PALIATIVOS

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PALIATIVOS
Temas polêmicos
PALIATIVOS
Ernesto Rosa
A automatização da produção levou ao
desemprego, levou a uma crescente concentração
de riquezas em poucas mãos. Essa sociedade
necessita do consumismo desregrado. È uma
sociedade do desperdício de matéria prima, de
energia e de trabalho humano.
Em seguida a culpa é colocada
nos nossos ombros e você vai
“salvar o planeta”.
Poderíamos ter transporte
de mercadorias por ferrovias
eletrificadas e hidrovias. Não! São
milhões de caminhões
consumindo combustível, pneus,
peças, oficinas, postos, rodovias,
pedágios etc. E você vai salvar o
planeta!
Poderíamos ter um planejamento territorial
com cidades de porte médio, bem distribuídas e as
pessoas morando perto do trabalho, além de
transporte público eletrificado e bom, de modo a
tornar desnecessário o automóvel. Não! São
milhões de carros caríssimos e de baixo
aproveitamento. Custo/benefício horroroso e não
há outra saída senão usando carro. Tremendo
desperdício. E você vai salvar o planeta, fazendo
transporte solidário, para diminuir a emissão de
poluentes!
Para comer um biscoito, você leva do
mercado uma sacola de plástico, uma caixa
envolta em celofane, cada biscoito embrulhado um
a um, tudo muito rico e caro e vai para o lixo,
transportado de carro. A indústria gera tremendo
desperdício de embalagens. A publicidade
induzindo ao consumo. E você vai salvar o planeta,
trabalhando o seu lixo e fazendo coleta seletiva.
A Amazônia está sendo desmatada em
ritmo frenético. A mesma coisa acontece com a
Mata Atlântica e outras reservas. E você vai salvar
o planeta cuidando de uma arvore na porta da sua
casa.
Salve o planeta comendo bagaços e
cascas. Fibras fazem bem e você diminui o
lixo. Faça compostagem.
Tudo isso são medidas importantes e
educativas, mas é apenas uma pequena
parte, que até abre espaço para uma ainda
maior concentração de riquezas.
Planejamento? Nem falar!
Salve o planeta tomando anti-flatulentes!
E o desemprego?
Você deve pegar papeis na esquina para dar
emprego ao entregador. Selecionar seu lixo para a
reciclagem. Assim, promove o reaproveitamento
da matéria prima e dá emprego para catadores.
Você deve dar esmola, isso possibilita mais
automatização da produção e mais desemprego.
Existe o sistema público de saúde, mas você deve
desprezá-lo e pagar plano particular. Isso gera
emprego. Não à escola pública, para pagar por
particulares. Mais empregos. Não à segurança
pública, mas guaritas particulares, tomadores de
conta de carros, blindagem, guarda costas. Mais
empregos.
Você, você, você! Salve o planeta.
Flanelinhas, ambulantes, vendedores nos faróis,
malabaristas nos faróis,
indústria de animais
domésticos (vendas, serviços,
trato), indústria da aparência
(cosméticos, plásticas,
tatuagens, adereços), indústria
do sexo (prostituição, pedofilia,
publicações, objetos, remédios,
plásticas), comércio do
misticismo, (loteamento dos
céus, amuletos, curas, passes,
magia, futurologia), indústria
do tóxico (cuja fachada é a Bolívia), indústria da
jogatina (privada e oficial), indústria do esporte.
Se você não colaborar com tudo isso, se todo esse
pessoal ficar sem seus “trabalhos”, o desemprego
será muito mais ameaçador.
Planejamento? Nem falar!
Contrate um desempregado para furar um
buraco até o meio dia e tapá-lo do meio dia para a
tarde. Você estará dando emprego. Existe uma
diferença entre emprego produtivo, como o de
tecelão; e emprego de ocupação como o guarda
noturno. Exercício. Coloque P, de produtivo, e O,
de ocupação, nos seguintes trabalhadores: ( )
engenheiro, ( ) traficante, ( ) lavrador, ( )
tecelão, ( ) padre, ( ) flanelinha, ( ) prostituta, (
) médico, ( ) tratador de cães.
Um sistema burro, de muito desperdício!
Mas não é tudo ruim, assim. Temos urnas
eletrônicas com programadores honestos!
Enquanto isso, a tevê continua estimulando
o consumo, o supérfluo, a superficialidade, a
burrice; valorizando a aparência, os dotes naturais
e não intelectuais, a sexualidade, a droga, o
misticismo, o baixo nível. A tevê
continua fazendo um trabalho covarde
sobre as nossas crianças! Continua
fazendo um trabalho covarde sobre as
pessoas de baixa formação de
personalidade. A tevê exibe
revolucionários para tudo, ou quase
tudo: revolucionários do sexo, da
droga, da moda, da ousadia servil, do misticismo.
A quem servem?
Você já pensou se tivéssemos uma
democracia, para nós mesmos planejarmos de
outro modo? Se todo avanço tecnológico
beneficiasse a todos, se todo aumento da
automatização fosse acompanhado de aumento de
salário e de lazer? Hem?
Salve o planeta, mudando o nosso adorável
modo de vida.
Textos digitados, no blog:
www.internestorosa.blogspot.com