lista de tabelas
Sumário
Resumo
Abstract
1 INTRODUÇÃO
02
1.1 – Sobre o câncer de boca
03
1.2 – Sobre a família
08
1.2.1- Algumas definições de família
08
1.2.2- Tipos de família
09
1.2.3 - Objetivos da família
09
1.2.4 – O sistema familiar
10
1.3 – A família e o adoecer de câncer
16
2. OBJETIVOS
20
3. SOBRE O MÉTODO
22
3.1. Tipo de estudo
22
3.2. Local do estudo
22
3.3. População e período do estudo
22
3.4. Critério de inclusão
22
3.5. Critério de exclusão
22
3.6. Aspectos éticos
23
3.7 Técnicas e procedimentos
23
3.7.1 Procedimentos e instrumentos para coleta e análise dos dados
23
4. RESULTADOS
30
4.1 Aspectos sócio-demográficos e fatores de risco
30
4.2 Aspectos qualitativos – sobre o câncer e o adoecer de câncer,
interações familiares e fatores de risco
38
5. DISCUSSÃO
57
6. CONCLUSÕES
74
7. ANEXOS
75
9. REFERÊNCIAS
85
LISTA DE SIGLAS
IMIP – Instituto Materno Infantil de Pernambuco
INCA – Instituto Nacional de Câncer
HCP – Hospital de Câncer de Pernambuco
SPCC – Sociedade Pernambucana de Combate ao Câncer.
RHC – Registro Hospitalar de Câncer.
F - Família
ÍNDICE DAS TABELAS
Tabela 1 – Distribuição da freqüência das participantes entrevistadas no Departamento
de Cabeça e Pescoço do Hospital de Câncer de Pernambuco de acordo com a faixa
etária, o estado civil, o número de filhos e a religião. . .........................................Pág. 31
Tabela 2 – Distribuição da freqüência das participantes entrevistadas no Departamento
de Cabeça e Pescoço do Hospital de Câncer de Pernambuco de acordo com o tipo de
profissão e o nível de instrução. .............................................................................Pág. 32
Tabela 3 – Distribuição da freqüência das participantes entrevistas no Departamento de
Cabeça e Pescoço do Hospital de Câncer de Pernambuco de acordo com a ordem do
nascimento, a renda familiar e a procedência......................................................... Pág. 33
Tabela 4 – Distribuição da freqüência das participantes entrevistadas no Departamento
de Cabeça e Pescoço do Hospital de Câncer de Pernambuco de acordo com ser fumante
atualmente, ser ex-fumante, a fase da vida em que começou a fumar, com quem
incorporou o hábito e se havia mais alguém na família que fumava.......................Pág. 34
Tabela 5 – Distribuição da freqüência das participantes entrevistadas no Departamento
de Cabeça e Pescoço do Hospital de Câncer de Pernambuco de acordo com ser etilista
atualmente, ser ex-etilista, nunca ter tido contato com bebida alcoólica, fase da vida que
iniciou o hábito de beber, com quem incorporou o hábito de beber e se havia no grupo
familiar mais alguém que bebia. ............................................................................Pag. 35
Tabela 6 – Distribuição da freqüência das participantes entrevistadas no Departamento
de Cabeça e Pescoço do Hospital de Câncer de Pernambuco quanto à atitude de escovar
os dentes todos os dias, a fase da vida que iniciou a atitude e de acordo com a presença
de outras pessoas na família das participantes que têm o hábito de escovar os dentes
todos os dias. ..........................................................................................................Pag. 36
Tabela 7 – Distribuição da freqüência das participantes entrevistadas no Departamento
de Cabeça e Pescoço do Hospital de Câncer de Pernambuco de acordo com o uso de
prótese dentária, a fase da vida que iniciou o uso de prótese e a freqüência de pessoas no
grupo familiar que também usa prótese dentária. .................................................. Pag. 37
RESUMO
Introdução: este estudo trata da participação da família na introdução de atitudes que,
embora consideradas hábitos do cotidiano, com base na Teoria Sistêmica Estrutural,
podem contribuir direta ou indiretamente para o adoecer de câncer de boca na mulher.
Métodos: estudo do tipo observacional com enfoque nos aspectos qualitativos do
fenômeno. Para a coleta de dados foram utilizados um questionário estruturado e uma
entrevista semi-dirigida, buscando: 1– identificar as características sócio-demográficas e
os fatores de risco para câncer de boca em mulheres atendidas no Ambulatório de
Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital do Câncer de Pernambuco em 2004; 2–
conhecer as concepções que esta população tem sobre câncer em geral e o fato de
adoecer de câncer; 3–identificar quando e como as atitudes de risco para o câncer de
boca foram introduzidas nas suas vidas.
Resultados: um total de 32 mulheres foram incluídas. As idades variaram de 23 a 78
anos. A profissão predominante, agricultora e a maioria não tinha instrução; vinte e uma
das participantes viviam com um salário mínimo mensal e vinte delas residiam em área
rural. Vinte e duas fumavam, das quais 12 iniciaram o hábito influenciadas pelos pais;
oito por parentes e duas por amigos. Dezessete começaram a fumar na infância, quatro
na adolescência e uma na fase adulta. Dezoito das mulheres tinham o hábito de
consumir bebida alcoólica das quais três iniciaram por influência dos pais, cinco levadas
por parentes, cinco por amigos e cinco por vizinhos, sendo que três começaram na
infância, sete na adolescência e oito na fase adulta. Das participantes, 29 escovavam os
dentes todos os dias, destacando-se que três aprenderam com os pais e cinco com
parentes. Dezenove desenvolveram o hábito na infância, oito na adolescência e duas só
quando adultas. Onze participantes usavam prótese dentária, sendo que cinco
começaram a usar na adolescência e seis na idade adulta. Vinte e nove das participantes
disseram que praticavam sexo e, dentre elas, sete disseram que faziam sexo oral. As
crenças relacionadas ao câncer apontam para uma doença destrutiva que está no sangue
e que vem de fora do organismo. Os tipos de interações familiares relacionadas ao início
das atitudes de risco para câncer de boca, tendo como base na Teoria Sistêmica
Familiar, foram: imitação, aprendizagem e comunicações confusas com padrão de
comunicação antagônico.
Conclusões: Em relação à participação da família como elemento propiciador do
processo de adoecer de câncer de boca na mulher, tendo como base a Teoria Sistêmica
Estrutural, concluímos que a família tem um papel importante quanto à adoção das
atitudes de risco, e isto se dá principalmente pelos processos de aprendizagem social e
identificação.
Palavras chave: Neoplasia bucal, modelos teóricos, fatores de risco, relações
familiares, hábitos.
ABSTRACT
Introduction: This study deals with the participation of a family in the introduction of
attitudes that, although considered routine habits and depending on how they are
practiced, can contribute direct or indirectly to making a woman become affected by
mouth cancer.
Methods: Study of the observacional focused on the qualitative aspects of the
fenomenum. For data collection, a structured questionnaire and a semi-directed
interview were used, whose objectives were as follows: 1– To identify the sociodemographic characteristics and risk fators associated with mouth cancer in women
seen at the Head and Neck Surgery Out-Patient Clinic from the Hospital do Câncer de
Pernambuco in 2004; 2– To learn about the conceptions in this population on cancer in
general and the fact of becoming sick due to cancer; 3– To identify when and how risky
attitudes for mouth cancer were introduced in their lives.
Results: thirty two women were atendied. The ages ranged from 23 to 78 years. The
predominant profession was agricultor, the majority did not have instruction, twenty and
one of the participants lived with a monthly minimum wage and twenty of them
inhabited. Twenty-two of them smoked, from which 12 started the habit influenced by
their parents, eight by relatives and two by friends. What is more important is that 17
started to smoke in their childhood, four in adolescence and one in adulthood. With
regards to drinking alcoholic beverages, 18 have already drunk, from which three
started under the influence of their parents, five of relatives, five of friends and five of
neighbors, however three started in their childhood, seven in adolescence and eight in
adulthood. Among all participants, 29 brushed the teeth every day and basically free
have learned from their parents and five from relatives. Nineteen of them started the
habit in their childhood, 8 in adolescence and two only when they became adults.
Eleven participants used dentures, from which five started to use in adolescence and six
in adulthood. Twenty-nine participants said to practice sex and among them seven said
to do oral sex. The types of family interactions related to the starting of risky attitudes
for mouth cancer were as follows: imitation, learning, and confusing communications as
well as an antagonic pattern. Their knowledge about cancer and risk factors is poor and
strongly based on myths.
Conclusion: Concerning the participation of a family as a facilitating element to the
process of a woman becoming affected by mouth cancer, having the structural systemic
theory as the basis for analisys, we conclude that the family has an important role in the
adoption of risky attitudes, and this is mainly by the processes of social learning and
identification.
Key-words: Mouth neoplasia, theoretical models, risk factors, family relations, habits.
INTRODUÇÃO
1. INTRODUÇÃO
O estudo das relações interpessoais na família é de grande relevância para a
compreensão de processos patológicos, muitos dos quais podem estar associados a
conflitos e atitudes oriundas daqueles processos tais como: asma, anorexia nervosa e
bulimia (Costa, 1977, Minuchin et al, 1975, Caille,1977). A participação de fatores
psicológicos encontrados na história do indivíduo ajuda a explicar a gênese da sua
doença e esta associação tem sido bem documentada. A família disfuncional pode
tornar seus membros dependentes, resultando em desvios psicológicos, e do
comprometimento quanto ao bem-estar do indivíduo (CAILLE,1977). Um estudo
realizado por Minuchin et al (1975) descreveu um modelo de família que favorecia o
desenvolvimento e manutenção de problemas psicossomáticos severos. De acordo com
autor, famílias com tipo de organização que incentiva a somatização, na qual a criança
participa de conflitos parentais e com vulnerabilidade psicológica, apresenta mais
predisposição para adoecer. Segundo Costa, (1977) o componente emocional pode
influir no quadro do asmático quanto ao desencadeamento da crise, na persistência e
agravamento do sofrimento durante as crises e na resistência ao tratamento. Por outro
lado, existem doenças de grande impacto social para cuja origem ou evolução não são
bem conhecidos os fatores psicológicos. A investigação destes torna-se, portanto, um
desafio e poderia justificar uma investigação. É o caso por exemplo da doença
neoplásica, de reconhecidas repercussões, quer no âmbito social e/ou pessoal do seu
portador. Dentre os inúmeros tipos de neoplasias, o câncer oral assume um importante
significado dadas as suas características de doença mutilante, além do fato de ser um
indicador da insuficiência de políticas de saúde e da existência de uma grande
iniqüidade social.
2
1.1 Sobre o câncer de boca
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer - INCA (2004), câncer é o
nome dado a um conjunto de mais de uma centena de doenças que têm em comum o
crescimento desordenado e rápido (maligno) de células que participam da formação de
tecidos e órgãos, podendo espalhar-se para outras regiões do corpo (metástase). Estas
células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis e determinam a formação de
tumores (acúmulo de células cancerosas) ou neoplasias malignas. O câncer é uma
doença não contagiosa, mas que pode ter um fator familiar de transmissão hereditária.
(DOUSSET, 1999).
As causas do câncer podem estar relacionadas a fatores externos e internos ao
organismo. As externas associam-se aos hábitos ou costumes próprios de um ambiente
social e cultural. As internas são, na maioria das vezes, geneticamente pré-determinadas
(BRANDÃO, 1989). O autor comenta que o Brasil, no que se refere às doenças,
continua a apresentar um quadro sanitário em que se combinam doenças ligadas à
pobreza, típicas dos países em desenvolvimento, e doenças crônicas e degenerativas,
características dos países mais afluentes; para ele essa situação reflete as contradições
do processo de desenvolvimento do país.
O estudo de Biazevic (2003) sobre tendências e diferenciais sócioeconômicos da mortalidade por câncer oral e de glândulas salivares, no município de
São Paulo, concluiu que o câncer de língua foi responsável por quase 50% dos óbitos no
período de 1980 a 2000 e que os homens chefes de família, sem instrução ou com o
primeiro grau incompleto, teve uma correlação positiva, revelando uma associação entre
câncer bucal e de glândulas salivares com a iniqüidade social.
Em todas as regiões brasileiras, as neoplasias são a segunda causa de morte
por doença, ficando atrás, apenas, das doenças do aparelho circulatório. A
3
proporcionalidade de neoplasmas em relação ao total de mortes em cada Região varia
de 8,21% na Região Nordeste a 17,07% na Região Sul (MINISTÉRIO DA SAÚDE.
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER. COORDENAÇÃO DE PROGRAMAS DE
CONTROLE DE CÂNCER - PRO-ONCO) 1997.
O câncer é a terceira causa de morte na população mundial, estando atrás
apenas das doenças infecciosas e parasitárias e doenças cardiovasculares. No Brasil,
estima-se que cerca de 4% dos casos de câncer seja na cavidade oral. A ocorrência do
câncer oral está muito freqüentemente ligada a hábitos evitáveis, tais como tabagismo e
o etilismo e outras causas tais como a higiene oral negligenciada e uso de prótese
dentária mal adaptada. Um estudo sobre as lesões de mucosas orais e hábitos de risco
entre homens na Itália Campisi, et.al. (2004), forneceu dados sobre a higiene oral, fumar
tabaco e o álcool. Os resultados revelaram que o hábito de beber é o fator mais comum
(73%) seguido de fumar (58.5%), enquanto que (3%) apontou a higiene oral
insatisfatória. Um estudo na Índia sobre a tendência de incidência do câncer de boca
concluiu que o uso do tabaco em homens e mulheres pode explicar o aumento do risco
de câncer oral (SUNNY, et.al., 2004).
É importante enfatizar que aproximadamente 50% dos tumores malignos da
cavidade bucal já apresentam disseminação metastática para linfonodos regionais ou
para sítios distantes, quando diagnosticados. A sobrevida global desees tumores é de
cinco anos em 50% dos casos, com variação de 80% para os casos iniciais da doença
localizada, e 20% para as lesões avançadas e metastáticas (BARBOSA, 2001).
Quanto à etiologia do câncer de boca, sabe-se que está intimamente associada a
determinadas atitudes do cotidiano dos indivíduos como: fumar, beber, má higiene oral
e uso de próteses mal ajustadas. (BARBOSA, 2001). O uso do tabaco em todas as suas
formas e o abuso de álcool são os fatores de maior risco, sendo aumentado de seis a 28
4
vezes em grandes tabagistas (FORTES JR e CARDO, 1991). Além disto, os efeitos do
álcool e do tabaco estão associados a 90% dos casos de câncer de boca diagnosticados
nos Estados Unidos da América (BARBOSA, 2001). Um outro aspecto importante é o
tempo de exposição ao fator de risco. Em uma pesquisa realizada com pacientes com
idade de 45 anos e abaixo, concluiu-se que a idade média dos casos era 38.5 anos; 53%
eram homens, cujo risco foi aumentado nos que tinham começado a fumar com idade
abaixo de 16 anos e que o consumo de álcool em excesso também aumentou o risco
(LEWELLYN, et. al. 2004). Outro estudo sobre fatores de risco foi realizado com
fazendeiros, cujo resultado sugeriu que os homens têm risco elevado para câncer de
bordo (KHUDER, 1999). Um estudo objetivando quantificar os efeitos do fumo e do
álcool na ocorrência de leucoplasia da boca concluiu que o hábito de fumar é fator de
risco para o surgimento desta e que o álcool é importante para sua transformação em
câncer (SHIU e CHEN, 2003).
Quanto ao fumo e ao álcool, Louzã Neto (1995) refere que o acesso fácil e o
ambiente são fatores que contribuem para o consumo dessas substâncias. Para o mesmo,
quando se fala em ambiente é importante mencionar o espaço da família, onde os
fatores familiares parecem influenciar a possibilidade do uso e o desenvolvimento da
dependência. Segundo Carvalho (2003), as causas de 80% das neoplasias bucais são
atribuídas às influencias do ambiente, especialmente ao estilo de vida. De acordo com a
autora, combinação entre hábitos pessoais, local onde a pessoa reside, consumo de
tabaco, de álcool e má higiene oral são consideradas como condições favoráveis para o
desenvolvimento da doença. Um estudo sobre o papel do tipo de tabaco e bebida
alcoólica na carcinogênese revelou que fumar e beber podem estar relacionados a 77%
dos casos de câncer de boca e que a exposição simultânea a esses fatores mesmo em
níveis moderados, aumenta o risco para o câncer oral (CASTELLSAGUE, 2004). Outro
5
estudo sobre a mortalidade por câncer oral concluiu que o tabaco explicou 77% de
todos os casos de câncer; o álcool, 52%; o baixo consumo de vegetais, 52% e na
combinação dos três fatores, 85% (RODRIGUEZ, et.al.2004).
Segundo Ramos e Bertolate (1997), a utilização crônica e excessiva do álcool
causa dependência e está ligada a casos de violência doméstica, acidentes
automobilísticos no Brasil, doenças clínicas e aumenta a mortalidade por todas as
causas. Sobre o câncer oral e o sexo feminino, Loranzi (2003) realizou uma pesquisa
sobre a incidência e risco acumulado de câncer de boca, no município de São Paulo e
identificou um aumento de riscos para câncer em orofaringe e cavidade bucal. Esse
resultado, segundo o autor, apontou para o incremento do tabagismo entre mulheres.
Outro estudo com objetivo de avaliar o conhecimento de fatores de risco para câncer de
boca entre americanos africanos, concluiu que a maioria das participantes (mulheres)
reconhecem o tabaco como fator de risco mas não têm conhecimento dos efeitos do sol,
do álcool e da dieta (POWE e FINNIER, 2004).
No que se refere à pratica do sexo oral como fator de riso, um estudo
conduzido por Elillison (2002) sugeriu que o papiloma vírus humano (HPV) está ligado
a determinados tipos de câncer oral. Outro estudo está sendo desenvolvido acerca da
associação entre HPV e câncer oral. Wong e Munger (2005) indicam que o vírus
associado aos cânceres da cabeça e da garanta é o mesmo vírus associado com o câncer
do colo uterino.
Segundo Pasini (1981), na literatura psicossomática, embora não se possa
associar a influência dos traços de personalidade com o surgimento de manifestações de
câncer nos indivíduos, é importante destacar que alguns fatores psicossociais podem
contribuir para formação de certos cânceres assim como hábitos alcoólicos e tabagismo.
6
De acordo com a literatura pesquisada, os fatores de risco para o câncer
oral são conhecidos e são inúmeras as contribuições dos estudos voltados para estes
fatores, mas se torna importante também identificar a possível origem desses na história
de vida do indivíduo, inclusive na história familiar.
Autores como Richter (1979) e Berenstein (1988)
comentam que alguns
comportamentos começam no inicio da vida - como por exemplo a higiene oral – e
ocorrem pelo fato de a família ser o modelo de identificação para a formação do
repertório de atitudes, hábitos e comportamentos. No tocante às atitudes sexuais, ele
refere que um dos problemas familiares específicos do nosso tempo é a maneira como
as pessoas divergem nas opiniões sobre sexo. Para o autor o grande número de
estímulos e informações e a liberdade sexual nos vários meios de comunicação de
massa mostram a falência dos padrões rígidos de comportamento promovidos por
algumas famílias e provoca sentimentos de incerteza e perda de orientação nos
indivíduos. Isso acarreta um outro problema para a família em época de mudança social
que é a redefinição entre os temas sobre sexo e as práticas sexuais, ficando, às vezes,
bastante obscuras as informações sobre o “certo” e o "errado".
Sobre a questão das práticas sexuais e as prevenções de doenças sexualmente
transmissíveis, pode-se também dizer que o modelo familiar, no que toca à sexualidade,
não tem muita participação quanto à orientação dos seus membros. Segundo Soifer
(1982), a família tende a imprimir na personalidade dos subordinados uma estrutura
aceita pela sociedade, onde o mais importante é o culto à tradição, o sigilo e os
segredos. Nesse sentido, Osório (1996) afirma que a família tem passado por
modificações, graças à influência da chamada revolução sexual, e que a nova tendência
dos indivíduos é buscar, na vida familiar, discutir as dificuldades de modo geral,
inclusive sobre as questões ligadas à sexualidade.
7
1.2 Sobre a família.
1.2.1 Algumas definições de família.
Conforme Levi-Strauss (1972), o termo família é usado para definir um grupo
social com as seguintes características: origem no casamento, constituído por marido,
esposa e filhos provenientes de sua união. Os membros da família estão unidos entre si
por laços legais, direitos e obrigações econômicas, religiosas e/ou de outras espécies
com uma variedade de sentimentos psicológicos, tais como amor, afeto, respeito e
medo.
De acordo com Richtner (1979), a família assemelha–se a um palco onde
entram em cena, dramaticamente, as forças emocionais da depressão, do medo, da
teimosia defensiva e de protestos, acompanhando o choque entre gerações. A definição
de família, segundo Minuchin (1982), é de uma unidade social que enfrenta uma série
de tarefas de desenvolvimento e que funciona como matriz do desenvolvimento
psicossocial de seus membros.
Para Ackerman (1986), a família é um grupo dotado de dinâmica e
especificidades próprias, lutando para equilibrar sentimentos, irracionalidades e desejos.
Conforme Berenstein (1988), a família é um sistema vivo, aberto de um lado
para o mundo interno dos indivíduos e do outro, para o mundo social que lhe impõe
suas normas. Para Cerveny (1994), família é um sistema dentro do qual os membros
vivem no mesmo espaço físico e mantêm relações significativas e significantes de
interdependências entre vários subsistemas. Osório (1996), define família como unidade
grupal, onde se desenvolvem três tipos de relações pessoais: a aliança, a filiação e a
consangüinidade.
8
1.2.2 Tipos de família
Tipos de família são formas de organização do grupo parental que, segundo
Cerveny, (1994), podem ser especificados: família de base, ligada aos conceitos de
ascendência e descendência, pressupondo laços sanguíneos; família extensa, que pode
ser vertical (três ou mais gerações) e lateral, pela adoção de outras unidades nucleares,
pressupõe parentesco sanguíneo ou por afinidade de pessoas ligadas entre si no tempo e
no espaço e que se articulam com o presente; família nuclear, unidade coletiva
composta de pais e filhos, desenvolvida a partir de um relacionamento biológico e
família substituta família que assumiu a criação de uma ou mais pessoas com as quais
não tem laços de parentesco.
1.2.3 Objetivos da família.
Sobre os objetivos da família, os autores são enfáticos quanto à sua
importância no curso da história do indivíduo. Minuchin (1982) destaca a característica
da família de se organizar enquanto estrutura e de promover formas de acomodação
quando ela está sujeita a pressões internas e externas.
Para Ackerman (1986), os objetivos sociais atendidos pela família são a
sobrevivência, a união social, o desenvolvimento da identidade pessoal, ligada à
identidade familiar, a padronização de papéis sexuais, a educação dirigida à integração
nos papéis e o desenvolvimento da aprendizagem e apoio à criatividade. São incontáveis
os sentimentos que se trocam dentro da família, às atitudes e valores, dentre eles a
formação da identidade psicológica do casal e do individuo em evolução (criança).
Conforme este autor, as relações familiares facilitam as trocas emocionais, apóiam as
lutas, padronizam a segurança, a estrutura, o senso de responsabilidade e fornece
9
modelos de sucesso e fracasso. A família orienta sobre os cuidados, o juízo, a força, a
lealdade e a submissão. Osório (1996), entende a família como tendo objetivos
genéricos tais como preservar a espécie, nutrir e proteger a descendência, facilitar a
construção de uma identidade pessoal, desempenhar funções na transmissão de valores
éticos, morais, estéticos, religiosos e culturais. Eiguer (1998), ressalta a identificação
como o processo de transmissão mais significativo. Segundo este autor, a identificação
constitui os objetos psíquicos, como a identidade, os afetos e os modelos de
comportamento. Estes são transmitidos preferencialmente dentro e pela família através
das relações interpessoais e se estendem ao longo das gerações. Esse processo pode ser
identificado no estudo realizado por White (1983), cujo resultado concluiu que em
pacientes com anorexia nervosa, existe associação entre as opiniões rígidas e implícitas
da família e que este tipo de comportamento familiar é transmitido entre gerações.
Como sistema social, a família organiza seus membros rumo a determinados
modos de pensar sobre e interagir com os outros. As famílias movem-se através de
períodos de transição em que as demandas às novas circunstâncias requerem mudanças
na sua dinâmica. Neste caso, a família pode reagir adaptando-se e evoluindo, mas
também pode ficar paralisada, mantendo hábitos, sem se adaptar às leis ou às novas
situações (MINUCHIN, 1999).
1.2.4 O Sistema familiar
Sistema familiar é um conjunto de exigências funcionais implícitas ou não que
organiza os modos pelos quais os membros das famílias interagem. Nessa perspectiva,
uma família é um sistema que opera através de padrões transacionais, isto é, de regras
oriundas das interações repetidas entre os indivíduos (MINUCHIN, 1982).
A compreensão da família, conforme este modelo, muito se beneficiou do
trabalho de Von-Bertallanffy (1965) que introduziu a noção de sistema nas ciências e
10
inaugurou as condições para o desenvolvimento de uma teoria que permite um
entendimento amplo sobre a interrelação dos processos factuais de um modo geral. Esse
autor definiu sistema como um conjunto de elementos interdependentes, constituindo
uma unidade ampla e completa. Um sistema, em outras palavras, é qualquer entidade,
cujas partes se relacionam em um determinado padrão. Mais do que isso: poderia dizerse que um sistema também se caracteriza por um padrão de organização (é portanto um
conjunto organizado). Outra característica importante de um sistema é que, tendo um
menor ou maior grau de clausura, influencia e é influenciado por outros sistemas
(ASHBY, 1960).
Assim, aplicada à organização da família, a idéia de que, em um sistema
familiar, a interação entre os membros é: 1. mais importante do que as características
individuais; 2. os indivíduos influenciam e são influenciados pelo contexto; 3. as ações
dos indivíduos são governadas pelas características do sistema e 4. a mudança na
estrutura provoca mudanças internas no indivíduo, a Teoria dos Sistemas tornou-se o
princípio central do que foi chamado de Modelo Sistêmico ou Contextual de família
(NICHOLS, 1998).
A maioria dos estudiosos sobre família adotou o Modelo Sistêmico,
(Nichols,1998). O grupo formado por Jackson, Haley, Watzlawick, apud Nichols,
(1998), que utilizou o conceito cibernético de “caixa preta” para entender a dinâmica da
família, estava voltado para o processo de comunicação. Dentro dessa perspectiva, todas
as mensagens têm uma função de comando e o tipo de relacionamento entre os
indivíduos influencia na forma como respondem aos tipos de comando. Nessa teoria é
importante observar as mensagens de comando, como elas são padronizadas
transformando–se em regras, e as constâncias nas formas de interação, isto é, as regras
que pretendem manter o equilíbrio familiar. As famílias saudáveis, de acordo com essa
11
teoria, são aquelas que têm a capacidade de mudar, de se adaptar, de trocar informações
com clareza e flexibilidade.
Um outro grupo de estudiosos introduziu o pensamento psicanalítico na teoria
sistêmica. A diferença básica entre as teorias seria que, nas teorias sistêmicas não
psicanalíticas, o foco está nas interações entre os indivíduos; na teoria sistêmica
psicanalítica o objetivo é identificar problemas ou processos mentais internos de cada
indivíduo. Essa teoria parte do pressuposto de que as interações familiares manifestas
são expressões disfarçadas dos sentimentos latentes, ocultos sob elas (NICHOLS, 1998;
PRADO, 1998).
Uma terceira utilização do modelo sistêmico é conhecida como Teoria
Sistêmica Estrutural que enfatiza as
questões da organização familiar (o seu
funcionamento), bem como a gênese e a
resolução das dificuldades. Essa teoria
privilegia a compreensão dos indivíduos através do estudo das suas relações com o meio
social e o familiar. Isto é, torna–se capaz de investigar a inserção do indivíduo no seu
grupo e não só isoladamente. Por esta razão, a presente investigação toma como
referência essa teoria, buscando entender como a família pode influenciar
comportamentos (atitudes) de risco para a doença neoplásica. Nicola (1998) reforça este
pensamento adotado primeiramente por Minuchin (1982), quando defende que não se
pode tratar o sofrimento relacional de um indivíduo sem considerar a dinâmica da
família em seus contextos sociais e institucionais.
A Teoria Sistêmica Estrutural, de acordo com Minuchin (1982), seu fundador,
entende a família como uma estrutura, isto é, uma organização. A teoria em foco explica
que através dos tipos de conexões entre as pessoas - o que é chamado de fronteiras, os
padrões de funcionamento familiar, as regras implícitas e as regras explícitas que
orientam as interações, bem como a natureza dos limites é possível identificar as
12
habilidades e a eficácia de cada família para resolver os conflitos e para criar regras.
Conforme o autor, muitos problemas que surgem nas famílias são resultantes de ataques
de sistemas maiores e/ou resultantes de vias de comunicação confusas, de fronteiras
pouco claras, e habilidades insuficientes para resolução de problemas.
Dentro dessa teoria a família opera de acordo com os princípios clássicos da
Teoria Geral dos Sistemas, isto é : a) homeostase, tendência da família em manter um
certo padrão de relacionamento e em apreender operações para impedir que haja
mudanças nesse padrão de relacionamento já estabelecido; b) morfogênese, mudança
dentro da ordem estrutural e funcional do sistema (este admite nova configuração); c)
causalidade circular, mudanças em um elemento afeta todos os outros.
Como estrutura, a família diferencia e leva a cabo suas funções através de
vários subsistemas internos. São eles: o subsistema conjugal, o parental e o fraternal.
Eles operam através de padrões transacionais, em que as transações repetidas
estabelecem padrões de como, quando e com quem interagem os indivíduos. Esses
padrões regulam o comportamento dos membros da família e são mantidos por dois
sistemas de repressão:
1 - O Genérico, envolve as regras universais que governam a organização familiar: a
hierarquia de poder que é um conjunto de meios que a família utiliza para tomar
decisões e controlar o comportamento de seus membros; o padrão de autoridade que
são as leis que definem os limites de conduta, portanto, o que é permitido e o que não é;
e os padrões de aliança que definem as formas de organização da família (as
cumplicidades) para manter seu próprio sustento.
2 - O Idiossincrásico que corresponde a funções recíprocas e complementares que
envolvem as expectativas mútuas dos membros da família. Estas surgem após anos de
13
negociações explícitas e implícitas entre os membros da família, freqüentemente, em
torno de pequenas situações e eventos do cotidiano (MINUCHIN, 1982).
Assim sendo, quando duas pessoas constituem uma família (sistema conjugal)
trazem em si suas famílias de origem e passam, através de negociações, a construir sua
nova família; esta como sistema social é aberta para o mundo interno, recebendo
influências de todos os membros (subsistemas) da família e para o mundo externo
(sociedade e instituições) (MINUCHIN, 1982; SCHWARTZ, 2004).
A família precisa criar formas de interações que privilegiem a criatividade e
promovam sempre a competência emocional nos seus membros para que possam lidar
com as adversidades da vida. É importante para a estrutura saudável das famílias que
haja uma hierarquia e que seus membros definam claramente suas fronteiras (limites,
regras e padrões decorrentes de negociações). Outro aspecto importante são os tipos de
alianças, complementaridade de funções que as famílias adotam para manter o sustento
de seus membros.
Como resultado da convivência e das negociações entre seus membros, a
família desenvolve padrões e regras de interações de comportamentos que podem ser
claras, rígidas, tênues, difusas e antagônicas. Os padrões de regras claras são
importantes para o delineamento da hierarquia no casal e das funções dos membros de
modo geral. Os padrões rígidos, por exemplo, podem ser benéficos para algumas
situações, mas também podem dificultar o desenvolvimento da família, impedindo que
novas opções de comportamentos e mudanças sociais no tempo tenham espaço na
dinâmica familiar. Os padrões com regras tênues facilitam as negociações entre os
membros da família, mas podem denunciar uma característica de grande vulnerabilidade
do sistema familiar. Os padrões com regras difusas, às vezes, dão margem a
interpretações erradas e a comunicações falhas, enquanto os padrões com regras
14
antagônicas são confundidores, conflitantes e prejudicam as interações familiares de
modo geral (ACKERMAN, 1986; EIZIRICK, 2001; NICHOLS, 1998; PRADO, 1998).
Outros tipos de interação familiar são o emaranhamento e o desligamento,
ambos podem resultar em problemas, quando vivenciados de forma inadequada, por
exemplo: o desligamento pode se tornar um comportamento negligente entre os
membros do grupo familiar, enquanto que o emaranhamento pode revelar excesso de
controle entre os membros da família. Saber utilizar adequadamente esses padrões irá
resultar em um bom funcionamento familiar (MINUCHIN, 1982). Um exemplo desse
tipo de processo pode ser identificado no trabalho de Carter, (1995) onde a autora
comenta sobre a relação entre pais e filhos, no que se refere à ordem de nascimento,
apontando o desligamento como um tipo de interação mais presente nos últimos filhos e
atribuindo a existência desse fato às interferências dos outros irmãos na educação, a
outras influências externas e às mudanças naturais nos ciclos de vida das famílias.
Observa–se, atualmente, no ciclo de vida familiar, uma diversidade de tipos de
constelações familiares tais como: pais com seus filhos biológicos, crianças com
padrastos e madrastas, avós morando junto com as outras gerações, filhos adotivos, pais
que nunca casaram e assim por diante. Para Carter (1995), as famílias vão se
transformando ao longo do tempo de acordo com os ciclos vitais. Esses movimentos
vão determinando o que se mantém como regras, crenças e atitudes nestas “novas”
famílias.
Berenstein (1998) reforça a importância da teoria sistêmica e acrescenta que é
através do funcionamento familiar que os indivíduos aprendem seus hábitos, suas
crenças, enfim, seu comportamento. Retratam transmissões de informações dentro e
pela família, sendo que os traços históricos característicos e singulares de cada família,
15
mantêm-se através de uma determinação histórica que pode ser consciente, inconsciente
ou ambas.
Também, nas teorias sistêmicas da família, alguns autores (Minuchin, 1982;
Nichols, 1998; Prado, 1998) apontam as trocas e negociações constantes de
informações, crenças, afetos, atitudes e comportamentos entre o social, o individual e o
familiar como características do desenvolvimento dos indivíduos. Na perspectiva
sistêmica a chave para mudar um indivíduo é mudar o seu contexto, isto é, a rede de
relações em que está inserido. Uma estrutura familiar saudável seria aquela em que os
membros aprendem a se adaptar um ao outro, transformam- se e estão constantemente
enfrentando de forma flexível as dificuldades da vida.
1.3 A família e o adoecer de câncer
A literatura sobre família tem evidenciado como sua organização e sua
dinâmica são fundamentais para o desenvolvimento dos indivíduos (NICHOLS, 1998).
A teoria sistêmica não entende a família como um somatório de pessoas com valores,
personalidade e características diferentes; ela leva em conta as relações, a
interdependência entre os vários subsistemas e considera, neste processo dinâmico, as
influências dos níveis psicológicos, da vida cotidiana, da família e da sociedade.
As atitudes e a competência psicológica das pessoas para lidar com a
questão dos conflitos e com os processos naturais de mudança, às vezes, trazem o
temor, a desagregação e, muitas vezes, apontam para novas e criativas possibilidades.
O aparecimento de doenças, como o câncer, que trazem a força dos preconceitos, mitos
e estigmas, leva a crer que, vistas como ameaças ou como ataques ao funcionamento
familiar, podem acarretar em danos psíquicos capazes de, através das transmissões do
psiquismo, perdurar por muitas gerações (ANDOLFI, 1989).
16
Conforme comenta Minayo (1996), o trabalho de Levi-Strauss indica que uma
representação como a da saúde e da doença manifesta, de forma específica, as
concepções de uma sociedade como um todo. Isto é, cada sociedade tem um discurso
específico sobre saúde, doença e sobre o corpo, o qual corresponde à coerência ou às
contradições de sua visão de mundo e de sua organização social. Segundo essa autora,
do ponto de vista do senso comum, o individuo é responsável por ter adoecido através
de fatores hereditários e de comportamento. Por outro lado, as causas exógenas são
consideradas, sobretudo, a partir da sociedade, isto é, do equilíbrio entre as relações
sociais de determinado grupo e dele com seu meio, onde o grupo familiar se insere.
Como um dos sistemas sociais espera-se que a família para cumprir seus
objetivos de proteger, orientar e preservar a espécie, organize seus membros (defina
padrões de organização) quanto à forma de pensar e de agir em todas as situações,
inclusive as de conflitos e ou de perigo, como é o caso da exposição a fatores de risco
para doenças, em que a família precisa criar novas regras em torno dos subsistemas e
modificar os papéis usuais e os hábitos para cumprir sua função (MINUCHIN, 1999).
Ademais, segundo Carter (1995), cada família tem sua forma de se relacionar
com as questões básicas da existência humana: a lealdade, a submissão, a doença e a
morte.
Segundo Jovchelovitch (1995), no enfoque das ciências sociais, pode-se dizer
que há uma ordem de significações culturais mais abrangentes que informa sobre o
corpo que adoece e que morre. A linguagem da doença não é, em primeiro lugar, uma
representação no corpo, mas retrata e traduz o meio social e suas relações. Costa e
Carbone (2004) comentam que estudar os hábitos e estilo de vida, visando à promoção
da saúde não envolve somente conhecer os fatores de risco para as doenças, mas a
compreensão da estrutura familiar envolvida com a saúde/doença. Do acima exposto e,
17
considerando-se a não existência de estudos sobre os aspectos das interrelações
familiares que podem desempenhar um papel na gênese dos fatores de risco para as
neoplasias orais, foi realizado o presente estudo.
A revisão bibliográfica para este trabalho constou de pesquisas utilizando os
seguintes unitermos: câncer, oral câncer, risk factors, family, nas seguintes bases de
dados:
Medline,
ScieLo,
Lilacs,
Lwwonline,
mdconsult,
FreeMedcalJournal,
familymedicine, globalfamilydoctor, Banco de teses da Universidade de São Paulo.
Como resultado não foram encontrados estudos sobre o tema,
18
OBJETIVOS
OBJETIVOS
OBJETIVOS GERAL
Identificar, conforme a Teoria Sistêmica Familiar Estrutural, as interações
familiares relativas aos hábitos considerados fatores de risco para o adoecer de câncer
de boca.
ESPECÍFICOS
Em mulheres portadoras de neoplasias da boca atendidas no ambulatório de
Cabeça e Pescoço do Hospital do Câncer de Pernambuco.
•
Descrever algumas características sócio-demográficas e fatores de risco.
•
Investigar a concepção das participantes sobre câncer e sobre como se adoece
de câncer.
•
Investigar as interações familiares relativas a quando, como e com quem as
atitudes de risco para a doença foram iniciadas.
20
MÉTODOS
3. SOBRE O MÉTODO
3.1 Tipo de estudo
Estudo observacional com enfoque qualitativo.
3.2 Local do estudo
O estudo foi realizado no Hospital de Câncer de Pernambuco, que é uma
instituição de saúde mantida pela Sociedade Pernambucana de Combate ao Câncer.
Trata-se de uma Sociedade Civil de direito privado, sem fins lucrativos, de utilidade
pública dedicada à prevenção, diagnóstico e tratamento especializado de pacientes
portadores de câncer.
3.3 População e período do estudo
Mulheres atendidas no Ambulatório de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do
Hospital de Câncer de Pernambuco, de fevereiro a abril de 2004, portadoras de câncer
de boca, no curso do diagnóstico e tratamento e que procuraram a Instituição por
encaminhamento ou por demanda espontânea.
3.4 Critério de inclusão
Diagnóstico de câncer na boca.
3.5 Critério de exclusão
Pacientes que por qualquer motivo não estavam em condições de produzir um
discurso claro e coerente.
22
3.6 Aspectos éticos
Este trabalho foi aprovado pelos Comitês de Ética em Pesquisa em Seres
Humanos do Hospital de Câncer de Pernambuco e do Instituto Materno e Infantil de
Pernambuco, antes que qualquer caso fosse incluído. Previamente a qualquer
procedimento de coleta de dados, as participantes foram devidamente informadas sobre
a natureza e características da pesquisa. Essas informações estavam contidas no Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO III) que foi lido e assinado pelas
integrantes, conforme exigência da declaração de Helsinque (emendada em Hong –
Kong, 1989).
As participantes foram abordadas e convidadas a colaborar com a pesquisa. Em
seguida foram dadas informações sobre o estudo, o objetivo das perguntas e a
importância da fidedignidade das respostas; que deveriam ser sempre verdadeiras para a
validade do trabalho; também sobre a importância do sigilo em que seriam mantidas as
respostas e que elas poderiam abster-se de responder a qualquer das perguntas ou
mesmo desistir de participar do estudo a qualquer momento.
3.7 Técnicas e Procedimentos
3.7.1 Procedimentos e instrumentos para coleta e análise dos dados
Para o presente estudo a coleta de dados foi feita, utilizando-se um questionário
(ANEXO I) e uma entrevista semidirigida (ANEXO II). Ambos foram elaborados pela
pesquisadora sob orientação dos orientadores e, antes de serem aplicados para a
pesquisa, foram realizadas simulações do uso do material.
23
As respostas ao questionário do estudo quantitativo foram classificadas e
tabuladas para análise e apresentação final. Foi utilizado o programa
estatístico
computadorizado Epi- Info. 6.0. Os dados do questionário foram inseridos no programa,
digitados duas vezes e cruzados, para constatação de que não havia duplicidade entre as
informações (validação). Os resultados quantitativos foram apresentados na forma de
tabelas de freqüências. Os dados relativos à idade, ao estado civil, a profissão, ao nível
de escolaridade e renda familiar foram obtidos por informação pessoal da participante,
sem comprovação de documentos.
Para o enfoque qualitativo, a coleta de dados foi realizada através de entrevista
semi-estruturada (ANEXO II) que foi gravada. O gravador foi avaliado quanto às
condições de uso e havia sempre um outro aparelho de reserva. Foi utilizado um roteiro,
contendo pontos previamente estabelecidos para a investigação (Costa, 1989; Gil, 1999;
Alves-Mazzotti,1998). O local foi previamente preparado; as participantes foram
informadas sobre a utilização do gravador e optaram sobre como queriam que o mesmo
ficasse posicionado, tendo sido propiciado um clima de maior descontração possível
durante a entrevista como sugerem Gil, (1994) e Minayo, (1996). Na entrevista foi
sugerido que as participantes falassem sobre a família de base e o seu funcionamento,
quem educava, quem determinava as leis na casa, quem trabalhava e quem mantinha a
família. Dados importantes para sabermos sobre as regras universais, a hierarquia de
poder e os tipos de padrões transacionais presentes nas famílias. Na seqüência, foi
solicitado para que elas comentassem sobre quando e como iniciaram os hábitos de
fumar, beber, higiene oral e as práticas sexuais a fim de investigar a existência ou não
nas interações familiares, de padrões transacionais e regras presentes no cotidiano
relacionados a essas atitudes. Para saber sobre os conhecimentos que as participantes
tinham sobre câncer e tipos de prevenção da doença, solicitou-se que elas falassem
24
sobre esses temas. As informações sobre o fato de se acharem parecidas com alguém e
também se quando construíram suas famílias atuais adotaram ou seguiram algum
modelo; tiveram o objetivo de conhecer a existência ou não da repetição e da
manutenção do tipo de funcionamento das famílias de base nas famílias atuais através
da transmissão entre as gerações.
Entre as participantes, cinco não fizeram parte do grupo das entrevistadas por
diferentes motivos: pela pressa para não perderem a condução de retorno para casa,
pelos encaminhamentos feitos das participantes para o departamento de Radioterapia no
mesmo dia da consulta no ambulatório de Cabeça e Pescoço, por inibição para gravar a
voz.
As entrevistas foram gravadas e transcritas (disquete anexo). Esse procedimento
foi feito manualmente, sendo o tempo médio de cada entrevista de 30 minutos. Os
registros em papel, fitas cassete e disquetes, foram guardados em local apropriado. Para
a análise do conteúdo das entrevistas foram realizadas inicialmente várias leituras dos
documentos. Em seguida, todo o material foi explorado, tendo como objetivo identificar
e destacar dos relatos de cada participante os comentários relacionados com os objetivos
do estudo, tendo como meio a Teoria Sistêmica Familiar.Estrutural para análise
interpretação e discussão (Costa, 1989; Minayo, 1996; Gil, 1999; AlvesMazzotti,1998).
Variáveis de análise
Variáveis sóciodemográficas
•
Idade: variável numérica contínua, expressa em faixa etária: até 40 anos, de 41 a
50 anos, de 51 a 60 anos, de 61 a 70 anos e maior de 70 anos.
25
•
Estado civil: variável qualitativa categórica, policotômica, estratificada como
solteira, casada, união estável, viúva, divorciada e separada.
•
Número de filhos: variável numérica discreta
•
Religião: variável categórica nominal, policotômica, estratificada como católica,
evangélica, espírita e outras.
•
Profissão: variável categórica nominal policotômica categorizada como qualquer
atividade gerando renda familiar.
•
Escolaridade: variável categórica extratificada com seis categorias:
Ensino
fundamental completo, ensino fundamental incompleto,ensino médio completo,
ensino médio incompleto, ensino superior e sem instrução.
•
Renda familiar: variável numérica continua expressa em reais de acordo com a
renda total dos membros da família.
•
Procedência: variável qualitativa categórica.
•
Ordem de nascimento: variável categórica indicadora da ordem de nascimento
da participante na família de base. Foram criadas para esta variável três
categorias: 1) início da prole (primeira ou segunda filha), 2) meio da prole e 3)
final da prole (última ou penúltima filha) (CARTER, 1995)
Variáveis consideradas como fatores de risco
•
Hábito de fumar: variável qualitativa categórica dicotômica que indica relação
repetitiva atual entre o individuo e o fumo com características de dependência
(SEIBEL, 2001). Ex- fumante: variável qualitativa dicotômica. Para o estudo
foram consideradas pessoas que fumavam cigarros, charutos ou cachimbos que
estão em abstinência por um período mínimo de seis meses.
26
•
Fase da vida em que iniciou a atitude: variável categórica indicadora de tempo
de exposição aos fatores de risco para câncer de boca. Para o estudo foram
classificadas como: infância, período do início de vida do individuo até os 12
anos incompletos (Estatuto da Criança e do Adolescente, 1997), adolescência,
período entre a infância e a fase adulta, entre 12 e 18 anos (Estatuto da Criança e
do Adolescente, 1997) e adulta, período de vida do indivíduo acima de 18 anos.
•
Hábito de beber: variável qualitativa categórica nominal policotômica que indica
uso de bebida alcoólica com características de dependência ou rituais (SEIBEL,
2001).
Ex- etilista:
variável qualitativa dicotômica. Para o estudo foram
consideradas pessoas que faziam uso constante de qualquer tipo de bebida
alcoólica e que está em abstinência por um período mínimo de seis meses.
•
Escovação dos dentes: variável qualitativa dicotômica indicativa de higiene oral.
•
Uso de prótese: variável qualitativa dicotômica indicadora do uso freqüente de
prótese dentária.
•
Doença sexualmente transmissível: variável qualitativa categórica policotômica.
Para o estudo foram consideradas como qualquer doença exclusivamente
transmitida por contato sexual (GOLDENSON, 1989).
•
Condiloma: variável qualitativa indicativa do tipo de doença sexualmente
transmissível que é causada pelo HPV de baixo risco, popularmente crista de
galo. É uma neoplasia benigna que está sendo investigada neste estudo pela
possibilidade de transmissão do vírus através do sexo oral.
•
Orientação sexual: variável qualitativa indicativa de tipos de informações
recebidas sobre sexo com objetivo de promover o conhecimento e a prática
saudável da sexualidade (GOLDENSON, 1989).
27
•
Sexo oral: variável qualitativa indicativa de termo geral para o uso de lábios,
boca e língua para satisfações sexuais (GOLDENSON, 1989).
•
Sexo vaginal: variável qualitativa indicativa de ato sexual que envolve
penetração do pênis na vagina (GOLDENSON, 1989).
•
Prótese dentária: variável qualitativa dicotômica que indique restauração e
manutenção da função oral, conforto, aparência e a saúde do participante pela
restauração dos dentes naturais e ou recolocação dos dentes perdidos.
Definição de termos:
•
Atitudes: sentimentos, pró ou contra, pessoas e coisas com quem os indivíduos
entram em contato. Formam-se durante o processo de socialização e constituem
um incessante intercâmbio com pessoas, famílias, escolas, instituições e grupos
(MYERS, 2000).
•
Atitudes sexuais: atitudes em relação ao sexo e ao comportamento sexual
influenciadas
por
fatores
como
relacionamentos
familiares,
educação,
exigências, expectativas e éticas sexuais da cultura a que pertence o individuo
(GOLDENSON, 1989).
•
Higiene oral: termo utilizado para indicar certas medidas que uma pessoa toma
diariamente a fim de assegurar a limpeza da boca e dos dentes (GOLDENSON,
1989).
•
Hábitos: repetições de ações no cotidiano dos indivíduos que às vezes tem
características de rituais, normas, regras ou costumes (MYERS, 2000).
28
RESULTADOS
4. RESULTADOS
4.1 Aspectos sóciodemográficos e fatores de risco
Trinta e duas mulheres com câncer de boca atendidas no ambulatório de
cabeça e pescoço do HCP aceitaram participar do estudo.
A incidência das neoplasias conforme a localização foi a seguinte: dez (31.3%)
tumor de língua; oito (25%), tumor de mucosa de boca; seis (18.8%), tumor de lábio;
quatro (12.6%), tumor de palato; dois (6.3%), tumor de mandíbula; dois (6.3%), tumor
de cavidade oral.
As características sóciodemográficas estudadas nas participantes foram: idade,
estado civil, número de filhos, religião, profissão, nível de escolaridade, renda familiar,
procedência e posição na ordem do nascimento. Os resultados estão apresentados nas
tabelas a seguir.
A média de idade das participantes foi de 58.9 (dp = 12.7) anos, variando de 23
a 78 anos, sendo a moda e a mediana respectivamente de 63 e 62 anos. A grande
maioria das mulheres (87%) tinha família constituída com base em relacionamentos
convencionais. Nove (28.1%) das participantes nunca tiveram filhos, enquanto cerca de
40% tiveram seis ou mais filhos. A maioria das participantes praticava a religião
católica (tabela 1).
30
Tabela 1 – Distribuição da freqüência das participantes entrevistadas no Departamento
de Cabeça e Pescoço do Hospital de Câncer de Pernambuco de acordo com a faixa
etária, o estado civil, o número de filhos e a religião.
Variável
____ Entrevistadas__
n
%
Idade
Até 40 anos
4
12.5
41 a 50 anos
4
12.5
51 a 60 anos
5
15.6
61 a 70 anos
14
43.8
> 70 anos
5
15.6
32
100,0
Solteira
3
9.4
Casada
11
34.4
Viúva
9
28.1
União estável
8
25.1
Divorciada
1
3.1
Total
Número de filhos
32
100,0
Nenhum
9
28.1
Até 05
10
31.3
De 06 a 10
8
25.0
Acima de 10
5
15.6
Total
Religião
32
100,0
Católica
29
90.6
Evangélica
3
9.4
Espírita
0
0.0
Outras
Total
Fonte: SPCC HCP / 2004
0
32
0.0
100,0
Total
Estado civil
31
A profissão predominante foi agricultora, com quase metade (46.9%) das
participantes. Quanto ao nível de instrução, a maioria das participantes 20 (62.5%),
referiu nunca ter estudado, conforme tabela 2.
Tabela 2 – Distribuição da freqüência das participantes entrevistadas no Departamento
de Cabeça e Pescoço do Hospital de Câncer de Pernambuco de acordo com o tipo de
profissão e o nível de instrução.
Variável
___ Entrevistadas__
n
%
Profissão
Agricultora
15
46.9
Do lar1
7
21.9
Costureira
2
6.2
Lavadeira
2
6.2
Outras*
6
18.8
Total
32
100,0
Escolaridade
Sem instrução
20
62.5
Ensino fundamental incompleto
9
28.1
Ensino fundamental completo
3
9.4
Ensino médio incompleto
0
0.0
Ensino médio completo
0
0.0
Total
32
100,0
____________________________________________________________________________
*Atendente, catadora de papel, comerciante, empregada doméstica, feirante ou merendeira.
1
Do lar denominação dada quando a mulher desempenha exclusivamente as tarefas domésticas.
Fonte: SPCC HCP / 2004
32
Em relação à ordem de nascimento na família 21 (65.6%) das participantes afirmaram
ter nascido como últimas da família. Quando foi analisada a condição econômica das
famílias 21 (65.6%) das participantes, disseram que sua família vivia com um salário
mínimo mensal e três (9.4%) asseguraram viver de agricultura de subsistência. Do
grupo estudado, 20 (62.5%) das participantes viviam em área rural e 12 (37.5%)
garantiram residir na cidade. Maiores detalhes estão apresentados na tabela 3.
Tabela 3 – Distribuição da freqüência das participantes entrevistadas no Departamento
de Cabeça e Pescoço do Hospital de Câncer de Pernambuco de acordo com a ordem do
nascimento, a renda familiar e a procedência.
Variável
___ Entrevistadas__
n
%
Ordem de nascimento
Categoria 1
8
25
Categoria 2
3
9.4
Categoria 3
21
65.6
Total
32
100,0
Nenhuma renda
3
9.4
01salário mínimo
21
65.6
02 salários mínimos
6
18.8
03 salários mínimos
2
6.3
Total
Procedência
32
100,0
Rural
20
62.5
Urbana
12
37.5
Total
Fonte: SPCC HCP / 2004
32
100,0
Renda familiar
33
Dezesseis (50%) das participantes foram fumantes e (70%) delas já fumaram
algum dia; a maioria 17 (77.3%) começou a fumar na infância. Duas (9.1%) das
mulheres disseram que iniciaram o hábito de fumar com os amigos; 12 (54.4%)
referiram que foram motivadas pelos pais; 29 (96.6%) do grupo de mulheres
entrevistadas tinham fumantes no grupo familiar.
Tabela 4 – Distribuição da freqüência das participantes entrevistadas no Departamento
de Cabeça e Pescoço do Hospital de Câncer de Pernambuco de acordo com ser fumante
atualmente, ser ex–fumante, a fase da vida em que começou a fumar, com quem
incorporou o hábito e se havia mais alguém na família que fumava.
Hábito de fumar
____ Entrevistadas__
n
%
Fuma atualmente
6
18.8
Ex–fumante
16
50.0
Nunca fumou
10
31.2
Total
Fase da vida em que iniciou a atitude
32
100,0
Infância
17
77.3
Adolescência
4
18.2
Adulta
1
4.5
Total
Com quem iniciou a atitude
22
100,0
Amigos
2
9.1
Vizinhos
0
0.0
Pais
12
54.5
Parentes
8
36.4
Outros
0
0.0
Total
Outras pessoas na família que fumam
Sim
22
100,0
29
96.6
Não
3
9.4
Total
32
100,0
Fonte: SPCC HCP / 2004
34
Seis (18.8%) das participantes bebem atualmente e 12 (37.5%) são ex–
etilistas. Três (16.7%) das participantes começaram a fazer uso de bebida alcoólica na
infância; três (16.7%) iniciaram a atitude por intermédio dos pais; 27 (88.4%) têm
outras pessoas no grupo familiar que bebem.
Tabela 5 – Distribuição da freqüência das participantes entrevistadas no Departamento
de Cabeça e Pescoço do Hospital de Câncer de Pernambuco de acordo com ser etilista
atualmente, ser ex-etilista, nunca ter tido contato com bebida alcoólica, fase da vida que
iniciou o hábito de beber, com quem incorporou o hábito de beber e se havia no grupo
familiar mais alguém que bebia.
Hábito de beber
_____ Entrevistadas__
n
%
Uso de bebida alcoólica
Ex-etilista
6
12
18.8
37.5
Nunca bebeu
14
43.7
Total
Fase da vida em que iniciou a atitude
32
100,0
Infância
3
16.7
Adolescência
7
38.9
Adulta
8
44.4
Total
Com quem iniciou a atitude
Amigos
18
100,0
5
27.8
Vizinhos
5
27.8
Pais
3
16.6
Parentes
5
27.8
Outros
0
0.0
Total
18
Outras pessoas na família que têm o hábito de beber
sim
27
100,0
88.4
Não
5
15.6
Total
32
100,0
Fonte: SPCC HCP / 2004
35
Oito (27.6%) das participantes iniciaram o hábito de escovar os dentes na
adolescência e três (9.4) das participantes nunca escovaram os dentes. Mais detalhes
sobre a higiene oral encontram-se descritos na Tabela 6.
Tabela 6 – Distribuição da freqüência das participantes entrevistadas no Departamento
de Cabeça e Pescoço do Hospital de Câncer de Pernambuco quanto à atitude de escovar
os dentes todos os dias, a fase da vida que iniciou a atitude e de acordo com a presença
de outras pessoas na família das participantes que têm o hábito de escovar os dentes
todos os dias.
Higiene oral
___ Entrevistadas__
n
%
Escovam os dentes todos os dias
Sim
29
90.6
Não
3
9.4
Total
Fase da vida em que iniciou a atitude
32
100.0
Infância
19
65.5
Adolescência
8
27.5
Adulta
2
7.0
Total
Com quem iniciou a atitude
Amigos
29
100.0
5
17.2
Vizinhos
5
17.2
Pais
3
10.4
Parentes
5
17.2
Outros*
11
38.0
Total
29
Outras pessoas na família que escovam os dentes
100.0
Sim
32
100.0
Não
0
0.0
Total
32
100.0
*Outros: Não sabe, não lembra, com todos, com ninguém, com a televisão.
Fonte: SPCC HCP / 2004
36
No grupo estudado, 11 (34.4%) das participantes usam prótese dentária, cinco
(45.5%) começaram a usar na adolescência. A tabela 7 apresenta maiores detalhes
sobre o uso de prótese no grupo estudado.
Tabela 7 – Distribuição da freqüência das participantes entrevistadas no Departamento
de Cabeça e Pescoço do Hospital de Câncer de Pernambuco de acordo com o uso de
prótese dentária, a fase da vida que iniciou o uso de prótese e a freqüência de pessoas no
grupo familiar que também usa prótese dentária.
Prótese
___ Entrevistadas__
n
%
Usa prótese dentária
Sim
11
34.4
Não
21
65.6
Total
Fase da vida em que iniciou
32
100.0
Infância
0
0.0
Adolescência
05
45.5
Adulta
6
54.5
Total
Outras pessoas na família que
usa prótese dentária
Sim
11
100.0
11
34.4
Não
21
65.6
Total
Fonte:SPCC HCP / 2004
32
100.0
No grupo estudado, 29 (90.6%) das participantes praticam o sexo vaginal; sete
participantes (23.3%) praticam o sexo oral e uma (3.1%) pratica sexo anal. No grupo de
voluntárias, três disseram que são virgens. Nenhuma das participantes do estudo teve
algum tipo de orientação sexual. Também no grupo, duas (6.3%) das entrevistadas
disseram ter tido doença sexualmente transmissível, mas todas negaram ter tido algum
contato com a doença do tipo condiloma.
37
4.2 Aspectos qualitativos - sobre o câncer e o adoecer de câncer, interações
familiares e fatores de risco
Nesta secção apresentamos os resumos das entrevistas destacando os
tipos de interação nos padrões relacionados às atitudes consideradas de risco para o
câncer de boca e sobre as temáticas que foram detectadas sobre o câncer e sobre a
adoção do modelo da família de base na atual. Das 32 participantes, cinco (15.6%) não
aceitaram participar da entrevista gravada.
Entrevista F 01
Dados sócio-demográficos: 48 anos, casada, católica, ensino fundamental incompleto e
reside em área urbana.
Entrevista: A participante revela que a mãe escolheu o marido de cor branca para que
os filhos nascessem com cabelos lisos. Os pais têm um casamento estável, trabalhavam
fora e quem cuidou e educou foi a avó, que morava com eles. Era uma senhora
evangélica, rígida que adotou para educar os netos regras claras mostrando o que era
“certo” e o que era “errado”. A participante nunca fumou, seus pais e irmão fumam. Ela
fazia uso de bebida alcoólica, seus pais e irmão também. Quanto à fase em que começou
a fazer uso de bebida alcoólica, refere ter sido já adulta e atribuiu ao pai e ao irmão a
razão por ter adotado esse hábito.
(...) Eu acho que aprendi com eles mesmo. Com
meu pai e meu irmão. Eu vim a aprender foi tarde
(...)
Quanto à higiene oral, a participante refere ter começado a escovar os dentes na
infância sob orientação (ensinando) da avó. Ela se descreve como uma pessoa alegre,
extrovertida e sem preconceitos, diferente das pessoas de sua família com exceção da
38
mãe. Quando construiu sua família, a participante adotou criar os filhos a sua maneira,
em concordância com seu marido e também aceitou para educar orientação da escola.
Ela educa seus filhos, conversando e sem deixá -los na rua.
Nessa família observamos que o tipo de funcionamento era pautado na
hierarquia de poder com complementaridade de funções. Foi educada pela avó que
adotava regras claras, orientando sobre o certo e o errado, inclusive podemos perceber
que, no tocante à atitude de escovar os dentes, os comentários que avó fazia sobre a
importância da higiene oral foi, de certa forma, lembrada quando a participante
comentou sobre câncer e como se adoece de câncer.
(...) Eu não sei explicar, mas eu acho que ... que é
uma
doença sem cura a gente já sabe, né. No
começo tem cura, se descobrir logo, se tratar logo né
(...)
(...) Uma pancada forte no seio, um dente, uma
dentadura mal cuidada, o dente estragado eu acho
que causa também o câncer de boca e o colo do
útero tem sempre que cuidar né. Se não cuidar
aparece (...)
Para construir sua família ela comenta que não adotou o modelo da família de
base. Refere ter combinado com o marido a forma de educar, orientando, explicando,
conversando e aceitou também orientação da escola.
39
Entrevista F 02
Dados sócio-demográficos: 63 anos, casada, católica, sem instrução, e reside em área
rural.
Entrevista: A participante é a última filha de uma família grande, com 08 filhos. Sua
família de base é a dos avós pois quando ela era criança, a mãe faleceu e em decorrência
deste fato o pai foi com todos os filhos viver com seus pais. Todos trabalhavam
(complementaridade de funções) na agricultura e criavam animais. Quanto à educação
os avós orientavam e aconselhavam sobre o caminho do bem e do mal. Refere ter
aprendido fumar com a avó na infância.
(...) Aprendi foi com minha avó porque ela se assentava num
canto e ia fazer o negócio de uma costurinha dela mesma,
pegava o cachimbo (...)
Todos na família fumam. Refere que não faz uso de bebida alcoólica, ninguém
na família faz. A participante começou a escovar os dentes na adolescência e quanto ao
câncer
(...) esse tipo de doença é a pior doença que existe no mundo
(...) quanto a adoecer de câncer ela acredita que (...) é sina de
cada um (...)
Quanto a se parecer com alguém na família, ela comenta que não tem nada de
ninguém e que é do jeito que Deus deu. Não sabe ler e criou a família como a avó,
orientando e explicando. É aberta às mudanças sociais. Quanto ao tipo de roupas que as
filhas usam, o marido é mais resistente. A organização de poder nesta família foi
determinada por regras claras pelos avós, para não seguir o caminho do mal, só se
40
acompanhar com gente de bem, com senhora boa. A atitude de fumar foi adotada por
todos os membros da família, esta homogeneidade de comportamento pode ter
estimulado a adoção da atitude pela paciente.
Entrevista F 03
Dados sócio-demográficos: 63 anos, viúva, católica, sem instrução e reside em área
rural.
Entrevista: Foi educada pelos pais. O pai adotava regras rígidas de disciplina,
orientando para não mentir, não fumar, não roubar. Foi a última a nascer na família. É
fumante, começou o hábito na infância e diz ter aprendido com o pai. Ele ensinava os
filhos a fumar e beber. Faz uso de bebida alcoólica, começou na adolescência. Os pais
fumam e fazem uso de bebida alcoólica. Não escova os dentes, os pais e os tios também
não. A participante pratica sexo oral. Na família atual adotou o modelo dos pais, mas
diz não ser tão enérgica quanto eles.
(...) Educando para não fazer coisa errada, batendo não, não
fazia que nem meu pai para matar não (... )
Nessa família, quanto à atitude de fumar existia um tipo de comunicação
confusa. Na questão da higiene oral, a participante e a família foram homogêneos
quanto a não ter adotado a atitude, embora os tios escovassem os dentes. Para esta
senhora a causa do adoecer de câncer é o fumo.
Entrevista F 04
A participante não concordou em participar da entrevista.
41
Entrevista F 05
Dados sócio-demográficos: 75 anos, viúva, católica, sem instrução e reside em área
rural.
Entrevista: Os pais eram casados e trabalhavam na roça. Foi a última de uma família
com 13 filhos. Para educar o pai dizia o que era certo e era para cumprir; às vezes para
disciplinar o pai batia. Podemos perceber que, quanto ao trabalho, havia um
compartilhamento de funções e quanto à educação o poder era centralizado no pai.
A participante começou a fumar e a fazer uso de bebida alcoólica na infância,
refere ter aprendido com os pais imitando (identificação) pois eles não queriam, não
aceitavam. A princípio fumava escondido. Com o tempo o pai ofereceu fumo quando
estavam na roça trabalhando (padrão confuso, antagônico, relacionado à atitude de
fumar).
(...) Eu via eles fumando, aí eu dizia: vou experimentar
também, pai e mãe. Eles não queria que nós fumasse não viu.
Eles brigava e dava mesmo. Não aceitava nós, mas nós pegava
o cigarro, fazia e ... (...)
Quanto ao uso de bebida alcoólica, a participante bebia escondido, pela manhã, antes de
ir para a roça. A participante relata ter aprendido a escovar os dentes com os pais.
(...) com mãe, com pai, escovar os dentes. Amanheceu o dia, vai
escovar os dentes de vocês. Já era mocinha mesmo, comprava
a escova a pasta e dava a nós (...)
A participante diz que não sabe o que é câncer e quanto ao adoecer de câncer
optou por relatar a história do filho Quanto à educação de seus filhos, ela preferiu
adotar o modelo do pai.:
42
(... ) O que é que é nunca ouvi falar não mas um filho meu....
não sei se era, nunca soube se era....veio se tratar aqui...
acabou-se nesse mesmo hospital que eu to (...).
Entrevista F 06
Dados sócio-demográficos: 38 anos, solteira, católica, ensino fundamental incompleto e
reside em área urbana.
Entrevista: A participante comenta que a família era pobre. O pai morreu e foi,
juntamente com os irmãos, criada pela mãe, sendo ela a filha caçula. Para educar a
mãe disciplinava batendo(tipo de hierarquia de poder). Não fuma nem faz uso de
bebida alcoólica. Foi orientada pela mãe para escovar os dentes todos os dias. Nesta
família a mãe tinha a hierarquia de poder, era viúva. Quanto ao câncer ela comenta
que é uma doença muito perigosa se não se cuidar. Para ela as pessoas adoecem de
câncer porque não se tratam. Ela se percebe como uma pessoa tímida, parecida com a
mãe e quando construiu sua família a participante adotou o modelo familiar.
Entrevista F 07
Dados sócio-demográficos: 61 anos, viúva, católica, sem instrução e reside em área
rural.
Entrevista: Segundo a participante, todos trabalhavam na roça. Foi uma das últimas
filhas do grupo familiar. O pai era alcoolista e começou a fumar na infância, aprendeu
com a avó que mandava acender o cachimbo, mas não permitia que fumassem (padrão
antagônico). Os irmãos também fumavam. Esse relato demonstra comunicação
confusa em relação à atitude de fumar.
(...) Cá minha avó ela dizia: olha minha fia, vá acender, vá
abrir uma brasa pra eu, aí eu fumava ... ela brigava com eu ...
43
menina, tu nunca mais pega nesse capim. Mas nós já tava
aviciado, nera. Aí toda vez eu fumava escondido (...)
Havia história de
violência doméstica do pai. A mãe era quem se
responsabilizava pela família, trabalhava e ensinava tudo. A participante fazia uso de
bebida alcoólica. Aprendeu com o pai.
(... ) Aprendi a beber com pai. Meu pai chegava em casa bêbado com
uma garrafa de cana e dava de tiquinho a nós (...)
Quanto ao câncer, ela pensa que é uma doença que não tem cura porque eu já
ouvi falar e quanto a como uma pessoa pode adoecer de câncer. Segundo ela é porque
(... ) faz doidice, qualquer espinhadinha, qualquer carocinho a pessoa
já fica com medo né, não por a pessoa porque eu fumei, se eu não
tivesse fumado tinha acontecido isso com eu? Eu acho (...)
A participante se descreve como uma pessoa alegre, como as irmãs, embora
tenha momentos de tristeza. Para educar os filhos adotou o modelo da mãe, orientou
sobre religião e colocou na escola.
Entrevista F 08
A participante não aceitou participar da entrevista.
Entrevista F 09
Dados sócio-demográficos: 73 anos, viúva, católica, sem instrução e reside em área
urbana
Entrevista: Todos trabalhavam na roça. Quem educava era a mãe que colocou na escola.
É a filha mais nova da família. O pai era autoritário, alcoolista; a mãe compartilha o
poder e estabeleceu o diálogo como recurso para educar e colocou os filhos na escola.
Começou a fumar na adolescência refere ter adotado a atitude porque via os mais velhos
fumando (imitação, identificação). Não faz uso de bebida alcoólica, o irmão sim.
44
Escova os dentes todos os dias- aprendeu com a mãe. Usa prótese dentária e o irmão
também.
Não houve comentário sobre câncer e quanto à maneira que foi adotada para
educar os filhos, a participante, repetiu todas as ações da mãe quanto à educação.
ofereceu novas oportunidades para os filhos intercedendo pela educação.
Entrevista F 10
Dados sócio-demográficos: 63 anos, união estável, católica, sem instrução e reside em
área rural.
Entrevista: O pai educava e trabalhava, a mãe trabalhava na roça. Aprendeu a fumar
com o pai na infância, ele ensinava. Faz uso de bebida alcoólica desde a infância, Os
pais e o irmão fumam e fazem uso de bebida alcoólica. Não usa prótese nem escova os
dentes. O pai e a mãe escovam os dentes. Sobre câncer não sabe e não quer falar. Diz
que parece com o pai; quanto ao modelo familiar diz que não sabe se repetiu o modelo.
Entrevista F 11
Dados sócio-demográficos: 76 anos, viúva, católica, ensino fundamental completo e
reside em área urbana.
Entrevista: É a filha mais jovem da família, foi criada sem a presença do pai. A mãe
teve uma história difícil em relação à vida afetiva, levando-a a optar por viver e educar
os filhos sozinha. Na família todos trabalhavam para ajudar (compartilhamento de
funções). Não tem história de fumo nem de álcool, nenhum membro da família adotou
esses comportamentos. Escova os dentes todos os dias, começou na fase adulta,
aprendeu com as colegas. Para ela o câncer tem cura somente para algumas pessoas e
fez um comentário sobre a importância das mulheres se orientarem sobre prevenção de
doenças. A participante diz que se parece com a mãe, pois trabalhou muito para criar os
filhos.
45
Entrevista F 12
Dados sócio-demográficos: 60 anos, casada, católica, sem instrução e reside em área
urbana.
Entrevista: É de família humilde. Na casa quem trabalhava era o pai, a mãe cuidava da
casa e dos filhos (padrão de aliança, compartilhamento de funções). Ela foi a primeira
filha, fumava desde a infância e diz que aprendeu com a mãe.
(...) Com a minha mãe. Às vezes ele diz: Ana, acende ali, aí
disso a gente vai se acostumando. Aí depois, com o tempo ela
quis tirar, não queria que eu fumasse, aí eu não quis mais
deixar (...)
Fazia uso de bebida alcoólica desde a adolescência e refere ter aprendido com
os pais. Quanto ao câncer, acredita que é uma doença incurável e sobre o adoecer de
câncer ela refere que
todo mundo tem câncer só que em umas pessoas ele se
manifesta, em outras, não. Também faz comentários sobre fumo e álcool como fatores
de risco. Nesta família havia um compartilhamento de funções: o pai trabalhava e a
mãe tomava conta da casa e dos filhos. No que se refere ao hábito de fumar, a forma de
comunicação adotada foi confusa, oscilando entre mandar acender e não permitir que
fume (padrão antagônico).
Entrevista F 13
Dados sócio-demográficos: 59 anos, união estável, católica, sem instrução e reside em
área rural.
Entrevista: Na família, a princípio, mãe e pai trabalhavam. Mais tarde o pai viajou e a
mãe assumiu todos as responsabilidades. Foram educados para trabalhar e as regras de
disciplina eram rígidas. Iniciou o hábito de fumar e a ter contato com bebida alcoólica
na fase adulta. Quanto a fumar diz que aprendeu com a avó que ensinou a acender o
46
cachimbo; quanto ao contato com a bebida alcoólica, refere não ter aprendido com
ninguém. Houve na família complementaridade de função: mãe e pai trabalhando no
inicio. A mãe assume todas as responsabilidades depois, educa para trabalhar com
disciplina rígida, de bater. Acredita que o câncer é do sangue como a diabetes e que a
pessoa pode adoecer de câncer por conta de
(...) furada de espinha de peixe que não cuida, é do sangue. Se
o caba sabendo que uma coisa não dá pra pessoa e a pessoa
continuando aí acontece de virar né. Tem gente que fuma e vira
(...)
Na sua família atual o casal trabalha, criou os filhos para o trabalho e aceitou a
sugestão da comadre para colocá-los na escola, orientou os filhos para ser
independentes. Ela e o marido fumam; todos os filhos não fumam nem bebem. Diz que
não aprenderam porque não gostaram. Para esta participante os filhos é sorte.
Entrevista F 14
Dados sócio-demográficos: 40 anos, casada, católica, ensino fundamental incompleto e
reside em área urbana.
Entrevista: O pai era responsável pela família, trabalhava no sítio. Ele era quem
educava, não deixava sair, ir a festas. a mãe era doente. Depois que o pai morreu, os
irmãos começaram a fumar e beber. Ela nunca fumou nem bebeu. Quando construiu
sua família, adotou o modelo dos pais.
Entrevista F 15
Dados sócio-demográficos: 48 anos, viúva, católica, sem instrução e reside em área
rural.
Entrevista: Na família o pai era o provedor, a mãe era quem educava
(compartilhamento de funções), orientando para o trabalho com regras claras de nunca
47
“pegar.” Quanto a fumar, aprendeu na infância. A mãe mandava acender o cachimbo,
mas não queria que ela fumasse. Podemos entender esse tipo de comportamento em
relação a essa atitude como de comunicação antagônica e praticando indução indireta
(...) minha mãe sempre mandava a gente acender o cachimbo, aí
às vezes a gente fumava escondido, ela não queria que a gente
fumasse, mas depois que a gente ia acender, aí a gente ficava
fumando escondido (...). os pais fumavam.
O contato com bebida alcoólica se deu na adolescência socialmente,
freqüentando festas. A mãe e o pai não gostavam, ambos bebiam socialmente. Sobre
câncer ela comenta que procura pensar que não está doente. Sobre o adoecer de câncer
ela imagina que pode ser decorrente do comportamento sexual
(...) Mulé que veve com um e outro, assim, que vem pegando um
e outro com tudo que é de doença ruim (...).
Quando construiu sua família criou os filhos da mesma forma como foi criada
pelo pai.
Entrevista F 16
Dados sócio-demográficos: 63 anos, casada, católica, sem instrução e reside em área
rural.
Entrevista: A família morava com a avó paterna, os pais trabalhavam; quem a criou foi
a avó (padrão de aliança com a avó). Quanto à atitude de fumar refere ter aprendido
porque via todos da casa fumando (imitando)
(... ) A fumar, com minha família mesmo. Às vezes quando
cuidava né, avechado... olhe Ana, acende meu cachimbo ali.
Mas se ela aprender a fumar mãe? Se aprender não tem nada
não(....)
48
Esse relato demonstra comportamento de indução indireta praticada pela avó
e comunicação confusa quanto à atitude de fumar: padrão antagônico. Quanto a beber,
diz ter aprendido com as colegas, mas lembra que também teve contato com bebida por
curiosidade, para experimentar a bebida que o pai bebia. Sobre o câncer a participante
faz o seguinte comentário:
(...) Menina, eu não sei não, eu penso assim né, sujeira no
sangue né, ou é de fumar, é do sangue porque eu vejo gente aí,
por lá que não fuma né. É do sangue, é do sangue (...) e quanto
ao adoecer de câncer ela acredita que é algo ruim, do sangue.
Quando construiu sua família, ela procurou criar da mesma maneira que foi criada.
Entrevista F 17
Não aceitou participar da entrevista
Entrevista F 18
Dados sócio-demográficos: 51 anos, casada, católica, sem instrução e reside em área
rural.
Entrevista: A mãe casou muito jovem, com 11 anos, trabalhava para manter a família; o
pai não trabalhava, o avô a pegou para criar com 06 meses e foi educada pela avó.
Começou a fumar na infância, pois acendia o cachimbo da avó (indução indireta). O
contato com bebida alcoólica ocorreu na fase adulta por conta das cachimbadas que
freqüentava (ambiente social) em comemoração do nascimento das crianças das
amigas. Sobre o câncer a participante não comentou. Acredita que uma pessoa pode
adoecer de câncer por causa de uma espinha de peixe, ou um esforço que se faz para
parir. Refere ter adotado o modelo das patroas. Na família atual cria os filhos com
autoridade centrada no pai, para não pegar brigarem, não pegarem nada de ninguém,
não andarem junto com ninguém. Filhos dentro de casa. Do estudo para casa.
49
Entrevista F 19
Dados sócio-demográficos: 23 anos, união estável, católica, sem instrução e reside em
área rural.
Entrevista: Os pais adotaram a complementaridade de funções: os dois trabalhavam e
educavam. As regras são claras: não tirar nada de ninguém, trabalhar, andar direito.
Quanto à higiene oral, a mãe orientava. O pai fumava e, segundo a entrevistada seus
irmãos aprenderam a fumar com ele, somente ela não fumava. Embora na família o pai
nunca tivesse bebido, e dava conselhos para que os filhos não bebessem, um deles
bebia; ela não. Sobre o câncer a participante define como uma doença perigosa que não
dói. Essa senhora, criou seus filhos, educando sem desprezar.
Nesta família, a orientação foi a estratégia mais utilizada para educar e proteger os
filhos.
Entrevista F 20
Dados sócio-demográficos: 57 anos, casada, católica, ensino fundamental incompleto e
reside em área rural.
Entrevista: Na família o pai, a princípio, era quem exercia a função de provedor; depois
a mãe assumiu esse lugar. A fumar ela comenta que aprendeu com o pai e a mãe, porque
achava bom ver a fumaça, achava cheiroso e a beber também imitou os pais.
(...) Bebi um pouquinho, achei bom fiquei bebendo (...) quanto
ao modelo de educação ela refere ter adotado o jeito de educar
eu minha dos pais fazendo a observação que com o esposo é
diferente.
Entrevista F 21
Dados sócio-demográficos: 63 anos, viúva, católica, sem instrução e reside em área
urbana.
50
Entrevista: Na família era a mãe quem disciplinava quanto a fumar, beber, escovar os
dentes. A mãe oferecia, o pai, a sogra, todo mundo fumava na família. A avó mandava
acender o cachimbo. Quanto à família ela comenta que não fez nada, “nem meu esposo,
quem educou foi eu mesmo botei no colégio”
Entrevista F 22
Não aceitou participar da entrevista.
Entrevista F 23
Dados sócio-demográficos: 43 anos, união estável, católica, ensino médio incompleto e
reside em área rural.
Entrevista: Na família trabalhavam (complementaridade de funções), Ela não fuma, os
irmãos, sim. Começou a beber com os irmãos, mas não queria. O pai também bebia.
Tentou criar os filhos como foi criada, mas as gerações são diferentes.
Entrevista F 24
Dados sócio-demográficos: 67 anos, viúva, católica, sem instrução e reside em área
rural.
Entrevista: Foi criada pelo pai, avós e tios, com vários tipos de orientação. Refere ter
aprendido a fumar com a avó pois ela ensinou a fumar para esquecer o vício de comer
barro e beber com as colegas que convidavam. Educou os filhos da forma que achou
certo. Sobre o câncer pensa que é uma doença sem cura que para adoecer pode ser com
qualquer coisa: uma pancada, um arranhão; “se não se tratar pode virar”. A participante
acha que se parece com a mãe, calada, não gosta de conversar. Na sua família, não
adotou modelo nenhum. Assumiu os filhos, botou para estudar, pediu até esmola, mas
casou todos.
51
Entrevista F 25
Dados sócio-demográficos: 62 anos, união estável, evangélica, ensino fundamental
incompleto e reside em área urbana.
Entrevista: Na família todos eram evangélicos, ninguém fumava nem bebia. Quando
casaram, a mãe exerceu influencia sobre o marido que mudou de religião. Para a
participante o câncer é uma doença terrível. Ela comenta que é parecida com a mãe,
emotiva.
Entrevista F 26
Dados sócio-demográficos: 69 anos, divorciada, católica, ensino fundamental
incompleto e reside em área urbana.
Entrevista: Havia complementaridade de função na família, a mãe era disciplinadora
com regras claras. A participante não bebe nem fuma. Não considera a forma como
bebe (socialmente) como atitude de beber.criou os filhos com menos rigidez que a mãe.
Sobre o câncer ela refere ser horrível e sobre como se adoece da doença a participante
comenta que
(...) Antes eu pensava que era hereditário mas, hoje em dia eu
to com essa doença, aí eu não sei não, acho que qualquer
pessoa mesmo pode pegar (...)
Entrevista F 27
Dados sócio-demográficos: 48 anos, casada, católica, ensino fundamental incompleto e
reside em área urbana.
Entrevista: A família tem no pai a figura de autoridade, a mãe é periférica, os avós
assumiram a educação, para educação o pai estabeleceu que os filhos deveriam ser
criados diferente da forma como ele foi criado, para isso encontrou uma maneira de
viabilizar a educação dos filhos mandando, a cada dois anos, um filho para morar na
52
cidade com a família de seu tio até que tornou-se inviável pelo número de filhos que
tinha e terminou comprando uma casa para morar. O pai da participante redefiniu a
forma de educar e não permitia que os filhos fumassem e foi ele quem ensinou como
escovar os dentes.
Em casa dos tios, onde a participante morava, todos fumavam e assim ela
aprendeu a fumar (imitação) mas adotou o comportamento de não fumar quando
estivesse em companhia do pai. A participante e seu esposo tiveram filhos e, embora ela
tivesse o hábito de fumar, os seus filhos nem bebem nem fumam, respeitando a regra do
pai. Sobre o câncer ela define como doença ruim, incurável, mas deposita a esperança
de cura em Deus. Quanto ao adoecer de câncer, essa senhora associa à demora das
pessoas em fazer tratamentos.
Entrevista F 28
Dados sócio-demográficos: 62 anos, viúva, católica, sem instrução e reside em área
rural.
Entrevista: Quem mantinha a casa era o pai, ele determinava as normas da casa, a mãe
também tinha sua função (complementaridade de funções). Quanto à atitude de fumar,
a mãe e o pai fumavam, ela o fazia escondido porque o pai pediu para não fumar na
frente dele. Beber, quando pariu gostou de uma bebida que tomou. Quanto à higiene
oral, a participante adotou o comportamento dos vizinhos. Na sua família atual ela
adotou o modelo de educação que recebeu.
Entrevista F 29
Dados sócio-demográficos: 57 anos, união estável, católica, sem instrução e reside em
área rural.
Entrevista: Os pais trabalhavam, o pai no campo e a mãe no roçado
(complementaridade de função). A irmã foi quem cuidou e educou, ensinava a lavar e
53
escovar os dentes; depois de fumar, lavar a boca também pra comer e ir à escola.
Aprendeu a fumar com o pai e a irmã.
(... ) Com minha irmã e com meu pai. Porque meu pai assim
com 13 anos, ele ia pra rua, chegava, comprava uma cachimbo
e dava pra gente (...) este relato caracteriza indução
relacionada a atitude de fumar.
A beber aprendeu com a
mãe e os irmãos; bebia por causa do frio da
madrugada, quando voltava das festas.
Entrevista F 30
A participante não aceitou participar da entrevista
Entrevista F 31
Dados sócio-demográficos: 78 anos, casada, católica, sem instrução e reside em área
rural.
Entrevista: Os pais e a avó materna moravam juntos. Foi educada para respeitar os mais
velhos, não era para dizer palavrão. Para educar foi privilegiado o diálogo. Fumava e
bebia escondido dos pais, o que aprendeu com as colegas. Na sua família atual, a
participante refere ter educado os filhos para estudar e trabalhar. Não adotou nenhum
modelo, embora suas atitudes se assemelhem às de seus pais. Sobre o câncer é uma
doença grande, uma doença perigosa que não tem cura.
(...) Os mais velho dizia e eu ouvia, sabe como é? (...)
Entrevista F 32
Dados sócio-demográficos: 67 anos, união estável, católica, sem instrução e reside em
área rural.
54
Entrevista: Na família a mãe ficou viúva, havia complementaridade de funções. A avó
ajudava. Não fumavam nem bebiam. Sobre câncer acha que é um problema do sangue,
que não se pega com ninguém.
55
DISCUSSÃO
5. Discussão
No grupo de participantes quanto à faixa etária, a maior incidência foi de
mulheres entre 60 e 70 anos (43.8%). Esses dados suportam as informações de que a
prevalência do câncer oral é maior nas idades entre 50 e 70 anos e reforçam os
comentários de Eizirick (2001) sobre o aparecimento de doenças degenerativas após os
50 anos de idade.
Segundo Carter (1995), a família no estágio tardio da vida passa por
dificuldades em relação aos idosos. Geralmente eles vivem sozinhos, são vistos como
um estorvo pelos filhos e passam a ser improdutivos por conta da aposentadoria ou pelo
surgimento de doenças. O nosso grupo de participantes contraria essa afirmação, pois
cerca de 80% delas tinham atividades remuneradas. Segundo Carter (1995) e Eizirik,
(2001), essa fase do ciclo vital requer novas alternativas e novos padrões de
funcionamento na família que promovam adaptação à nova realidade e evitem a
disfunção familiar. É provável que, as mulheres do grupo estudado, embora a maior
parte se enquadre no estágio tardio da vida, estejam conseguindo manter a estabilidade
e se ajustando bem à nova realidade.
A maior proporção era de mulheres casadas e em união estável. Este fato,
sugere a valorização da instituição familiar com relacionamentos duradouros podendo
nos levar a pensar nessas mulheres como criativas, resistentes às dificuldades, às crises
e com baixa vulnerabilidade aos estresses da vida. Segundo Goldrick (2003 apud
Walsh, 2003), as pessoas que mantêm relacionamentos duradouros, possuem
habilidades emocionais, nomeada como resiliência, para lidar com as situações mais
diferentes e difíceis da vida. Goleman (1995,1999), comenta essas qualidades
individuais como uma capacidade pessoal de ter empatia, motivação e aptidão pessoal
57
para os relacionamentos, e a define como inteligência emocional sendo que este autor
direciona mais seus trabalhos para a área profissional.
O grupo de participantes está inserido no padrão convencional de
relacionamento conjugal diferente do que Osório (2002) comenta sobre a nova definição
de relação conjugal na visão contemporânea. Segundo esta os indivíduos, independente
de ser de outro ou do mesmo sexo, criam laços de natureza sexual e afetiva e vivem uma
vida compartilhada sem está vinculada aos objetivos de procriar ou de casamento civil
ou religioso, estabelecendo novas formas de configurações familiares.
Quando se analisa o perfil quantitativo em relação ao tamanho das famílias,
observa-se que grande parte das mulheres (40.6%) tiveram seis ou mais filhos, o que
não é raro na geração de mulheres acima de 50 anos na atualidade do nordeste
brasileiro, mesmo nas regiões urbanas. Podemos conjecturar que, devido à amostra
estudada ser, na maioria nascida antes das décadas de 40 e 50, especificamente de classe
social não afluente, as participantes não tiveram suficiente acesso aos métodos
contraceptivos. Além do que a religião católica, predominante no grupo estudado, é
contra essa prática.
Embora a religião, segundo Walsh (2003), proporcione tranqüilidade, conforto,
encorajamento e torne os eventos inesperados menos ameaçadores e, conseqüentemente,
menos estressante, não foi entretanto, suficiente para reduzir os fatores de risco. De
fato, não desenvolveu nas participantes nem nos membros de suas famílias sentimentos
contrários às atitudes de fumar ou fazer uso de bebida alcoólica.
Por outro lado, a maioria das participantes (62.5%) tem procedência rural, onde
predominou o trabalho na agricultura (46.9%). Os casos de câncer de lábio poderiam
estar relacionados a esse tipo de atividade devido à exposição ao sol sem proteção da
face.
58
O grau de escolaridade era baixo, mais de 90% das mulheres eram analfabetas
ou tinham cursado, no máximo, até o ensino fundamental incompleto o que reforça o
reconhecimento das características sócioculturais e econômicas da população em
questão. Também coincidem com os achados de Biazevic (2003) com relação ao nível
sócioeconomico dos pacientes portadores de câncer oral na cidade de São Paulo.
Quanto à situação econômica, dois terços das mulheres viviam com um salário
mínimo, revelando o que a literatura diz a respeito do câncer de boca como doença
decorrente da pobreza e dos países em desenvolvimento (BARBOSA, 2001) e
(ELLISON,2004). Evidentemente a vulnerabilidade dessa população aos fatores de
risco para câncer, no presente contexto, estava muito aumentada. De acordo com Shafer
e Levy (1987), os indivíduos mais pobres têm maior incidência de câncer de boca,
provavelmente porque consomem mais cigarros, bebidas e têm dieta inadequada. Ainda
sobre a situação econômica, Osório (1996) refere que as mulheres pobres sempre
fizeram trabalhos remunerados; nesta ultima década esperou-se que elas se
equiparassem, no comportamento, às mulheres das classes privilegiadas, buscando
aumentar o nível de instrução, lançando-se no mercado de trabalho. Nossas
participantes não estão inseridas nesse contexto, pois vivem na pobreza, vinculadas à
economia local. Este último autor, quando tece comentários sobre a dinâmica das
famílias pobres, tenta explicar a realidade, alegando que os filhos de famílias pobres
normalmente deixam de estudar cedo ou não vão a escola a fim de trabalharem com a
família na tentativa de melhorar a condição financeira do grupo.
O fato de dois terços das mulheres terem nascido em fim de prole, sugere uma
menor preocupação com cuidados preventivos em relação a doenças, por parte dos pais.
Segundo Carter (1995), a cada filho que nasce a família sofre modificações para as
novas situações, demandando a introdução e manutenção de novas regras para os novos
59
filhos. A autora comenta que geralmente os pais já estão mais flexíveis, sofreram
influências dos irmãos e de outros eventos do ciclo da vida, resultando em novas formas
de relacionamento e educação, geralmente com menos rigidez. Esta postura lhes
dificulta a imposição das regras e da autoridade, inclusive relacionadas ao contato com
o fumo e o álcool entendidos como fatores de risco para câncer de boca. Outro fator
importante é que, no que se refere às relações familiares, se para os últimos filhos as
relações pais–filhos tendem para o desligamento, é provável que os pais se sintam
“despreocupados” e negligenciem a respeito das questões relacionadas aos filhos de um
modo geral impedindo a vigilância em relação aos fatores de risco (MINUCHIN,1982).
A associação entre o uso do tabaco, nas suas mais diversas formas encontrada
por Barbosa (2001) e Brandão (1989), suporta os nossos achados em que quase 70% das
participantes fumavam, sendo hábito adquirido já na infância ou adolescência. Seibel
(2001) afirma que os cânceres de cavidade oral são estritamente vinculados ao
tabagismo. O fato de quase 80% das participantes terem iniciados a atitude de fumar na
infância, aumentou o período de exposição ao fator de risco em questão. A pesquisa de
Lewellyn et al (2004) concluiu que os homens que tiveram risco aumentado para o
câncer oral tinham começado a fumar com idade abaixo de 16 anos .
É na infância que a família tem uma forte influência, constituindo-se o modelo
de identificação para a formação do repertório de atitudes, hábitos e comportamentos
dos indivíduos (BERENSTEIN,1988). Outro fator importante para entender esse fato é
que as pessoas com pouca renda e de área rural, geralmente, são mais dependentes da
família. Fato este que restringe as opções de contato com outros estilos de vida e outras
opções de atividades positivas e recreação (CARTER, 1995).
Sobre a infância, Osório (1996) afirma que o ambiente familiar, através dos
pais ou seus substitutos, facilita a evolução dos indivíduos e que para o
60
desenvolvimento deste processo estão envolvidos aspectos psicológicos e cognitivos.
No primeiro, o mecanismo de identificação opera no sentido da construção da
identidade pessoal e no segundo, facilita os aspectos da aprendizagem empírica. Desta
forma, podemos entender que a incorporação da atitude de fumar, neste grupo, ocorreu
em decorrência desse processo. Outro aspecto importante é a ausência da família com
relação ao cumprimento dos seus objetivos de acordo com Ackerman (1986) de orientar
e proteger a descendência.
É interessante notar que quanto à atitude de fumar na adolescência, 18.2% das
participantes iniciaram o hábito nesta fase, o que difere de Seibel (2001), ao afirmar que
90% dos casos de início de consumo de cigarros ocorre nessa faixa etária e diferente do
que constatamos no estudo em que (77.3%) das mulheres iniciaram o hábito na infância.
Outro aspecto importante na adolescência é que neste período as fronteiras
ficam mais permeáveis, os pais não conseguem mais impor a mesma autoridade
(EIZIRIK, 2001). O mesmo autor comenta que o adolescente aprende determinadas
atitudes para atender às solicitações: sociais dos pais e da escola na intenção de
demonstrar competência. Às vezes o jovem adota determinados comportamentos,
mesmo que não seja algo importante para eles mas com o objetivo de ser aceito em
grupos e não desapontar os membros. No grupo pesquisado, portanto, podemos supor
uma influência direta da família em virtude do grande número de fumantes no grupo
familiar.
Neste estudo mais da metade das participantes relataram ter tido algum tipo de
contato com bebida alcoólica, dando suporte ao que Seibel (2001) e Campisi (2001)
referem quanto às fortes evidências da correlação entre a ingestão de álcool e altas taxas
de câncer de boca. Quanto à fase em que iniciaram o hábito de beber, a incidência foi de
(16.7%) na infância, (38.9%) na adolescência. Carter (1995), sobre as vivências dos
61
indivíduos nos ciclos familiares com história de alcoolismo, comenta que o chamado
bebedor problemático também existe em crianças e o alcoolismo - seja em irmãos ou
num dos pais - tem efeito intergeracional. Para a autora, os filhos que crescem em lares
com história de alcoolismo carecem de atenção especial para que não adotem o mesmo
hábito. Segundo Osório (1996), embora o adolescente vivencie uma crise de identidade,
ele não se torna menos apegado aos seus pais nem deixa de repetir comportamentos
típicos como é o caso da exposição ao fumo e o uso de bebida alcoólica. Já Seibel
(2002) considera que para o uso de substâncias, o que parece ser mais importante é o
comportamento de círculos de amigos e colegas, se houver uma droga de fácil acesso.
Quando o uso não é aceito pelo grupo, a possibilidade de cada um dos integrantes usá-la
é baixa. Tal possibilidade aumenta muito nos casos em que o uso é aprovado e
influenciado. Ackerman (1986) comenta sobre a importância da identificação saudável
com os pais e a família, nessa fase, para que o adolescente encontre a maturidade. Se as
linhas de comunicação não forem claras, tornam confusas as escolhas e opções,
dificultando, de modo geral, o desenvolvimento saudável do adolescente. No nosso
grupo, embora outros fatores possam ter influenciado a adoção da atitude de beber,
constatamos uma alta influência familiar.
Os resultados sobre escovação dos dentes reforça o pensamento de
Salvador e col (1999) sobre os aspectos evolutivos e educativos. Para esses autores, a
família tem grande importância na aprendizagem dos hábitos, de modo geral e a
aprendizagem da criança através da família se dá porque a criança imita os
comportamentos e recebe orientação.
O fato de quase a metade das participantes usarem próteses dentárias desde a
adolescência, pode nos levar a assumir que as participantes optaram pela exodontia.
62
A prática de sexo oral, em cerca de um quarto das mulheres, reforça os
achados de Elillison (2002) sobre a associação entre o câncer oral e HPV. Quanto à
presença da intimidade sexual na sexta década, Eizirick (2001) comenta a importância
da vida sexual nesta fase. Para o autor, a prática da sexualidade revela aceitação dos
parceiros com relação às mudanças na aparência física e do próprio funcionamento
sexual.
Nenhuma das nossas participantes recebeu qualquer tipo de orientação sobre
questões relacionadas às praticas sexuais. Quando o lar é um lugar onde as informações
são abertamente compartilhadas, há maiores possibilidades de estabelecer orientações,
limites realistas. Quando a sexualidade é negada, rejeitada ou ignorada, a possibilidade
de sentimentos de alienação é maior entre os adolescentes e seus pais. Nesse caso, os
riscos das atividades sexuais prematuras, excessivas ou perigosas ficam maiores
(CARTER, 1995). Sobre a sexualidade humana, Osório (2002) diz que a família, em
função do reordenamento dos valores éticos e morais resultante do movimento
contemporâneo, passou a ser um espaço menos repressor o que não se confirma através
dos resultados onde, no nosso grupo, com relação às questões sobre sexo predominou o
silêncio e a falta de diálogo (SOIFER, 1982).
Em suma, o perfil das participantes revela um grupo composto por mulheres de
baixa renda, analfabetas, que viviam com seus companheiros, constituíram famílias
grandes, trabalhavam, na sua maioria na agricultura e praticavam a religião católica. A
maioria delas fumava, hábito iniciado na infância; o de ingerir bebida alcoólica também
foi constatado no grupo estudado; a maioria praticava a higiene oral e tinha vida sexual.
As crenças relacionadas ao câncer, no grupo estudado, apontaram para uma doença
destrutiva e vista como ameaçadora, reforçando o pensamento de Andolfi (1996) e
Krom (2000) sobre os mitos de modo geral. Para estes autores essas crenças tanto
63
podem ser vistas como estabilizadoras, quanto como desorganizadoras. No grupo não
tivemos a oportunidade de constatar essas tendências através das entrevistas.
Através do relato nas entrevistas quanto ao processo de adoecer de câncer,
podemos considerar que o grupo possui conhecimento sobre o tema e se aproxima dos
resultados de um trabalho realizado por Powe e Finnier (2004) sobre o que as mulheres
sabem sobre o câncer oral. Segundo eles, elas reconhecem o tabaco como fator de risco,
mas não têm conhecimento dos efeitos do sol, do álcool e da dieta. Isso confirma o que
Minayo (1996) comenta sobre o conhecimento empírico das pessoas sobre as causas das
doenças e sobre as doenças de modo geral.
Os relatos também confirmam o que Melo Filho (1992) escreve sobre os mitos
das pessoas em relação à origem do câncer como sendo uma doença que vem de fora do
organismo. Também a demora para iniciar o tratamento oncológico, segundo ele, pode
resultar em transtornos emocionais, pois remete diretamente às questões ligadas aos
sentimentos de punição e culpa.
A maneira pelo qual as participantes nomearam e definiram o câncer e os
comportamentos que podem levar um indivíduo a adoecer de câncer retratam a
realidade de um conjunto de pessoas que construíram um tipo de conhecimento
específico
elaborado socialmente. Jodelet (1989) define esse tipo de saber como
ingênuo, natural, saber do senso comum nomeado como representação social. Embora
este tipo de conhecimento seja diferente do científico, é tido como um objeto de estudo
da mesma importância.
O pensamento de Jouchelovitch, (1995) também reforçada a importância dos
comentários das participantes sobre câncer, pois, segundo esse autor, como o autor,
estes relatos podem ser entendidos como representações de uma sociedade. O autor
refere que estas, como sistemas de interpretações, determinam nossas relações com as
64
pessoas e com o mundo. Ainda, segundo o autor, elas orientam e organizam
comportamentos e comunicações sociais, interferem em processos variados de
divulgação de conhecimentos, no desenvolvimento individual e coletivo, na definição
das identidades sociais e pessoais, na expressão dos grupos e nas mudanças sociais.
Através da análise das entrevistas, quanto ao padrão genérico identificamos
que havia na família da maioria das participantes uma preocupação, em cuidar e educar
os filhos para o trabalho, enfatizando regras relacionadas à moral e bons costumes.
Segundo Carter (1995), no passado, as normas sobre o respeito pelos pais e
pela tradição de cuidar dos mais velhos eram mantidas pela tradição religiosa. É
provável que no grupo estudado a manutenção destas regras tenha se dado pelo mesmo
motivo, uma vez que predominou a prática religiosa no grupo. Segundo Minuchin
(1982), os componentes morais e emocionais acompanham os padrões de transação
contratual de cada família, mesmo aqueles em que as origens e razões são
indeterminadas, cabendo aos pais ou substitutos a responsabilidade de orientar e educar
os filhos.
A tradicional estrutura doméstica, do pai que trabalha e da mãe que fica em
casa, não foi muito freqüente no grupo estudado. A maioria das mulheres trabalhava na
roça com os maridos. Para manter e educar os filhos, a maioria das famílias adotou
padrões de aliança, que são tipos de comportamentos onde as pessoas prestam apoio
mútuo, resultando em complementaridades de funções como: quando ambos os pais
trabalhavam os avós cuidavam dos netos, quando o pai trabalhava, a mãe permanecia
em casa cuidando dos filhos; quando o pai ou a mãe, por qualquer motivo, se ausentava
da dinâmica familiar outras formas de alianças foram criadas. Como por exemplo, a
mãe assumiu a família sozinha e orientou os filhos para ajudar trabalhando, e em outras
situações como a morte da mãe, o pai mudou-se para a casa de seus pais, confirmando o
65
que Eizirik (2001); e Nichols, (1998) sublinharam sobre a dinâmica familiar. Para esses
autores, o casal deve ter padrões complementares de apoio no cotidiano que podem ser
transitórios ou duradouros, dependendo das necessidades de cada família. A estrutura
básica das famílias estudadas confirmaram a Teoria Sistêmica Estrutural quanto à
família nuclear funcional; a teoria defende a importância das negociações e da presença
de padrões de aliança entre os cônjuges.
Considerando as famílias do ponto de vista sistêmico, percebe-se que houve
um
comportamento
saudável
de
seus
membros
quanto
à
responsabilidade
compartilhada, mesmo quando ocorreu desigualdade entre os gêneros na divisão das
tarefas domésticas. Para Carter (1995), o relacionamento dos homens com o trabalho
remunerado e/ou fora do lar é visto pela família como apoiador e complementar,
enquanto que para as mulheres essa forma de trabalho é conflitante com as exigências
familiares: geralmente as mulheres são vistas privando suas famílias pelo fato de
trabalharem. No grupo estudado, entretanto, não foi constatado este tipo de privação,
embora algumas mulheres trabalhassem fora, houve o apoio da família.
Histórias de famílias onde os filhos desde criança trabalhavam com os pais foi
freqüente nesses grupos familiares. O nível sócio–econômico e as características
culturais, às vezes fazem com que as famílias tenham dificuldades e adotem
comportamentos inadequados, disfuncionais com seus membros, como é o caso do
trabalho infantil. O baixo nível de escolaridade das mães também pode ter contribuído
para que a família não desse conta das necessidades infantis de brincar e do direito à
instrução; outro fator que pode ter contribuído para esta atitude familiar é o contexto da
moradia (rural) que dificulta o acesso à escola. O fato de algumas participantes já não
terem adotado na sua família atual este tipo de conduta optando por colocar os filhos na
66
escola, revela uma mudança de atitude e caracteriza a flexibilidade da estrutura familiar
visando ao crescimento e desenvolvimento dos filhos.
Foram identificadas, em algumas famílias, história de alcoolismo do pai com
relatos de violência. Carter (1995) e Prado (1998) comentam que o uso do álcool por
algum membro da família acarreta problemas ao longo do ciclo vital, resultando em
certos casos na perda da estabilidade familiar e, conseqüentemente, na adoção de
condutas inadequadas com os membros da família. Estes dados concordam com Ramos
e Bertolate (1997) para os quais a existência da relação entre o uso abusivo de álcool e
casos de violência doméstica.
Nesse grupo de famílias, identificamos que dentre os meios utilizados para
definir os limites, as leis, responsabilidades e regras da casa, predominou o diálogo,
embora algumas famílias tenham adotado como forma de controle, o ato de bater. Em
Golse (1998) e Duncan (1991), ao estudar teorias do desenvolvimento infantil,
constatamos que a orientação e os limites são importantes para o desenvolvimento dos
indivíduos. Palácios e Palácios, 1987 apud Salvador (1999) realizaram uma revisão da
literatura sobre as concepções evolutivas e educativas dos pais e concluíram que pais
tradicionais; corresponde com a população de baixa renda, baixa escolaridade e
moradia rural têm idéias inatistas sobre a educação e desenvolvimento dos seus filhos,
embora defendam ações de controle e disciplina; é provável que no nosso grupo este
tipo de crença tenha predominado, uma vez que não houve adoção significativa dos
membros das famílias de ações de prevenção que promovessem atitudes efetivas contra
os hábitos de fumar e de bebida alcoólica.
Os tipos de interações mais freqüentes relacionados à atitude de fumar foram:
antagônicas, caracterizada por comunicação confusa na infância pelos pais e imitação
ou repetição de atitude de parentes.
67
Analisando as entrevistas das participantes que iniciaram a atitude de fumar na
infância com os pais, identificamos que, embora nas famílias se adote regras rígidas de
disciplina, com hierarquia de poder, acrescido ou não pela complementaridade de
funções, quanto à atitude de fumar, o tipo de comunicação confuso, antagônico, com
regras difusas e tênues; não foi protetor. O hábito de fumar entre os membros da família
desencadeou um tipo de interação que manteve um padrão circular da atitude em
questão (causalidade circular). Considerando a família a matriz do desenvolvimento
psicossocial de seus membros, segundo alguns autores (Ackerman, 1986; Eizirik, 2001;
Minuchin, 1982 ; Osório, 1996) é natural que ela promova através do processo de
identificação a repetição da atitude de fumar. Ackerman (1986) comenta que na família
contemporânea os padrões de estabilidade não estão sendo seguros. A instabilidade das
famílias, a confusão e desorientação nas relações familiares provocam falhas na
disciplina e no controle. A falha de entendimento com relação ao controle e disciplina
em decorrência da utilização do padrão antagônico pode ter dificultado a adoção, por
parte dos membros da família de um comportamento homogêneo quanto à evitação dos
hábitos de fumar e fazer uso de bebida alcoólica.
Das participantes que iniciaram o hábito de fumar na infância com parentes,
todas referiram que os parentes foram as avós. Através da análise das entrevistas,
identificamos que, por circunstâncias no curso da história de cada família, a família dos
avós passou a ser a família de base. De acordo com Eizirick (2001), em situações
difíceis ou por vontade própria, os avós podem assumir o lugar dos pais na educação
dos netos. Este evento pode fazer com que os netos se identifiquem com eles
reproduzindo a mesma dinâmica do início da atitude de fumar com os pais.
Já as participantes que iniciaram o hábito de fumar na adolescência,
apresentaram no relato das entrevistas, quanto ao início da atitude de fumar, o
68
comportamento de imitação, independente de parentesco, que também é interpretado
como resultante de algum tipo de identificação mas também pode ser entendido como
uma tentativa dos indivíduos para fazer parte de um grupo social.
Quanto aos hábitos etílicos, os tipos de interações mais freqüentes referentes à
atitude de beber foram os que promoveram a imitação e repetição de atitudes, na fase
adulta seguida das interações com tipos de comunicações antagônicas e confusas na
adolescência. É importante salientar que todas as participantes têm pessoas na família
que fazem uso de bebida alcoólica. Embora tenhamos identificado a presença de
pessoas na família que bebiam, sugerindo a presença do processo de identificação no
grupo familiar as situações sociais também foram facilitadoras para o início da atitude.
Quanto às práticas sexuais, nenhuma das nossas participantes teve orientação.
Algumas participantes do estudo adotaram na construção de sua família o
modelo da sua família de base. Elas acreditaram que este era um modelo bem sucedido,
uma vez que não houve relatos de história de atitudes contra a moral e os bons costumes
entre os membros da família. Segundo (Berenstein, (1988); Minuchin, (1982)) também
podemos compreender este fenômeno, pensando que as famílias consciente ou
inconscientemente, procuraram manter os comportamentos ao longo de gerações.
Também sobre a tendência que as pessoas têm para adotar o modelo familiar, Ackerman
(1986) refere que as famílias sempre procuram atingir certo tipo de imortalidade em sua
descendência. Outras participantes não adotaram o modelo da família de base na família
atual, o que aliás também é comentado por Ackerman (1986) ao afirmar que o padrão de
organização familiar não é estático, e que as vezes a sociedade molda as famílias em
seu proveito. Já Osório (2002) reforça as propriedades de mudanças na família
contemporânea.
69
Sobre as atitudes de modo geral Myers, (2000);e Rodrigues (1999), referem que
elas podem ser apreendidas e que elas ajudam a estabelecer nossa identidade social. Por
definição atitude social é uma organização de crenças e cognições com carga afetiva
(sentimento) a favor ou contra um objeto social definido. Segundo esses estudiosos as
atitudes nos ajudam a lidar com o ambiente social, pois nos permite, entre outros
fatores, a participar de grupos e estabelecer relações significativas, propiciadoras da
evolução da personalidade; a adoção das atitudes de fumar e fazer uso de bebida
alcoólica podem ser compreendidas como o meio que os indivíduos utilizaram para
lidar com as ansiedades e conflitos optando inconscientemente por fazer parte de um
grupo de “iguais” que se identificam e se influenciam; que sentem que estão ligadas
que partilham dos objetivos comuns e contam umas com as outras se organizando e
reorganizando ao longo do tempo.
Verificamos ao longo desta análise, que vários elementos da Teoria Sistêmica
Estrutural foram identificados neste estudo. Assim, na rede invisível, formada pelos
padrões transacionais das famílias das participantes relacionados às atitudes de risco
podemos perceber o princípio da causalidade circular. A constância na repetição dos
comportamentos realizados por figuras parentais estimularam, identificações e
repetições do comportamento de fumar e beber, enquanto que na
higiene oral a
orientação foi predominante. mas nos grupos familiares a maioria tinha pessoas na
família que praticavam a higiene oral.
Na perspectiva dessa Teoria Sistêmica Estrutural, a família cria formas de
interações objetivando promover crescimento, adaptação e criatividade entre seus
membros sempre voltada para a saúde de modo geral. O princípio da homeostase na
família não é entendido como um estado de rigidez mas como um equilíbrio dinâmico
voltado para a manutenção dos aspectos saudáveis da vida familiar. Neste trabalho o
70
elemento homeostático foi identificado ao se observar nas famílias estudadas uma
tendência em manter os relacionamentos conjugais e com muitos filhos. O terceiro
princípio,
o da
morfogênese, esteve presente na tentativa dos pais em induzir
mudanças de hábitos nos filhos, embora sem êxito, por causa do padrão de comunicação
antagônico. Podemos depreender, portanto, que: quando as famílias promoveram regras
difusas com padrão do tipo antagônico com objetivo de impedir que as participantes não
adotassem os hábitos de beber e fumar, a adoção da atitude se deu pela identificação e
ou aprendizagem social propiciada pela causalidade circular. Quando as famílias
promoveram regras claras para que as participantes não adotassem os hábitos de beber e
fumar e havia história de fumo e álcool nas famílias a adoção da atitude se deu pela
identificação propiciada pela causalidade circular. Quando as famílias promoveram
regras claras para que as participantes não adotassem os hábitos de beber e fumar e não
havia historia de fumo e álcool nas famílias, houve a adoção da atitude de evitar o fumo
e o álcool, provavelmente pela identificação propiciada pela causalidade circular. As
famílias promoveram a orientação sobre a higiene oral para as participantes do estudo;
mas não se pode ignorar o processo de identificação.
Ao realizar uma abordagem mista quanto aos aspectos quantitativos e
qualitativos, o presente estudo tem limitações que devem ser consideradas: 1. do ponto
de vista quantitativo, a amostra é reduzida e não aleatória, não podendo as conclusões
serem extrapoladas para uma população alvo; 2. a inexistência de um grupo controle
para comparação impede outras conclusões que poderiam ser úteis à compreensão do
problema. Finalmente, o presente estudo é uma investigação preliminar e exploratória
sobre as interações familiares no processo de adoecer de câncer em um grupo portador
da doença, não trazendo assim conclusões definitivas. Entretanto, os resultados
permitem propor hipóteses testáveis sobre o assunto, mediante desenhos que incluam
71
grupos -controles, pareamento e com amostras mais representativas de populaçõesalvo, inclusive podendo testar a teoria sistêmica como modelo explicativo para o
processo.
72
CONCLUSÕES
6. CONCLUSÕES
Em mulheres com o perfil sócio-demográfico de baixa renda, baixa escolaridade,
agricultoras, residentes no interior, com famílias grandes, sendo última filha da família e
atendidas no Hospital do Câncer de Pernambuco podemos concluir que:
•
As interações familiares envolvidas com a adoção das atitudes de risco para o
câncer de boca foram propiciadas pelos processos de aprendizagem social e
identificação.
.
•
Embora as mulheres tenham algum conhecimento sobre a doença e sobre os
fatores de risco, têm dificuldade para compreender certos hábitos do cotidiano,
como atitudes danosas ao organismo.
•
O padrão transacional de funcionamento familiar do tipo antagônico facilita a
exposição aos fatores de risco para o desenvolvimento de câncer de boca no
grupo estudado.
•
Os conceitos sobre câncer, os relatos quanto ao adoecer de câncer e as atitudes
de risco revelam certo conhecimento sobre o tema, mas ainda estão ancorados
em mitos e crenças.
74
•
A dinâmica das famílias estudadas, quanto à possibilidade de influenciar no
surgimento de fatores de risco para o câncer de boca, pode ser entendida
conforme a Teoria Sistêmica Estrutural.
75
ANEXOS I
INSTITUTO MATERNO INFANTIL DE PERNAMBUCO
DEPARTAMENTO DE PESQUISA
MESTRADO EM SAÚDE MATERNO INFANTIL
MESTRANDA: MÔNICA CRISTINA MELO
QUESTIONÁRIO
Identificação:
Número do protocolo ______________
Nome:__________________________________________
Registro: _____________
Endereço_______________________________________________________________
_________________________________________________ _____________________
1. Idade: _____________________ 2. Estado civil: Solteira (
(
)
Divorciada (
) União estável (
) Casada (
)
Viúva
) 3. Número de filhos: _______ 4. Religião:
Católica ( ) Evangélica( )Espírita ( ) Outras (
) Qual ___________
5. Profissão: ____________
6. Escolaridade: 1. (
incompleto 3. (
)Ensino fundamental completo 2.(
) Ensino médio completo (
) Ensino fundamental
)4. Ensino médio incompleto5. (
)
Ensino superior 6. ( ) Sem instrução
7. Posição na ordem de nascimento
8. Renda familiar _______________________
9. Onde nasceu: _______________
_ 10. Procedência: Rural (
11. Fumo? Sim (
)
Não (
) 2. Adolescência (
)
)
13. Com quem incorporou a atitude de fumar?
3. Pais (
) Urbana
)
12. Fase da vida que iniciou a atitude de fumar ? 1. Infância (
3. Adulto (
) (
) 4. Parentes (
14. Ex-fumante?
Sim (
1. Amigos (
) 2. Vizinhos (
)
) 5. Outros ( ) 6. Quem ___________
)
Não (
)
77
15. Mais alguém na sua família fuma? Sim (
) Não (
)
16. Quem _________________________________________________________
17. Etilista?
Sim (
)
Não (
)
18. Fase da vida que iniciou a atitude de beber?
1.Infância (
)
2. Adolescência (
)
3. Adulto (
)
19. Com quem incorporou a atitude de beber?
1.Amigos (
) 2.Vizinhos (
20. Ex- Etilista? Sim (
) 3. Pais (
) Não (
) 4. Parentes (
) 5. Outros (
)
)
21. Mais alguém em sua família é Etilista ?___________________________________
22. Quem? _______________________
23. Usa prótese dentaria ?
Sim ( )
Não (
)
24. Fase da vida que iniciou o uso de prótese dentaria ?
1. Infância (
)
2.Adolescência (
)
3. Adulto (
25.Mais alguém da sua família usa prótese dentaria ?
26. Você escova os dentes todos os dias?
Sim (
)
Sim (
)
)
Não (
Não (
)
)
27. Fase da vida que iniciou a atitude de escovar os dentes ?
1.Infância (
)
2. Adolescência (
)
3. Adulto (
)
28. Com quem incorporou a atitude de escovar os dentes todos os dias?
________________
29. Mais alguém em sua família escova os dentes todos os dias?
Quem?_____________________________________________________________
30. Você já teve doenças sexualmente transmissíveis? Sim (
) Não (
)
31. Em que fase da sua vida iniciou a prática sexual ?
1.Infância (
)
2. Adolescência (
)
3. Adulto (
)
32.Alguma pessoa com quem você se relacionou tinha Condiloma?
Sim (
)
Não (
)
78
33. Você teve alguma orientação sexual? Sim (
) Não
(
)
34. Quem orientou?______________________________________________________
35. Seus pais deram-lhe orientação sexual?
) Não (
36. Pratica sexo oral?
Sim (
37. Pratica sexo vaginal?
Sim (
)
Não (
)
38. Pratica sexo
Sim (
)
Não (
)
anal?
)
Sim (
Não (
39.Tem historia de caso de câncer na família?
)
)
Sim (
)
Não (
)
40. Quem teve câncer na família?
41. Qual tipo de câncer? ________________________________________________
79
ANEXO II
INSTITUTO MATERNO INFANTIL DE PERNAMBUCO
DEPARTAMENTO DE PESQUISA
MESTRADO EM SAÚDE MATERNO INFANTIL
MESTRANDA: MÔNICA CRISTINA MELO
Roteiro da Entrevista
•
Como é sua família, me fale sobre ela
•
De que forma ela foi organizada quanto à escolha do parceiro, tipo de afeto,
nascimento dos filhos, organização financeira, educação, disciplina, hábitos e
atitudes
•
Como é o funcionamento de sua família de base (dinâmica da casa, direitos e
deveres)
•
Com quem você acha que aprendeu os hábitos de beber, fumar..e outros hábitos
sociais
•
O que é câncer para você
•
Fale como você acha que uma pessoa pode adoecer de câncer
•
Como foi a construção de sua personalidade (com quem você se parece, no
comportamento, você acha que seguiu algum modelo, familiar ou de alguém.)
• Para a construção de sua família atual que modelos ou hábitos você não adotaria
ou que modificações você faria quanto a sua família de base...
81
ANEXO III
INSTITUTO MATERNO INFANTIL DE PERNAMBUCO
DEPARTAMENTO DE PESQUISA
LOCAL DO ESTUDO:
DEPARTAMENTO DE CABEÇA E PESCOÇO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu, ______________________________________________, após ter tido uma
explicação detalhada em termos que me são familiares, estou ciente do que se trata o
estudo que a pesquisadora Mônica Cristina Batista de Melo, está realizando para
obtenção do título de mestre pelo Instituto Materno Infantil de Pernambuco, sobre as
causas indiretas das neoplasias da boca e aceito participar respondendo ao questionário
semi-aberto, que são perguntas diretas e indiretas sobre o tema e a uma entrevista, que
será gravada para posterior análise. Estou ciente de que posso desistir de cooperar com
o estudo a qualquer momento sem que haja nenhum prejuízo ao meu tratamento e
também que, nesse estudo o sigilo da minha identidade será garantido.
Recife, ______ de ______________________ de 2003,
__________________________________
PARTICIPANTE
________________________________
TESTEMUNHA
83
REFERÊNCIAS
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ANEXOS

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