DESEMPENHO ZOOTÉCNICO DE Pseudoplatystoma spp

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DESEMPENHO ZOOTÉCNICO DE Pseudoplatystoma spp
DESEMPENHO ZOOTÉCNICO DE Pseudoplatystoma spp., CRIADOS EM VIVEIROS
ESCAVADOS ALIMENTADOS COM RAÇÕES COMERCIAIS
José Luiz Pilecco*, Marcela Amábile dos Santos Redondo, Aline Mayra Oliveira,
André Luiz Nunes, Adriana Fernandes de Barros, Thiago T. Ushizima, Nanci Cappi,
Carlos Antonio Lopes de Oliveira e Cristiane Meldau de Campos
*Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Aquidauana, MS. E-mail: [email protected]
Resumo
Este trabalho avaliou o desempenho zootécnico de surubins Pseudoplatystoma spp.
produzidos em viveiros. As biometrias foram realizadas mensalmente em amostra de 20% do
total de peixes de cada viveiro. Para cada 1.000 m2 de lâmina de água foram estocados 300
surubins com peso inicial médio de 380 g. Foram utilizadas três rações comerciais extrusadas,
tendo três repetições cada tratamento. Foram monitorados a temperatura e o pH da água três
vezes na semana e o oxigênio dissolvido semanalmente. No estudo de desempenho de
produção dos surubins foram avaliados peso total, ganho de peso, comprimento total, ganho
de biomassa e conversão alimentar aparente. Foram estabelecidas as equações das curvas de
regressões para peso médio, ganho de peso e ganho de biomassa. Para conversão alimentar
aparente não foi verificado comportamento significativo desta em função do período de
criação para as três rações.
Introdução
O gênero Pseudoplatystoma inclui os maiores peixes da família Pimelodidae, habita
exclusivamente água doce e pode ser encontrado nas principais bacias hidrográficas Sulamericanas, como Amazônica, do Prata, Paraguai e do São Francisco. Compreendem esse
gênero peixes conhecidos popularmente como pintado (Pseudoplatystoma corruscans),
cachara (P. fasciatum), camapari ou pirambucu (P. tigrinum). Esses bagres possuem
características zootécnicas e de mercado atrativas, despertando grande interesse na utilização
destes peixes para piscicultura nos últimos anos (Cury, 1992), além de estarem entre as
espécies que apresentam maior potencial de mercado para a aqüicultura brasileira, sendo
denominados genericamente de “surubim” (Toledo, 1991).
Entre as principais espécies nativas criadas na região Centro-Oeste encontram-se os
surubins, sendo Mato Grosso do Sul o principal Estado produtor do País, devido ao seu
crescimento na produção nos últimos anos. Porém, para tornar-se destaque no agronegócio
ainda se faz necessário a difusão de técnicas produtivas já existentes, além de pesquisas sobre
alimentos que atendam as exigências nutricionais dos animais, para que possibilite produção
de rações cada vez mais adequadas à espécie.
Os estudos nutricionais têm demonstrado que a dieta influencia o comportamento, a
integridade estrutural, a saúde, as funções fisiológicas, a reprodução e o crescimento dos
peixes (Pezzato et al., 2004). Apesar do domínio da tecnologia atual para obtenção de juvenis
do gênero Pseudoplatystoma, o maior desafio está sendo a sua alimentação em cativeiro,
devido a alto custo, pelo seu hábito alimentar piscívoro, e principalmente, à falta de
conhecimento de suas exigências nutricionais e digestibilidade dos alimentos utilizados na sua
dieta, que levariam a maximização do aproveitamento dos nutrientes (Gonçalves & Carneiro,
2003).
Aliados a esses fatores, este trabalho teve como objetivo avaliar o desempenho
zootécnico de surubins Pseudoplatystoma spp., criados em viveiros e alimentados com três
rações comerciais, em Aquidauana, MS.
Material e Métodos
O experimento, com duração de 235 dias, foi conduzido no setor de piscicultura da
UEMS/Unidade Universitária de Aquidauana, localizada na Microbacia do Córrego Fundo,
Serra de Maracajú, Município de Aquidauana, MS (Latitude 20º28' S; Longitude 55º48' W e
Altitude de 149 m). O clima é quente no verão, com temperatura média em torno de 32°C e
frio e seco no inverno, com média em torno de 21°C. A precipitação pluviométrica anual está
entre 1.000 e 1.400 mm, sendo dezembro e janeiro os meses mais chuvosos.
Foram utilizados nove viveiros de diferentes tamanhos, divididos em três tratamentos
e três repetições (Tabela 1), com entrada individual de abastecimento e drenagem da água e
com profundidade média de 1,5 m. Toda a água de abastecimento do viveiro é proveniente de
mina, chegando até a piscicultura por gravidade e, com vazão de 10 L/segundo, suficiente
para repor as perdas por infiltração e evaporação.
A área experimental dos viveiros foi protegida com cerca elétrica para evitar
problemas com a entrada de animais, principalmente, bovinos, eqüinos e animais silvestres. E,
para mitigar a predação pelas aves de hábito alimentar piscívoro foi adotado um sistema de
rede anti-pássaro, instalada individualmente nos viveiros.
O experimento teve início em abril de 2006, quando foram estocados 300 juvenis de
surubins com peso inicial médio de 380 g, para cada 1.000 m2 de área de lâmina de água. Um
total de 1.635 juvenis, treinados para receber ração seca-extrusada, foi utilizado, sendo 640
peixes distribuídos no tratamento 1, 490 peixes no tratamento 2 e 505 peixes no tratamento 3,
em função dos diferentes tamanhos dos viveiros. A despesca total ocorreu no início de
dezembro e 2006.
Foram utilizadas três rações comerciais extrusadas, disponíveis no mercado para
peixes carnívoros, provenientes de três fabricantes distintos, com teores de 45, 46 e 40 de PB
(%) e 15, 15 e 13,5 para EE, respectivamente, para os tratamentos 1, 2 e 3. A quantidade de
ração foi calculada com base em 3% da biomassa, sendo ajustada mensalmente, após
biometrias realizadas em 20% dos peixes de cada viveiro. A alimentação foi oferecida duas
vezes ao dia, a lanço, nos períodos sem ou com pouca luminosidade, às 5 h e às 18 h. A
quantidade calculada para cada viveiro foi oferecida até cessar a procura pelo alimento. Toda
sobra de ração diária foi quantificada, ou seja, foi pesada, separadamente por viveiro, e
subtraída da quantidade inicialmente calculada. O tamanho dos peletes das rações era entre 6
a 8 mm para juvenis pesando entre 350 a 600 g, e quando os juvenis alcançaram peso vivo
médio acima de 600 g passaram a ser alimentados com peletes de aproximadamente 15 mm
de diâmetro.
Entre os parâmetros limnológicos dos viveiros, foram mensurados temperatura e pH
três vezes por semana, e oxigênio dissolvido semanalmente, todos às 7h30 e 16h30. No
estudo de desempenho de produção dos surubins, foi realizada análise de variância e aplicado
o teste de Tukey a 5 % de significância para comparar as médias dos tratamentos. Análise de
regressão foi realizada para avaliar o comportamento das variáveis peso total, ganho de peso,
comprimento total, ganho de biomassa e conversão alimentar aparente em função do período
de criação para cada tratamento.
Tabela 1. Número e tamanho de viveiros, quantidade de juvenis e tratamentos adotados.
Viveiros
01
02
03
04
05
06
07
08
09
Total
Tamanho(m2)
338
338
338
1.000
1.000
1.000
800
294
345
5.453
Peixe(un)
100
100
100
300
300
300
240
90
105
1.635
Tratamento(%PB)
T1(45 %)
T2(46 %)
T3(40 %)
T1(45 %)
T2(46 %)
T3(40 %)
T1(45 %)
T2(46 %)
T3(40 %)
Resultados e Discussão
Os parâmetros limnológicos aferidos neste trabalho, apresentaram resultados
adequados para a criação de peixes. A temperatura média da água dos viveiros foi de 25,3ºC,
tendo a mínima o valor de 19,5ºC e a máxima alcançada 33ºC. De acordo com Kubitza (1998)
as espécies de peixes tropicais normalmente apresentam ótimo crescimento a temperaturas de
28 a 32ºC. O pH estava na faixa de 5,2-8,1 próxima a faixa ideal entre 6,5- 9,5. Os resultados
observados para o oxigênio dissolvido (OD) variaram entre 10,4 mg/L e 2 mg/L com uma
média de 6,7 mg/L.
Não houve diferença significativa (p<0,05) para conversão alimentar entre os
tratamentos. Os valores médios foram altos, nesse período de crescimento dos surubins, sendo
2,62, 3,66 e 3,24, respectivamente, para os tratamentos 1, 2 e 3. Valores altos para o índice
conversão alimentar também foram encontrados em experimento realizado com surubins
Pseudoplatystoma sp. em tanques-rede nos diferentes tratamentos com rações comerciais
(Burket et al., 2002) e com o pintado P. coruscans em sistemas de tanque-rede e viveiros
escavados (Scorvo-Filho et al., 2004).
As equações das curvas de regressões (Figura 1) para a variável peso médio em função
do período de criação foram y = 0,275+0,1303x, y = 0,365+0,09243x e y = 0,3565+0,101x,
para os tratamentos 1, 2 e 3, respectivamente. As equações das curvas de regressões (Figura
2) para a variável ganho de peso diário, em função do período de criação, foram y = 7,6668 4,542x + 0,7543x2 para o tratamento 1; y = 6,226 - 3,338x + 0,5355x2 para tratamento 2 e
y = 6,914 - 3,673x + 0,5802x2 para o tratamento 3. Para a variável ganho de biomassa as
equações das curvas foram y = 59,3835 – 34,287x + 5,6122x2, y = - 165 + 8,4052x e y = 10,904 + 9,3807x, para os tratamentos 1, 2 e 3, respectivamente (Figura 3). Não foi
verificado comportamento significativo para conversão alimentar aparente em função do
período de criação, para as três rações.
Não foram observadas diferenças significativas (p<0,05) para as variáveis analisadas,
peso médio (Figura 1), ganho de peso diário (Figura 2) e ganho de biomassa (Figura 3), entre
os três tratamentos. Entretanto, observou-se que as médias do tratamento 1 foram superiores
às dos tratamentos 2 e 3, apresentando uma possível resposta compensatória.
Durante o outono e inverno, o ganho de peso diário, foi menor para os três
tratamentos, a possível causa seria a variação de temperatura, com a ocorrência de índices
reduzidos nos períodos mais frios do ano. Nessa época, com a queda da temperatura, o
metabolismo, a ingestão de alimento, a digestão e a resposta imune dos peixes diminuem
(Sealey et al., 1998). Houve um aumento do consumo de ração, aliado ao crescimento mais
acelerado dos peixes a partir de agosto para todos os tratamentos, coincidindo com a elevação
na temperatura da água como pode ser visto na Figura 2.
1,4
Peso médio (em g)
1,2
1
Tratamento 1
0,8
Tratamento 2
0,6
Tratamento 3
0,4
0,2
ju
lh
o
ag
os
to
se
te
m
br
o
ou
tu
br
no
o
ve
m
br
de
o
ze
m
br
o
nh
o
ju
m
ai
o
0
Período de criação (em meses)
Figura 1. Curvas de regressão para a variável peso total médio (em gramas) em função do período de
criação do Pseudoplatystoma spp., para as três rações comerciais.
Ganho de peso diário (em g)
25
20
Tratamento 1
15
Tratamento 2
10
Tratamento 3
5
o
ju
lh
o
ag
os
to
se
te
m
br
o
ou
tu
no bro
ve
m
de bro
ze
m
br
o
ju
ai
m
nh
o
0
Período de criação (em meses)
Figura 2. Curvas de regressão para a variável ganho de peso médio diário (em gramas) em função do
período de criação do Pseudoplatystoma spp., para as três rações comerciais.
Ganho de biomassa (em kg)
160
140
120
100
Tratamento 1
80
Tratamento 2
Tratamento 3
60
40
20
lh
o
ag
os
to
se
te
m
br
o
ou
tu
no bro
ve
m
de bro
ze
m
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o
o
ai
ju
ju
m
nh
o
0
Período de criação (em meses)
Figura 3. Curvas de regressão para a variável ganho de biomassa (em quilograma) em função do
período de criação do Pseudoplatystoma spp., para as três rações comerciais.
Conclusões
Não foram observadas diferenças significativas para peso total, comprimento total,
ganho de peso, ganho de biomassa e conversão alimentar aparente entre os três tratamentos no
período de estudo. Entretanto, observou-se que as médias do tratamento 1 (ração com 45% de
PB) foram superiores às dos tratamentos 2 e 3, apresentando uma possível resposta
compensatória. Os autores sugerem maiores investigações acerca das exigências nutricionais
para as espécies de surubins.
Agradecimentos
Os autores agradecem à empresa Mar & Terra Indústria e Comércio de Pescado Ltda.,
Itaporã, MS pela parceria estabelecida e apoio incondicional ao trabalho, aos representantes
dos fabricantes de ração e aos funcionários e acadêmicos da UEMS/Unidade Universitária de
Aquidauana pelo apoio no decorrer dos trabalhos de campo.
Referências
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