ORIENTADORA: PROFa. DRa. HELOISA PACHECO FERREIRA

Transcrição

ORIENTADORA: PROFa. DRa. HELOISA PACHECO FERREIRA
“A MEMÓRIA DAS COISAS E DAS PALAVRAS – UM ESTUDO DAS
REPERCUSSÕES NEUROCOMPORTAMENTAIS DOS AGENTES DE
SAÚDE PÚBLICA EXPOSTOS A AGROTÓXICOS”
SIGRID HAIKEL
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
NÚCLEO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA
MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: PRODUÇÃO, AMBIENTE E SAÚDE
ORIENTADORA:
PROFa. DRa. HELOISA PACHECO FERREIRA
Professora Adjunta da Faculdade de Medicina da UFRJ
Professora Adjunta do NESC/UFRJ
RIO DE JANEIRO
2005
ii
“A MEMÓRIA DAS COISAS E DAS PALAVRAS – UM ESTUDO DAS
REPERCUSSÕES NEUROCOMPORTAMENTAIS DOS AGENTES DE
SAÚDE PÚBLICA EXPOSTOS A AGROTÓXICOS”
SIGRID HAIKEL
Dissertação submetida ao corpo docente do
Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva da
Universidade Federal do Rio de Janeiro –
UFRJ, como parte dos requisitos necessários à
obtenção do grau de Mestre.
Aprovada por:
Prof. Dr. Volney de Magalhães Câmara
Professor Titular da Faculdade de Medicina da UFRJ
Profa. Dra. Regina Duarte Benevides de Barros
Professora Adjunta da Universidade Federal Fluminense
Profa. Dra. Elizabeth Christina Cotta Mello
Professora Assistente da Universidade Veiga de Almeida
RIO DE JANEIRO
2005
iii
614.598 Haikel, Sigrid
H149
A memória das coisas e das palavras: um estudo das repercussões
neurocomportamentais dos agentes de saúde pública expostos a
agrotóxicos/ Sigrid Haikel. - Rio de Janeiro: UFRJ, 2005.
xii, 97f.
Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) - Universidade Federal do
Rio de Janeiro – UFRJ, Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva, NESC.
Orientadora: Heloisa Pacheco Ferreira
Inclui referências bibliográficas
1. Neurocomportamental 2. Agrotóxicos 3. Agentes de Saúde Pública
– Saúde 4. Grupo Focal 5. Saúde Pública I. Ferreira, Heloisa Pacheco
(Orientadora) II. Universidade Federal do Rio de Janeiro – Núcleo de
Estudos de Saúde Coletiva (NESC) III. Título – Núcleo de Estudos de
Saúde Coletiva. II. Título.
iv
AGRADECIMENTOS
Ao meu pai (in memorian), pela falta que faz as suas histórias
À minha mãe, pelo tempo das esperas
As ladainhas da minha avó e mãe Teresa, que velaram essas horas raras
À Profª Heloísa Pacheco-Ferreira, orientadora e amiga, pela acolhida em
todos os momentos e, em especial, por tecer comigo outros saberes
À equipe do Ambulatório de Saúde Ambiental e Ocupacional (Toxicologia
Clínica) da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Hospital Universitário
Clementino Fraga Filho, pelo convívio amigo e trocas de experiências
Aos professores do Curso de Mestrado do Núcleo de Estudos e Saúde
Coletiva pela dedicação e leitura de textos fundamentais para construção
desse estudo
Aos funcionários do Núcleo de Estudos e Saúde Coletiva pela gentileza e
incentivo
À Jorge, que se encobriu de não saber facilitando as dobras das coisas
Aos amigos e a todos aqueles que afloraram em mim a troca
A um anjo, pelo amor que salva
v
Dedico este trabalho aos trabalhadores
por me confiarem a memória das
coisas e das palavras
vi
“Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas
vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um
crocodilo vivendo no rio São Francisco. O crocodilo vem ao mundo como um
´magister` da metafísica, pois para ele cada rio é um oceano, um mar de
sabedoria, mesmo que chegue a ter cem anos de idade. Gostaria de ser um
crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de
um homem. Na superfície são muitos vivazes e claros, mas nas profundezas
são tranqüilos e escuros como o sofrimento dos homens. Amo ainda uma
coisa dos nossos grandes rios: sua eternidade. A estas alturas, você já deve
estar me considerando um louco ou um charlatão.”
Guimarães Rosa
vii
RESUMO
Este estudo aborda as implicações do uso de agrotóxicos em
uma população de trabalhadores – Agentes de Saúde Pública
envolvidos nas ações de controle de vetores no município do Rio de
Janeiro e os impactos para à saúde, enfatizando as repercussões
neurocomportamentais. Para responder aos objetivos do presente
estudo foi realizado a combinação de enfoques qualitativos e
quantitativos. Para a coleta de dados foram utilizados os seguintes
instrumentos: através da técnica do grupo focal buscou-se apreender
as opiniões, sentimentos e saberes dos Agentes de Saúde sobre as
repercussões na saúde do uso dos agrotóxicos na atividade de
trabalho; aplicação
de
um
questionário
semi-estruturado
para
identificar aspectos da história ocupacional, depressão, memória,
atenção, concentração, uso de álcool, drogas e medicamentos
contínuos, dentre outros aspectos. Entre os principais agravos à saúde
destacam-se: mudanças neurocomportamentais como ansiedade,
depressão, memória, comportamento, concentração, emoções e
sintomas
de
ordens
psíquicas.
Estes
aspectos
revelaram
a
vulnerabilidade desse grupo frente aos riscos decorrentes do processo
de trabalho. Observou-se que os problemas referidos são compatíveis
com os efeitos nocivos decorrentes dessas exposições.
Palavras-Chave: Agrotóxicos; Neurocomportamental; Grupo Focal; Trabalho;
Saúde
viii
ABSTRACT
This study is about a group of “Public Health Agents” in Rio
de Janeiro’s municipality, the implications in the use pesticides and the
impacts on their health, particularly neurobehavioral repercussions. A
combination of qualitative and quantitative evaluations was used to
respond to the objectives of this study. Several instruments were use to
collect data. Using the focus groups technique, to ascertain their
knowledge and feelings about the repercussions of the use of
pesticides on the health of those engaged in its activities; a semistructured questionnaire developed to identify aspects of the
occupational history, depression, memory, attention, concentration,
alcohol, drugs and medical prescriptions use. The main health hazards
identified
include
neurobehavioral
changes
such
as
anxiety,
depression, memory loss, behavior, concentration, emotions and
psychic symptoms. These findings demonstrated the vulnerability of
that group to health risks decurrently of the work process. Therefore, it
was observed, that the problems mentioned were compatible with the
harmful effects of such exposure.
Keys Words: Pesticides; Neurobehavioral; Focus Group; Work; Health
ix
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ASP
– Agentes de Saúde Pública
ATSDR
– Agency for Toxic Substances and Disease Registry
ECRO
– Esquema Conceitual Referencial e Operativo
EPI
– Equipamento de Proteção Individual
FUNASA – Fundação Nacional de Saúde
HUCFF
– Hospital Universitário Clementino Fraga Filho
PEAa
– Programa de Erradicação do Aedes aegypti
MS
– Ministério da Saúde
MT
– Ministério do Trabalho
NCTB
– Neurobehavioral Core Test Battery
NESC
– Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva
OF
– Organofosforado
OMS
– Organização Mundial de Saúde
OPAS
– Organização Pan-Americana da Saúde
OPIDN
– Organophosphate Induced Delayed Neuropathy
PAHO
– Pan American Health Organization
PND
– Plano Nacional de Desenvolvimento
PVSPEA – Programa de Vigilância da Saúde de Populações Expostas a
Agrotóxicos
PEAa
– Programa de Erradicação do Aedes aegypti
SN
– Sistema Nervoso
SNC
– Sistema Nervoso Central
SNP
– Sistema Nervoso Periférico
TRAB
– Trabalhador
UFRJ
– Universidade Federal do Rio de Janeiro
WHO
– World Health Organization
x
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Distribuição de variáveis selecionadas de identificação e
caracterização dos Agentes de Saúde Pública expostos a agrotóxicos.
HUCFF/UFRJ/RJ, 2005 .......................................................................... 41
Tabela 2. Distribuição de variáveis selecionadas de exposição a
agrotóxicos segundo os Agentes de Saúde Pública. HUCFF/UFRJ/RJ,
2005 ........................................................................................................ 43
xi
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1. Distribuição dos Agentes de Saúde conforme sintomas mais
freqüentemente relatados e o tempo de exposição. HUCFF/UFRJ/RJ,
2005 ....................................................................................................... 44
xii
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO - Uma trajetória de luta: um breve histórico
1
CAPÍTULO II - Os agrotóxicos e as repercussões neurocomportamentais
9
CAPÍTULO III - A investigação nas síndromes neurotóxicas e alternativas
terapêuticas
24
3.1. Avaliação neurocomportamental nas síndromes neurotóxicas.
24
3.2. Alternativas terapêuticas
26
3.3. Grupo: algumas considerações teóricas
28
CAPÍTULO IV - Materiais e Métodos
33
Intrumentos e procedimentos
37
Aspectos éticos
38
CAPÍTULO V - Análise e discussões dos resultados
39
5.1 - Caracterização dos agentes de Saúde Pública / HUCFF/UFRJ-RJ
40
5.2 - O perfil da morbidade referida e o tempo de exposição
45
5.3 - O grupo focal: desvelando as repercussões
48
DISCUSSÃO
58
CONSIDERAÇÕES FINAIS
64
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
67
ANEXOS
79
INTRODUÇÃO
UMA TRAJETÓRIA DE LUTA: UM BREVE HISTÓRICO
Uma das questões que tem sido foco de atenção no campo da saúde, diz
respeito aos riscos e efeitos adversos que o uso dos agrotóxicos podem provocar à
saúde humana e ao ambiente. A utilização indiscriminada das substâncias químicas,
evoluiu significativamente e, conseqüentemente, os problemas ambientais e de
saúde. Os desdobramentos sobre a saúde humana e ambiental das populações
expostas, oferecem um panorama complexo quanto aos possíveis impactos e a
multiplicidade dos danos que está sujeito o trabalhador, a população em geral, os
rios, a terra, o ar, a cadeia alimentar, as águas, etc.
Tambellini & Câmara (1998) mostram que, a questão da saúde articula-se
no enfoque das relações de produção, ambiente e saúde, com repercussões reais e
profundas na qualidade de vida dos indivíduos e da coletividade, pelo aumento
excessivo de produtividade e de práticas dominadoras e depredadoras. Os efeitos dos
diferentes agentes provocados pelos padrões de produção e consumo atuais, podem
criar situações de riscos ambientais e à saúde, que cada vez mais, geram diferentes
formas de exclusão social.
Associado a isto, outro aspecto se apresenta: o emprego de substâncias
químicas cada vez mais perigosas, que repercutem de forma não seletiva sobre a
saúde das populações expostas, provocando efeitos que devem ser levados em
consideração quando investigamos os processos saúde-doença ligados à exposição a
agentes químicos. Tais processos “envolvem interações não-lineares de aspectos
biológicos, psicológicos e sociais que são altamente acoplados, possibilitando
múltiplas e inesperadas interpretações, as quais se tornam, muitas vezes,
incompreensíveis e invisíveis aos seres humanos em curto prazo” (Augusto &
Freitas, 1998, p. 87).
As intoxicações agudas têm sido alvo de atenção por parte das ações de
vigilância em saúde. Os danos apresentam uma caracterização clínica mais evidente,
com conseqüências muitas vezes imediatas podendo levar à morte, e enquadram-se
com “considerável grau de sucesso dentro da abordagem linear de dose-efeito”
2
(Augusto & Freitas,1998, p. 88). No entanto, as manifestações crônicas, apresentam
uma multiplicidade de fatores, que são intermediados pelo tempo de exposição, a
susceptibilidade individual, o grau de toxidade do produto e as agressões a órgãosalvo específicos, como o Sistema Nervoso Central e o Sistema Nervoso Periférico.
Todos estes aspectos apontam para a extensão dos impactos decorrentes da
exposição crônica por agrotóxicos e o desconhecimento dos riscos neurológicos,
imunológicos, endócrinos e neurocomportamentais nas ações de prevenção e
vigilância em saúde (Girardi, 2002; Furtado, 1998; Rahde et al., 1994).
É neste quadro complexo que o presente estudo insere-se, objetivando
investigar as repercussões neurocomportamentais relacionadas com o uso de
agrotóxicos e suas implicações para a saúde, em uma população de Agentes de Saúde
que trabalhavam nos programas de controle de endemias vetoriais no município do
Rio de Janeiro. Espera-se contribuir para uma abordagem de vigilância em saúde,
enfatizando a complexidade dos fenômenos neurocomportamentais na exposição
freqüente e prolongada aos agrotóxicos. Nesta perspectiva, é importante incorporar
ao tema, medidas sistêmicas de prevenção e controle, que expressem os processos
biológicos, psicológicos, ecológicos, culturais e econômicos das populações expostas
aos agrotóxicos, resultando maior eficácia nas ações de vigilância em saúde.
No âmbito deste contexto, surgem as questões que atravessam o trabalho
desta pesquisa: quais as combinações de cargas ambientais e sociais que foram
impostas a esta população em suas atividades de trabalho? Quais as situações de
riscos de exposição aos agrotóxicos que possivelmente provocaram danos à saúde
destes trabalhadores? Afinal, em que medida o uso de produtos químicos nos
programas de controle de endemias vetoriais, ocasionou intoxicações crônicas nestes
trabalhadores?
O controle de endemias no Brasil, associado ao uso de agrotóxicos nas
campanhas de saúde pública, inicia-se a partir da década de 50, quando estes
produtos químicos passam a ser utilizados intensamente, sem que ocorra uma
avaliação sistêmica dos novos riscos a que estão expostos os trabalhadores, a
população em geral e o ambiente (Câmara Neto, 2000; Garcia,1996; Costa,1994).
3
De acordo com Rahde et al., (1994), a utilização de agentes químicos para a
erradicação de vetores transmissores de enfermidades, deve envolver intervenções no
campo da saúde, que abrangem uma abordagem complexa e interdisciplinar.
No entanto, o que se observam são políticas controversas quanto à saúde dos
trabalhadores expostos e danos adversos à saúde e ao ambiente (Gurgel,1998). A este
quadro, acrescenta-se a inovação em larga escala tecnológica das substâncias
químicas, sendo portanto, de maior visibilidade no mercado do que a capacidade de
avaliar adequadamente o potencial danoso dos agrotóxicos sobre os seres humanos e
o meio ambiente.
A atividade do trabalho associada ao uso dos agrotóxicos, como acontece
com os Agentes de Saúde, pode potencializar problemas ambientais e de saúde com
impactos muitas vezes irreversíveis e, trazer desdobramentos como a redução da
diversidade da vida e novas formas de adoecer. Torna-se fundamental, como assinala
Pacheco-Ferreira (2003), a compreensão do caráter histórico e social da doença
considerando as particularidades das populações a serem estudadas. Esta questão
aponta para a necessidade de instrumentos metodológicos que recuperem “a noção de
território e de territorialidade como importante dimensão na reinvenção,
cotidianamente, da cultura e dos saberes das populações a serem estudadas”
(Pacheco-Ferreira, 2003, p. 316).
Evidencia-se, assim, que o reconhecimento das intoxicações agudas,
converteu-se em um dos pontos de referência para a saúde dos trabalhadores e da
população exposta a este risco, sem que fosse levada em conta, a necessidade de
avaliar os danos potenciais das intoxicações crônicas, oriundas das exposições
prolongadas aos agrotóxicos.
Ao longo de dez anos essa população foi exposta a produtos químicos
altamente tóxicos e sem proteção como os organofosforados, carbamatos e
piretróides. Estes trabalhadores faziam parte do quadro temporário de funcionários
da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), sendo que seus contratos começaram a
ser assinados pela FUNASA em 1986, quando houve uma grande epidemia de
dengue no país e o Estado do Rio de Janeiro foi um dos mais atingidos. Segundo
Câmara Neto (2000), durante a década de oitenta ocorre um conjunto de ações sócio-
4
ambientais nos Programas de Saúde Pública do país voltado para a erradicação do
Aedes aegypti – Programas de Erradicação do Aedes aegypti – PEAa que vão
priorizar o uso dos agrotóxicos. Observa-se neste período que os investimentos nos
PEAa é centrado em recursos para compra de produtos químicos no combate ao
Aedes. Os trabalhadores ao serem contratados, não receberam qualquer orientação e
treinamento sobre como manipular essas substâncias e os riscos à saúde pela
exposição, assim como, equipamento de proteção adequado. A priorização dos
produtos químicos no programa, deixava de fora o risco da exposição e os impactos à
saúde humana e ao ambiente (Augusto et al., 2000).
Ações como estas favorecem um ambiente nocivo à saúde, ao introduzir
fatores
de
riscos
neurocomportamentais
cada
vez
crônicas
mais
ou
complexos,
agudas
como
devido
as
à
repercussões
utilização
de
agrotóxicos/organofosforados. Em um informativo editado pela própria Fundação
Nacional de Saúde no Rio de Janeiro (FUNASA), o Rio Informa, na edição nº 1 de
1998, a respeito dos organofosforados, diz que são mais tóxicos para os vertebrados
que os organoclorados, podendo intoxicar facilmente um indivíduo com uma dose
relativamente pequena, ao bloquearem a transmissão nervosa impedindo, com isto, as
sinapses dos neurônios, ou seja, as conexões entre as células. Portanto, são
compostos anticolinesterásicos, com variado grau de toxicidade para o ser humano,
daí serem conhecidos como gases dos nervos (Moraes,1999).
Os compostos químicos são utilizados em saúde pública no controle de
vetores, como o da malária (Namba e col, 1971, Carlton, Haddad e Simpson, 1998) e
vetores de outras doenças, como a dengue. No caso específico dessa população, o
controle de vetores era centrado no “controle químico do mosquito” com aplicação
de um organofosforado-temephos (abate®) em reservatórios domiciliares de água
potável ou piretróides (Cipermetrina, Deltametrim e o Fenitotrion) como “tratamento
focal” para a erradicação do vetor adulto. Os piretróides são considerados
substâncias de potencial alergênicos elevado. É importante sinalizar que, o
organofosforado em questão, apresenta classe toxicológica II, ou seja, é um
agrotóxico altamente tóxico conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS,
1999).
5
Este
tipo
de
“controle
químico”
caracterizava-se
pela
aplicação
indiscriminada dos produtos não respeitando a heterogeneidade e a suscetibilidade
individual da população, como crianças, gestantes, idosos e a população alérgica.
Assim como, os trabalhadores que manipulam estas substâncias nos seus ambientes
de trabalho (Augusto et al., 2000).
Neste contexto, as contratações foram prorrogadas até junho de 1999. Os
trabalhadores foram demitidos tendo em vista as descentralizações das ações de
saúde para os Municípios do Estado do Rio de Janeiro, com a estruturação do sistema
municipal de combate a controle de endemias vetoriais. Em documentos
apresentados na Audiência Pública da Comissão de Assuntos Sociais/Subcomissão
Temporária de Saúde (Senado Federal), realizada em 15 de junho de 2004, foi
denunciado que os trabalhadores com contratos temporários foram demitidos sem
exame demissional exigido pela legislação, e que em sua grande maioria sofre de
alterações no Sistema Nervoso Central, tais como: perda de memória, da capacidade
de concentração, stress, fadiga cognitiva generalizada, alterações do humor,
depressão, etc (Senado Federal, 2004).
Como se pode observar, após este período de exposição, os impactos
negativos dos agrotóxicos na saúde da população em estudo, trouxeram como
conseqüências, mudanças com relação à qualidade de vida. Os temores e a
insegurança quanto aos riscos e a noção de perigo oculta através da noção de
“tratamento” associado à proteção da saúde e do ambiente, vão se descortinando nos
casos de intoxicação crônica por organofosforados.
Conforme matéria do jornal o Globo (Alves, 1998), publicada em 3 de maio
de 1998, informando que 122 servidores da FUNASA haviam sido afastados do
trabalho porque estavam contaminados por produtos químicos, fez com que os
trabalhadores se mobilizassem sobre os riscos destes produtos, de suas propriedades
tóxicas e de sua nocividade para a saúde humana. A “visibilidade” dos agravos à
saúde é denunciada conforme manifesto dos agentes de saúde lido no Senado
Federal, em dezenove de novembro de 2003, em que os trabalhadores informam que
“estão morrendo lentamente em conseqüência de terem passado boa parte de
suas vidas aspirando o mesmo veneno destinado aos insetos e que são obrigados a
6
deixar para seus filhos a herança de um pai doente” (Cavalcanti, 2003) (grifo em
negritos nossos).
Assim sendo, ao serem demitidos, estes trabalhadores não tiveram por parte
da FUNASA, nenhuma forma de acompanhamento quanto às conseqüências do
trabalho prolongado e a utilização nos programas oficiais de agrotóxicos, de classe
toxicológica de risco para a saúde humana e para outras espécies animais (Augusto et
al., 2000; Rhade et al., 1994).
O desenvolvimento de qualquer atividade que envolva a manipulação de
substâncias neurotóxicas, mesmo que em baixas quantidades, requer cuidados com a
saúde dos trabalhadores, desde a contratação, realizando-se os exames admissionais e
treinamentos adequados, assim como os monitoramentos ambientais, biológicos e
clínicos periódicos, atendendo normas estabelecidas pelos Ministérios da Saúde e do
Trabalho.
Os Agentes de Saúde, além dos riscos de possíveis repercussões
neurocomportamentais compatíveis com o quadro toxicológico em questão, tiveram
que arcar durante todo este período com as implicações sociais, políticas e
financeiras provenientes dos impasses legais por parte da FUNASA, quanto às
atribuições e responsabilidades da exposição e intoxicação ocupacional de seus
servidores.
A sintomatologia da intoxicação por longos períodos de exposição, vai
depender da suscetibilidade individual, das vias de absorção e da toxidade do agente.
Em inúmeros casos as queixas não são imediatas, mas alguns estudos apontam a
existência de efeitos adversos para a saúde dos trabalhadores, com perdas auditivas
por exposições aos pesticidas e a ruídos (Teixeira, 2000). Também são relacionadas
queixas neurocomportamentais em uma população de Agentes de Saúde de
Pernambuco com repercussões que englobam sintomas e sinais complexos como a
ocorrência de alterações comportamentais e psiquiátricas: apatia, depressão,
ansiedade, irritabilidade, desorientação, retardo de reações, etc (Gurgel,1998).
É importante ressaltar, que a mobilização por partes destes trabalhadores,
teve como conseqüências: a tomada de iniciativas políticas e jurídicas junto aos
7
órgãos competentes assim como, a deflagração de um processo de avaliação de saúde
na tentativa de conhecerem os danos relativos à exposição aos agrotóxicos.
Atualmente, parte desta população vem sendo acompanhada pela equipe do
Ambulatório de Saúde Ambiental e Ocupacional (Toxicologia Clínica) do Hospital
Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) e Núcleo de Estudos de Saúde
Coletiva (NESC) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A trajetória de vida destes trabalhadores está diretamente relacionada com a
atividade de trabalho que desenvolviam. Sendo que alguns deles encontram-se
afastados ou aposentados devido à exposição, outros estão com desvio de função e
existem casos em que o trabalhador não conseguiu condições que garantam
segurança e dignidade de vida.
A luta que se segue tem como objetivo a reintegração judicial de forma
definitiva, a realização do exame demissional, o ressarcimento de todos os direitos
morais e patrimoniais advindos de um acidente de trabalho pela exposição, sem
equipamento de proteção e das normas regulamentadoras que estabelecem diretrizes
de uso e cuidados com produtos químicos de toxidade elevada pelas instituições
públicas. Assim como, a concessão de todos os benefícios e obrigações da FUNASA,
postulados no processo judicial.
Ao se passarem cinco anos, após o encaminhamento de toda esta situação às
autoridades governamentais, observa-se nos atendimentos aos trabalhadores, uma
profunda angústia e ansiedade com relação ao futuro. Em alguns casos, existe a
possibilidade das repercussões neurocomportamentais de se tornarem “persistentes”
como alteração da memória, redução da concentração, ansiedade, depressão e
irritabilidade. A variabilidade psicológica dessas repercussões, pode afetar a
qualidade de vida dos trabalhadores gerando sensações de medos e angústias.
Acrescenta-se ainda, o fato desses trabalhadores não terem sido vistos pelas
autoridades governamentais, dentro do quadro de exposição a que foram submetidos.
As condições de risco para a saúde, relacionadas com o processo de trabalho
dos Agentes de Saúde Pública envolvidos nas ações de controle de vetores no
Município do Rio de Janeiro expostos a agrotóxicos, foram levantadas mediante
revisão da literatura técnica enfatizando as repercussões neurocomportamentais. Este
8
procedimento permitiu colocar em evidência em quais cenários ocorreram,
dimensionando as características mais significativas na busca por uma abordagem
que incorpore, de forma efetiva, as pessoas envolvidas no problema e os achados
obtidos em relação às propostas apresentadas.
Considerando a temática do estudo, privilegiou-se a adoção de instrumentos
com o objetivo de avaliar e identificar as repercussões neurocomportamentais nas
exposições a agrotóxicos. Estes instrumentos podem trazer à tona variadas formas de
expressões de adoecimento assim como, ampliar as alternativas terapêuticas de
monitoramento e vigilância em saúde destas populações, que envolvam uma
abordagem multiprofissional e os processos de saúde-doença relativos à exposição a
agrotóxicos.
O presente estudo tem como objetivo geral identificar as repercussões
neurocomportamentais nos Agentes de Saúde Pública expostos a agrotóxicos e como
objetivos específicos:
1. Levantar as questões relacionadas à exposição ocupacional e
ambiental
por
agrotóxicos,
dando
ênfase
nas
repercussões
neurocomportamentais, em uma população de Agentes de Saúde
Pública envolvidos nas ações de controle de vetores no Município do
Rio de Janeiro;
2. Contribuir com instrumentos que possibilitem avaliar e identificar as
repercussões neurocomportamentais nas exposições aos agrotóxicos;
3. Pensar alternativas terapêuticas de monitoramento e vigilância em
saúde
desta
população,
que
envolvam
uma
abordagem
multiprofissional considerando os processos de saúde-doença relativos
à exposição a agrotóxicos.
9
CAPÍTULO II
OS AGROTÓXICOS E AS REPERCUSSÕES NEUROCOMPORTAMENTAIS
Neste capítulo apresenta-se a discussão do uso dos agrotóxicos e suas
repercussões neurocomportamentais. O emprego dessas substâncias, nas atividades
de trabalho, traz para a saúde e a vida de quem as utiliza, impactos que podem se
manifestar de maneira aguda ou de “forma crônica, mais lenta, cumulativa e
persistente e, de difícil detecção pelos sentidos ou pelos métodos de investigação
científicos
atuais”
(Gurgel,pág.58,1998).
Tais
processos,
apresentam
desdobramentos, seja pelo comprometimento dos recursos ambientais ou como
problema de saúde, em situações e eventos de riscos crônicos e agudos que atuam
nos planos do coletivo e do individual. Qualquer discussão sobre o uso dos
agrotóxicos e suas implicações na saúde, pressupõe o reconhecimento desta
complexidade.
O tema dos agrotóxicos e suas repercussões neurocomportamentais são aqui
destacados, por configurar como uma grave questão de Saúde Pública. Segundo
Trapé (1994), os sinais e sintomas das intoxicações crônicas são tratados, na maioria
das vezes, como pertencendo a outros quadros clínicos. O que leva estes pacientes a
serem identificados como casos psiquiátricos de difícil caracterização resultando em
impedimentos de toda ordem para o trabalhador. Nota-se que, em sua maioria, os
quadros neurológicos e psicológicos, abrangem queixas clínicas como transtornos
mentais de difícil controle, síndromes do pânico, tentativas de suicídio recorrentes,
“problema de nervos”, fadiga generalizada, depressão, cefaléia, alergias, etc
(Levigard & Rozemberg, 2004; Macário, 2001; Câmara Neto, 2000; Gurgel,1998).
Uma pesquisa realizada por Faria et al. (2000), com trabalhadores rurais da
Serra Gaúcha, levantou questões relacionadas com a intoxicação por agrotóxicos e a
presença de transtorno mental denominados pelos trabalhadores como: nervosismo,
tristeza, desânimo e cansaço.
10
Um dos temas centrais que emerge em torno das intoxicações, é a existência
de “algo” silencioso, uma “coisa” amorfa e complexa transitando por todos os
terminais nervosos, cuja ação impede ou dificulta as conexões nervosas. Como
Carson (p.205,1964), sugere “a confusão, as alucinações, a perda de memória, as
manias – tudo isto constitui preço altíssimo que se paga pela destruição temporária
de uns poucos insetos; mas é um preço que continuará a ser cobrado, enquanto
insistirmos no emprego de substâncias químicas que lesam diretamente o sistema
nervoso.”
O problema dos agrotóxicos se complica, pelo fato de que o ser humano,
quase nunca se expõe a apenas uma substância química. A poluição ambiental é
responsável nos países industrializados, pelo crescente aumento de enfermidades
clínicas e crônico-degenerativas. De acordo com Peres (1999), foram observadas
intoxicações por agrotóxicos em trabalhadores rurais e suas famílias na região de
Nova Friburgo no Rio de Janeiro. Uma outra evidência de contaminação, no
processo de exposição/intoxicação, foi obtida em estudo realizado para avaliar a
influência de fatores socioeconômicos na contaminação por agrotóxicos (OliveiraSilva et al., 2001).
Igualmente relevante para o tema, é o fato dos agentes químicos interagirem
com outras substâncias, potencializando a sua respectiva toxidade em proporções de
estragos imprevisíveis. Como adverte Carson (p.203,1964): “O efeito de uma
substância química – de natureza admissivelmente inócua – pode ser drasticamente
modificado pela ação de outra substância química.”
Na reflexão sobre a evolução e a utilização histórica dos agrotóxicos
levanta-se uma outra questão não menos importante: o uso na Alemanha, por ocasião
da Segunda Guerra Mundial, como veneno destinado a matar.
Por serem substâncias tóxicas não seletivas, os agrotóxicos envenenam
todas as formas de vida com as quais entram em contato assim como, sítios humanos
complexos que correspondem ao modo como o sujeito organiza e expressa a sua
vida, ou seja, seus aspectos subjetivos e neurocomportamentais (Hartman,1988).
11
No Brasil, seu destino inicial foi em programas de saúde pública, no
combate de pragas incluindo vetores de doenças em humanos ou animais, passando
ao uso de setores rurais, a partir de 1960. Quando da instituição do Plano Nacional de
Desenvolvimento (PND), ocorreu a implementação do comércio dos agrotóxicos e
seus vários processos industriais determinando o avanço indiscriminado e o seu uso
na agricultura.
A América Latina, segundo Garcia (1996), consome grande parte de
agrotóxicos no mundo, sendo que o Brasil é um dos países que mais utiliza estas
substâncias. Como conseqüência, são nestes países que se presencia um maior
número de intoxicações agudas. A todos estes aspectos acrescenta-se, um número
elevado de intoxicações crônicas e uma sensibilidade generalizada a múltiplos
químicos (Gallardo, 1986; Nethercott, Davidoff & Curbow,1993).
No universo das substâncias neurotóxicas, os agrotóxicos estão entre os
mais agressivos, o que resulta em um vasto número de implicações, tanto na saúde
das populações expostas como no meio ambiente e na contaminação de alimentos
(Kohn & Jeyaratnam, 1996).
Vieira (1995) descreve os agrotóxicos como:
“(...) qualquer substância química natural ou
sintética, ou mistura de substâncias, destinadas a
prevenir a ação ou destruir, direta ou indiretamente,
insetos, ácaros, fungos, nematóides, ervas daninhas,
bactérias e outras formas de vida animal ou vegetal
prejudiciais ao homem, à lavoura e à pecuária. Estas
substâncias podem ser absorvidas pelas vias
dérmica, oral ou respiratória” (p. 359).
12
Com a implantação da Lei Federal 7802, de 11/07/1989, regulamentada
pelo Decreto no 98816, no seu artigo 2, inciso I, o termo agrotóxico ficou definido
como:
“Os produtos e componentes de processos físicos,
químicos ou biológicos destinados ao uso nos
setores
de
produção,
armazenamento
e
beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens,
na proteção de florestas nativas ou implantadas e de
outros ecossistemas e também em ambientes
urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja
alterar a composição da flora e da fauna, a fim de
preservá-la
da
ação
danosa
de
seres
vivos
considerados nocivos, bem como substâncias e
produtos
dessecantes,
empregados
estimuladores
como
e
desfolhantes,
inibidores
do
crescimento” (OPAS/OMS, p. 16,1997).
O termo agrotóxico foi introduzido no Brasil após uma intensa mobilização
da sociedade civil organizada. Antes a terminologia indicava uma duvidosa
referência a estes agentes químicos, por denominar, os venenos agrícolas, de
“defensores agrícolas”. A mudança sugere a evidência quanto à toxidade dos
produtos.
O reconhecimento dos perigos e a possibilidade de contaminação por
agrotóxicos no meio ambiente e no homem, tiveram a partir dessa lei um maior
controle.
Os agrotóxicos são utilizados conforme os princípios ativos existentes nas
suas matérias-primas. O Manual de Vigilância da Saúde de Populações Expostas a
13
Agrotóxicos (OPAS/OMS, 1997) criou uma classificação que visa identificá-los tais
como:
“(a) Inseticidas: possuem ação de combate a insetos, larvas e formigas. Os
inseticidas pertencem a quatro grupos químicos:
- organofosforados: são compostos orgânicos derivados do ácido fosfórico, do ácido
tiofosfórico ou ácido ditiofosfórico (folidol, azodrin, malation, nuvacron, tamarom,
rhotiatox);
- carbamatos: são derivados do ácido carbâmico (carbaril, temik zectram, furadan);
- organoclorados: são compostos à base de carbono, com radicais de cloro. São derivados de
clorobenzeno, do ciclo-hexano ou do ciclodieno. Foram muitos utilizados na agricultura,
como inseticidas, porém seu emprego tem sido progressivamente restringido ou mesmo
proibido (DDT, aladrin, endrin, heptacloro, BHC, endossulfan, heptacloro, lindane, mirex);
- piretróides: são compostos sintéticos que apresentam estruturas semelhantes a piretrina,
substância existente nas flores do chrysanthemun (pyrethrum) cinenariaefolium. Alguns
desses compostos são: aletrina, resmetrina, cipermetrina e (piretrina I e II);
(b) Fungicidas: combatem fungos. Existem muitos fungicidas no mercado. Os
grupos químicos são: etileno-bis-ditiocarbamatos: maneb, macozeb, dithane, zineb, tiram trifenil estânico: duter e brestan; captan: ortocide e merpan; hexaclorobenzeno;
(c) Herbicidas: combatem ervas daninhas. Nas últimas duas décadas, este grupo
tem tido uma utilização crescente na agricultura. Seus principais representantes são: paraquat; glifosato; pentaclorofenol; derivados do ácido fenoxiacético; dinitrofenóis;
Outros grupos importantes compreendem: - raticidas (dicumarínicos): utilizados no
combate a roedores; acaricidas: ação de combate a ácaros diversos; nematicidas: ação de
combate a nematóides; molusquicidas: ação de combate a moluscos, basicamente contra o
caramujo da esquistossomose; fumigantes: ação de combate a insetos, bactérias: fosfetos
metálicos (fosfina) e brometo de metila ”(p. 17 e 18).
Em um estudo realizado em Pernambuco com uma população de Agentes de
Saúde exposta aos agrotóxicos, foram referidas repercussões psíquicas e
neurocomportamentais demonstrando que as exposições a estes produtos apresentam
14
uma associação com transtornos psiquiátricos menores. Os problemas relatados
foram: irritabilidade, depressão, ansiedade, alteração do comportamento, diminuição
da memória, insônia, sonolência, tontura, formigamento no corpo, etc (Gurgel,
1998). Estas características impõem a necessidade de estabelecer determinadas
estratégias de resolução que considerem a inversão do “domínio clássico dos fatos
objetivos por cima dos valores subjetivos” (Porto & Freitas, p.70, 1997) Grifo dos
autores.
O enfoque das intoxicações por agrotóxicos, com base na relação dos
indicadores biológicos de exposição e efeito, é insuficiente por não contemplar a
susceptibilidade humana e à especificidade do agente químico, assim como, a
complexidade das situações e eventos de riscos relacionados com as condições
ambientais, sociais, econômicas e culturais (Macário, 2001; Augusto & Freitas,
1998; Porto & Freitas, 1997).
O Programa de Vigilância da Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos
(PVSPEA), foi implantado no Brasil em 1995, constituindo-se em um importante
instrumento de ação para o controle e prevenção dos danos à saúde, relacionados ao
uso dos agrotóxicos. No entanto, os registros realizados apontam em sua grande
totalidade, apenas para os casos de intoxicações agudas, deixando de fora aqueles
provenientes de exposições crônicas. Os dados coletados pelos centros de
intoxicações não representam as reais estimativas, sendo que, para cada caso de
intoxicação diagnosticado pelos serviços de saúde, um número muito maior de casos
não são identificados (Trapé,1994).
A operacionalização do PVSPEA, possibilita produção de conhecimento,
levantamento de dados quanto ao transporte dos agrotóxicos, detectar surto ou
epidemias, rastrear áreas das intoxicações nas populações expostas, identificar o
controle de medidas quanto à produção, transporte, comercialização e utilização. As
ações de vigilância da saúde têm como objetivo acompanhar e fiscalizar o uso dos
agrotóxicos.
No entanto, o que se observa, na maioria casos, é a manipulação com
técnicas inapropriadas, seja no controle dos vetores de doenças como em outras
15
modalidades: nas lavouras, nos alimentos, no armazenamento, etc (Kohn e
Jeyaratnam, 1996).
As intoxicações por agrotóxicos, provocam agravos muitas vezes não
visíveis aos exames neurológicos. Sendo que, as manifestações são confundidas com
outros quadros clínicos, acabando na maioria das vezes, não sendo completamente
elucidadas.
Como afirma Carson (1964), os agrotóxicos são conhecidos como elixir da
morte ou manto de Medéia, por envenenarem e impregnarem toda forma de vida com
a qual entrem em contato. Segundo Brandão (1991), Medéia ao ser abandonada por
Jasão resolve vingar-se tragicamente, matando os filhos que com ele havia tido, e em
seguida sua nova mulher, com um manto ungido de poções mágicas e fatais. Os
efeitos nocivos e não previsíveis decorrentes da exposição a agrotóxicos parecem
encontrar correlação com o referido mito.
Com base em uma denúncia civil contra a Bayer, em outubro de 1999,
foram contaminadas 42 crianças na cidade de Tauccamarca no Peru. Destas crianças
24 morreram ao ingerirem leite contaminado na escola. A contaminação ocorreu
devido a presença de um OF-Parathion, que é considerado extremamente tóxico pela
OMS. As outras 18 crianças sobrevivem com seqüelas significativas para sua saúde
(Disponível em Red del Tercer Mundo).
Mesmo diante de uma realidade que deveria ser objeto de estudo da Saúde
Pública, ainda encontramos, no Brasil, um cenário com poucas pesquisas que
apresentam essas discussões. É importante citar os estudos desenvolvidos por
Pacheco-Ferreira et al. (2000), com agentes de saúde envolvidos em campanhas de
controle do dengue, na qual foram evidenciados impactos no processo e organização
do trabalho tais como: uso e limpeza dos equipamentos de proteção de forma
inadequada, inexistência de locais seguros e específicos para higiene pessoal e para a
guarda dos agrotóxicos ocorrendo com isto o transporte destes produtos para o local
de moradia dos trabalhadores.
Como vimos, por ser um grave problema de Saúde Pública, demanda a
implementação e intervenção de ações que venham esclarecer a realidade em toda
16
sua extensão da utilização abusiva e indiscriminada destes agentes químicos e os
riscos de danos à saúde e ao meio ambiente.
Entre os indicadores de alerta quanto à intoxicação por uma substância
química ou no caso específico, por exposição aos agrotóxicos organofosforados,
devem estar incluídas as ocorrências em que houver suspeita de agravos à saúde
humana, considerando os problemas físicos não mensuráveis do processo de trabalho
e saúde.
A Pan American Health Organization/World Health Organization
(PAHO/WHO, 1993), correlacionou os impactos deste problema de saúde pública.
Os organofosforados compõem cerca da metade de todos os inseticidas utilizados
pela população mundial. São pulverizados em lavouras como milho, tomate,
verduras, legumes, frutas e grãos, assim como, nos programas de ações em saúde
para controle de vetores. Por provocarem riscos à saúde e ao ambiente, faz-se
necessárias políticas públicas de prevenção, com programas educativos e de
vigilância epidemiológica e ambiental, dirigidos as populações expostas. Isto implica
em conhecer os processos produtivos incorporando os pontos de vista, do
trabalhador, o seu grupo familiar e a comunidade em geral.
A ausência de mecanismos efetivos contribui para contaminação ambiental
e ocupacional, a que estão expostos não só o trabalhador como toda a população em
geral. Os casos de intoxicação por agrotóxicos impõem um risco maior para os
grupos que manipulam diretamente o produto, como os trabalhadores de saúde
pública e rural. As intoxicações agudas, subagudas e crônicas tornam estes
trabalhadores mais vulneráveis devido o aparecimento de danos irreversíveis, como,
paralisias, tontura, fasciculação muscular, fraqueza, sonolência e alterações sobre o
sistema nervoso central com expressões neurocomportamentais como depressão,
irritabilidade, apatia, dificuldade de concentração, etc (Ministério da Saúde, 1997).
A caracterização das situações de riscos presente nos ambiente de trabalho,
é fundamental para subsidiar medidas de intervenção, objetivando a otimização do
diagnóstico e tratamento nos casos de exposição ocupacional e/ou ambiental, assim
como, no treinamento de técnicos para ações de prevenção, controle, diagnóstico e
tratamento de populações expostas.
17
Segundo a Agency for Toxic Substances and Disease Registry (ATSDR,
2001), os agrotóxicos podem ser absorvidos na exposição ocupacional, por contato
com a pele e por inalação (respiratória) durante as fases de produção, preparação e
aplicação assim como, pela via digestiva. As intoxicações apresentam uma variação
considerável em relação aos agentes tóxicos, quanto maior o nível de toxicidade
dessas substâncias resultará em uma contaminação dérmica mais elevada.
A ocorrência de repercussões neurocomportamentais relacionadas as
intoxicações por agrotóxicos, tem sido descrita como ansiedade, irritabilidade,
distúrbios da atenção, alteração da memória, concentração e do sono.
As
manifestações clínicas são normalmente confundidas com outras patologias como:
cefaléia, nervosismo, depressão, alteração do humor, surto psicóticos, insônia.
Levigard (2001), sinaliza que estes sintomas são freqüentes entre os agricultores
afetando significativamente suas vidas ao provocarem o adoecimento por uso de
agrotóxicos. A autora sugere a presença de um quadro clínico neuropsiquiátrico
evidenciado através de surtos psicóticos, mudanças no comportamento, transtornos
de humor, queixas de cefaléia, alteração do sono e diminuição das defesas
imunológicas.
Os sintomas clínicos destacados por Ellenhorn (1997), apontam para
aqueles que aparecem na forma de alterações complexas provenientes da alta
exposição a estas substâncias. O autor divide em três grandes grupos de sinais e
sintomas que são caracterizados pelos efeitos tóxicos dos agrotóxicos, especialmente
pela exposição contínua e aguda aos organofosforados e carbamatos:
•
casos leves: cansaço, fraqueza, vertigens, náuseas, visão turva
•
casos moderados: confusão, cefaléia, sudorese, lacrimejamento
excessivo, vômitos, sensação de estranheza e câimbras
• casos severos: cólica abdominal, diarréia, tremores musculares,
marcha cambaleante, miose, hipotensão, bradicardia, dispnéia
Um outro aspecto importante da exposição direta por agentes químicos, são
os casos de intoxicação crônica, onde mesmo havendo níveis normais de
18
colinesterase, podem ser tão ou mais prejudiciais por persistirem depois de cessada a
exposição. Morgan (1998), encontrou em indivíduos com exposição crônica por
agrotóxicos o desenvolvimento de uma síndrome progressiva de debilitação, como
dores de cabeça, perda de memória, fraqueza muscular, fasciculação muscular,
câimbras, e anorexia. Outras pesquisas relacionam agrotóxicos com diagnóstico
predominante de distúrbios cognitivos que incluem: diminuição na concentração,
vigilância, alteração no processamento das informações e na agilidade psicomotora,
déficit de memória, distúrbios lingüísticos, coordenação motora fina, depressão,
ansiedade, irritabilidade, tensão, inquietação, desânimo, esquizofrenia (Eyer, 1995;
Rosenthal & Cameron, 1991).
Ecobichon (1999), observou que os sinais e sintomas mais freqüentes da
intoxicação aguda por organofosforados no sistema nervoso central são: sonolência,
letargia, fadiga, labilidade emocional, confusão mental, perda de concentração,
cefaléia, coma com ausência de reflexos, ataxia, tremores, dispnéia, convulsões,
depressão dos centros respiratório e cardiovascular.
Para Rivero et al. (1997), a principal ação orgânica é a inibição da enzima
acetilcolinesterase-AChE, provocando mudanças nos receptores da a acetilcolinaACh do SNC e SNP e/ou acúmulo nas sinapses nervosas. Caso a estimulação entre
os receptores se interrompa, a sinapse pode desaparecer, ocasionando perdas de
funções pela ausência de regulação do sistema nervoso central e periférico.
Um estudo realizado por pesquisadores do Rio Grande do Sul revelou que a
média de suicídios em Venâncio Aires, nos últimos 17 anos, é bem maior que a do
resto do país. Neste município foi evidenciado nas lavouras de fumo o uso intenso de
venenos. A pesquisa observou sobre uma possível relação das intoxicações agudas
ou sub-agudas com agrotóxicos e o aumento de suicídios. Também identificou que o
alto índice de suicídios na região, pode ser um dos fatores de risco das intoxicações
crônicas e cumulativas (Falk et al, 1999).
Segundo Valdez (1995), as conseqüências graves das intoxicações, são
caracterizadas por alterações psíquicas, comportamentais e motoras dispostas em
uma ordem temporal que constituem o mosaico das exposições no Brasil.
19
Teixeira (2000), ressalta a importância de se considerar as características
toxicológicas dos compostos OF nas exposições em longo prazo em baixas doses,
por provocarem agravos neurotóxicos que não dependem da relação linear da doseefeito. Sobre isto, Carson (p.196, 1964), comenta: “Do ponto de vista da população
como um todo, devemos preocupar-nos ainda mais com os efeitos retardados da
absorção de pequenas quantidades de pesticidas que contaminam invisivelmente
o nosso mundo.” (grifos em negritos nossos)
A evolução dos estudos em torno das intoxicações por OF aponta para a
presença de diferentes fases de comprometimento, caracterizando um processo
interativo e não linear dos efeitos clínicos como perdas progressivas da memória,
distúrbios visuais, alterações neurocomportamentais e da personalidade, do humor,
da concentração,
confusão mental, tremores, insônia, reações esquizofrênicas,
deficiência da coordenação motora, etc (Klaassen, 2003; Ecobichon, 1999).
As implicações dos agrotóxicos sobre o cérebro e o funcionamento
cognitivo, provocando seqüelas neurocomportamentais após intoxicação aguda ou
crônica dos sujeitos expostos, resultam em mudanças sinápticas muito tênues em
várias regiões cerebrais. Essa questão é reiterada por Damásio (1995), ao colocar que
o cérebro humano tem sua existência indissociável com o corpo, interagindo em
conjunto com o ambiente, formando assim uma complexa rede de conexões
bioquímicas, neurológicas endócrinas e imunológicas. Cérebro e corpo estão
“quimicamente” interligados por substâncias que cooperam umas com as outras na
feitura da vida.
As intoxicações por agrotóxicos, podem representar um risco quanto ao
desenvolvimento de problemas de saúde como: neuropatia tardia, diminuição das
defesas imunológicas e mudanças no aparelho reprodutivo. Outros sintomas clínicos
(enfermidades hepáticas, neoplasias, má nutrição, alguns tipos de anemias) fazem
parte dos seus efeitos nocivos, agravando ainda mais, o quadro de exposição
ocupacional e deterioração neurocomportamental, principalmente, as funções
cognitivas e emocionais como a atenção, a linguagem e a memória, o aprendizado e
distúrbio de humor como a depressão (Levigard & Rozemberg, 2004; Hartman,
1988; Korsak & Sato, 1977).
20
Hartman (1988), destaca que para uma avaliação das alterações cognitivas
em indivíduos expostos aos agrotóxicos, é importante ressaltar as características
individuais e sócio-culturais. Enfatiza que a bateria de testes neuropsicológicos deve
contemplar o estudo das seguintes funções cognitivas: medidas de velocidade e
rapidez motora (alterações psicomotoras), coordenação motora fina, destreza motora,
memória (funções de estocagem, compreensão, associações, manutenção e
lembrança das informações e estímulos), cognição e personalidade.
Alguns estudos indicam uma baixa performance em baterias de testes
comportamentais, incluindo memória, concentração e humor com danos em áreas
diferentes do cérebro (Steenland et al., 1994; Rosenstock et al. 1990).
No caso específico dos agrotóxicos organofosforados os sintomas leves são
caracterizados por fadiga, cefaléia, tonteira, vertigens, náuseas, vômitos, inquietude
enfraquecimento muscular e distúrbios gastrointestinais. Os moderados incluem
alterações do sono, redução dos níveis de vigilância, concentração, lentidão dos
processos de informação e velocidade motora, déficits na memória, distúrbios na
linguagem, depressão e alterações de humor, ansiedade, irritabilidade, soluços,
tensão nervosa, fraqueza, dificuldade para falar, opressão no peito, câimbras,
contrações musculares, salivação, visão borrada, tosse, transpiração excessiva e
lacrimejamento. Nos quadros de sintoma de intoxicação aguda (síndrome
colinérgica) são evidenciados: tremores, confusão mental, paralisia, diurese
involuntária e aumento do ritmo respiratório nos quadros de intoxicação mais grave.
O curso progressivo ou em etapas, vai depender da situação de risco da exposição
(Morgan, 1998; Ellenhorn, 1997; Karalliedd & Henry, 1993; Korsak & Sato, 1977;
Levin & Rodnitzky, 1976).
A exposição a agrotóxicos configura uma construção “silenciosa” pela
especificidade e diversidade com que os danos à saúde vão se apresentar, tornando o
processo de trabalho qualitativamente mais vulnerável e perigoso. O que se observa
freqüentemente na exposição, é uma superposição de fatores, “disparando”
manifestações clínicas pré-existentes e de interações complexas com outras
substâncias
químicas.
A
abordagem
diagnóstica
e
a
complexidade
reconhecimento nosológico contribui para o adoecimento dos grupos expostos.
do
21
O fato de ser o sistema nervoso o alvo das substâncias tóxicas, acarreta
novas formas de adoecer. Os riscos de intoxicação afetam principalmente as funções
neurocomportamentais. De acordo com Pacheco-Ferreira et al. (p.28, 2000), “entre
os indicadores de alerta nos sistemas de vigilância devem estar incluídas as
repercussões precoces à saúde, considerando aquelas tanto acima quanto abaixo do
horizonte clínico, observando alterações subclínicas não passíveis de detecção por
marcadores biológicos de exposição aos agrotóxicos, mas que denunciam o agravo
silencioso, mas nem por isso menos relevante, que esta exposição implica,
deteriorando cronicamente a saúde individual e coletiva.”
Em relação aos organofosforados as pesquisas associam, três diferentes
situações clínicas de intoxicação. A primeira delas é denominada de síndrome de
hiperestimulação colinérgica com os sintomas de intoxicação aguda descritos
anteriormente. A síndrome intermediária (Intermediate Syndrome), é caracterizada
por afetar os músculos do pescoço, pernas e causar depressão do centro respiratório
podendo levar a morte (Karalliedde, 1999). A neurotoxidade retardada induzida por
compostos organofosforados-OPIDN é uma complicação bem reconhecida na
literatura (Senanayake & Karalliedde, 1987). A instalação do quadro pode conduzir a
uma fraqueza progressiva, com o aparecimento de sintomas caracterizados por ataxia
e/ou parestesia das extremidades dos membros inferiores, podendo evoluir para uma
paralisia flácida e persistir por semanas ou anos após uma única exposição
(Ecobichon, 1999; Eyer, 1995; Good et al, 1993; Vasilescu, 1984).
Na área neurocomportamental, predominam problemas que envolvem
mudanças estruturais irreversíveis devidas ao “excesso” de substâncias tóxicas no
circuito neural. Por serem potenciais condutores de toxidade, os organofosforados
(OF) disparam uma espécie de “massacre” no sistema nervoso central. Certos
processos cognitivos como o planejamento, a coordenação, flexibilidade mental,
humor e memória são privados de seu dinamismo e agilidade após intoxicação aguda
por OF (Miller & Mitzel, 1995).
A neurotoxidade dos agrotóxicos acarreta comprometimento, especialmente
em intoxicações mais graves. A sintomatologia indica efeitos relacionados com
polineuropatias, depressão respiratória, confusão mental, inconsciência, hemorragias
22
cerebrais, cefaléia, visão turva, tremores, coma, neuropatias tardias e fraquezas l,
1musculares (Morgan, 1998; Richter & Safi, 1997; Ellenhorn 1997; Leon et al.,
1996; Mendes, 1995; Lotti et al., 1995). Todo este quadro clínico apresenta uma
reconhecida complicação em intoxicação por OF.
A depressão do Sistema Nervoso Central pode também levar a convulsões e
coma (Morgan, 1998; Moraes, 1999). Uma outra pesquisa identificou problemas
relacionados com debilidade motora e fraqueza (Antle & Pingali, 1994).
O campo de investigação das repercussões neurocomportamentais
associadas à ação dos agrotóxicos lança novas questões sobre a saúde humana. A
nocividade dos produtos químicos costuma ser danosa, muitas vezes fatal e
progressiva, provocando desde náuseas, tonteiras, dores de cabeça, alergias,
paralisias flácidas, perdas do raciocínio, retardo nas reações, falhas na memória,
dificuldade de concentração, labilidades emocionais, desregulação endócrina,
alterações cromossomiais, doença de Parkinson etc. Como vimos, estas complexas
redes de interações podem passar despercebidas (os chamados efeitos crônicos) ou
imediatamente visíveis (os chamados efeitos agudos) (Soares et al., 2003; Peres &
Moreira, 2003; Augusto, 2000; Palácios-Nava et al., 1999).
As relações de produção capitalistas reproduzem condições sociais e
culturais desfavoráveis aos interesses ambientais, o que pode ser exemplificado com
a exploração excessiva dos recursos naturais, resultando em uma gradual exclusão
social ao romperem com os limites e capacidades de equilíbrio entre as dimensões
econômica, ambiental e social. Os resíduos industriais poluentes são uma evidência
do valor demasiadamente econômico dados aos recursos ambientais. Nesta direção,
os interesse econômicos mais uma vez se destacam. Os programas de saúde pública
em nome das “estratégias de defesa da saúde pública”, utilizam substâncias químicas
altamente tóxicas, no combate de doenças, como a dengue, podendo provocar danos
irreversíveis no sistema nervoso central dos trabalhadores envolvidos em tais
atividades.
Todas estas situações colocam a necessidade de se analisar a problemática
das repercussões neurocomportamentais e o uso dos agrotóxicos à luz da
complexidade de seus impactos para a saúde humana e ambiental. É nesta
23
perspectiva, que o objeto deste estudo é trabalhado, articulando contribuições
teóricas na tentativa de investigar a intoxicação crônica por agrotóxicos, na qual leva
a um comprometimento do sistema nervoso, inicialmente com sintomatologia
inespecífica e, posteriormente, com mudanças significativas do comportamento
afetando as relações do indivíduo em seu grupo familiar, de trabalho, e social.
A questão reside, na articulação entre as esferas ética, o humano e os
avanços tecnológicos, visando o reconhecimento de estratégias diferenciadas e a
emergência de vias de singularidades que possibilitem territórios psíquicos e
materiais livres de “tecnologias” poluidoras: “Manter a dicotomia das economias
serve, portanto, a manutenção de territórios endurecidos e perpetuados, que se
impermeabilizam aos devires, à alteridade, à diferença. Em seu lugar poderíamos
pensar numa política desejante, num desejo político, pois ambos, ao se constituírem
num plano de imanência, estão funcionando não por teleologias – com critérios
definidos a priori - , mas pelo encontro com fluxos heterogêneos que, exigem a
transformação. Enunciações e desejos são da ordem do agenciamento de máquinas,
políticas desejantes onde sujeitos e objetos se engendram pela diferença” (Barros,
p.285, 1994).
Considerando a extensão do problema, os estudos sobre as intoxicações por
agrotóxicos precisam avançar, no sentido não só de alertar a população para o perigo
de que as substâncias químicas precipitam desconexões cerebrais, como provocam
uma “barragem química” em torno da vida e no coletivo das pessoas.
24
CAPÍTULO III
A INVESTIGAÇÃO NAS SÍNDROMES NEUROTÓXICAS E ALTERNATIVAS
TERAPÊUTICAS
3.1
-
AVALIAÇÃO
NEUROCOMPORTAMENTAL
NAS
SÍNDROMES
NEUROTÓXICAS
As síndromes neurotóxicas constituem um dos grandes problemas de saúde
pública no Brasil e em diversos países. As substâncias químicas podem produzir um
quadro de declínio cognitivo, em muitos casos irreversíveis, interferindo na vida do
sujeito exposto e no meio ambiente. A instalação pode ser crônica ou aguda,
dependendo da etiologia tóxica dos produtos. No caso dos agrotóxicos, Hartman
(1988) enfatiza os riscos e perigos que estão submetidos trabalhadores expostos e
pessoas que de alguma forma manuseiam diretamente estes agentes poluentes
tornando à saúde e o ambiente potencialmente perigoso. Em termos dos sintomas
apresentados descreve alterações neurocomportamentais, cognitivas e afetivas.
Considera a importância de se investigar as alterações cognitivas associadas ao uso
dessas substâncias como: a memória, distúrbios de personalidade e cognição,
depressão, lentidão para recordar, confusão mental, coordenação motora fina,
destreza manual.
Como afirma Ratey (2002), as síndromes não são marcadores físicos e/ou
biológicos são um complexo de sinais e sintomas que aparecem na forma de
alterações diversas com diferentes expressões possíveis. Portanto, as disfunções
silenciosas podem provocar o aparecimento de comportamentos muito sutis que
podem ser responsável por importantes diferenças no comportamento e na emoção.
Os estudos neurocomportamentais são fundamentais nas pesquisas
neurotóxicas, devido à presença de inúmeras alterações das funções cognitivas e
comportamentais. As síndromes são complexas e não são totalmente conhecidas,
sendo que os resíduos tóxicos muitas vezes interagem com outros processos
químicos, provocando efeitos devastadores. Os achados assinalam alterações
25
psíquicas e neurológicas, como depressão, alteração da personalidade, distúrbios de
memória, no processo de aprendizagem, atenção, concentração e vigilância (Amr et
al, 1997; Stephens et al., 1995; Hartman, 1988; Savage et al., 1988; Levin &
Rodnitzkky, 1976;).
Conforme
assinalado
por
Farahat
et
al.
(2003),
a
avaliação
neurocomportamental é um método usado para a investigação dos efeitos crônicos
da exposição por organofosforados. Os autores encontraram um aumento de sintomas
neuropsicológicos e diminuição na performance nos testes neurocomportamentais
que incluem: abstração verbal, atenção visual, visuomotor, atenção, memória e
memória visual. Quanto aos sintomas e sinais neurológicos, os participantes com
mais tempo de exposição e idade apresentaram um
elevado grau de
comprometimento da função neurológica.
Os testes neurocomportamentais, segundo a literatura, enfocam duas
abordagens: testes psicométricos e aquelas baterias fixas ou flexíveis que se originam
dos estudos sobre as funções cognitivas. As baterias fixas são mais utilizadas em
pesquisas com protocolos específicos para a população investigada. Já as baterias
flexíveis são mais indicadas para os casos de investigação clínica, com objetivo de
mapear dificuldades individuais (Lezak, 1995).
A avaliação neurocomportamental como descreve Carter (2003), é um
campo de investigação que tem como objetivo “cartografar” as relações entre
cérebro, mente e corpo lançando novas questões sobre o comportamento humano.
Deste modo, cada uma das áreas específica contribui para o funcionamento
dos sistemas funcionais ou redes de conexões. A investigação neuropsicológica
desenvolve um conhecimento sobre as atividades do Sistema Funcional ampliando as
informações sobre os sistemas de conexões relacionadas com a lesão cerebral. A
análise da estrutura lesionada poderá contribuir nos estudos da organização cerebral,
tendo em vista que, a lesão de uma única região pode afetar muitas outras funções
intactas (Ecobichon, 1999; Nitrini et al., 1996; Walsh, 1987; Luria, 1981).
Brenda Milner (1964), em seus estudos com pacientes que sofrerem lesões
nos córtices pré-frontais demonstrou que outras áreas cerebrais participam também
26
da formação de memórias. Com o objetivo de analisá-las, desenvolveu testes para
avaliação da memória e funções executivas. Estas descobertas têm sido
repetidamente confirmadas por vários pesquisadores.
O cérebro para funcionar ativamente depende da intercomunicação entre as
sinapses. A plasticidade sináptica envolve estruturas complexas de várias regiões
cerebrais que podem contribuir ou não para a plasticidade neuronal. Para fortalecer
as conexões é necessário que novos estímulos sejam acionados (Izquierdo, 2004;
Ratey, 2002; Kolb & Whishaw, 1990).
Os compostos OF apresentam mecanismos bioquímicos específicos que,
como observados anteriormente, podem atingir os aspectos cognitivos das
populações expostas trazendo como conseqüência transtornos emocionais e
dificuldades na aquisição de aprendizados e na evocação de memórias.
Os teste neuropsicológicos e as entrevistas estruturadas são ferramentas
auxiliares no diagnóstico diferencial dos déficits cognitivos e devem considerar as
características individuais e os objetivos dessa avaliação.
3.2 - ALTERNATIVAS TERAPÊUTICAS
Na reflexão sobre a complexidade dos agravos à saúde provocados pelas
intoxicações por agrotóxicos, coloca-se a importância de se pensar em alternativas
terapêuticas que possibilitem intervenções de controle e prevenção de riscos de
origem química.
Nesta linha de novas abordagens terapêuticas é importante citar a pesquisa
realizada por Amorim (2003), que colocou no centro dos debates sobre as
intoxicações por agrotóxicos, a homeopatia como medida terapêutica para a
prevenção das doenças relacionadas aos riscos químicos ambientais em saúde do
trabalhador. A autora discute também, a eficácia da homeopatia como princípio de
precaução para as alterações endógenas e exógenas no cultivo agrícola.
27
Assim sendo, com a finalidade de levantar aspectos neurocomportamentais
relacionados com a exposição por agrotóxicos, foi realizada uma entrevista semiestruturada adaptada do protocolo original de Avaliação Neurocomportamental –
Bateria de Provas Neurocomportamentais (NCTB) da Organização Mundial de
Saúde/OMS,
uma coleta de dados objetivando investigar: datas e antecedentes
pessoais, hábitos, tempo de exposição, depressão, alterações da personalidade, do
sono/vigília, humor, uso de álcool, drogas e medicamentos contínuos, memória,
atenção, concentração, dentre outros aspectos. Carson (p.197, 1964), reflete sobre as
manifestações “silenciosas” que reverberam por todo o organismo sugerindo que, “
pequenas causas produzem efeitos enormes; os efeitos, ademais, são com freqüência,
aparentemente não-relacionados com as suas causas, por sugerirem partes do corpo
que se situam longe da área em que a exposição foi sofrida... Quando a gente se
preocupa com o funcionamento misterioso e maravilhoso do corpo humano, a causa
e o efeito raramente são coisas simples; raramente são relações de fácil
demonstração. A causa e o efeito podem estar amplamente separados, tanto no
espaço como no tempo. A descoberta da causa, ou do agente, da enfermidade ou da
morte, depende de minuciosa e paciente recomposição, peça por peça, de muitos
fatos, aparentemente distintos e não relacionados entre si, e desvendados através de
vasta quantidade de pesquisa em campos também largamente separados uns dos
outros.”
Como exposto anteriormente, a exposição em muitos casos não imprime
suas marcas físicas, como nos efeitos neurocomportamentais, que são vivenciados
como uma forma de violência psicológica “silenciosa”.
Considerando-se as características da exposição e suas repercussões
neurocomportamentais, propõe-se como alternativa terapêutica um espaço que
possibilite o trabalhador formular questões em torno da “forma silenciosa” da
exposição. Este espaço foi operacionalizado por meio da técnica do grupo focal.
A proposta do grupo focal configurou-se como uma tentativa de pensar este
processo coletivo de exposição tendo em vista que, “a noção de singularidade não se
esgota nas composições unitárias e identitárias. Ela circula nos espaços da
multiplicidade e da diferença ou, ousaríamos acrescentar, nos espaços públicos, no
28
sentido de que não podem ser explicados isolando-se dos processos históricos que os
constituíram” (Barros, p. 86, 2001).
A seguir faz-se necessário apresentar algumas principais correntes das
práticas grupais, enfatizando, o uso da técnica do grupo focal como estratégia para
conhecer e identificar os problemas das repercussões neurocomportamentais nas
exposições aos agrotóxicos assim como, as opiniões, sentimentos e significados dos
envolvidos, a partir de discussões de tópicos específicos dos processos de saúdedoença decorrentes da exposição aos agrotóxicos.
Pensar alternativas terapêuticas que contemplem as subjetividades, uma
forma de abordagem que “abrange a historicidade dos fenômenos(concepções,
relações sociais e institucionais, políticas etc.), sua localização no modo de produção,
que é a totalidade maior, incorpora a cultura como sendo cultura de classe e as
representações sociais como expressões do lugar e das condições sociais de vida e de
trabalho dos sujeitos em questão”(Minayo, p. 253, 1992).
3.3 - GRUPO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS
Considera-se necessário, um breve recorte sobre algumas formulações de
grupo. Ao apresentar conceituações sobre o tema, busca-se apontar elementos que
possam contribuir para uma maior explicitação da utilização do grupo focal, como
instrumento para desenvolver o presente estudo. É importante ressaltar, que as
definições de grupo constituem-se como investigação e temática central por parte de
diversos autores. Portanto, caberia situar historicamente o tema, através de uma
discussão detalhada e cuidadosa, bem mais abrangente do que aqui pretendida.
A contribuição de Lewin (1973) à teoria dos grupos tornou-se decisiva para
a compreensão da prática grupal. É importante resgatar o conceito de “dinâmica de
grupo” por ele criado, para descrever as relações, a unidade e os processos de
mudança em grupo. Os chamados “laboratórios sociais” de Kurt Lewin, introduziram
uma mudança qualitativa na concepção e desenvolvimento dos grupos, ao considerar
a relação do sujeito com outros em circunstâncias específicas.
29
Um outro aspecto não menos importante de Lewin, foi a proposta de um
método de investigação denominado de pesquisa-ação, onde o investigador
estabelece uma relação de implicação com a pesquisa, uma aproximação entre todos
atores da pesquisa.
Pichon-Rivière contribuiu para uma nova concepção teórica de grupo e sua
aplicação no campo das experiências grupais, tem como finalidade, a construção de
um esquema conceitual, referencial e operativo (ECRO) comum, condição necessária
para o processo de aprendizagem. Segundo Pichon-Rivière (p.169, 1998), isto se dá
em termos da definição de grupo assim descrita como: “ um conjunto de pessoas,
ligadas entre si por constantes de tempo e espaço, e articuladas por sua mútua
representação interna, propõe-se explícita ou implicitamente uma tarefa, que
constitui sua finalidade. Podemos, então, dizer que estrutura, função, coesão e
finalidade, junto com um número determinado de integrantes, configuram a situação
grupal que tem seu modelo natural no grupo familiar”.
De acordo com Barros (p.75, 2001), “as experiências com grupo no campo
das relações de trabalho datam de maneira mais expressiva da década de 20.” Ainda
segundo a autora, as experiências de Elton Mayo marcarão as primeiras investidas no
campo das relações humanas e o trabalho com grupos. Conforme observa Barros (p.
78, 2001): “Mayo traz, portanto, novos pontos de inserção na constituição de
instituição grupo. Este “aparece” como instrumento de solução para conflitos que
ultrapassam os aspectos físico-ambientais detectados pelas propostas tayloristas e
fordistas. Tratava-se do “fator humano”, o qual “escapava” das medidas cadastradas
pelos inovadores da organização da produção. O trabalho com grupos se configura,
então, como tecnologia a ser empregada especialmente frente a situações de conflito
(nas indústrias, nas escolas, nas comunidades marginalizadas etc.). Essa tecnologia
rastreia comportamentos “inadequados” e, ao estilo da psicologia positivista do
século XIX, busca modificações visíveis e eficazes. Ao se construir como tecnologia,
produz, no mesmo movimento, “técnicos-especialistas” (coordenadores de grupo,
animadores de grupo) que passam a gerir tais “espaços”.”
A obra de Levy Moreno, criador do psicodrama, do sociodrama e dos
termos “terapia de grupo”, ajudou a divulgação das psicoterapias grupais. Seu
30
método consistia na interação livre e espontânea, para favorecer uma catarse de
integração do indivíduo e do grupo. O termo telê é um conceito criado por Moreno,
que corresponde à disposição positiva ou negativa para interagir com um dos
integrantes do grupo do que com os outros (Garcia, 1986).
Bion (1970), sugere que a grupalidade é uma qualidade do ser humano
sendo portanto, um importante aspecto do social na estruturação psíquica do sujeito.
Suas investigações sobre grupo contemplam o esquema referencial psicanalítico
desenvolvido por Melanie Klein. Um dos pressupostos centrais desta escola é a
ênfase atribuída à teoria dos vínculos, a constelação do vínculo como organizador
básico do campo relacional (Silva,1986).
Segundo Martins (1986), outro ponto fundamental na evolução histórica das
práticas grupais surge das teorias freudianas. A psicanálise em grupos, faz uma
leitura interpretativa considerando o inconsciente, a transferência, a formação do Ego
e Superego, a libido e os processos de identificações grupais. Todos estes conceitos
encontram-se expressos em vários trabalhos como “A Interpretação dos Sonhos”,
“Psicologia das Massas e a Análise do Ego”, “Caminhos de Progresso na Terapia
Psicanalítica”, “Mal-Estar na Cultura”, “Totem e Tabu” etc.
Posteriormente Bleger (p.62, 1993), contribui com os processos grupais ao
ressaltar o fato do “ser humano está integralmente incluído em tudo aquilo em que
intervém, de tal maneira que quando existe uma tarefa sem resolver há, ao mesmo
tempo, uma tensão ou conflito psicológico, e quando é encontrada uma solução para
um problema ou tarefa, simultaneamente fica superada uma tensão ou um conflito
psicológico”. O trabalho em grupo para Bleger, possibilita um espaço de reflexão,
onde o aprender e o saber, emergem das vivências e dos impasses que se fazem
anunciar e das possibilidades dialéticas decorrentes de seu tempo histórico.
A técnica de grupo focal segundo Westphal et al. (1996), é um instrumento
de pesquisa que possibilita o levantamento de dados qualitativos através de sessões
grupais em que 6 a 15 pessoas com objetivos em comum, discutem vários aspectos
de um tema específico. Portanto, o grupo tem como característica discussões em
torno de um tema que será desenvolvido com base no que se quer avaliar.
31
O grupo focal é um método de pesquisa qualitativa podendo ser utilizado
como espaço privilegiado onde se discute “as diferentes percepções e atitudes acerca
de um fato, prática, produto ou serviços” (Carlini-Cotrim, p. 287, 1996).
No grupo focal os integrantes são convidados a debater um tema de
interesse comum fornecido pelo pesquisador, que tem o papel de moderador da
discussão. Cabe ao pesquisador moderador propiciar a interação entre os
participantes para que o grupo seja um condutor de trocas, negociações de versões,
posicionamentos e aspirações expressas pelo próprio grupo. A partir de tópicos
específicos, o grupo focal deve procurar estabelecer e conduzir a discussão “focada”
no tema proposto. As questões sobre o tema, são lançadas ao grupo, possibilitando a
visibilidade das experiências dos diferentes atores envolvidos (Carlini-Cotrim,1996).
De acordo com Ressel et al. (2002), o grupo focal pode ser utilizado como
um instrumento de trabalho para coletar dados qualitativos por possibilitar ao
pesquisador um espaço de investigação social revelador das diferenças e diversidades
existentes dentro de um grupo determinado que se pretende conhecer. As autoras
apontam como uma das vantagens da técnica do grupo focal, a construção de um
conhecimento coletivo expresso a partir das vivências que possam emergir do grupo.
O grupo focal tem sido utilizado para estruturação de ações diagnósticas e
na identificação de características psicossociais e culturais associados a determinados
fenômenos. Tavares (2000), ao investigar a violência doméstica, utilizou-se do
emprego desta técnica por facilitar a obtenção de dados a partir de um fórum de
discussão de tópicos específicos e diretivos, em que foram levantados dados relativos
as percepções, conceitos, opiniões, expectativas e representações sociais da
população em estudo.
Muza & Costa (2002), propõem como repertório de procedimentos da
pesquisa qualitativa, a técnica de grupo focal como estratégia de operacionalização
para identificar elementos de promoção à saúde entre adolescentes de comunidades
de baixa renda. O instrumento facilitou uma aproximação dos conteúdos subjetivos e
das questões que mais afligem os atores sociais envolvidos dando condições de uma
análise mais detalhada no desvendamento dos agravos à saúde do grupo específico.
32
Brant & Dias (2004), enfatizam a importância do grupo focal para investigar
as manifestações do sofrimento em gestores de uma empresa pública. Os autores
destacam, que o grupo focal demonstrou ser uma técnica sensível para revelar o
sofrimento entre os trabalhadores.
O método do grupo focal é discutido por Teixeira (2002), ao investigar um
grupo de idosos, com o objetivo de levantar informações e questões relacionadas ao
envelhecimento e à promoção da saúde, a partir do diálogo e do debate entre os
participantes do grupo. Os dados obtidos, favoreceram o direcionamento de
estratégias para o alcance de melhores condições de saúde da população focalizada.
É neste contexto que o presente estudo, pretendeu conhecer e analisar este
grupo de trabalhadores, trazendo para discussão as relações de adoecimentos
decorrentes da exposição e do uso arriscado dos agrotóxicos e algumas das possíveis
seqüelas e suas conseqüências desastrosas para a saúde do trabalhador que, na grande
maioria das vezes, adoece. Destacar as situações e eventos de riscos relacionados
com os padrões de desgaste constitutivos dos ambientes e das condições de trabalho,
assim como, propor formas terapêuticas de atendimento que possibilitem avançar nos
processos de intervenção de saúde destes trabalhadores.
Nosso desafio é sem dúvida, não encerrar e não reduzir os desdobramentos
que venham a emergir de acontecimentos tão adversos; ter como foco de atenção a
pluralidade de significados que os sujeitos envolvidos dão às coisas e à vida, na
tentativa de provocar a narrativa das diferenças e suas singularidades.
33
CAPÍTULO IV
MATERIAIS E METÓDOS
A metodologia inicial de trabalho consistiu em uma revisão bibliográfica da
literatura científica, sobre intoxicações por agrotóxicos inibidores da colinesterase
(carbamatos e organofosforados), centralizando-se nos aspectos das repercussões
neurocomportamentais das intoxicações. O enfoque principal é dado aos
organofosforados. Foi realizado um levantamento dos casos atendidos no
ambulatório de Saúde Ambiental e Ocupacional (Toxicologia Clínica) na
Universidade Federal do Rio de Janeiro Hospital Universitário Clementino Fraga
Filho no município do Rio de Janeiro.
Com base nos dados dos prontuários de atendimento, partiu-se de um estudo
de 23 casos de indivíduos com suspeita de intoxicação por organofosforados, de
ambos os sexos, sem discriminação de idade, que vem sendo acompanhados
sistematicamente no referido ambulatório. A caracterização do grupo pode ser
observada no Capítulo Resultados e Discussão. O grupo foi então formado por 23
pacientes, sendo destes, 8 mulheres (35%) e 15 homens (65%). A faixa etária variou
entre 34 e 54 anos, sendo mais detalhada no Capítulo Resultados e Discussão.
O protocolo de coleta de dados (anexo II), referente à avaliação de saúde do
grupo estudado, foi elaborado a fim de se obter informações sobre as possíveis
repercussões
neurocomportamentais
decorrentes
da
exposição
tais
como:
identificação da população estudada, como sexo, idade, escolaridade, tempo de
exposição, situação atual e sintomas referidos como: depressão, alterações da
personalidade, do sono/vigília, da memória e concentração, do humor, esquecimento,
uso de álcool, drogas e medicamentos contínuos, dentre outros aspectos.
Os casos selecionados foram trabalhados e analisados com o objetivo de se
fazer considerações a respeito das repercussões neurocomportamentais nas
exposições aos agrotóxicos. Os aspectos sinalizados resultaram na recomendação de
um protocolo de atendimento inicial das populações expostas, visando facilitar o
diagnóstico e nortear o tratamento com alternativas terapêuticas de atendimento.
34
Para
análise
do
material
e
reflexão
acerca
das
repercussões
neurocomportamentais, foi necessário considerar a combinação de enfoques
quantitativos e qualitativos. Tornou-se imprescindível que algumas questões
consideradas neste estudo, fossem analisadas dentro de um método quantitativo.
Assim como, observou-se que outras questões, “ relacionadas com as experiências,
representações, práticas e processos de significação, demandam métodos mais
consoantes com esses fenômenos, ou seja, de natureza qualitativa” (MercadoMartínez, p. 168, 2004).
A análise de dados foi desenhada a partir desta associação, visando
estabelecer os riscos à saúde pela exposição contínua a estes agentes.
Assim sendo, realizou-se um estudo epidemiológico, descritivo, de corte
transversal. Este tipo de pesquisa possibilitou algumas vantagens: rapidez, baixo
custo e facilidade na obtenção de dados (Klein & Bloch, 2002). É preciso ressaltar, o
fato das repercussões neurocomportamentais na exposição aos agrotóxicos
apresentarem efeitos insidiosos e nocivos à saúde, podendo ser avaliadas por este
método.
No que se refere à epidemiologia, os estudos de corte transversal, são
caracterizados pela observação direta de uma determinada população em um dado
momento. Neste estudo, buscou-se avaliar “a proporção de indivíduos com uma
determinada característica, que pode ser uma doença estabelecida, um sintoma, um
sinal, uma seqüela, ou outro agravo qualquer da saúde” (Klein & Bloch, p.126,
2002). Estes estudos são utilizados como indicadores de doenças crônicas, para
planejamento de serviços e informação sistematizada dos efeitos causados à saúde
segundo variáveis específicas, assim como, “estabelecer relações de associação entre
as características investigadas” (Klein & Bloch, p.126, 2002).
A articulação de diferentes enfoques teóricos possibilitou uma compreensão
dinâmica do processo de trabalho, recortando como objeto de estudo as repercussões
neurocomportamentais e as estratégias encontradas pelos trabalhadores para fazer
face a essas repercussões. Este estudo segue a orientação da interpretação dialética,
que segundo Minayo (p. 11-12, 1992), envolve “não somente o sistema de relações
que constrói o modo de conhecimento exterior ao sujeito, mas também as
35
representações sociais que constituem a vivência das relações objetivas pelos atores
sociais, que lhe atribuem significados (...) Perceber a relação inseparável entre
mundo natural e social; entre pensamento e base material; entre objeto e suas
questões; entre a ação do homem como sujeito histórico e as determinações que a
condicionam.”
Nesses termos, utilizou-se o grupo focal com a finalidade de levantar
questões-chave acerca das repercussões neurocomportamentais entrecruzando-as
com as condições de trabalho e suas implicações para à saúde do trabalhador. Assim
sendo, buscou-se privilegiar a troca de experiências e informações, de estar à escuta
das falas e de novos modos de viver como estratégia para elucidação dos objetivos
propostos.
A técnica do grupo focal aliada a análise qualitativa, procurou contemplar as
falas e as percepções dos trabalhadores ao compartilharem suas características
identitárias. Como afirmam Minayo & Sanches (p.245, 1993), “a abordagem
qualitativa realiza uma aproximação fundamental e de intimidade entre sujeito e
objeto, uma vez que ambos são da mesma natureza: ela se volve com empatia aos
motivos, às intenções, aos projetos dos atores, a partir dos quais as ações, as
estruturas e as relações tornam-se significativas”
Carlini-Cotrim (1996), trabalhou o grupo focal como instrumento
investigativo e método qualitativo de aplicação na Saúde Pública. Segundo a autora,
o grupo focal, leva em conta, o contexto em que ocorrem os fenômenos subjetivos e
ao mesmo tempo, possibilita incorporar os saberes dos atores sociais envolvidos,
sendo um processo relativamente simples e rápido quando se quer explorar um
tópico específico.
A técnica do grupo focal tem como estratégia a emergência de significados
no decorrer do processo grupal. O envolvimento dos informantes com a construção
desses significados e a criação de um espaço constituído a partir da percepção dos
participantes faz deste, um espaço privilegiado para explicitar os conteúdos
associados com o objetivo analítico escolhido (Menegon, 1999).
36
Teixeira (2002), elabora o grupo focal, como um espaço que possibilita aos
integrantes, manifestar suas representações, fantasias, contradições, ansiedades,
impressões e significados dentro de um determinado tema. No presente estudo, a
escolha desta técnica teve como finalidade o conhecimento, sem perder de vista que
este é sempre uma construção do coletivo por meio da qual se produzem sentidos e
se constroem versões da realidade.
O grupo focal, de acordo com os objetivos e critérios previamente
determinados, favoreceu a criação de um ambiente favorável à discussão propiciando
aos participantes manifestarem suas percepções e pontos de vista. Assim sendo, a
construção desse espaço de discussão e reflexão possibilitou apreender a dinâmica
social através das atitudes, opiniões e motivações expressas nas interações grupais
(Westphal, 1992).
O processamento dos dados qualitativos foi feito mediante a transcrição das
entrevistas, leitura flutuante e categorização dos temas permitindo retirar as
informações mais importantes no que diz respeito aos objetivos do estudo. As
observações foram detalhadamente anotadas, procurando dar seguimento aos
discursos e afetos relatados pelos sujeitos na presente investigação.
De acordo com os objetivos do estudo, a combinação de métodos, como
estratégia de análise dos dados possibilitou recursos que, “buscam desvelar o sentido
das experiências humanas, reconhecendo, contudo, que o sofrimento, a dor, a
angústia e qualquer processo de significação são também produto e manifestação das
condições objetivas e estruturais em que vivem os coletivos humanos” (MercadoMartinez & Bosi, p.58, 2004. Grifo dos autores).
POPULAÇÃO ESTUDADA
A população alvo constituiu-se de todos Agentes de Saúde em
acompanhamento no Ambulatório de Toxicologia Clínica do HUCFF/UFRJ que
exerciam atividade laboral na FUNASA. A intenção foi investigar o universo desses
trabalhadores (N=23), observando a associação com possíveis riscos à sua saúde.
37
Este estudo foi realizado no Ambulatório de Saúde Ambiental e
Ocupacional (Toxicologia Clínica) na Universidade Federal do Rio de Janeiro
Hospital Universitário Clementino Fraga Filho no município do Rio de Janeiro, cuja
equipe técnica é assim composta: médico do trabalho, neurologista, enfermeira do
trabalho, epidemiologista. Esta unidade conta com uma assessoria constituída por:
psicóloga, assistente social, psiquiatra, técnico em segurança do trabalho,
epidemiologistas.
Este ambulatório encontra-se inserido nas atividades de Pós-Graduação em
Saúde Coletiva e Residência em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de
Janeiro.
CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO
Neste estudo foi considerado como critério de inclusão todos os
trabalhadores expostos a agrotóxicos em acompanhamento na referida unidade de
atendimento. Não houve escolha quanto à idade, sexo e escolaridade. A participação
dos trabalhadores ocorreu mediante a assinatura de um termo de Consentimento
Livre e Esclarecido, conforme preconizado na Resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde (anexo I). Os casos excluídos foram aqueles que apresentarem
associação a outros agentes intoxicantes com histórias pregressas de patologias
psiquiátricas e/ou neurológicas de outras etiologias. Todos estes aspectos visaram
facilitar o diagnóstico clínico destas intoxicações e nortear o tratamento inicial,
diminuindo a morbidade referente às mesmas.
INTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS
O protocolo de coleta de dados referente à avaliação de saúde do grupo
investigado, buscou uma compreensão mais ampla das possíveis repercussões
neurocomportamentais decorrentes da exposição e incluíram:
38
•
Aplicação de entrevistas semi-estruturadas adaptada do protocolo
original de Avaliação Neurocomportamental – Bateria de Provas
Neurocomportamentais (NCTB) da Organização Mundial de
Saúde/OMS, objetivando investigar: datas e antecedentes
pessoais, hábitos, tempo de exposição, situação atual, depressão,
alterações da personalidade, do sono/vigília, humor, uso de
álcool, drogas e medicamentos contínuos, memória, atenção,
concentração, dentre outros aspectos;
•
Levantar dados acerca das repercussões neurocomportamentais
através de encontros grupais, com bases nos fundamentos teóricos
da técnica de grupo focal destacados anteriormente neste estudo.
Foram propostas oito sessões, uma vez por semana com a duração
de 01:30 h;
•
A análise e o cruzamento dos dados foram realizados no software
EPI INFO 6.04, com objetivo de descrever a freqüência simples
de cada variável e o cruzamento entre variáveis resultando em
gráficos e tabelas;
•
Todos estes itens são discriminados e analisados no Capítulo
Resultados e Discussão.
ASPECTOS ÉTICOS
Seguindo o roteiro elaborado pelo Comitê de Ética do Núcleo de Estudos
de Saúde Coletiva (NESC/UFRJ), este projeto incorpora os aspectos recomendados
pela Resolução 196/96 sobre Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, e não apresenta
atividades que possam levar a danos às dimensões físicas, psíquicas, morais,
intelectuais, sociais, culturais ou espirituais dos participantes. Em anexo(I), o termo
de Consentimento Livre e Esclarecido.
39
CAPÍTULO V
ANÁLISE E DISCUSSÕES DOS RESULTADOS
Para análise e resultados dos dados foi utilizado o programa EPI INFO 6.04,
com objetivo de caracterizar e descrever a freqüência simples e o cruzamento entre
variáveis da população em estudo. Assim, rastrearam-se os aspectos mais comuns e
recorrentes, a partir das respostas ao questionário semi-estruturado (anexo II), que
poderiam estar associados à exposição dos agentes químicos como: caracterização e
identificação da amostra, sexo, idade, escolaridade, tempo de exposição/atividade,
condições de vida após a demissão, tempo de afastamento da exposição, depressão,
alterações da personalidade, do sono/vigília, humor, uso de álcool, drogas e
medicamentos contínuos, memória, atenção, concentração, dentre outros aspectos
investigados através de entrevistas semi-estruturadas adaptada do protocolo original
de Avaliação Neurocomportamental – Bateria de Provas Neurocomportamentais
(NCTB) da Organização Mundial de Saúde/OMS.
As questões em aberto do questionário padrão, foram muitas vezes
discutidas no grupo focal e serão detalhadas mais adiante. Para identificação e
caracterização dos Agentes de Saúde foi utilizado as letras Trab, seguidas de um
número.
O tempo de exposição/atividade dos Agentes de Saúde e o manuseio dos
agrotóxicos organofosforados foram considerados diretamente iguais ao tempo de
trabalho, resultando em uma sinergia que atravessou todo o processo de trabalho.
Esta variável foi considerada a mais importante para análise dos resultados
aparecendo no grupo focal, através das falas sobre a construção silenciosa da
contaminação do trabalhador, assim como, outras expressões das condições de
trabalho prejudiciais à saúde (grifo da autora).
A escolha da técnica do grupo focal deu-se pelo objetivo da investigação –
conhecer as repercussões neurocomportamentais e uso dos agrotóxicos a partir dos
discursos dos envolvidos. Além disso, proporcionou ter informações sobre as
condições de trabalho e as implicações para à saúde do uso dos agrotóxicos e,
conseqüentemente, os processos de adoecimento, quando estes se apresentavam.
40
Para realização do grupo focal com os Agentes de Saúde, foi definida uma
questão temática chave:
Quais as repercussões na saúde do uso dos agrotóxicos na atividade de
trabalho?
Configurou-se, assim, um transitar nos domínios dos afetos, segundo
expressão de Tambellini (p.39, 2002), que possibilitou “avançar para além da
solidariedade e conviver num espaço de domínio do afeto. Por aí, talvez se deva
iniciar o caminho para alcançar um outro lugar de onde se possa falar de um
conhecimento compartido e a favor dos bens, como a saúde e a felicidade
conjugadas, a favor dos prazeres e realizações de cada um e para todos.”
Dentro desta perspectiva, os dados do grupo foram analisados, inspirando-se
no intercâmbio com os trabalhadores e de como expressam situações singulares de
afetos, adoecimento e de movimento em direção à saúde. No dizer de Sato (p. 1156,
2002), “os trabalhadores são construtores de conhecimento, articulam-se de modo
conflituoso e cooperativo, e criam modos de vida singulares nos locais de trabalho.”
5.1 - CARACTERIZAÇÃO DOS AGENTES DE SAÚDE PÚBLICA/HUCFF/UFRJ-RJ
A tabela 1 mostra o perfil dos Agentes de Saúde Pública/HUCFF/UFRJ-RJ,
segundo o gênero. O grupo foi formado por 23 pacientes, 8 mulheres (34,8%), e 18
homens (65,2%). Esta tabela evidencia que a maioria dos entrevistados corresponde
ao sexo masculino, sendo que o total dos analisados, trabalhava diretamente no
campo, em atividades realizadas nas residências (aplicando e/ou borrifando os
agrotóxicos), no preparo dos agrotóxicos, prestando orientações sobre medidas
preventivas e mapeando áreas onde eram realizadas as ações de controle de endemias
vetoriais.
Não se verificaram diferenças significativas entre o grupo de agentes
masculino e feminino, de modo que, para efeitos de análise, considerou-se a
categoria agente.
41
Esta tabela apresenta a caracterização individual dos Agentes segundo
diversas variáveis: sexo, idade, escolaridade, álcool e uso de medicamentos.
Tabela 1. Distribuição de variáveis selecionadas de identificação e caracterização dos
Agentes de Saúde Pública expostos a agrotóxicos. HUCFF/UFRJ/RJ, 2005
Variáveis selecionadas
SEXO
Masculino
Feminino
Total
IDADE (EM ANOS)
34 – 37
38 – 42
43 – 54
Total
ESCOLARIDADE
Primário completo
1º grau completo
2º grau completo
2º grau incompleto
3º grau completo
Total
ÁLCOOL
Ingere as vezes
Não ingere nunca
Total
MEDICAMENTOS
Sim
Não
Total
N (%)
(n=23)
15
8
23
65,2
34,8
100
5
11
7
23
21,7
47,8
30,4
100
1
1
18
1
2
23
4,3
4,3
78,3
4,3
8,7
100
5
18
23
21,7
78,3
100
13
10
23
56,5
43,5
100
Com relação à faixa etária, tivemos a seguinte distribuição: cinco pacientes
entre 34 a 37 anos (21,7%), onze entre 38 a 42 anos (47,8%) e sete entre 43 a 54 anos
(30,4%) (Tabela 1). A média de idade da amostra ficou em 41 anos (desvio padrão =
5 anos). A maioria dos trabalhadores (90%), é natural do estado do Rio de Janeiro.
Cabe ressaltar que os dados revelam uma população de adultos jovens entre 34 e 42
anos (69,5%), somando-se a freqüência de 34-37 (21,7%) e 38-42 (47,8%). O
restante do grupo encontra-se distribuído na faixa entre 43-54 (30,4%).
42
O perfil de escolaridade mostrou que dos 23 trabalhadores entrevistados
(Tabela 1), foi observado que o maior quantitativo pertence aos 18 trabalhadores
(78%), que possuem 2º grau completo. Dois trabalhadores (10%), afirmaram ter 3º
grau completo. Sendo que, no grupo constava ainda 1 com primário completo
(4,3%), 1 com 1º grau completo (4,3%) e 1 com 2º grau incompleto (4,3%).
A distribuição quanto ao uso de álcool (Tabela 1) mostrou que apenas 5 dos
trabalhadores (21,7%), referiram que eventualmente fazem uso de quantidades
moderadas de álcool. Sendo que 18 trabalhadores (78,3%), conforme os relatos dos
mesmos, não apresentam uso de álcool.
Em relação ao uso de drogas o total da
amostra (n=23), afirmaram que não usam drogas.
A tabela 1 mostra o percentual de trabalhadores que fazem uso de
medicamentos, constituído por 13 trabalhadores (56,5%) do total de trabalhadores
entrevistados. Chamou atenção que este percentual afirma que os medicamentos
(anti-histamínicos, analgésicos, ansiolíticos e antidepressivos) em uso, são sob
orientação médica. Aqueles que relataram não fazer uso de medicamentos
correspondem o percentual de 10 trabalhadores (43,5%).
Ao avaliar-se o tempo de exposição/atividade, referido pelos 23
trabalhadores (Tabela 2), observou-se que dezesseis trabalhadores (69,6%),
estiveram expostos entre 7 e 10 anos, sendo os demais expostos entre 11 e 15 anos
(26,1%). Apenas um trabalhador relatou ter sido exposto no período de até 6
anos. Este é um fator importante a ser considerado, pois o tempo de
exposição/atividade corresponde ao tempo de uso dos agrotóxicos no processo de
trabalho dos Agentes de Saúde. A atividade de trabalho envolvia a manipulação e a
aplicação dos agrotóxicos sem equipamentos de proteção individual (EPIs). Nos
relatos dos entrevistados observou-se, que durante o período de atividade não houve,
por parte da FUNASA, preocupação com esta questão.
43
Tabela 2. Distribuição de variáveis selecionadas sobre exposição a agrotóxicos
segundo os Agentes de Saúde Pública. HUCFF/UFRJ/RJ, 2005
N(%)
(n=23)
Variáveis selecionadas
TEMPO DE EXPOSIÇÃO (EM ANOS)
0–6
7 – 10
11 –12
Total
APÓS A DEMISSÃO
Com benefício
Desempregado
Aposentado
Outros
Total
AFASTADO DA EXPOSIÇÃO (EM ANOS)
0–4
5–6
Total
1
16
6
23
4,3
69,6
26,1
100
2
10
2
9
23
8,7
43,5
8,7
39,1
100
1
22
23
4,3
95,7
100
Em relação à situação dos agentes de saúde após a demissão (Tabela 2), dez
trabalhadores estão desempregados sem nenhum tipo de benefício (43,5%). Existem
2 trabalhadores (8,7%) que estão com benefício (nexo com a exposição), dois (8,7%)
encontram-se aposentados (nexo com a exposição) e 9 dos trabalhadores (39,1%)
encontram-se distribuídos em atividades com ou sem desvio de função e outros: 2
exercem atividades administrativas, 4 foram reintegrados como Agentes de Saúde e 3
são funcionários da rede pública.
Em números absolutos, observa-se que o tempo de afastamento mais
representativo é em torno de seis anos, contabilizado por 22 trabalhadores (95,7%)
da amostra. Apenas um trabalhador, que corresponde a (4%), revelou ter estado
afastado por um período de até quatro anos – Tabela 2.
Dos sintomas relatados (Gráfico 1), os que aparecem mais freqüentemente
conforme o total da amostra (n=23) no tempo de exposição entre 7 a 10 anos são:
alterações da memória: 15; esquecimento: 16; dificuldade de concentração: 8;
nervosismo: 12; atenção: 15; tristeza: 13; irritabilidade: 10; labilidade emocional: 9;
44
alterações do comportamento: 11; alteração sexual: 9; cansaço: 13. As questões
emocionais foram referidas como crise de choro involuntária e sem motivo aparente,
sensação de insegurança, indisposição para realizar atividades do cotidiano,
inquietação, desanimo, episódios de depressão, fuga de idéias, dificuldades para
apreender novos conhecimentos, dificuldades para manter novos conhecimentos e
dificuldades em realizar atividades físicas.
Gráfico 1. Distribuição dos Agentes de Saúde conforme sintomas mais
freqüentemente relatados e o tempo de exposição. HUCFF/UFRJ/RJ, 2005
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
16
15
15
12
13
10
8
13
11
9
9
66
3
11 1 11 11
0
0-6
Alt da memoria
Nervosismo
Irritabilidade
Alt. sexual
1
0
44
55
6
5
6
4
1
7 - 10
Esquecimento
Atenção
Lab. emocional
Cansaço
11 - 12
Dif. de concentração
Tristeza
Alt. comport
A exposição aos OF foi considerada por todo tempo de atividade, pelo fato
de que para esse grupo, todo o processo de trabalho envolvia a manipulação, o
contato, seja durante o transporte, o preparo, a aplicação ou pelo consumo de
alimentos colocados junto a bolsa utilizada para carregamento dos equipamentos e
dos agrotóxicos. A isto, acrescenta-se o fato de todos os agentes relataram que não
dispunham de equipamentos de proteção individual. Estes aspectos serão detalhados
mais adiante.
45
5.2 - O PERFIL DA MORBIDADE REFERIDA E O TEMPO DE EXPOSIÇÃO
Quanto aos sintomas relatados e o tempo de exposição (gráfico 1), nota-se
que a maior parte deles, são manifestações neurocomportamentais relacionadas com
exposição contínua aos compostos OF. Em relação aos efeitos crônicos, nas
exposições por longos períodos aos OF em trabalhadores agrícolas, Reidy et al.
(1992), encontraram resultados associados a mudanças neurocomportamentais como
ansiedade, depressão e sintomas de ordens psíquicas. A partir dos achados, observouse que os entrevistados deste estudo apresentaram queixas similares, conforme pode
ser evidenciado no Gráfico 1.
Pacheco-Ferreira & Carvalho (p. 45, 2005), afirmam que os OF “podem
produzir agravos neurocomportamentais, principalmente em áreas motoras e
integrativas do cérebro; neste caso evidencia-se o córtex cerebral, responsável por
funções intelectuais, de aprendizado, memória, comportamento, emoções, motivação,
formação da palavra, da visão, entre outros.”
Rosenstock et al. (1991), investigando um grupo de trabalhadores agrícolas
com história de exposição aguda por OF, verificaram alterações neuropsicológicas
significativas referentes à atenção, a memória, visuomotora e funções motoras.
Os sintomas referidos (Gráfico 1), foram comparados aos dados reportados
por Beseler & Stallones (2003), que apresentaram um estudo com trabalhadores
agrícolas no Colorado, associando história de exposição aos agrotóxicos, práticas de
seguranças e sintomas neurológicos. Os resultados apontam para a presença de
sintomas neurológicos que podem influenciar na habilidade com os procedimentos
de segurança como: depressão, ansiedade, inabilidade para se concentrar, alterações
da memória, dificuldades na compreensão da leitura, desorientação espacial e
irritabilidade.
Steenland et al. (1994), em um amplo estudo com sujeitos expostos aos OF
na Califórnia, apontaram a presença de distúrbios relacionados com déficits na
atenção visual sustentada, desordens de humor como, ansiedade, irritabilidade,
depressão e dificuldades na concentração. A distribuição dos Agentes de Saúde
46
segundo a morbidade referida, apresenta um quadro compatível com os dados
demonstrados na literatura.
Baldi et al. (2001), publicaram uma pesquisa onde investigaram o
funcionamento cognitivo de trabalhadores de vinícolas, na região de Bordeaux, com
história de exposição crônica por longos períodos aos OF. Os resultados assinalam
desordens cognitivas relacionadas a exposição crônica por OF, envolvendo aspectos
relacionados com: seletividade e processamento de informação, memória, fluência
verbal, atenção, abstração, ansiedade, irritabilidade e depressão. Neste sentido, os
dados referidos pelos Agentes de Saúde aproximam-se dos achados dos autores.
Gurgel (1998), em pesquisa com Agentes de Saúde em Pernambuco
encontrou através do teste Self Reporting Questionnaire (SRQ–20), um quadro de
sintomas físicos e psico-emocionais (ansiedade, alterações neurocomportamentais,
labilidade emocional, depressão, cansaço, dificuldade para tomar decisões,
dificuldade de pensar com clareza, etc) correlacionados com a exposição aos
agrotóxicos no processo de trabalho. Essas descrições apresentam similaridades e
contribuições relevantes aos encontrados no presente trabalho.
Como indicam Wesseling et al. (2002), podem ocorrer repercussões
neurotóxicas persistentes nas intoxicações por OF. Estes autores avaliaram a
presença destes efeitos em agricultores levemente intoxicados por OF, sem história
de hospitalização, aproximadamente após dois anos do episódio. Esse estudo sugere
que, quando se trata de intoxicações leves e moderadas existe a ocorrência de um
mecanismo básico comum, sobretudo nas áreas neurocomportamentais, afetando
regiões complexas, como memória, atenção, habilidade visuomotora, linguagem e
sintomas neuropsiquiátricos.
A pesquisa conduzida por Jamal et al. (2002), com agricultores expostos
ocupacionalmente aos OF, evidenciou repercussões neuropsicológicas significativas
próximas aos sintomas relatados pelos Agentes de Saúde: ansiedade, depressão,
lentidão no processamento de informações e uma vulnerabilidade acentuada no
sistema nervoso periférico.
47
Os sintomas levantados neste estudo estão em concordância com os dados
obtidos por Nava et al. (1999), que identificaram atividades normais de
acetilcolinesterase em trabalhadores expostos aos OF mas que apresentavam
alterações psicomotoras, déficits de memória e atenção, lentidão cognitiva e sintomas
psiquiátricos.
Pires et al. (2005), mostrou correlações significativas entre intoxicação e
tentativas de suicídio provocadas por agrotóxicos na microrregião de Dourados,
Mato Grosso do Sul. Os autores chamam atenção que a exposição crônica a estes
compostos pode levar ao desenvolvimento de sintomas de depressão, um fator
importante nos suicídios.
Quando comparados, os resultados referidos do presente estudo com os
dados da literatura, foi possível tecer algumas considerações, a saber:
Os achados da literatura concordam com a importância das manifestações
neurocomportamentais, como sendo um dos principais eventos encontrados na
exposição por organofosforados.
Assim sendo, observou-se a presença de alterações importantes na memória,
seletividade e processamento de informação, ansiedade, atenção, irritabilidade,
cansaço, depressão, dificuldade de concentração, labilidade emocional, etc.
De um modo geral, as pesquisas reforçam que a utilização dos agrotóxicos
nos
processos
de
trabalho,
pode
provocar
uma
série
de
mudanças
neurocomportamentais e afetivas com repercussões para a saúde. O uso inadequado
dessas substâncias, a falta de utilização de equipamentos de proteção e de
informações sobre os efeitos da toxidade dos produtos, estavam intrinsecamente
relacionados, com as atividades laborativas desenvolvidas pelos Agentes de Saúde.
É importante ressaltar, a relação entre a exposição por OF e a presença de
sintomas, que muitas vezes, ocorrem independente dos parâmetros toxicológicos
construídos com base nos padrões de tolerâncias aos resíduos (Sobreira & Adissi,
2003).
48
Como observado por Davies et al. (2000), na exposição crônica podem
confluir repercussões neurocomportamentais e neuropsiquiátricas persistentes
atribuídas a ação dos OF. Em outro artigo, Davies et al. (2000), chamam atenção
para o potencial dos OF em produzirem desordens de humor, seguidas de ideações
suicidas e alterações cognitivas como distúrbios de linguagem associadas com a
exposição por OF.
Os OF interferem no desenvolvimento do cérebro por produzirem lesões
progressivas em certas habilidades cognitivas e, seus efeitos tóxicos no sistema
nervoso reduzem a capacidade das funções cognitivas em suportar e desafiar suas
propriedades neurotóxicas, ocorrendo com isso, a aceleração de determinados
processos ou diminuição na capacidade de resistir a eles (Weiss, 2000).
Nota-se no estudo, assim como pela literatura revisada, os indícios de
potenciais danos e vulnerabilidade das populações expostas, demonstrando a
gravidade destas intoxicações e a extensão de seus impactos na saúde.
No tópico seguinte, serão apresentados e discutidos os dados do grupo focal
relacionando a utilização dos agrotóxicos e suas repercussões na saúde. As
informações levantadas no grupo produziram diferentes significados, que não
puderam ser entendidas quantitativamente (Minayo, 1992).
5.3 - O GRUPO FOCAL: DESVELANDO AS REPERCUSSÕES
A dinâmica do grupo focal iniciou-se com a disponibilidade de cada um dos
23 entrevistados, em participar das oito sessões realizadas em dias alternados, com
duração de 1 hora e 30 minutos. A presença no grupo ocorreu em média de 10 a 15
participantes por sessão, sendo que as ausências eram justificadas por circunstâncias
diversas como fatores econômicos, problemas de saúde, participação nas lutas
políticas da categoria, dificuldades para se ausentarem de atividades de trabalho, etc.
Os encontros foram realizados no ambulatório de Toxicologia Clínica/UFRJ/HUCFF
no município do Rio de Janeiro.
49
O tema das repercussões na saúde do uso dos agrotóxicos, na atividade de
trabalho desenvolvida pelo grupo em questão, desdobrou-se na necessidade de
analisar o processo de trabalho e os significados atribuídos a ele pelos trabalhadores.
Ao enfocar essa categoria, buscou-se articular os modos de subjetivação inscritos nas
atividades de trabalho tendo como viés a experiência singular do trabalhador. Isto
significa dizer, que tais processos articulam-se no cruzamento de determinações
coletivas de várias esferas, não só sociais, mas econômicas, tecnológicas, etc.
Acontecimentos historicamente produzidos, pelos quais são traçados os campos da
subjetividade (Foucault, 1984 & 2004; Guatarri & Rolnik, 1986).
A noção de subjetividade enquanto expressão de um tipo de relação entre
técnicas de dominação sobre os outros e sobre si mesmo, permite situar os jogos de
verdade constitutivos da experiência do sujeito em uma determinada trama histórica.
Guatarri (p.33, 1986) coloca esta questão nos seguintes termos: “A
subjetividade está em circulação nos conjuntos sociais de diferentes tamanhos: ela é
essencialmente social, e assumida e vivida por indivíduos em suas existências
particulares. O modo pelo qual os indivíduos vivem essa subjetividade oscila entre
dois extremos: uma relação de alienação e opressão, na qual o indivíduo se submete à
subjetividade tal como a recebe, ou uma relação de expressão e de criação, na qual o
indivíduo se reapropria dos componentes da subjetividade, produzindo um processo
que eu chamaria de singularização”(Grifo dos autor).
Para Oddone et al. (1986), o resgate do saber do operário, através da prática
cotidiana dos trabalhadores possibilita mudanças nas condições de trabalho, ao
articular um conhecimento que se inscreve na vida e é tecido nas relações de
trabalho.
Na situação investigada, constatou-se que as atividades de trabalho aqui
relacionadas revelaram certos elementos subjetivos complexos com desdobramentos
na saúde dos trabalhadores, como a “visibilidade” dos danos exemplificados no
depoimento a seguir:
50
“Eu me sinto uma pessoa lesada física e emocionalmente, nós levávamos a
saúde e ficamos com a doença. Me sinto como se fosse o próprio veneno, no final só
sobrou pra nós o veneno.” (Trab. 22)
Assim sendo, as discussões sobre as condições de trabalho foram apontadas,
através das falas dos participantes, como um complexo de fatores com a finalidade
de restringir a subjetividade do trabalhador na tentativa de torná-la meramente
funcional. O processo e a organização de trabalho traduzia uma política racional de
estratégias visando o acúmulo de normas, inspeção, gerência do tempo do
trabalhador, vigilância centrada no cumprimento das diretrizes hierárquicas,
rotinização e aplicações de técnicas, com o objetivo de controlar, regulamentar,
planejar e padronizar o trabalho dos Agentes de Saúde. Nesta perspectiva, estava
inserido o “controle químico” do Aedes aegypti, baseado no modelo de resultados,
distanciado da coletividade e da prática dos profissionais que nele atuavam.
A seguir, buscou-se reconstituir os caminhos e as implicações do uso dos
agrotóxicos e suas repercussões na saúde, na expectativa de conhecer não só os
impactos e os sofrimentos provocados no grupo, mas também enfocar suas histórias
de trabalho nos diversos espaços da vida, o que eles transmitem deles mesmos e o
modo como confiam as suas verdades possíveis. Esta é uma questão fundamental,
trazer luz sobre um certo espaço de sombras onde não se consegue afirmar,
categoricamente – “esta espécie de ‘estranho-em-nós`, que o efeito do inelutável
embate com a alteridade nos faz experimentar em nossa subjetividade” (Rolnik, p.
37, 1996).
O grupo focal consistiu em favorecer o acolhimento, a escuta e o resgate das
falas e de outros modos de singularidades, expressos nos encontros que se davam.
Procurou-se ter permutabilidade para ouvir, na tentativa de acolher as necessidades
singulares dessas vidas e compreender os dramas de suas existências. Nas palavras
de Bourdieu (p. 85, 2001), significou não ter que “fazer força para compartilhar do
sentimento, inscrito em cada palavra, cada frase, e sobretudo no tom de voz, nas
expressões faciais ou corporais, da evidência desta espécie de miséria coletiva que
fere, como uma fatalidade, todos aqueles que estão amontoados nos lugares de
rejeição social, onde as misérias de cada um são redobradas por todas as misérias
51
nascidas da coexistência e da coabitação de todos os miseráveis e sobretudo, talvez,
do efeito de destino que está inscrito na pertença a um grupo estigmatizado” Grifo do
autor.
A análise das falas, privilegiando a vivência subjetiva dos trabalhadores,
possibilitou aprofundar algumas questões referentes à associação dos agrotóxicos e
as repercussões neurocomportamentais. Para avançar nesse ponto, a atividade de
trabalho precisou ser situada. O resgate dessas memórias ofereceu recursos para
discutir, sob o ponto de vista dos sujeitos implicados, a experiência do trabalho.
A partir dos depoimentos coletados, pôde-se levantar um conjunto de
discursos que emergiram com certa freqüência, permitindo o ordenamento das falas
em torno dos eixos temáticos descritos a seguir:
•
Relação trabalho/saúde
•
Processo de trabalho/condições de trabalho que adoecem
•
As repercussões dos agrotóxicos na saúde
A) RELAÇÃO TRABALHO/SAÚDE
Os comentários sobre essa relação configuraram-se como claramente
adversa e insatisfatória, prevalecendo as repercussões negativas da organização do
trabalho sobre a saúde:
“Para a gente executar bem o nosso trabalho a gente tinha que tomar
contato com o veneno (...) Aquilo não era um trabalho de saúde. A exposição nos
contaminou no físico, no psicológico e no emocional da gente. Infelizmente só
percebemos isso depois que vieram os problemas.” (Trab. 02)
“Faltava na nossa bolsa de trabalho o respeito ao ser humano (...) Não
havia quem olhasse a nossa saúde, quem pudesse falar dos cuidados a serem
tomados (...) Eu trabalhava 8hs por dia, com a pressão de um supervisor o tempo
todo, sem férias e com tempo de exposição contínuo (...) O nosso regime era de
52
militar (...) Tudo isso deixava na gente muita tristeza, tristeza com as coisas que
víamos (...) Tinha o veneno mas não se pensava nele (...) o veneno que estava sendo
passado para a comunidade e para nós que trabalhávamos com ele.” (Trab.23)
As condições extremamente precárias aos quais estavam submetidos os
Agentes de Saúde tanto no sentido material como simbólico coloca, no centro do
debate das intoxicações, a nocividade do ambiente de trabalho e conseqüentemente,
os processos que afetam a saúde dos trabalhadores. Brito (2004), considera que o
processo de trabalho é uma categoria central no estabelecimento do quadro de saúde
nos coletivos humanos. Ao refletir o campo da saúde do trabalhador, a autora sinaliza
a importância de se incorporar ao debate a experiência/subjetividade do trabalhador.
“Por falta de informação os agrotóxicos passaram como se fossem normais
(...) Nós trabalhávamos a saúde das pessoas usando os agrotóxicos, como podíamos
imaginar que eles estavam prejudicando a nossa saúde? E a saúde das pessoas? Eu
simplesmente confiava naquele trabalho por que partia da área de saúde.”(Trab.19)
Nos depoimentos os participantes citaram a ausência de treinamentos e
capacitação adequada em relação as substâncias tóxicas. Isto provocou aspectos
conflitantes, como as questões em torno do desejo de trabalhar e a confrontação com
as situações de trabalho que precipitavam um aumento da carga psíquica. Para
Dejours (p.28, 1994), “a carga psíquica do trabalho é a carga, isto é, o eco ao nível
do trabalhador da pressão que constitui a organização do trabalho. Quando não há
mais arranjo possível da organização do trabalho pelo trabalhador, a relação
conflitual do aparelho psíquico à tarefa é bloqueada. Abre-se, então, o domínio do
sofrimento.”
Um outro aspecto, é caracterizado por posições contraditórias em relação as
questões trabalho/saúde consideradas “inicialmente seguras”. Os agentes percebiam
que no começo a relação era permeada pela confiança no trabalho, inclusive pela
comunidade. Só após um período, surgiram os problemas decorrentes da rejeição e
por vezes, agressões de várias ordens:
“No início do trabalho eu me sentia um soldado da saúde (...) As pessoas
queriam levar a gente pra casa delas (...) Aí depois de um tempo as pessoas não
53
queriam deixar a gente colocar o veneno nem nas plantas por que morriam (...) A
gente era quase agredido.” (Trab.15)
“O trabalho no começo tinha uma coisa positiva. Sabe porque? Por que eu
achava que tudo que era feito vinha de pessoas que estudavam a saúde (...) Nosso
carinho de tentar ajudar as pessoas era muito grande e a nossa saúde, ficou a onde?
Eu perdi a saúde, tempo de aposentadoria, estou desempregado e vou acabar
adoecendo psicologicamente.” (Trab. 03)
Diante dos fatores aqui expostos, observou-se uma total desconsideração
quanto à pertinência das relações de trabalho no processo de adoecimento. Este fato
produziu a ocorrência dos eventos mórbidos, como observados nos depoimentos e
nas entrevistas com os trabalhadores.
Os entrevistados reconheceram a dificuldade de integração entre os
princípios do programa e a possibilidade de desenvolverem ações preventivas de
saúde. As relações dos agentes com a comunidade vinculavam-se à aplicação das
substâncias químicas e a busca de focos do Aedes aegypti, ação considerada carrochefe do programa.
Além disso, as condições de trabalho em questão, potencializava outros
vetores de sofrimento, como os danos à saúde em virtude da exposição ocupacional
aos organofosforados.
A inclusão da noção de subjetividade no presente estudo, possibilitou
demarcar, a partir da ótica dos trabalhadores, as repercussões na saúde do uso dos
agrotóxicos na atividade de trabalho desenvolvida. Foucault (1984 & 2004), descreve
a subjetividade, como sendo uma construção que se dá por práticas discursivas e
sociais ao colocar em movimento, múltiplas formas de subjetivação. Estes domínios
são inteiramente ativos e não podem ser dissociados das circunstâncias singulares em
que eles se constituem.
A análise do segundo eixo, permitiu relacionar o processo de trabalho e as
condições de trabalho em que figuram processos de adoecimento.
54
B)
PROCESSO
DE
TRABALHO/CONDIÇÕES
DE
TRABALHO
QUE
ADOECEM
Em relação a essa temática, chamou atenção no processo de trabalho
investigado, a ausência dos requisitos de saúde e segurança. Vários trabalhadores
apontaram para uma separação entre processo de trabalho e condições de trabalho
que fazem adoecer. É importante destacar, que essa lógica propiciou, em larga
medida, repercussões não visíveis e na maioria das vezes negadas que ameaçavam o
cotidiano das relações, o trabalho e a vida.
As interpretações dadas ao eixo processo de trabalho/condições de trabalho
que adoecem supõe um tipo de subjetividade “serializada” que implicou em um
dispositivo de poder, ao minar continuamente, esta relação. Por subjetividade
“serializada” entende-se, o conjunto de racionalizações taylorizadas das condições de
trabalho, ligadas a uma prática discursiva de eficiência e produtividade. Como diz
Brito (p. 93, 2004), as lutas contra os agravos e sofrimentos em saúde do trabalhador
envolvem a “necessidade de conhecer o trabalho, como ele é realizado e sob quais
relações sociais, para que os danos à saúde sejam interpretados e combatidos,
mediante mudanças no processo de trabalho e também nas relações sociais que o
envolvem.”
As diversidades dos depoimentos afirmam os medos, as ansiedades e
inseguranças quanto aos fatores lesivos do trabalho. Estas situações forjam defesas
que produzem “uma forma ativa, estratégica, bem ou mal, de lidar com a situação.
As defesas precisam ser resguardadas, mesmo fora da situação. Distanciar-se delas,
enquanto não se transforma, efetivamente é um perigo (...), mesmo a um custo
considerável” (Figueiredo & Athayde, p.270, 2004).
Os discursos aqui apresentados possibilitaram estabelecer uma estreita
relação entre o processo de trabalho e as condições de trabalho que adoecem, assim
como, elucidar algumas defesas, tais como:
“Nunca recebemos luvas, máscaras ou botas (...) Quando usávamos a
bomba ela pingava na calça. A calça ficava toda molhada devido o bico da bomba
que atingia toda a calça. E como todo mundo sabe, a bomba vivia pingando. Essas
55
eram as condições da grande maioria da gente, todo esse veneno contaminando a
gente e nada era falado. Eu sinto que havia uma espécie de silêncio sobre essas
coisas, da gente e da Fundação (...) Vejo que tinha isso, em parte por insegurança
de perder o trabalho e outra por não acreditar que o trabalho da gente fizesse mal
assim.” (Trab.14)
“A supervisão que nós tínhamos muitas das vezes era mais de perseguição
do que de orientação (...) Nós não podíamos fazer nada além de colocar o veneno
(...) Havia toda uma pressão pra se fazer a coisa por quantidade. O regime era de
quartel e assim era as orientações dos nossos supervisores quem questionava sofria
humilhação.”(Trab.11)
Mercado-Martínez et al.(2004), referem em um artigo sobre o atendimento
aos doentes crônicos no México, a importância de se incorporar no campo da saúde,
o discurso dos doentes crônicos, isto é, às suas experiências e vivências, a idéia de
doença/sofrimento e o que as pessoas pensam de si mesmas e dos outros. No caso
dos trabalhadores, havia toda uma engrenagem de dispositivos de disciplinarização e
controle para dificultar a informação e a participação daqueles que realizavam o
trabalho.
“A gente tinha que carregar uma bolsa com mais de 10kg. E isso dava
muitas dores na coluna (...) Eu freqüentei áreas de riscos como lugares
extremamente perigosos, escadas quebradas para chegar até as caixas d`águas (...)
Todo mundo teve que enfrentar uma forma de contrato totalmente incerta, o que
fazia com que a gente tivesse um desgaste mental constante pela ameaça do
desemprego (...) Olha, vou resumir um pouco como foi todo esse contato com os
agrotóxicos: eu tentei salvar vidas com o meu trabalho e estou perdendo a minha.”
(Trab.13)
“Até hoje sinto tonteira, fiquei com pouca memória, às vezes me sinto muito
desanimado, meu coração dispara e tenho muitos brancos, são as seqüelas que me
deixaram. Me aposentei nessas condições. Eu tive depressão e até hoje eu tenho.
Sabe o que é isso?Isso é doença de trabalho (...) O problema é que não tivemos
condições para trabalhar.” (Trab.21)
56
Através das informações obtidas, constatou-se que a saúde desse coletivo foi
sendo debilitada por condições de trabalho geradoras de processos de adoecimentos.
No grupo focal esse dado é percebido com clareza, sendo um aspecto que mobilizou
intensamente os participantes.
Dejours & Jayet (p.115, 1994), através das noções de trabalho prescrito e
trabalho real, apontam questões importantes a serem consideradas: entre o trabalho
prescrito e o trabalho real, ocorrem realidades distintas, que estão fora do controle
dos técnicos com demandas e significados próprios, que quando negadas, contribuem
para o não reconhecimento dos “fundamentos da comunicação, da discussão e da
negociação da organização real do trabalho...” (Grifos dos autores).
Conforme expressaram em seus depoimentos, os trabalhadores não tiveram
suas opiniões, medos e apreensões consideradas. Tal situação, promoveu perdas
significativas sobre a capacidade de negociação das condições de trabalho.
C) AS REPERCUSSÕES DOS AGROTÓXICOS NA SAÚDE
Por fim, estimulou-se a discussão entre os trabalhadores sobre as
repercussões dos agrotóxicos na saúde, na tentativa de se conhecer as manifestações
neurocomportamentais. Esse debate movimentou uma ação de reflexão e o resgate
das sensibilidades a tais processos, dando origem a novos territórios de vida.
Nos registros que se seguem, foram transpostos trechos do diálogo, nos
quais os argumentos construídos, permitiram uma melhor compreensão dos objetivos
buscados no estudo:
“Sabe como eu entendo isso agora?É como se me faltasse as fechaduras do
conhecimento, antes eu sabia fazer as coisas, hoje enxergo muitas dificuldades no
que estou fazendo, daí perco a vontade até de saber e fazer. Me falta uma coisa que
eu tinha e só agora passado um tempo, sei que não tenho mais (...) Me falta a
memória das coisas e das palavras.” (Trab.09)
57
Como essa, muitas outras falas, demonstraram a falta de reconhecimento
quanto às agressões à saúde que foram expostos esses trabalhadores. Conforme
observado anteriormente, a literatura sugere que na exposição aos OF podem ocorrer
seqüelas com amplas variações individuais e diferentes expressões cognitivas, sobre
as quais não se pode determinar a duração e a intensidade.
“Eu entrei na Fundação sem nada, agora sinto cansaço constante, tenho
pouca disposição, às vezes me sinto muito triste (...) Hoje eu tenho muitas
dificuldades para aprender as coisas. Como hoje tudo me poda eu vejo claramente
que antes eu não era assim (...) Tem sido muito bom falar sobre essas coisas porque
me fazem enfrentar essa luta que se repete todo dia.” (Trab.10)
“Minha vida mudou principalmente pelo lado emocional (...) Às vezes
tenho lapsos de memória, é como se minha memória se tornasse volátil e isso fosse
tomando conta do que eu estou fazendo (...) Isso tudo é o restinho da Fundação na
gente.” (Trab. 03)
“Se a doutora por uma prova no nível que eu estudei eu não vou conseguir
desenvolver. Eu não consigo mais acompanhar as coisas quando escrevo, é como se
quando eu escrevo o meu raciocínio não acompanhasse mais.” (Trab. 09)
As questões aqui apresentadas, refletem de variadas formas, algumas sutis,
outras não, algumas práticas, outras não, o modo como esses trabalhadores
perceberam as repercussões dos agrotóxicos, no interior e fora de seu ofício. De
acordo com Sen (2000), as estratégias criativas de sobrevivência, aparecem através
das escolhas dos trabalhadores em buscar novas formas de conhecimento,
comportamentos, negociações, conflitos, decisões, sentimentos e táticas para fazer
aparecer novas subjetividades. No dizer de Rolnik (p.38, 1996), intercessores que
possibilitam emergir diferenças ao “acolher o estranho em sua própria
subjetividade.”
É importante notar que os repertórios dessas subjetividades encontravam-se
associadas à capacidade de sobreviver a uma atividade de trabalho extremamente
precária, seja pela ausência da promoção da saúde, como também, na prevenção de
acidentes.
58
DISCUSSÃO
A posição da população estudada frente a determinadas questões, revelou
temas de convergência com as entrevistas semi-estruturadas (Anexo II) e as
discussões ocorridas no grupo focal, descritas a seguir.
Para melhor conhecer os problemas de saúde e os aspectos relacionados ao
uso dos agrotóxicos, foram selecionados pontos comuns entre estas fontes.
Ao relacionar os dados obtidos com as peculiaridades dos riscos e à
organização do trabalho, constatou-se que o perfil do grupo de trabalhadores
estudado aponta para uma população constantemente exposta aos agrotóxicos
(Tabela 2), sem que tivessem apoio técnico necessário para a manipulação dessas
substâncias. O conjunto desses fatores por si só dá indícios dos riscos aos quais
estavam submetidos esses trabalhadores.
Nos trabalhadores entrevistados não foi identificada nenhuma suspeita de
abuso de álcool. Foram levantados os dados quanto os tipos (cerveja, cachaça, vinho,
etc), e a freqüência (dias, semana, mês) sem referências significativas (Tabela 1).
Os resultados obtidos mostraram os efeitos que os agrotóxicos exercem
sobre SNC, com uma predominância das alterações neurocomportamentais que
podem se relacionar com o emprego dos OF às atividades de trabalho (Gráfico 1).
Após um longo período de exposição (Tabela 2) e um tempo de afastamento
significativo (Tabela 2), esses sintomas se mantêm presente nos relatos dos agentes.
Todos estes aspectos formam um quadro de morbidade que foram comparados
anteriormente, com outras pesquisas.
Os dados sobre o uso de medicamentos (Tabela 1), evidenciaram a presença
de quadros de depressão, ansiedade e alergias que podem ter relação com a
exposição crônica aos OF. Stallones & Beseler (2002), ao investigarem agricultores
expostos aos OF no estado do Colorado, encontraram particularmente, desordens de
ansiedade e depressão seguidos de mudanças no comportamento. Os depoimentos no
grupo focal reforçam esses dados.
59
Ao discutir a complexidade dessas repercussões, foi necessário recompor o
cenário de onde surgiram, na tentativa de acompanhar o fluxo desses acontecimentos.
A
escolha
da
técnica
do
grupo
focal,
possibilitou
trazer
à
tona
aspectos específicos dessa realidade. Os trabalhadores focalizaram aberta e
detalhadamente seus pontos de vista sobre as repercussões dos agrotóxicos na saúde
e de como essas questões não foram observadas pelos órgãos competentes. Este
momento foi determinante para visualizar situações importantes para o alcance dos
objetivos do estudo.
A situação dos agentes após a demissão (Tabela 2), assinala o desamparo
em que se encontram grandes partes dos agentes – “eu tive minha vida toda atingida
pelo o agrotóxico, não consegui mais trabalhar. Já tentei várias vezes mas passo
muito mal” (Trab. 01). Deve-se levar em consideração, que os mecanismos sutis da
exposição aos OF, aparecerem circunscritos nas queixas variadas de mal estar que,
em alguns casos, impedem os trabalhadores de se reestruturam produtivamente na
sociedade.
Essa realidade trouxe como conseqüência para alguns desses agentes
(Tabela 2), poucas perspectivas de se inserirem outra vez no mercado de trabalho, ao
perceberem suas vidas como sendo “descartáveis e sem o vigor da juventude” –
“contrataram a gente na melhor época da nossa vida. No auge da juventude.
Contrataram a gente e depois jogaram fora como se fossemos descartáveis” (Trab.
18).
Um dos desafios do estudo foi aproximar os dispositivos diretamente
ligados à atividade de trabalho e seus impactos na saúde, que como constado,
buscavam ser contemplados. A configuração desses dispositivos aparece na fala de
um agente ao se sentir privado do conhecimento – “é como se me faltasse às
fechaduras do conhecimento”(Tr.09). Essa frase denuncia os agravos à saúde
relacionada ao trabalho. Faltam-lhe as “fechaduras do conhecimento”, essa visão
questionadora traz visibilidade para a progressiva banalização da utilização de
produtos químicos sem que os expostos, estejam alertados sobre os seus potenciais
danos.
60
Associa-se a isso, o desgaste mental por não terem tido seus direitos
trabalhistas resguardados, citados como: benefício previdenciário não depositado,
exame demissional não realizado, ausência de EPIs e vínculo temporário, com
atividades de trabalho, claramente nocivas e inadequadas para saúde. Os vários
depoimentos descrevem um ciclo de agressão à saúde que se estendeu por muitos
anos (Tabela 2).
Nos depoimentos no grupo ficou evidente o desconhecimento da
classificação química dos agrotóxicos, em relação ao grau de toxicidade ou à
formulação do produto. Após um longo período de exposição, os trabalhadores foram
confrontados com a influência e os efeitos dos agrotóxicos na saúde. Nas palavras de
um trabalhador, “ eu fiquei intoxicado sem saber bem como, eu não sabia que aquele
produto fazia mal para saúde. Só depois de um tempo começaram os problemas e
ninguém sabia me dizer o que eu tinha, havia um desconhecimento até para quem me
atendia. Ninguém sabia lidar com a situação terrível que eu estava vivendo. Hoje, se
me dessem milhões, eu não queria voltar para aquilo de jeito nenhum.” (Trab.1)
Como contribuição à reversão desse modelo insustentável, procurou-se,
neste trabalho, priorizar as informações do trabalhador sobre o processo de trabalho e
os conflitos relacionados com a exposição aos OF. A ênfase nessa direção faz-se
necessário, pois pode viabilizar medidas concretas de prevenção de agravos à saúde
do trabalhador. Nesse contexto, argumenta Sato (2002), é
necessário que se
equacione a participação do trabalhador, buscando com o seu conhecimento e
subjetividade, referências para materializar intervenções fundamentais, nas
condições e organização do trabalho.
Assim, ao configurar as situações que caracterizaram a exposição
ocupacional aos agrotóxicos relacionou-se o rastro silencioso e por vezes, obstáculo
para a investigação, como no dizer de um trabalhador: “não consigo mais reproduzir
nada, não consigo imaginar (...) As pessoas ficam zangadas porque a gente não
lembra, eu não lembro é porque apaga mesmo” (Trab.07). Essas referências
engendram riscos cada vez mais complexos e dinâmicos como as referências de
sintomas citados: lapsos de memória, tristeza, cansaço, depressão, dificuldade para
apreender novos conhecimentos, alteração no comportamento, etc. (Gráfico 1). Em
61
muitos casos, a “inespecificidade” dos sintomas não encontra um canal expressivo no
trabalho, nos serviços de saúde e na vida desses trabalhadores.
Acrescenta-se a esse estudo, um ponto importante: a combinação de
métodos quantitativos e qualitativos permitiu abranger aspectos da exposição que
demandam diferentes enfoques por revelaram “outros modos de existencialização,
outros contextos de produção de subjetividades, outras línguas para outros afetos,
outros modos de experimentar” (Barros, 1997). Construiu-se coletivamente, outros
modos de singularizar os eventos em análise: “um outro lado da faceta no grupo me
despertou uma coisa: tenho que reagir (...) eu resolvi que vou voltar a estudar com
os poucos recursos que tenho. Do que sobrou dessa história toda...” (Trab.12)
Assim como todo sistema vivo, o trabalhador também se defende quando
seu equilíbrio se perturba. Às vezes negando os riscos, outras sobrevivendo a eles.
Essa capacidade de resistir ou de sobreviver aos riscos na exposição ocupacional cria
percursos extremamente complexos. As manifestações crônicas, a baixos níveis de
OF, são exemplos dessa complexidade. Esses efeitos de exposições contínuas estão
bem relacionados na literatura, sendo caracterizados por mudança de humor e
comportamento, alterações emocionais, dificuldades em relação a memória,
concentração, atenção e uma variedade de seqüelas psiquiátricas como depressão e
fobias (Albers et al., 2004; Salvi et al., 2003; Gershon & Shaw, 1961).
No caso dos Agentes de Saúde em questão, após anos de exposição aos OF,
os dados coletados, apontam para um perfil de morbidade que revela a
vulnerabilidade desse grupo frente aos riscos decorrentes do processo de trabalho. Os
registros vivos de suas
histórias de trabalho fizeram aparecer pensamentos e
sentimentos sintonizados com esses riscos: “Eu mudei muito mesmo. Hoje sou muito
lento, eu estou muito devagar, tenho vontade de buscar as coisas, mas tenho
dificuldades com a minha memória, eu não tenho disposição física e mental, é como
se uma tristeza tomasse conta de mim.” (Trab.06)
A propósito, esses aspectos estão de acordo com o estudo de Damásio (p.
149, 2004), sobre os sentimentos. Para o autor, os sentimentos têm a capacidade de
antevisão e previsão dos problemas, inclusive os relativos a formas complexas de
adoecimentos por serem “os sensores mentais do interior do organismo, as
62
testemunhas do estado da vida. Os sentimentos podem também ser sentinelas, dados
que permitem ao nosso self que tome conhecimento do estado da vida no
organismo,(...) Referem-se mais imediatamente à harmonia e ao desacordo que
acontecem no interior do corpo” (Grifo em negrito nossos).
As manifestações crônicas, que aqui foram discutidas e comparadas,
atingem principalmente, a região do SNC, apinhada de núcleos e circuitos que
apóiam as mais diversas funções. Alguns desses núcleos são minúsculos, e teria
bastado uma variação mínima da anatomia habitual para que a corrente elétrica
passasse através de uma zona diferente daquela onde se destinava. Nessa perspectiva,
as pesquisas apresentadas anteriormente, destacam que diferentes formas de
acetilcolinesterase são encontradas em várias regiões do cérebro, sendo portanto
sensíveis em larga escala aos produtos químicos, entre eles, os compostos
organofosforados (Feldman, 1998).
O que a natureza levou milhões de anos para aperfeiçoar – os dispositivos
automáticos da homeostasia – responsáveis pelo o equilíbrio de diversas funções e
composições químicas do corpo, o homem, através do emprego das substâncias
neurotóxicas, dispõe de um curto período de tempo para violar.
Essa concepção equivocada da natureza humana tem tido inúmeras
conseqüências negativas, a saber: um desrespeito pelos aspectos da regulação da
vida, uma incapacidade de reconhecer que a tecnologia empregada no exercício de
certas práticas geram um nível elevado de complexidade, como é o caso das
repercussões neurocomportamentais, que dependendo da suscetibilidade individual
de cada um, pode reverberar “na memória das coisas e das palavras” (Trab.09).
As sintomatologias “inespecíficas” como perda progressiva de memória,
comportamentos alterados, fadiga, tristeza, etc, que podem ser decorrentes dos
efeitos neurotóxicos dos OF, põem em risco populações mais suscetíveis, como
crianças, gestantes, idosos e trabalhadores que aplicam estes produtos.
Outro grave problema, diz respeito a importância dessas questões para a
saúde pública. Nas entrevistas, a maioria relata o descaso por parte dos gestores, dos
riscos associados a essa exposição. Isto leva a uma outra reflexão: a intensificação
63
desses agravos nos processos de trabalho em saúde. Os dados assinalam, para uma
certa homogeneidade desfavorável das condições de trabalho e de vida dos próprios
trabalhadores, que estão prestando esse serviço. Esta situação não tem sido
devidamente investigada, o que demonstra a ausência de uma política de precaução
voltada para a saúde desses trabalhadores.
Conforme observado em algumas situações, a complexidade das
repercussões neurocomportamentais provocam diferentes vias de agressões à saúde
entre elas, a exclusão social como conseqüência da dificuldade de reinserção no
mercado de trabalho. O depoimento de um trabalhador revela de modo contundente
esta questão: “eu não tenho dinheiro e não tendo dinheiro não tenho posição
positiva na sociedade (...) eu tenho meus medos, minha fragilidade me desespera,
mas tenho esperança de sair desse buraco” (Trab. 01).
A combinação de métodos permitiu que as informações fossem discutidas e
disponibilizadas entre os participantes do estudo. Nessa perspectiva, certos
dispositivos foram versados e compartilhados. A experiência de vida dos
trabalhadores, a procura árdua por estratégias que restaurem a saúde perdida, lhes
conferindo modos singulares e coletivos de exercer a vida, mesmo em circunstâncias
tão adversas.
Cabe ainda sinalizar, voltando-se a questão central do estudo – os
agrotóxicos e as repercussões neurocomportamentais – a importância de se buscar
outros “domínios sentinelas”, conforme proposição de Damásio (2004) e Tambellini
(2002), que possam permitir ações e abordagens mais integradoras para o campo da
saúde pública.
64
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta desse estudo foi levantar pontos relacionados ao uso dos
agrotóxicos e suas implicações no processo saúde/doença enfatizando as
repercussões neurocomportamentais. O estudo traz informações importantes ao
reunir dados sobre as atividades de trabalho, a partir dos próprios trabalhadores –
Agentes de Saúde Pública envolvidos nas ações de controle de vetores no município
do Rio de Janeiro.
O objetivo do estudo fez com que se abordasse o processo de trabalho, na
expectativa de conhecer em maior profundidade como as condições de trabalho
atuam sobre tais repercussões. As informações descritas foram essenciais para a
determinação dos efeitos adversos do trabalho nas condições de saúde dos agentes.
No grupo focal, os discursos dos agentes revelaram condições de trabalho
que se caracterizavam por práticas claramente insalubres. O quadro se agravou ainda
mais, por não terem sido tomadas medidas de segurança, treinamento e proteção dos
efeitos nocivos à saúde, dada a situação de trabalho, envolvendo o uso de substâncias
neurotóxicas.
Com isso, coloca-se como uma questão central, as parcerias com os
trabalhadores de saúde, a fim de estabelecer novas estratégias que colaborem para as
transformações do trabalho em favor da saúde. Essa perspectiva de veicular tais
parcerias, que muitas vezes não figuram como prioridade, possibilitam o
estabelecimento de ações de saúde preventivas e integradas com o trabalho e a vida.
No decurso de construção desse estudo, os protagonistas em questão,
deflagraram um novo dispositivo de desenvolvimento do trabalho: uma ação
mobilizada pela experiência de confronto e explicitação das vivências do trabalho no
grupo focal. O fato de se sentirem acolhidos e escutados convergiu em um espaço de
discussão e reflexão voltado para o fortalecimento dos vínculos de confiança e
respeito à vida. Este espaço vem sendo exercido no ambulatório de saúde ambiental e
ocupacional (Toxicologia Clínica) na Universidade Federal do Rio de Janeiro –
Hospital Universitário Clementino Fraga Filho no município do Rio de Janeiro.
65
Além disso, o estudo procurou colocar em evidência a anamnese psicológica
e neurocomportamental (anexo II), como um screening específico para o contexto
dos sintomas referentes à exposição ocupacional aos agrotóxicos. Sua aplicação nos
serviços de saúde pode ser útil para levantar hipóteses diagnósticas da exposição a
substâncias químicas no trabalho.
Os achados dos questionários se mostraram sensíveis quando comparados
com outras pesquisas, apontando dados significativos em relação as repercussões
neurocomportamentais na exposição por longos períodos aos agrotóxicos. No
entanto, para uma análise mais completa dos resultados, é necessário que se
incorpore diferentes saberes, articulando a clínica, a neurologia, a enfermagem, a
psicologia e o saber do trabalhador.
Os estudos reforçam que a exposição a um composto OF pode produzir
sintomas neuropsiquiátricos e neurocomportamentais de várias ordens e que embora
silenciosos e quase imperceptíveis, costumam causar grandes danos. Portanto, este
trabalho coincide com os resultados de pesquisas e levantamentos institucionais
anteriores, ao observar a presença de alterações na memória, concentração,
aprendizagem, ansiedade, depressão, fobias, fadiga crônica, entre outros. Os dados
obtidos também demonstram a necessidade de que se elabore outros parâmetros
científicos para monitorar a exposição crônica (Salvi, 2003; Sato, 2002; Ray &
Richards, 2001).
Considerando as dificuldades de estabelecer o nexo com o trabalho e a
exposição aos agrotóxicos é fundamental: capacitar os profissionais dos serviços de
saúde para que considerem a importância da situação de trabalho como um dos
determinantes no processo saúde/doença; reestruturar os sistemas de informações em
saúde, envolvendo um sistema de vigilância epidemiológica com notificação dos
casos com suspeita de relação com o trabalho.
A partir destas considerações e levando em conta a diversidade dos
problemas
em
relação
ao
uso
dos
agrotóxicos
e
as
repercussões
neurocomportamentais, sugere-se medidas que possam favorecer ações que
considerem o potencial de risco e os agravos à saúde gerados da utilização dos
agrotóxicos no cotidiano de trabalho. Diante destes fatos, recomenda-se:
66
¾ Realizar grupos focais visando o acolhimento, a escuta, o
acompanhamento e a troca de informações através da participação
ativa dos trabalhadores;
¾ Definir protocolos neurocomportamentais que identifiquem as
formas “subclínicas” da exposição ocupacional aos agrotóxicos
possibilitando o atendimento adequado do trabalhador;
¾ Investir em cursos de capacitação para os profissionais de saúde na
área
de
neurotoxicologia,
considerando
a
abordagem
das
repercussões neurocomportamentais na exposição aos agrotóxicos;
¾ Viabilizar espaços de atuação multiprofissional que facilitem a
transmissão
das
informações
e
a
complementaridade
de
conhecimentos objetivando à melhoria da qualidade de vida e
fortalecimento do potencial de saúde desses trabalhadores;
¾ Em vista das características dos agravos à saúde, devem ser levadas
em consideração pelos gestores e profissionais de saúde, medidas que
agilizem o atendimento e as demandas das populações expostas
As inquietações desencadeadas pelo estudo não se encerram aqui, pois a
procura de outros dispositivos para o trabalho e a saúde continua a espera de
territórios que promovam a dignidade humana e que considere cada trabalhador,
aberto para a invenção de novas possibilidades de vida.
67
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, M. E. Falta de equipamento causou intoxicação em agentes da FNS. O
GLOBO. Rio de Janeiro, 3 de maio de 1998.
ALBERS, J. W.; GARABRANT, H.; SCHWEITZER, S. J; GARRISON, R. P.;
RICHARDSON, R.J.; BERENT, S., 2004. The effects of occupational exposure to
chlorpyrifos on the peripheral nervous system: a prospective cohort study.
Occupational and Environmental Medicine, 61:201-211.
AMORIM, M., 2003. A Homeopatia na Prevenção das Doenças de Origem
Ambiental por Agrotóxicos: Um estudo de Caso com Engenheiros Agrônomos e
Técnicos Agrícolas. Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro: Núcleo de Estudos de
Saúde Coletiva, Universidade Federal do rio de Janeiro.
AMR, M. M.; HALIM, Z. S.; MOUSSA, S. S., 1997. Psychiatric disorders among
Egyptian pesticide applicators and formulators. Environmental Research, 73:193199.
ANTLE, J. M.; PINGALI, P.L., 1994. Pesticides, productity, and farmer health: A
Philippine case study. American Journal of Agricultural Economics, 76: 418-430.
ATSDR (Agency for Toxic Substances and Disease Registry), 2001. Toxicological
Profile for Malathion. ATSDR. [online] Set. 2001. Disponível na World Wide Web:
http://www.atsdr.cdc.go/toxprofiles/tp154.html/. [14 Set.2004].
AUGUSTO, L. G. S.; FREITAS, C. M., 1998. O Princípio da Precaução no uso de
indicadores de riscos químicos ambientais em saúde do trabalhador. Rio de Janeiro,
Ciência & Saúde Coletiva, 3(2):85-95.
AUGUSTO, L. G. S.; NOVAES, T. C. P.; ABRAHÃO, C. E. C; PAVÃO, C. A
SOUZA, A. C., 2000. Avaliação crítica do programa de erradicação do Aedes
aegypti: contribuições técnicas para medidas de controle. Recife, Revista do IMIP,
14(1):90-97.
BALDI, I.; FILLEUL, L.; MOHAMMED-BRAIHM, B.; FABRIGOULE, C.;
DARTIGUES, J. F.; SCHWALL, S.; DREVET, J. P.; SALAMON, R.;
BROCHARD, P., 2001. Neuropsychologic effects of long term exposure to
pesticides : results from the French Phytoner study. Environmental Health.
Perspectives, Vol 109, (8) pags. 839-844.
BARROS, R. D. B., 1994. Grupo: A Afirmação de um Simulacro. Tese de
Doutorado, São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
____,2001. Grupo: estratégia na formação. In: Athayde, M.; Barros, M. E.; Brito, J.;
Neves, M. Y. (orgs.). Trabalhar na escola? “Só inventando o prazer” . Rio de Janeiro:
Edições IPUB/CUCA, 2001.
68
____, 1997. Dispositivos de ação: o grupo. In: Silva, A. E.; Abbês, C. B. N.; Rauter,
C.; Passos, E.; Barros, R. B.; Josephson, S. C. (orgs.). Saudeloucura – Subjetividade
– Questões contemporâneas nº 6. São Paulo: Editora HUCITEC, 1997.
BRAIT, B., 1982. Guimarães Rosa – seleção de textos, notas, estudos biográfico,
histórico e crítico e exercícios – Literatura comentada. São Paulo: Abril Educação,
1982.
BRANDÃO, J. S., 1991. Dicionário mítico-etimológico da mitologia grega. Petrópolis,
RJ: Vozes,1991.
BRITO, J., 2004. Saúde do trabalhador: reflexões a partir da abordagem ergológica.
In: Figueiredo, M.; Athayde, M.; Brito, J.; Alvarez, D. (orgs.). Labirintos do
trabalho: interrogações e olhares sobre o trabalho vivo. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.
BESELER, M. S.; STALLONES, L., 2003. Safety practices, neurological symptoms,
and pesticide poisoning. Journal of Occupational and Environmental Medicine,
45:1079-1086.
BION, W. R., 1970. Experiências com grupos. São Paulo: Editora da Universidade
de São Paulo, 1970.
BLEGER, J., 1993. Temas de Psicologia: entrevistas e grupos. São Paulo: Editora
Martins Fontes, 1993.
BOURDIEU, P., 2001. A ordem das coisas. In: Bourdieu, P. (coord.). A miséria do
mundo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
BRANT, L. C.; DIAS, E. C., 2004. Trabalho e sofrimento em gestores de uma
empresa pública em reestruturação. Rio de Janeiro, Cadernos de Saúde Pública,
16(4):942-949.
CÂMARA NETO, H. F., 2000. Condições Sanitárias do Ambiente Urbano e uso de
Pesticida Doméstico: Implicações para a saúde. Dissertação de Mestrado, Recife:
Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz.
CARLINI-COTRIM, B. 1996. Potencialidades da técnica qualitativa grupo focal em
investigações sobre abuso de substâncias. São Paulo, Revista de Saúde Pública,
30(3): 285-93.
CARLTON, F. B.; SIMPSON, W. M. & HADDAD, L. M., 1998. The
organophosphate and other insecticides. In: Haddad, L.M., Shannon, M.W.,
Winchester, J.F. (ed.). Clinical Management of Poisoning and Drug Overdose,
Philadelphia, Pennsylvania, USA. WB Saunders Company, 3rd , pp. 836-850.
CARSON, R., 1964. Primavera silenciosa. São Paulo: Editora Melhoramento, 1964.
69
CARTER, R., 2003. O Livro de ouro da mente – o funcionamento e os mistérios do
cérebro humano. Rio de Janeiro: Editora Ediouro, 2003.
CAVALCANTI, M. 2003. Manifesto dos servidores da FUNASA contaminados por
produtos
químicos.
[on-line]
Disponível
na
World
Wide
Web:
http://www.ikhon.com.br/mozarildo/noticiageral.asp.htm/ Acesso em 10 Junho/2004.
COSTA, A. M., 1994. História de saneamento no Brasil. Dissertação de Mestrado,
Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz.
DAMÁSIO, A. R., 1995.O erro de Descartes – emoção, razão e cérebro humano.
Portugal: Publicações Europa – Americana Ltda, 1995.
____, 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. São
Paulo: Companhia das Letras, 2004.
DAVIES, D. R.; AHMED, G. M; FREER T., 2000. Chronic exposure to
organophosphates: diagnosis and management. Advances in Psychiatric Treatment,
6:356-361.
____, 2000. Chronic exposure to organophosphates: background and clinical picture.
Advances in Psychiatric Treatment, 6:187-192.
DEJOURS, C., 1994. A carga psíquica do trabalho. In: DEJOURS, C.;
ABDOUCHELI, E. & JAYET, C. (org.). Psicodinâmica do trabalho - Contribuições
da escola Dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho. São Paulo:
Atlas, 1994.
DEJOURS, C.; JAYET, C., 1994. Psicopatologia do trabalho e organização real do
trabalho em uma indústria de processo: metodologia aplicada a um caso. In:
DEJOURS, C.; ABDOUCHELI, E. & JAYET, C. (org.). Psicodinâmica do trabalho
- contribuições da escola dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e
trabalho. São Paulo: Atlas, 1994.
DEUDOS DE TAUCCAMARCA INICIAN DENUNCIA CIVIL CONTRA LA
BAYER, 2002. [on-line] Disponível na World Wide Web: http://www.rapal.org/boletin/enlace%2054-2.html/. Acesso em 30 de Julho/2004.
ECOBICHON, D. J., 1999. Neuropsychological and behavioral assessment. In:
Ecobichon, D. J. Occupational hazards of pesticide exposure. Philadelphia. Taylor&
Francis, 209-227.
ELLENHORN, M. J., 1997. Ellenhorn’s medical toxicology: diagnostic and
treatment of human poisoning. Baltimore, William & Wilkins, 1997.
EYER, P., 1995. Neuropsychopathological changes by organophosphorus
compounds - A review. Human & Experimental Toxicology, 14: 857-864.
70
FALK, J.W.; CARVALHO, L.A.; SILVA, L.R.; PINHEIRO, S., 1999. Suicídio e
doença mental em Venâncio Aires-RS: conseqüência do uso de agrotóxicos
organofosforados? Relatório Preliminar de Pesquisa.
FARAHAT, T.M.; ABDELRASOUL, G. M.; AMR, M. M.; SHEBL, M. M. ;
FARAHAT, F. M.; ANGER, W. K., 2003. Neurobehavioural effects among workers
occupationally exposed to organophosphorous pesticides. Occupational &
Environmental Medicine, 60:279-286.
FARIA, N. M. X.; FACCINI, A. A.; FASSA, A. G.; TOMASI, E., 2000. Estudo
transversal sobre saúde mental de agricultores da serra gaúcha. Rio de Janeiro,
Cadernos de Saúde Pública, 16:115-28.
FELDMAN, R. G., 1999. Occupational and environmental neurotoxicology.
Philadelphia - New York, Lippincott – Raven Publishers, 1999.
FIGUEIREDO, M.; ATHAYDE, M., 2004. Coletivos de trabalho e componentes
subjetivos da confiabilidade em sistemas sociotécnicos complexos: considerações a
partir da situação de trabalho em mergulho profundo na Bacia de Campos/RJ. In:
Figueiredo, M.; Athayde, M.; Brito, J.; Alvarez, D. (orgs.). Labirintos do trabalho:
interrogações e olhares sobre o trabalho vivo. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.
FOUCAULT, M., 1984 . História da sexualidade I – A vontade de saber. Rio de
Janeiro: Editora Graal, 1984.
____, 1984. História da sexualidade II – O uso dos prazeres. Rio de Janeiro: Editora
Graal, 1984.
____, 2004. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.
FURTADO, T., 1998. Química do suicídio. Atenção Brasil. 6:32-4.
GALLARDO, R. L.,1986. La información sobre plaguicidas y sus repercusiones
sobre la sociedad, el ambiente y la salud. São Paulo, Revista Brasileira de Saúde
Ocupacional, 14(56):41-47.
GARCIA, E., 1996. Segurança e saúde no trabalho rural com agrotóxicos:
contribuição para uma abordagem mais abrangente. Dissertação de Mestrado, São
Paulo: Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo.
GARCIA, O. A., 1986. Psicodrama. In: Osório, L. C. (col.). Grupoterapia hoje. Porto
Alegre: Editora Artes Médicas,1986. pp. 203 -229.
GERSHON, S.; SHAW, F.H., 1961. Psychatric sequelae of chronic exposure to
organophosphorous insecticides. Lancet, I:1371–1374.
GIRARDI, G., 2002. A última colheita. Revista Galileu, 133:24-31.
71
GOOD, J. L.; KHURANA, R. K.; MAYER, R. F.; CINTRA, W. M.;
ALBUQUERQUE, E. X., 1993. Pathophysiological studies of neuromuscular
function in subacute organophosphate poisoning induced by phosmet. Journal of
Neurology, Neurosurgery and Psychiatry, 56: 290-294.
GUATTARI, F.; ROLNIK, S., 1986. Micropolítica: cartografias do desejo.
Petrópolis: Vozes, 1986.
GURGEL, I. G. D., 1998. Repercussão dos agrotóxicos na saúde dos agentes de
saúde pública em Pernambuco. Dissertação de Mestrado, Recife: Centro de
Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz.
HARTMAN, D. E., 1988. Neuropsychological toxicology: identification and
assessment of human neurotoxin syndromes. Chicago, USA: Pergamon Press, 1988.
IZQUIEDO, I., 2004. A arte de esquecer. Rio de Janeiro: Editora Vieira & Lent,
2004.
JAMAL, G. A.; HANSEN, S.; PILKINGTON, A.; BUCHANAN, D.; GILLHAM, R.
A.; ABDEL-AZIS, M.; JULU, P. O. O.; AL-RAWAS, S. F.; HURLEY, F.;
BALLANTYNE, J. P., 2002. A clinical neurological, neurophysiological, and
neuropsychological study of sheep farmers and dippers exposed to organophosphate
pesticides. Occupational Environmental Medicine, 59:434-441.
KARALLIEDD, L., 1999. Organophosphorous poisoning and anesthesia. Anesthesia,
54(11):1073-1088.
KARALLIEDD, L.; HENRY, J.A., 1993. Effect of organophosphorus on skeletal
muscles. Human Exposure Toxicology, 12: 289-296.
KLAASSEN, C. D., 2003. Tóxicos ambientais não – metálicos: poluentes
atmosféricos, solventes, vapores e pesticidas. In: Goodman, A. G. (org). As Bases
Farmacológicas da Terapêutica. Rio de Janeiro: Editora Mcgraw Hill do Brasil, pp.
1409 – 1428,10ed , 2003.
KLEIN, C. H.; BLOCH, K. V., 2002. Estudos seccionais. In: Medronho, R. A;
Carvalho, D. M.; Bloch, K. V.; Luiz, R. R.; Werneck, G. L. (editores).
Epidemiologia. São Paulo: Editora Atheneu, 2002.
KOLB, B.; WHISHAW, I. Q., 1990. Fundamentals of human neuropsychology. (3ed
Ed). New York: W. H. Freeman & Co, 1990.
KORSAK, R. J.; SATO, M. M., 1977. Effects of chronic organophosphorus pesticide
exposure on the central nervous system. In: Clinical Toxicology, 11(1):578-585.
KOHN, D.; JEYARATNAM, J. 1996. Pesticides hazards in developing countries.
The Science of the total Environmental, 188(1):83-95.
LEON, F. E.; PADILLA, G.; VESGA, E., 1996. Neurological effects of
organophosphate pesticides. British Medical Journal, 313: 690-691.
72
LEVIGARD, Y. E., 2001. A Interpretação dos profissionais de saúde acerca do
nervoso no meio rural – Uma aproximação ao problema das intoxicações por
agrotóxicos. Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde
Pública, Fundação Oswaldo Cruz.
LEVIGARD, Y. E.; ROZEMBERG, B., 2004. A interpretação dos profissionais de
saúde acerca das queixas de “nervos” no meio rural; uma aproximação ao problema
das intoxicações por agrotóxicos. Rio de Janeiro, Cadernos de Saúde Pública, 20(
6):1515-1524.
LEVIN, H.S.; RODNITZKY, R.L., 1976. Behavioral effects of organophosphate
pesticides in man. Clinical Toxicology, 9(3):391-405.
LEZAK, M. D., 1995. Neuropsychological assessment. 3rd. New York, Oxford:
University Press, 1995.
LEWIN, K., 1973. Problemas de dinâmica de grupo. São Paulo: Editora Cultrix,
1973.
LOTTI, M.; MORETTO, A.; BERTOLAZZI, M.; PERAICA, M.; FIORONI, F.,
1995. Organophosphate polyneuropathy and neuropathy target esterase: studies with
methamidophos and its resolved optical isomers. Archives of Toxicology, 69:330336.
LURIA, A. R., 1981. Fundamentos de neuropsicologia. São Paulo: Editora
Universidade de São Paulo, 1981.
MACARIO, E. M. , 2001. Complexidade e riscos no uso de agrotóxicos na
agricultura: novas perguntas para velhas questões. Dissertação de Mestrado, Recife:
Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz.
MARTINS, R. B., 1986. Contribuições de Freud à psicoterapia de grupo. In: Osório,
L. C. (col.). Grupoterapia Hoje. Porto Alegre: Editora Artes Médicas,1986. pp. 43 56.
MENDES, R., 1995. Patologia do trabalho. Rio de Janeiro: Editora. Atheneu, 1995.
MENEGON, V. M., 1999. Porque jogar conversa fora? Pesquisando no cotidiano. In:
Spink, M. J.(org). Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano:
aproximação teóricas e metodológicas. São Paulo: Cortez editora, 1999.
MERCADO-MARTINEZ, F. J.; BOSI, L. M., 2004. Introdução: notas para o
debate. In: Bossi, L. M. & Mercado, F. J. (orgs.). Pesquisa qualitativa de serviços de
saúde. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2004. pp. 23-71.
73
MERCADO-MARTINEZ, F. J., 2004. O processo de análise qualitativa dos dados
na investigação sobre serviços de saúde. In: Bossi, L. M. & Mercado, F. J. (orgs.).
Pesquisa qualitativa de serviços de saúde. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2004. pp.
137-174.
MERCADO-MARTINEZ, F. J., HERNÁNDEZ, E. C. G. A.; TAYABAS, L. M. A.
T.; FLORES, N. L.; FLORES, A. S., 2004. O atendimento médico aos doentes
crônicos no México – Quais as diferenças entre a perspectiva dos médicos, das
enfermeiras e das pessoas doentes?. In: Bossi, L. M. & Mercado, F. J. (orgs.).
Pesquisa qualitativa de serviços de saúde. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2004. pp.
363-400.
MILLER, C. S.; MITZEL, H. C., 1995. Chemical sensitivity attributed to pesticide
exposure versus remodeling. Arch Environ Health, 50:119-29.
MILNER, B.,1964. Some effects of frontal lobectomy in man. In: WARREN, J.M.;
AKERT, K. (orgs). The frontal granular cortex and behavior. New York: McGrawHill, 1964.
MINAYO, M. C. S., 1992. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em
saúde. São Paulo-Rio de Janeiro:Edições Abrasco- Hucitec, 1992.
MINAYO, M. C. S.; SANCHES, O. , 1993. Quantitativo – Qualitativo: oposição ou
complementariedade? Rio de Janeiro, Cadernos de Saúde Pública, 9(3):237-248.
MORAES, A. C. L., 1999. Contribuição para o estudo da intoxicação humana por
carbamatos: o problema do “chumbinho” no Rio de Janeiro. Dissertação de
Mestrado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo
Cruz.
MORGAN, D. P., 1998. Recognition and management of pesticide poisoning. In:
Environmental Protection Agency EPA. 540/9-88-001. 4th. Washington, Dc:Us.
MS (Ministério da Saúde), 1997. Norma Operacional básica do Sistema Único de
Saúde – SUS, NOB- SUS 01/96 (Publicada no D.O.U de 6/11/1996). Brasília Janeiro
de 1997.
MUZA, G. M.; COSTA, M. P., 2002. Elementos para a elaboração de um projeto de
promoção à saúde e desenvolvimento dos adolescentes – o olhar dos adolescentes.
Rio de Janeiro, Cadernos de Saúde Pública, 18( 1):321-328.
NAMBA, T.; NOLTE, C. T.; JACKREL, J.; GROB, D., 1971. Poisoning due to
organophosphate insecticides: acute and chronic manifestations. The American
Journal of Medicine, 50:475-492.
NAVA, M. E.; ROMÁN, P. P.; ROBLES, S. H.; ALVARADO, L. M., 1999.
Sintomatología persistente en trabajadores industrialmente expuestos a plaguicidas
organofosforados. Salud Publica Mex., 41(1):55–61.
74
NETHERCOTT, J. R.; DAVIDOFF, L.L.; CURBOW, B. 1993. Multiple chemical
sensitivities syndrome: towards a working case definition. Achieves of
Environmental Health, 48(1):19-26.
NITRINI, R.; CARAMELLI, P.; MANSUR, L. L., 1996. Neuropsicologia: das bases
anatômicas à reabilitação. São Paulo, Clínica Neurológica do Hospital das Clínicas
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 1996.
ODDONE, I.; MARRI, G.; GLORIA, S.; BRIANTE, G.; CHIATTELLA, M. & RE,
A., 1986. Ambiente de trabalho: a luta dos trabalhadores pela saúde. São Paulo:
Editora Hucitec, 1986.
OLIVEIRA-SILVA, J. J.; ALVES, S. R.; MEYER, A.; PEREZ, F.; SARCINELLI,
P. N.; MATTOS, R. C. O. C.; MOREIRA, J. C., 2001. Influência de fatores
socioeconômicos na contaminação por agrotóxicos. São Paulo, Revista de Saúde
Pública, 35(2):130-135.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1999. Divisão de controle de doenças
tropicais.
[online]
Disponível
na
World
Wide
Web:
http://www.who.int/infs/fact117.htm/. Acesso em 8 de julho/2004.
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE/ORGANIZAÇÃO MUNDIAL
DE SAÚDE, 1997. Manual de vigilância da saúde de população expostas a
agrotóxicos. Brasília. Representação do Brasil.
PACHECO-FERREIRA, H., 2003. Monitoramento da saúde humana na vigilância
ambiental em saúde. In: Barbosa, E. M. (org.). A saúde na gestão ambiental. Rio de
Janeiro: Editado pela Gerência de Saúde da Gerência Executiva de Segurança, Meio
Ambiente e Saúde, PETROBRAS, 2003. pp. 314-328.
PACHECO-FERREIRA, H.; CARVALHO, L.A, 2005. Monitoramento clínico e
neurológico dos profissionais do Grupo Hospitalar Conceição expostos agudamente
ao agrotóxico clorpirifós em junho de 1999. Relatório Técnico.
PACHECO-FERREIRA, H.; FILHOTE, M. I. F.; HAIKEL, S.; NORONHA, C.;
CARVALHO, T. A., 2000. Monitoramento dos riscos e efeitos a saúde de agentes
comunitários expostos ocupacionalmente aos organofosforados: estudo ocupacional,
clínico e neuropsicológico. Rio de Janeiro, Cadernos Saúde Coletiva, 8(1):27-38.
PAHO/WHO (Pan American Health Organization/World Health Organization),
1993. Pesticides and health in the Americas. Washington: WHO.
PALACIOS-NAVA, M.E.; PAZ-ROMÁN, P.; HERNADEZ-ROBLES, S.;
MENDONZA-ALVARADO, L., 1999. Sintomatologia peresistente em trabajadores
industrialmente expuestos a plaguicidas organofosforados. Salud Publica de México.
41(1):55-61.
75
PERES, F., 1999. É Veneno ou é Remédio? Os desafios da comunicação rural sobre
agrotóxicos. Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde
Pública, Fundação Oswaldo Cruz.
PERES, F.; MOREIRA, J. (org.), 2003. É veneno ou é remédio? Agrotóxicos, saúde
e ambiente. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2003.
PICHON-RIVIÈRE, E., 1998. O processo grupal. São Paulo: Editora Martins Fontes,
1998.
PIRES, D. X.; CALDAS, E. D.; RECENA, M. C. P., 2005. Intoxicações provocadas
por agrotóxicos de uso agrícola na microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul,
Brasil, no período de 1992 a 2002. Rio de Janeiro, Cadernos de Saúde Pública,
21(3):804-814.
PORTO, M. F.; FREITAS, C. M., 1997. Análise de riscos tecnológicos ambientais:
perspectivas para o campo da saúde do trabalhador. Rio de Janeiro, Cadernos de
Saúde Pública, 13( supl.2):59-72.
RAHDE, A. F., (Org.); THIESEN, F. V.; RAHDE, M. B. F.; SALVI, R. M.;
SOUZA, V. B. A., 1994. Multifaces da toxicologia I. Porto Alegre: EDIPUCRS,
1994.
RATEY, J. J., 2002. O cérebro – um guia para o usuário: como aumentar a saúde,
agilidade e longevidade de nossos cérebros através das mais recentes descobertas
científicas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
REIDY, T. J.; BOWLER, R. M.; RAUCH, S. S.; PEDROZZA, G. I., 1992. Pesticide
exposure and neuropsychological impairment in migrant farm workers. Arch Clin
Neuropsychol, 7:85-95.
RESSEL, L. B.; GUALDA, D. M. R.; GONZALEZ, R. M. B., 2002. Grupo focal
como uma estratégia para coletar dados de pesquisa em enfermagem. International
Journal of Qualitative Methods, 1(2), article 5. World Wide Web:
http://www.ualberta.ca/~ijqm. Acesso em 11 de março/2004.
RICTHER, E. D.; SAFÍ, J., 1997. Pesticide use, exposure, and risk: a joint IsraelPalestinian perspective. Environmental Research, 73:211-218.
RIVERO, E.; RINCON, R.; GONZÁLEZ, S.; ROJAS, M., 1997. Exposición
ocupacional a plaguicidas en una comunidad agricola del estado Lara, Venezuela.
Salud de los Trabajadores, 5(2):94-98.
ROLNIK, S., 1996. A morte de Félix Guatarri. In: Cadernos de subjetividade/Núcleo
de Estudos e Pesquisas da Subjetividade. Programa de Estudos Pós-Graduados em
Psicologia Clínica da PUC-SP, v(1):1, 1996.
76
ROSENSTOCK, L; DANIELL, W.; BARNHARD, S.; SCHWARTZ, D.; DEMERS,
P. A., 1990. Chronic neuropsychological sequelae of occupational exposures to
organophosphate insecticides. American Journal of Industrial Medicine,18 (s.l):321-325.
ROSENSTOCK, L.; KEIFER, M.; DANIELL, W.; McCONNELL, R.;
CLAYPOOLE, K., 1991. Chronic central nervous system effects of acute
organophosphate pesticide intoxication. The pesticides health effects study group.
Lancet, 338:223-227.
ROSENTHAL, N.E.; CAMERON, C.L., 1991. Exaggerated sensitivity to an
organophosphate pesticide. American Journal Psychiatry, 148 (2): 270.
SALVI, R. M.; LARA, D. R.; GHISOLFI, E. S.; PORTELA, L. V.; DIAS, R. D.;
SOUZA, D. O., 2003. Neuropsychiatric evaluation in subjects chronically exposed to
organophosphate pesticides. Toxicological Sciences , 72: 267-271.
SATO, L., 2002. Prevenção de agravos à saúde do trabalhador: replanejando o
trabalho através das negociações cotidianas. Rio de Janeiro, Cadernos de Saúde
Pública, 18(5): 1147-1157.
SAVAGE, E. P.; KEEFE, T. J.; MOUNCE, L. M.; HEATON, R. K.; LEWIS, J.A.;
BURCAR, P.J., 1988. Chronic neurological sequelae of acute organophosphate
pesticide poisoning. Archives of Environmental Health, 43: 38-45.
SEN, A., 2000. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras,
2000.
SENADO FEDERAL/ Comissão de Assuntos Sociais Subcomissão Temporária da
Saúde. Relatório da Audiência Pública sobre a Intoxicação de agentes de saúde no
controle de vetores. Audiência Pública Brasília, 15 de junho de 2004.
SENANAYAKE, N.; KARALLIEDE, L., 1987. Neurotoxic effects of
orgaphosphorus inseticedes: an intermediate syndrome. New Engl. Journal Medicine,
316:716-761.
SILVA, A. P. M., 1986. Contribuições de Bion à psicoterapia de grupo. In: Osório,
L. C. (col.). Grupoterapia Hoje. Porto Alegre: Editora Artes Médicas,1986. pp. 57 63.
SOBREIRA, A. E. G.; ADISSI, J. P., 2003. Agrotóxicos: falsas premissas e debates.
Rio de Janeiro, Ciência & Saúde Coletiva, 8(4):985-990.
SOARES, W; ALMEIDA, R. M. V. R; MORO, S., 2003. Trabalho rural e fatores de
riscos associados ao uso de agrotóxicos em Minas Gerais, Brasil. Rio de Janeiro,
Cadernos de Saúde Pública, 19(4): 1117-1127.
STALLONES, L.; BESELER, C., 2002. Pesticide poisoning and depressive
symptoms among farm residents. Annals of Epidemiology, 12(6): 389-394.
77
STEENLAND, K.; JENKINS, B; CHRISLIP, D.; RUSSO, J., 1994. Chronic
neurological sequelae to cholinesterase inhibition among agricultural pesticide
applicators. Archives of Environmental Health, 50: 440-444.
STEENLAND, K.; JENKINS, B; AMES, R. G.; O’MALLEY, M.; CHRISLIP, D.;
RUSSO, J., 1994. Chronic neurological sequelae to organophosphate pesticide
poisoning. American Journal Public Health, 84: 731-736.
STEPHENS, R.; SPURGEON, A.; CALVERT, I. A.; BEACH, J.; LEVY, L. S.;
BERRY, H.; HARRINGTON, J. M., 1995. Neuropsychological effects long – term
exposure organophosphates in sheep. Lancet, 354: 1135-1139.
TAMBELLINI, A. T.; CÂMARA V. M., 1998. A temática saúde e ambiente no
processo de desenvolvimento do campo da saúde coletiva: aspectos históricos,
conceituais e metodológicos. Rio de Janeiro, Cadernos Saúde Coletiva, 3(2):47-59.
TAMBELLINI, A. T. , 2002. Desafios teóricos na relação produção, ambiente e
saúde. In: Porto, M. F. S & Freitas, C. M. (orgs). Problemas ambientais e
vulnerabilidade: abordagens integradoras para o campo de saúde pública. Rio de
Janeiro: FIOCRUZ/CESTEH, 2002.
TAVARES, D. M. C. , 2000. Violência doméstica: uma questão de saúde pública.
Dissertação de Mestrado, São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de
São Paulo, Universidade de São Paulo.
TEIXEIRA, C. F. , 2000. Exposição ocupacional aos inseticidas e seus efeitos na
audição: a situação dos agentes de saúde pública que atuam em programas de
endemias vetoriais em Pernambuco. Dissertação de Mestrado, Recife: Centro de
Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz.
TEIXEIRA, M. B. , 2002. Empoderamento de idosos em grupos direcionados à
promoção da saúde. Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de
Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz.
TRAPÉ, A. Z., 1994. O caso dos agrotóxicos. In: Rocha, L. E. (org.). Isso é Trabalho
de Gente? Vida, Doença e Trabalho no Brasil. Petrópolis: Editora Vozes, 1994. pp. 569593.
VALDEZ, N. E. C., 1995. Monitorização biológica de trabalhadores expostos a
inseticida organofosforado neurotoxicante: uma proposta de intervenção. Dissertação
de Mestrado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo
Cruz.
VASILESCU, C.; ALEXIANU, M.; DAN, A., 1984. Delayed neuropathy after
organophosphosphorus
insecticide
(Dipterex)
poisoning:
a
clinical,
electrophysiological and nerve biopsy study. Journal of Neurology. Neurosurgery,
and Psyquiatry, 47:543-548.
78
VIEIRA, S. R. 1995. Intoxicações profissionais por agrotóxicos. In: Vieira, S. I.
(org.). Medicina Básica. Porto Alegre: Editora Gênesis, 1995. pp.357-374.
WALSH, K. W., 1987. Neuropsychology: a clinical approach. Edinburgh: Churchill
Livingstone, 1987.
WEISS, B., 2000. Vulnerability to pesticide neurotoxicity is a lifetime issue.
Neurotoxicology, 21(1-2):67-73.
WESSELING, C.; KEIFER, M.; AHLBOM, A.; McCONEEL, R.; MOON, J.;
ROSENSTOCK, L., 2002. Long-term neurobehavioral effects of mild poisoning with
organohosphate and n-Methyl carbamate pesticides among banana workers.
International Journal Occupation Health, 8:27-34.
WESTPHAL, M. F.; BÓGUS, C. M.; FARIA, M. M., 1996. Grupos focais:
experiências precursoras em programas educativos em saúde no Brasil. Boletim
Oficina Sanitária Panamericana, Vol. 120, n 6, pp. 472-481.
WESTPHAL, M.F., 1992. Uso de métodos qualitativos no estudo de movimentos
sociais por saúde. In: Spinola AWP, Castro ENS, Westphal MF, Adorno RCF, Zioni
F, organizadores. Pesquisa social em saúde. São Paulo: Cortez, 1992.
WHO (WORLD HEALTH ORGANIZATION), 1989. Operational guide for the
WHO. Neurobehavioral Core Test Battery. World Health Organization Office of
Occupational Health. Geneva, 1989.
79
ANEXOS
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
NÚCLEO DE ESTUDOS DE SAÚDE COLETIVA
TERMO DE CONSETIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
O Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
através do Curso de Mestrado em Saúde Coletiva, está realizando um estudo
desenvolvido pela Dra. Sigrid Haikel, cujo título é: “ A MEMÓRIA DAS COISAS E
DAS
PALAVRAS
–
NEUROCOMPORTAMENTAIS
UM
DOS
ESTUDO
AGENTES
DAS
DE
REPERCUSSÕES
SAÚDE
PÚBLICA
EXPOSTOS A AGROTÓXICOS. ” O principal objetivo deste estudo é identificar as
repercussões neurocomportamentais e o uso dos agrotóxicos na saúde. Para sua
realização as pessoas que participarão do estudo serão submetidas a um questionário
padronizado e encontros grupais com o objetivo de levantar dados acerca das
repercussões neurocomportamentais. A participação nesta pesquisa é voluntária e a
realização destas atividades não oferece riscos para a saúde dos participantes da
pesquisa, que a qualquer momento podem recusar esta participação. Os dados
colhidos serão inteiramente sigilosos, avaliados apenas pelo pesquisador e seu
orientador. Quando os resultados deste estudo forem apresentados o nome e dados
dos participantes não serão identificados. Entretanto, os resultados, em sua
totalidade, serão publicados em literatura científica especializada. Será marcada uma
data para divulgação dos resultados e, caso seja detectada alguma anormalidade, os
participantes da pesquisa serão encaminhados para avaliação clínica.
Atenciosamente,
Sigrid Haikel / Psicóloga e Pesquisadora
Heloisa Pacheco Ferreira / Professor e Orientador da Pesquisa
Eu, _______________________________________________, RG no__________
Certifico que lendo as informações acima concordo com o que foi exposto e autorizo
a minha participação nesta pesquisa.
PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E
NEUROCOMPORTAMENTAL DE TRABALHADORES EXPOSTOS
AMBIENTAL E/OU OCUPACIONALMENTE A SUBSTÂNCIAS
NEUROTÓXICAS
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
N.º do questionário:________/2005
Nome:__________________________________________________________
Sexo: ( ) F ( ) M
Idade:___ anos e ___ meses
Data: ___/___/___
Atividade Atual _______________________________________________________
Tempo de Exposição___________________________________________________
1.Você se sente cansado ( a ) após o trabalho?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
2.Você se sente cansado ( a ) quando está trabalhando?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
3.Você se sente cansado ( a ) após atividade física?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
4.Como você vem se sentindo nesta última semana, incluindo o dia de hoje?
1 ( ) bem
2 ( ) mal
2.a.Por que? __________________________________________________________
5.Você se sente cansado ( a ) quando acorda pela manhã?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
6.Você vem sentindo fraqueza?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
7.Você sente sono durante o dia?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
8.Quantas horas você dorme por noite?
1( ) até 6 horas
2( ) 07 horas
3( ) 08 horas
4( ) acima de 08 horas
9.Você sente dificuldade para dormir? ( insônia )?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
10.Você perde o sono durante a noite?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
11.Quando você perde o sono durante a noite demora a dormir novamente?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
12.Você tem esquecimentos?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
13.Você sente que a sua memória está falhando?
1. ( ) sim
2. ( ) não
14.Você freqüentemente:
1( ) esquece o material de trabalho
2( ) repete atividades que já havia feito
3( ) tem dificuldade para realizar as atividades novas, pois não consegue lembrar o
que executou
4( ) esquece compromissos
5( ) sente dificuldade para aprender novos conhecimentos
6( ) sente dificuldade para lembrar novos conhecimentos
7( ) apresenta dificuldades durante o aprendizado anterior
8( ) outros: _________________________________________________________
15.Familiares ou pessoas próximas reclamam da sua dificuldade em lembrar das
coisas?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
16.Você tem pensamentos estranhos?
1( ) sim
1.a. Quais? _________________________________________________________
2( ) sempre
2.a.Quais? ________________________________________________________
3( ) nunca
17.Você se sente perdido em seus próprios pensamentos?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
18.Você sente dificuldade para se concentrar no que faz?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
19.Você consegue manter a atenção nas suas atividades?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
20.Você se sente muito triste sem motivo aparente?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
21.Você vem sentindo falta de vontade para executar as tarefas do trabalho?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
22.Você tem se sentido nervoso?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
23.Você tem se sentido agressivo?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
24. Em sua família teve ou tem alguém com problemas emocionais?
1( ) sim
1.a. Quem? _________________________________________________________
1.b. Qual problema? __________________________________________________
2. ( ) não
25. Você se percebe desinteressado em realizar suas atividades diárias?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
26.Você sente medo?
1( ) sim
1.a. Quais? _________________________________________________________
2( ) não
3( ) nunca
27. Você sente necessidade de se afastar das pessoas e lugares de seu convívio?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
28. Você se sente irritado?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
29. Você se sente agitado?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
30. Você vem percebendo ou as pessoas a sua volta reclamam que muda de humor
rapidamente?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
31. Você vem percebendo mudanças no seu comportamento?
1( ) sim
1.a. Quais? _________________________________________________________
2( ) não
32. Você tem interesse em atividades de lazer?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
33. Houve mudança de interesse sexual após a exposição?
1. ( ) sim
2. ( ) não
3. ( ) nunca
34. Você percebeu mudanças no seu comportamento durante ou após a exposição a
agrotóxicos?
1( ) sim
1.a. Quais? _________________________________________________________
2( ) não
35. Você faz uso de álcool?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
36. Você bebe todos os dias?
1. ( ) sim
2. ( ) não
37. Qual o tipo de bebida alcoólica que você ingere?
1( ) cerveja
2( ) cachaça
3( ) vinho
4( ) outros: _________________________________________________________
38. Qual a quantidade que você ingere de álcool diariamente?
1( ) 1 copo
2( ) 2 copos
3( ) 3 copos
4( ) 1 garrafa
5( ) 2 garrafas
6( ) mais de 3 garrafas
7( ) outros: _________________________________________________________
39. Quando você bebe você sente dificuldades para dormir?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
40. Quando você bebe você fica mais falante?
1. ( ) às vezes
2. ( ) sempre
3. ( ) nunca
41. Você tem atitudes diferentes quando ingere álcool?
1( ) às vezes
1.a. Quais? _________________________________________________________
2( ) sempre
2.a. Quais? _________________________________________________________
3( ) nunca
42. Você faz uso de drogas?
1( ) às vezes/ quais?__________________________________________________
2( ) sempre/ quais?___________________________________________________
3( ) nunca
43. Você faz uso de algum tipo de medicamento?
1( ) sim
1.a. Quais? _________________________________________________________
2( ) não
É sob orientação médica?
1.b. ( ) sim
2.b. ( ) não
44. Você já realizou tratamento psicológico e/ou psiquiátrico?
1. ( ) sim
2. ( ) não
Qual período?_________________________________________________________
45. É portador de doença crônica?
1. ( ) sim
2. ( ) não
Qual?
________________________________________________________________
46. Como você se percebe em seus relacionamentos:
Familiar: ___________________________________________________________
____________________________________________________________________
__________________________________________________________________
Com amigos: ________________________________________________________
___________________________________________________________________
No trabalho: ________________________________________________________
___________________________________________________________________
47. Você acha que os sintomas que vêm sentindo tem relação com a exposição que
você sofreu?
( ) sim
1.a. Por que? ________________________________________________________
____________________________________________________________________
( ) não
48. Você acha que os sintomas que vêm sentindo tem alguma relação com a
exposição às substâncias químicas?
( ) sim
1.a. Por que? ________________________________________________________
___________________________________________________________________
( ) não
_____________________________________
Assinatura da psicóloga
Adaptado do protocolo original de avaliação neurocomportamental proposto pela
Organização Mundial de Saúde – OMS.

Documentos relacionados