AVALIAÇÃO ECOLÓGICA RÁPIDA DO PARQUE
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AVALIAÇÃO ECOLÓGICA RÁPIDA DO PARQUE
AVALIAÇÃO ECOLÓGICA RÁPIDA DO PARQUE NACIONAL DA CHAPADA DOS GUIMARÃES – MT. RELATÓRIO FINAL DO COMPONENTE AVIFAUNA Equipe: João Batista de Pinho, Leonardo Esteves Lopes, Tatiana Colombo Rubio, Paula Fernanda Albonette de Nóbrega, Luciana Pinheiro Ferreira, Marcos Maldonado Coelho, Fabiano Ficagna de Oliveira, Bianca Bernardon e Giuliano Bernardon Introdução A principal e mais eficiente estratégia para a conservação de aves tem sido a implantação e efetiva proteção de unidades de conservação de uso restritos suficientemente grandes para manter populações geneticamente viáveis (Pizo, 2001). Entretanto, a maioria dessas áreas não possui um inventário da riqueza biológica (Silva 1995b). O inventariamento de espécies é o procedimento inicial e fundamental para que qualquer medida de manejo de uma Unidade de Conservação possa ser implementada (Wilson 1997). Segundo (Silva 1995b) grande parte do Bioma Cerrado nunca teve sua avifauna estudada minimamente, considerando como “minimamente estudadas” todas aquelas localidades onde pelo menos 80 espécimes foram coletados ou pelo menos uma lista com 100 espécies foi produzida. Mesmo adicionando-se todos os esforços de pesquisa feitos nos últimos seis anos, nota-se que a situação pouco se modificou. A exploração da região de Chapada dos Guimarães se iniciou no século XIX com uma longa expedição comandada por Mr. Herbert H. Smith e sua esposa W.C. Smith durante os anos de 1882 a 1886. Tal campanha resultou na coleta de cerca de 6000 exemplares, dos quais cerca de 4000 foram vendidos ao American Museum of Natural History (AMNH). O restante da coleção foi vendido a diversos outros museus do mundo. Felizmente, boa parte desta coleção ficou depositada durante alguns anos no AMNH antes da coleção ser desfeita, o que permitiu J.A. Allen analisar cerca de 5500 espécimes na sua série de estudos sobre a avifauna da região (Allen 1891, 1892, 1893)(Allen 1889a, 1889b, 1893a). Posteriormente, diversos pesquisadores visitaram a região com destaque para a coleta realizada pelo Museu de Zoologia da USP, coordenada por Olivério Pinto em 1940. Em 1986 pelo Museu Paraense Emílio Goeldi coordenado por J.M.C. da Silva. Em 1990 o Museu Nacional do Rio de Janeiro coletou na cidade de Chapada, colégio Buriti, Rio Quilombo e rio Coxipó do Ouro. Willis & Oniki (1990) elaboram uma lista de 10 localidades do sudoeste de Mato Grosso, com destaque para cidade de Chapada e Água Fria. Este estudo objetivou fazer um levantamento das espécies de aves ocorrentes no Parque Nacional de Chapada dos Guimarães, com vistas a subsidiar a elaboração do plano de manejo para o Parque. Materiais e métodos: Área de estudo A Avaliação Ecológica Rápida no Parque Nacional de Chapada dos Guimarães – MT foi desenvolvido no período de 27/Setembro a 06/Outubro de 2005. O grupo de avifauna foi constituído por João Batista de Pinho (coordenador) da Universidade Federal de Mato Grosso, Leonardo Esteves Lopes (Universidade Federal de Minads Gerais), Tatiana Colombo Rubio (UFMT), Luciana Pinheiro Ferreira (UFMT), Paula Fernanda Albonette de Nóbrega (UFMT), Marcos Maldonado Coelho (University Sant Louis – EUA), Fabiano Ficagna de Oliveira (observador de pássaros profissional autônomo), Bianca Bernardon (UFMT) e Giuliano Bernardon (observador de pássaros profissional autônomo). O inventariamento foi desenvolvido nos 05 (cinco) sítios estabelecidos pela coordenação, divididos em 17 pontos (Figura 1). Floresta de Vale – Véu da Noiva Cerrado rupestre – Cidade de Pedra Cerrado ralo Figura 1 – Três habitats amostrados durante a Avaliação Ecológica Rápida, PARNA Chapada dos Guimarães, MT. A tabela I apresenta os sítios e pontos amostrados nas duas campanhas de amostragem, estabelecidos e caracterizado pelo grupo da vegetação. Tabela I. Descrição dos pontos de amostragem e coordenadas geográficas no Parque Nacional de Chapada dos Guimarães – MT. Número do Sítio / Hábitat Latitude Longitude Ponto Sítio I RFCSC-1 RF -FIN Floresta inundada 0612200 8306299 RF -CSSP Cerrado ss Botucatu 0612899 8307086 RF - CSS Cerrado ss Cuiabá 0611041 8304209 RC - FR Floresta de Galeria 0621148 8306065 RC - CUM Campo Úmido 0621141 8305985 RC- CSB Cerrado ss Botucatu 0621157 8305717 RC - VER Vereda 0623824 8306865 FP -CRU Cerrado Rupestre 0624531 8307867 FP -CR Cerrado Ralo 0621453 8310846 FP - CSB Cerrado ss Botucatu 0627500 8310218 FP-CSU Campo Sujo 0623867 8308512 Sítio II Sítio III Sítio IV SJ - CLS Areia quartizítica / 0623110 8293531 campo limpo seco SJ -FV Floresta de vale 0623513 8296521 SJ-FV Floresta de vale 0625117 8293898 SJ - CLI Campo limpo 0625067 8293982 SJ - CSA Cerrado com 0625113 8293192 0629781 8293235 ss afloramento Sítio V VB - FES Floresta Semidecídua Os métodos utilizados para o inventariamento da avifauna nos pontos foram: captura com redes de neblina, censo por pontos e observações oportunísticas. a) Captura com redes de neblina: Para a captura dos espécimes foram utilizadas 12 redes de neblina de 12m de comprimento por 2,75m de altura, com malhas de 36 mm. Estas foram abertas por um período de cinco horas consecutivas, iniciando-se logo após o nascer do sol, totalizando 540 hs/rede (9 áreas amostradas). Os indivíduos capturados foram identificados com auxílio de guias de campo. Cada indivíduo capturado foi marcado individualmente com anilhas metálicas conforme manual de anilhamento de aves silvestres do CEMAVE (1994) (Centro de Estudos para Conservação das Aves Silvestres - IBAMA) (N. da autorização de anilhamento: 1281). b) Transecto por pontos: O método de amostragem por pontos foi adaptado de (Vielliard and Silva 1990) (1990) e (Bibby et al. 1993). Nos ambientes pré-definidos foram demarcados seis a sete pontos de escutas que variou de acordo com o tamanho de cada área a ser amostrada (44 pontos nas duas campanhas). Cada ponto foi amostrado por um período de 10 minutos, totalizando 880 minutos, sendo que a distância entre um ponto e outro foi de 150m. Durante este tempo, todos os indivíduos observados visual e/ou auditivamente foram registrados. Estas observações foram feitas com auxílio de binóculo (8x42 mm). As amostragens foram realizadas na parte da manhã, período de maior atividade das aves. c) Observações oportunísticas: Também foram feitos registros visuais a olho nu e com auxílio de binóculo 8x45mm em caminhadas aleatórias nos sítios selecionados (total de 6 horas/homem por área), passando por vários tipos de fisionomias. Foram realizadas gravações de vocalizações de espécies de aves sempre que possível, utilizando-se um gravador digital Sharp MD-MT 15 e microfone Sennheiser ME66. Além de documentação fotográfica, foi feita uma coleção de peles de aves da região estudada e depositada na Coleção de Referência de Vertebrados no Departamento de Biologia Geral e Zoologia, Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato Grosso. As identificações das espécies basearam-se em (Grantsau 1988), (Ridgely and Tudor 1989; Ridgely and Tudor 1994), (del Hoyo et al. 2003) e (Sick 1997). A nomenclatura e a seqüência das espécies seguem o Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos. As espécies tiveram seu status de conservação definido conforme a Instrução Normativa do IBAMA nº 3, de 27 de maio de 2003. A utilização dos habitats foi feita de acordo à amostragem (presença/ausência) nas diferentes fitofisionomias. Análises de dados Uma curva de acumulação de espécies foi gerada para a área estudada, (programa EstimateS, versão 6.0 B1 (Colwell 2000)) sendo os valores estimados e associados a um intervalo de confiança de 95%. Utilizando o estimador não-paramétrico Jackknife de primeira ordem, calculamos a estimativa da riqueza de espécies para cada ponto amostrado. Resultados Nas duas campanhas foram registradas 234 espécies de aves (Figura 2), pertencente a 46 famílias, sendo a Tyrannidade com mais representantes, 43 espécies, seguida pela Thraupidae com 17 e Psittacidae com 12 (Anexo I). Apesar de possuir uma avifauna tipicamente de Cerrado, contendo 12 endemismos, existe uma grande influência amazônica, que pode ser observada nos ambientes de mata ciliar e de encosta, e é representada com destaque à Pteroglossus inscriptus, Campephilus rubricollis, Myrmeciza atrothorax e Machaeropterus pyrocephalus. Antilophia galeata (fêmea) - soldadinho Eucometis penicillata – pipira da taoca Formicivora rufa (fêmea) – papa formiga vermelho Platyrinchus mystaceus - patinho Pipra fasciicauda (macho) – Uirapuru laranja Coryphospingus cucullatus – tico tico rei Thamnophilus pelzelni (fêmea) – choca do Thamnophilus pelzelni (macho) – choca do planalto planalto Figura 2. Espécies de Passeriformes capturados durante a Avaliação Ecológica Rápida, PARNA Chapada dos Guimarães, MT. Várias espécies de predadores de topo também foram observadas, tais como: Harpyhaliaetus coronatus, Spizaetus tyrannus, S. ornatus, S. melanoleucus e mesmo Harpia harpyja, esta última sendo, provavelmente, apenas vagante. Isso é possível graças ao bom estado de conservação da grande extensão de Cerrado que predomina na região. Dentre as espécies ameaçadas de extinção registradas destaca-se Euscarthmus rufomarginatus. O primeiro registro documentado de Caprimulgus longirostris para o estado de Mato Grosso, tendo-se coletado dois machos da espécie. A curva de acumulação revela que, apesar do esforço de amostragem, o número de espécies de aves na área amostrada não foi totalmente estimado. A curva gerada para os dados de censo por pontos, rede e transecto não indicam proximidade a uma assíntota. Esse resultado é válido não só para a área como um todo, mas também para cada um dos pontos amostrais (Figura 3). Estimativa da Riqueza de Espécie (Jackknife) 350 300 250 200 150 100 50 0 Ponto17 Ponto15 Ponto13 Ponto11 Ponto9 Ponto7 Ponto5 Ponto3 Ponto1 -50 Pontos amostrados Figura 3. Curva de acumulação de espécies nos pontos amostrados no Parque Nacional de Chapada dos Guimarães – MT. A tabela II mostra a riqueza de espécies observado e estimado para os dois períodos nos pontos amostrados, o ponto que apresentou maior número de espécies foi o VBFES (Floresta Semidecídua), seguido por RFCS (Cerrado ss Cuiabá) e RCFG (Floresta de Galeria), tanto no período de seca como na chuvosa. No geral a curva de rarefação das espécies (Figura 4), mostra certo padrão nas estimativas de riqueza de espécies e que os maiores índices de riqueza de espécies se encontram nas florestas semidecídua e floresta de galeria, nos habitats mais ralos e com pouca estrutura na vegetação apresentou menor riqueza de espécies. Tabela II. Riqueza de espécies (observada, estimada e desvio padrão) dos pontos amostrados nas duas campanhas (-1 = seca e -2 = chuva) no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães – MT. Locais Riqueza observada RFFIN-1 51 RFFIN-2 39 RFCSC-1 77 RFCSC-2 32 RCFG-1 70 RCFG-2 35 RCCSB-1 46 RCCSB-2 44 RCVer-1 31 RCVer-2 30 FPCRU-1 62 FPCRU-2 37 SJ-1 54 SJ-2 39 VN-1 33 VN-2 23 VBFES-1 103 VBFES-2 68 Riqueza estimada Desvio Padrão 50,81 0 115,08 10,69 153,78 15,65 178,78 17,75 197,83 18 211,28 17,75 223,68 18,17 233,65 18,05 242,27 17,82 248,86 17,41 255,24 17,29 259,86 16,36 264,08 15,82 268,52 15,28 270,78 14,4 273,71 13,65 274,81 12,55 275,83 11,76 Ponto17 Ponto15 Ponto13 Ponto11 Ponto9 Ponto7 Ponto5 Ponto3 Ponto1 Estimativa da Riqueza de Espécie 230 220 210 200 190 180 170 160 150 140 130 120 110 100 90 80 70 60 50 40 30 Pontos Amostrados Figura 4. Curva de rarefação de espécies com base em amostras, para dados de presença e ausência nos Pontos amostrados no Parque nacional de Chapada dos Guimarães – MT. Os índices de similaridade qualitativo e quantitativo de Sørensen revelam pouca variação entre os habitats. Entretanto, os índices variou entre 0.256 e 0,605. O ponto da vereda e campo rupestre foi o mais dissimilar de todos. A similaridade mais elevada foi apresentada entre o ponto RCCSB e RFCSC (0,605), RFCSC e RCFG (0,575) e RFFIN e RCVer (0,553) (Tabela III). Tabela III. Similaridade entre os sítios amostrados (Índice de Sørensen). RFFIN RFFIN 1,000 RFCSC 0,510 RCFG 0,548 RCCSB 0,397 RCVer 0,553 FPCRU 0,288 SJ 0,460 VN 0,339 RFCSC RCFG RCCSB RCVer FPCRU SJ 1,000 0,575 0,605 0,486 0,455 0,525 0,417 1,000 0,422 0,517 0,431 0,390 1,000 0,503 0,496 0,346 0,497 0,328 1,000 0,256 0,524 0,343 1,000 0,362 0,438 VN 1,000 0,446 1,000 VBFES VBFES 0,505 0,473 0,531 0,406 0,473 0,302 0,541 0,293 1,000 Os dados indicam que a sazonalidade (seca e chuva) tem forte efeito sobre a avifauna da região do Parque. Das 234 espécies registradas para a área, 210 espécies foram registradas na primeira campanha equivalente ao período de seca na região, para segunda campanha apenas 26 espécies foram adicionadas à lista. A tabela IV apresenta as espécies consideradas raras, endêmicas e comuns no Parque Nacional de Chapada dos Guimarães. Destes 23 têm seu status raro e 10 endêmicas. Tabela IV. Lista do status de conservação das espécies, Rara (R); Endêmica (Em); Comum (C) no Parque Nacional de Chapada dos Guimarães – MT. Nome do Táxon Tinamus tao Temminck, 1815 Sarcoramphus papa (Linnaeus, 1758) Harpagus diodon (Temminck, 1823) Buteo melanoleucus (Vieillot, 1819) Spizaetus tyrannus (Wied, 1820) Spizaetus ornatus (Daudin, 1800) Anodorhynchus hyacinthinus (Latham, 1790) Caprimulgus longirostris Bonaparte, 1825 Cypseloides senex (Temminck, 1826) Streptoprocne biscutata (Sclater, 1866) Phaethornis nattereri Berlepsch, 1887 Hylocharis sapphirina (Gmelin, 1788) Heliactin bilophus (Temminck, 1820) Pteroglossus inscriptus Swainson, 1822 Nome em Português azulona urubu-rei gavião-bombachinha águia-chilena gavião-pega-macaco gavião-de-penacho arara-azul-grande bacurau-da-telha taperuçu-velho taperuçu-de-coleira-falha besourão-de-sobre-amarelo beija-flor-safira chifre-de-ouro araçari-miudinho-de-bicoriscado Celeus lugubris (Malherbe, 1851) pica-pau-louro Campephilus rubricollis (Boddaert, 1783) pica-pau-de-barriga-vermelha Melanopareia torquata (Wied, 1831) tapaculo-de-colarinho Herpsilochmus longirostris Pelzeln, 1868 chorozinho-de-bico-comprido Pyriglena leuconota (Spix, 1824) papa-taoca Suiriri islerorum Zimmer, Whittaker & Oren, 2001 suiriri-da-chapada Inezia inornata (Salvadori, 1897) alegrinho-do-chaco Rhytipterna simplex (Lichtenstein, 1823) vissiá Sirystes sibilator (Vieillot, 1818) gritador Machaeropterus pyrocephalus (Sclater, 1852) uirapuru-cigarra Status de conservação R R R R R R R R R R R R R R R R R,En C,En R C,En R R R R Antilophia galeata (Lichtenstein, 1823) Cyanocorax cristatellus (Temminck, 1823) Neothraupis fasciata (Lichtenstein, 1823) Cypsnagra hirundinacea (Lesson, 1831) Porphyrospiza caerulescens (Wied, 1830) Charitospiza eucosma Oberholser, 1905 Saltator atricollis Vieillot, 1817 As espécies como Arara azul soldadinho gralha-do-campo cigarra-do-campo bandoleta campainha-azul mineirinho bico-de-pimenta C,En C,En C,En C,En R,En C,En C,En (Anodorhynchus hyacinthinus), Urubu-rei (Sarcoramphus papa), Gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus), são consideradas carismáticas e foram visualizadas por mais de duas ocasiões em florestais mais conservadas com poucas influências antrópicas como o sítio VBFES, VN e SJ. Áreas como as florestas do Véu de Noiva, Riacho do Forte São Jerônimo e Rio Claro são considerados habitats espécies, pois além de possuírem áreas contínuas abrigam uma rica fauna amazônica e do Cerrado. O Vale da Benção apesar de abrigar muitas espécies de aves, é merecedor de cuidados especiais, pois apresenta muitas atividades antrópicas como hortifrutigranjeiros que podem ameaçar a saúde da floresta e fauna por contaminação de defensivos agrícolas. Discussão Caracterização biogeográfica do grupo estudado De uma maneira geral a avifauna da região é típica do Cerrado (Silva 1995a; García-Moreno and Silva 1997; Girão e Silva and Albano 2002), abrigando nove espécies endêmicas deste bioma: Nothura minor, Alipiopsitta xanthops, Herpsilochmus longirostris, Antilophia galeata, Porphyrospiza caerulescens, Charitospiza eucosma, Saltator atricollis, Basileuterus leucophrys e Cyanocorax cristatellus. Uma marcante influência amazônica é observada nas matas ciliares e de encosta, tal como demonstrado, por exemplo, pelos registros de Tinamus tao, Eurypiga helias, Pionus m. menstruus, Bucco tamatia, Pteroglossus inscriptus, Melanerpes cruentatus, Campephilus rubricollis, Myrmeciza atrothorax, Mionectes oleagineus, Tityra semifasciata, Machaeropterus pyrocephalus, Tangara chilensis e Euphonia laniirostris (Lorival et al. 1996). A influência Atlântica (Lorival et al. 1996) é menor, como demonstra a ocorrência de apenas uma espécie típica deste bioma, Lophornis magnificus, mas que também ocorrem pontualmente no Brasil central (e.g. Pinto 1936). Apesar da Chapada dos Guimarães constituir a localidade tipo de 18 espécies e subespécies de aves, nenhuma forma é endêmica a esta região. É importante destacar que diversas destas subespécies, tais como Piaya cayana cabanisi, Philydor rufum chapadense, Sirystes sibilator atimastus, Coereba flaveola alleni e Tangara cayana margaritae apresentam distribuição congruente com os limites do Cerrado e Pantanal (Pinto 1932, 1938; Pinto 1944; Pinto 1978). Contudo, a validade dessas formas, bem como os reais limites de suas distribuições geográficas, ainda carece de estudos mais detalhados. A boa preservação de extensas áreas de cerrado nos limites do PARNA garante a observação de alguns predadores de topo, como Spizaetus tyrannus, S. ornatus, S. melanoleucus e mesmo Harpia harpyja. Algumas espécies atualmente comuns na Chapada dos Guimarães não foram coletadas pelos Smith. Dentre estas espécies destacam-se Athene cunicularia, Coragyps atratus, Vanellus chilensis, Columbina squammata, Patagioenas picazuro e Molothrus bonariensis, todas elas comuns ao longo de todo o Cerrado do Brasil central. Estas espécies apresentam alta capacidade de adaptação a ambientes antropizados, sendo comuns ao longo de pastagens, lavouras e entorno de habitações rurais. É provável que estas espécies tenham colonizado a região, ou experimentado um grande incremento no tamanho de suas populações, apenas nas últimas décadas, beneficiando-se da recente expansão das pastagens e campos de cultivo no estado do Mato Grosso. O PNCG é uma área chave que protege não apenas elementos do Cerrado, mas também abriga espécies da Amazônia e mata Atlântica, desempenhando importante papel como corredor ecológico na Bacia do Alto Paraguai. A aproximação de instituições de pesquisas e universidades implementará ainda mais o conhecimento e monitoramento da biodiversidade do Parque. Uma proposta seria a instalação de um plot para monitoramento da biodiversidade a longo prazo modelo PPBIO/MMA. Esta metodologia preconiza atividades de pesquisa integradas, onde as informações sobre processos e sobre diferentes grupos taxonômicos são coletadas podendo ser analisadas conjuntamente, permitindo inferências sobre causa e efeito. Ameaças Uma série de ameaças sentidas no PNCG e no seu entorno intensificaram-se a partir dos anos 1970-80.A maior parte destes problemas tem origem relacionada à situação fundiária do Parque, pois cerca de 65% de sua área ainda não foi desapropriada, o que causa conflitos com proprietários de terra da região. Fora dos limites do PNCG, os principais problemas encontrados são as extensas monoculturas de soja, algodão (ambos principalmente a leste, ao longo da rodovia Chapada-Campo Verde) e eucalipto (junto ao limite noroeste do parque). Já os vales chapadenses têm tido suas florestas substituídas por atividades agropecuárias, com destaque para a horticultura. Além disso, o loteamento destes vales para a implantação de casas de veraneio ou de produção, valorizados pelo solo rico e abundância de água, fragmenta sua vegetação, restando atualmente pouquíssimos lugares com florestas primárias. Somam-se a estas atividades nocivas o garimpo de diamantes no alto da Chapada, a não destinação imprópria dos resíduos sólidos, o não tratamento de esgoto, o turismo desordenado e as extensas queimadas observadas no final da estação seca, justamente durante o período de reprodução da maioria das espécies de aves. Bibliografia Allen, J. A. 1891. On a collection of birds from Chapada, Matto Grosso, Brazil, made by Mr. Herbert H. Smith. Part I - Oscines. Bulletin American Museum of Natural History 3:337-381. Allen, J. A. 1892. On a collection of birds from Chapada, Mato Grosso, Brazil, made by Mr. Herbert H. Smith. Part II - Tyrannidae. Bulletin of the American Museum of Natural History 4:331-350. Allen, J. A. 1893. 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