Projeto Escola

Transcrição

Projeto Escola
Introdução
“ Não há pessoas irrecuperáveis - há pessoas não amadas, incompreendidas, sem oportunidade.”
Roberto Carlos Ramos
“A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na
convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos
sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.”, diz o artigo 1º. da
Lei de Diretrizes e Bases.
Assim, o filme O CONTADOR DE HISTÓRIAS, do diretor Luiz Villaça, traz aos cinemas a
inspiradora história real do garoto mineiro Roberto Carlos Ramos, tido como irrecuperável −
analfabeto até os 14 anos, com mais de uma centena de fugas da FEBEM no currículo −, e
do seu encontro com a pedagoga francesa Margherit Duvas, que acrescentou elementos
essenciais até então inexistentes em sua vida, como afeto, confiança, esperança.
O projeto escola, aqui apresentado, promove sessões educativas gratuitas seguidas de
debate, oferece site para ampliação de pesquisa e guias impressos e digitais dirigidos a
professores e alunos do Ensino Médio no Brasil. Alguns dos objetivos do projeto são
aproximar currículo e cotidiano, dando novos significados aos conteúdos propostos, ampliar
o repertório cultural dos alunos e permitir que a magia do cinema ganhe novos contornos
educativos em sala de aula, dinamizando aprendizados e reflexões.
Esperamos que o filme, como reflexão histórica, social, econômica e humana se transforme
em recurso pedagógico a partir da criatividade dos educadores e estudantes, estimulando o
interesse pela investigação e pelo desenvolvimento de projetos em diversas disciplinas.
Elencamos algumas temáticas a serem exploradas em sala de aula a partir do filme, mas a
ideia principal é que novas possibilidades sejam criadas pelos professores, de acordo com o
projeto pedagógico de cada unidade de ensino. O que vale mesmo é tocar a imaginação dos
alunos, permitindo que se envolvam no universo encantado e na fantasia que Roberto Carlos
apresenta quando conta as suas histórias.
Boa sessão e boas aulas!
Cinema, educação e juventude
Antes de ver o filme
É importante fazer uma síntese para os alunos do que irão ver, explorar a ficha técnica e
demais elementos característicos da produção cinematográfica. Em se tratando de filmes
biográficos como O CONTADOR DE HISTÓRIAS, cabe ainda fazer algumas ressalvas,
informando os alunos que determinadas cenas podem não descrever exatamente os
acontecimentos tal como ocorreram. Exemplo disso são as cenas da intimidade e os diálogos
entre pessoas que já faleceram. Seria impossível reconstituí-los.
Para a realização de filmes como esses, há uma extensa pesquisa sobre a arquitetura,
vestimentas, veículos, aparelhos domésticos, paisagens da época. São consultados
documentos históricos, depoimentos, reportagens em periódicos. No entanto, o cineasta nem
sempre tem todos os elementos para reconstruir os fatos, e precisará inferir alguns deles, a
partir de sua sensibilidade, de seu ponto de vista e das pesquisas realizadas.
Portanto, é necessário que os alunos se posicionem criticamente em relação a tudo que
veem ou leem. No caso do filme, o que de fato inte- ressa é a narrativa em seu conjunto.
Depois de ver o filme
O CONTADOR DE HISTÓRIAS apresenta uma série de possibilidades educativas, o
universo lúdico explorado se torna elemento essencial a construção do conhecimento,
aproximando o professor das temáticas de interesse dos alunos e vice-versa.
Entender a história do personagem e a sua trajetória, perceber o que emocionou os alunos,
levantar com eles os momentos engraçados, dramáticos ou polêmicos é fundamental para
mapear as oportunidades educativas presentes na obra.
É possível ainda comparar as temáticas abordadas com outros filmes. Por exemplo, as
muitas fugas de Roberto da FEBEM em O CONTADOR DE HISTÓRIAS dialogam com as
crises e o desejo de liberdade do adolescente no clássico Os Incompreendidos, de François
Truffaut. Outra possibilidade interessante seria relacionar as narrativas fantásticas de
Roberto Carlos com filmes que tratam de construção de histórias, como Peixe Grande e suas
Histórias Maravilhosas, de Tim Burton, ou A Vida é Bela, de Roberto Benigni.
O filme pode inspirar então novos hábitos culturais, além de debates, seminários, pesquisas,
construção de textos e elaboração de trabalhos nas mais diversas disciplinas.
Período histórico e situação social
O Brasil levou tempo para se tornar um país industrializado. A primeira onda de
industrialização ocorreu ao final do século 19. Esse processo tomou forte impulso na década
de 1950, intensificando-se no princípio dos anos 70, época do chamado “Milagre Brasileiro”.
Tal avanço estimulou a economia e a oferta de empregos urbanos aumentou, atraindo para
os grandes centros, principalmente para as capitais, levas sucessivas de trabalhadores
vindos do campo e das cidades do interior.
Além do movimento migratório e do crescimento da população, os últimos cinquenta anos
tem sido marcados pela concentração de renda, que alcançou índices recordistas no país.
Milhões de brasileiros foram empurrados para as favelas, que nunca pararam de crescer,
assim como o contingente de menores abandonados e carentes.
Na década de 1970, os governos militares resolveram que o internamento dessas crianças e
adolescentes seria a melhor política. Nasce a FEBEM – Fundação Estadual do Bem-Estar do
Menor, atual Fundação Casa, com unidades presentes em todos os estados brasileiros.
Ironicamente, a propaganda oficial apregoava que os jovens internos poderiam sair dali
“doutores”.
No filme, um comercial na TV afirmava: “Para que as crianças tenham futuro, elas precisam
de cinco coisas: o F da fé, o E da educação, o B dos bons modos, o E de esperança, e o M
da moral”. A mãe de Roberto Carlos Ramos, uma lavadeira com dez filhos para criar,
acreditou na propaganda da ditadura e resolveu levar o garoto, o mais novo dentre os
irmãos, para uma unidade da FEBEM, em Belo Horizonte.
Atividades em sala de aula
1. O filme retrata a história de Roberto Carlos quando ele tinha 6, 13 e 20 anos. Você pode
explorar com os alunos o período histórico das décadas de 1960, 1970 e 1980, que cobrem
essa narrativa. Sugerimos temas como distribuição da população rural e urbana no Brasil,
concentração da renda e o “Milagre Brasileiro”.
2. No filme, Roberto recorda sua infância: “Eu contei minha vida para ela. Contei que,
quando era pequeno, empinava pipa o dia inteiro… Domingo era dia de frango, mas um dia o
frango sumiu… A gente ia ver TV na casa de um vizinho…” Esta cena permite explorar
temas como o surgimento das favelas no Brasil, a televisão como fenômeno cultural, relação
entre distribuição de renda e violência, ou mesmo o universo lúdico das brincadeiras infantis
tradicionais.
Tradição oral
Contar histórias é uma atividade lúdica para a maioria das pessoas, mas também é
fundamental para a conservação da cultura e da memória coletiva de povos que não tem
registro escrito. Técnicas, conhecimentos diversos, costumes e mitos de muitos grupamentos
humanos foram e tem sido passados de geração a geração apenas por meio da linguagem
falada.
Os povos indígenas brasileiros fazem isso ainda hoje, em quase duas centenas de idiomas.
Ao se reunirem para ouvir as histórias contadas pelos mais velhos, passam de pai para filho
as aventuras dos seus antepassados, os mitos de seu povo, sua cultura.
Do outro lado do Atlântico, em algumas regiões do noroeste da África, a tarefa de contar
histórias fica por conta de mestres dessa arte, os griôs. Caminhando de aldeia em aldeia,
eles narram lutas e glórias dos diversos povos de tradição oral. No Brasil há uma “ação griô
nacional”, do Ministério da Cultura, inspirada na experiência da ONG Grãos de Luz e Griô, da
cidade histórica de Lençóis, na Bahia. Essa ONG desenvolveu a “pedagogia griô” onde
multiplicadores percorrem a região, habitada majoritariamente por afrodescendentes,
contando e recolhendo histórias e tradições locais.
Nossa cultura está impregnada de tradições orais. E, na história de nossa literatura, a escrita
e a oralidade são interdependentes. Roberto Carlos Ramos e outros brasileiros contadores
de histórias fazem parte, portanto, dessa corrente imemorial.
Atividades em sala de aula
1. O talento de Roberto Carlos aparece pela primeira vez no filme quando ele explica à
Margherit como chegou à FEBEM, narrando um assalto fantasioso. Ao passar para a tela
essa narrativa, o diretor do filme usa um recurso: o realismo fantástico (também realismo
mágico ou realismo maravilhoso). Sugerimos que pesquisem o realismo fantástico na
literatura latino-americana, seus principais autores e obras.
2. Na vida real, o garoto começou a contar histórias bem cedo, para seus colegas internados
na instituição. Sugerimos atividades que remetam a livre criação de histórias como
instrumento da literatura, bem como comparar tradição oral com a escrita, e pesquisar os
países e culturas onde a tradição oral está presente e qual a sua importância.
Leitura e linguagem
Margherit toma uma decisão que selará a amizade entre os dois: começa a alfabetizar
Roberto Carlos. E a leitura do clássico Vinte mil léguas submarinas impressiona o garoto. O
autor, Júlio Verne, um dos maiores escritores de livros de aventuras de todos os tempos,
antecipou, no século 19, diversos acontecimentos e invenções que se tornaram realidade
muitos anos depois: a viagem à lua, os submarinos, motores elétricos e outras.
Quando Roberto Carlos aprendeu a ler, cerca de 30% da população brasileira era analfabeta.
Essa taxa vem caindo progressivamente. Acredita-se que, hoje, um em cada dez brasileiros
com mais de 15 anos de idade seja analfabeto. Mas, além desses, há outro grupo, mais
nume- roso, que corresponde a cerca de 25% da população dessa faixa etária, formado por
pessoas que, embora possam ler e escrever, não são capazes de usar essas habilidades em
seu cotidiano e na vida social.
O filme também remete o expectador para o território fascinante da criptografia. Depois que
Margherit comenta a respeito da língua francesa, Roberto diz que irá ensiná-la a falar a
linguagem das ruas. Ao usá-la, a intenção dos meninos era tornar suas conversas
incompreensíveis para quem não fosse do grupo. Atualmente, as linguagens cifradas são
usadas a todo momento por bancos e outras empresas que realizam operações por meio de
computadores. A internet trouxe também o “idioma cibernético”, uma outra modalidade de
grafia cifrada, usada por jovens internautas em mensagens de celular, redes sociais e nas
salas de bate-papo.
Atividades em sala de aula
1. O clássico Vinte mil léguas submarinas, de Júlio Verne, encanta Roberto Carlos no seu
processo de aprendizado e letramento. É possível levantar com a turma os livros que já
leram (ou que estão lendo), verificando se algum livro causou impacto semelhante. A leitura,
para Roberto, enriqueceu seu talento natural de contar histórias e encantar pessoas. Cheque
se os alunos acham importante a leitura de livros e por quê.
2. Enquanto se alfabetizava, Roberto Carlos ensinou para Margherit a “ariá-ariê” - a língua
dos meninos de rua de sua época. Pergunte se conhecem outras “línguas” como essa,
levante com a turma quais são elas e proponha que exponham ou leiam algum texto nessa
língua.
História e diversidade étnica
Preconceitos e atitudes racistas foram desenvolvidas ao longo de séculos para justificar a
dominação colonialista e o escravismo em vários continentes, principalmente na África e na
América. O Brasil foi o último país do ocidente a extinguir a escravidão. Após a Lei Áurea, de
1888, os ex-escravos foram integrados de forma precária ao restante da sociedade e ao
processo produtivo.
Algumas cenas do filme abordam questões de etnia e preconceito racial, além de ações de
construção de autoestima, como na sequência em que o garoto vai a um jogo de futebol,
levado pela pedagoga francesa, onde reage amedrontado à presença dos seguranças na
entrada no estádio.
Em outro momento, Margherit e Roberto Carlos encontram um camelô apregoando sua
mercadoria para um grupo de pessoas. O homem vende duas canetas: uma teria sido usada
pela Princesa Isabel para sancionar a Lei Áurea e com a outra teriam sido assinados os
acordos que garantiram a Independência do Brasil.
Atividades em sala de aula
1. A cena do camelô na praça permite explorar diversas temáticas históricas em sala de
aula, como a Lei Áurea e a Independência do Brasil, bem como debater a expressão
“liberdade, ainda que tardia”, mencionada pelo camelô e lema da Conjuração Mineira.
2. Margherit leva Roberto ao estádio do Mineirão. Na entrada do jogo, o menino fica com
medo de se aproximar dos seguranças que revistam a torcida. A partir dessa cena, é
possível explorar temáticas como pluraridade étnica e cultural no Brasil, diversidade como
valor para uma cultura de paz no mundo, além de conflitos étnicos e religiosos em outros
países.
Sinopse
Aos seis anos, Roberto Carlos Ramos é internado por sua mãe em uma instituição para
menores carentes em Belo Horizonte. Dotado de imaginação fértil, chega aos 13 anos
analfabeto, com mais de 100 fugas no currículo, várias infrações e o diagnóstico de
irrecuperável. O encontro com uma pedagoga francesa mudará, para sempre, a vida de
Roberto.
Ficha Técnica
Título original: O Contador de Histórias
Ano de lançamento (Brasil): 2009
Site oficial: wwws.br.warnerbros.com/ocontadordehistorias
Distribuição: Warner Bros
Produtora: Ramalho Filmes e Nia Filmes
Direção: Luiz Villaça
Produção: Francisco Ramalho Jr., Denise Fraga
Roteiro: Mauricio Arruda, José Roberto Torero, Mariana Veríssimo, Luiz Villaça
Direção de fotografia: Lauro Escorel
Montagem: Umberto Martins, ABC, Maria Altberg
Produção executiva: Marcelo Torres
Música: André Abujamra, Márcio Nigro
Som direto: Leandro Lima
Edição de som: Miriam Biderman, Ricardo Reis
Assistentes de direção: Daniela Carvalho, Letícia Prisco
Produção executiva pós-produção: Andréia Ramalho
Direção de arte: Valdy Lopes JN
Figurino: Cássio Brasil
Maquiagem: Simone Batata
Preparação de atores infantis e adolescentes: Lais Corrêa
Produção de elenco infantil: Patrícia Faria
Elenco
Maria de Medeiros | Margherit Duvas
Malu Galli | psicóloga
Ju Colombo | mãe de Roberto Carlos
Marco Antonio | Roberto Carlos - 6 anos
Paulo Henrique | Roberto Carlos - 13 anos
Clayton dos Santos da Silva | Roberto Carlos - 20 anos
Cabelinho de Fogo | Victor Augusto
Ator convidado: Chico Diaz | camelô
Projeto Escola
Realização: Casa Redonda
Consultoria pedagógica: Minom Pinho
Produção: Amanda Ferreira Gomes, Jasmin Pinho e Valerya Borges
Textos: Denise Costa Felipe e Rogério Furtado
Programação Visual: Laura Corrêa
Revisão: Miriam Paglia Costa

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