branca de neve e os setes anões: a escuta da transferência entre

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branca de neve e os setes anões: a escuta da transferência entre
BRANCA DE NEVE E OS SETES ANÕES: A ESCUTA DA
TRANSFERÊNCIA ENTRE PROFESSOR E ALUNO NO COTIDIANO
DA ESCOLA
Neilton Batista Sena1 (UNEB)
[email protected]
INTRODUÇÃO
Era uma vez... E assim começa a história de uma jovem garota que chega num ambiente
diferente em que ela vivia. No novo ambiente, Branca de Neve deverá se adequar, adaptar e
conviver para conhecer os sujeitos que moravam naquela casa em plena floresta.
Esta história poderia ser bem parecida com a história de milhares de professores e
professoras, que, embora diferente do conto de Branca de Neve, procuram construir a cada dia
uma linha significativa na conquista dos relacionamentos com os seus alunos a fim de que
obtenham êxito nas aprendizagens em suas vidas.
Neste artigo faço um paralelo entre o conto de fadas de “Branca de Neve e os Sete
Anões”, refletindo sobre a dimensão simbólica dos personagens para o contexto de sala de
aula. Tomo emprestado alguns elementos da história para refletir sobre: Branca de Neve e os
sete anões, suas representações simbólicas em sala de aula e algumas leituras referente ao
papel do professor que podem ser revelado pelo conto no exercício de sala de aula.
Abordo a importância da afetividade nas relações interpessoais e também quando se
deseja construir aprendizagens no cotidiano da sala de aula.
Para a Psicanálise, afetividade é o conjunto de fenômenos psíquicos manifestados sob a
forma de emoções ou sentimentos e acompanhados da impressão de prazer ou de dor,
satisfação ou insatisfação, agrado ou desagrado, alegria ou tristeza. (Wikipédia – A
Enciclopédia Livre 2008).
Verifica-se, portanto que, para se desenvolver o cognitivo de um ser humano é
necessário que o educador transcenda as barreiras encontradas nas instituições educacionais e
consiga atingir a subjetividade dos educandos.
Também abordo a importância da transferência que ocorre entre o professor e o aluno,
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Pedagogo, Mestrando em Educação e Contemporaneidade – PPGEduc/UNEB – L2 Formação do Educador. Coordenador
Pedagógico da SECULT/CRE-CENTRO de Salvador. Pesquisador pelo Grupo de Pesquisa em Psicanálise Educação e
Representação Social – GEPERS. E-mail: www.gepers.com.br e [email protected].
.
entre Branca de Neve e os Sete Anões. Este é o deslocamento do sentido atribuído a pessoas
do passado para pessoas do presente, segundo a teoria psicanalítica, e é fundamental para o
processo terapêutico.
Freud reconheceu a possibilidade de que a transferência acontecia na relação professoraluno. O professor tem seu sentido esvaziado para receber o sentido que é conveniente para o
desejo inconsciente do aluno.
O professor para o aluno é detentor do suposto saber e, assim, torna-se interessante
aprender, trocar com ele suas vivências. Também no conto de fadas Branca de Neve e os Sete
Anões é observada esta transferência positiva, pois os mesmos tornam-se disciplinados e
passam a considerá-la a detentora do saber, mesmo esta sendo mais nova que eles.
1. CONHECENDO OS PERSONAGENS E AS REPRESENTAÇÕES EM SALA DE
AULA
Ao chegar, Branca de Neve encontrou um ambiente diferente do que estava acostumada,
a casa desorganizada, com objetos sujos e fora do lugar, porém o melhor da estória estaria por
vir, que seria aprender a conviver com os sete anões. Cada um com hábitos e personalidades
diferentes. Que estratégia a pequena donzela utilizaria para conquistar aquele público diverso?
Quais impressões ela causaria nos primeiros contatos com os sete anões?
Primeiramente, toda professora ou professor procurará conhecer os seus alunos e as
histórias de vidas dos seus sujeitos nos primeiros contatos. Assim Branca de Neve, após os
primeiros encontros, ela irá elaborar alguma(s) estratégia(s) para conquistar aqueles sujeitos.
Ao chegarem em casa, os sete anões perceberam que o interior do seu lar estava limpo,
arrumado, diferente de como eles haviam deixado - desorganizado. Neste momento, muitas
perguntas devem ter surgido em suas cabeças, do tipo, como este ser, ainda não apresentado
para eles, representaria uma ameaça? Mas como uma ameaça poderia ter proporcionado
tantos benefícios de forma significativa ao ambiente de sua casa?
No primeiro contato, a impressão foi uma ameaça bem eminente por detrás dos
cobertores, mas a aproximação e o encantamento diário revelariam benefícios substanciais
que esta aspirante à governanta, gerente ou professora traria para os sete anões.
Embora a personagem Branca de Neve não esteja representada por nenhuma destas
categorias acima mencionadas na história, tentaremos estabelecer um diálogo refletindo um
pouco a dimensão simbólica da personagem e dos sete anões no contexto de sala de aula.
Abaixo serão apresentados os sete anões, suas particularidades na história e, em
seguida, as suas possíveis representações em sala de aula.
* ATCHIM é o anão que sempre espirrava na presença de poeira.
* MESTRE parecia ser o mais velho do grupo, e, portanto, o líder.
* DENGOSO, como o próprio nome sugere, era o mais amável do grupo, de
gestos gentis.
* ZANGADO estava sempre de mau humor, reclamava de tudo, trabalhava na
mina com os outros e, às vezes, era individualista.
* FELIZ sempre sorridente, ótimo senso de humor.
* SONECA como diz o ditado, "se vacilar o cachimbo cai", este ditado
caberia perfeitamente para SONECA, pois o mesmo, não perdia uma oportunidade para
dormir.
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* DUNGA parecia o mais jovem do grupo, suas roupas não cabiam nele,
não falava, usava gestos para se comunicar, parecia também compreender muitas situações ao
seu redor, mas o grupo sempre o colocava em situações constrangedoras.
Após esta apresentação dos personagens da história, poderemos encontrá-los
representados sentados em nossas carteiras, mas não queremos aqui nos utilizar de um
diagnóstico estigmatizado dos nossos alunos, apenas compreender um pouco desta dinâmica
nas relações interpessoais no cotidiano de sala de aula.
No campo da Psicanálise a escuta ocupa um lugar de destaque por ser uma coisa das
palavras ditas ou silenciadas. Palavras que enganam, mas que abrem um acesso à significação
(Alonso, 1998).
Dentro do contexto psicanalítico, a escuta não limita seu campo de entendimento ao do
falado, mas ao contrário, é no mais lacunar do discurso que um fio de significado vai se
tecendo (Alonso, 1988).
Estas lacunas são alvos para onde o analista dirige sua atenção e escuta a trama dos
movimentos imaginários que tentam se disfarçar e fantasiar. Esta trama, quando escutada, se
desvanece e algo diferente se torna presente, revelando uma lógica até então encoberta.
Na sala de aula, o professor também dirige a sua escuta para o não dito pelos alunos,
pelas faltas encontradas e, assim, vai lendo as particularidades de cada um, para poder, dentro
da grande diversidade, atender o individual.
No conto de fadas Branca de Neve e os Sete Anões, observa-se bem na postura de
Branca de Neve, uma observação ativa do comportamento, as expressões e ao silêncio dos
anões. Através de sua paciência e espera do tempo de cada um, ela vai conseguindo a
admiração deles, o que se poderia chamar em psicanálise de transferência.
É o que também acontece entre professores e alunos. Refletir, levantar hipóteses,
produzir considerações em torno da escuta é tentar decifrar a trama carregada de sentidos que
se produz no cotidiano. Esta trama, quando questionada, revela o quanto ainda temos, que
aprender para termos uma escuta acolhedora para as falas dos alunos.
Na lista de chamada, e sentado na primeira fileira e na frente estará o nosso aluno
MESTRE, o mais atencioso de todos, sempre pronto para responder as perguntas feitas pelo
(a) professor (a) e cumpridor de seus deveres escolares; aparentemente, o nosso aluno
MESTRE está acima da média da turma, suas notas podem refletir o modelo de aluno que
todo professor queria ter em sua classe.
O nosso segundo da lista e também sentado na primeira fileira, só que na segunda
cadeira, será o DENGOSO. Este estará sempre disputando a atenção da professora e fará de
tudo para agradá-la. Será ele muito mimado em casa e, por isto, demonstra tantos afetos por
seu (a) professor (a)? Ou será que a falta afetiva de sua família esteja desenvolvendo com sua
professora? DENGOSO poderá ter algum problema em seus estudos, mas sempre superado
com o apoio de seu (a) professor (a). Segundo a psicanalista Melaine Klein (1926):
...as crianças desenvolvem a transferência de suas mais intensas fantasias,
ansiedades e defesas em casa, na creche, na escola, nos diferentes momentos do dia,
no convívio escolar e durante as aulas. O educador deve estar atento às
manifestações da criança, ele precisa envolver-se com esta criança e procurar levá-la
a se perceber, estimular a manifestar, encorajá-la, a tentar experimentar, elogiar suas
primeiras tentativas, permitindo-lhe a personificação de papéis sociais presentes em
sua realidade, estimulando a criar situações e reproduzi-las a brincar. O educador
sendo o mediador fora de sua convivência familiar torna-se um grande interventor
para o desenvolvimento emocional e cognitivo dos alunos.
Na fileira do meio estará o aluno ATCHIM. Sensível e inteligente, porém não consegue
resolver os seus problemas interpessoais com os seus colegas de classe, sem que se queixe
com a professora. Às vezes, ATCHIM participa das peraltices de crianças, mas não suporta
quando a situação recai sobre ele.
Ainda na fileira do meio estará o FELIZ, sempre de bom humor, emanando “chistes”,
enfim, tudo para ele se transforma em brincadeira; porém, não sabe ainda discernir o
momento de seriedade do momento de descontração, sempre perdendo as explicações da aula
por conta das suas piadas fora de hora. FELIZ é a alegria da turma, mas talvez não deixe a
seu (a) professor (a) tão alegre assim.
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Agora sentados um pouco mais no fundo da sala, poderemos encontrar os nossos alunos
SONECA, ZANGADO E DUNGA.
SONECA sempre anda cansado e sonolento nas aulas, o lugar privilegiado será recostar
a cabeça e tirar um cochilo. SONECA tem até a atenção da professora, mas ele não retorna as
tarefas aplicadas em classe e muito menos em casa.
A psicopedagoga Leila Sarah Chamat (1997), afirma que um bloqueio na afetividade impede
um vínculo saudável ou afetivo entre o ser que ensina e o ser que aprende, seja na família ou
escola. Com o trabalho centrado no vínculo pode-se trabalhar os medos, desejos e ansiedades.
Muitos fatores poderão está interferindo no desempenho escolar do nosso aluno
SONECA em aula. Pode ser que ele trabalhe à noite? Ou pode está passando da hora de
dormir em virtudes de filmes tarde na TV? Ou quem sabe o motivo de tanto sono ou
indisposição de SONECA não seja a falta de uma alimentação adequada para sustentá-lo
durante o dia? SONECA não falta às aulas, talvez a motivação principal dele esteja
justamente na hora da merenda escolar.
Em suma, SONECA poderia até render mais nas aulas se as causas do seu excesso de
sono fosse diagnosticado a tempo, mas não incomoda os demais colegas de classe apenas
dorme.
O próximo da lista de presença é o ZANGADO. Dono de um temperamento bastante
difícil. Briga com todos na classe e ridiculariza os seus colegas. Quando questionado sobre
alguma questão em classe, busca transparecer bom conhecimento diante de todos, mas nem
sempre suas respostas podem ser confirmadas nas correções escritas de suas atividades. De
alguma forma, ZANGADO, busca chamar a atenção da turma para si e sentar-se ao fundo da
sala poderá ser um mecanismo de defesa por não conseguir acompanhar o ritmo dos demais
colegas de classe.
E, concluindo a lista de chamada, temos o aluno DUNGA, que simbolicamente estaria
sendo o aluno especial na classe, como no desenho, ele não fala e provavelmente era surdo,
porém, percebia bem as situações ao seu redor. Dunga estará no grupo e deseja ser incluído
em todas as rotinas das atividades escolares.
2. CONHECENDO A HISTÓRIA DE BRANCA DE NEVE
Seu pai lhe dera esse nome por ela ter nascido com a pela alva como a neve, cabelos
negros como o corvo e a boca vermelha como a rosa. Ainda recém-nascida, fica órfã de mãe e
tempo mais tarde, seu pai se casará novamente. Com a morte do seu querido pai, Branca de
Neve é criada pela rainha madrasta, que a trata como empregada do palácio.
Por inveja da beleza de sua enteada, a rainha madrasta ordena matá-la. O caçador, por
compaixão, poupa a vida da jovem donzela, pedindo-a para fugir para bem longe dos
domínios da rainha.
Branca de Neve sai sem rumo pela floresta e chega numa casinha procurando abrigo.
Como o local não havia ninguém e os objetos por ali estavam fora do lugar, sujos e cheios de
poeira, resolve arrumá-lo deixando tudo organizado e limpo. Por fim, ela cansada da limpeza,
resolve se deitar numa das camas e adormece.
A partir daí, os sete anões ao chegarem a casa perceberam uma mudança estranha em
sua casa e verificam quem dormia em suas camas. Eles descobrem que quem dormia era uma
jovem de beleza encantadora.
A convivência com a doce Branca de Neve conquistará a confiança, cumplicidade e o
cuidado deles por ela. Quando saíam para trabalhar, davam muitas instruções sobre o perigo
em receber estranhos em casa. Pouco a pouco, os gestos gentis acabarão seduzindo o mais
turrão dos anões, Zangado.
Segundo Wallon (1991) as emoções possuem um caráter contagioso. “A emoção
necessita suscitar reações similares ou recíprocas em outrem e, (...) possui sobre o outro um
grande poder de contagio”.
A amizade cresce a ponto que a morte de Branca de Neve, ainda que temporária, é
sentida com muita dor e tristeza, impedindo-os de enterrá-la, pois custavam a acreditar está
morto. A alegria, num estágio de euforia, aparece quando Branca de Neve acorda do sono da
morte pelo beijo do príncipe encantado.
3. ESCUTA SINGULAR, CLASSE HETEROGÊNEA NO COTIDIANO DA SALA DE
AULA
Os professores deverão levar em conta, no primeiro contato com os seus alunos,
conhecê-los como sujeitos de muitas histórias, que cada ser é singular em sua própria história.
São as ações vivenciadas com outras pessoas é que irão marcar e conferir aos objetos
um sentido afetivo, determinado, desta forma, a qualidade do objeto internalizado. Neste
sentido, pode-se supor que, no processo de internalização, estão envolvidos não só os aspectos
cognitivos, mas também os afetivos.
Para aprender, necessitam-se dois personagens (ensinante e aprendente) e um
vínculo que se estabelece entre ambos (...) Não aprendemos de qualquer um,
aprendemos daquela a quem outorgamos confiança e direito de ensinar ” (Fernandez,
1991, p. 47 e 52).
Assim, não basta fazer como fez Branca de Neve no primeiro contato, saber os nomes,
será necessário também, ir um pouco mais a fundo nas histórias de vida, dando-lhes a
importância devida e respeitando os seus tempos de aprender.
Os professores logo no início, quando começam em suas carreiras, enfrentam muitos
desafios, perdidos numa floresta sem direção certa, procurando lidar com os medos e
incertezas que a carreira oferece. Enfrentam muitas dúvidas como, por exemplo: Que tipo de
estudante vai encontrar? Qual (is) estratégia(s) poderá (ão) utilizar para ensinar diante de uma
classe tão diversificada e cheia de particularidades? Quais recursos estarão disponíveis para
auxiliar a minha prática docente?
Antes mesmo de adentrar pela porta da sala de aula, inquietam quanto à recepção dos
estudantes, no primeiro contato em classe. Na verdade, a formação docente estará de certa
forma fragilizada, quando se deparam com a prática das relações interpessoais (aluno-aluno,
professor-aluno) e recorrem aos esquemas da memória, para encontrar uma resposta, no
mínimo satisfatória, para aquele momento.
A relação que caracteriza o ensinar e o aprender transcendem a partir de vínculos entre
pessoas e inicia-se no âmbito familiar. A base desta relação vincular é afetiva, pois é através
de uma forma de comunicação emocional que o bebê mobiliza o adulto, garantindo assim os
cuidados que necessita. Portanto, é o vínculo afetivo estabelecido entre adulto e a criança que
sustenta a etapa inicial do processo de aprendizagem. Seu status é fundamental nos primeiros
meses de vida, determinando a sobrevivência (WALLON, 1968).
No decorrer do desenvolvimento, os vínculos vão ampliando e a figura do professor
surge com grande importância na relação de ensino-aprendizagem.
Não ter assimilado muitas informações durante o período de formação, se não
conseguem processá-las para gerar um novo conhecimento. Ser um professor vai além do que
está atualizado e por dentro das teorias correntes para o momento, mas saber refletir o
conhecimento produzido por ele, e estar sempre inserido num processo dinâmico, com
diálogo permanente com o presente, para sinalizar ações no futuro com os seus alunos.
O professor deverá aprender a ler e a perceber as leituras por detrás das falas que os
seus alunos trazem em classe. Sem esse passeio permanente, o conteúdo a ser explicitado não
terá significado para os alunos e assim sendo, não atingirá o seu objetivo maior que é
desenvolver o potencial de aprendizagem de cada um.
REFLEXÃO DO CONTO DE FADAS BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES PARA
A PRÁTICA DO COTIDIANO DE SALA DE AULA?
•
Branca de Neve estava convivendo com homens da mesma estatura, porém
sabia que cada um deles tinham nomes e personalidades diferentes. Os
professores e as professoras precisam saber mais do que os nomes dos alunos,
mas conhecer as suas histórias de vida para respeitar a diversidade cultural em
sala de aula.
•
Branca de Neve encontrou a casa dos anões desarrumada e, então, resolveu
limpá-la e arruma-la. Deixou tudo em ordem, de acordo com o que ela
considerava ser correto, sem considerar o que isto significava para eles. Ela
poderia esperá-los chegar para propor uma arrumação, pois assim, estaria
desenvolvendo, no mínimo estimulando, o espírito de cooperação e
solidariedade em família, além de já iniciar o enquadre tão importante para a
saudável inter relação.
Muitos professores cometem equívocos, e por não conterem a ansiedade pelo desconhecido,
terminam assumindo decisões, ainda que tenha o suposto saber, pelos alunos. Assim, perdem
a oportunidade de construir juntos com eles as regras de convivência. Pois, como os alunos
irão cumprir regras se não ajudaram a construir no coletivo da sala de aula?
•
Branca de Neve na hora do jantar colocou a mesa e quando os anões iam se
sentar, foram interpelados por ela para lavarem as mãos. Mesmo mais jovem do
que eles, Branca de Neve soube conduzir a situação embaraçosa sem
transparecer rispidez diante da falta de modo diante da refeição. Ela não perdeu
a brandura na voz, no gesto no olhar e condução firme deu as instruções claras
conseguindo convencê-los a se lavarem antes para comer depois.
Esta cena pode parecer simples, porém está cheia de significados. Os professores podem
se desequilibrar facilmente diante de cenas conflituosas no cotidiano de sala de aula, não
conseguindo utilizar as cenas de desconforto, para serem refletidas no grupo e ao mesmo
tempo, ressignificar o conteúdo desagradável como uma aprendizagem saudável.
Muitas dessas cenas, falas, comentários, que podem acontecer, principalmente com
adolescentes. Diversas situações são utilizadas para testar as habilidades e competência do
próprio professor. E este, muitas vezes, ao invés de redirecionar a situação reconduzindo o
grupo a refletir o episódio e ensiná-los, desespera-se ou agridem verbalmente o aluno e, no
último caso, expulsa-o da sala de aula. Ornellas (2005, p. 55) confirma esta ação dizendo que:
É preciso escutar o ambiente transferencial de sala de aula, lugar no qual acontece o
ato educativo. É nesse ambiente que ocorre a escuta da relação professor-aluno, vista
como um campo de condutas humanas que, no espaço escolar, se configura sob a
nomeação de disciplina ou (in) disciplina, constituindo uma das preocupações mais
emergentes do professor.
Os professores precisam aprender a negociar os conflitos interpessoais em sala de aula e
apresentar aos alunos, que as idéias ou opiniões, devem ser expostas para a apreciação e
debate, e não para serem impostas para que eles apenas concordem.
...CENAS DO PRÓXIMO CAPÍTULO: CONCLUSÃO.
Freud aponta a transferência como um fenômeno psíquico que se encontra presente em
todos os âmbitos das relações com nossos semelhantes. Ele reconheceu a possibilidade de que
a transferência acontecia na relação professor-aluno.
Na relação professor-aluno deve existir uma relação de confiança, e isto só é possível
através da afetividade. Com o afeto o aluno se redescobre, se percebe, se valoriza, e aprende a
se amar transferindo este afeto em suas vivências e na aprendizagem escolar.
A noção de transferência pode contribuir para entender esta relação que envolve
interesses e intenções, pois a educação é uma das fontes mais importantes do
desenvolvimento do ser humano e agrega valores aos membros das espécies humanas.
No conta de fadas Branca de Neve e os Sete anões, verificamos este fenômeno
acontecer através das transformações apresentadas pelos anões em seus comportamentos e
admiração por Branca de Neve. O paralelo entre os alunos e professor com a história fica
evidente e revela as diferenças encontradas em sala de aula, as dificuldades e estratégia que se
pode utilizar para que desenvolva a aprendizagem.
Becker, (1997,111-112), afirma que na transferência, constituir uma identificação
simbólica é uma forma de desenvolver ao adolescente sua posição discursiva. Verificar-se,
que o aluno precisa admitir estar numa relação transferencial com o professor que não estar ali
só para transferir informações, mais para considerar cada aluno singularmente.
O sujeito do qual ocupa a psicanálise é o sujeito do inconsciente enquanto manifestação
única e singular. Para o aluno ser tomado como sujeito é necessário que o educador também o
seja, que envolva sua prática com aquilo que lhe é peculiar, o estilo. Logo a relação professoraluno depende fundamentalmente do clima estabelecido pelo professor, da relação empática
com seus alunos, de sua capacidade de ouvir, refletir e discutir o nível de compreensão dos
alunos e da criação das pontes entre o seu conhecimento e o deles.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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1998. In LEITÃO, R. G. Não basta ouvir, é preciso escutar. Revista Saúde em debate. n.
47/junho 1995.
BECKER, F. Da ação à operação: o caminho da aprendizagem em J. Piaget e Paulo
Freire. Rio de Janeiro: DPIA. Ed. Palmarinea, 1997.
CHAMAT, Leila Sarah. Relações Vinculares
Psicopedagógico. Editora Vetor. São Paulo. 1997
e
Aprendizagem:
Um
enfoque
FERNANDEZ, A. A inteligência aprisionada. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.
KUPFER, M. C. Freud e a educação: o mestre do impossível. São Paulo. Scpione, 1989.
_______________.Educação para o futuro: Psicanálise e Educação. São Paulo: Escuta
162p. 2000
KLEIN, M. Contribuições à psicanálise. São Paulo, Mestre Jou, 1970.
ORNELLAS, M. L. S. Afetos manifestos na sala de aula. São Paulo: Ed. Annablume, 2006.
WALLON, H. A evolução psicológica da criança. Lisboa: Ed. 70. 1968.
WIKIPÉDIA- A enciclopédia livre. Disponível em: http://pt.wikipédia,org/wiki/transfer
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