jogos cooperativos e estudo do desenvolvimento sócio

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jogos cooperativos e estudo do desenvolvimento sócio
JOGOS COOPERATIVOS E CRIANÇAS AUTISTAS: UM ESTUDO DE CASO
Aline Natália Vilhena da Silva;
Francisco Hermes Santos da Silva
Fazendo pesquisas bibliográficas sobre o tema Autismo, constatamos a grande dificuldade
de encontrar na literatura, trabalhos que fossem realizados com este tema fora da psicanálise e
dentro da educação. Também tivemos dificuldade de encontrar literaturas que tratassem o
assunto, tendo como referencial os “jogos cooperativos” como trabalho dentro da educação
infantil. O objetivo neste trabalho foi focar crianças com autismo em seus aspectos sócio-afetivo
e cognitivo.
Segundo ASA - Autism Society of América (1997) - autismo é um distúrbio de
desenvolvimento complexo, definido de um ponto de vista comportamental, com etiologias
múltiplas e graus variados de severidade. A apresentação fenotípica do autismo pode ser
influenciada por fatores associados que não necessariamente sejam parte das características
principais que definem esse distúrbio. Um fator muito importante é a habilidade cognitiva.
Apesar das anomalias de relações interpessoais estarem presentes desde a sua tenra
infância nos autistas, acredita-se que a síndrome em si, acompanha a criança desde seu
nascimento. Muitos pais só notam as alterações por volta dos três ou quatro anos de idade e, a
maioria, apenas quando seus filhos começam a ir à escola. Por esta razão, torna-se difícil ter um
diagnóstico fechado. Os profissionais levam em conta a fase de desenvolvimento da criança,
optando pela observação do seu quadro clínico e suas evoluções, acompanhado de profissionais
de diversas áreas neuro-fisiológica e genética.
Mesmo com vários estudos no campo psiquiátrico, genético e neurofisiológico, não foi
diagnosticada nenhuma anomalia vista do campo etiológico que seja básica e fundamental para
todos os casos de autismo. Ao que tudo indica, o autismo seria um distúrbio multifatorial. Por
isso hoje se falam mais em espectros autistas do que em autismo propriamente dito. Por conta de
sua complexidade, o período de reconhecimento de uma possível síndrome é obscuro e
demorado, tanto pelos pais quanto pelos médicos. A falta de informação de ambas as partes
impede que se tenha um diagnóstico precoce em síndromes não identificadas por exames
laboratoriais, como é o caso do Autismo. (ORRÚ, 2007)
Hoje, segundo a Associação Brasileira de Autismo (1997), existem cerca de 600 mil
pessoas com autismo se consideramos apenas a forma típica, sem contar crianças que possuem
apenas um diagnóstico de “Transtorno Global do Desenvolvimento” ou “Síndrome do
Comportamento Invasivo”. Essas são as que mais sofrem com o “descaso” no ensino, isto é,
sofrem de autismo atípico ou de grau leve.
Como possibilidade de fazer frente ao problema da falta de sociabilidade e dificuldades de
comunicação do sujeito com autismo, levantamos a hipótese de que os jogos cooperativos podem
ser uma alternativa.
Os jogos cooperativos ajudam no processo de interação social, em que os objetivos dos
participantes são comuns em ambas as partes, suas ações são compartilhadas e os benefícios são
distribuídos para todos. A cooperação é importante na fase inicial da vida da criança, ajuda a
minimizar o medo e o sentimento de fracasso transmitindo valores e ajudando a criar laços de
afetividade, muito importante para o desenvolvimento da personalidade.
Para nosso propósito de pesquisar sobre a possibilidade dos jogos cooperativos serem uma
alternativa na facilitação de socialização de sujeitos autistas, vamos nos reportar a alguns
aspectos da interação social na teoria de Vygotski.
Uma das preocupações mais evidentes com os jogos cooperativos é a dicotomia
competição x cooperação. Neste sentido tratamos de vários autores como Correia (2006) que
discorreu sobre uma experiência com alunos do Ensino Fundamental sobre o tema e concluiu que
os Jogos Cooperativos podem ser uma proposta coerente com a perspectiva de mudanças ou
superação do paradigma da competição.
Propusemos, portanto, um estudo de caso buscando identificar alterações no
comportamento e observar como os jogos cooperativos podem de alguma forma, auxiliar no
desenvolvimento sócio-afetivo, possibilitando o desenvolvimento cognitivo desses indivíduos,
bem como aumentando as possibilidades de uma educação inclusiva de maior significação. Isto
porque Segundo Baptista e Bosa (2002), o que vale a pena ressaltar é “a noção de que crianças
com autismo apresentam déficits no relacionamento interpessoal, na linguagem/comunicação, na
capacidade simbólica e, ainda, comportamento esteriotipado (atentando-se para as diferenças
individuais), não tem sido desafiada”. Este estudo de caso buscou identificar alterações no
comportamento e observar como os jogos cooperativos podem de alguma forma, auxiliar no
desenvolvimento sócio-afetivo, aumentando as possibilidades de uma educação inclusiva de
maior significação.
O objetivo geral foi compreender sob que condições metodológicas, as crianças com
Autismo Infantil, podem ter a possibilidade de integrar-se no meio social escolar, potencializando
seu desenvolvimento sócio-afetivo-cognitivo. Como objetivos específicos, tivemos: 1. o
comportamento aversivo à socialização; e 2. à superação de atrasos cognitivos e de comunicação,
em decorrência da falta de socialização.
O sujeito a ser investigado, foi um menino de 8 anos completos matriculado em uma
escola regular de ensino, cursando o 3° ano do ensino fundamental I (2° série) diagnosticado
clinicamente como portador da Síndrome Autista, bem como suas diversas denominações. Jorge
(nome fictício), é considerado com uma autista de auto-funcionamento, aquele com um grau mais
brando do transtorno, porém com dificuldades de linguagens e outros espectros autistas.
Preparamos intervenções apoiadas em jogos cooperativos visando à socialização do
sujeito na busca de superação de seus comportamentos sociais, característicos. As quantidades de
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intervenções levaram em conta as variáveis que interferem neste tipo de investigação; a condição
do sujeito, o espaço físico.
As intervenções levaram em consideração a aproximação de um pequeno grupo de
crianças (5) já conhecidas do cotidiano da criança, parentes e amigos, porém que não tinham uma
aproximação muito frequente, mas que pudesse ser menos traumática para o sujeito, haja vista a
sua dificuldade com estranhos.
Para poder costurar as atividades, foi proposto às crianças um “caça ao tesouro” onde
deveriam procurar pistas e cumprir provas para poder ganhar outras pistas, para se chegar ao
tesouro. Os jogos e atividade cooperativas se desenvolveram nessas provas onde o objetivo
comum era o trabalho em grupo.
Os resultados mostraram que os jogos cooperativos da forma como propostos neste
estudo, foram decisivos no que diz respeito à socialização de Jorge, haja vista que nas provas de
procura das pistas, Jorge participou, embora meio perdido sobre por onde procurar. Em alguns
momentos tivemos que dizer a ele que fosse procurar a pista junto com as outras crianças. Em
nenhuma das vezes ele a encontrou, embora tenha chegado perto algumas vezes. Porém, ao ser
descoberto o tesouro (balas, pirulitos e chocolate) e dividido entre todos, Jorge demonstrou
empolgação e querendo brincar de novo, porém manifestando o desejo de fazer as pistas e dizer
ao grupo o que deveriam fazer nas provas. Pegou uma caneta e um caderno e começou um
esboço sobre o que queria.
Não somente a metodologia é importante, como também a tomada de consciência do
grupo de que todos tem o direito de brincar e aprender, independente de quem seja ou de suas
dificuldades . Crianças com Autismo precisam ser mais investigadas e desafiadas dentro da área
educacional. Faz-se necessário um olhar mais atento, sem banalizar suas dificuldades e sem
negligenciar seus avanços.
REFERÊNCIAS
Autism Society of America (1997). Guidelines for theories and practice.
Associação Brasileira de Autismo (1997). Política nacional de atenção à pessoa portadora da
síndrome do autismo. Em C. Gauderer (Org.), Autismo e outros atrasos do desenvolvimento:
Guia prático para pais e profissionais (p 31-34). Rio de Janeiro: Revinter.
BAPTISTA, Cláudio Roberto; BOSA, Cleonice & Colaboradores_ Autismo e Educação,
Reflexões e Propostas de Intervenção _Editora Artmed 2002.
CORREIA, M.M. Jogos cooperativos: perspectivas, possibilidades e desafios na Educação Física
Escolar. Revista Brasileira de Ciências do Esporte. Campinas, v.27, n.2, p. 149-164. 2006b.
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ORRÚ, Silvia Ester_ Autismo, Linguagem e Educação. Interação social no Cotidiano Escolar.
Editora Wak 2007.
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