Cuidados - Associação Brasileira de Cuidados Paliativos
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Cuidados - Associação Brasileira de Cuidados Paliativos
2009 Cuidados Paliativos ano 02 | volume 02 | nº 02 | 2009 rasileira de b a t s i v re • Final da Vida: Atualização em Depressão • Analgesia balanceada: Revisão de conceitos e a associação de fármacos analgésicos no controle da dor • Estudo clínico fase IV para avaliação do cloridrato de palonosetrona na prevenção das náuseas e vômitos associados à quimioterapia moderadamente emetogênica • Constipação intestinal: abordagem diagnóstica e terapêutica S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 JIMENEZ ASSOCIADOS 2009 Cuidados Paliativos 0642.ONC.A.I.07 Criando valor, desenvolvendo saúde Rua Dr. Renato Paes de Barros, 1.017 60, 90 e 100 andares • Itaim Bibi CEP 04530 001 • São Paulo • SP S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 Revista Brasileira de Cuidados Paliativos 2009 Cuidados Paliativos SUMÁRIO - CONTENTS Ano 02 • volume 02 • nº 02 • ano 2009 ISSN 1984-087X REVISTA BRASILEIRA DE CUIDADOS PALIATIVOS BRAZILIAN JOURNAL OF PALLIATIVE CARE ARTIGOS/RESEARCHS/REPORTS 05 Final da Vida: Atualização em Depressão End of Life Section: Depression UpToDate William S. Breitbart 18 Analgesia balanceada: Revisão de conceitos e a associação de fármacos analgésicos no controle da dor Balanced Analgesia: Concept Review and Pharmacologic Association in Control of Pain. João Marcos Rizzo, Vinícius Carraro do Nascimento 31 Estudo clínico fase IV para avaliação do cloridrato de palonosetrona na prevenção das náuseas e vômitos associados à quimioterapia moderadamente emetogênica (Estudo PALO-BR-05-01). Clinical Study Phase IV to avaliation of palonosetrona cloridrato in nausea and vomiting prevention associated with emetogenic moderate chemotherapy ( PALO study-BR-05-01) Auro Del Giglio; Profa.Dra. Miriam Hatsue Honda Federico; Carlos Henrique Escosteguy Barrios; Stephen Stefani; Gilson Lucchesi Delgado; Marcello Ferretti Fanelli; Sérgio Lago; Ricardo Caponero. 42 Constipação intestinal: abordagem diagnóstica e terapêutica Intestinal Constipation: Diagnostic and therapeutic approach José Marcio Neves Jorge, Nádia Ricci Guilger S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 2009 Revista Brasileira de Cuidados Paliativos Cuidados Paliativos REVISTA BRASILEIRA DE CUIDADOS PALIATIVOS BRAZILIAN PALLIATIVE CARE JOURNAL É uma publicação científica dirigida a médicos e profissionais de saúde, que atuam na área de dor e cuidados paliativos em doenças crônico-evolutivas. Tal publicação visa divulgar artigos científicos nacionais e internacionais, promovendo a troca de conhecimento científico entre os profissionais. Editora Chefe Ana Georgia Cavalcanti de Melo Produção Editorial e Arte Grecco Comunicação Total Rua Luigi Galvani, 200/ 11 andar 04575020 São Paulo/SP Editor Científico Ricardo Caponero Periodicidade: Trimestral Conselho Editorial Ana Georgia Cavalcanti de Melo Ricardo Caponero Wiliam Breitbart Tiragem: 10.000 exemplares Envio de artigos: revistabrasileira@ cuidadospaliativos.com.br Assessoria Editorial Luciano Ricardo Rodrigues Conselho Científico Eduardo Bruera Professor de Medicina F. T. McGraw Chair em Tratamento de Câncer Chefe do Departmento de Cuidados Paliativos e Reabilitação em Medicina M. D. Anderson Cancer CenterUniversidade do Texas, EUA William S. Breitbart, Professor de Psiquiatria Faculdade de Medicina Weill da Universidade de Cornell Chefe do Serviço de Psiquiatria do Departamento de Psiquiatria e Ciências Comportamentais Responsável pelo Serviço de Psiquiatria, Dor e Cuidados Paliativos Departamento de Neurologia do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center Cibele Andrucioli Mattos Pimenta Doutora em Enfermagem Professora Titular da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo José Marcio Neves Jorge Professor Associado da Disciplina de Cirurgia do Aparelho Digestivo Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Leo Pessini Professor Doutor em Bioética e Teologia Moral Superintendente União Social Camiliana Vice-Reitor do Centro Universitário São Camilo, EUA Auro Del Giglio Prof Livre- docente Doutor em Medicina - Hematologia, FMUSP Prof. Titular de Oncologia Universidade do ABC-SP Coordenador Oncologia Hospital Israelita Albert Einstein-SP Especialização em Medical Oncology and Medical Hematology. University Of Texas M D Anderson Cancer Center, UTMDACC, EUA Especialização . Baylor College Of Medicine, BAYLOR, EUA A Revista Brasileira de Cuidados Paliativos (RBCP) é um veículo que tem como objetivo: publicar trabalhos relacionados as áreas de dor e cuidados paliativos em doenças crônico-evolutivas. Serão considerados para publicação os seguintes tipos de manuscritos: • Artigos Originais - artigos nos quais são informados os resultados obtidos, são descritos métodos, técnicas e processos, apresentando novas idéias. • Breves Comunicados - são comunicações originais importantes, curtas, redigidas com um único objetivo de assegurar os direitos autorais de uma pesquisa em andamento. • Relato de Casos - é a descrição detalhada e análise crítica de um caso típico ou atípico. O autor deve apresentar um problema em seus múltiplos aspectos, sua relevância e revisão bibliográfica sobre o tema. • Revisões e Mini-Revisões - uma revisão da literatura sobre um assunto específico, geralmente contendo análise crítica e síntese da literatura, que irá dar ao leitor uma cobertura geral de um assunto. • Opiniões - opinião qualificada sobre tema específico em dor e cuidados paliativos. • Notas e/ou Notícias - informações objetivas de interesse da comunidade médico-científica. • Debates - artigo teórico que se faz acompanhar de cartas críticas assinadas por autores de diferentes instituições, seguidas de resposta do autor do artigo principal. • Resumos de Teses - é a informação sucinta do trabalho realizado. Deve conter a natureza e os propósitos da pesquisa e comentário sobre a metodologia, resultados e conclusões mais importantes. Seu objetivo é informar aos pesquisadores de maneira objetiva qual é a natureza do trabalho, suas características básicas de realização e alcance científico afirmado. • Cartas ao Editor - crítica a artigo publicado em fascículo anterior da Revista. Os textos devem ser inéditos e destinar-se exclusivamente à (RBCP), não sendo permitida sua apresentação simultânea a outro periódico. A submissão do artigo à RBCP deve ser seguida de carta, assinada por todos os autores concordando com o envio e possível publicação do mesmo, no periódico. A publicação dos trabalhos dependerá da observância das normas da RBCP e do seu Conselho Editorial. Os manuscritos não aceitos serão devolvidos ao autor. Os trabalhos publicados passarão a ser propriedade da RBCP, sendo vedada tanto sua reprodução, mesmo que parcial, em outros periódicos, como sua tradução para publicação em outros idiomas, sem prévia autorização desta. 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Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores Os trabalhos devem ser enviados para: Revista Brasileira de Cuidados Paliativos YPÊ Editora e Publicações Ltda Alameda Lorena, 1470 01424-001 São Paulo/SP e-mail: [email protected] A Revista Brasileira de Cuidados Paliativos é uma publicação da YPÊ Editora e Publicações Ltda Alameda Lorena 1470 01424-001 São Paulo/SP Brasil S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 Analgesia balanceada: revisão de conceitos e a associação de fármacos analgésicos no controle da dor 2009 Cuidados Paliativos ANALGESIA BALANCEADA: REVISÃO DE CONCEITOS E A ASSOCIAÇÃO DE FÁRMACOS ANALGÉSICOS NO CONTROLE DA DOR João Marcos Rizzo1, Vinícius Carraro do Nascimento2 ABSTRACT Rizzo JM, Nascimento VC – Balanced Analgesia: Concept Review and Pharmacologic Association in Control of Pain. JUSTIFICATIVE, OBJECTIVES AND CONTENT: Chronic or acute pain - does not matter the cause - needs standards for the rational use of the analgesics administered to the adequate control of pain with the lowest level of side effects possible. Then we believe it does exist in the literature strong evidences of the benefices of the multimodal or balanced analgesia which uses the association of analgesic drugs with different mechanisms of action with relevant result synergistic and significant reduction in side effects. Furthermore the World Health Organization (WHO) advocates for a long time the systematic use of “analgesic ladder” to control cancer pain. Our objectives on this study was to review the concepts of multimodal or balanced analgesia; the application of the “analgesic ladder” from WHO in acute or chronic pain, malignant or non-malignant, as well as the pharmacologic properties of acetaminophen, tramadol and codeine, all of them analgesics that are commonly utilized in analgesic association to control pain. We evaluated data from relevant clinical trials that support the analgesic synergy of the association of non-opioid analgesics with weak opioids on the treatment of mild to intermediate intensity. CONCLUSIONS: Fixed associations of weak opioids analgesics with non-opioids analgesics have showed efficacy not only in the control of pain, especially oral administration, following WHO recommendations and also considering the compliance of the patient to the treatment improving the dosage and tolerance to the drugs because of the significant reduction of the side effects. We look forward to finding studies comparing a greater number of analgesic drugs to increase the options of drug combinations which doubtless will be of great contribution to the adequate control of chronic and acute pain. New pharmaceutical methods preventing the drugs from inadequate absorption, metabolism and formation of toxic metabolic and to achieve the site of action with the advocated concentrations will be of extreme importance to increase the therapeutic analgesic arsenal. RESUMO Rizzo JM, Nascimento VC – Analgesia Balanceada: Revisão de Conceitos e a Associação de Fármacos no Controle da Dor. JUSTIFICATIVA, OBJETIVOS E CONTEÚDO: A dor aguda ou crônica, não importando a causa, necessita de normatização para o uso racional dos fármacos analgésicos administrados para o controle adequado da dor, com o menor índice de efeitos adversos possível. Para tanto, cremos existir na literatura, fortes evidências dos benefícios da analgesia multimodal ou balanceada, a qual utiliza a associação de drogas analgésicas com diferentes mecanismos de ação com importante resultado sinérgico/somatório e diminuição significativa dos efeitos adversos. Somando-se a isto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza há muito tempo a utilização sistemática da “escada analgésica” para o controle da dor do câncer. Os objetivos deste estudo foram revisar os conceitos da analgesia multimodal ou balanceada; a aplicação da “escada analgésica” da OMS em dores agudas ou crônicas, malignas e não-malignas, bem como a farmacologia do paracetamol, tramadol e codeína, analgésicos muito utilizados em associação analgésica para o controle da dor. Foram citados os dados de ensaios clínicos relevantes, que comprovam o sinergismo analgésico da associação de fármacos analgésicos não opióides com fármacos opióides fracos, no tratamento das dores de fraca a moderada intensidade. CONCLUSÕES: Associações fixas de analgésicos opióides fracos com analgésicos não- opióides têm se mostrado eficazes não só no controle da dor, principalmente pela via oral, conforme recomendado pela OMS, mas também pela melhor adesão dos pacientes ao tratamento, com melhora S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 2009 Revista Brasileira de Cuidados Paliativos Cuidados Paliativos na posologia bem como na tolerância aos fármacos pela diminuição significativa de seus efeitos adversos. Esperamos encontrar, em breve, estudos comparando maior número de fármacos analgésicos, aumentando as opções de combinações de drogas o que, sem dúvida, trará grande contribuição para o controle adequado da dor aguda e crônica. Novas formas farmacêuticas, proporcionando proteção aos fármacos quanto à absorção inadequada, metabolismo, formação de metabólitos tóxicos e chegada ao sítio de ação nas concentrações preconizadas, serão de vital importância para aumentar o arsenal terapêutico analgésico. 1.Médico Anestesiologista com Área de Atuação em Dor certificada pela AMB/SBA; Especialista em Dor e Medicina Paliativa pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Professor da disciplina de Farmacologia Aplicada do curso de pós-graduação em Farmácia em Oncologia do IEP Hospital Moinhos de Vento – RS; Médico da Clinica de Dor do Hospital Moinhos de Vento de Porto Alegre – RS. 2.Aluno do curso de graduação em Medicina pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA); Estagiário bolsista da Clínica de Dor do Hospital Moinhos de Vento de Porto Alegre – RS. *Endereço para correspondência: Rua Tiradentes, 333 2⁰ andar Centro Clínico Tiradentes CEP 90.560-030 Porto Alegre – RS e-mail: [email protected] Introdução A dor, seja ela aguda ou crônica, traz respostas orgânicas negativas endócrino-metabólicas e autonômicas, traduzidas por alteração do sono, depressão, ansiedade, espasmos musculares, hipertensão, arritmias cardíacas, hiperventilação, náuseas e vômitos, dentre outros efeitos danosos1. Somam-se a isso os efeitos adversos dos analgésicos, muitas vezes utilizados em subdoses ou em insistente monoterapia com doses elevadas, sem resposta analgésica adequada2. Até o final dos anos 80 mais de 95% da literatura relacionada à analgesia pós-operatória preconizava o tratamento unimodal1. Kehlet em 1993 publicou a primeira revisão compilando dados sobre analgesia multimodal ou balanceada, revelando as vantagens da associação de fármacos com diferentes mecanismos de ação, em menores doses, resultando em efeito sinérgico/somatório positivo, em relação à dor pós-operatória1. Paralelamente a isto, a OMS publicava a escada analgésica para o tratamento racional da dor do câncer3 na qual, desde a dor leve até a dor insuportável, era sugerida a prescrição de combinação de fármacos não-opióides, adjuvantes e opióides, resultando em melhor controle da dor oncológica, orientação que permanece até os dias de hoje. Com o passar dos anos, tornou-se corrente o uso de fármacos analgésicos com diferentes mecanismos de ação, combinados, para todos os tipos de síndromes dolorosas, propiciando melhor controle analgésico com utilização de menores doses dos fármacos4. Neste artigo, faremos a revisão de conceitos da analgesia balanceada bem como da utilização da escada analgésica da OMS para o tratamento da dor aguda e crônica maligna e não maligna. Revisaremos também aspectos da farmacologia S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l de alguns analgésicos comumente utilizados em associação para o controle da dor em nosso meio, bem como os ensaios clínicos que dão suporte a esse método de analgesia. Tratamento Analgésico Multimodal A dor sempre se inicia de forma aguda, envolvendo vias nervosas periféricas e centrais. Além disso, o componente emocional da dor é fator importante para a complexidade do tratamento. A associação de fármacos analgésicos com diferentes mecanismos de ação permite, além do controle físico da dor, a atuação em mediadores químicos em estreita relação com o comportamento subjetivo doloroso (componente emocional da dor). Essas associações permitem a utilização de menores doses analgésicas obtendo-se bom controle da dor com mínimos efeitos adversos5. Lesões periféricas causadas por trauma, calor, eventos cirúrgicos etc., provocam dor por ação de importantes mediadores químicos liberados pelos vasos sanguíneos, sistema imunológico e migração antidrômica das terminações nervosas. Alguns desses mediadores, tais como óxido nítrico, bradicininas, prostaglandinas, serotonina, histamina, substância P, glutamato e peptídeos geneticamente relacionados à calcitonina, ativam ou sensibilizam os nociceptores, constituindose, assim, os processos inflamatórios, levando à hiperalgesia e sensibilização periférica. A não intervenção satisfatória nessa fase ocasionará sensibilização central principalmente na área correspondente ao corno posterior da medula espinhal (CPME), onde neurônios de segunda ordem serão “bombardeados” por estímulos provenientes 0 2 Analgesia balanceada: revisão de conceitos e a associação de fármacos analgésicos no controle da dor 2009 Cuidados Paliativos da periferia levando a alterações importantes na modulação da nocicepção6. A sensibilização central provoca diminuição do limiar álgico, aumento do campo receptivo doloroso, descargas ectópicas espontâneas decorrentes de alterações da permeabilidade dos canais iônicos, como também a ativação de receptores NMDA permitindo, assim, o influxo de cálcio na célula com ativação de complexos enzimáticos, levando à expressão genética e aumento na produção de receptores NMDA alterados (hipersensíveis). A evolução de tal processo levará à cronificação da condição dolorosa, hiperalgesia e incapacidade funcional do paciente, estabelecendo-se, então, dor crônica de difícil tratamento6. Kehlet em 1993 enfatizou que o alívio parcial ou total da dor, permitindo funcionalidade normal, não pode ser alcançado através de uma única droga ou método analgésico sem maiores esforços, equipamentos ou sistemas de monitorização, sem efeitos adversos significativos. Além disso, recomendou a utilização de regimes analgésicos combinados (analgesia balanceada) ou uma abordagem multimodal para o tratamento da dor pós-operatória. O racional dessa estratégia é alcançar analgesia suficiente devido ao efeito sinérgico/somatório entre diferentes fármacos, com concomitante redução de efeitos adversos devido às baixas doses dos mesmos e diferenças nas características dos efeitos adversos dessas drogas1. Os fármacos utilizados na analgesia multimodal devem pertencer a diferentes classes, com mecanismos de ação diferentes. Os mais utilizados são dipirona, paracetamol, antiinflamatórios não-esteróides, opióides fracos e fortes, antidepressivos, neuromoduladores, anestésicos locais e fármacos ansiolíticos1,2. A Escada Analgésica Da Oms Em 1986 a OMS apresentou a Escada Analgésica para o tratamento da dor oncológica (Fig. 1). Desde então, a dor do câncer passou a ter um tratamento racional, com eficácia em torno de 95%. Esse esquema preconiza a utilização de fármacos analgésicos escalonados por potência, sempre em associação, sendo que cada degrau representa além dos fármacos a utilizar, a intensidade da dor segundo a Escala Visual Analógica (EVA)3. No primeiro degrau indica-se a associação de analgésicos não-opióides (paracetamol, dipirona, antiinflamatórios não-esteróides) e drogas adjuvantes (antidepressivos, ansiolíticos, antipsicóticos, neuromoduladores) para o controle e dores leves - EVA 1 a 4. Se a dor não for controlada com o esquema proposto ou em se tratando de dor de intenS ã o sidade moderada - EVA 5 a 7, passa-se ao segundo degrau da escada, no qual mantém-se o analgésico não-opióide e o adjuvante escolhido, associando-se um fármaco opióide fraco, agonista (codeína, tramadol ou oxicodona em baixas doses). Se, mesmo com a associação de um opióide agonista fraco, a dor não for controlada ou for de forte intensidade - EVA 8 a 10, troca-se, então, esse opióide por um opióide agonista forte (morfina, metadona, fentanil ou oxicodona em doses altas)7. A excelência da Escada Analgésica rompeu as fronteiras da oncologia e hoje é amplamente utilizada como guia de tratamento racional para as dores aguda e crônica não malignas, pois preenche, de maneira simples e direta, os conceitos da analgesia multimodal1 associando fármacos de diferentes mecanismos de ação, proporcionando dessa forma, a utilização de menores doses de cada fármaco, com menor incidência de efeitos adversos. O exemplo da adaptação da Escada é o tratamento da dor neuropática não oncológica. Podemos seguir o tratamento da Escada Analgésica adaptando os fármacos de primeira escolha, segundo o mecanismo de ação, substituindo a morfina por metadona e a codeína por tramadol.8 Na dor aguda pós-operatória, dependendo do porte cirúrgico e do caráter ambulatorial ou não do procedimento, a Escada Analgésica apresenta grande utilidade, com a peculiaridade de que, nesses casos, o lógico é descer a escada e não subí-la, pois a dor inicia intensa, mas é limitada temporalmente, possibilitando a diminuição gradativa dos analgésicos até a sua retirada.9 Fig. 1 – Escada Analgésica da OMS, original, publicada em 1986, World Health Organization – Cancer Pain Relief: with a guide to opioid availability, 1st edition, Geneva, WHO.3 Freedom from Cancer Pain Strong opioid /n on adjuvant -opioid Pain persisring or incrensing Weak opioid /non adjuvant -opioid Pain persisring or incrensing non-opioid adjuvant 3 Step Step 2 Step 1 Fármacos Comumente Apresentados Em Associação Alguns fármacos de uso comum são hoje apresentados pela indústria já em associação com a finalidade de melhorar a adesão ao tratamento, P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 2009 Revista Brasileira de Cuidados Paliativos Cuidados Paliativos propiciando fracionamento de dose e intervalo de administração facilitado, obedecendo aos critérios da analgesia multimodal. Os mais utilizados são o tramadol, a codeína e o paracetamol, medicamentos que, quando combinados, têm apresentado aumento da potência analgésica com diminuição significativa dos efeitos adversos. A seguir revisaremos alguns pontos importantes da farmacologia dessas drogas. Paracetamol: derivado do aminofenol, apresenta meia-vida de eliminação de 1 a 3 horas, considerado um inibidor da síntese das prostaglandinas no sistema nervoso central10, não tem um local de ligação endógeno conhecido, não tem a capacidade de inibir as ciclooxigenases (COX) periféricas. Estudos in vitro apontam para uma possível seletividade para a via inibitória da COX211. Outros estudos sugerem que o paracetamol inibe a COX3 em nível central, produto do mesmo gene da COX2, mas com características diferentes que a tornam altamente sensível à inibição pelo paracetamol12. Outras hipóteses apontam para um possível efeito antagonista de receptores N-demetilaspartato (NMDA) ou ainda relacionado com o óxido nítrico (NO)12. O efeito antipirético decorre da ação direta sobre o centro térmico hipotalâmico. Indicado para tratamento de dores leves a moderadas e febre, as doses preconizadas para adultos são de 325 a 650 mg a cada 6 horas ate 1 g de 3 a 4 vezes ao dia, não excedendo a dose máxima de 4 g/dia13. É necessário ajustar a dose para pacientes com diminuição da função renal, utilizando-se para tanto a análise do clearance da creatinina10. É importante utilizar com cautela em pacientes com doença hepática, monitorando essa função periodicamente e administrando sempre baixas doses do fármaco e nunca utilizando-o de forma crônica14. Eventos adversos relatados com a utilização clínica do paracetamol foram rash cutâneo; aumento do cloro, acido úrico e glicose séricas; diminuição do sódio, bicarbonato e cálcio séricos; anemia; neutropenia; pancitopenia; leucopenia; aumento das bilirrubinas e fosfatase alcalina; aumento da amônia sérica; nefrotoxicidade em altas doses com o uso crônico10. Algumas precauções de uso são relevantes: a hepatotoxicidade grave pode ocorrer na overdose aguda (doses acima de 4 g/dia); doses elevadas crônicas em adultos podem resultar em dano hepático em muitos pacientes. Utilizar com cautela em pacientes com doença hepática alcoólica (reduzir a dose em 50%). O consumo de 3 ou mais drinks alcoólicos/dia pode elevar o risco de dano hepático10. Barbitúricos, carbamazepina, hidantoína, S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l rifampicina e sulfimpirazona podem diminuir o efeito analgésico do paracetamol. A colestiramina pode diminuir sua absorção. Varfarina pode ter seu efeito aumentado10. Existe associação sinérgica, em se tratando de efeito analgésico, quando administrado com vários opióides15. As concentrações séricas terapêuticas variam de 10 a 30 mcg/ml. Na toxicidade aguda as concentrações encontram-se acima de 200 mcg/ml nas primeiras 4 horas e em torno de 50 mcg/ml em 12 horas. Os sinais de overdose são azotemia, necrose hepática, anemia e necrose tubular aguda16,17. Quanto à farmacocinética do paracetamol, o início de ação ocorre em até uma hora (pico plasmático entre 10 e 60 minutos), a duração de ação varia entre 4 e 6 horas, apresenta 8% de ligação a proteínas plasmáticas, metabolismo hepático, eliminação/excreção urinária (2 a 5% eliminados inalterados; 55% como metabólitos glicuronídeos; 30% como metabólitos sulfonados)10. Trata-se de analgésico não-opióide fraco, de fácil acesso à população (baixo custo), com fortes evidências de sinergismo quando utilizado em associação com fármacos analgésicos de outras classes e mecanismos de ação18. Tramadol: considerado um analgésico opióide atípico, estruturalmente relacionado à codeína e à morfina, tem seu mecanismo de ação dado pela fraca ligação a receptores opióides µ (cerca de 30%) e inibição da recaptação de noradrenalina e serotonina nas sinapses medulares modificando, assim, as vias ascendentes e descendentes dolorosas, alterando a percepção da dor19. Seu metabólito O-demetiltramadol (M1) apresenta importante papel na ação analgésica devido à ligação aos receptores opióides µ20. É indicado para o tratamento de dores de moderada a forte intensidades, com ação eficaz sobre dores neuropáticas, característica nada comum aos opióides20,21. Na insuficiência renal recomenda-se utilizar doses de 50 a 100 mg a cada 12 horas com dose máxima diária de 200 mg. O clearance da creatinina determinará o ajuste de doses necessário22. Já na insuficiência hepática, a dose máxima diária fica em 100 mg/dia, 50 mg a cada 12 horas22. Em pacientes adultos hígidos a dose normal é de no máximo 400 mg/dia podendo ser dividida em 2, 4 ou 6 administrações diárias22,23. As reações adversas são bastante variáveis e suas incidências dependem da dose, perfil do paciente (idosos, desnutridos, crianças), sendo as mais significativas listadas na tabela 122. Síndrome de retirada pode ocorrer com a descontinuação abrupta da droga, podendo o 0 2 Analgesia balanceada: revisão de conceitos e a associação de fármacos analgésicos no controle da dor 2009 Cuidados Paliativos paciente apresentar ansiedade, dispnéia, alucinações (raras), náuseas, dor, piloereção, sudorese e tremores. Sintomas incomuns incluem ansiedade intensa, ataques de pânico e parestesias22,24. São raros os casos de abuso ou uso não medicamentoso do tramadol. Pacientes com historia de abuso de álcool ou drogas devem ser reavaliados freqüentemente, evitando-se assim o uso inadequado do tramadol. Algumas precauções devem ser tomadas: pacientes recebendo antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina ou drogas anoréticas, antidepressivos tricíclicos, ciclobenzaprina, prometazina, neurolépticos e inibidores da MAO, apresentam risco aumentado de convulsões mesmo quando o tramadol estiver sendo administrado em doses baixas. Pacientes com história de epilepsia, trauma craniano, alterações metabólicas importantes, infecção do sistema nervoso central (SNC), tumores cerebrais ou durante o processo de retirada de álcool ou drogas terão, também, risco aumentado para convulsões25. Em pacientes com lesões cerebrais poderá ocorrer aumento importante da pressão intracraniana com o uso do tramadol. O tramadol atravessa a barreira placentária, podendo ocasionar convulsões neonatais, síndrome de retirada e morte fetal. Quanto à amamentação, é contra-indicado por apresentar concentrações elevadas no leite materno22. O tramadol apresenta importantes interações medicamentosas, as quais estão listadas na tabela 222,20. Os sinais de overdose são: depressão do sistema nervoso central e respiratório, letargia, coma, miose, convulsões, depressão cardiovascular e morte. A naloxona pode reverter alguns sintomas de overdose, mas aumenta o risco de convulsões. Hemodiálise não é efetiva no controle dos sintomas. Sendo assim, nos casos de overdose, apenas medidas de suporte à vida são recomendadas27,28. O início de ação do tramadol varia de 20 minutos até uma hora, dependendo da via de administração22. Sua duração de ação fica em torno de 9 horas, com um volume de distribuição de 2,5 a 3 L/kg, sendo 20% a sua ligação a proteínas plasmáticas29. Seu metabolismo é hepático via demetilação, glicuronidação e sulfonação. Metabólitos ativos são formados pelo citocromo CYP2D6 (M1: O-demetiltramadol)27. Sua biodisponibilidade fica em torno de 75%, com meia-vida de eliminação de 6 a 8 horas. A meia-vida de eliminação dos metabólitos ativos é de 7 a 9 horas. O pico plasmático do tramadol é de S ã o Tabela 1: Freqüências de Reações Adversas - Tramadol Flushing 8% - 16% Tontura 16% - 33% Cefaléia 8% - 32% Insônia 7% - 11% Sonolência 7% - 25% Prurido 6% - 12% Constipação 12% - 46% Náusea 15% - 40% Fraqueza Muscular 4% - 12% Dor Torácica 1% - 5% Hipotensão Postural 2% - 5% Vasodilatação 1% - 5% Agitação / Ansiedade 1% - 5% Confusão Mental 1% - 5% Depressão 1% - 5% Xerostomia 5% - 10% Retenção Urinária 1% - 5% 2 horas e sua excreção urinária é de 30% como droga inalterada e 60% como metabólitos ativos22. O tramadol é um analgésico com grande potencial terapêutico devido à diversidade em seu mecanismo de ação, principalmente por sua atuação favorável em dores neuropáticas, quando associado a analgésicos não-opióides ou a neuromoduladores30,31. Codeína: trata-se de opióide fraco derivado da morfina. A substituição do grupo metil no carbono 3 da molécula de morfina, reduz o efeito de primeira passagem durante o metabolismo hepático, sendo então bem absorvido por via oral (biodisponibilidade entre 40 e 60%)32,33. Indicada para o tratamento de dores de mo- P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 10 2009 Revista Brasileira de Cuidados Paliativos Cuidados Paliativos derada intensidade sendo também, em baixas doses, eficiente antitussígeno. Seu metabolismo é hepático, por demetilação, formando norcodeína e morfina. Cerca de 10% da codeína são transTabela 2: Tramadol – Interações Medicamentosas Importantes: Carbamazepina ↓ do efeito da carbamazepina; ↑ do risco de convulsões Ciclobenzaprina ↑ do risco de convulsões Inibidores do cyp2d6 (clorpromazina, delavirdina, fluoxetina, miconazol, paroxetina, pergolida, quinidina, ritonavir) ↓ dos efeitos do tramadol Etanol ↑ dos efeitos depressores do tramadol Inibidores da mao (isocarboxazida, linezolida, fenelzina, selegilina) Podem aumentar os efeitos neuroexcitatórios com risco de convulsões Naloxona ↑ o risco de convulsões Quinidina ↑ a concentração sérica do tramadol Antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina (citalopram, escitalopram, fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina, sertralina) Podem aumentar os efeitos neuroexcitatórios ou o risco de convulsões Sibutramina ↑ efeitos serotoninérgicos do tramadol Antidepressivos tricíclicos ↑ risco de convulsões Tabela 3: Freqüências de Reações Adversas - Codeína >10% sonolência, constipação entre 1% e 10% taquicardia, hipotensão, tonturas, cefaléia, confusão mental, boca seca, náuseas, vômitos, espasmo ureteral, diminuição de diurese, fraqueza muscular, visão borrada, dispnéia, liberação de histamina >1% convulsões, alucinações, insônia, pesadelos formados em morfina, responsável pelo efeito analgésico da codeína29. A potência analgésica, quando comparada a morfina, é de 1:1034. O início de ação por via oral é obtido entre 30 minutos e 1 hora, com ação máxima entre 1 e 2 horas. Sua duração de ação varia entre 4 e 6 horas S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l (meia-vida de eliminação entre 2,5 e 3 horas), ligação a proteínas plasmáticas de 7%29. A codeína é excretada pelos rins quase que totalmente na forma inativa (3 a 16% como norcodeína, morfina livre e conjugada)35. Os efeitos adversos da codeína podem ser divi0 2 Analgesia balanceada: revisão de conceitos e a associação de fármacos analgésicos no controle da dor 2009 11 Cuidados Paliativos didos por ordem de freqüência conforme mostra a tabela 336. Não é recomendada a administração endovenosa, pois pode causar apnéia e hipotensão grave por liberação de histamina37. Interações medicamentosas são de importância clínica, principalmente quando da inibição do CYP2D6, que diminui o efeito analgésico e antitussígeno da codeína. Os medicamentos que causam essa inibição são: clorpromazina, delavirdina, fluoxetina, miconazol, paroxetina, pergolida, quinidina e ritonavir . O efeito analgésico também esta diminuído em pacientes tabagistas38. Fenotiazidas, depressores do sistema nervoso central (SNC), inibidores da MAO e bloqueadores neuromusculares podem aumentar a toxicidade da codeína40. Usar com cautela durante a lactação. Sinais de overdose são: depressão do SNC e do sistema respiratório, cólicas abdominais e constipação grave. A incidência de dependência física ou psíquica relacionada à codeína é muito baixa37. A dose usual da codeína é de 30 a 60 mg a cada 4 ou 6 horas (0,5 – 1 mg/kg). Como antitussígeno utilizamos a metade da dose analgésica29. Publicações Relevantes Quanto À Associação De Analgésicos A seguir, citaremos algumas publicações relevantes no que diz respeito à associação de fármacos analgésicos por via oral (opióide fraco + analgésico não opioide), comparados a drogas analgésicas em monoterapia ou a placebo. Forbes JA e colaboradores, em 198341, compararam a eficácia analgésica de doses únicas de 500 mg e 1 g de diflunisal, um novo AINE, em um estudo duplo-cego com paracetamol 600 mg, com a combinação de paracetamol 600 mg mais codeína 60 mg e placebo, em 132 pacientes com dor pós-operatória. Utilizando um relatório de auto-medida, os pacientes avaliaram a sua dor e seu alívio de hora em hora durante o período de até 12 horas após a medicação. Diflunisal 500 mg e 1 g foram significativamente superiores ao placebo em cada medida da analgesia e um efeito analgésico significante persistiu por 8 h. Paracetamol em monoterapia e a combinação paracetamolcodeína foram significativamente superiores ao placebo para a maioria das medidas de analgesia, e seus efeitos foram significativos para 4 e 5 horas, respectivamente. Diferenças entre as medicações ativas não foram estatisticamente significantes para medidas de pico ou de analgesia total. Honig S e colaboradores, em 198442, conduziram uma análise de dose única, pós-cirúrgica de 116 pacientes que foram aleatoriamente distribuídos, recebendo codeína 60 mg, paracetamol 600 S ã o mg, a combinação de codeína 60 mg e paracetamol 600 mg ou placebo. Apenas a combinação da codeína com o paracetamol foi superior ao placebo. Codeína 60 mg isolada não foi consistentemente superior ao placebo na análise de dose única pósoperatória. Uma revisão na literatura confirma a dificuldade em estabelecer, inequivocamente, o valor da codeína como analgésico, em doses orais aceitáveis, na configuração de dosagem única, em monoterapia. Relatos prévios, contudo, sugerem que múltiplas doses de codeína podem ser suficientes para analgesia adequada. A interpretação de estudos de dose única com extrapolação para o uso de dosagens repetidas na prática tem se mostrado muito difícil. Ahlström U e colaboradores em 198543 apresentaram um estudo randomizado, duplocego realizado com 180 pacientes que foram submetidos à remoção cirúrgica do terceiro molar impactado. Os pacientes receberam a primeira dose de paracetamol 1 g mais codeína 60 mg, paracetamol 500 mg mais codeína 30 mg ou placebo, imediatamente após a cirurgia durante o efeito do anestésico local. A intensidade média da dor, a duração do efeito e o número de pacientes necessitando analgésicos adicionais foram todos significativamente dose-relacionados. No processo de avaliação foi utilizado um índice de intensidade de dor que levava em conta tanto a eficácia quanto a duração do efeito. Além disso, a eficácia analgésica foi calculada em um período de 12 horas após a primeira medicação, incluindo a eficácia da segunda dose, se utilizada. Paracetamol 1 g mais codeína 60 mg seguidos por paracetamol 500 mg mais codeína 30 mg, após cerca de 5 h, foi um tratamento muito efetivo e mais de 40% desses pacientes não necessitaram outros analgésicos durante o período de avaliação. Concluiu-se que uma associação analgésica efetiva tomada imediatamente após cirurgia oral reduz a dor total e diminui a necessidade de novos analgésicos. Bentley KC e colaboradores, em 198744, em um estudo duplo-cego, randomizado, de dose única, determinaram a contribuição analgésica de paracetamol 1 g e codeína 60 mg em pósoperatório de cirurgia oral. O estudo foi um experimento fatorial 2 x 2, no qual 120 pacientes sofrendo de dor resultante de cirurgia oral mediram a intensidade e o alívio da dor no período de 5 horas após uma dose única nas seguintes combinações: 1 g de paracetamol, 60 mg de codeína, 1 g de paracetamol mais 60 mg de codeína ou placebo. A análise fatorial mostrou que ambos 1 g de paracetamol e os 60 mg de codeína fizeram uma contribuição estatisticamente significativa P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 12 2009 Revista Brasileira de Cuidados Paliativos Cuidados Paliativos (p<0.05) para a efetividade analgésica da combinação em todas as medidas de eficácia (soma das diferenças de intensidade de dor, maior diferença de intensidade de dor, alívio total da dor e tempo para reutilização da medicação). A incidência de efeitos adversos não diferiu entre os tratamentos, incluindo placebo. Minotti V e colaboradores, em 199845, em um estudo prospectivo randomizado duplo-cego, conduzido com 184 pacientes neoplásicos com dor crônica moderada a intensa, avaliaram a eficácia analgésica e a tolerância do diclofenaco isolado (50 mg 4 vezes/dia), em associação com um opióide fraco (codeína 40 mg 4 vezes ao dia) ou com um antidepressivo (imipramina, 10 ou 25 mg 3 vezes ao dia). Todas as características demográficas e clínicas incluindo o tipo de câncer, presença de metástases ósseas, intensidade da dor, dor neuropática e nociceptiva, bem como estado depressivo, foram bem balanceadas entre os três grupos de tratamentos. A análise principal do estudo foi o escore da Escala Visual Analógica (EVA) na segunda visita (quarto dia). Os autores concluíram que, em uma avaliação em curto prazo, a adição de um antidepressivo tricíclico ou de um opióide fraco ao diclofenaco não resulta em aumento da analgesia em relação à administração do diclofenaco em monoterapia. Forbes JA e colaboradores, em 198946, estudaram 88 pacientes com dor pós-operatória após a remoção de terceiro molar impactado, aleatoriamente distribuídos em uma base duplocega, recebendo uma dose única de flurbiprofeno 100 mg, paracetamol 600 mg, uma combinação de paracetamol 600 mg com codeína 60 mg ou placebo. Utilizando um relatório de auto-medida, os indivíduos mediram sua dor e o alívio 12 horas após a medicação. Flurbiprofeno e a combinação paracetamol-codeína foram significativamente superiores ao placebo para cada medida total e do pico de analgesia e significativamente superiores ao paracetamol em monoterapia na maioria das medidas de eficácia. Baseado nos dados de 12 horas, o paracetamol em monoterapia não diferiu significativamente em relação ao placebo; contudo, foi superior ao placebo para medidas do efeito total baseado nos dados de 4 horas. Flurbiprofeno foi significativamente superior à combinação paracetamol-codeína no que diz respeito ao número de horas até a reutilização do fármaco. Todas as medicações haviam manifestado um efeito na primeira hora; analgesia persistiu por 12 horas para o flurbiprofeno, 6 horas para paracetamol-codeína e 3 horas para o paracetamol em monoterapia. A freqüência de efeitos adversos foi similar para as medicações ativas. S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l Cooper SA e colaboradores, em 198947, publicaram estudo onde o meclofenamato sódico 100 mg, um AINE, foi comparado com paracetamol 600 mg, paracetamol 600 mg com codeína 60 mg e placebo para o alívio da dor dental pós-cirúrgica em 143 pacientes. Meclofenamato sódico foi significativamente mais eficaz que o paracetamol 600 mg e placebo. A diferença entre meclofenamato sódico e paracetamol 600 mg com codeína 60 mg não foi estatisticamente significativa. Todos os tratamentos foram bem tolerados sem importantes efeitos adversos. Moore A e colaboradores, em 199748, conduziram uma revisão sistemática de ensaios randomizados a fim de avaliar a analgesia obtida a partir de doses únicas de paracetamol e da combinação do paracetamol com codeína em dor pós-operatória. Foram encontrados 31 ensaios de paracetamol contra placebo com 2515 pacientes, 19 ensaios de paracetamol mais codeína contra placebo com 1204 pacientes e 13 ensaios de paracetamol mais codeína contra a mesma dose de paracetamol com 874 pacientes. A informação de alívio de dor foi extraída e convertida em informação dicotomizada (número de pacientes com pelo menos 50% de alívio de dor). Variações amplas nas respostas ao placebo (0-72%) e droga ativa (3-89%) foram observadas. Em estados de dor pós-operatória, paracetamol 1 g isolado contra placebo teve um NNT de 3,6 (3,0-4,4) e paracetamol 600/650 mg isolado um NNT de 5.0 (4.1-6.9). Paracetamol 600/650 mg mais codeína 60 mg contra placebo tiveram um melhor NNT de 3.1 (2.6-3.8) sem haver sobreposição de intervalo de confiança de 95% com paracetamol 600/650 mg isolado. Em comparações diretas de paracetamol mais codeína com paracetamol em monoterapia, o efeito analgésico adicional de 60 mg de codeína adicionado ao paracetamol foi de 12 pacientes extras em cada 100 alcançando pelo menos 50% de alívio de dor. Em comparações diretas de cada esquema com o placebo, os resultados foram de 14 em cada 100 pacientes. Esse foi um NNT de adição de 60 mg de codeína de 9.1 (5.824). Os resultados confirmaram que paracetamol é um analgésico efetivo e que a adição de 60 mg de codeína ao paracetamol produz valioso alívio de dor adicional em doses únicas. Verchère E e colaboradores, em 200249, apresentaram estudo onde 64 pacientes foram alocados prospectivamente e randomizadamente em três grupos: paracetamol (grupo P com n=8), paracetamol + tramadol (grupo PT com n = 29) e paracetamol + nalbufina (grupo PN com n = 27). Anestesia geral foi padronizada com propofol e remifentanil utilizando-se atracúrio como relaxante 0 2 Analgesia balanceada: revisão de conceitos e a associação de fármacos analgésicos no controle da dor 2009 13 Cuidados Paliativos muscular. Uma hora antes do final da cirurgia, os pacientes receberam 30 mg/kg de propacetamol intravenoso e, após, 30 mg/kg a cada 6 horas. Pacientes no grupo PT receberam 1,5 mg/kg de tramadol uma hora antes do final da cirurgia. Pacientes do grupo PN receberam 0,15 mg/kg de nalbufina que foi injetada após a descontinuação de remifentanil, devido ao seu efeito µ-antagonista. Dor pós-operatória foi avaliada no paciente acordado após extubação (hora zero) e após hora 1, 2, 4, 8 e 24 horas utilizando a EVA. Tramadol adicional (1,5 mg/kg) ou 0,15 mg/kg de nalbufina foram administrados quando o escore da EVA era ≥ 3. Efeitos adversos das drogas foram também avaliados. Os três grupos foram similares no que diz respeito à dose total de remifentanil recebida (0,27 ± 0,1 µg/kg/min.). Em todos os pacientes a extubação foi obtida dentro de 6 ± 3 minutos após a administração de remifentanil. Analgesia pós-operatória foi inefetiva no grupo P; além disso, inclusões nesse grupo foram cessadas após o oitavo paciente. Analgesia pós-operatória foi efetiva nos dois grupos remanescentes porque os escores da EVA foram similares, exceto na hora 1, quando a nalbufina foi mais efetiva (P = 0,001). Devido a isso, a aquisição de tal resultado demandou significativamente mais tramadol que nalbufina (P < 0,5). Mais casos de náuseas e vômitos foram observados no grupo PT mas a diferença não foi significativa (P<0.6). Concluiu-se que após neurocirurgia supratentorial, o uso de paracetamol em monoterapia é insuficiente para trazer alívio ao paciente. A adição de tramadol ou nalbufina ao paracetamol parece necessária para que se alcance a analgesia adequada, porém com doses mais elevadas de tramadol. Edwards JE e colaboradores, em 200250, analisaram dados individuais de pacientes provenientes de sete ensaios clínicos randomizados, duplo-cego, controlados por placebo de tramadol mais paracetamol. Todos os ensaios utilizaram métodos idênticos e avaliaram dose única de tramadol oral (75 mg ou 112.5 mg) mais paracetamol (650 mg ou 975 mg) em pacientes adultos com dor pós-operatória de moderada à grave. A soma da intensidade da dor e do alívio após 6 e 8 horas e avaliações globais do efeito do tratamento após 8 horas foram relatadas. O NNT para um paciente obter ao menos 50% de alivio de dor foi calculado. NNTs derivados de dados de alívio da dor foram comparados com aqueles derivados de dados de intensidade de dor e de avaliações globais. Informações acerca de efeitos adversos foram coletadas. Analgésicos combinados (tramadol mais paracetamol) tiveram significativamente NNTs mais baixos (melhores) S ã o que os componentes em monoterapia e eficácia comparável ao ibuprofeno 400 mg. Isso poderia ser demonstrado para a dor dentária, mas não pós-cirúrgica, pois mais pacientes estariam disponíveis para o primeiro caso. Efeitos adversos foram similares para a combinação de drogas e para o componente opióide isolado. Efeitos adversos comuns foram tontura, sonolência, náuseas, vômitos e dores de cabeça. Em conclusão, essa meta-análise demonstrou superioridade analgésica da combinação das drogas sobre seus componentes isolados, sem toxicidade adicional. McQuay H e colaboradores, em 200351, realizaram uma meta-análise para avaliar a eficácia analgésica e efeitos adversos de dose única oral de tramadol mais paracetamol na dor aguda pósoperatória, bem como para demonstrar a eficácia da combinação comparada aos seus componentes em monoterapia. Dados individuais de mais de 1400 pacientes de procedimentos dentários ou ginecológico-ortopédicos com dor moderada a grave foram colhidos a partir de 7 ensaios clínicos randomizados, duplo-cego, controlados por placebo de tramadol (75 mg ou 112.5 mg) mais paracetamol (650 mg ou 975 mg) com métodos idênticos. A medida do desfecho primário foi o NNT para um paciente obter alívio de 50% em sua dor. Informações acerca de efeitos adversos foram também coletadas e o NNH foi estimado. A combinação tramadol/paracetamol foi mais efetiva que um dos dois componentes administrados isoladamente. Para pacientes de cirurgias dentárias, que formaram a grande maioria da população, a formulação da combinação teve, também, um NNT mais baixo (3) que os componentes isolados (8 – 12), comparável ao ibuprofeno 400 mg. Os efeitos adversos associados ao tramadol/paracetamol foram similares àqueles associados aos componentes isolados. Os mais comuns foram tontura, sonolência, náusea, vômito e cefaléia. A meta-análise confirmou a superioridade analgésica da combinação do tratamento sobre os seus componentes isolados, sem toxicidade adicional. Formulações analgésicas combinadas são meios importantes e efetivos para o alívio da dor e deveriam ser mais utilizadas no tratamento de idosos e outros grupos de pacientes que geralmente não toleram AINES, incluindo os novos inibidores da COX-2. Schnitzer T, em 200352, publicou trabalho onde discutia a seguinte questão: tramadol e paracetamol são os produtos de uma combinação racional na qual seus mecanismos de ação não coincidem e que, em estudos pré-clínicos, essa combinação age sinergicamente. Também se espera dessa combinação um alívio de dor mais rápido P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 14 2009 Revista Brasileira de Cuidados Paliativos Cuidados Paliativos que o tramadol em monoterapia, e um alívio mais persistente que o paracetamol isolado. Além disso, cada componente é metabolizado em diferentes rotas. Estudos sobre a dor dentária aguda mostraram que o alívio da dor e melhora da intensidade da dor associada com tramadol 75 mg associado ao paracetamol 650 mg são superiores ao placebo, tramadol ou paracetamol em monoterapia. Essa combinação resultou em um rápido início de ação, idêntico ao alcançado com paracetamol isolado, mas o alívio da dor foi também sustentado como o do tramadol sozinho. Tramadol/paracetamol também tiveram a mesma incidência de eventos adversos que a monoterapia com tramadol. Um estudo sobre a dor lombar crônica e sobre a dor da osteoartrite mostrou que a combinação das drogas pode ser utilizada similarmente à combinação codeína/paracetamol no tratamento da dor crônica benigna. A característica segura do uso de tramadol/paracetamol é, pelo menos, tão favorável quando a codeína/paracetamol, sendo bem tolerada com o uso a longo prazo. Conclui-se que a combinação tramadol/paracetamol é uma nova formulação que é efetiva na dor aguda ou crônica moderada a moderada-grave. Seus benefícios são provenientes das ações complementares dos constituintes analgésicos, tendo o rápido início do paracetamol e o efeito sustentado do tramadol. A eficácia analgésica dessa combinação é comparável a de controles positivos e sua característica de eventos adversos se alinha com a de seus componentes. Emkey R e colaboradores, em 200453, apresentaram estudo onde foi avaliada a eficácia e a segurança do tramadol 37.5 mg mais paracetamol 325 mg em pacientes com osteoartrite (OA) com dores não controladas pelos AINES. Foi um estudo de 91 dias, multicêntrico, randomizado, duplo-cego, controlado por placebo no qual foram arrolados indivíduos com OA sintomática por no mínimo um ano que experimentaram, pelo menos, dor moderada (escore na EVA > 5 a 10) apesar do tratamento com doses estáveis de celecoxibe (> 200 mg/dia) ou rofecoxibe (>25 mg/dia). Tramadol mais paracetamol ou placebo foram titulados em 4 comprimidos/dia no décimo dia e após o quanto necessário podendo chegar a 8 comprimidos/dia. A primeira medida de eficácia foi o escore final da EVA; medidas secundárias incluíram escores de alívio final da dor, avaliações das medicações pelos indivíduos e investigadores, taxas e tempo de descontinuação devido à falta de eficácia, bem como escores selecionados de qualidade de vida e funcionalidade. Dos 307 indivíduos randomizados, 306 em uso de celecoxibe S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l (56,5%) ou rofecoxibe (43.5%) foram incluídos na população em que se verificou a intenção de tratar (n=153 tramadol + paracetamol, 153 placebo). A média final de escores da EVA para tramadol + paracetamol + AINES COX-2 foi significativamente menor que placebo mais AINES COX-2 (41.5 VS 48.3; p=0.025) e a média final de escores do alívio da dor foi significativamente maior (p=0.002). Indivíduos em uso de tramadol mais acetaminofeno apresentaram melhoras significativas comparados com placebo nas avaliações indivíduo/investigador, bem como no formulário Physical function and the medical outcome study short form-36 Role-physical measures (WOMAC). O efeito adverso mais comum para o tramadol mais paracetamol foi sonolência (6.5%), náusea (4.5%) e constipação (3.3%). A dose média do tramadol mais paracetamol foi de 4.1 comprimidos (154 mg de tramadol/ 1332 mg paracetamol). Conclui-se que a combinação tramadol 37,5 mg mais paracetamol 325 mg foi efetiva e segura ao ser adicionada ao tratamento com AINES inibidores da COX-2 para o tratamento da dor da OA. Rosenthal NR e colaboradores, em 200454, publicaram estudo onde foi avaliada a eficácia e segurança da combinação do tramadol 37,5 mg com paracetamol 325 mg (tram/par) no tratamento da dor da osteoartrite em uma população de pacientes idosos. Foi um estudo randomizado, duplo-cego, controlado por placebo, em 30 centros. Dos 308 pacientes com osteoartrite com picos dolorosos, 113 tinham 65 anos ou mais. Os pacientes receberam um ou dois comprimidos de tram/acet ou placebo 4 vezes/dia por 10 dias durante a terapia com AINES inibidores seletivos ou não-seletivos da COX-2. Tram/par (n=69) foi significativamente superior ao placebo (n=44) para a intensidade média de dor diária e para alívio da dor nos dias 1 a 5 e dias 1 a 10. Tram/par teve média na avaliação investigador/paciente significativamente maiores . Os efeitos adversos mais comuns com tram/par foram náusea (18,8%), vômitos (13%), tontura (11,6%) e constipação (4,3%), com uma incidência similar àquela da população total do estudo. A dose média do tram/par foi de 4,5 comprimidos (168 mg/1448 mg). Concluiuse que a associação tramadol mais paracetamol foi eficaz no manejo do pico da dor na AO e bem tolerada nesta população de idosos. Smith AB e colaboradores, em 200455, publicaram um estudo multicêntrico, randomizado, duplo-cego, controlado por placebo avaliando tramadol + paracetamol (TR/PAR) para dor pós-cirúrgica ortopédica (n=153) e abdominal (n=152). Pacientes com dor moderada ou forte 0 2 Analgesia balanceada: revisão de conceitos e a associação de fármacos analgésicos no controle da dor 2009 15 Cuidados Paliativos foram randomizados a receber, inicialmente, dois comprimidos de 37,5 mg de tramadol mais 325 mg de paracetamol (n=98), codeína 30 mg mais paracetamol 300 mg (n=109), ou placebo (n=98); após, eles receberam um a dois comprimidos a cada 4 ou 6 horas conforme necessário para a dor por 6 dias. Medidas de desfecho foram o alívio da dor e a intensidade da dor, alívio total da dor, somatório das diferenças de intensidade de dor e soma do alívio da dor e das diferenças de intensidade durante 4 horas e das médias diárias. O tramadol + paracetamol foi superior ao placebo para o alívio total da dor, soma das diferenças de intensidade de dor e soma de alívio da dor e diferenças de intensidade (p≤0,015); tramadol + paracetamol e codeína + paracetamol não tiveram diferença significativa (p≥0,281). Para o alívio médio diário, intensidade média de dor, e avaliação médica total, tramadol + parcetamol foi superior ao placebo (p≤0,038); codeína + paracetamol não foi diferente do placebo (p≥0,125). A descontinuação devido aos efeitos adversos ocorreu em 8,2% do grupo tramadol + paracetamol, 10,1% da codeína + paracetamol e 3% dos pacientes em uso de placebo. Excetuando-se a constipação (4,1% tramadol + paracetamol VS 10,1% na codeína + paracetamol) e vômitos (9,2% VS 14,7%, respectivamente), os efeitos adversos foram similares para os tratamentos ativos. Concluiu-se que tramadol + paracetamol (dose média de 4,4 comprimidos) foi efetiva e bem tolerada na dor pós-cirúrgica e mostrou melhor tolerabilidade que a codeína + paracetamol. Jung YS e colaboradores, em 200456, realizaram um estudo para comparar o tempo de início da analgesia e outras medidas de eficácia analgésica com tramadol 75 mg/paracetamol 650 mg (Tr/Par) e codeína 20 mg/paracetamol 500 mg/ibuprofeno 400 mg (Co/Par/Ib) no manejo da dor pós-cirurgia oral. Foi um estudo randomizado, de dose única, paralelamente estudado em indivíduos sadios que foram submetidos à extração cirúrgica de um ou mais terceiros molares impactados havendo necessidade de remoção óssea. Quando os pacientes relataram, ao menos, dor moderada após a cirurgia dentária (escore ≥ 5 em uma escala de 0-10 - EVA) eles foram randomizados para o grupo 1 ou 2. Ambos os grupos foram similares quanto à intensidade da dor e características demográficas (idade média de 23,7 e 23,4 anos nos grupos Tr/Par e Co/Par/Ib, respectivamente; peso médio: 58,5 kg e 60,3 kg). Nesse pequeno e seleto grupo de indivíduos, o início da analgesia e a eficácia analgésica do Tr/Par foram comparáveis àquela do Co/Ac/Ib. Tr/Par foi responsável por analgesia rápida e efetiva para a dor aguda pós-cirurgia S ã o dentária nessa população. Fricke JR e colaboradores, em 200457, apresentaram um estudo com o objetivo de comparar a eficácia analgésica do tramadol 75 mg/paracetamol 650 mg e tramadol 100 mg no controle da dor pós-cirúrgica oral. Um total de 456 pacientes com dor moderada a grave dentro de 5 horas após a extração de dois ou mais molares foi randomizado para receber dois comprimidos contendo tramadol 37,5 mg/paracetamol 325 mg, tramadol 50 mg ou placebo. Tramadol/paracetamol foi superior ao tramadol (p<0,001) ou placebo (p<0,001) em todas as medidas avaliadas: alívio total da dor (ATD) após 6 horas (7.4, 2.5 e 1.5, respectivamente, em uma escala de 0-24); soma das diferenças de intensidade da dor (DID) (3.1, 0.6, e 0.1, respectivamente, em uma escala de -6 a 18); e soma do ATD e DID (10.5, 3.1, e 1.6, respectivamente, em uma escala de -6 a 42). Os tempos médios para o início do ATD perceptível e significativa foram 37.6 e 126.5 minutos, respectivamente, para o grupo tramadol/paracetamol (p<0,001 para cada, comparado com os braços tramadol e placebo). Os efeitos adversos mais comuns foram náusea, tontura e vômitos; esses eventos ocorreram mais freqüentemente no grupo tramadol que no grupo tramadol/paracetamol. Este estudo estabeleceu a superioridade do tramadol 75 mg/paracetamol 650 mg sobre o tramadol 100 mg em monoterapia no tratamento da dor aguda pós cirurgia oral. Peloso PM e colaboradores, em 200458, publicaram estudo onde foi avaliada a eficácia analgésica e a segurança da combinação de tramadol 37.5 mg mais paracetamol 325 mg (tramadol/paracetamol) no tratamento de dor lombar crônica. Foi um estudo de 91 dias, multicêntrico, randomizado, duplo-cego, controlado por placebo no qual foram arrolados 338 pacientes com dor lombar requerendo medicação diária num período de, no mínimo, 3 meses. Pacientes com, pelo menos, dor moderada (EVA ≥ 4/10) foram randomizados entre os grupos tramadol/paracetamol ou placebo. Após 10 dias de tratamento, os pacientes receberam um ou dois comprimidos 4 vezes ao dia. O desfecho primário foi a medida final do escore da EVA. Desfechos secundários incluíram alívio da dor, qualidade de vida, insuficiência na eficácia e avaliações médicas gerais. No total, 336 pacientes receberam tramadol/ paracetamol (n = 167) ou placebo (n = 169). A dor basal média medida via EVA foi 67.8. A análise mostrou escores finais da EVA significativamente melhores (47.4 VS 62.9; p<0.001), bem como escores médios finais de alívio da dor (1.9 VS 0.7; p<0.001) para o tramadol mais paracetamol contra placebo. Os escores do questionário Roland disability, bem P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 16 2009 Revista Brasileira de Cuidados Paliativos Cuidados Paliativos como as subcategorias do questionário McGill pain e do Medical outcome study short form-36 Health survey foram significativamente melhores para os pacientes recebendo tramadol mais paracetamol. Um maior número de pacientes relatou tramadol mais paracetamol como “muito bom” ou “bom” em relação ao placebo (63.3 VS 25.2%); p<0.001). Estimativas Kaplan-Meier das taxas cumulativas de descontinuação devido à insuficiente eficácia foram 22.9% (tramadol mais paracetamol) VS 54.7% (placebo; p<0.001). Os efeitos adversos mais comuns relacionados ao tramadol mais paracetamol foram náuseas (12%), tonturas (10.8%) e constipação (10.2%). A dosagem média de tramadol mais paracetamol foi de 4.2 comprimidos (tramadol 158 mg mais paracetamol 1369 mg). Concluiu-se que comprimidos de tramadol 37.5 mg mais paracetamol 325 mg mostraram eficácia na redução da dor, em medidas de funcionalidade e qualidade de vida, bem como avaliações médicas, com uma tolerabilidade comparável a outros opióides utilizados para o tratamento de dor lombar crônica. Conclusões A analgesia balanceada ou multimodal é um conceito dinâmico, pois vem sendo difundido de várias formas na literatura médica de modo geral. Iniciou com o tratamento da dor pós-operatória aguda1, passou a pautar as diretrizes do tratamento da dor oncológica3, auxiliou no regramento da conduta analgésica de dores crônicas neuropáticas e musculoesqueléticas, dentre várias contribuições citadas na literatura. Hoje cabe a investigação exaustiva do sinergismo entre as várias classes de analgésicos procurando não só aumentar a potência analgésica, como também manter a analgesia diminuindo consideravelmente os efeitos tóxicos das drogas. Estamos, sem dúvida, evoluindo favoravelmente neste campo. Associações fixas de analgésicos opióides fracos com analgésicos não-opióides têm se mostrado eficazes não só no controle da dor, principalmente pela via oral, conforme recomendado pela Organização Mundial da Saúde3, mas também pela melhor adesão dos pacientes ao tratamento, com melhora na posologia bem como na tolerância aos fármacos pela diminuição significativa de seus efeitos adversos8,12,15,19,20,24,29,32,35. Esperamos encontrar em breve, estudos comparando maior número de fármacos analgésicos, aumentando as opções de combinação de drogas, o que sem dúvida trará grande contribuição para o controle adequado da dor aguda e crônica. Novas formas farmacêuticas, proporcionando proteção aos fármacos quanto à absorção inadequada, metabolismo, formação de metabólitos tóxicos e chegada ao sítio de ação em concentrações adequadas, serão de vital importância para aumentar o arsenal terapêutico analgésico. Referências 1.Kehlet H, Dahl JB. The value of “multimodal” or “balanced analgesia” in postoperative pain treatment. Anesth Analg. 1993; 77(5):1048-56. 2.Dahl JB, Kehlet H. Non-steroidal anti-inflammatory drugs: rationale for use in severe postoperative pain. Br J Anaesth 1991; 66: 703-12. 3.World Health Organization (1986): Cancer pain relief: with a guide to opioid availability. 1st edition. Geneva: WHO. 4.Badner NH, Reimer EJ, Komar WE, Moote CA. Low dose bupivacaine does not improve postoperative epidural fentanyl analgesia in orthopedic patients. Anesth Analg 1991; 72:33741. 5.Michaloliakou C, Chung F, Sharma S. Preoperative multimodal analgesia facilitates recovery after ambulatory laparoscopic cholecystectomy. 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Este sintoma é acompanhado de tabus e conhecimentos populares que encorajam a automedicação, que nem sempre é inócua ao paciente. A constipação intestinal frequentemente está relacionada à dieta, incluindo a redução da ingestão de fibras, líquidos e de alimentos de maneira geral, sedentarismo, doenças concomitantes e uso de diversos medicamentos. Conseqüentemente, apresenta maior prevalência em idosos. O envelhecimento da população tem exigido dos profissionais de saúde maior atenção para o estudo das alterações funcionais gastrointestinais relacionadas à idade. Além disto, muitas vezes a constipação intestinal não é valorizada nos atendimentos médicos, em geral devido à atenção profissional estar voltada para outras doenças, e pode ser fator de risco ou causa de complicações potencialmente graves, tendo em vista a complexidade de comorbidades presentes nos idosos. O conhecimento da fisiopatologia e a pronta intervenção quando são identificados fatores de risco ou diante do início do quadro são essenciais para o controle do sintoma e a prevenção de complicações potencialmente graves. Quando o tempo de trânsito intestinal está prolongado, ocorre excessiva reabsorção de água, o conteúdo fecal endurecido pode levar a dilatação do cólon, e doenças anorretais como fissura anal e hemorróidas. Além disso, a constipação pode levar S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l a sérias complicações, como impactação fecal, incontinência fecal paradoxal, dilatação e até mesmo perfuração do cólon. A absorção de medicamentos fica alterada, podendo ocorrer maior ou menor absorção de determinados medicamentos. Por outro lado, o aumento do uso de laxativos, relacionado a crenças populares visando supostos benefícios com a evacuação diária, determinou várias complicações, incluindo tolerância medicamentosa, melanosi coli, e o cólon catártico 1. O atendimento do paciente com constipação intestinal crônica envolve cuidados multidisciplinares. E em pacientes acamados ou idosos, o contexto multifatorial necessário para o desenvolvimento e perpetuação da constipação intestinal é favorecido pela progressiva restrição da independência pessoal e social, levando ao maior envolvimento de cuidadores de diversas áreas. Portanto, a complexidade dos fatores envolvidos na constipação intestinal nos idosos demanda cuidado e atenção redobrados. Pequenas intervenções ou correções de hábitos podem determinar grande melhora da qualidade de vida e reduzir a morbidade e a mortalidade, associadas a esse distúrbio. Definição A definição de constipação intestinal é extremamente variável dentre profissionais de saúde e pacientes. Quando adultos saudáveis foram questionados para definir constipação, surgiram como definições mais freqüentes: esforço evacuatório (52%), fezes endurecidas (44%), evacuações infrequentes (32%), e outros como evacuação incompleta e desconforto abdominal 2. Acredita-se que apro0 2 Constipação intestinal: abordagem diagnóstica e terapêutica 2009 19 Cuidados Paliativos ximadamente 62% da população geral consideram que a freqüência diária das evacuações é sinal de boa saúde, e assim atribuem a baixa freqüência evacuatória ao conceito de constipação intestinal. Considerando-se a diversidade e a subjetividade da sintomatologia apresentada, desde 1999, um grupo de especialistas tem estabelecido parâmetros mais claros e abrangentes para uniformizar a conceituação de constipação intestinal 3,4. Tabela 1: Critérios de Roma III para diagnóstico de constipação crônica* 1. Presença de pelo menos dois ou mais sintomas, por doze semanas, nos últimos seis meses precedentes ao diagnóstico. • < 3 evacuações por semana • Esforço evacuatório em mais de 25% das evacuações • Fezes endurecidas e fragmentadas em mais de 25% das evacuações • Sensação de evacuação incompleta em mais de 25% das evacuações • Sensação de obstrução de saída em mais de 25% das evacuações • Manobras manuais facilitadoras de evacuação em mais de 25% das evacuações 2. Fezes macias podem estar presentes, se em uso de laxantes. 3. Os critérios para síndrome do intestino irritável são insuficientes *Extraída de George et al, 2006 5 Os critérios de Roma III são úteis na uniformização do diagnóstico da constipação intestinal, mas não são apropriados para classificar ou caracterizar a gravidade da constipação, ou ainda para serem empregados como parâmetro de acompanhamento no tratamento5. Um dos métodos propostos para este fim, é a escala de Bristol, que consiste na classificação da consistência das fezes em sete tipos variando de fezes amolecidas a cíbalos através de ilustrações 6. Esta escala baseia-se no conceito de que a forma das fezes é um melhor preditor do transito intestinal que a freqüência de evacuações, uma vez que a forma das fezes muda conforme as mudanças no transito intestinal. A escala da forma das fezes de Bristol é um método simples e rápido, validado para avaliação do tempo de trânsito intestinal e pode ser utilizada para monitorização de mudanças na função intestinal, no entanto esta avaliação é mais subjetiva, sujeita a vários vieses de análise, incluindo erro na observação. O índice de McMillan 7 desenvolvido num grupo de pacientes que fazia uso de drogas constipantes consiste na avaliação de 8 itens (distensão abdominal, flatulência, fezes muito amolecidas, freqüência de evacuações, sensação de reto cheio ou pressão, dor retal à evacuação, fezes pouco S ã o volumosas, dificuldade de expulsão das fezes) pontuados de 0 a 2 cada um, conforme a avaliação, sendo o produto final da somatória dos índices o resultado do índice de McMillan, que tem como objetivo, também, identificar e estimar a gravidade da constipação intestinal. Por ser uma ferramenta simples, de fácil leitura e rápida aplicação, recebeu aceitação multidisciplinar. Entre coloproctologistas e especialistas em fisiologia colorretal, outros índices vem sendo propostos com a finalidade de quantificar a gravidade da constipação e monitorar objetivamente seu seguimento. Dentre eles destacam-se os índices da Cleveland 8 e o KESS 9. O índice de Cleveland consiste na avaliação de oito parâmetros (duração da constipação em anos, tentativas sem sucesso para evacuar em 24h, assistência e tipo de assistência, tempo gasto no banheiro para evacuar, dor abdominal, sensação de evacuação incompleta, dificuldade: evacuação dolorosa, freqüência de evacuações), graduados de 0 a 4, sendo o produto da somatória dos itens em resultado numérico o resultado do índice8. O índice de KESS surgiu como uma modificação subseqüente ao índice anterior. Este índice consiste na avaliação de 11 parâmetros (consistência das fezes sem laxativos, tempo de esvaziamento: P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 20 2009 Revista Brasileira de Cuidados Paliativos Cuidados Paliativos banheiro/tentativas, dificuldade para evacuar: dor e desconforto, distensão abdominal, necessidade de enemas ou digitação, sensação de evacuação incompleta, dor abdominal, freqüência de evacuações, tentativa de evacuar sem sucesso, duração da constipação, uso de laxativos), cada um graduado de 0 a 4 ou 3, conforme a especificação do item, sendo que, tal como os outros, o resultado do índice é o produto da somatória dos parâmetros 9. Além da quantificação do sintoma, estes índices pretendiam classificar os pacientes em subgrupos fisiopatológicos (constipação de trânsito lento, distúrbios da evacuação retal e distúrbios mistos). Os autores sugerem que embora isto seja possível, a validação deste tipo de aplicabilidade na prática clínica necessitaria de estudos específicos para este fim. Estes índices podem ser empregados para monitorar a eficácia do tratamento, direcionar a anamnese de profissionais não especializados e talvez, futuramente, direcionar a indicação de exames subsidiários na constipação. Epidemiologia A constipação intestinal acomete cerca de 15% da população, sendo que a prevalência aumenta exponencialmente em pessoas com mais de 65 anos, sendo as mulheres mais freqüentemente afetadas que os homens. No entanto, os estudos de prevalência têm grande variabilidade de acordo com a população estudada, o critério de definição utilizado, e outros fatores, incluindo a automedicação. De modo geral considera-se que 20% das pessoas idosas na comunidade apresentam sintoma de constipação intestinal 10. Em casas de repouso, a prevalência de constipação intestinal chega a mais de 50%, sendo que de 50 a 74% das pessoas desta população fazem uso regular de laxativos. Etiologia e Fisiopatologia A constipação intestinal constitui sintoma que pode estar relacionado a vários mecanismos fisiopatológicos, freqüentemente múltiplos e complexos, incluindo a inadequação da dieta e hábitos, fatores psicológicos e culturais, uso de medicamentos, e doenças intestinais e sistêmicas. Dieta e hábitos inadequados O idoso, em geral, tem alimentação de qualidade pior, seja por diminuição do poder aquisitivo, ou por necessidade de mudar dieta por doenças crônicas. As restrições provenientes de dificuldade para comprar, cozinhar ou ingerir e mastigar alimentos, freqüentemente resultam numa dieta não balanceada. Tem-se demonstrado que idosos constipados fazem refeições menores e menos S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l calóricas do que os idosos não-constipados, com ingestão insuficiente de frutas e vegetais 11. A avaliação da importância exata de cada fator envolvido na constipação torna-se difícil, já que se trata de condição multifatorial. Poucos estudos em tentado examinar a relação de constipação e atividade física, sendo os resultados conflitantes 11, 12, 13,14. Porém, na prática clínica, o sedentarismo e a reclusão, freqüentes em idosos, podem gerar distúrbios graves e agudos, com a formação de fecaloma, determinando quadros de obstrução intestinal e incontinência paradoxal. Perfil psicológico Certos traços psicológicos têm sido associados à constipação em adultos jovens como somatização, transtorno obscessivo-compulsivo, depressão e ansiedade. Em idosos, no entanto, esta associação não tem sido bem estabelecida. Admite-se, no entanto, que depressão e demência sejam fatores de risco para impactação fecal e incontinência 15. Este sintoma se deve, em parte, a perda de urgência para defecar, quando os idosos perdem a responsividade ao reflexo gastro-cólico e a resposta retossigmóide da alimentação, pode ser importante, particularmente em pessoas que vivem em casas de repouso e dependem da ajuda de outras pessoas para ir ao banheiro. Medicações Numerosas medicações podem levar a quadros de constipação, incluindo opióides, antidepressivos, anticolinérgicos, bloqueadores de canal de cálcio, suplementos do ferro, medicações antiparkisonianas, antiácidos de alumínio e produtos de cálcio 16, 17, 18,19 (Tabela 2). Medicações com propriedades anticolinérgicas, analgésicos opiáceos e bloqueadores de canais de cálcio podem prolongar o trânsito intestinal por seus efeitos sobre o sistema nervoso autonômico e musculatura lisa 20, 21,22. O uso de diuréticos levando a desidratação, resulta em aumento da absorção de água e diminuição de conteúdo de água nas fezes 13. Antiácidos contendo cálcio e alumínio, antihistamínicos e antiinflamatórios não esteróides, que inibem a produção normal de prostaglandinas, são comumente usados em conjunto com medicações para doenças crônicas levando a efeito somatório de drogas com potencial constipante 17,23. Doenças orgânicas intestinais Durante a anamnese, deve–se atentar para a presença de sintomas de alarme: mudanças repentinas no hábito intestinal, sangramento retal 0 2 Constipação intestinal: abordagem diagnóstica e terapêutica 2009 21 Cuidados Paliativos Tabela 2: Estudos controlados com doentes com dor crônica de origem oncológica que receberam opióides e a influência na função cognitiva (total=11 estudos). Drogas do sistema nervoso central Antidepressivos Antipsicóticos Ansiolíticos Analgésicos opiáceos Miscelânea Amitriptilina Clonazepan Alprazolan Cocaína Atropina Desipramina Olanzepan Clordiazepoxido Fentanil Flurazepam Difenidramina Tioridazina Diazepan Morfina Fenobarbital Doxepina Zotepina Oxazepan Oxicodona Pseudoefedrina Nortriptilina Paroxetina Fenelzina Reboxetina Drogas cardiovasculares/musculoesqueléticas Antihipertensivos Diuréticos Cardiotônicos Hematológicos Relaxantes musculares Clonidina Clortalidona Digoxina Dipiridamol Pancuronio Diltiazem Furosemida Nitrato de isossorbida Warfarin Orfenadrina Hidralazina Hidroclortiazida Metildopa Nifedipina Triamterene Verapamil Outras classes Antiácidos Anticolinérgicos Antibióticos Antihistamínicos Miscelanea Produtos de alumínio Darifenacin Aminoglicosídeos Difenidramina Corticosteróides Produtos de cálcio Diciclomina Aminopenicilinas Hidroxizine Imunossupressores Cimetidina Hiosciamina Cefalosporinas Ranitidina Oxibutinina Macrolídeos Metilxantinas Antiinflamatórios não esteroidais Ferro Solifenacin Tolterodina Trospium *Adaptada de Ginsberg et al, 2007.3 S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 22 2009 Revista Brasileira de Cuidados Paliativos Cuidados Paliativos e emagrecimento. Tais sintomas sugerem doença intestinal grave, principalmente a neoplasia colorretal. Devido à elevada prevalência do câncer colorretal na população em geral, recomenda-se a partir dos 50 anos análise rotineira de pesquisa de sangue oculto e colonoscopia. Outras causas de constipação incluem condições anais dolorosas (hemorróidas, fissura anal), retocele, intussuscepção ou prolapso retal, doença diverticular e isquemia intestinal. Doenças sistêmicas A constipação intestinal pode estar associada a disfunções neurológicas, anormalidades endócrinas e metabólicas, como diabetes, hipercalcemia, hipotireoidismo ou hipocalemia. O hipotireoidismo pode causar hipomotilidade e trânsito intestinal lento. A insuficiência cardíaca congestiva pode cursar com edema intestinal, ou distúrbios eletrolíticos, causados pelo uso de diuréticos. Distúrbios metabólicos como hipercalcemia e hipocalemia podem afetar a função da musculatura lisa e doenças metabólicas como hiperparatireoidismo e doença de Addison podem afetar a função intestinal 16, 21,24. As neuropatias autonômicas ou sensoriais associadas com diabetes podem também levar à constipação intestinal 25. As anormalidades intestinais em pacientes diabéticos com freqüência decorrem de alteração do controle nervoso autonômico, manifestadas como uma resposta gastrocólica anormal 26,27. Em pacientes com doença de Parkinson; atribuem-se como fatores constipantes a redução da secreção de saliva, com prejuízo na maceração e amolecimento dos alimentos, e a redução da peristalse e da secreção do trato gastrointestinal, sendo estes dois últimos fatores também decorrentes do tratamento medicamentoso 27. Em particular as drogas anticolinérgicas foram rapidamente identificadas como tendo um efeito constipante distinto que poderia inclusive resultar no aparecimento de megacólon. Exames complementares de diagnóstico A constipação intestinal não é uma doença, mas sim um sintoma, que pode ser desencadeado por várias doenças colônicas, metabólicas, endócrinas, neurológicas e farmacológicas. Portanto a exclusão de doenças orgânicas, intestinais ou sistêmicas, é crucial, antes do encaminhamento do paciente ao laboratório de fisiologia colorretoanal para investigação de um possível “distúrbio funcional” como fator etiológico da constipação intestinal idopática refratária. Os pacientes devem ser submetidos à investigação através de testes S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l diagnósticos direcionados pela história e exame físico, incluindo a avaliação do intestino grosso através de enema opaco ou colonoscopia 28. O enema opaco e a colonoscopia são equivalentes no diagnóstico de lesões associadas à constipação. Apesar de estar sendo cada vez mais freqüentemente substituído pela colonoscopia, devido ao fundamental papel desta na detecção de pólipos e prevenção de neoplasias, o enema opaco ainda tem um papel importante na constipação intestinal idopática. Isto porque o enema opaco provê um registro da largura, comprimento, anormalidades anatômicas, sendo superior a colonoscopia neste aspecto. Além disto, a colonoscopia com freqüência é incompleta em cólons redundantes, e comparada com o enema opaco, a colonoscopia apresenta custo e risco de complicações mais elevadas 2, 29,30. Investigação funcional colorretoanal Os exames mais importantes da investigação funcional da constipação intestinal são: tempo de trânsito colônico, videodefecografia, e manometria anorretal; freqüentemente existe a necessidade de associação destes exames para definir a etiologia da constipação intestinal idiopática . Tratamento A maioria dos casos de constipação responde a medidas conservadoras 31. Se medicações ou doenças forem causas da constipação, deve-se suspender a medicação ou tratar a causa desencadeante. Apesar disso, certas condições vão necessitar do uso de determinadas medicações apesar de seus efeitos colaterais, não podendo ser substituídas. Não sendo obtido sucesso com as medidas não farmacológicas para o tratamento da constipação, deve-se iniciar o uso de laxativos. Se a constipação é refratária ao tratamento médico, deve-se, então, encaminhar o paciente a um especialista, para diagnóstico e seguimento clínico. A abordagem global do paciente, freqüentemente multidisciplinar, é imprescindível ao manejo da constipação intestinal, tendo em vista a sua multifatorialidade causal 11. Por exemplo, a constipação intestinal em idosos pode estar associada a sintomas irritativos e/ou obstrutivos do trato urinário baixo, sugerindo que disfunções do trato gastrointestinal e ou urinário possam se influenciar. A melhora da constipação intestinal leva à melhora dos sintomas urinários; ao passo que, a restrição hídrica e o uso de antimuscarínicos usados para tratar os sintomas urinários 0 2 Constipação intestinal: abordagem diagnóstica e terapêutica 2009 23 Cuidados Paliativos podem ser constipantes, retroalimentando os sintomas já presentes da constipação. Nas mulheres, a redução de prolapsos de órgãos pélvicos, como cistocele e retocele, com pessários pode amenizar o sintoma de constipação. Medidas Gerais Treinamento intestinal A atividade colônica é maior após atividade física ou refeição, sobretudo após o café da manhã, devido à maior intensidade do reflexo gastro-cólico. Por isso, os pacientes devem ser estimulados a fazer uma refeição completa, balanceada, durante o café da manhã, seguida, quando possível por uma caminhada 32. A evacuação também pode ser estimulada através de reflexo condicionado, com o emprego de supositórios ou clisteres. Os pacientes deveriam ser aconselhados a não ignorar a chamada à evacuação e, quando dependentes, devem ter disponibilidade de pessoas e estrutura física que lhes permitam receber ajuda com dignidade para evacuar naturalmente e, para isso, pode ser necessário uso de dispositivos como apoio para os pés, que permite o paciente adotar melhor posição; no caso de impossibilidade de levantar do leito, o paciente deve ser auxiliado para adotar posições que facilitem a evacuação. Correção da dieta: ingestão de fibras e líquidos A recomendação diária para a ingesta de fibras é de 20 a 35 gr/dia, sendo que a cultura alimentar ocidental, com ingestão média de fibras no ocidente é de 5-10 gr, desprivilegia esta recomendação. A fibra alimentar aumenta o volume das fezes e a freqüência dos movimentos intestinais, em conjunto à ingestão de líquidos, promovendo menor tempo de transito digestivo. Os efeitos colaterais mais comuns são a distensão abdominal, e a flatulência, os quais às vezes podem se tornar inaceitáveis, e a baixa aceitação do suplemento de fibra. Não há evidências de que a ingestão de líquidos, isoladamente, melhore a freqüência, consistência e facilidade dos movimentos intestinais, apesar de ser um instrumento importante no manejo da constipação intestinal. Combater a desidratação, no entanto, é essencial para o sucesso terapêutico, devendo-se estar atento aos riscos da hiperhidratação de pacientes idosos com insuficiência cardíaca congestiva e insuficiência renal. Probióticos O uso regular de probióticos poderá trazer ter benefício para o tratamento da constipação intestinal, no entanto esse recurso faz parte do S ã o arsenal terapêutico recente e vários estudos têm sido desenvolvidos na busca de evidências de sua efetividade terapêutica33,34. Atividade física A atividade física afeta a função motora colônica, sendo provavelmente a influência proporcional a intensidade do exercício 32. Estudos têm demonstrado que a prevalência de constipação é menor em pessoas que praticam atividades físicas pesadas, enquanto que a inatividade prolongada, principalmente em idosos, lentifica o trânsito colônico 35. Apesar de não ser clara a relação causa-efeito, achados de estudos observacionais, dão suporte para encorajar, sempre que possível, o aumento de atividade física 1. Laxativos Os laxativos são indicados quando as medidas gerais isoladamente são insuficientes no manejo clínico. Os laxativos são classificados, de acordo com o mecanismo de ação, em: formadores de bolo fecal, osmóticos, estimulantes, e lubrificantes. Embora esta classificação seja a mais utilizada, por ser mais didática, no entanto, existe um grande número de preparações com associações de laxantes, além disso, cada laxativo pode ter mais de um mecanismo de ação. Não existem evidências suficientes para recomendar uma classe de laxativos sobre as outras 10. A maioria dos estudos apresenta limitações na metodologia, tais como amostra insuficiente, tratamento de duração limitada e estudos não-controlados. Além disso, muitos estudos realizados em idosos envolveram mais pessoas institucionalizadas ou hospitalizadas do que pessoas da comunidade, não sendo possível generalizar os resultados obtidos 36. Porém, de maneira geral, o uso criterioso de laxativos pode melhorar a freqüência de evacuações e os sintomas de constipação nos idosos 11,36. Laxativos formadores de bolo fecal Os laxativos formadores do bolo fecal possuem como mecanismo de ação comum o aumento de peso e absorção de água pelas fezes, resultando em aceleração da propulsão intraluminal. Para maximização do efeito da suplementação de fibra, torna-se necessário o aumento concomitante da ingestão de líquidos o que pode representar um fator limitante em idosos de saúde frágil e restritos ao leito. A maioria dos estudos demonstra melhora da dor abdominal, no entanto, a flatulência e a distensão abdominal são efeitos adversos comuns, P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 24 2009 Revista Brasileira de Cuidados Paliativos Cuidados Paliativos levando a cólicas abdominais. Este efeito tem sido freqüentemente observado com fibra natural (psylium) e é atribuído à degradação bacteriana. Isto parece menos freqüente com metilcelulose (fibra semi-sintética) e praticamente inexistente com policarbofila (fibra sintética de um polímero de ácido acrílico) 12. Apesar do baixo nível de evidência a maioria dos consensos propõe o uso de fibras e agentes formadores de massa como primeiro passo para a maioria dos pacientes constipados com trânsito normal 11. Laxativos osmóticos Os laxativos osmóticos são agentes hiperosmolares que causam secreção de água na luz intestinal por atividade osmótica. Este grupo inclui os laxativos salinos (hidróxido de magnésio e citrato de magnésio), açucares de baixa absorção (lactulose e sorbitol), e mais recentemente os macrogoes (polietilenoglicol, PEG). As diferenças destes agentes estão relacionadas à sua digestibilidade pelas bactérias colônicas, responsáveis pelos efeitos adversos e ineficácia. O hidróxido de magnésio é o mais antigo e o mais comum laxativo desta classe; atua aumentando a motilidade colônica e a secreção de água e sais minerais. Apesar de ser uma medicação de baixo custo, seu uso em idosos é limitado por seus efeitos adversos, como flatulência e cólica abdominal, toxicidade do magnésio, e interferência com a absorção de medicamentos, incluindo tetraciclinas, digoxina, clorpromazina e isoniazida. A lactulose é um dissacarídeo sintético metabolizado pelas bactérias colônicas e em ácido láctico e outros ácidos inorgânicos (ácidos acéticos, propanóico e butírico). Estes ácidos podem ser absorvidos pela mucosa intestinal e levam a uma queda no pH e modificação na microflora colônica. A lactulose promove o crescimento de bactérias ácido lácticas e bifidobactérias e, mais especificamente, Lactobacillus acidophillus no cólon. O efeito osmótico da lactulose ocorre geralmente após 2-3 dias, quando a capacidade das bactérias de metabolizar a substância é excedida e resulta em aumento da peristalse colônica. A normalização da flora intestinal e a estabilização da integridade da mucosa intestinal com o uso da lactulose têm efeitos benéficos nas desordens intestinais 37. Os efeitos adversos mais comuns são flatulência, cólica abdominal e hipocalemia. O sorbitol é um açúcar alcoólico não absorvível que tem poder osmótico e age ao nível do cólon. Estudos comparativos com a lactulose em pacientes idosos sugerem a mesma efetividade, e efeitos adversos equivalentes, sendo o sorbitol, no entanto, mais S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l barato e menos nauseante 38. Os macrogoes são os mais recentes agentes desta classe, e parecem especialmente atrativos: não são absorvidos ou metabolizados pelas bactérias colônicas e não se associam a mudanças eletrolíticas, principalmente quando usado em pequenas doses como laxativo. O PEG é um laxativo isosmótico que é capaz de se ligar às moléculas de água, aumentando o volume das fezes, reduzindo sua consistência e aumentando a peristalse. Ele vem sendo usado para preparo de colon para colonoscopia e cirurgia. Há relatos de edema agudo pulmonar associado à administração de PEG com solução eletrolítica em pacientes que apresentaram vômitos, sugerindose a hipótese de broncoaspiração do conteúdo. A administração da solução de PEG em pacientes com alto risco de broncoaspiração (idosos com Parkinson e paralisia supranuclear) deve ser cuidadosamente monitorizada, tento em vista a possibilidade desta grave complicação. Mais recentemente, o PEG foi reintroduzido no mercado em forma de saches, em menor concentração. Vários estudos têm mostrado benefícios no tratamento com PEG, mas nenhum foi realizado especificamente em populações idosas 36. Seus efeitos adversos, infreqüentes, são náusea, vômito, diarréia, flatulência e cólica abdominal. Em um estudo comparativo entre PEG e lactulona, o PEG mostrou-se mais efetivo e causou menos flatulência que a lactulose 36. Outros autores demonstram também sucesso do uso de PEG em grupos pequenos de pacientes adultos com distúrbios neurológicos com impactação fecal. 39. Laxativos estimulantes Os laxativos estimulantes são os mais amplamente utilizados e incluem: antraquinonas (sena, aloés, cáscara), derivados de difenilmetano (bisacodyl, picossulfato de sódio); o seu. O mecanismo de ação dos laxativos estimulantes consiste no estímulo do plexo colônico mioentérico e a alteração do fluxo de fluidos e eletrólitos; o efeito é dose dependente, com inibição da absorção de sódio e água em baixas doses e estimulação de influxo de sódio e água para o lúmen colônico em altas doses 17,40. A ação tem início cerca de 8-12h após ingestão, mas esta resposta pode ser mais lenta em idosos debilitados. Apresentam como efeitos adversos distúrbios eletrolíticos como hipocalemia (quando utilizados em altas doses), sendo considerados como segunda linha de tratamento em idosos, diante do insucesso com outras drogas; além de poder causar lesões funcionais e estruturais 0 2 Constipação intestinal: abordagem diagnóstica e terapêutica 2009 25 Cuidados Paliativos da inervação entérica e alterações anatômicas com perda de haustrações, também conhecidas como cólon catártico. As antraquinonas, sena e cáscara sagrada, não são reabsorvidas e são convertidas pelas bactérias colônicas em sua forma ativa. Foram realizados dois estudos comparando a combinação fibra e sena e lactulose em idosos residentes em casas de repouso (media de idade 82 anos) 35. Em ambos os estudos a combinação de fibra e sena foi significativamente mais efetiva que a de lactulose e nenhum efeito adverso foi evidenciado nestes estudos. Deve-se estar atento, no entanto, para o fato da antraquinona ter demonstrado potencial toxicidade celular in vitro, além de sua associação com o desenvolvimento de melanosi coli. A melanosi coli é considerada uma condição benigna e pode regredir quando o uso do laxativo é descontinuado. A correlação entre câncer colorretal e melanosi coli é controversa, não havendo evidencias epidemiológicas de que o uso destes laxantes aumenta o risco de câncer colorretal em humanos. Laxativos lubrificantes Os laxativos lubrificantes (docusatos, dietilssulfosuscinato de sódio, parafina líquida, óleo mineral), atuam diminuindo a tensão superficial do conteúdo intestinal, permitindo o deslocamento da água intraluminal mais facilmente. Eles são geralmente bem tolerados, mas são menos efetivos do que o psylium e são ineficazes em idosos com doença crônica. Esses agentes beneficiam pacientes com hemorróidas ou fissura anal por tornar a evacuação menos dolorosa. O óleo mineral e a parafina líquida reduzem a absorção de vitaminas lipossolúveis e podem associar-se a quadros de pneumonia lipóide associada a broncoaspiração, sendo contra-indicados em idosos. Agentes procinéticos Esta classe de drogas atua na motilidade gastrointestinal por aumentar a coordenação das contrações da parede intestinal. Essa ação é mediada por estimulação de nervos colinérgicos intrínsecos no trato gastrointestinal via ativação de receptores 5-HT4 de serotonina. As principais indicações de drogas procinéticas tem sido o tratamento de desordens motoras do trato gastrointestinal superior, como doença do refluxo gastroesofágico, dispepsia crônica e gastroparesia. Mais recentemente, a vários novos componentes, como tegaserod e prucaloprida têm sido testados especificamente para a constipação intestinal idopática . Prucaloprida é um novo agonista de receptor 5HT4 com efeitos prócinéticos. Esta droga mostrouS ã o se mais efetiva que placebo em pacientes com média de idade de 46 anos 40, no entanto em outro estudo realizado em população idosa (> 65anos idade) não demonstrou aumento significante na freqüência de evacuações comparada com o placebo 41. O tegaserod é também agonista parcial de 5HT4, nesta nova classe de componentes denominados aminoguanidinas índoles. O tegaserod estimula o reflexo peristáltico, resultando na aceleração de trânsito intestinal e colônico, é uma droga efetiva em mulheres de meia idade com síndrome do intestino irritável na forma constipante e que se mostrou inefetiva em homens e desconhece-se o efeito em pacientes idosos e sem síndrome do intestino irritável 10. O tegaserod não deve substituir os tratamentos padronizados para constipação em idosos, os estudos que vem sendo realizados em populações idosas são inconclusivos e, portanto não tem sido aprovado para uso nesta população. Mesmo não tendo sua eficácia comprovada, o uso contínuo da droga por treze meses realizado no estudo 42 não mostrou complicações sérias. A incidência de diarréia com dose de 6mg foi alta em todas as idades e a monitorização deste efeito colateral é necessária principalmente em idosos. Além disto, a presença de cardiotoxicidade levou, recentemente à sua retirada do mercado nos EUA. A eritromicina tem recebido mais atenção recentemente por suas propriedades laxativas. Ela atua como um potente estimulador da motilidade intestinal através da contração de miócitos colônicos via receptores de motilina. A eritromicina tem sido usada de modo efetivo no tratamento de crianças com severa constipação crônica, mas não tem sido avaliada em idosos. 10 Supositórios e enemas Os supositórios de glicerina estimulam a secreção retal por uma ação osmótica aguda, desencadeando o reflexo evacuatório. São em geral menos eficazes que os enemas, e embora seu uso prolongado possa causar irritação anorretal, apresentam poucos efeitos colaterais. Os enemas induzem a movimentação intestinal através da distensão do reto e do cólon. Pacientes idosos, que apresentam sérios problemas de mobilidade, podem necessitar de enemas ocasionais para o tratamento de impactação fecal. Os enemas exclusivos de água podem ser usados para desimpactação aguda e são seguros para uso regular, a evacuação ocorre 2-5min após a administração. Tanto os enemas monossódicos como dissódicos são utilizados no tratamento de constipação aguda e crônica, preparo de cólon e para procedimentos endoscópicos e cirúrgicos. Estes produtos têm sido P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 26 2009 Revista Brasileira de Cuidados Paliativos Cuidados Paliativos largamente empregados há muitos anos, e associados a poucos efeitos colaterais, no entanto, existem relatos na literatura de séries clinicas mostrando complicações sérias, incluindo óbito. Os enemas de fosfato têm mostrado, devido as suas propriedades osmóticas, efeito laxativo maior, como resultado de suas propriedades osmóticas, com risco da ocorrência distúrbios eletrolíticos ou desidratação pelo deslocamento de líquido para a luz intestinal. Entre as complicações, incluem-se cólicas e diarréia, e hiperfosfatemia e hipercalemia caso ocorra retenção do enema, e o uso freqüente deve ser evitado em pacientes com insuficiência renal. Ressalta-se que, apesar dos efeitos colaterais mínimos na população geral, os distúrbios hidroeletrolíticos com o emprego dos enemas de fosfato podem ser fatais, principalmente nos adultos idosos, com comorbidades e se associados a superdosagem. Mendonza et al 43 avaliaram o uso dos fosfoenemas em idosos em estado crítico, freqüentemente com edema pulmonar agudo, insuficiência renal e insuficiência cardíaca, 55% dos pacientes evoluíram a óbito, sendo que 45% dos pacientes falecidos receberam três ou mais doses do enema 43. Segundo estes autores, 92% dos óbitos relacionados ao fosfoenema foram desencadeados por distúrbios hidroeletrolíticos em pacientes extremamente idosos, com comorbidades associadas 43. Complicações O paciente idoso ou cronicamente debilitado, além de comumente apresentar várias comorbidades associadas, necessita de especial atenção na avaliação médica, uma vez que a história clínica e sintomatologia podem ser pouco evidentes, seja por características fisiológicas do processo de envelhecimento, seja pela influência do uso de certas medicações ou pela dificuldade de expressão em patologias demenciais. A dor ou desconforto abdominal, sintoma inespecífico e freqüente, pode ser a causa do atendimento de emergência, sendo necessária avaliação geral do paciente a fim de descartar outras possíveis causas de abdômen agudo inflamatório, vascular, perfurativo ou obstrutivo. Na urgência, a maioria das complicações está relacionadas às iatrogenias no manejo clínico de pacientes com impactação fecal, obstrução intestinal mecânica (volvo, neoplasia, corpo estranho, bridas), pseudo-obstrução intestinal e perfuração intestinal. Complicações obstrutivas ou perfurativas poderão necessitar tratamento cirúrgico após a compensação clínica S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l do paciente, sendo que o tipo de procedimento deverá sempre ser individualizado levando-se em conta a gravidade da complicação e as condições clínicas gerais. A pseudo-obstrução intestinal também pode ser o motivo do paciente procurar o pronto socorro, no entanto, deve-se sempre estar atento aos fatores causais e predisponentes desta condição, para o sucesso terapêutico, em conjunto com atuação local. Impactação fecal As considerações fisiopatológicas e da impactação fecal são equivalentes às da constipação intestinal, como conseqüência de um longo período sem evacuação. A apresentação clínica pode ser sutil e inespecífica, e os pacientes mais propícios a apresentar estes problemas são os que mais freqüentemente são incapazes de comunicar seus problemas particulares. Típicos sintomas de impactação fecal são: anorexia, náusea, vômito e a dor abdominal, podendo estar presentes vários outros sintomas de outros órgãos e sistemas. O fato de existir saída de alguma quantidade de fezes não exclui a presença de impactação. Ao contrário, a diarréia e a incontinência, ditas paradoxais, por serem decorrentes da dissolução do fecaloma podem ser o sintoma mais freqüente em pacientes institucionalizados, com demência e psicose. Nestes pacientes, é freqüente a associação com sintomas urinários, como polaciúria, e retenção e incontinência por transbordamento, causados por efeitos mecânicos da impactação fecal. Em idosos constipados, estados confusionais agudos podem ser complicados por constipação 44. Alguns sinais clínicos podem ser fatores confusionais: o paciente pode apresentar febre, disritmias e taquipnéia 44 desencadeadas pela diminuição da mobilidade diafragmática que pode ocorrer em paciente com impactação fecal, pela distensão abdominal. Hemorróidas e fissuras anais, embora inespecíficos, podem estar associadas à impactação fecal. Distensão e dor abdominal com defesa são sinais relacionados à obstrução e são vistos tardiamente na evolução da impactação fecal. Na maioria das vezes, o diagnóstico é feito através do toque retal, constatando-se o reto repleto de fezes, de consistência variável, porém na maioria das vezes endurecidas. Fecalomas de localização mais alta podem não ser tocáveis e sim palpados durante o exame físico do abdômen. Quando a suspeita clínica não é confirmada ao exame físico, deve-se realiza exame radiológico do abdômen em busca de massas fecais ou sinais de obstrução. 0 2 Constipação intestinal: abordagem diagnóstica e terapêutica 2009 27 Cuidados Paliativos A mais comum e séria complicação da impactação fecal é a incontinência, por fatores sociais, além de predispor infecções urinárias e úlceras de decúbito. Complicações menos comuns relacionadas a impactação fecal são: disreflexia autonômica, pneumotórax por esforço evacuatório, encefalopatia hepática, prolapso retal, inatividade para trabalhar, hipóxia, volvulo, e choque profundo por hipovolemia por deslocamento de líquido para luz intestinal 44. Outras complicações graves são a obstrução e a presença de úlceras estercorais por necrose isquêmica e efeitos de pressão. O melhor tratamento é a prevenção, tratando-se adequadamente a constipação intestinal. Na presença de impactação fecal, a remoção pode ser realizada através de enemas, e laxativos como o PEG e, não havendo sucesso, fragmentação e extração manual da massa fecal sob sedação. Os enemas de fosfato devem ser evitados em pacientes com insuficiência renal, pelo risco de hiperfosfatemia. Enemas com sabão, água oxigenada e água quente nunca devem ser usados por serem irritativos da mucosa e poderem desencadear sangramento. As impactações fecais podem desencadear, em idosos debilitados, quadro de insuficiência respiratória, seja por descompensação cardíaca pela hipervolemia, seja por broncoaspiração maciça ou microaspirações, favorecidas pela distensão abdominal e/ou reflexos de vômito desencadeados por crises de dor que por vezes tende a aumentar sua intensidade pela distensão, que podem culminar com o óbito. Esses pacientes nunca devem ser negligenciados no pronto socorro, e os insucessos ou complicações terapêuticas devem ser monitorizados com freqüência, para que se possa intervir precocemente, visto que frequentemente não estão aptos para manifestar sua sintomatologia e, mesmo que tenham acompanhantes ao seu lado, estes podem identificar alterações clínicas muitas vezes apenas numa fase tardia, o que torna mais difícil o manejo terapêutico e aumenta a morbidade. O cuidado com a hidratação e alimentação do paciente durante o período de manejo clínico de desimpactação fecal também deve ser rigoroso, tendo em vista a maior propensão para distúrbios hidroeletrolíticos. Embora a manipulação retal pelos enemas possa levar a bacteremia, não há indicação de rotina de antibióticoprofilaxia. No entanto, a quebra de barreira protetora mucosa pela alteração isquêmica determinada pela presença das fezes impactadas, associada à manipulação dos enemas, nos pacientes com saúde frágil, pode S ã o predispor a quadros infecciosos com repercussão sistêmica. Portanto estas condições devem ser ponderadas, sobretudo quando o período de manipulação é prolongado. Perfuração fecal estercorácea A perfuração fecal estercorácea é definida como a perfuração intestinal devido à necrose causada pela compressão da parede intestinal pela massa fecal. O fecaloma é uma rara causa de perfuração fecal, sendo muito mais comuns as perfurações por diverticulite aguda, seguidas dos adenocarcinomas. A incidência relatada na literatura vária de 1,2 a 4,6 %, conforme a população avaliada e os critérios utilizados pelos autores para definir perfuração estercorácea. 45 Os grupos de alto risco são residentes em casas de repouso, institucionalizados, e pacientes acamados, com múltiplas comorbidades. O fator etiológico é a constipação intestinal crônica, podendo ser desencadeada pelas mais variadas causas como discutido anteriormente. O diagnóstico é obtido pela história clínica, de dor abdominal severa, indicando peritonite generalizada ou localizada, e presença de pneumoperitônio e conteúdo fecal, com ou sem massa fecal calcificada na radiografia simples do abdomen. A patogênese envolve vários mecanismos, os locais mais comuns são o sigmóide e o retossigmóide, com a freqüência de 47 e 30% respectivamente 45. Os fecalomas tendem a se formar mais no colon distal, onde as fezes são mais desidratadas, associado a isso nesta parte do colon o suprimento sangüíneo mais precário e torna a parede intestinal mais suscetível aos efeitos de pressão do fecaloma 45, principalmente na junção retossigmóide. A pressão intraluminal do fecaloma excede a pressão de perfusão capilar da parede intestinal levando a necrose da borda antimesentérica correspondente ao segmento de suprimento vascular mesentérico acometido. A mortalidade é alta, mas pode ser minimizada pelo tratamento cirúrgico precoce, após compensação clinica e antibiótico terapia adequada. A operação de escolha consiste na ressecção do segmento de cólon acometido, colostomia terminal e fechamento do coto distal (operação de Hartman). A simples exteriorização da perfuração sem ressecção, assim como a sutura primaria da área perfurada com colostomia proximal são técnicas com mortalidade inaceitáveis, 70 e 40%, respectivamente 45. Em casos selecionados, no entanto, como os de diagnóstico precoce, com pouca contaminação da cavidade, a ressecção colônicas com anastomose primária poderá ser indicada. P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 28 2009 Revista Brasileira de Cuidados Paliativos Cuidados Paliativos Pseudo-obstrução intestinal A pseudo-obstrução intestinal é uma síndrome incomum, caracterizada por sintomas agudos, crônicos ou recidivantes de obstrução do intestino delgado ou grosso sem evidência radiológica, endoscópica ou cirúrgica de obstrução mecânica. Os sintomas, embora decorrentes de alterações funcionais, intrínsecas musculares ou do controle extrínseco da motilidade intestinal, podem ser tão graves quanto os da obstrução intestinal mecânica ou “verdadeira” 46. A pseudo-obstrução intestinal pode-se apresentar de forma aguda ou crônica, ambas freqüentes na população idosa, sendo que a idade avançada tem influência negativa no prognóstico. A forma crônica, também conhecida como inércia colônica ou constipação de transito lento, conforme anteriormente descrita, e pode ter como complicação impactação fecal, distúrbios eletrolíticos e nutricionais, dor, muitas vezes intratável, e supercrescimento bacteriano 46. Nas formas agudas geralmente há um fator associado desencadeante do quadro: insuficiência renal e respiratória, distúrbios metabólicos, neoplasias e uso de medicamentos, sobretudo narcóticos. Portanto, essa sintomatologia é associada a múltiplos fatores metabólicos, farmacológicos ou traumáticos, que parecem alterar a regulação autonômica do colon levando à pseudo-obstrução. Ela geralmente acomete pacientes internados em hospitais ou asilos, com condições clínicas ou cirúrgicas graves. Acomete mais a faixa etária de 60 anos, com leve predominância no sexo masculino (60%) 45. O quadro clínico inclui dor abdominal, náusea e ou vômitos, em geral a distensão abdominal ocorre entre três e 7 dias, mas podem existir evoluções rápidas em 24h. Ao exame físico o abdômen apresenta-se timpânico, com ausência de ruídos hidroaéreos, sinais como febre, leucocitose e irritação peritoneal são mais comuns na presença de isquemia ou perfuração intestinal. A confirmação diagnóstica é realizada através da presença de graus variáveis de dilatação do colon na radiografia simples do abdômen. A distensão é mais proeminente no ceco e colon D, sendo interrompida abruptamente ao nível da flexura esplênica ou cólon descendente. Pode ser observados também distensão e níveis hidroaéreos no intestino delgado. Eventualmente pode-se observar pneumatose e pneumoperitônio.A tomografia computadorizada de abdômen e o enema com contraste hidrossolúvel podem ser úteis para excluir obstrução e demonstrar presença de ar e distensão no cólon distal. O diagS ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l nóstico diferencial inclui a obstrução intestinal mecânica e o megacólon tóxico. Dentre os fatores que influenciam negativamente o prognóstico, destacam-se: idade avançada e a gravidade das comorbidades, diâmetro máximo do ceco, duração da distensão, o retardo na descompressão e a presença de isquemia ou perfuração intestinal. O diagnóstico precoce e o manejo adequado são fundamentais para minimizar a morbidade e a mortalidade. Deve-se sempre estar atento para sinais complicação grave (obstrução mecânica, perfuração e peritonite). O risco de perfuração aumenta com um diâmetro cecal maior que 12cm e quando a distensão encontra-se presente por mais de seis dias 45. De acordo com esse estudo, a mortalidade parece aumentar duas vezes quando o diâmetro cecal é maior que 14cm, e cinco vezes quando o retardo na descompressão é maior que sete dias. Embora o risco aumente com o aumento da distensão do colon, o uso absoluto de valores de diâmetro como parâmetros é ainda motivo de controvérsia; muitos pacientes com grandes dimensões de diâmetro evoluem bem, sem seqüelas com tratamento conservador. O tratamento é realizado com base nas condições clínicas do paciente e envolve como arsenal o tratamento clínico, colonoscópico e cirúrgico. O tratamento clínico envolve as medidas iniciais para compensação clínica (hidratação, correção de distúrbios eletrolíticos, triagem de infecção e introdução de antibiótico terapia em suspeita de sepse, SNG aberta e sonda retal descompressiva), além da suspensão de medicações que possam estar alimentando o quadro. Como terapêutica medicamentosa, a neostigmina é uma droga com boa aceitação na literatura, tento efetividade terapêutica e baixo custo. A neostigmina é um inibidor reversível da acetilcolinesterase, que indiretamente estimula os receptores muscarínicos parassimpáticos, aumentando assim a atividade colônica, induzindo a atividade propulsiva e acelerando o transito colônico. A dose preconizada é de 2-2,5mg endovenosa, em um período de 2 a 5 minutos, acompanhada de monitorização cardiorrespiratória, o inicio de ação é rápido (1 a 20 minutos) e tem curta duração (1 a 2 horas). Inclui como efeitos da estimulação parassimpática: bradicardia, assistolia, hipotensão, convulsões, tremores, miose, broncoespasmo, náusea, vômitos, salivação, diurese e diarréia 46, e efeitos tóxicos podem ser imediatamente neutralizados com a administração de atropina. A meia vida da neostigmina é de 80 minutos, o que pode aumentar em portadores de insuficiência renal. È 0 2 Constipação intestinal: abordagem diagnóstica e terapêutica 2009 29 Cuidados Paliativos contraindicada a administração em pacientes com creatinina >3mg/dl, perfuração intestinal, gravidez, broncoespasmo grave e arritmias cardíacas. A droga determina rápida descompressão em 88% dos pacientes com recorrência de 7% 46. Nos casos de recorrência ou resposta parcial após a primeira dose, uma segunda dose de neostigmina é freqüentemente efetiva. Após duas doses, a descompressão não cirúrgica é, no entanto, recomendável. As modalidades de descompressão colônica não cirúrgica incluem: colocação de tubos descompressivos sob controle radiológico, a cecostomia percutânea sob controle combinado endoscópico-radiológico e a colonoscopia com ou sem a colocação de tubo descompressivo. A descompressão por via colonoscópica é o procedimento de escolha para pacientes com distensão cecal significativa (>10cm) de duração maior Referências que 3-4 dias, que não melhoram após 24-48h de tratamento conservador e que apresentam contra-indicação ou insucesso no tratamento farmacológico. O sucesso da descompressão com diminuição do diâmetro cecal apresenta sucesso de 69% das tentativas iniciais segundo uma metanálise de 292 pacientes 46, sendo em 40% a recorrência nos pacientes tratados sem a colocação de tubo descompressivo no colon direito. Embora o valor do tubo descompressivo não tenha sido comprovado em estudos clínicos controlados, o seu uso é fortemente recomendado na literatura, com o intuito de aumentar a eficácia da descompressão colonoscópica. 46 O tratamento cirúrgico é reservado para pacientes com sinais de isquemia ou perfuração, além dos que não responderem ao tratamento clínico, farmacológico e colonoscópico. bibliográficas 1. Hsieh C. 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S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 Final da vida: atualização em depressão 2009 31 Cuidados Paliativos FINAL DA VIDA: ATUALIZAÇÃO EM DEPRESSÃO William Breitbart, M.D. Professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina Weill, Cornell University Chefe do Serviço de Psiquiatria do Departamento de Psiquiatria e Ciências Comportamentais Responsável pelo Serviço de Psiquiatria, Dor e Cuidados Paliativos Departamento de Neurologia do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, NY - EUA Anna L. Dickerman, BA Universidade de Harvard Escola de Medicina da New York University ‘09 Enviar correspondência para: William Breitbart, MD 641 Lexington Avenue New York, NY 10022 Tel #(646) 888-0020; Fax# (212) 888-2356 E-mail: [email protected] SUMÁRIO— A depressão é uma causa expressiva de sofrimento remediável na doença terminal. Falhas no diagnóstico e tratamento da depressão podem prejudicar a qualidade de vida de pacientes terminais, e aumentar a sua carga de sofrimento. Métodos diagnósticos estão disponíveis para auxiliar os clínicos na identificação de distúrbios do humor nessa vulnerável população de pacientes. Tanto os tratamentos psicológicos, quanto os psicofarmacológicos se provaram eficientes para pacientes com depressão grave e devem ser empregados em conjunto. O objetivo final é ajudar os pacientes a atingir o máximo de conforto possível, para que eles possam analisar as suas próprias circunstâncias pessoais, dar forma a sua morte e viver o restante de suas vidas com o máximo de dignidade e significado possível. SUMMARY—Depression is a significant cause of remediable suffering among the terminally ill. Failure to diagnose and treat depression can impair the quality of life of dying patients, and add to their burden of suffering. Diagnostic approaches are available to assist clinicians in the identification of mood disorders in this vulnerable patient population. Both psychological and psychopharmacological treatments have proven effective in patients with major depression and should be undertaken hand in hand. The ultimate goal is to help patients attain as much comfort as possible so that they may examine their own personal circumstances, shape their deaths, and live the remainder of their lives with as much grace and meaning as possible. Introdução Apesar de ser o problema de saúde mental mais comum dentro da medicina paliativa, a depressão é constantemente mal compreendida [1]. O seu diagnóstico e tratamento são subestimados no caso de doenças terminais por diversas razões [1-4], dentre S ã o elas, a crença equivocada de que todos os pacientes no final da vida são “depressivos”; preocupações envolvendo possíveis interações medicamentosas; e o medo de perturbar o paciente, ou de se intrometer nesse momento de vulnerabilidade emocional. Apesar destas barreiras ao tratamento psiquiátrico P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 32 2009 Revista Brasileira de Cuidados Paliativos Cuidados Paliativos na fase terminal, é importante que a depressão em pacientes terminais seja diagnosticada rapidamente, e tratada de maneira adequada. Omissões e falhas no tratamento da depressão resultam na redução da qualidade de vida dos pacientes, em uma maior dificuldade em lidar com suas doenças, bem como em internações antecipadas e em hospices. [5, 6]. Diagnóstico E Avaliação Como os pacientes no final da vida enfrentam a morte, o humor depressivo e a tristeza podem realmente ser reações genuínas. (ver Psychosocial and spiritual issues at the end of life e Symptom assessment at the end of life). Os sintomas que inicialmente parecem indicar depressão podem, na verdade, ser sentimentos antecipados de perda (ver Grief and bereavement). O sentimento de desesperança é particularmente difícil de interpretar em situações, onde não há mais esperança de cura ou recuperação. Portanto, é importante saber distinguir entre sintomas e síndromes, para determinar se o paciente está realmente em depressão ou não. Deste modo, sentimentos de falta de esperança, indignidade, culpa, e até mesmo comportamentos suicidas leves ou passivos, devem ser investigados detalhadamente [7, 8]. Instrumentos de triagem Existem dois tipos principais de ferramentas de diagnóstico para avaliar a ocorrência de Tabela 1 Métodos de Avaliação e Investigação para Pacientes com Depressão em Fase Terminal Table 1 Research Assessment Methods for Depression in Terminally Ill Patients Sistema de Classificação de Dignósticos Diagnostic Classification Systems Diagnostic and Statistical Manual [9] (DSM-IV) Endicott Substitution Criteria [10] Research Diagnostic Criteria [11] (RDC) Diagnósticos de Entrevistas Estruturadas Structured Diagnostic Interviews Schedule for Affective and Schizophrenia [12] (SADS)* Diagnostic Interview Schedule [13] (DIS)† Structured Clinical Interview for DSM-III-R [14] (SCID) Instrumentos de Screening Screening instruments—self-report General Health Questionnaire-30 [15] (GHQ) Hospital Anxiety and Depression Scale [16] (HADS) Beck Depression Inventory, Short Form [17] (BDI-SF) Zung Self-Rating Depression Scale [18-22] Rotterdam Symptom Checklist [23] Carroll Depression Rating Scale [24] * Designed for use with RDC criteria † Designed for use with DSM-III criteria S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 Final da vida: atualização em depressão 2009 33 Cuidados Paliativos Tabela 2. DSM-IV Sintomas de Depressão Maior e Sintomas Substitutivos recomendados por Endicott ( 1984) Table 2 DSM-IV Symptoms of Major Depressive Syndrome and Substitute Symptoms Recommended by Endicott (1984) Symptom Substitute *Depressed mood most of the day *Markedly diminished interest or pleasure in all, or almost all, activities most of the day almost all, activities most of the day Weight loss or gain (e.g., more than 5% of body weight in a month) or decrease or Depressed appearance increase in appetite Insomnia or hypersomnia Social withdrawal or decreased talkativeness Psychomotor agitation or retardation Fatigue or loss of energy Feelings of worthlessness or excessive or inappropriate guilt Brooding, self-pity, or pessimism Diminished ability to think or concentrate, or Lack of reactivity; cannot be Indecisiveness cheered up Recurrent thoughts of death, or suicidal ideation or planning, or a suicide attempt Nota: Pelo menos um dos sintomas marcados por um asterisco (*) deve estar presente para um diagnóstico de síndrome depressiva grave. Cada sintoma deve também atender o critério de gravidade (por exemplo, “a maior parte do dia, quase todos os dias” e duração (mais de 2 semanas). Finalmente, os sintomas devem ser julgados por causar sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo, que não são devido aos efeitos fisiológicos diretos de uma medicação ou condição geral e não devem ser melhor representados pelo luto. Note: One of the symptoms marked by an asterisk (*) must be present for a diagnosis of major depressive syndrome. Each symptom must also meet severity (e.g., “most of the day, nearly every day” and duration (greater than 2 weeks) criteria. Finally, the symptoms must be judged to cause clinically significant distress or impairment; they must not be due to the direct physiological effects of a medication or general medial condition; and they must not be better accounted for by bereavement. depressão em casos de doenças avançadas: os sistemas de diagnóstico baseados em critérios, e os baseados em auto-avaliações. Essas ferramentas [9-24] estão resumidas na Tabela 1 [mostrar Tabela 1]. A Tabela 2 [mostrar Tabela 2] lista os critérios de diagnóstico propostos pelo DSM-IV, bem como os critérios substitutivos de Endicott, dois dos sistemas de diagnóstico mais utilizados. A escala de Endicott substitui a sintomatologia somática pela cognitiva, reconhecendo que as reclamações somáticas de pacientes com cânS ã o cer podem ser originárias dos efeitos físicos da própria doença. Este método é conhecido como método substitutivo para o diagnóstico de depressão grave em pacientes com patologias clínicas. As outras quatro principais abordagens estão resumidas na Tabela 3 [mostrar Tabela 3]. O método do limiar aumentado requer que 7, e não 5, dos 9 critérios sugeridos pelo DSM-IV sejam utilizados, para que se qualifique um diagnóstico de depressão grave. Chochinov et al. [25] verificaram que os critérios RDC e de Endicott P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 34 2009 Revista Brasileira de Cuidados Paliativos Cuidados Paliativos Tabela 3 Abordagens para o Diagnóstico de Depressão Maior em Pacientes com Câncer Table 3 Approaches to the Diagnosis of Major Depression in Cancer Patients Inclusive Approach Exclusive Approach Substitutive Approach Etiologic Approach Increased threshold Approach A abordagem substitutiva é representada pelos Critérios de Substituição de Endicott. As abordagens inclusivas e exclusivas, por outro lado, respectivamente, incluem ou excluem totalmente, os critérios somáticos, a partir dos os critérios diagnósticos. A abordagem etiológica determina ou não um sintoma em particular é, de fato, devido aos efeitos da doença antes, incluindo ou excluindo-a dos critérios diagnósticos. Por último, o aumento do limiar da abordagem exige que 7, em vez de 5, a partir dos 9 critérios DSM-IV sintomas estejam presentes, a fim de qualificar um diagnóstico de depressão maior. Chochinov et al. (1994) verificaram que a RDC e critérios foram equivalentes aos altos limiares dos critérios de Endicott, enquanto que, em relação aos os limiares mínimos de Endicott , das substituições identificadas, alguns casos de depressão maior (mas não de depressão menor). The substitutive approach is represented by the Endicott Substitution Criteria. The inclusive and exclusive approaches, on the other hand, respectively include or exclude somatic symptoms entirely from the diagnostic criteria. The etiologic approach determines whether or not a particular symptom is indeed due to the effects of the medical illness before including or excluding it from the diagnostic criteria. Finally, the increased threshold approach requires that 7, rather than 5, out of 9 DSM-IV criterion symptoms be present in order to qualify for a diagnosis of major depression. Chochinov et al. (1994) found that the RDC and Endicott criteria were equivalent at high thresholds, whereas with low thresholds the Endicott substitutions identified fewer cases of major (but not minor) depression. eram equivalentes em limiares altos, ao passo que com baixos limiares, as substituições de Endicott identificaram menos casos de depressão grave (não moderada). Sistemas de diagnóstico baseados em critérios são normalmente constituídos de entrevistas clínicas estruturadas. Embora atualmente esse seja o método-padrão para avaliação da depressão, as entrevistas clínicas detalhadas podem levar muito tempo, o que limita o seu uso em situações de cuidados paliativos. Chochinov et al. [26] desenvolveram e estudaram diversos métodos abreviados de entrevistas de triagem, que estão resumidos na Tabela 4 [mostrar Tabela 4]. A triagem com apenas um item é adaptada do item de depressão sazonal (SADS), e consiste simplesmente da seguinte pergunta: “Você tem estado deprimido (a) na maior parte do tempo pelas últimas duas semanas?”. S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l Este método é muito preciso para identificar os pacientes que precisam passar por um diagnóstico baseado na entrevista completa, cobrindo todos os critérios de sintomas de depressão [26]. Auto-avaliações e ferramentas de percepção podem ser utilizadas para obter uma avaliação geral, caso uma entrevista direta não seja factível; fornecer informações adicionais em casos mais complicados; determinar a severidade de um transtorno depressivo após o diagnóstico inicial; ou monitorar mudanças na depressão com o passar do tempo. Estas escalas de auto-avaliação são substitutas mais vagas das entrevistas de diagnóstico detalhadas; sua eficácia no apoio do diagnóstico no cenário dos cuidados paliativos não é tão grande quando a de uma breve entrevista, que utilize diretamente os critérios de diagnóstico geralmente aceitos [1]. 0 2 Final da vida: atualização em depressão 2009 35 Cuidados Paliativos Tabela 4. Screening abreviado de Métodos de Avaliação da Depressão em pacientes com Câncer Table 4 Abbreviated Screening Methods for the Assessment of Depression in Cancer Patients Single-item interview assessing depressed mood (adapted from SADS) Two-item interview assessing depressed mood and loss of interest in activities (adapted from SADS) Visual analog scale for depressed mood (adapted from Memorial Pain Assessment Card) 13-item Beck Depression Inventory (adapted from 21-item Beck Depression Inventory) Epidemiologia A taxa de incidência de depressão grave entre pacientes com câncer varia entre 0% e 38%, e aumenta diante de altos níveis de incapacidade, dor, e doença avançada [27]. Os relatórios sobre a prevalência da depressão variam muito, em razão das diferenças entre definições e formas de diagnóstico, e de variações entre as populações estudadas. O notável é que, mesmo quando os critérios mais rigorosos são utilizados, cerca de 5% a 15% dos pacientes com câncer se encaixam no grupo de pacientes com depressão grave [28, 29]. A prevalência de depressão em pacientes com câncer é, portanto, significantemente maior do que a taxa base da população norte-americana em geral, que varia entre 1.6% e 4.9% [28, 29]. Fatores De Risco O conhecimento dos fatores de risco específicos da depressão em pacientes terminais pode facilitar o princípio da prevenção e levar a uma intervenção antecipada [30]. Diversos estudos, ainda que não todos, indicam que as taxas de distúrbios depressivos diagnosticados, e de sentimentos de angústia declarados pelos próprios pacientes são mais altas entre os mais jovens [31-35]. Histórico de depressão é também um fator de risco para depressão grave em pacientes com câncer [36, 37]. Pacientes com doença avançada ou estado funcional em declínio também correm um risco maior de entrar em depressão [38]. Muitos estudos indicaram uma relação entre dor e depressão [39-41]. Alguns pesquisadores especulam que a depressão poder resultar em um aumento na dor [42], ou, ao menos, na dificuldade de tolerar o estresse causado pelos sintomas físicos [43]. O caminho da causa pode, portanto, ser bidirecional [44]. Embora a depressão seja duas vezes mais comum entre mulheres em comparação aos homens, na população em S ã o geral, não há evidências consistentes na literatura de que o sexo seja um fator de risco para a depressão em pacientes com câncer [45]. Fatores Relacionados à Doença e ao Tratamento— Pesquisas indicaram que a incidência de depressão varia de acordo com a doença específica do paciente. Por exemplo, as taxas mais altas de depressão ocorrem em pacientes com tumores sólidos ou metástase [46]. Indivíduos com câncer no pâncreas estão mais propensos a ter depressão do que pacientes com outras malignidades intraabdominais. Os sintomas psiquiátricos do câncer de pâncreas podem preceder os sintomas físicos da doença, sugerindo que mudanças no sistema neuroendócrino induzidas pelo tumor podem contribuir para a depressão. Fatores orgânicos podem levar pacientes com câncer à depressão. Tumores localizados, ou com metástase, no Sistema Nervoso Central, podem causar depressão [47, 48]. Tumores de hipófise podem causar hipercortisolismo ou Síndrome de Cushing, o que por sua vez, pode levar à depressão [49, 50]. Complicações metabólicas como a hipercalcemia, (ver Clinical manifestations of hypercalcemia), normalmente associadas ao câncer de mama e de pulmão, também podem causar depressão [51]. Dentre outras potenciais causas médicas de depressão em pacientes com câncer estão toxinas criadas por um tumor, reações auto-imunes, infecções virais, déficits nutricionais, e disfunção neuroendócrina [52]. A depressão pode resultar também dos efeitos colaterais tóxicos de certos tratamentos [53, 54], dentre eles corticosteróides [55] (Ver Major side effects of glucocorticoids); quimioterapia com vincristina, vimblastina, asparaginas, metotrexato intratecal, interferon, e interleucina; e radioterapia [60-62]. Preocupações existenciais – Com a consciência de uma situação de ameaça à vida, preocupações existenciais, como a manutenção da dignidade, desejos não realizados, e o sentido da vida (ver PsychoP a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 36 2009 Revista Brasileira de Cuidados Paliativos Cuidados Paliativos social and spiritual issues at the end of life), passam ao primeiro plano [1]. Noyes et al. [63] constataram que os itens relacionados à perda de significado na vida mostraram maior relação com pontos nas escalas de depressão, do que itens relacionados a sintomas físicos, tratamento médico, ou isolamento social. A relação entre angústias existenciais e síndromes depressivas em pacientes terminais requer uma investigação mais aprofundada. Religião e espiritualidade Um estudo examinou o impacto da religiosidade e da espiritualidade na gravidade dos sintomas da depressão, em uma amostra de 162 pacientes terminais com câncer e AIDS [64]. Os resultados mostraram que os aspectos benéficos da religião são principalmente aqueles relacionados ao bem-estar espiritual, nem tanto às práticas religiosas em si. Depressão, Desejo De Antecipar A Morte, E Suicídio Em Pacientes No Final Da Vida Pacientes no final da vida, que sofrem de depressão correm alto risco de cometer suicídio (ver Suicidal ideation and behavior in adults, USPSTF guidelines: screening for suicide risk: recommendations and rationale). Uma revisão nos arquivos de consultas psiquiátricas do Memorial SloanKettering Cancer Center mostrou que um terço dos pacientes suicidas de câncer tinha depressão grave, e que 50% foram diagnosticados com transtorno de ajustamento, e traços de ansiedade e depressão durante a avaliação [7, 8]. Alguns estudos indicaram que o sentimento de desesperança é um indício de suicídio significantemente mais eficiente do que a depressão por si só [65, 66]. Breitbart et al. [67] constataram que a depressão e a desesperança são os maiores indicativos do desejo de pacientes terminais de antecipar a morte, e que cada um traz características distintas e únicas. Esses pesquisadores descobriram que o desejo de antecipar a morte estava associado, de maneira expressiva, ao diagnóstico clínico de depressão, bem como ao grau de severidade dos sintomas de depressão e desesperança. Por fim, um estudo sugeriu que o comportamento suicida é relativamente raro em pacientes com câncer, ficando limitado àqueles que estejam com um grau de depressão significativo [68]. Tratamento O relacionamento com o profissional médico central envolvido no caso é o aspecto mais importante do apoio psicoterápico a pacientes terminais em depressão [1]. O ideal é que esse relacionamento S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l seja baseado em confiança mútua, respeito e sensibilidade, e que o tratamento seja adaptado às necessidades individuais do paciente. O contato constante com o paciente assegura uma reavaliação contínua, e garante ao paciente que ele não será abandonado no decorrer de sua fase terminal. Terapias Psicossociais Dentre as intervenções psicossociais efetivas para pacientes terminais com depressão estão: psicoterapia, psicoterapia em grupo, hipnoterapia, educação psicológica, relaxamento, biofeedback, e grupos de auto-ajuda [69-73]. Chochinov et al. desenvolveram a terapia da dignidade [74], uma intervenção que alivia o sofrimento e a angústia na fase terminal. Greenstein e Breitbart [75] desenvolveram e conduziram a psicoterapia centrada no significado, uma intervenção que promete ajudar pacientes com câncer avançado a manter ou intensificar a sensação de significado, paz e propósito na etapa final de suas vidas. Tratamentos psicoterápicos aumentam a eficácia de outros tratamentos de depressão grave (ver Management of psychiatric and psychologic disorders in patients with cancer, Initial treatment of depression in adults). De fato, a combinação de terapias, incluindo psicoterapia de apoio; terapia cognitivo-comportamental; terapias existenciais como a psicoterapia centrada nos sentimentos de dignidade e significado; e medicamentos antidepressivos; é ideal para o tratamento de pacientes com doenças graves [76]. A psicoterapia de apoio consiste na prática de ouvir, e no emprego de intervenções verbais de apoio e ocasionais interpretações [77]. O clínico não deve apenas focar na questão da morte, mas também encorajar o paciente a falar sobre sua vida e experiências. Tratamento Farmacológico Apesar de a psicoterapia e a terapia cognitivo-comportamental terem se provado eficientes na redução do stress psicológico e dos sintomas da depressão leve ou moderada em pacientes terminais, o carro-chefe do tratamento de depressão nessa população é a farmacoterapia [76]. A eficácia das intervenções farmacológicas no tratamento de pacientes com câncer, por exemplo, têm sido bem documentada [76, 78-81]. Ao escolher um agente farmacoterápico em particular, o clínico deve levar em consideração o prognóstico do paciente e a duração do tratamento [1] (ver Management of. psychiatric and psychologic disorders in patients with cancer). Por exemplo, pacientes em depressão com expectativa de vida de alguns meses podem esperar de 2 a 4 semanas 0 2 Final da vida: atualização em depressão 2009 37 Cuidados Paliativos Tabela 5 Medicamentos anti-depressivos utilizados em pacientes com câncer avançado Table 5 Antidepressant Medications Used in Advanced Cancer Patients Drug Therapeutic Daily Dosage mg (PO) Tricyclic antidepressants Amitriptyline 25-125 Doxepin 25-125 Imipramine 25-125 Desipramine 25-125 Nortriptyline 25-125 Clomipramine 25-125 Second-generation antidepresBuproprion 200-450 Fluoxetine 10-40 Paroxetine 10-40 Fluvoxamine 50-300 Sertraline 50-200 Nefazodone 100-500 Venlafaxine 37.5-225 Trazodone 150-300 Mirtazapine 7.5-45 Heterocyclic antidepressants Maprotiline 50-75 Amoxapine 100-150 Monoamine oxidase inhibitors Isocarboxazid 20-40 Phenelzine 30-60 Tranylcypromine 20-40 Psychostimulants Dextroamphetamine 5-30 Methylphenidate 5-30 Modafinil 50-400 Benzodiazepines Alprazolam 0.75-6.00 Lithium carbonate 600-1200 Source: Adapted from Massie, MJ, Holland, JC. Depression and the cancer patient. J Clin Psychiatry 1990; 51:12. S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 38 2009 Revista Brasileira de Cuidados Paliativos Cuidados Paliativos pelos efeitos dos antidepressivos, mas no caso de pacientes com menos de 3 semanas de vida, pode ser mais adequado usar psicoestimulantes de rápida ação [82]. Pacientes que tenham dias, ou até mesmo horas de vida, e que estejam passando por stress psicológico, podem se beneficiar de sedativos ou infusões narcótico-analgésicas. Por fim, ao escolher antidepressivos para pacientes terminais, o clínico deve considerar o perfil de efeitos colaterais dessas medicações, e a sua compatibilidade com a condição médica geral do paciente. Os medicamentos antidepressivos e as dosagens terapêuticas para pacientes com câncer avançado estão resumidos na Tabela 5 [mostrar Tabela 5]. Antidepressivos tricíclicos Apesar de 70% dos pacientes com depressão não-psicótica, tratados com antidepressivos tricíclicos (ADTs), poderem contar com uma resposta positiva entre 3 e 6 semanas, esses medicamentos têm um perfil de efeito colateral que pode ser particularmente desagradável pra pacientes terminais [83]. Isso acontece especialmente quando se tratam de aminas terciárias [82], que podem potencializar o efeito sedativo de outros remédios. Além disso, os seus efeitos colaterais anticolinérgicos (constipação, boa seca, retenção urinária) podem ser particularmente problemáticos para pacientes que já estejam recebendo medicação com propriedades anticolinérgicas. Tais pacientes correm o risco de desenvolver delírio anticolinérgico [84]. Dentre as soluções não-anticolinérgicas, estão a desipramina e a nortriptilina. Descobriu-se também que a paroxetina (Ver “SSRIs”abaixo) é uma boa alternativa à amitriptilina no tratamento da depressão em pacientes com câncer de mama [85]. Pacientes com doenças avançadas têm maior probabilidade de ter intolerância à medicação, portanto, a administração de ADTs deve começar com doses pequenas. Para minimizar a toxicidade (ver Tricyclic antidepressant intoxication) e conduzir o processo de titulação da maneira mais cautelosa, os ADTs devem ser receitados com níveis de plasma terapêutico bem-estabelecidos [86]. Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ver Antidepressant medication in adults: SSRI’s and heterocyclics). Os ISRSs são tão eficientes quanto os ADTs no tratamento da depressão. Eles são geralmente bem tolerados, e têm uma margem de segurança S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l maior do que os ADTs em caso de dose excessiva [87, 88]. No entanto, efeitos colaterais relacionados à dose podem trazer problemas para pacientes com doenças avançadas, dentre eles, motilidade intestinal excessiva, dores de cabeça, vômito, disfunção sexual, ansiedade, tremor, ou inquietação. Atualmente, são cinco os ISRSs comercializados: sertalina, fluoxetina, paroxetina, nefazodona, e fluvoxamina. Demonstrou-se que a fluoxetina melhora significantemente a qualidade de vida e a depressão de pacientes com câncer avançado [89]. No entanto, a fluoxetina alcança um estado estável em 5-6 semanas, comparado a 4-14 semanas da paroxetina, fluvoxamina, e sertalina. Essa consideração é importante quando se trata de pacientes terminais nos quais uma mudança entre um ISRS e outro antidepressivo está sendo levada em consideração (ver Antidepressant medication in adults: switching and discontinuing medication). Visto que diversos casos de interações medicamentosas significativas já foram relatados [90, 91], a fluoxetina deve ser usada com cautela em pacientes terminais debilitados. Demonstrouse que a paroxetina é eficiente e moderadamente tolerada no tratamento de pacientes com câncer e depressão [92, 93]. A dosagem inicial de ISRS para pacientes terminais é aproximadamente metade daquela usada em pacientes saudáveis. Outros Antidepressivos (ver Antidepressant medications in adults: MAO inhibitors and others). A Venlafaxina (Efexor) é um inibidor da recaptação de serotonina e norepinefrina (IRSN). O seu uso em pacientes terminais com depressão ainda não foi estudado, mas as suas propriedades farmacocinéticas, e o seu perfil de efeitos colaterais bem tolerados sugerem que ela possa ter um papel importante nesses casos [1]. A mirtazapina pode ser eficiente na melhora dos sintomas múltiplos, da depressão, e da qualidade de vida de pacientes com câncer avançado [94, 95]. A trazodona pode ser um antidepressivo eficiente. Ela é bastante sedativa, portanto, pode ser administrada em doses baixas para tratar pacientes depressivos com câncer, que sofram de insônia. Ela é também altamente serotoninérgica, e o seu uso deve ser considerado nos pacientes que precisam de efeitos analgésicos combinados aos efeitos antidepressivos [1]. A sonolência é o seu efeito colateral mais comum, mas essa substância já foi associada também ao priapismo, portanto, deve ser usada com cautela em pacientes do sexo masculino [96]. O Bupropion, uma droga relativamente 0 2 Final da vida: atualização em depressão 2009 39 Cuidados Paliativos nova nos Estados Unidos, não é atualmente a primeira opção para o tratamento da depressão em pacientes com câncer. Ele traz uma chance razoável se o paciente tiver uma resposta insatisfatória na tentativa de outros antidepressivos. Os efeitos energizantes do Buprion são similares aos de drogas estimulantes [97, 98]. No entanto, ele é contra-indicado para pacientes com câncer que sofrem de Distúrbios do Sistema Nervoso Central, devido à associação com uma crescente incidência de convulsões [99]. Antidepressivos heterocíclicos tem perfis de efeito-colateral similares aos ADTs [1]. O uso da maprotilina deve ser evitado em pacientes com tumores cerebrais, ou suscetíveis a convulsões, já que a incidência de convulsões aumenta com esse medicamento [100]. A mianserina, por sua vez, é segura e eficaz no tratamento da depressão em pacientes com câncer. Ela não está disponível nos Estados Unidos, mas tem sido bastante utilizada na Europa e América Latina como um antidepressivo serotoninérgico com propriedades analgésicas auxiliares. Os inibidores da Moamina Oxidase (IMAOs) são geralmente vistos como uma alternativa menos desejável no tratamento da depressão em pacientes terminais, devido ao grande número de interações adversas associadas a essas drogas [82, 102]. Portanto, dentre essa população de pacientes, os IMAOs tendem a ser reservados àqueles que já demonstraram respostas preferenciais a este tipo de medicamento no tratamento da depressão [1]. O alprazolam, uma triazobenzodiazepina, tem se mostrado um antidepressivo levemente eficiente, bem como um ansiolítico, sendo particularmente útil em pacientes doentes, que combinam sintomas de ansiedade e depressão. Psicoestimulantes Psicoestimulantes (dextroanfetamina e metilfenidato) oferecem uma alternativa e uma abordagem farmacológica eficientes no tratamento da depressão em pacientes terminais [104]. O seu tempo de ação é mais rápido do que o dos tricíclicos, e normalmente eles são energizantes. Essas drogas são mais úteis no tratamento da depressão em pacientes com câncer avançado, e em casos em que a disforia é associada à lentidão psicomotora, e até mesmo a danos cognitivos moderados. Psicoestimulantes melhoram o desempenho geral dos doentes em testes neuropsicológicos [105]. Em doses relativamente baixas, essas medicações também estimulam o apetite, promovem um sentimento de bem-estar, e aliviam sensações de fraqueza e fadiga dos pacientes com câncer [1]. O uso de metilfenidato e dextroanfetamina pode também reduzir a sedação resultante de analgésicos opióides, e fornecer ação analgésica adicional para pacientes com câncer [105]. Descobriu-se que estes medicamentos são igualmente efetivos no tratamento da depressão em pacientes oncológicos [106]. Finalmente, o modafinil é um novo agente para o tratamento de sonolência, que pode ser benéfico à pacientes com depressão grave, mesmo quando estes não respondem a outros tratamentos [107]. Eletroconvulsoterapia (ECT) Ocasionalmente é necessário considerar o uso da eletroconvulsoterapia (ECT) em pacientes com câncer que tenham depressão com características psicóticas, ou em situações em que o tratamento com antidepressivos apresente efeitos colaterais inaceitáveis. Este método é seguro para o uso em pacientes com doenças clínicas [76]. Referências 1. Wilson, KG, Chochinov, HM, de Faye, BJ, Breitbart, W. Diagnosis and Management of Depression in Palliative Care. 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Miriam Hatsue Honda Federico; Prof. Dr. Carlos Henrique Escosteguy Barrios; Prof. Dr. Stephen Stefani; Prof.Dr. Gilson Lucchesi Delgado; Prof. Dr. Marcello Ferretti Fanelli; Prof. Dr. Sérgio Lago; Dr.Ricardo Caponero. Resumo Abstract Introdução As náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia (NVIQ) são uma das mais desagradáveis experiências vividas pelos pacientes em tratamento quimioterápico. Quando não adequadamente controladas podem afetar o bem-estar físico, mental e emocional do paciente. O paciente com NVIQ encontra dificuldade para manter suas atividades laborativas habituais, bem como seu relacionamento pessoal. Além disto, as NVIQ podem comprometer os ciclos subseqüentes de quimioterapia, atrasando-os, alterando-os ou levando à interrupção do tratamento, interferindo adversamente no prognóstico deste paciente. Desidratação e desequilíbrio hidro-eleS ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l trolitico com alteração do pH (hiponatremia, hipocloremia, hipomagnesemia, hipercalemia, acidose e alcalose metabólica) são algumas das conseqüências da NVIQ que podem precipitar eventos adversos severos ou com risco de vida, como cardiovascular (arritmias ventriculares, hipotensão), renal (aumento da susceptibilidade para nefrotoxicidade), pulmonar (hipoventilação), muscular (contrações musculares, espasmos e cãibras) e neurológico (parestesia, agitação), resultando em internações hospitalares secundárias a NVIQ. O tratamento antiemético profilático é parte integral no tratamento oncológico. Entretanto, apesar do significativo avanço na farmacoterapia das náuseas e vômitos nas fases aguda e tardia, estes sintomas ainda ocorrem na forma de escape 0 2 Estudo clínico fase IV para avaliação do cloridrato de palonosetrona na prevenção das náuseas e vômitos associados à quimioterapia moderadamente emetogênica 2009 43 Cuidados Paliativos permanecendo como um significativo problema para alguns pacientes sob quimioterapia. Os antagonistas de receptor 5-HT3 (serotonina) exercem seu efeito através do bloqueio central ou periférico da ação de serotonina. Estes agentes são extremamente efetivos na prevenção de episódios de emese aguda e podem ser administrados em dose única diária antes da quimioterapia moderadamente emetogênica (QME). Doses repetidas são desnecessárias e são marginalmente efetivas para o tratamento da náusea e vômitos tardios ou de escape. A profilaxia com antieméticos é o mais eficiente meio para se prevenir NVIQ e o controle da fase aguda, atualmente, têm alcançado bons níveis. Entretanto, os agentes atualmente disponíveis não têm se mostrado tão eficazes na fase tardia da NVIQ. O objetivo primário do estudo PALO-BR-05-01 é avaliar a eficácia da dose única de palonosetrona, 0,25mg, IV, na prevenção de náuseas e vômitos agudos e tardios associados à quimioterapia moderadamente emetogênica; tanto na percepção do médico como na do paciente. Os objetivos secundários são avaliar a segurança e tolerabilidade de palonosetrona, e avaliar o efeito do controle antiemético com palonosetrona na qualidade de vida em pacientes recebendo quimioterapia moderadamente emetogênica. Método Desenho do estudo Estudo clínico fase IV, multicêntrico, não randomizado, envolvendo 200 pacientes para verificar a eficácia do Cloridrato de Palonosetrona na prevenção de náusea e vômitos associados à quimioterapia moderadamente emetogênica. Este estudo clínico foi conduzido de acordo com a atual revisão da declaração de Helsinque (Emenda de Somerset West, República da África do Sul), as diretrizes ICH para as Boas Práticas Clínicas e a legislação local e foi iniciado após a obtenção da aprovação dos Comitês de Ética e autoridades de saúde. Critérios de Inclusão • Homens ou mulheres com idade ≥ 18 anos; • Doença maligna histológica ou citologicamente confirmada; • Sem quimioterapia prévia; • Índice de Karnofsky ≥ 50%; • Previsão para receber no mínimo uma única dose dos seguintes agentes administrados no dia 1 do ciclo de quimioterapia: Doxorrubicina, Daunorrubicina, Epirrubicina, Idarrubicina, Irinotecano, Oxaliplatina, Citarabina >1g/m2, Carboplatina, S ã o Ifosfamida, Ciclofosfamida <1500mg/m2); • Consentimento Informado Livre e Esclarecido assinado; • Se mulher e com potencial para engravidar, devem ser utilizados métodos contraceptivos de confiança, com um teste negativo para gestação na visita de pré-tratamento; • Se o paciente é portador de conhecida alteração hepática, renal ou cardiovascular e está programado para receber um dos agentes quimioterápicos acima mencionados, este paciente poderá ser incluído neste estudo de acordo com o julgamento do médico investigador. Critérios de Exclusão • Inabilidade para a compreensão ou cooperação com os procedimentos do protocolo do estudo clínico; • Ter recebido qualquer droga investigacional dentro de 30 dias antes da entrada neste estudo; • Ter recebido antagonistas de receptor 5 HT3 de primeira geração dentro de 24 horas do início do tratamento ou estar programado para receber até o dia 5 do estudo; • Tenha sido incluído em prévio estudo com palonosetrona (RS-25259); • Apresentando critérios de náusea ou vômitos que correspondam ao grau 2 ou 3 do National Cancer Institute (NCI) e do Common Toxicity Criteria (CTC) dentro das 24 horas antes de receber a medicação do estudo; • Ser portador de síndrome convulsiva que necessite medicação anticonvulsivante, exceto se clinicamente estável e livre de atividade convulsiva; • Apresentar vômitos decorrentes de qualquer etiologia orgânica; • Apresentar conhecida contra-indicação aos antagonistas de receptor 5HT3; • Estar programado para receber radioterapia em abdômen superior ou crânio durante os dias 2-6; • Eletrocardiograma com QTc basal >500msec; • Ser portador de metástases em SNC. Tratamento O Cloridrato de Palonosetrona foi administrado conforme a recomendação em bula de dose única de 0,25mg, IV, em bolus, em 30 segundos, iniciando 30 minutos antes da quimioterapia. Para concordância com a prática médica atual, onde os corticosteróides são recomendados no uso conjunto de antagonistas de receptor 5HT3 na prevenção da emese após quimioterapia moderadamente emetogênica, o uso concomitante de uma única dose IV de dexametasona, 8 mg, no P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 44 2009 Revista Brasileira de Cuidados Paliativos Cuidados Paliativos dia 1 prévio à administração de quimioterapia foi permitido, à critério do médico investigador. Medicação de resgate A escolha da medicação de resgate (com a exceção da droga avaliada) será critério do investigador. Avaliações Medida de Eficácia Primária Para NVIQ aguda será a resposta completa durante as 24 horas após a administração de quimioterapia; Para NVIQ tardia será resposta completa diariamente no intervalo de 24-120 horas e no intervalo total de 0 120 horas (Dias 1-5); Resposta Completa é definida como nenhum episódio emético e nenhuma medicação de resgate. Não Resposta é definida como a ocorrência de um ou mais episódios de náusea e/ou vômito. As avaliações foram feitas pelos médicos investigadores utilizando a Classificação de Eventos Adversos do Instituto Nacional do Cancer dos Estados Unidos da América (Common Terminology Criteria for Adverse Events Version 3). Medida de Eficácia Secundária As avaliações secundárias de eficácia foram realizadas durante os primeiros 5 dias após a administração de quimioterapia, como descrito abaixo: Controle completo diário para os intervalos de 24 horas dentro do período total de 0 a 120 horas (Dias 1-5). O controle completo é definido como aqueles pacientes que apresentaram uma resposta completa e não mais do que uma leve náusea. Tempo para o primeiro episódio emético; Tempo para administração e necessidade de terapia de resgate; Severidade da náusea medida de acordo com critério de avaliação do investigador (0= nenhuma, 1=leve, 2= moderada, 3= severa-) diariamente no intervalo de 0 120 horas; Foram utilizados diários fornecidos aos pacientes para registrar os episódios eméticos, uso de medicação de resgate ou terapia complementar, avaliação da severidade da náusea experimentada e avaliação da satisfação do paciente com o tratamento antiemético durante intervalos de 24 horas e de 24 - 120 horas. O questionário FLIE (Functional Living Index – Emesis) foi utilizado na avaliação do impacto das náuses e vômitos na qualidade de vida dos pacientes. Avaliação de Segurança A segurança foi monitorada através de avaliações clínicas e laboratoriais quando necessário. S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l Análise estatística O objetivo do estudo clínico fase IV é coletar dados para confirmar a eficácia e segurança do medicamento já utilizado rotineiramente na prática clínica. Por esta razão uma hipótese estatística real não é definida e um cálculo estatístico de tamanho amostral não é possível. Julgou-se que o tamanho proposto de 200 pacientes é seja adequado, levando em consideração que será decisão do médico investigador o uso ou não de dexametasona após o dia 1 e que, ao final do estudo a população deverá ser estratificada em dois grupos (com ou sem dexametasona). Todos os pacientes que receberam a medicação em estudo (por protocolo em uma única administração) e quimioterapia serão incluídos na análise por “intenção de tratamento”. Segurança da população analisada Os pacientes que receberam a administração do medicamento em estudo foram incluídos na análise de segurança da população estudada. Análise de Eficácia A análise de eficácia foi realizada em todos os pacientes da população em “intenção de tratamento”. A proporção de pacientes que não requer terapia complementar (resgate) para a prevenção de náusea e vômitos agudo e tardio associados à quimioterapia moderadamente emetogênica é o principal objetivo deste estudo clínico. A taxa de resposta será sumarizada em freqüência, percentagem e intervalo de confiança de 95%. Todas as variáveis serão avaliadas durante o período de tempo iniciando com a administração da quimioterapia emetogênica (Dia 1) e continuará até o final do dia 5. Cada dia isolado do estudo bem, como a fase aguda (Dia1), fase tardia (Dias 2 a 5) e o período total (0-120 horas), serão avaliados. Todas as variáveis de eficácia foram sumarizadas usando método estatístico descritivo. Deve-se levar em consideração que será decisão do médico Investigador o uso ou não de dexametasona após o dia 1. Ao final do estudo a população deverá ser estratificada em dois grupos (com ou sem dexametasona). Análise de Segurança Incidência de EAs, relacionados ao tratamento, durante a fase de avaliação é o objetivo primário de segurança neste estudo clínico. A segurança de palonosetrona nesta população de pacientes deverá ser descrita baseando-se em proporções, representadas pelos seguintes grupos de pacientes: • Pacientes que experimentaram algum EA; 0 2 Estudo clínico fase IV para avaliação do cloridrato de palonosetrona na prevenção das náuseas e vômitos associados à quimioterapia moderadamente emetogênica 2009 45 Cuidados Paliativos Figura 1 – Porcentagens de resposta na avaliação dos médicos investigadores. • Pacientes que experimentaram EAs relacionados ao medicamento do estudo; • Pacientes que experimentaram eventos adversos sérios (EAS); • Pacientes que abandonaram o estudo em decorrência de algum EA. Resultados Tratamento Foram incluídos no estudo 166 pacientes que compõe a população total com base na intenção de tratamento, avaliados em relação a segurança do cloridrato de palonosetrona. Dez pacientes foram excluídos da análise, sendo seis por terem recebido quimioterapia de baixa emetogenicidade; dois por terem recebido quimioterapia de alta emetogenicidade; um por apresentar doença metastática em sistema nervoso central; e um paciente por ter recebido a quimioterapia mais de 24 horas após a administração do cloridrato de palonosetrona. A população de pacientes analisada por protocolo compreende então 156 pacientes. Foram incluídos no estudo 140 mulheres (89,74%) e 16 homens (10,26%). A Tabela 1 mostra a distribuição dos pacientes de acordo com o diagnóstico do tumor primário, sendo que a grande maioria da população (76%) era composta de mulheres com neoplasia de mama. Eficácia Em relação às náuseas, no grupo como um todo, 23% dos pacientes permaneceram sem nenhum episódio de náusea. Nos pacientes que receberam apenas palonosetrona 27% não apreS ã o sentaram náuseas, ao passo que nos pacientes de receberam palonosetrona e dexametasona 18% não apresentaram nenhum episódio de náusea. Quanto aos vômitos, na percepção dos médicos investigadores, 60% dos pacientes não apresentou nenhum episódio de vômito. No grupo de pacientes que recebeu apenas palonosetrona não houve nenhum episódio de vômito em 56% dos pacientes e, no grupo que recebeu palonosetrona e dexametasona não houve nenhum episódio de vômito em 63% dos pacientes. Na avaliação feita pelos médicos investigadores, houve 39,1% de respostas completas em relação às náuseas e vômitos agudos e 55,8% de respostas completas nas náuseas e vômitos tardios. Houve necessidade de medicação de resgate em 26% dos paciente nas primeiras 24 horas e 28% em 120 horas. Segurança Dezoito por cento dos eventos adversos foram relacionados à palonosetrona, principalmente cefaléia e obstipação. Todos os eventos adversos relatados, listados na Tabela 2, foram considerados como relacionados á quimioterapia que estava sendo administrada. Discussão O cloridrato de palonosetrona é um novo antagonista de receptor 5-HT3 com ação prolongada. Uma única dose apresenta ser efetiva na prevenção de NVIQ na fase aguda, e, mais excepcionalmente, da fase tardia. A palonosetrona injetável está aprovada em nosso país para a prevenção de náusea e vômitos agudos associados P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 46 2009 Revista Brasileira de Cuidados Paliativos Cuidados Paliativos Tabela 1 - Distribuição dos pacientes por diagnóstico primário. Palo Palo Palo + dexa Palo + dexa global global Tumor primário n % n % n % mama 62 70% 57 84% 119 76% colon 7 8% 2 3% 9 6% linfoma 6 7% 1 1% 7 4% liposarcoma 1 1% 0 0% 1 1% mucosa labial 1 1% 0 0% 1 1% ovário 1 1% 3 4% 4 3% testículo 2 2% 0 0% 2 1% ovário 1 1% 0 0% 1 1% pulmão 5 6% 3 4% 8 5% útero 2 2% 0 0% 2 1% sarcoma 0 0% 1 1% 1 1% fígado 0 0% 1 1% 1 1% total 88 — 68 — 156 — com ciclos iniciais e repetidos de quimioterapia alta e moderadamente emetogênica, e na prevenção de náuseas e vômitos tardios associados com ciclos iniciais e repetidos de quimioterapia moderadamente emetogênica. Em estudos clínicos, reações adversas de cloridrato de palonosetrona foram similares em freqüência e severidade aos agentes comparadores. Os mais comuns eventos adversos relacionados à palonosetrona 0,5mg são cefaléia (9%) e constipação (5%). Pelo fato de palonosetrona poder bloquear os canais de íons envolvidos em polarização ventricular, a droga poderá prolongar a duração de potencial de ação. Os efeitos de palonosetrona na pressão sangüínea, freqüência cardíaca e parâmetros de eletrocardiograma, incluindo intervalo QTc foram comparáveis à S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l ondansetrona e dolasetrona em estudos clínicos. Os efeitos de palonosetrona em parâmetros de eletrocardiograma (ECG) são similares a ondansetrona e dolasetrona. Os setrons devem ser administrados com cautela em pacientes que tenham ou possam desenvolver prolongamento de intervalos de condução cardíacos. Embora a depuração metabólica de cloridrato de palonosetrona seja principalmente mediada via múltiplas enzimas CYP, estudos indicam que a nova droga não inibe significativamente e nem induz as isoenzimas CYP comumente envolvidas no metabolismo de drogas. Desta forma, o potencial para interações clinicamente significantes com cloridrato de palonosetrona parece ser baixo. Palonosetrona tem sido utilizado com segurança com metoclopramida, corticosteróides, analgésicos, 0 2 Estudo clínico fase IV para avaliação do cloridrato de palonosetrona na prevenção das náuseas e vômitos associados à quimioterapia moderadamente emetogênica 2009 47 Cuidados Paliativos Tabela 2 – Total de eventos adversos observados CTCAE NCI (versão 3.0) Total n Total% 1 0,2 Auditivos Cardíacos (geral) 2 0,4 Sintomas constitucionais 125 25,5 Dermatológicos 4 0,8 Gastrointestinais* 112 22,8 Infecçção 3 0,6 Linfático 3 0,6 Músculo-esquelético 36 7,3 Neurológicos** 113 23,0 Dor 88 17,9 Pulmonar 2 0,4 Renal / Geniturinário 2 0,4 Total 491 100 * Não inclui náusea e vômito **anorexia, cefaléia, disgeusia, insônia, tontura, tremores vertigem, sonolência, ansiedade, crise convulsiva, inapetência, parestesia, desânimo, visão turva, neuropatia periférica, aumento de apetite, reação vagal. antieméticos/antinauseantes, antiespasmódicos, anticolinérgicos e com muitos agentes antineoplásicos, incluindo cisplatina, ciclofosfamida, citarabina, doxorrubicina e mitomicina C. A aprovação de cloridrato de palonosetrona pelo FDA (Food and Drug Administration) foi baseada em três estudos clínicos fase III e um estudo clínico fase II. Resultados dos estudos clínicos fase III demonstraram que palonosetrona isolada, em dose única, IV, é efetiva em prevenir tanto a fase aguda como a fase tardia de NVIQ em pacientes sob quimioterapia moderadamente emetogênica. Dois estudos clínicos fase III, multicêntricos, randomizados, duplo-cegos, incluíram 1.132 pacientes e foram desenhados para comparar o perfil de eficácia e segurança de palonosetrona 0,25mg e 0,75mg IV com os agentes comparadores, ondansetrona 32 mg e dolasetrona 100mg, prévio ao tratamento de pacientes com quimioterapia moderadamente emetogênica. Resultados da comparação palonosetrona/ ondansetrona demonstraram que as taxas de respostas completas (proporção de pacientes que não experimentaram vômitos ou uso de medicação de resgate) com 0,25mg de palonosetrona foi significativamente maior que o comparador, pacientes que receberam 32mg de ondansetrona. Durante as 24 horas após a quimioterapia, 81% S ã o dos pacientes tratados com uma única dose IV de 0,25mg de palonosetrona obtiveram uma resposta completa, comparado a 69% dos pacientes tratados com 32mg de ondansetrona. Durante a fase tardia, 74% dos pacientes tratados com 0,25mg de palonosetrona apresentaram uma resposta completa comparados a 55% dos pacientes que receberam 32mg de ondansetrona. No estudo clínico palonosetrona/dolasetrona, 63% de 189 pacientes tratados com palonosetrona 0,25mg obtiveram uma resposta completa durante a fase aguda após quimioterapia moderadamente emetogênica comparado a 53% de 191 pacientes tratados com 100mg de dolasetrona. Na fase tardia, 54% dos pacientes tratados com palonosetrona apresentaram respostas completas comparado a 39% dos pacientes tratados com dolasetrona. Para o período total de zero a 120 horas após a quimioterapia, 46% dos pacientes tratados com palonosetrona obtiveram respostas completas comparado a 34% dos pacientes tratados com dolasetrona. Um terceiro estudo clínico fase III, duplo-cego, incluiu 667 pacientes e comparou uma dose única de palonosetrona IV com uma dose única de ondansetrona IV, administrados 30 minutos antes da quimioterapia altamente emetogênica, incluindo cisplatina com doses maiores ou iguais a 60 mg/m2, ciclofosfamida com doses maiores P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 48 2009 Revista Brasileira de Cuidados Paliativos Cuidados Paliativos que 1.500 mg/m2 e dacarbazina. Resultados demonstraram que durante a fase tardia, 45% dos pacientes tratados com 0,25mg de palonosetrona obtiveram respostas completas comparado a 39% dos pacientes que receberam 32mg de ondansetrona. Adicionalmente, 42% dos pacientes que receberam dexametasona prévio à quimioterapia e que também foram tratados com uma única dose IV de palonosetrona 0,25mg obtiveram resposta completa durante a fase tardia comparado a 29% dos pacientes tratados com 32mg de ondansetrona. O tempo mediano para o primeiro episódio emético para os pacientes tratados com palonosetrona foi maior do que 120 horas comparado a 43 horas para pacientes tratados com 32mg de ondansetrona. Dados de um estudo fase III, duplo cego, de dose encontro, da eficácia de uma dose única IV de palonosetrona 0,3–90mcg/kg em 161 pacientes oncológicos virgens de tratamento recebendo quimioterapia altamente emetogênica (cisplatina com dose superior ou igual a 70mg/m2 ou ciclofosfamida >1.100mg/m2) também foram apresentados para suportar a indicação da nova droga, palonosetrona. O uso concomitante de corticosteróides não foi empregado profilaticamente. Resultados indicaram que 0,25mg é a dose efetiva mais baixa na prevenção de náusea e vômitos induzidos por quimioterapia altamente emetogênica. Conseqüentemente, palonosetrona é um potente, altamente seletivo antagonista de recep- tor 5-HT3 com mais forte afinidade de ligação e maior meia-vida que os outros antagonistas de receptor 5-HT3. Doses únicas IV de palonosetrona são efetivas na prevenção da emese aguda com manutenção da atividade até o dia 5 em pacientes oncológicos que estejam recebendo quimioterapia moderada e altamente emetogênica. Conclusões A associação de dexametasona e palonosetrona não modificou a resposta à palonosetrona, isto é, a ocorrência de episódios de náusea e vômitos induzidos por quimioterapia moderadamente emetogênica foi semelhante nos grupos de paciente que receberam dexametasona e nos que não a receberam. Cerca de 80% dos médicos demonstrou satisfação com a palonosetrona no controle das náuseas e vômitos na fase aguda (24 horas), porcentagem mantida após 120 horas (87%). A maioria dos eventos adversos foi relacionada com a quimioterapia ou à doença de base e não com a medicação em estudo. Apoio Este estudo foi patrocinado pela Indústria Química e Farmacêutica Schering-Plough Brasil e gerenciado pela Newco Trials Pesquisa Científica Ltda, a qual exerceu a função de CRO (Contract Research Organization) / ORPC (Organização Representativa Para Pesquisa Clínica). Referências 1 - Aloxi Prescribing Information. ed. MGI. Pharma. 2003: Bloomington, MN. 2 - ASHP Therapeutic Guidelines on the Pharmacologic Management of Nausea and Vomiting in Adult and Pediatric Patients Receiving Chemotherapy or Radiation Therapy or Undergoing Surgery. Am J Health Syst Pharm., 1999. 56(8): pp. 729-764. 3 - Bubalo J, Bierman B, and Yates M.Relieving Patients’ Fear of Chemotherapy-Induced Nausea & Vomiting. http://www.uspharmacist.com/index.asp?show=article&page=8_1186.htm 4 - Coates, A., et al. On the receiving end—patient perception of the side effects of cancer chemotherapy. Eur J Cancer Clin Oncol., 1983. 19: pp. 203-208. 5 - Common Terminology Criterafor Adverse Events v3.0 (CTCAE). 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S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2 Durogesic® D-TRANS® – Bula Resumida Durogesic® D-TRANS® (fentanil transdérmico) – Forma farmacêutica e apresentações: Embalagens com 5 adesivos de 2,1 mg, 4,2 mg, 8,4 mg, 12,6 mg ou 16,8 mg de fentanila, correspondentes, respectivamente, à liberação de 12*, 25, 50, 75 e 100 mcg/hora de fentanila por via transdérmica. (*Observação: a dose real de fentanila liberada nesta apresentação é de 12,5 mcg/h. A opção por informar a liberação de fentanila/hora deste adesivo como 12 mcg/h [e não 12,5 mcg/h] tem como objetivo evitar erros no ajuste da dose [um incremento equivocado de 125 mcg/h ao invés de 12,5 mcg/h]. Esta conduta será adotada também na rotulagem do medicamento.). Uso adulto e pediátrico. Indicações e posologia: Dor crônica e dor de difícil manejo que necessite de analgesia com opióides, que não pode ser tratada com combinações de paracetamol-opióides, analgésicos não-esteróides ou com opióides de curta duração. A dose deve ser individualizada, de acordo com a condição do paciente e o uso prévio de opióides. O adesivo de Durogesic® D-TRANS® deve ser aplicado em pele não-irritada e não-irradiada: uma superfície plana do dorso, dos braços ou nas costas, e substituído a cada 72 horas. Em crianças, o local preferido é a parte superior das costas. A área seca e sem pêlos (cortados e não raspados) deve ser limpa apenas com água. Em pacientes virgens de opióides, a dose mais baixa de Durogesic® D-TRANS® deve ser usada como dose inicial e não deve exceder 25 mcg/h. Posteriormente, a dose deve ser aumentada ou diminuída se necessário, em incrementos de 12 mcg/h ou 25 mcg/h, dependendo da resposta e da necessidade de analgesia adicional. Em pacientes que já usam opióides, deve-se converter a dose prévia de analgésicos necessária em 24 h à dose oral equianalgésica de morfina (tabela detalhada de conversão disponível na bula integral). Durogesic® D-TRANS® deve ser administrado apenas em pacientes pediátricos tolerantes a opióides que já estejam recebendo o equivalente a pelo menos 45 mg de morfina oral ao dia. Após a aplicação da dose inicial, o tratamento analgésico anterior deve ser descontinuado gradativamente, até que o efeito analgésico eficaz com Durogesic® D-TRANS® seja obtido. Em razão do aumento gradual da concentração plasmática de fentanila, a avaliação do efeito analgésico de Durogesic® D-TRANS® só é possível após 24 h de uso do adesivo, e o ajuste de dose, após 3 dias. O adesivo de 12 mcg/h que equivale a cerca de 45 mg de morfina oral/dia é particularmente útil para a titulação em doses menores. A titulação deve ser feita com aumentos de 12 mcg/h ou 25 mcg/h de Durogesic® D-TRANS® – 45 mg/dia de morfina oral equivalem a aproximadamente 12 mcg/h de Durogesic® DTRANS® e 90 mg/dia de morfina oral equivalem aproximadamente a 25 mcg/h de Durogesic® D-TRANS®. Para doses superiores a 100 mcg/h, pode ser usado mais de um adesivo. Os pacientes podem necessitar doses suplementares periódicas de um analgésico de curta duração para dores “intercorrentes”. Quando a dose de Durogesic® for superior a 300mcg/h, alguns pacientes podem necessitar métodos adicionais ou alternativos de administração de opióides. Contraindicações: doses excedendo 25 mcg/h para iniciar a terapia opióide, já que é necessário individualizar a dose pela titulação para alcançar os efeitos analgésicos desejados. Hipersensibilidade à fentanila ou aos adesivos do sistema terapêutico. Dor branda, intermitente, aguda ou pós-operatória. Não deve ser utilizado em crianças com menos de 2 anos de idade. Precauções e advertências: Os adesivos de Durogesic® D-TRANS® não devem ser cortados. Pacientes com reações adversas graves devem ser monitorizados durante 24 horas após a remoção do adesivo, pois as concentrações séricas de fentanila baixam progressivamente e caem a aproximadamente 50% cerca de 17 h (entre 13-22 h) mais tarde. Durogesic® D-TRANS® deve ser mantido fora do alcance das crianças antes e após o uso. Cautela em casos de: Hipoventilação, Doença Pulmonar Crônica, Doenças Cardíacas, Hepáticas e Renais, Aumento da pressão intracraniana, Febre. Evitar calor direto no local de aplicação do adesivo. Gravidez e lactação: Não existem dados adequados com o uso de Durogesic® D-TRANS® em gestantes. O risco potencial para seres humanos é desconhecido. A síndrome de abstinência em neonatos foi relatada em neonatos de mães com uso crônico de Durogesic® fentanil transdérmico durante a gravidez. Durogesic® D-TRANS® não deve ser usado durante a gravidez exceto se claramente necessário. Não é recomendado seu uso durante o parto, pois a fentanila atravessa a placenta. A fentanila é excretada no leite humano e pode causar sedação/hipoventilação no neonato. Portanto, Durogesic® D-TRANS® não é recomendado para uso em lactantes. Durogesic® D-TRANS® pode prejudicar a habilidade mental e/ou física necessária para a execução de tarefas potencialmente perigosas como dirigir um carro ou operar máquinas. Tolerância e dependência física e psicológica podem aparecer após administração repetida de opióides. Toxicomania iatrogênica pós-administração de opióides é rara. Poderá ocorrer abuso com fentanil de maneira similar a outros agonistas opióides. O abuso ou o uso incorreto intencional de Durogesic® fentanil transdérmico pode resultar em superdose e/ou morte. Pacientes com alto risco de abuso aos opióides podem ainda ser adequadamente tratados com formulações de liberação modificada de opiódes, entretanto estes pacientes necessitarão ser monitorados quanto aos sinais de uso incorreto, abuso e adição. Pacientes idosos devem ser cuidadosamente observados quanto aos sinais de toxicidade da fentanila e a dose deve ser reduzida se necessário. Pacientes com disfunção hepática e renal devem ser observados cuidadosamente quanto aos sinais de toxicidade da fentanila e a dose deve ser reduzida, se necessário. Interações medicamentosas: O uso concomitante de outros depressores do SNC, incluindo opióides, sedativos, hipnóticos, anestésicos gerais, fenotiazinas, tranquilizantes, relaxantes musculares, anti-histamínicos sedativos e bebidas alcoólicas, pode produzir efeitos depressores aditivos. A fentanila, um fármaco de alta depuração, é rápida e extensivamente metabolizada, principalmente pelo CYP3A4. O uso concomitante de fentanila transdérmica com inibidores potentes do CYP3A4, tais como o ritonavir, pode resultar em aumento das concentrações plasmáticas de fentanila, que poderia elevar ou prolongar tanto os efeitos terapêuticos como os adversos, e pode causar uma depressão respiratória séria. Quando uma terapêutica combinada for necessária, a dose de um ou de ambos os agentes deve ser reduzida em no mínimo 50% (anticolinérgicos ou outros medicamentos com atividade anticolinérgica, antidiarréicos e antiperistálticos, anti-hipertensivos, diuréticos ou medicamentos produtores de hipotensão, inibidores da MAO, bloqueadores neuromusculares). Reações adversas: hipoventilação, náusea, vômitos, constipação, sonolência, dor de cabeça, tontura, prurido, sudorese, confusão, lentidão de batimentos cardíacos, alucinações, euforia, distúrbios urinários e vermelhidão no local de aplicação. Eventos adversos muito comuns relatados em estudos clínicos em crianças foram febre, vômito e náusea. Superdose: A manifestação da superdose mais grave é a hipoventilação. Manejo da hipoventilação: remoção do adesivo de Durogesic® D-TRANS® e estímulo físico/ verbal do paciente. Pode seguir-se pela administração de um antagonista opióide específico como a naloxona. Observar intervalo entre doses endovenosas do antagonista: possibilidade de re-narcotização; a administração repetida ou em infusão contínua da naloxona pode ser necessária. Se o estado clínico do paciente exigir pode ser necessário intubação orotraqueal com respiração assistida ou controlada e administração de oxigênio. Observar temperatura corporal e equilíbrio hidroeletrolítico. Se ocorrer hipotensão grave ou prolongada, a possibilidade de hipovolemia deve ser considerada. Venda sob prescrição controlada em receituário especial (formulário A), com retenção da receita. A persistirem os sintomas o médico deverá ser consultado. Janssen-Cilag Farmacêutica. Reg. MS -1.1236.0027. Informações adicionais para prescrição: vide bula completa. INFOC 0800.7013017 - www.janssencilag.com.br. Cód: Jun08 Notif de Alt. LANÇAMENTO ALÍVIO SUSTENTADO NAS DORES INTENSAS.1-3 Agora, Durogesic® D-Trans® tem novo adesivo e nova apresentação: 12 mcg/hora. 72 h de ação Apresentações: 2 12 mcg/hora 25 mcg/hora 50 mcg/hora 100 mcg/hora A bula resumida deste medicamento encontra-se no final desta publicação. Referências Bibliográficas: 1) Sathyan G, Guo C, Sivakumar K, Gidwani S, Gupta S. Evaluation of the bioequivalence of two transdermal fentanyl systems following single and repeat applications. Curr Med Res Opin. 2005; 21(12):1961-8. INFOC Nº 213827. 2) Bula. 3) Southam MA. Transdermal fentanyl therapy: system design, pharmacokinetics and efficacy. Anti-CancerDrugs. 1995; 6(Suppl 3):29-34. INFOC Nº109885. Material destinado exclusivamente à classe médica. Material elaborado em janeiro/2009. 52 2009 Cuidados Paliativos A S ã o P a u l o • a n o 0 2 • n º 0 2 • v o l 0 2