Trab História Cultura PT DVF 2013 v3

Transcrição

Trab História Cultura PT DVF 2013 v3
 Trabalho para a Cadeira de História da Modernidade e Tradição
Mestrado em História Contemporânea
Problemática da Biografia em História
Suas lições para a elaboração de uma biografia
Universidade Nova de Lisboa Faculdade de Ciências Sociais e Humanas 07 de Junho de 2013
J.P. David Ferreira
05/05/15 Pág. 1/72 Índice 1. Sumário Analítico ...................................................................................................... 3 2. Introdução ................................................................................................................... 4 3. Corpo ............................................................................................................................. 5 a. Perfil Barbara Caine .......................................................................................................... 6 b. Perfil François Dosse ........................................................................................................... 9 c. Glossário Barbara Caine ................................................................................................ 11 d. Glossário François Dosse ................................................................................................ 13 e. Resumo das Ideias de Barbara Caine ........................................................................ 19 f. Resumo das ideias de François Dosse ......................................................................... 33 g. Um Esboço de Cronologia da Biografia ..................................................................... 65 4. Conclusão ................................................................................................................... 67 5. Bibliografia Geral .................................................................................................... 70 05/05/15 Pág. 2/72 1. Sumário Analítico
A origem da ideia sobre este trabalho relaciona-se com o Projecto de elaboração de
um Ensaio Biográfico de José Francisco David Ferreira (JFDF), Cientista e Professor
Catedrático da Faculdade de Medicina de Lisboa (FML) nascido em 1929 e falecido
em 2012, como tese de mestrado.
Neste contexto e dado o meu desconhecimento sobre a problemática da elaboração de
Biografias em História, foi sugerido por mim, como tema de trabalho para esta
cadeira.
Na minha percepção, o tema deveria centrar-se sobre a metodologia de elaboração
contemporânea de Biografias.
Mas o Professor da cadeira transferiu esta ideia, para a realização de uma breve
análise da Historiografia e da Problemática do tema Biográfico em História.
05/05/15 Pág. 3/72 2. Introdução
Neste contexto o Professor sugeriu a elaboração de um texto, com base na bibliografia
de :
Dosse, François, Sousa, Gilson C.C.S, O desafio biográfico: escrever uma vida,
Brasil, Edusp, 2009
E
Caine, Barbara, Biography and History (Theory and History), Palgrave
Macmillan, 2010
Assim tentarei elaborar um trabalho, como um pequeno contributo para este tema,
numa perspectiva de compreensão da História da Biografia e sua relação com a
História, por um não especialista, em Historiografia e quais as lições a tirar.
Com o recurso a consulta de um conjunto de obras complementares de apoio a este
tema referenciadas como Bibliografia, no respectivo Capítulo e na Bibliografia Geral.
Para este trabalho optou-se pela utilização da língua Portuguesa na sua versão de
grafias preconizadas pelo Acordo Ortográfico de 1945, com as alterações de 1973.
05/05/15 Pág. 4/72 3. Corpo
Optei primeiro por caracterizar cada um dos autores individualmente. Nomeadamente
no que diz respeito: ao Perfil, Glossário de Palavras Chave e Resumo do texto, de
cada um.
No final, irei apresentar as ideias com que fiquei, da análise das duas obras estudadas.
05/05/15 Pág. 5/72 a. Perfil Barbara Caine Barbara Caine, foi Professora de História na Universidade de Monash e Directora da
Escola de Estudos Históricos, de 1995 a 2010, onde coordenou um Masters em
Biografia e Escrita de Vidas, tendo obtido ARC Professorial Fellowship em 2007.
Foi posteriormente a primeira Directora do Centro de Estudos de Mulheres da
Universidade de Sydney na Austrália.
Actualmente é Directora da Escola, de Philosophical and Historical Inquiry na
Faculdade de Artes e Ciência Social, Departamento de História da Universidade de
Sydney.
É também Fellow da Academia de Ciências Sociais, da Academia de Humanidades
onde foi Vice Presidente de 2002 a 2005 e da Sociedade Real de História do Reino
Unido.
O seu trabalho inicial de investigação e ensino tratou do tema do género e sexualidade
na Europa Contemporânea. Posteriormente tratou de temas relacionados com
autobiografia, biografia e as questões da vida individual na História.
Em termos de investigação, estuda as épocas na História Cultural do século XIX e XX
com ênfase na Europa e Austrália, História das Mulheres, Biografia, Autobiografia,
Biografia Colectiva e Escrita de histórias de vida.
Ultimamente, tem dedicado a sua atenção na História da África do Sul
particularmente no envolvimento das mulheres na luta contra o Apartheid, e também
a história das cartas e sua escrita na Europa.
Publicações (transcrição)
Livros
Biography and History, Palgrave Macmillan, History and Theory series, 2010
Bombay to Bloomsbury: the Stracheys, c 1850-1950, Oxford University Press, 2005
Gendering European History, (jointly authored with Glenda Sluga) Leicester
University Press, 2000. This book has been translated into Italian, Spanish and
Swedish
English Feminism, c1780-1970, Oxford University Press, 1997
Victorian Feminists, Oxford University Press, 1992
Destined to be Wives: The Sisters of Beatrice Webb, Oxford University Press, 1986
Friendship: a History, Equinox, 2010
Capitulos de Livros e Artigos de Jornais
‘Writing Cosmopolitan lives: Joseph and Kwame Anthony Appiah’, History
Workshop Journal, 70, 2010
'Bloomsbury Friendship and its Victorian Antecedents', Literature & History, Volume
17, Number 1, April 2008 , pp. 48-61(14)
05/05/15 Pág. 6/72 ''A South African Revolutionary, but a Lady of the British Empire': Helen Joseph and
the Anti- Apartheid Movement', Journal of Southern African Studies, 34:3, 2008,
575?590
'Elizabeth Cady Stanton, John Stuart Mill, and the nature of feminist thought',
Elizabeth Cady Stanton, feminist as thinker, New York University Press, 2007, pp.
50-65
'Bloomsbury masculinity and its Victorian antecedents', The Journal of Men's Health,
Men's Studies Press LLC, USA, 2007, pp. 271-281
'Stefan Collini, Virginia Woolf, and the question of intellectuals in Britain', Journal of
the History of Ideas, University of Pennsylvania Press, USA, 2007, pp. 369-373
'Masculinity, emotion and subjectivity: Introduction', The Journal of Men's Studies,
Men's Studies Press LLC, USA, 2007, pp. 247-250
'Prisons as spaces of friendship in apartheid South Africa', History Australia, Monash
University ePress, 2006, pp. 1-13.
'Elizabeth Cady Stanton, John Stuart Mill and 19th century feminist thought',
Elizabeth Cady Stanton: Feminist as Thinker, ed., Ellen Carol Dubois and Richard
Candida Smith, New York University Press, 2006
'When did the Victorian period end? Questions of Gender and Generation',
contribution to Round Table discussion on topic When did the 19th century end?
Victorian Culture, vol.11, no.2, Autumn 2006.
'A Feminist Family: The Stracheys and feminism, c 1860-1950', Women's History
Review, vol 14, nos 3 &4, 2005, pp. 385-404
'Feminist Biography', 'Feminism' 'Marriage and Family Life, Companion to Women's
Historical Writing, 2005-12-22
'Journalism and women's public writing' in Joanne Shattock (ed) Women and
Literature in Britain 1800-1900, Cambridge University Press, 200l
'Mothering feminism/Mothering Feminists: Ray Strachey and The Cause', Women's
History Review, 9 (2) 295-310, 2000
'The Stracheys and Psychoanalysis', History Workshop Journal, Issue 45, 1998
'The Rights of Woman' in Iain McCalman Ed., The Oxford Companion to the Age of
Romanticism and Revolution, Oxford University Press, 1998
'Victorian Feminism and the Ghost of Mary Wollstonecraft', Women's Writing, 4. ( 2)
1997, 261-275
'Feminism and Ageing', Australian Cultural History, vol. 8,(1995).
'Feminist Traditions, Women's Studies and the Question of History', in B. Caine and
R. Pringle Transitions: New Australian Feminisms, Allen Unwin, 1995
'Feminist Biography and Feminist History', Women's History Review, 1994
05/05/15 Pág. 7/72 Bibliografia Específica - Perfil Barbara Caine
Barbara Caine of Monash University reviews Living History: Essays on History and
Biography, edited by Susan Magarey and Kerrie Round. (Unley, South Australia:
Australian Humanities Press;; 2005, pp. 170. Pg. 24-1 24-2.
Web site, http://sydney.edu.au/arts/history/staff/profiles/caine.shtml, 13_05_2013,
University of Sidney, perfil Professor Barbara Caine.
05/05/15 Pág. 8/72 b. Perfil François Dosse Historiador Francês, nasceu a 22 de Setembro de 1950, em Paris, filho de pai
advogado membro do PCF e de mãe artista, pintora.
Foi militante trotskista, participou no Maio de 1968 em Paris, simpatizante de Cuba e
do Socialismo, visitou Praga durante o período da invasão soviética.
Começou a sua formação universitária na Universidade de Vincennes – Paris VII,
ligado à sociologia mas rapidamente preferiu a História. Depois da sua licenciatura e
de ter prestado provas em concurso, foi Professor de Liceu em Pontoise e depois em
Bolugne-Billancourt, durante 20 anos.
Fundador do Jornal Espaces-temps, depois de se decidir pela escrita, defendeu a sua
tese de doutoramento em 1983, sob a orientação de Pierre Chénau, sobre a Escola dos
Annales nos Media desde 1968 (como crítico da chamada Nouvelle Histoire, ou
também conhecida como terceira geração da Escola dos Annales).
É actualmente Professor Universitário de História Contemporânea no Institut
Universitaire de Formation des Metres em Créteil e no Instituto de Estudos Político de
Paris. É pesquisador associado do Instituto de História do Tempo Presente e do
Laboratório de História Cultural da Universidade Saint Quentin, em Yvelines.
Em 1997, publicou a Biografia de Paul Ricoeur, Os Sentidos de uma Vida e sobre o
historiador Michel de Certeau, considerando este género como: “É um vírus, um
investimento completamente passional e uma experiência transformadora para o
autor.”
Em 2007, publica Gilles Deleuze e Felix Guattari, biografia comparada, onde reabilita
Guattari, numa história intelectual, que tinha valorizado apenas Deleuze.
É um estudioso do fenómeno da Biografia e do ensino do tempo presente, em
contraste com a História Contemporânea e um analista da situação intelectual francesa
no século XX.
Tem uma vasta obra publicada, que não detalharemos, sendo parte traduzida em
Português do Brasil, derivado à sua participação do Ano da França no Brasil, junto a
outros escritores franceses, no evento O Pensamento Francês Contemporâneo: um
panorama, na Casa do Saber Rio de Janeiro no dia 03 de Novembro de 2009.
05/05/15 Pág. 9/72 Bibliografia Específica - Perfil François Dosse
Roiz, Diogo da Silva, A biografia na história, a história na biografia, Universidade
Estadual do Mato Grosso do Sul – Brasil, resenha: DOSSE, François. O desafio
biográfico: escrever uma vida. São Paulo: Edusp, 2009.
Website, Wikipedia, François Dosse, 13_05_2013.
Lorenzetti, Fernanda Lorandi, UFGD Docente de História do Serviço Social da
Indústria do Paraná, Brasil - DOSSE, François. O Desafio Biográfico: escrever uma
vida.
Solano, Alexandre Francisco, A Biografia Desafiada: Os Contornos De Uma Vida
Por François Dosse, Revista de Estudos CulturaisUniversidade Federal de
Uberlândia, vol 7, Ano VII, nº2, 2010
Website, BiblioFrança O Portal do Livro Francês, François Dosse, 13_05_2013.
Ferreira, Marieta de Moraes, Entrevista a François Dosse, Revista Brasileira de
História, Rev. Bras. Hist. vol.32 no.64 São Paulo Dec. 2012,
05/05/15 Pág. 10/72 c. Glossário Barbara Caine Tradução e transcrição do Glossário, apresentado na obra em análise, de Barbara
Caine:
Annales - Escola Francesa de História Social, inicialmente agrupada em redor do
Journal Annales incluindo historiadores como Lucien Febvre, Marc Bloc, Fernand
Braudel que pensavam o longo e médio termo da evolução da economia, sociedade e
civilização
Carismático – Termo originado por Max Weber que o aplicava a um a certa
qualidade da personalidade que o diferenciava do homem comum e tendo poderes e
qualidades supra naturais, super humanas ou pelo menos poderes excepcionais
Etnográfico – Estratégia metodológica usada para descrever sociedades humanas,
fundada na ideia que os humanos são melhor percebidos no contexto mais rico
possível.
Feminismo – Variedade de crenças, teorias, filosofias e movimentos, todos
preocupados com os assuntos de diferença de géneros e advogando igualdade para as
mulheres ou fazendo campanha pelos interesses e direitos das mulheres.
Género – Noções socialmente construídas de feminilidade e masculinidade em
contraste com sexo, definido como uma diferença biológica
Holocausto – o morticínio de Judeus pelos Nazis na 2ª Guerra Mundial de 1939-1945
Interioridade – Aspectos interiores da mente e profundos e muitas vezes não
expressos , sentimentos e desejos
Materialista – Originalmente o termos aplicava-se aqueles que acreditavam que nada
existe para alem da matéria seus movimentos e modificações. Em história, refere-se
mais frequentemente à concepção Marxista do desenvolvimento da história, que
concebe a mudança histórica como avançando através de uma dialéctica entre
necessidades humanas e capacidades e as condições materiais e aparelho produtivo
disponível às sociedade em tempos particulares.
Mentalidades – As crenças, perspectiva, valores e atitude de uma pessoa ou grupo de
pessoas, incluindo a sua compreensão do mundo e a sua concepção do seu lugar
dentro dele
Micro história – Primeiro desenvolvida em 1970, micro história é o estudo do
passado numa escala muito pequena. Normalmente envolve o estudo duma vila ou
cidade, mas inclui os estudo dos indivíduos muito pouco conhecidos.
Modernista – literalmente refere-se aos usos, modos de pensamento expressões e
peculiaridades de estilo, que são a característica dos tempos modernos, mas tem vindo
a incluir teorias particulares como o estruturalismo.
05/05/15 Pág. 11/72 Panegírico – Discurso publico ou texto publicado em prosa duma pessoa ou coisa;
discurso laudatório, uma elogia, um incomium.
Performatividade – Relacionado com performance, o termo sugere que discurso e
acções podem ser vistas e compreendidas como uma forma de performance.
Pós modernista – Descreve a fase da história nas artes, etc. Para alem modernismo
usualmente considerada também como tendo algumas qualidades especificas
incluindo ironia, indiferença, e um cepticismo sobre teorias universais ou de grandes
narrativas.
Pós estruturalismo – Descreve um movimento intelectual originado em França nos
anos 1960 e que rejeitava a visão estruturalista que a sociedade podia ser
compreendida em termos de estruturas específicas e padrões de comportamento,
atitudes e regras.
Psicanálise/Psicanalítico – Um corpo de ideias desenvolvido por Sigmund Freud e
continuado por outros, preocupado com o estudo do funcionamento psicológico
humano.
Subjectividade/subjectivo – A qualidade ou condição de ver as coisas
exclusivamente através do nosso pensamento ou personalidade; a condição de ser
dominado por, ou absorvido nos seus sentimentos pessoais, pensamentos,
preocupações etc; daqui, individualidade, personalidade.
Transferência – Um termo usado na psicanalise que se refere à transferência para o
analista pelo paciente de fortes e acordadas emoções previamente (na infância)
direccionadas para outra pessoa ou coisa e assim reprimidas ou esquecidas.
Trauma – Ferimento psíquico, normalmente causado por choque emocional, a
memória do qual fica reprimida e permanece não cicatrizada.
Bibliografia Específica - Perfil Barbara Caine
Caine, Barbara, Biography and History (Theory and History), Palgrave Macmillan,
2010
05/05/15 Pág. 12/72 d. Glossário François Dosse
Construção de um Glossário, da obra em análise, de François Dosse:
Autenticidade A autenticidade está na obra; Com a profusão de relatos de vida coloca-se a questão
da autenticidade. No nosso tempo implica um pacto com a verdade – a necessidade de
autenticidade.
Autobiografia Uma Biografia escrita pelo próprio sujeito da Biografia. O Nascimento da
Autobiografia escrita pelo biografado – no sec XVIII nas Confissões de Jean-Jaques
Rousseau. Com Gothe a Separação entre auto biografia e biografia quase desaparece.
A escrita biográfica enfatiza o indivíduo, esquema da monografia e auto biografia.
Os relatos de vida, navegam até aos confins da biografia e da auto biografia.
Biografemas A visão de um vida reduzida a alguns detalhes, a alguns gostos, a algumas inflexões
ou seja a Biografemas. Uma via biográfica plural, pelos Biografemas. Uma forma
fragmentada de biografia. Exemplo o retrato do poeta e do seu corpo.
Biografia
É um género literário e histórico, em que um autor relata a vida de um singular ou
colectivo de seres humanos, personagens importantes ou menores, em vida ou após a
morte. Começa no Antigo Oriente, passando pelas civilizações de Grécia e Roma até
à época contemporânea, passando por fases diversas de apagamento e de esplendor,
de rejeição a método histórico reconhecido. Biografia dos Artistas Deslocamento da biografia para o mundo dos artistas.
Biografia Cavaleiresca No sec. XV o aparecimento da Biografia cavaleiresca, que celebra heróis os
cavaleiros. Desafiam o primado dos clérigos. São em geral obras de encomenda de
carreiras singulares e exemplares. Ligada ao género épico, inspira-se na literatura nas
canções de gesta e a tradição oral. O que guia a acção permanece na ordem do divino,
por meio de sonhos. Para o Biógrafo o cavaleiro é um eleito de Deus.
Modelos Biografias Cavaleirescas: Hiperbiográfico – focado no herói e Histórico –
herói no tempo e espaço.
Biografias de Cientistas Alguns grandes cientistas foram objecto de Biografias, período da cristalização da
figura do cidadão-cientista encarnado por Condorcet.
Os cientistas vão adquirir autonomia, organizações representativas que culminam com
a criação em 1939 do CNRS.
05/05/15 Pág. 13/72 Biografia Clássica Considera-se a Biografia Clássica desde o período da antiguidade até ao sec XVIII.
Biografia Colectiva É uma publicação colectiva, de uma entidade colectiva, com uma simbolização
Colectiva. Exemplo, Le Maitron - Ideia de dicionário do movimento operário. em
vários volumes (1964-1993).
Biografia Existencialista A biografia existencialista teve como expoente Sartre. Uma Biografia inacabada,
revela um projecto de abordagem fenomenológica e existencialista usando a
psicanálise, história, sociologia com um percurso biográfico reflexivo.
Biografia dos Filósofos Contra o desdém dos filósofos pelo género biográfico, a Sociedade Francesa de
Filosofia, organizou debate em 2000 sobre o tema – a Biografia dos Filósofos.
Exemplo a Biografia de Paul Riccouer – François Dosse, Biografia de Heidegger;
Biografia de Anna Harendt.
Biógrafos Historiadores Género não cultivado no sec. XIX, um distanciamento explícito da classe dos
historiadores a um género considerado vulgar no fim dos anos 1980, com Mark Ferro
começam a descobrir as virtudes da Biografia. A partir dos anos 1990, generalizou-se,
tendo um sucesso editorial invulgar.
Biografia Histórica A Biografia Histórica moderna, uma das maneiras mais difíceis de fazer historia, com
o risco acrescido da relação do Historiador com a personagem, o sucesso das
Biografia Históricas das grandes personagens. Criação em 1999 do Observatório da
Biografia Histórica (Editions Fayard)
Biografia Intelectual Está a meio caminho entre a Filosofia e o género biográfico. Por definição o
intelectual deixa-se ler pelas suas obras e não pelo seu quotidiano. O que pode captar
um biógrafo de um intelectual, que já não esteja reflectido nas suas obras?
Biografia Moderna A Ruptura Moderna da Biografia – conceito de democracia igualitária, do relativismo,
da sua realidade e autenticidade histórica.
Biografias Nacionais Aquelas que têm um condão nacionalista, que focam sobre a consciência nacional, o
mito da alma nacional, obras que encarnam a História dos Países. São obras
monumento nacional. Exemplo: Panteão Nacional 1791
Biografia Politica Construção de entidades politicas, grandes homens, grandes teorias, focam a
competição politica e a imagem pública. Deixam de fora a vida privada, exemplo:
Isócrates e Xenofonte.
05/05/15 Pág. 14/72 Biografias Psicanalítica Recorrem às teorias de Psicanalise de Sigmund Freud em que o estudo do passado da
infância e da adolescência revelam o sujeito. É uma forma de Psico-historia que
utiliza a Psicanalise Freudiana.
Biografia Romântica Encontrada desde o fim sec XVIII e o início sec XX com a revelação da intimidade,
dos segredos familiares, por uma nova geração de historiadores românticos.
Biografia Social O individuo é aquilo que lhe permitem ser sua época e seu meio social. O contexto
prevalece e dele o individuo é mero reflexo
Exemplos: Giovanni Levi – biografias modais (um contexto, um momento, uma
categoria social); Jean-louis Bougeon – propõe o ensaio biográfico social valendo-se
de Colbert. A prosopografia aceita empregar os métodos da História Social.
Biografia Victoriana Em meados de séc. XIX dá-se o domínio absoluto da Biografia Vitoriana –
confundida com a Hagiografia, moralizadora, só nos traços exemplares, não existe um
distanciamento crítico.
Biógrafo Aquele que escreve a Biografia, o que capta para além do reflectido nas obras,
esclarece a vida de um estranho, preso nas construções que o precederam.
Os perigos da Relação com o biografado, o nunca concluir a obra e a atitude de
admiração e identificação com o biografado.
Eclipse da Biografia Existiu um Eclipse da Biografia ao longo do sec XIX e da maior parte do sec. XX,
abandonado aos “mercenários da biografia”. A Biografia sofre um eclipse, com as
ciências sociais e a escola dos Annales, em proveito da lógica de massificação e
quantitativa. O Marxismo também não reserva às lógicas individuais um lugar
significativo.
Empatia As biografias intelectuais têm um envolvimento forte do biógrafo, que explicita quase
sempre a sua relação com o biografado, uma empatia necessária somada a um desejo
de fazer justiça.
Enciclopédia Obra de carácter histórico, que tem origem no dicionário do sec. XVIII, que reúne
textos numerosos e permite ou tenta descrever o estado acumulado do conhecimento
humano em determinado assunto de domínio humano.
Género híper biográfico (psicológico) É um género focado no Herói, é uma mescla de erudição, criatividade literária e
intuição psicológica
Exemplo: Daniel Madelénat – distingue o género hiperbiográfico ou psicológico,
centrado na personalidade, da biografia histórica, cientifica, artística, literária.
05/05/15 Pág. 15/72 Grande Homem Do conceito de Herói no Sec XVII das Luzes o herói passa a ser um simples
personagem de uma narrativa. De Herói passa à noção de Grande Homem e no sec
XIX, muda de registo – o homem é produto de sua época. A Historia do Mundo nada
mais é do que a História dos Grandes Homens - “Grande Homem é aquele que
consegue fazer coincidir a sua determinação pessoal com a vontade colectiva de uma
época”.
Hagiografia Está ligada à escrita sobre a vida de santos, tornando-os exemplos para a humanidade.
Surgiram para comemorar os primeiros mártires, desde sec II d.C., no sec. VIII
constituiu-se um martirológio histórico, estando na Idade Média florescente. No Fim
da Idade Média dá-se a individualização acelerada.
Procura mais a concepção do mundo do Hagiógrafo, do que reproduzir a vida do
santo biografado, dedica-se ao que é exemplar, postula que o estudo está dado na
origem, com a epifania progressiva do estado inicial de vocação do santo.
É um discurso das virtudes em versão maravilhosa, miraculosa.
No Sec XVII dá-se grande alteração na publicação das hagiografias, 1643, Jesuítas
Bolland e Henskens lançam os Acta Sanctorum – já com uma leitura critica.
Ilusão Biográfica Para o historiador a ilusão biográfica presta-se a toda a sorte de desvios, deve manter
certa distancia do sujeito e desconfiar da ilusão biográfica. Exemplos: Pierre
Bourdieu, 1986: Visão estruturalista – metáfora do metro, em que a Biografia não
apresenta pertinência alguma. Escrevendo sobre si para desencorajar os biógrafos.
Para Jean-­‐Claude Passeron: Acha a utopia biográfica um sonho, critica o ponto de
vista oposto estrutural, utiliza a metáfora do autocarro – sequencia de acontecimentos,
distingue o modelo - Genético – o desenrolar da vida humana e a acção social dos
indivíduos e o do determinismo social das estruturas. Para Olivier Schwartz distingue
2 planos: o Registo Biográfico e os Efeitos biográficos, O narrador é aqui uma
personagem às voltas com uma história que não consegue tornar sua “Ficção que o
biógrafo elabora sobre um outro e é o auto retrato do próprio biógrafo alterado por seu
encontro com esse outro“.
Memórias Os anos de 1970 deram espaço à publicação de memórias com o olhar nostálgico do
mundo perdido.
Micro história Os estudo do individuo serve uma introdução a uma história social renovada, uma
maior atenção às estratégias individuais. A micro história restitui o direito de cidade à
singularidade, após uma longa fase de eclipse. Exemplo: Arsénio Frugoni(1914-1970)
– inovador e precursor da micro história.
Pacto Biográfico No nosso tempo implica um pacto com a verdade – uma necessidade de autenticidade,
sua finalidade é a semelhança com o verdadeiro, aproxima a biografia da história. O
Pacto biográfico envolve o autor com o seu leitor.
05/05/15 Pág. 16/72 Prosopografia A Prosopografia – género antigo, tendo por objecto de reposicionar as características
de um grupo, esmiuçando as informações sobre todos os seus membros,
aproximando-se da biografia. Foi muito praticada no sec XVIII pela aristocracia
Inglesa. Pelo seu carácter serial é um modo útil para a historia politica e social.
Defendida por Claude Nicolet vê em Émile Belot (1829-1886) o seu precursor.
É um método com 3 dimensões: Tempo, Espaço e Papel.
Para Jean Maurin – definição: “A prosopografia é a pesquisa dos elementos comuns e
dos desvios diferenciais apresentados pelas biografias particulares”. Marc Perrichet,
1979 - defende a prosopografia como método científico, opondo-a à biografia
clássica, e para Christophe Charle, História do ensino superior desde meados do sec
XIX – identificar “dados sociais e culturais que permitem ou não às estruturas
evoluírem”
Psicohistória O Psico-historiador numa tentativa de compreensão absoluta do sujeito, atento mais
ao fenómenos patológicos e a sobredeterminação em que o trauma irá
sobredeterminar os comportamentos ulteriores. O relato do passado, cria uma forte
analogia entre o género biográfico e a cura analítica, com a concepção de um tempo
que não se desgasta e parte em busca das chaves na infância e na adolescência. Utiliza
as técnicas da psicanálise freudiana.
Relato de uma Vida No sec XIX, após a ruptura da Revolução Francesa, aparecem os relatos biográficos
que articulam individualidade e exemplaridade, que pressupõem o envolvimento do
pesquisador e que navegam até aos confins da biografia e da auto biografia.
Com a ruptura moderna, o relato de vida não passa de matéria prima, que convida a
filosofar, dando-se uma revalorização da Fonte Oral.
Exemplo: Daniel Bertaux – “Justamente por serem relatos de experiencia, é que os
relatos de vida conseguem interessar ao mesmo tempo pesquisadores e leitores.”
Vidas Paralelas Neste caso desta obra, a biografia inclui aspectos da obra dos biografados, Plutarco,
45 d.C., em suas Bíoi parálleloi (Vidas paralelas), numa abordagem crítica e não
apenas historiográfico. Esta obra inclui 23 pares de biografias, pares constituídos por
um personagem Grego e outro Romano, concebeu biografias sob a forma de
comparação dupla - herói grego e romano. Esta obra Vidas Paralelas influencia o
género biográfico nos sec XVI, XVII e XVIII.
Nela o autor defende o direito de estilizar a realidade da experiencia vivida, utiliza a
metáfora - fidelidade ao modelo e criatividade do autor, com uma tensão entre a
virtude e o trágico da história, um jogo: A escolha que o herói faz e o que é fruto do
destino. Dá atenção ao gesto individual com a descrição da intriga no
desenvolvimento dramático, atribuindo uma importância secundária à cronologia
tendo como grandes princípios a defesa da cidade o senso do complexo e a descrição
dos detalhes.
Exemplo da sua influência: 1978, Foucault lança colecção Vidas Paralelas – as
despedaçadas, esquecidas e desprovidas de glória.
05/05/15 Pág. 17/72 Vidobra Género que diz respeito a quando o relato da vida de um personagem se apresenta
como explicação da sua obra.
Testemunhos Começando com as testemunhas de Santos no sec XIII e no sec. XX, nos anos 1980,
Annette Wieviorka, chama - a era da testemunha, referenciando os testemunhos do
horror, relativos ao Holocausto (Genocídio dos Judeus) ocorrido na 2ª Guerra
Mundial. Mostra a fecundidade e um procedimento de pesquisas que recolhe os
testemunhos orais, cruzando-os com as fontes escritas.
Bibliografia Específica - Perfil François Dosse
Dosse, François, Sousa, Gilson C.C.S, O desafio biográfico: escrever uma vida,
Brasil, Edusp, 2009
05/05/15 Pág. 18/72 e. Resumo das Ideias de Barbara Caine Iremos neste subcapítulo, resumir as ideias fundamentais referenciadas na obra de
Barbara Caine, em análise.
Introdução
A Viragem Biográfica – o prescindir da vida individual para compreender a sociedade
e a mudança social e histórica.
Olhar o passado ”mais humano, mais vivo, mais íntimo, mais acessível, mais ligado a
nós” (pg.1)
Para, Arthur Schessinger, o mais importante, é o que podemos ouvir das vidas das
pessoas ordinárias.
O Acesso à compreensão subjectiva e à experiencia.
Muitos historiadores viram-se para a Biografia, nos últimos 20 anos, dado que do
ponto de vista editorial, permite atingir o grande publico, ao contrário das outras
formas de História.
As teorias estruturalistas e marxistas olhavam para as grandes narrativas privilegiando
os grupos dominantes. Agora olham para o particular, o lugar.
Confinada à discussão das personagens importantes, agora as pessoas ordinárias têm
um interesse biográfico. Permitem ilustrar em detalhe, como outros, que partilham a
mesma classe, género, etnicidade, interesses, os problemas compreendidos ou
afectados por desenvolvimentos particulares históricos.
Um nova abordagem biográfica, desde 1970: a nova História social, micro história,
história das mulheres, história dos negros e a história pós colonial.
Ouvir os silenciados pela escrita histórica anterior.
“A análise detalhada do indivíduo ou vidas colectivas, oferece uma das melhores
formas de explorá-las” (pg.3)
As vidas de personagens proeminentes, não deixou de interessar, continuando no
entanto o seu formato tradicional (o único, o significante). Mesmo nestas, começa a
aparecer o contexto social e politico e o relacionamento do indivíduo com o meio em
que habita, as circunstancias.
Interessam o estudo de casais, de famílias e grupos – Biografia de Grupo.
A Relação (debate ao longo da História) entre História (publico, político) e Biografia
(vida privada).
05/05/15 Pág. 19/72 A Biografia do indivíduo – a capacidade da vida individual reflectir a mudança
histórica.
Abordagem do sec. XVII ao presente. Começando no individualismo e nas histórias
de vidas.
1 - Historiadores e a questão da Biografia
Introdução
No reconhecimento da sua importância – uma atitude de ambivalência.
No mundo clássico, a história tinha mais qualidade, seriedade, importância politica. A
Biografia comemorava a vida de um personagem significativo com uma função
moral.
Nas Vidas Paralelas, Plutarco: Compara Gregos e Romanos, a liberdade do Biógrafo.
Onde as pequenas histórias e episódios, podem ter grande importância para analisar o
carácter de um Homem.
Biografia e História do Sec XVII a Sec XVIII
Para Francis Bacon – as Vidas individuais devem ser vistas como parte da História.
Existindo 3 tipos de Crónicas:
• Crónicas – tempo
• Vidas – pessoa
• Narração – acção
Hugh Blairs (1783) destaca a utilidade e importância da Biografia.
Robert Biscet – Maior grau de interesse na Biografia.
A capacidade da Biografia de trazer novos leitores, com necessidades que a História
tradicional não satisfazia.
A História falava aos homens públicos – a Biografia falava a todos.
Para David Hume – as mulheres deviam ler História por ser mais instrutivo que as
novelas. Inclui já episódios, incidentes – a emoção, o sentimental
Uma nova forma de incorporar vidas individuais nos acontecimentos Históricos.
Thomas Carlyle e a Ideia da Biografia como História
No Sec. XIX para Francis Jeffreys: – tudo o que afecta o carácter do indivíduo, as
maneiras, a educação, os empregos prévios, a religião e o gosto, num desejo de
conhecer as maneiras e hábitos dos tempos anteriores.
Thomas Carlyle (1830): no estudo “Em História” - a essência de inúmeras biografias.
Na Biografia de Cromwell, na História da Revolução Francesa a sua natureza não
liberal e antidemocrática, não liga à economia, sociedade e condições politicas.
05/05/15 Pág. 20/72 Para Blair Worden: a reabilitação de Cromwell, provocou uma mudança visão da
Guerra Civil Inglesa, Carlyle chegou a ter empatia com Cromwell.
Na América para Ralph Waldo Emerson a Biografia é melhor forma de compreender
o passado que a da História.
Os “Homens Representativos” – com maior significado universal, mostrar a América,
o seu significado como nova nação contra o mundo antigo.
Exemplos: América - James Partou B. Andrew Jackson e Benjamim Franklin
A profissionalização da História
Na Alemanha é criada a 1ª Cadeira de História em 1804.
Leopoldo Von Ranke, O Estudo da História como disciplina e profissão.
Na História das Nações Latinas e Teutónicas 1494-1514 – seminário Berlim
Estudo das Fontes, mostrar o que de facto aconteceu, centrado nos desenvolvimentos
políticos, religiosos e pouco espaço para os indivíduos e a exclusão das mulheres
Em Inglaterra o estudo da História foi introduzida na Universidade em 1850.
Para James Stephen, Professor de Cambridge a disciplina da História foi incluída para
ocupação dos alunos que não tinham apetência para Matemática e Clássicas onde a
Biografia tinha um importante papel.
Até ao fim sec. XIX a História foi tema de aprendizagem para a vida pública
J.R. Seeley Cambridge (1880) – Escola de Sentimento Público e Patriotismo com a
Biografia dos Grandes Homens.
O Estudo da História em Oxford, caracterizava-se pela subjectividade do tempo,
lugar, pensamento, Instituições e o progresso moral, intelectual, material e politico.
Menos focus no indivíduo.
Em 1886 na English Historical Review – a História dos estados e dos governos, a
forma como os indivíduos afectaram, o todo.
História e a questão da Biografia
Na Concepção Materialista da História – de Marx e Engels – com o conceito de Luta
de Classes, a existência social determina a natureza do pensamento humano, afastamse da Biografia – as questões sociais e económicas prevalecem.
Para G.V. Plehhanov – “O papel do indivíduo na História” – são as qualidades que o
permitem ser mais capaz para servir as necessidades sociais do seu tempo.
Exemplos: Issac Deutscher: Stalin a Political Biographie, Trotsky.
Biografia e História no Sec. XX
Alguns Historiadores preferiam a Biografia, mas a maioria tinha preferência pela
História.
05/05/15 Pág. 21/72 Escrever Biografia, pensavam ser mais fácil, com uma metodologia mais simples,
uma forma inferior de História. Mas mesmo os mais críticos escreveram Biografias.
Com o Movimento dos Annales (na 1ª metade do sec. XX) – a prevalência da
economia, geografia histórica e antropologia, desconsiderava os eventos. Sobre
valiam as mentalidades – psicologia “nunca o homem, sociedades humanas, grupos
organizados” – Lucien Febvre.
Recentemente os Annales repensaram a Biografia, especialmente a Auto biografia,
Exemplos: Pierre Nova: Ligam as sua vidas à investigação histórica com um novo
Interesse na micro história.
Lucien Febvre – “Un Destin” Marthin Luther, a rejeição das histórias individuais para
os da História Económica e Social (meados sec. XX). O interesse nos predecessores
estão nos populistas (Biografias escritas por considerados não historiadores).
E. H. Carr e Geofrey Elton (1964-67) apesar de escreverem Biografias,
desconsideravam-nas.
Apesar disso, continuavam a ser estudadas Biografias nos cursos de História, mas a
“baixa” da Biografia, foi reforçada com o pós estruturalismo “A morte do Autos”
Barthes, eram os leitores que tornavam o texto entendível, mas mesmo apesar disso,
Barthes escreveu a Biografia de Michelet.
Mudança de Ideias sobre o papel da Biografia na História
Desde 1970, houve uma mudança de ideias relativamente à Biografia pela capacidade
de vidas individuais iluminarem tendências Históricas e permitirem o
desenvolvimento da Biografia como uma “Lente sobre o passado”.
Nos anos de 1970-1980 – Discussão sobre ligação de Biografia e História.
Inovação com Kathryn Kish Sklar – Catherine Beecher (1973) – estudo da época
através da vida de uma mulher.
História das Mulheres (1970) – as vidas privadas, familiares, relação com as
actividades públicas.
Apareceram outros exemplos relativamente a biografias que tratavam dos fenómenos
dos negros, do colonialismo dos trabalhadores.
Entre 1980 e 1990 – com a Micro história tida emergente em Italianos anos 1970 com
Giovanni Levi trás uma aproximação etnográfica – a vida individual revela os
Grupos, uma aproximação da Micro Historia com a Biografia.
Biografia tem capacidade de unir diferentes ramos da História, dá vida às estatísticas
e aos census, sendo a investigação Biográfica importante no uso de Fontes Primárias,
tem vantagens únicas e distintivas.
A Importância dos limites Biografia, com o contemporâneo Ian Kershaw – na sua
magistral, Biografia de Hitler, considera que a Biografia “ilumina a motivação por
detrás das acções... e como as decisões são tomadas” (pg.25); “Episódios,
desenvolvimento no curto prazo onde as acções de um indivíduo podem ser cruciais”
(pg.25). Para ele a Biografia “é um quarto na manhã da História e não ajuda a
perceber os processos no longo termo de transformação histórica, ou mesmo lustrála” (pg.25); cujo seu pensamento reflecte a visão da Biografia actual: “O papel do
05/05/15 Pág. 22/72 indivíduo na História e a questão do peso histórico atribuído às visões, motivações,
acções.. de pessoas poderosas e significantes” (pg.26)
2 – A História da Biografia
Questão, de como uma vida deve ser compreendida, é importante para quem escreve
Biografias mas também o é para quem lê.
A Moderna Biografia – traz-nos uma mudança no tratamento da vida privada dos
sujeitos.
No Sec. XVIII o focus muda dos Grandes Homens para os escritores, artistas e
homens da Igreja. Mas a Família, as amizades, as conversas e o convívio, sem detalhe
privado nesta época
No Sec. XIX dá-se mais atenção à infância, à origem da família, à formação do
carácter – continuando a descrição relativa à família doméstica e sexual.
Com o Sec XX surgem as novas questões, psicológicas, da vida emocional e do
interesse no interior dos sujeitos.
As Mudanças de carácter e personalidade do sujeito biografado compreendido:
• Sec XVII e XVIII – como eram, mostram carácter, fobias e fraquezas;
• Sec XIX – a protecção da reputação é o mais importante;
• Sec XX – as fobias e fraquezas regressam, os motivos inconscientes, o
carácter, o comportamento, os desejos e os conflitos.
A Emergência da nova Biografia
A nova Biografia está ligada às novas aproximações à Ciência – com a Revolução
Científica, olhando a Vida como um fenómeno.
No Sec XVIII surge uma expansão do interesse em auto biografias, com a vida
interior e espiritual,
Expansão dos sujeitos Biografados, com as memorias
O Termo Biografia passa a sinalizar o novo interesse pelas vidas das pessoas.
Samuel Johnson no sec. XVIII – exprime o novo sentido da importância da Biografia:
• Carácter - revelado na vida social e domestica;
• Comportamentos e ligação aos amigos e patronos;
• Importância da verdade, incluindo vícios e falhanços;
• Distinção entre Biografia e Panegírico;
• Capacidade de envolver simpatia e emoção, similar à Ficção;
• Biografia reconhecida como trabalho literário;
• Foi sujeito a uma Biografia por James Boswell.
Mas no sec. XVIII, ainda a compreensão do íntimo, deixa muito escondido.
Tão delicada, decente é a Biografia Inglesa.. a mudança de padrão da Biografia
no sec. XIX
05/05/15 Pág. 23/72 Uma desaprovação de detalhes íntimos e sexuais, nos Limites da Biografia – a
discrição. Dificuldades de escrever Biografias com os constrangimentos reaccionários
existentes.
Para Lockart – a Biografia revela forças e fraquezas, mas a preocupação principal é
focar nos méritos, nos sucessos, com o ênfase na moralidade – o “stressar” a virtude.
Época do aparecimento de muitas Biografias escritas por encomenda de Editores e de
Famílias poderosas.
No Sec. XIX – temos uma ligação próxima entre Biografia e Ficção Literária.
Exemplos: Charles Dickens - David Copperfield – uma espécie de autobiografia
E com Froude – na Biografia de Thomas Carlyle:
• Da relação com a sua mulher;
• A Infelicidade e remorso;
• Foi contestado pela família e pela imprensa;
• Uma quebra de compromisso com o biografado.
A Nova Biografia e a vida interior no começo do Sec. XX em que a visão Victoriana
é renegada.
Com Samuel Butler (1903) e Edmund Gosse (1907) – partiram as fronteiras entre
autobiografia e Biografia com as criticas ao valores Victorianos (Religião, Dever,
Império). Estas críticas subiram de tom com a 1ª Guerra Mundial.
Strachey, na forma Victoriana de Biografia – serviu de ilustração dos piores valores,
da desonestidade, da hipocrisia, das fraquezas escondidas.
Virgínia Wolf, foi a primeira a usar o termo Nova Biografia, com os problemas de
relacionar a verdade factual com a luz da personalidade, considerando que:
• Biografados como iguais;
• Devem ser Interrogados;
• Devem ser Analisados;
• E sujeitos a juízo critico.
Biografia e a Questão da Compreensão
Paula Backsoheider – a Biografia pretende chegar sob a superfície ou uma impressão
superficial da pessoa. Como aceder ao eu núcleo? pela escrita, psicologia, as relações
domesticas e familiares.
A Popularidade da Biografia Literária com o fascínio pela vida interior.
Alguns Biógrafos usaram a psicologia e a psicanálise (Freud), com a importância do
inconsciente, o acesso às intenções e significados, e às não evidentes dinâmicas
familiares.
Considerando a personalidade – como mais psicológica que moral colocou o desafio
de compreender.
A noção do sec. XX de vida privada – eram as relações íntimas com pais e amigos
enquanto as relações eróticas e sexuais, aparecem só depois da 2ª Guerra Mundial
05/05/15 Pág. 24/72 Relativamente a David Loyd George – 1º Ministro de UK – exploraram as suas
relações extraconjugais, para demonstrar a sua falta de integridade.
Em Franklin D. Roosevelt (1960-70) exploraram “affair” extra matrimonial e a
ligação entre a vida privada e vida pública.
Na Biografia dos anos 1960-1970, a questão da sexualidade e identidade, é a chave
para a personalidade e curso de vida.
Impulsos Feministas
Muitas escritoras estavam interessadas em escrever, vidas de mulheres.
Re-emergência do Feminismo nos anos 1960-1970 – libertação das mulheres, grande
dificuldade em publicar as suas obras.
Nas Biografias realizadas de mulheres do sec. XVIII e XIX – ressaltava a falta de
educação, conflitos carreira/família, conflitos emocionais, relações familiares, os
problemas do Género.
Estudos sobre as mulheres da Classe Média – 1970 - 1980
Estudos sobre as mulheres Afro Americanas – 1990 – 2000
Biografia Colectiva
Introdução
Para os Historiadores a Biografia Colectiva é muito importante.
Com Leslie Stephen, no fim do sec. XIX, publica o Diccionary of National
Biography. Qualquer estudo Biográfico tem de ter mais do que um sujeito.
Segundo Keith Thomas existem três formas:
• Biografia de Grupo(pessoas ligadas);
• Biografia Universal;
• Biografia Nacional.
Como estudos individuais seleccionados e combinados para representar a Nação,
Grupo ou activismo.
A Biografia Colectiva como um contínuo, do individual para o colectivo – publicação
de Dicionários e Biografias Nacionais.
Enciclopédias e Biografias Universais
Plutarco – Vidas Paralelas – uma Biografia comparada.
Suetónio – Vidas dos Césares – Cronologia de Vidas.
Vasari – Vidas dos Artistas (Renascença).
Samuel Johnson Vidas dos Poetas (1870).
No Fim do sec. XVIII aparecem Biografias de actores, almirantes, Bispos, Botânicos,
Dramaturgos, Físicos,..
05/05/15 Pág. 25/72 Um Interesse antiquário, com o interesse em organizar o conhecimento num trabalho
maior, a Enciclopédia.
Com Pierre Bailes – Dicionário critico e histórico (1697) – mais ambicioso e de
sucesso: com uma organização alfabética, incluindo narrativas de cada individuo,
notas de rodapé e retratos desenhados.
Biografia Nacional no sec. XIX
No Sec. XVIII, surge um focus na Biografia Nacional e Patriótica, em que no caso da
França considera suceder à Civilização Grega e Romana – uma tentativa de
superioridade.
Na Inglaterra – Biografia Britânica
No Sec. XIX, Ernest Renan “O que é uma Nação” (1880) – enaltece a herança e o
heroísmo.
As colecções de Biografias Nacionais tornam-se obrigatórias – fazem parte do
processo de formação dos estados europeus.
Leslie Stephen (1880), no Dicionário Biográfico Nacional
• Refere Figuras de 2º e 3º nível de importância;
• Situa o problema da Escócia, Wales e Irlanda ?;
• Quais as características Nacionais ?.
O seu sucessor no projecto, Sidney Lee (1892-1912)
• Quem se destaca;
• Homens educados e privilegiados (apena 3% de mulheres).
Foi efectuada uma actualização em 1990 - Oxford Dicionário Biográfico Nacional
(novo) - com mais 16.000 entradas – reflectindo já a diversidade e géneros. Outros
Países publicam obras semelhantes: Austrália e África do Sul (1995)
Mulheres e Biografia Colectiva
Ausente no período clássico, desde o fim do sec. XVIII começam a surgir com,
George Ballad (1752) em Inglaterra, Biografia de Mulheres. Mary Hays (1803)
expande o trabalho atingindo 6 Volumes “Female Biography”.
Um género distintivo de mulheres Vitorianas escritoras
Com Agnes Strickland, as Vidas das rainhas, em 12 volumes (1840-48) com uma
visão doméstica.
Em Júlia Kavamgh – Mulheres em França no sec. XVIII – uma visão mais feminista,
realçando a falta de reconhecimento da mulher e do seu poder.
05/05/15 Pág. 26/72 Prosopografia
Lawrence Stone – procede a investigação das características de antecedentes comuns
de um grupo de actores, pelo estudo colectivo das suas vidas.
Papel importante no desenvolvimento da História em Inglaterra e nos Estados Unidos,
até meados do sec. XX.
Com Charles Beard – a Constituição Americana e estudo dos antecedentes dos seus
Pais Fundadores.
Em Syme – a Revolução Romana com o estudo dos antecedentes, económicos,
ligações sociais, políticas das elites – tentar compreender as decisões politicas
tomadas.
Este género, muito dependente de informação Biográfica.
Considera as Tipologias – os comportamentos comuns, não é uma forma de Biografia,
alimenta-se dela – grupos, comportamentos, ligações, no seu tempo.
Dicionários Contemporâneos de Biografia
Dicionários Biográficos com tipologias Novas: Socialistas, Trabalhadores, Negócio,
Activistas, Feministas – cultura popular.
Rodclife College, 1950, Dicionário Biográfico das mulheres americanas, demorou 20
anos a concluir de 1971 a 1999.
Jenny Uglow em Inglaterra de 1980, publica o Dicionário Biográfico das mulheres.
De Colectiva para Biografia de Grupo
Com a introdução das novas tecnologias dos sistemas de informação – surge a forma
de procura por palavra chave.
O que permite o acesso aos grupos, de determinados: interesses, relações, eventos,
lugares.
Biografia de Grupo
Permite ligar Histórias de Vida no processo histórico e evita excessivo focus numa só
pessoa.
1º Caso de Mulheres em 1980 – famílias, irmãos, irmãos Kennedy, os círculos de
amigos, as redes culturais, sociais, políticas.. Os Cientistas, Industriais – as redes, as
novas descobertas , novas ideias.
A melhor forma de ligar História e Biografia – pelos Grupos Científicos.
Auto/Biografia e Escrita de Vida
Em 1970 – as Escritas de Vida, uma fórmula nova menos restritiva, com o estudo de
cartas e diários, surge na mesma altura que a Auto/Biografia.
Auto biografia e Biografia ligadas com o envolvimento auto biográfico do autor
05/05/15 Pág. 27/72 Autobiografias e memórias – imensa publicação, permitindo o auto reconhecimento e
a Significância.
A Escrita de Vida é mais democrática – partilha de experiencias e problemas,
sofrimento e dificuldades.
Existência da tradição de Narrativas de Escravos que revelam a tentativa de
compreender experiencias pessoais de eventos traumáticos.
Do período da Revolução Francesa, existem cerca de 1500 memórias e auto
biografias.
Criticas à História, pelos estudos pós coloniais e estudos subalternos dada a não
inclusão dos – excluídos.
Nos últimos 20 anos, com Pierre Nora e o conceito de “Ego Historia” - memória que
inclui a vida do historiador, a ligação ao sujeito.
Escrita de Vida
Surge em 1970 – “História de debaixo”e engloba na vida individual: diários,
memorias, cartas, auto biografias, escrita de viagens e fotografias. Pretende incluir os
excluídos, mulheres autoras.
David Amigoni – inclui muitas tipologias de histórias de vida e muitas formas de
escrita, envolve historiadores e literários.
Auto/Biografia
Não se pode separar a escrita da vida de outro, da escrita da nossa vida.
Exemplos: Edmund Gosse “Father and Sun”(1908); Philip Roth – “Patrimony” Relação entre o Biógrafo e o Sujeito.
Com, León Edel (1960), “Transferência está no centro de toda a escrita Biográfica”(
pg.71). Por vezes idealiza excessivamente o sujeito, pode também fazer o inverso, as
questões sobre a voz e a propriedade da narrativa.
“no balanço do bio – contra o – Graph em Biografia. É usualmente o – Graph que
ganha no fim “ (pg.73)
História e Autobiografia
A diferença entre Historia e Autobiografia foi resolvida tardiamente.
Os elementos autobiográficos utilizados até ao sec. XVIII – eram testemunhos.
Com a História como disciplina, os testemunhos passam a fontes, onde os
historiadores se baseiam nos seus trabalhos.
Mas no sec. XIX e XX a autobiografia não era História, era suspeita.
Com G. Kitson Clark no sec. XX – “memorias e autobiografia é o método mais
convincente de todos os registos pessoais” (pg.74)
Nas últimas décadas aparece uma visão diferente, as fontes únicas são importantes.
Permite o viver dos excluídos.
Os Historiadores lêem nas autobiografias, as crenças, as ideias, a subjectividade,
como se viam e compreendiam.
05/05/15 Pág. 28/72 Natalie Zemon Davis – “Women on Margins” – reticencias e omissões importantes.
Em, James O´Donnell Biografia de Augustine – uma leitura comparada de
contemporâneos
Nos últimos 15 anos dá-se a explosão de memórias e autobiografias no Mundo,
prevalente nos Países que passaram maiores sofrimentos massivos, tendo como
exemplo maior o Holocausto – com o maior grupo de auto biografias e memórias do
sec. XX, um caso considerado paradigma que surge a partir de 1960-70 – o Trauma.
Com todo os seus problema associados da veracidade e autenticidade dos
testemunhos.
Surgem também, as autobiografias dos novos Líderes Africanos e suas
independências com os objectivos de:
• Moldar a nação;
• Obter reconhecimento;
• Aumentar a audiência;
• Discurso Anticolonial;
• Promover a História fundadora da Nação;
• Ex: Nelson Mandela – “Longo Caminho para a Liberdade” (narrativa pós1994)
Autobiografias Históricas
Nos últimos 20 anos os Historiadores publicam autobiografias, eles têm o treino e a
capacidade para explorar o período em que viveram.
Exemplo maior com Eric Hobsbawn na obra “Intensity Times, A Twenty Century
Life”.
Jeremy Popkin, analisou esta questão, e a influência de cada escola historiográfica.
Desde sec. XVII os Historiadores escreveram autobiografias.
Henry Adams na sua autobiografia em 1918 – “stressa” o declínio, o falhanço. Mas
escrevem sobre a vida publica e não a privada.
No sec XX, os Historiadores escrevem autobiografias, com as suas experiencias
traumáticas da sua época: judeus, nazismo, holocausto, guerra fria, a era Macarthy.
Começa a entrada de um número significativo de mulheres na profissão, que sofrem
ainda a descriminação, recusadas nos empregos e adiadas as suas carreiras.
Voices of Women Historians – Uma Crónica da sua luta, uma impossibilidade de
separar a Historia da Biografia ou da Autobiografia.
05/05/15 Pág. 29/72 5 - Interpretar e Construir Vidas
Com Virgínia Wolf (1938) uma Biografia diferente de ficção ”é a Biografia uma
arte?”
A ligação e prisão ás fontes, Biografia e o pensamento e emoção na alma, o biógrafo
deixa de ser um cronista para se transformar num artista.
O Ofício de Biógrafo
León Edel, em 1980, com a Nova Biografia:
Biografia como forma de literatura, método de investigação do Historiador, critica
histórica e o estudo da psique.
4 Princípios básicos:
• Aprender os sonhos e pensamentos (psicanalítico);
• Manter a distancia ao sujeito;
• Modos e padrões do trabalho do sujeito;
• Forma e Estrutura (estilo, elegância).
Um Projecto modernista - revelar o sujeito e incluir as questões de Género.
Writing Livres: Principia Biográfica, em 1984 com a Biografias de Mulheres.
Heilbrun – escreve de forma pessoal e impressionista, reflecte sobre as práticas
biográficas.
Backschhieder (mulher) coloca 4 questões básicas:
• Voz do Biografo (com os leitores);
• Natureza da Relação biografo e sujeito;
• Como as evidencias são compreendidas (falta de material?);
• Como a personalidade do sujeito é compreendida.
Biografia e Psicanálise
A Teoria da Personalidade – a entrada dos psicanalistas.
Segundo, David Hoddeson os psicanalistas estão sempre a fazer biografias, como
reconstroem e gravam os casos dos seus pacientes.
Elizabeth Young Bruehl – com as teorias da infância.
Freud insistia que a psicanalise era essencial para escrever biografias, queria ter o
domínio da também da Biografia. Pensava que tinha compreendido Leonardo Da
Vinci. Segundo ele era preciso um modelo simplificador, um esquema de padrão de
vida.
Erik Eriksson, nos anos 1950-60, nos Estados Unidos – dar enfoque na importância ao
crescimento e adolescência:
• Psicohistoria - compreender as condições que moldam o desenvolvimento do
individuo;
05/05/15 Pág. 30/72 •
A partir de 1970 é esquecido, não haviam provas da sua investigação.
Critica a este método e enfoque primeiro na Investigação Empírica e no método
histórico. Segundo Thomas A. Kohut, a Psicanálise “psicologicamente simplista e
historicamente reducionista” (pg.95)
Conceito de transferência
O que é importante é o percurso todo da vida, das necessidades, dos desejos, dos
objectivos, dos ideais, dos amores, dos ódios e conflitos.
Compreender os sentimentos humanos, pensamentos e acções, uma aprendizagem
empática – compreende-o.
Porquê o que aconteceu, aconteceu mesmo ? Esta abordagem foi usada mais no
Estados Unidos que em Inglaterra.
Textos e Performances
Questões em discussão:
• Textos, sua análise procura contradição, porquê ?;
• A auto-representação pelo texto, análise de discursos, de cartas, e de
correspondência;
• Uma distinção metodológica entre texto e vida;
• O Interesse está no escritor ou na pessoa ?;
• A Performance – o que fazemos em vez do que somos;
• Versões de si mesmo – múltiplas identidades (e não a essência)
Os Papéis e representações, o que a pessoa faz – reflecte a personalidade no seu
tempo.
6 – Mudando Práticas Biográficas
Temas em discussão:
• Forma e cronologia;
• Matérias marginais e subversivas;
• Novos assuntos – grupos momentos históricos, lugar, ideal;
• Atenção ao Privado, emocional, domestico, familiar;
• Recente interesse em Cientistas e Exploradores;
• Interesse em vidas ordinárias e obscuras – o mundo visto por eles (1970)
O Género da Biografia
1960-70 Feminismo – critica assunção do género. A componente familiar e privada é
mais importante para as mulheres.
Desde 1970 nas Biografias de Homens importantes inclusão das figuras femininas, da
mãe, mulher, filha, irmã..
05/05/15 Pág. 31/72 Conclusão
A mudança na relação entre Biografia e História.
Biografia, vista como mais pequena, na capacidade de explorar e reter o passado.
O Focus na vida individual oferece uma visão mais estreita numa escala menor.
O Apelo aos Leitores.
A Mudança notável como a Biografia é vista e compreendida em História.
A Forma como uma vida individual pode reflectir padrões maiores na sociedade.
Como os historiadores se aproximam à tarefa de escrever uma biografia ? é igual ou
diferente da do Biógrafo ?
Ligação Biografia/sujeito – auto/biografia
Historiadores analisam contexto histórico da relação indivíduo com o mundo e menos
no indivíduo.
A Biografia como uma forma literária maior – e mais divulgada (razão da atracção
dos Historiadores)
A Biografia ultrapassou o Homem com a Biografia de Continentes, Países, cidades,
modas, casas ( um Marketing Editorial )
Um percurso entre o nascimento e a morte.
Foi renovado o interesse na Narrativa, com a importância das histórias que explicam o
passado.
“Forma contingente de narrativa, - apelo particular quando o interesse histórico está
a expandir-se para alem do nacional e imperial para o transnacional e global”
(pg.124)
Bibliografia Específica - Perfil Barbara Caine
Caine, Barbara, Biography and History (Theory and History), Palgrave Macmillan,
2010
05/05/15 Pág. 32/72 f. Resumo das ideias de François Dosse Foi utilizada, a tradução brasileira da obra originalmente em Francês, efectuada
devido às comemorações do ano da França no Brasil em 2009.
Este livro traça de certa forma a História do Género Biográfico.
Introdução
“Escrever a vida é um horizonte inacessível” (pg.11) mas a “A Biografia pode ser um
elemento privilegiado na reconstituição de uma época com os seus sonhos e
angustias”.
Uma tensão entre a ânsia de verdade e uma narração que situa a biografia entre a
ficção e a realidade histórica.
2 Géneros: A Biografia e o Relato de uma Vida
A Biografia como termo, só aparece na edição de 1721 do Dictionnaire de Trévoux.
Para Marc Fumaroli, Da antiguidade ao sec XVII – foi a época de Registo de Vidas.
ciclo vital completo
“Vidas cheira a velharias” (pg.12)
Ruptura Moderna – democracia igualitária – Biografia
Segundo Daniel Mandelénat existiram 3 tempos:
• Biografia Clássica – da antiguidade ao sec XVIII;
• Biografia Romântica – Fim sec XVIII e o início sec XX (intimidade,
segredos familiares);
• Biografia Moderna – Relativismo , Históricas.
O Caminho do Autor, segundo 3 Modalidades:
• Idade Heróica
• Idade Modal
• Idade Hermenêutica
( podendo combinar-se no mesmo período)
Temos de notar “O carácter híbrido do género biográfico”(pg.13), a sua dificuldade
de classificação e é um subgénero desprezado pela universidade.
O Sucesso Público e a ilusão do acesso directo ao passado.
Biógrafo: “precisar de consagrar a sua vida a esclarecer a vida de um estranho.
Jamais concluirá a sua obra” (pg.14)
05/05/15 Pág. 33/72 É um Hábito distinguir as Biografias pelo seu estilo:
• Anglo Saxónico – mínimos actos;
• Maneira Francesa – mais próxima da ficção.
Para Roger Daoun “O Biógrafo acaba possuído pelo Biografado“ (pg.14)
Segundo Michelet tem uma ambição desmesurada – a ilusão de devolver a vida.
Claude Arnaud e o comportamento antropófago do biógrafo – sustenta-se do sangue,
para se nutrir da força do biografado.
Com a empatia necessária e desejo de fazer justiça e preencher as lacunas, um
esgotamento final.
Em Michel de Certeau o Homenagear de um desaparecido, obter um lugar entre os
mortos.
Dá-se o eclipse da Biografia ao longo do sec XIX e a maior parte do sec. XX, sendo
abandonado aos mercenários da biografia.
Uma mudança nos anos 1980, os Historiadores redescobrem a virtudes da Biografia.
Mudança de rumo – em 1985 com os Livres-Hebdo.
Publicação de 611 biografias 1996 e de 1043 em 1999.
Aproximação da Biografia à História com a criação em 1999 do Observatório da
Biografia Histórica (das Editions Fayard)
Em, 1989 Daniel Mandelénat:
“A Biografia gera uma parte da memoria, liofiliza o passado em módulos prontos
para consumo, irriga docemente o hoje com os encantos do ontem(..) Desempenha
uma função moral: tira as monadas de sua solidão, abre veredas de pesquisa da
identidade, escancara o santuário da personagem, propõe modelos que suscitam a
projecção e a introjecção formativas”(pg.18).
Prólogo
A febre biográfica: um panorama editorial
O Mercado da biografia é bom.
Biografia “Muitas vezes desprezada como simples historieta” (pg.19).
Max Galo, em 1998 com a Biografia de Napoleão edita 800.000 exemplares.
Professor da Universidade de Nice “Escrever com sensibilidade era proibido”
(pg.20).
Em 1968, publica a Biografia de Robespierre, sem menção a fontes. Evita
documentos e desdenha a história oral.
“Disponho ao mesmo tempo de uma objectiva voltada para o exterior e de outra
voltada para o interior” (pg.21).
Leva a empatia ao ponto de identificar biógrafo e biografado – aderindo a essa pele
que não era a minha.
05/05/15 Pág. 34/72 O recurso ao modelo universitário
As duas principais editoras de Biografias Históricas clássicas são a Perrin e a
Tallandier.
Suas Características:
• Novidade e conservadorismo politico;
• Identificação do Público alvo;
• Novo “packaging”;
• Legitimidade académica e trabalho erudito;
• Índice, Bibliografia, Notas de autor..;
• Quadro cronológico, data de nascimento e corte do herói.
Atracção de Universitários e Académicos
A Obra de Jean Moulin – uma Biografia Politica
O Sartre de Bernard-Henry Levy.
Para Anthony Rowley:
• É preciso esculpir o personagem;
• “Género arriscado e por isso deve ficar a cargo da maturidade” (pg.28);
• “Uma biografia sem estilo não tem interesse algum”.
Louis XI de Paul Murray Kendall (Utah) 1974 – com a possibilidade de levar ao
conhecimento do grande publico, um saber erudito.
1985 – Denis Maraval vai para a Fayard, para lançar uma colecção de biografias,
envolvendo Marc Ferro da Escola dos Annales – Petain (1987) e Pierre Goubert da
escola quantitativa demográfica – Mazarino.
Opróbrio que os historiadores dos Annales lançaram sobre este género.
A editora Flammarion também muda, lança a colecção Grandes Biografias, com a
ideia de lançar biografias definitivas, de longa duração.
Um Grande feito biográfico da Flammarion – com a Biografia Política de Hitler por
Ian Kershaw.
A editora Gallimard, também lança as biografias NRF – biografias de carácter mais
literário.
“François Furet estava escrevendo uma biografia de Napoleão quando a morte o
surpreendeu” (pg.38).
Roland Marx - lança a Biografia da Rainha Vitória, pela Fayard – um “esforço de
inserção da personagem em seu tempo” (pg.39).
Para Charles Dupêchez – O editor espera a veracidade factual, ligada a uma redacção
agradável, o ideal é o ensaio biográfico, se “o biógrafo ressuscitasse não se
reconheceria no livro escrito sobre ele” (pg.42)
05/05/15 Pág. 35/72 Inovações à Margem
Nas editoras menos comerciais socorrem-se da Biografia intelectual que é
considerado um meio caminho entre a Filosofia e o género biográfico.
A Biografia de Filósofos exemplo de Annah Arendt por Elisabeth Young-Bruehl.
Evitar o risco do reducionismo: não convém considerar a obra, um mero reflexo de
uma época.
Nicolas Offenstadt – “Prevalecer a pluralidade das facetas das personagens
biografadas..”(pg.46)
Texto crítico de Pierre Bourdieu – Ilusão biográfica
Por vezes, a biografia é utilizada como pretexto, para abordar um tema histórico
(pg.48): “Ficção que o biógrafo elabora sobre um outro e é o auto retrato do próprio
biógrafo, alterado por seu encontro com esse outro “
Para Dominique Viart: não há distinção entre auto biografia e auto biografia
sugerindo uma nova categoria – a altero-biografia.
Segundo Jean Michel Delacomptée – Toda a biografia é uma miragem.
Christian Jouhaud, compara a técnica do biógrafo, a uma receita bem conhecida, a
da bechamel. (pg.53)
Para Alain Boureau – o esforço de isenção deve ser redobrado.
A Biografia Género Impuro
Género híbrido ..sempre em tensão .. entre a vontade de representar um vivido real
passado .. e o pólo imaginativo do biógrafo. Uma dimensão histórica e ficcional.
A biografia é um verdadeiro romance
O recurso à ficção é inevitável – não se consegue reconstituir a vida real.
Procura trazer tudo à luz, é a ambição do biógrafo e uma aporia que o condena ao
fracasso.
Em 1928, para André Maurois:
– Género biográfico está a meio caminho entre a verdade (científica) e a dimensão
estética (valor artístico);
– Primeiro uma rrdem cronológica;
– Segundo nunca descentralizar o herói;
– Os menores detalhes, são frequentemente os mais interessantes.
No ano de 1965, Paul Murray Kendall considera que o Biógrafo está imerso naquilo
que faz, modela o seu material para criar efeitos.
05/05/15 Pág. 36/72 Para Marcel Schwob (1867-1905) – todo o indivíduo só vale por aquilo que o
singulariza.
Michel Schneider – “evoca passo a passo, uma verdade da vida individual, percebida
através do prisma de sua relação com a morte”(pg.58). Defende o conceito de
biografia como um romance.
A Biografia preocupa-se com dizer a verdade, sobre a personagem biografada.
Segundo André Maurois, “preferir os documentos originais, as cartas, os
periódicos”, o biógrafo tem de cruzar as suas fontes de informação, nada se compara
ao método histórico de comparação e confirmação de fontes variadas.“Exigimos dela
os escrúpulos da ciência e os encantos da arte, a verdade sensível do romance e as
mentiras eruditas da história.” (pg.60)
Paul Murray Kendall: “biografia romanceada simula a vida.. biografia recheada de
factos, adora o material mas não simula com ele uma vida. Entre ambas se estende o
artesanato impossível da biografia verdadeira” (pg.60)
Daniel Madelénat, distingue o género híper biográfico ou psicológico, centrado na
personalidade, da biografia histórica, cientifica, artística, literária.. O género
biográfico, é uma mescla de erudição, criatividade literária e intuição psicológica.
No Final sec. XVIII – Boswell: biografia à moda Anglo saxónica – com todos os
mínimos detalhes.
Em meados de séc. XIX – o domínio absoluto da Biografia Vitoriana – confunde
com a Hagiografia, moralizadora, só considera os traços exemplares, não existe
distanciamento crítico.
Para Virgínia Wolf a Biografia é:
– Um “Género transversal, nascido do comércio incestuoso da ciência e da
ficção” (pg.62);
– No Sec. XX – “captar a verdade da personagem rompendo com o silencio
pudico que até então cercava a esfera privada”;
– Chegamos à conclusão que o Biógrafo “é um artesão e não um artista” (pg.63);
– “Tratamento conjunto dos factos e da psicologia interior presumida do
biografado” (pg.64);
– construção pessoal de uma identidade no tempo.
A Biografia pressupõe em geral a empatia (pg.67). E a Convergência de relatos
diversos enredados uns aos outros (pg.67).
Nascimento da Autobiografia escrita pelo biografado surgiu no sec XVIII com as
Confissões de Jean-Jaques Rousseau.
Os trabalhos mais inovadores “autores fornecem hipóteses, comentários
rigorosamente situados, acompanhando o leitor numa mesma senda de investigação,
sem jamais desvendar seu enigma” (pg.69).
05/05/15 Pág. 37/72 A escrita Biográfica leva ao paroxismo os 3 pólos : autor, narrador e a personagem.
Segundo Stefan Zweig – “Gostaríamos de examinar, para nos defender, os homens
que mandam e, assim, o temível segredo do seu poder” (pg.74).
Para Paul Morand deve fazer justiça a certas figuras, que a história oficial esqueceu.
Em 1929, André Malraux entrou para a editora Gallimard.
Alain Gerber:
– 2003 - biografia de Chey Baker – le Jazz est un roman;
– o direito do biógrafo à criação.
François Bon:
– Biografia dos Rolling Stones;
– “Exercício tão selvagem quanto o romance, do qual absorve a técnica e a força
mítica” (pg.80);
– “é o próprio romance do meu tempo que resolvi escrever”
A Vidobra
Vidobra – quando o relato da vida se apresenta como explicação da obra.
Uma critica literária e o estudo das obras por meio de excertos.
Em 1900, Gustave Lanson – responder á pergunta sobre a relação do leitor com a obra
e os motivos do sucesso deste ou daquele romance.
Sainte-Beuve:
– “Posso apreciar uma obra, mas acho difícil julgá-la quando não conheço o
próprio homem” (pg.81);
– “Os homens nascem sinceros e morrem farsantes”
Hippolyte Taine:
– biógrafo observador;
– retratos psicológicos;
– médico a dissecar um cadáver;
– Educação cientifica e histórica modifica o ponto de vista;
– Átomo individual.
O escritor está no centro.
Para Brigitte Diaz: A informação petrifica o autor, “paralisação na imagem” (pg.85)
No Fim do sec. XIX, surge o Evolucionismo “tal árvore, tal fruto” (pg.86).
Início sec XX a Psicologia como um recurso para investigar.
05/05/15 Pág. 38/72 Julian Barnes – põe a ridículo a utilização dos objectos do heróis.
Marcel Proust – Postula e reivindica a autonomia do narrador, barreira entre a
personalidade do escritor e seu universo literário.
Para Barhes – “há algo de essencial que passa da vida do autor para a obra” (pg.92)
As abordagens biográficas contemporâneas, animadas pela busca de detalhes ínfimos,
não estão distantes da junção da vida e da obra.
Stefan Zweig – Balzac – sua vida verdadeira, a autenticidade de sua biografia, está
unicamente na obra.
A implicação dos biógrafos
“O biógrafo expõe as motivações que o levaram a acompanhar a vida do biografado
e traçar-lhe a carreira. Revela os seus objectivos, suas fontes e seu método,
elaborando assim uma espécie de contrato de leitura com o leitor” (pg.95).
Segundo Philippe Lejeune, as contradições na Biografia:
– Ambição de objectividade e a postura real do biógrafo;
– Querer registar a vida de uma pessoa, pressupõe o domínio e a visão totalizante
daquilo que ela foi durante a sua carreira.
Sua finalidade é a semelhança com o verdadeiro.
O Pacto biográfico que envolve o autor com o seu leitor.
Biografias escritas por Políticos
Alain Juppé – Biografia de Montesquieu.
François Bayrou – Biografia de Henry IV, 1994
Identificação do biógrafo com o biografado.
Escrever uma biografia é o mesmo que combater na arena politica.
Jack Lang – Biografia de Francisco I, com uma atitude mais ética, dúvidas, gratidão
dos documentalistas e historiadores.
Biografias Escritas por Historiadores
Exposições de motivos dos biógrafos:
– Relação pessoal entre ambos;
– Separação entre auto biografia e biografia quase desaparece (Goethe).
Historiador-militante:
Pierre Broué (30 anos de vida) - Biografia de León Trotsky.
Pierre Robrieux – Biografia de Maurice Thorez .
05/05/15 Pág. 39/72 Proximidade Pessoal:
Joachim Fest – Biografia de Albert Speer (um homem sem qualidades mas de talentos
múltiplos).
Pierre Sorlin, 1966 – Biografia de Waldeck-Rosseau (postura defensiva).
Jean Marie Mayeur, 1968 – Biografia do Padre Lemire (sentimento de estar fora de
época das biografias).
Regine Pernoud – Biografia de Joana d´Arc (envolvimento passional).
Da desconfiança dos historiadores com respeito à quebra de um tabu
Até meados de 1980, o distanciamento dos historiadores eruditos era explícito.
Alguns historiadores, como Marc Ferro, no fim dos anos 1980 mudaram a sua atitude.
Serge Bernstein – Biografia de Édouard Herriot (mostrava reticencias).
Nos anos 1990, os historiadores, autores de biografias, já não precisavam de se
justificar.
Pierre Chaunu, 2000 – Biografia de Carlos V: “O género biográfico é o mais difícil..o
empreendimento talvez calhe melhor à velhice, pois é necessário ter palmilhado a
senda da vida para ser um bom biografo.” (Pg.105)
Bartolomé Bennassar – Biografia do General Franco (historiador da idade moderna).
Pierre Milza, 1999 – Biografia de Mussolini:
“Não é possível entender o mussolinismo pela mera evocação do substrato que lhe
deu origem” (pg.106).
François Bédarida – Biografia de Churchill (retoma a indagação do lugar autor na
marcha da história).
André Kaspi – Biografia de Franklin Delano Roosevelt (biografia histórica, grandeza
histórica).
Eric Roussel – Biografia de Jean Monnet (grandeza subterrânea do homem da
sombra).
Paul Murray Kendall – Biografia de Louis XI (corrigir uma lenda negra).
Michel Antoine – B. de Luís XV (conta a lenda).
Bernard Quillet – Biografia de Luís XII (carácter não heróico, medíocre).
“Combater as injustiças perpetradas pelo tempo, mas também distanciar-se das lendas
douradas, a fim de impor um ponto de vista mais imparcial - o do historiador, parece
pois, representar bem uma das motivações maiores dos biógrafos.” (pg.112)
05/05/15 Pág. 40/72 Hélène Carrère d´Encausse – Biografia de Nicolau II (fim de um reinado, ultimo dos
Romanov, anti Pedro o Grande e anti Lenine).
Pierre Milza, 1999 – Biografia de Mussolini (Argumento Arquivístico, novas
descobertas).
Biógrafo escreve um vínculo privilegiado com a morte, surge como embalsamador e
coveiro.
Instrumento destinado a retardar, na escrita, o desaparecimento dos traços, da
actividade dos homens (pg.114).
Pierre Chaunu: “Quando temos 70 anos: a maior parte dos biografados já morreu.
Eles podem, de algum modo, nos ensinar a passar desta para melhor.” (pg.114)
Entre Jornalismo e História: o caso Lacouture
Biografia - Ponto de intersecção entre o Jornalista e o historiador
Jean Lacouture:
– Jornalista;
– Biógrafo historiador;
– Riqueza potencial do género biográfico;
– Escreveu 15 biografias;
– arauto da glória alheia;
– densidade temporal;
– novo tipo de biografia;
– livros estruturados
o notas;
o indicação exacta das fontes;
o registo dos arquivos consultados;
– atinge um estatuto de Biógrafo Profissional.
Jaques le Goff, confiou-lhe a elaboração de um texto sobre História Imediata, na
Nouvelle Historie.
Mostra a fecundidade de um procedimento de pesquisas, que recolhe os testemunhos
orais, cruzando-os com as fontes escritas.
Teve posições não conformistas relativamente à Guerra da Argélia.
Escreveu:
Biografias do desejo;
Biografias de encomenda.
Biografia de De Gaulle, 1983 e 86 (não pude ver-lhe o fim sem alguma tristeza);
Biografia de Miterrand, 1998;
O biógrafo passa a ser um biófago.
Prefere o contacto, o dialogo ao gosto do arquivo. O que atrai é a coisa inédita.
05/05/15 Pág. 41/72 O parto pela entrevista, eis o meu método básico.
Descura a:
• Contextualização social dos personagens;
• Evita considerações de ordem psicanalítica.
“Entre história e ficção, jornalismo e história , o facto de captar os mil e um desvios
da existência humana é a seara do Biógrafo, que extrai mel de todos os traços à sua
disposição, a fim de responder ao enigma colocado pelo sentido da vida.”(pg.122)
2 - A Idade Heróica
Desde antiguidade à época moderna Género Biográfico teve a função essencial de
identificar. Discurso das virtudes e modelo moral. Sendo o futuro a reprodução dos
modelos existentes
A História Magistra
Retraçar a vida e a maneira de viver, com a finalidade transmitir valores edificantes
(Grécia).
No Sec V a.C. aparece a biografia com o género histórico, mas na época clássica não
era história. Foi na época Helenística que a Biografia se estabilizou em torno do bios.
Desenham o retrato de personagens representativas dos valores.
O interesse pela biografia vem do Oriente da Ásia Menor (Pérsia).
O Contexto da cidade grega não era favorável – importava a identidade colectiva.
Atores de um processo histórico que os ultrapassa.
No Sec. IV a.C. surge um surto de informações biográficas nos epigramas funerários.
Isócrates e Xenofonte foram pioneiros, relatavam a vida política de personagens,
deixando de fora a sua vida privada
Xenofonte, 360 a.C. :
– Vida de Agesilau (ordem cronológica e depois as suas virtudes);
– Ciropedia (romance pedagógico);
– Género das Memoráveis.
Para Tucídides existia a liberdade criativa, toda inteira.
A Biografia é nessa época um género mais popular que o histórico.
Para Políbio – na Biografia de Filopêmen (quem foi, quem foram os pais, e qual a
educação que recebeu na juventude).
05/05/15 Pág. 42/72 Mundo Romano:
Surge Plutarco, em 45 d.C. com a obra Vidas Paralelas (género que se afirmou na sua
especificidade).
O Herói uma personalidade forte, animada por um ideal, a que se dedica por inteiro.
“O Relato da vida não passa de matéria prima que convida a filosofar” (pg.129).
A obra Vidas Paralelas influencia os séculos XVI, XVII e XVIII.
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Bom conhecedor da Grécia Plutarco concebeu biografias sob a forma de
comparação dupla - herói grego e romano;
Defende o direito de estilizar a realidade da experiencia vivida;
Utiliza a metáfora - fidelidade ao modelo e criatividade do autor;
Tensão entre virtude e o trágico da história;
Jogo: A escolha que o herói faz e o que é fruto do destino;
Atenção ao gesto individual;
Descrição da intriga no desenvolvimento dramático;
Atribui importância secundária à cronologia;
A maneira como as virtudes são postas à prova;
Grandes princípios a defesa da cidade;
Senso do Complexo;
Descrição dos detalhes.
Tácito, em 97 a.C. com a Biografia de Júlio Agrícola, seu sogro, dedicada à sua
glória, segundo um modelo de virtudes e o desejo de imortalizar.
Com Suetónio, no sec I d.C. as Vidas dos doze Césares:
• Nenhuma fidelidade ao contexto;
• Querer informação autêntica de todas as fontes;
• Acesso aos arquivos imperiais;
• Descrição atemporal segundo características psicológicas;
• Género mais reflexivo, realista e impessoal;
• Perfilha os princípios do Império Romano;
• Adriano foi o ideal personificado;
• Utiliza uma escala de valores morais;
• Utiliza os grandes valores celebrados em Roma: Moderatio, civilitas e
clementia.
A Hagiografia
Na Idade Média a hagiografia está florescente - a escrita da vida de santos, tornandoos exemplos para a humanidade.
05/05/15 Pág. 43/72 Procuram mais a concepção do mundo do Hagiógrafo, do que reproduzir a vida do
santo biografado.
Dedica-se ao que é exemplar, postula que tudo está dado na origem.
Uma Epifania progressiva do estado inicial de vocação do santo, sendo um discurso
das virtudes, em versão maravilhosa e miraculosa. Pressupõe uma comunidade de
crentes a quem o autor se dirige e uma relação hierárquica forte.
Surgiram para comemorar os primeiros mártires, desde sec II d.C. No sec. VIII
constitui-se um martirológio histórico.
No Sec XIII, Tiago de Voragine – publica a Lenda áurea, onde resume 1000 anos de
tradição cristã:
– Santos originais;
– Santos antigos;
– Santos históricos;
– Ignora todo o conteúdo espiritual;
– Um exemplo;
– Tipos:
o Testemunhas;
o Defensores;
o Pregadores.
A partir do sec. XII e XIII- com as vidas de santos, que só se revelam tardiamente.
Com a Reforma Gregoriana surge uma mudança radical, uma nova hagiografia em
que os santos descem de novo à terra.
Surto de género biográfico com atenção especial á singularidade e com a apresentação
de certos santos como figuras mais familiares.
Utilizado com uma verdadeira arma de combate aos hereges.
No Sec XVII dá-se uma grande alteração na publicação das hagiografias, em 1643, os
Jesuítas Bolland e Henskens lançam os Acta Sanctorum – com uma leitura critica.
No fim da Idade Média dá-se uma individualização acelerada:
4 Biografias de Bernard Guénée – sec XIII a XV, Prelados vivem em tempos difíceis
e incertos
A fábrica de heróis
Valorização do Herói, cada época cria os seus heróis.
Uma simbolização colectiva.
A “Existência do herói é atestada pelo modo de enfrentar e vencer a adversidade ao
preço de um sofrimento” (pg.152)
05/05/15 Pág. 44/72 No sec. XV temos o aparecimento da Biografia cavaleiresca, que celebra os heróis os cavaleiros. Desafiam o primado dos clérigos.
São em geral obras de encomenda de carreiras singulares e exemplares.
Vínculo com a verdade ambivalente.
A Biografia Cavaleiresca está ligada ao género épico e inspira-se na literatura das
canções de gesta e a tradição oral.
O que guia a acção permanece na ordem do divino, por meio de sonhos.
Para o Biógrafo o cavaleiro é um eleito de Deus.
Modelos de Biografias Cavaleirescas:
– Hiperbiográfico – focado no herói;
– Histórico – herói no tempo e espaço.
Informa melhor do biógrafo que do biografado com uma implantação progressiva de
um individualismo.
Com o Sec XVI – existe um florescimento de Biografias de contemporâneos, segundo
o modelo da Antiguidade (Plutarco). Cumulam os heróis de elogios e criticas.
Biografia Colectiva
Afasta-se das biografias cavaleirescas e das hagiografias, para as biografias antigas
(Cícero)
Na Renascença – 1ª Obra – no sec XIV, De viris Illustribus de Petraca:
• Relato da vida pública;
• Recurso à anedota;
• Vida domestica;
• Fortuna, Virtude e Fama.
No sec XVI – O principal valor é a Honra. Defesa da Nação um princípio dominante.
Maquiavel – Biografia da Vida de Castruccio Castracani (incriminando a Fortuna ao
evocar os aspectos negativos da carreira do biografado):
• Promove a desconstrução extrínseca do biografado;
• Desfaz a exemplaridade.
Para Patrícia Eichel-Lojkine – A escrita biográfica não tem outra escolha, a não ser
enfatizar o indivíduo, segundo o esquema da monografia e auto biografia.
Com o sec. XVII – uma concentração de poderes na Realeza – centrada no Rei.
05/05/15 Pág. 45/72 A narrativa biográfica apresenta-se como veículo de uma farsa, de um simulacro da
realidade – cumpre louvar o Rei em toda a parte. Tudo deve ocorrer como se o poder
absoluto contasse a sua própria história.
Segundo Loius Martin - “Contar é pintar, narrar é mostra à imaginação do
espectador”
A primeira tentativa de escrever a biografia de Luís XIV com François Charpentier,
fracassou.
Para Dupleix e Pellisson o Biógrafo deve revelar os factos e permitir que a opinião
pública, o leitor os julgue.
Claude Binet, 1586 com a Vida de Ronsard, erige a estátua de um poeta nacional.
No Sec XVII das Luzes o herói passa a ser simples personagem de uma narrativa, de
Herói passa à noção de Grande Homem.
Na Revolução Francesa – Toqueville – exalta o heroísmo revolucionário.
Após 1789 – alimenta o culto do Herói com uma roupagem nova.
Caso de Marat – seu martírio foi imediatamente exagerado.
Robespierre – o mártir vivo da Republica.
Segundo Sieyés – a cronologia começa connosco.
O Herói dos Heróis – Napoleão.
Constrói a sua imagem heróica.
Sábia elaboração estratégica.
O sec XIX muda de registo – o homem é produto de sua época:
– Thomas Carlyle (1795-1881) – o Grande Homem;
– Figura individual do Herói;
– A Historia do Mundo nada mais é do que a História dos Grandes Homens;
– Romantismo da época;
– É o herói contra o indivíduo.
Carlyle - tipo de heróis:
– O Herói – Poeta (Dante e Shakespeare);
– Herói sacerdote – Vida de Lutero;
– Heróis homens de Letras – Biografia de Rosseau, Johnson e Burns;
– Herói – Rei – Biografia de Cromwell, Napoleão e de Frederico II.
Os Grandes homens
Figura do herói passa por uma crise, carácter divino contestado em nome da razão,
pela filosofia das Luzes.
05/05/15 Pág. 46/72 Os valores guerreiros são substituídos pelo os da Paz.
Com Voltaire, em 1735 – os grandes homens vêm em primeiro lugar, os heróis em
último. Àqueles que se superaram no útil e no agradável.
O elogio dos Grandes Homens passa a ser género literário.
Um processo de Laicização da memória.
Os êxitos militares são um legado efémero, em comparação com a solidez das obras e
descobertas dos grandes homens.
Montesquieu – Espírito das Leis – “grandes homens moderados” (pg.167)
Exemplo: Carlos Magno.
No Sec XIX o progresso dos valores liberais e democráticos, agravou a crise do herói.
Fortalecimento das personagens secundárias e a atenção há psicologia das massas.
A Literatura Romântica com a cumplicidade entre o leitor e o narrador, nas costas do
personagem, efeito burlesco.
Existiram alguns lampejos nacionalistas.
O nome de Panteão Nacional foi adoptado em 1791 – destinado aos grandes homens e
à Pátria reconhecida.
“Grande Homem é aquele que consegue fazer coincidir a sua determinação pessoal
com a vontade colectiva de uma época” (pg.169).
No sec XIX, após a ruptura da Revolução Francesa, a elaboração de relatos
biográficos que articulam a individualidade e a exemplaridade.
Para Charles Nodier:
– Penetrar profundamente na sua personagem;
– Descer ás particularidades individuais;
– Uma subdisciplina da história.
Disseminação dos sujeitos biografados – sociedade que se democratiza – a igualdade.
No Sec XIX:
– a Biografia é um subgénero, jornalistas, a notícia biográfica precede a critica
literária;
– A idade de Ouro da Biografia;
– O século da História.
Para François Guizot:
– A história tem 2 partes – uma parte morta que trata da vida privada e uma parte
viva, que relata as ideias dominantes numa época;
05/05/15 Pág. 47/72 –
–
–
“Em cada século e em cada etapa da história vemos surgir quase sempre alguns
indivíduos que parecem representar o tipo de espírito geral e as disposições
dominantes de seu tempo” (pg.172);
celebra os grandes homens, que se distinguem pela capacidade de colocar o
interesse público, antes das suas ambições pessoais;
Duas épocas na carreira de Um Grande Homem:
o Compreende as necessidades de seu tempo, reais e actuais;
o Cultiva visões muito próprias, aqui começa o egoísmo e o sonho.
Os historiadores no sec XIX não cultivaram muito o género biográfico.
É a partir do colectivo actuante da História, que se interrogam os acontecimentos do
passado.
Segundo Victor Cousin:
– Influencia da filosofia hegeliana;
– Nova geração de historiadores românticos;
– Excesso e carência de individualidade matam o grande homem;
– Dialéctica da individualidade e da generalidade cria o grande homem;
– Um grande homem surge para dar vida a uma ideia;
– No grande homem há uma parte excepcional e uma parte comum;
– Apenas os factos atestados, os comportamentos públicos são dignos de atenção;
– Valoriza 2 géneros: A Guerra e a Filosofia.
Quinet, Guizot, Thierry, Taine e Michelet – História Ciência
– Estabelecimento da consciência nacional;
– Desloca o olhar do historiador para as massas, o povo, o terceiro estado;
– Resulta uma história de baixo para cima;
– Grande Homem é a encarnação da alma nacional;
– Raros os historiadores que realizaram biografias;
– Michelet – História da França (França toma o lugar de Deus).
Disciplina da História profissionaliza-se com o impacto do desastre de Sedan, 1870.
Cabe aos historiadores apresentar algumas figuras exemplares.
Martírio pela causa da Pátria.
Ernest Lavisse, 1892-1911 – História da França:
• Como um Mito Nacional;
• Herói colectivo – França.
Ao longo do sec XIX, um regime de 2 velocidades do género biográfico:
– Discurso escolar;
– Publicações populares;
– Género abandonado pelos académicos e historiadores.
A Biografia sofre um eclipse, com as ciências sociais e a escola dos Annales, em
proveito da lógica de massificação e da análise quantitativa.
05/05/15 Pág. 48/72 No final dos anos 1980, ressurge a Biografia com o bicentenário da Revolução
Francesa.
Panteonização, a partir de 1980 – com a investidura de François Mitterrand:
– René Cassim;
– Jean Monnet 1988;
– Condorcet 1989;
– Pierre e Madame Curie 1995;
– André Malraux 1996;
– Alexander Dumas 2002.
Algumas figuras de cristalização, para uma nova identidade cultural da Europa:
– Leonardo da Vinci;
– Cristóvão Colombo;
– Lutero;
– Churchill;
– Marie Curie;
– Charles De Gaulle.
A grandeza artística
A relação especial com o belo e o deslocamento da biografia para o mundo dos
artistas.
No Sec XVI – Giorgio Vasari – conceito de progresso:
– História da arte fundida na narrativa biográfica;
– Sociologia incipiente da arte, situando as obras a partir dos Mecenas.
Erwin Panofsky – Biografia do abade Suger de Saint Denis
• Arquitectura gótica;
• Imposição de uma arte sumptuosa.
Sobre Van Gogh – 671 artigos e obras publicadas, desde antes de 1939.
Karl Jasper – realça a Esquizofrenia na obra de Van Gogh.
A Arte Musical:
• Romain Roland, 1903 – Biografia de Beethoven;
• Separam a Vida e a Obra.
Thomas Mann – Doutor Fausto :
– tensão entre música e literatura 1943-1947;
– Biografia imaginária;
– Biografia de Leverkuhn
Norbert Elias – Biografia de Mozart
– Tradição sociológica;
– Métodos explicativos;
– Busca de afecto;
05/05/15 Pág. 49/72 –
Difícil passagem para a criação artística autónoma.
3. Biografia Modal
“O indivíduo então só tem valor na medida em que ilustra o colectivo”
O eclipse da Biografia
O Sec XIX, o século de História não promoveu as Biografias eruditas. No início de
sec XX a situação mantém-se.
O assalto dos sociólogos à fortaleza histórica terá por efeito afastar a Biografia.
François Simiand, sociólogo, 1903 – pretende quebrar os 3 ídolos:
– Cronologia;
– Politica;
– Biografia.
Programa de Simiand torna-se o paradigma dos Annales em 1929
A Ruptura foi operada por Marc Bloch e Lucien Febvre.
O ser humano é considerado “uma coisa da qual a sociedade dispõe” (pg.197)
“A partir destes princípios a variedade humana individual deixa de ter pertinência
torna-se mesmo aquilo de que as ciências sociais devem se precaver” (pg.198)
Marc Bloch, 1940 – L´etrange defaite (auto critica, foi uma má interpretação da
historia).
O Marxismo também não reserva às lógicas individuais um lugar significativo.
Claude Levi Strauss, 1949 – “O historiador estuda sempre os indivíduos quer sejam
pessoas, acontecimentos ou conjuntos de fenómenos individualizados por sua posição
no espaço e no tempo”
Barthes – Biografia de Racine.
Raymond Paicard, 1965 replica a de Barhes.
Barhes, 1968-69 – “O nascimento do leitor é compensado com a morte do autor“
(pg.204)
Em 1971, os Annales defendem o Estruturalismo para os escritores. Os historiadores
mergulham na história fria a das permanências.
A 3ª geração dos Annales, alcança o triunfo, com a história das mentalidades na
década de 1970. A Historia das mentalidades privilegiou exclusivamente o carácter
impessoal. Perpetuaram generalizações abusivas ao minimizar as variantes
individuais.
05/05/15 Pág. 50/72 Ilusão Biográfica?
Para o historiador a ilusão biográfica presta-se a toda a sorte de desvios. Necessário
manter uma certa distancia do sujeito e desconfiar da ilusão biográfica.
Pierre Bourdieu, 1986:
– Visão estruturalista – metáfora do metro;
– A Biografia não apresenta pertinência alguma;
– Escreveu sobre si para desencorajar biógrafos.
Jean-Claude Passeron:
– Acha a utopia biográfica um sonho;
– Critica o ponto de vista oposto estrutural;
– Metáfora do autocarro – sequencia de acontecimentos;
– Distingue o modelo - Genético – desenrolar da vida humana;
– Acção social dos indivíduos e o do determinismo social das estruturas.
Olivier Schwartz distingue 2 planos:
– Registo Biográfico;
– Efeitos biográficos;
– O narrador, é aqui uma personagem às voltas com uma história, que não
consegue tornar sua.
Howard S. Becker procurou o lugar do método biográfico na sociologia:“Discurso
dos actores, podendo o método biográfico ser concebido como uma peça a
acrescentar à montagem de um mosaico” (pg.211).
Bernard Lahire – mostra como o mesmo indivíduo pode ter gostos refinados e sentir
enorme prazer em actividades vulgares.
O sentido da vida dos sujeitos é sempre irredutível e incerto (pg.213).
A biografia social
Giovanni Levi – biografias modais (um contexto, um momento, uma categoria
social).
Lucien Febvre:
– escreve sobre Rabelais, não é a singularidade, mas o aparelho mental da época;
– O individuo é aquilo, que lhe permitem ser, sua época e seu meio social;
– O contexto prevalece e dele o individuo é mero reflexo.
Jean-louis Bougeon – propõe o ensaio biográfico social valendo-se de Colbert.
Serge Berstein, 1985 – ambição generalizadora a partir de um caso biográfico – de
Édouard Herriot.
05/05/15 Pág. 51/72 Jean-Christian Petifilis:
– B. de Luís XIV – perspectiva modal;
– Certo modo de exercício de poder.
Retorno do prestígio da Biografia:
– George Duby, 1984 – B. de Guilherme o Marechal;
– perspectiva modal.
George Duby, 1995 – o olhar do sec. XII sobre a mulher:
– Leonor de Aquitânia;
– Heloísa.
Giovanni Levy - Essas biografias ilustrativas, os destinos individuais inserem-se num
contexto, sem duvida, mas não actuam sobre ele nem o modificam (pg.222).
A Prosopografia – género antigo
Com o objecto de reposicionar as características de um grupo, esmiuçando as
informações sobre todos os seus membros, aproximando-se da Biografia.
Muito praticada no sec XVIII, pela aristocracia Inglesa. Pelo seu carácter serial, um
modo útil para a historia politica e social.
Defendido por Claude Nicolet que vê em Émile Belot (1829-1886) o seu precursor.
A prosopografia ultrapassa a biografia e a genealogia, praticando de maneira
sistemática a serialização, aceita empregar os métodos da história social.
Tem um horizonte Modal. É um método com 3 dimensões:
– Tempo;
– Espaço;
– Papel.
Só as informações puramente factuais são lícitas, puro trabalho de erudição. As
análises e os comentários são proscritos.
Jean Maurin – definição: “A prosopografia é a pesquisa dos elementos comuns e dos
desvios diferenciais apresentados pelas biografias particulares” (pg.225).
Maurizio Gribaudi, estudo de grupos sociais – O operário de Turim no inicio do
século XX.
Marc Perrichet, 1979 - defende a prosopografia como método científico opondo-a à
biografia clássica.
Christophe Charle – História do ensino superior desde meados do sec XIX –
identificar “dados sociais e culturais, que permitem ou não, às estruturas evoluírem”
(pg.227).
Incontáveis dicionários biográficos – dar visibilidade há multidão de anónimos.
4. A Idade Hermenêutica (I) A Unidade dominada pelo Singular
“Os tempos actuais são mais sensíveis às manifestações da singularidade” (pg.229).
05/05/15 Pág. 52/72 A era da hermenêutica e da reflexividade.
A biografia existencialista: Sartre
Contribuição de Sartre para a biografia:
– Biografia de Flaubert, trilogia inacabada;
– Alain Buisine – vêem nascer o biografo durante a 2ª GM;
– A biografia já não é retrospectiva, mas prospectiva prenunciadora do futuro;
– Abre uma via para articular elementos singulares com a unidade de uma pessoa;
– Filosofia de Liberdade;
– 1947, Biografia de Baudelaire;
– 1952, Biografia de Genet.
Segundo, Olivier Wickers - dos oito aos 68 anos, Sartre escreveu todos os dias.
Biografia inacabada, revela projecto de abordagem fenomenológica e existencialista
usando a psicanálise, história e a sociologia com um percurso biográfico reflexivo.
Constituiu uma bela sugestão de biografia total, unitária.
Os relatos de vida
A Sociologia contribuiu para o regresso da biografia, com o sucesso nos anos 1970,
com os relatos de vida anónimos.
Género conexo mas distinto, género híbrido entre a auto biografia e a Biografia.
Retracção do Estruturalismo, em 1968.
A partir de 1970 – um espaço à publicação de memórias (olhar nostálgico do mundo
perdido).
Óscar Lewis, Antropólogo, história oral de uma família de subproletários do México.
Reflexão sobre as relações entre ficção e história, que leva a procurar o que vem a ser
a construção de um relato.
Michel de Certeau – Biografia torna-se ficção científica.
Estes relatos pressupõem o envolvimento do pesquisador.
Estes relatos de vida, navegam até aos confins da Biografia e da Auto biografia.
A revalorização da Fonte Oral.
Philippe Lejeune – O relato de vida é um género totalmente à parte.
Escola de Chicago:
• Utilizam as fontes orais;
• Estudo do campónio polonês;
05/05/15 Pág. 53/72 •
•
Modalidades de mudança social e os problemas que gera;
Projectos de Ecologia Urbana – cidade como laboratório.
1948, Universidade de Colúmbia – Centro de História Oral – Allan Nevins
American Oral Association, 1973 – Oral History review.
Daniel Bertaux – “Justamente por serem relatos de experiencia é que os relatos de
vida conseguem interessar as mesmo tempo pesquisadores e leitores.” (pg.247)
Ferrarotti, Itália, 1950 – utilizar material biográfico, como ilustração de um fenómeno
global de transição numa sociedade, ler a sociedade através de uma Biografia.
Matthias Finger distingue 4 correntes biográficas:
– Antropologia Cultural, Abordagem hermenêutica – relação acontecimento e o
sujeito;
– Escola de Chicago – a sociedade;
– Daniel Bertaux;
– Franco Ferraroti.
Selim Abou, três maneiras de ler a biografia:
– Leitura diacrónica – factos;
– Leitura sincrónica – tema;
– Dimensão simbólica – interpretação do analista, descentralizada.
Jean-Pierre Rioux, 1983 - Necessidade de cruzar fontes orais e documentos escritos.
Geneviéve Bollème – metodologia de renuncia cuja primeira qualidade é saber
escutar,
Com a profusão de relatos de vida, coloca-se a questão da autenticidade.
Nos anos 1980, Annette Wieviorka chama - a era da testemunha (Testemunhos do
horror)
A excepção normal
Atracção das teses de micro história.
Mais atenção às estratégias individuais.
Carlo Ginzburg – moleiro friulano Menocchio:
• Os estudo do individuo serve uma introdução a uma história social renovada;
• A micro história restitui o direito de cidade à singularidade após uma longa
fase de eclipse.
Sabina Loriga – O enxerto biográfico devolve á história .. um tempo complexo, de
forma alguma linear. (pg.258)
Arsénio Frugoni (1914-1970) – inovador e precursor da micro história (jogo dos
relatos contraditórios). Privilegia as descontinuidades é o retorno às fontes.
05/05/15 Pág. 54/72 Michel de Certeau – precursor da biografia como excepção comum.
Biografia do Jesuíta místico do sec. XVII - Jean-Joseph Surin.
Michel Foucault, 1973 – Biografia de Pierre Riviére – parricida:
• Escrever a vida dos homens infames;
• Dos excluídos.
1978, Foucault lança a colecção Vidas Paralelas – as despedaçadas, esquecidas e
desprovidas de glória.
Para Joel Cornette – que podemos saber a respeito de uma pessoa? Como escrever
história de uma vida ? Perguntas simples, respostas complicadas.
A biografia posta à prova do imaginário
Biografias de pretensão totalizante.
Jacques Le Goff – Biografia de Saint Louis – desconstruir o mito. A Biografia só me
atrai quando posso reunir em volta da personagem, documentos capazes de esclarecer
uma sociedade, uma civilização, uma época.
Implica que nos julguemos capazes de chegar até à individualidade, até à
personalidade da personagem que constitui o estudo da biografia (pg.277). A
Biografia histórica é uma das maneiras mais difíceis de fazer história.
O empreendimento biográfico, ensinou-me a contemplar um tipo de tempo com o
qual não estava habituado: o tempo de uma vida (pg.278)
Dos riscos maiores na Biografia histórica é a relação entre historiador e a sua
personagem. O necessário distanciamento e objectividade.
Peter Brown – “os elementos de ego-história do biografo são pois muito importantes
para esclarecer a visão que resultará do sujeito biografado” (pg.285).
Como traduzir categorias mentais, ideias e visão do mundo, que não são mais as
nossas. Utilização de analogias os Equivalentes químicos.
Denis Crouzet, historiador moderno, define as suas biografias como abiográficas
• Reconstituir o imaginário, relação com o mundo, pesquisa introspectiva;
• Parte da dificuldade em evitar imagens míticas;
• Biógrafo permanece preso no interior das construções que o precederam;
• Valoriza as fontes textuais;
• Prática do isolamento;
• Aconselha o historiador a ser modesto;
• Qualquer história biográfica é apenas uma hipótese confrontada com o acervo
documental.
A biografia sob a factualidade atestada, do percurso do nascimento à morte, uma outra
história pode ser exumada, a história dos sonhos e dos desejos, da verdadeira relação
com o mundo.
05/05/15 Pág. 55/72 A Idade hermenêutica (II): A Pluralidade das Identidades
Figuras Plurais, o Homem plural modifica a abordagem do género biográfico.
O homem comum
Escola dos Annales reavalia os mudos da história
Alain Corbin – Pinagot:
– B. de um desconhecido;
– Homem do povo;
– Reconstruir o universo social e mental do seu tamanqueiro;
– Redesenhar uma vida;
– Imaginar as relações afectivas;
– Formas de sociabilidade.
Jean Maitron, 1955
• Le Maitron - Ideia de dicionário do movimento operário em vários volumes
(1964-1993);
• Publicação colectiva;
• Claude Pennetier seu sucessor;
• 300 autores;
• 100.000 resumos;
• tornou-se um monumento nacional.
Claude Pennetier – sugere que o conjunto dessas abordagens (a prosopogrfia) cuja
finalidade é encontrar lógicas e modelos, poderia entrar para o quadro daquilo que me
proponho chamar de método sociobiográfico.
Os biografemas
O retorno do sujeito durante os anos 1970 permitiu a Roland Barhes, optando pelo
escritor (versus a ciência):
–
–
–
–
–
–
Gostaria que a minha vida se reduzisse a alguns detalhes, a alguns gostos, a
algumas inflexões ou seja a biografemas;
Surge com o desaparecimento com a morte;
A uma evocação possível do outro;
Evocação superficial;
Remetem à singularidade dos gostos e dos corpos dos indivíduos;
A biografia é uma romance que não ousa dizer o seu nome.
Alain Buisine – adoptou a via biográfica plural, pelos biografemas:
• Não existe método único para escrever uma biografia;
• Um discurso geral e global sobre a biografia não tem qualquer sentido;
• Muda de enfoque consoante o biografado;
• O biograma;
• Retrato do poeta e do seu corpo.
05/05/15 Pág. 56/72 A construção de identidades politicas
A pluralização de identidades provocou uma renovação positiva das biografias de
líderes políticos.
Annie Collovald – Biografia de Jacques Chirac:
• Nada o predestinava;
• Observar de perto a competição politica;
• Como o homem politico insiste em fabricar uma imagem pública;
• O biógrafo clássico tende a privilegiar o modelo da vocação.
Os politólogos começam atrasados a apossar-se do estudo biográfico.
Jean Patrice Lacam – modelo economicista, gere a carreira como o empresário que
calcula o valor dos seus investimentos.
Frédéric Sawicki – Biografia de Laurent Fabius – Que é Laurent Fabius?
Define uma linha de conduta do homem politico.
Bernard Podal – Militantes do Partido Comunista, usa fontes autobiográficas,
acompanha a trajectória de 4 activistas. Procura resgatar o campo de visão no qual
actuaram.
Stépahane Sirot - Desconstrução/construção da personagem.
Enfoque de vidas que continuam para alem da morte das personagens biografadas,
cristalização em torno de heróis – Garibaldi, Bismark.
Pierre Brocheux: “Num certo sentido o homem politico é um autor em busca de uma
personagem. Ele se serve de tipificações, como as do militantes, do parlamentar ou
do estadista, que tornam lógica e cronologicamente coerentes seus actos, aos olhos
dele mesmo e dos outros.”
Psico-história e biografias psicanalíticas
A psicanálise freudiana não escapou ao género biográfico. Freud e seus colegas
pensaram no estudo biográfico de grandes homens quase sempre escritores célebres.
O relato do passado cria uma forte analogia entre o género biográfico e a cura
analítica.
Freud – Moisés e o Monoteísmo – espaço equívoco entre ficção e história.
–
–
–
Problemas dos vínculos entre a escrita e o lugar. Nação é um engodo.
Concepção de um tempo que não se desgasta.
Parte em busca das chaves na infância e na adolescência.
05/05/15 Pág. 57/72 –
O indivíduo, o herói, desempenha uma papel capital na historia da humanidade.
Para Sarah Kofman, a perspectiva freudiana de destruição dos ídolos é uma maneira
de denunciar a ilusão biográfica (pg.324).
As Biografias nunca dizem nada sobre os seus heróis, apenas revelam no biógrafo, a
mesma atitude infantil do leitor: admiração e identificação narcisista.
Para Freud - O olhar religioso sobre o mundo precisa de ceder espaço ao método
científico :
– Sempre desconfiou de seus eventuais candidatos a biógrafos, a ponto de em 1925
escrever uma auto apresentação;
– Ensina ao biógrafo uma sintomatologia, em que os factos não falam por si
mesmos, mas são tomados numa sequencia significativa de sorte que o quotidiano
diz mais que as fases da crise.
Rudolph Binion – corrente da psico-história:
• Psico-historiador;
• Tentativa de compreensão absoluta do sujeito;
• Atentara mais ao fenómenos patológicos;
• Sobredeterminação;
• O trauma irá sobredeterminar os comportamentos ulteriores.
Binion – Hitler 1907
Sua politica anti-semita originada por patologia ligada à sua relação com a Mãe e que
durante a sua agonia tinha um medico judeu, que dando doses letais de iodofórmio
precipitou a sua morte. Podemos desconfiar desta tese mono causal, que nega
fenómenos colectivos para a explicação histórica.
Friedlander - concebe o comportamento individual pela integração constante deste ao
contexto social. O anti-semitismo de Hitler – o judeu se identifica com o Pai
detestado.
Jean Starobinski: A obra está ao mesmo tempo sob a dependência de um destino
vivido e de um futuro imaginado (pg.333).
Dominique Fernandez, a relação entre criação e psicanálise, em torno de uma psicobiografia:
– O elemento pelo qual o analista deve captar o homem é pela sua obra;
– Estudar a génese da personalidade e explorar o mundo de sua infância;
– Contra qualquer determinismo causal.
Quando a psicanalise se põe ao serviço da Biografia pode trazer conhecimentos aos
quais não se chegaria por outros meios..
Metamorfoses da identidade narrativa
Wilhelm Dilthey - Pertinência da entrada no mundo histórico pela biografia
– Combina o singular e o geral;
– A Biografia é o caminho mais fácil do singular para o ideal tipo;
05/05/15 Pág. 58/72 –
–
Considera a biografia o género histórico por excelência;
A pessoa é o valor imediato e supremo.
Matthias Finger – ambição de construir uma hermenêutica da biografia. Não tem por
objecto os factos, mas sim o sentido atribuído a eles.
A biografia oferece acesso para nos aproximarmos da interioridade/exterioridade, do
singular/geral, sendo portanto o mais próximo do ideal de globalidade.
Uma não linearidade do tempo.
Christian Meier – “Cronologicamente a experiencia é comparável à janela de uma
maquina de lavar, por detrás da qual aparece de vez em quando uma peça da roupa
que está lá dentro” (pg.346).
Não mais se contenta em reconstituir a personagem em sua verdade factual.
Vidas póstumas de indivíduos sujeitos a metamorfoses de sentido – heróis nacionais.
Pluralidade de figurações como em Joana d´arc, na multiplicidade de seus usos e em
Napoleão depois da morte e o culto napoleónico.
Biografias cujo tema central era o seu destino ao longo do tempo.
O tratamento biográfico e o exame da dimensão imaginária na sociedade são outras
tantas renovações da abordagem histórica.
Conversão do especialista inglês em Nazismo, Ian Kershaw, há escrita biográfica –
Biografia de Hitler.
Saiu das mãos de um defensor da abordagem dita funcionalista, que ignora os actores
para enfatizar as lógicas próprias das instituições.
1980 - Campo da controvérsia:
Teses intencionalistas – nazismo como hitlerismo:
Joachim Fest
Os contemporâneos de Hitler cometeram o erro fatal de não levá-lo a sério. Peso
decisivo das pessoas e suas resoluções.
Teses funcionalistas – subproduto de um caos institucional
Franz Neumman já emitia esta hipótese em 1942. Regime disputado por grupos
sociais com objectivos divergentes. Hitler criou, de facto, múltiplas autoridades que
se sobrepunham e só a ele se reportavam.
Hitler é um dos raros indivíduos, dos quais poderemos dizer com absoluta certeza:
sem ele o curso da história teria sido diferente.
A Biografia de Hitler volta-se para a historia do seu poder, a maneira pela qual
chegou a ele, o modo como o exerceu. O Biógrafo concilia as abordagens
intencionalista e funcionalista. Retrato contundente de Hitler, deve-se ao domínio das
fontes e a um bom conhecimento do contexto.
05/05/15 Pág. 59/72 O quadro monista Unitário da Biografia foi desfeito..
6 – A Biografia Intelectual
Espectro biográfico abarca cada vez mais os escritores, filósofos e homens de letras.
O que pode captar um biógrafo de um intelectual que já não esteja reflectido nas suas
obras? Por definição o intelectual se deixa ler pelas suas obras e não pelo seu
quotidiano.
A vida do pensamento. O pensamento da vida
Qualquer fragmento biográfico, faz sentido na apreciação de uma vida filosófica:
• Séneca era um homem rico;
• Marx um pobre;
• Pascal vegetariano como Pitágoras;
• Roupão de Spinoza;
• Casacão de Sartre;
• Colarinho engomado de Foucault.
Heidegger “jamais uma biografia nos permitirá conhecer a que realmente
caracteriza uma existência filosófica” (pg.363)
Sociedade Francesa de Filosofia, organizou um debate, em 2000 – a Biografia dos
Filósofos. O desdém dos filósofos pelo género biográfico.
Jean-Marie Beyssade, aponta 3 motivos diferentes para a redacção de Biografias de
filósofos:
-­‐ Conhecer melhor o pensador observando o percurso da sua vida;
-­‐ Julgar melhor a sua obra graças a uma leitura prudente;
-­‐ Dispensar a leitura.
Filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein:
-­‐ Segue os curso de Bertrand Russel em Cambridge 1911;
-­‐ Publica Tractatus Lógico-Philosophicus;
-­‐ Cidadão britânico em 1939;
-­‐ Pesquisas Filosóficas;
-­‐ Atribui à Filosofia uma função de esclarecimento da razão práctica.
A carreira interrompida de Annah Arendt, judia, expulsa, mulher, exílio..
Elisabeth Young-Bruehl, 1999 – Biografia de Annah Arendt
-­‐ Teoria da politica e do totalitarismo;
-­‐ Temperamento apaixonado;
-­‐ União da justiça e do amor;
-­‐ Liberdade com que sempre exprimiu as suas convicções;
-­‐ Passageira do navio do sec. XX.
05/05/15 Pág. 60/72 Essa jovem que vem do estrangeiro, dá uma lição, não de optimismo beato, mas de
lucidez.
Annah Arendt:
• Pensar a condição do homem moderno;
• A Relação com Heidegger;
• A Condição Humana, 1960;
Contribui para uma critica radical das posições de Heidegger.
Também para Marc Bloch, como para Arendt ou Benjamin, tudo parte do presente e
volta ao presente, em suas ligações com o passado.
Fiadores morais que atestam uma liberdade possível, nos tempos mais sombrios, as
mesmas razões de não desesperarmos do género humano, da acção humana. O desvio
biográfico é um meio privilegiado de acesso a essa demonstração.
O imperativo da empatia
As biografias intelectuais têm um envolvimento forte do biógrafo, que explicita quase
sempre a sua relação com o biografado.
Laure Adler – Biografia de Marguerite Duras – a narrativa possível de uma vida.
Robert Belot – retrata o itinerário de um fascistas, Lucien Rebatet.
Jean François Lyotard – Biografia de Malraux – conservar o enigma de um homem
fundamentalmente órfão do sagrado.
Os sentidos de uma vida
O significado de uma vida nunca é unívoco. O Biografo sempre em posição exterior.
As hipóteses que se fazem no presente pelo biógrafo são sempre reconsideradas pelas
gerações futuras.
François Dosse – Biografia de Paul Riccouer (Filósofo)
– retrato de um homem que eu nunca encontrara;
– Fazer reviver os múltiplos itinerários daqueles que cruzaram em momentos e em
redes diferentes com o de Riccouer;
– 170 testemunhos;
– Subtítulo - sentido de uma vida;
– Um filósofo de escuta;
– Ambiente intelectual da segunda metade do sec. XX;
– Um pensamento do extremo, um pensamento do conflito;
– Cristão filósofo;
– Velador dos confins.
François Dosse – Biografia de Michel de Certeau
– Historiador;
05/05/15 Pág. 61/72 –
–
–
–
–
–
–
–
–
Jesuíta;
Semiólogo;
Antropólogo;
Filólogo;
1968;
sociólogo do quotidiano;
travessia estruturalista;
180 entrevistas;
Constituição de fontes orais.
“No nosso século obra e vida se cruzam na filosofia, mais intimamente que em
qualquer vida privada, mas também mais publicamente que em qualquer vida
publica.” (pg.381)
Kurt Kloocke- Biografia de Benjamin Constant – Biografia intelectual
Concentrar-se na obra, pôr Constant em cena nos meios intelectuais.
Annie Cohen-Solal, 1980 – Biografia de Sartre
• 230 entrevistas;
• realização rápida – arriscada.
Caso Heidegger;
• Entre a Filosofia e as escolhas politicas;
• Maior filósofo do sec. XX e foi nazista.
Victor Farias – Biografia de Heidegger, narração de uma tomada de partido pela
pulsão da morte.
A biografia dos mestres da anti-biografia
Paradoxo, que os grandes mestres do estruturalismo, suscitaram múltiplas tentativas
biográficas.
Louis-Jean Calvet – Biografia de Roland Barthes – posição critica sobre o género,
“Uma biografia, isto é, ao mesmo tempo um trabalho de pesquisa histórica, por vezes
jornalístico e a tradução de uma simpatia” (pg.389).
Didier Éribon, Jornalista – Biografia de Michel Foucault:
– Retrata o seu percurso;
– Elimina qualquer controvérsia;
– Mais ao género hagiográfico que ao biográfico.
As provas da grandeza
“Tipo especial de biografia que consiste em examinar as diversas facetas, a
multiplicidade das apropriações do ícone e as etapas atravessadas na conquista do
reconhecimento da grandeza pela sociedade” (pg.395).
Stéphane Van Damme – Biografia de Descartes:
05/05/15 Pág. 62/72 –
–
–
contexto espacial e social da enunciação da filosofia de Descartes;
Não congelar o pensamento de um autor, não limitar o alcance de seus escritos a
seu tempo de vida;
Cartografia da difusão da obra de Descartes.
A perspectiva de estudar o percurso de conquista de uma grandeza, no domínio
científico, é fonte de enriquecimento para a escrita biográfica.
A história científica se apresentava tradicionalmente como a sucessão do ponto de
vista dos vencedores.
Principio de Simetria
Bruno Latour - retoma a controvérsia de Pasteur e Pouchet durante o 2º Império
4 formas de historização das Ciências:
– A História descoberta (série cronológica de inventores);
– A história condicionamento;
– História formação;
– História construção (princípio de simetria generalizada).
Alguns grandes cientistas foram objecto de Biografias:
• Paul Langevin;
• Marie Curie;
• Pierr Duhem;
• Jean Perrin;
• Henry Laugier;
• Mersenne.
Colecção - Um cientista uma época, editora Belin. Período da cristalização da figura
do cidadão-cientista encarnado por Condorcet.
Os cientistas, vão adquirir autonomia, organizações representativas que culminam
com a criação em 1939 do CNRS. Vínculo indivisível entre a descoberta científica e
sua utilização pela sociedade.
Jean Claude Perrot, 1992:
“Seu principal interesse está noutro lugar; ele torna pertinentes e verificáveis formas
de interacção entre história individual, experiencias colectivas e programa de
pesquisa” (pg.403).
Conclusão
Género curioso.
Necessidade imperiosa.
Prática mal estabilizada híbrida.
Dum lado a Psicanálise, a sociologia e as ciências sociais,
De outro a reviravolta historiográfica e memorial – o após a morte.
Desde as origens a Biografia concebida como distinta da história.
05/05/15 Pág. 63/72 Eclipse sec XIX e XX.
Desde meados 1980 – reaproximação entre a história e a biografia.
Passou a ser legítimo.
A singularidade.
A era da testemunha.
Fenómenos emergentes.
Construir sua identidade no tempo e no espaço.
A pessoa se apagava sob a personagem.
O biógrafo não aparecia.
Sec. XIX , Taine regras da vegetação humana.
Fragmentação em biografemas.
A identidade concebe-se então como plural.
Paul Riccouer – centralidade da identidade narrativa.
Emergência de um si.
Biografia como discurso das virtudes – função moral.
No nosso tempo implica um pacto com a verdade – necessidade de autenticidade.
Aproxima a biografia da história.
Michel de Certeau:
– É um misto de ciência e ficção;
– A história é também escrita num duplo papel: performativo e escrita no espelho
do real.
Permite simbolicamente a uma sociedade situar-se ao se dotar de uma linguagem
sobre o passado.
Historiador – duplo sentido de honrar os mortos e de participar de sua eliminação do
cenário dos vivos.
Roland Barthes:
O género biográfico traz em si a ambição de criar um efeito do vivido (pg.410).
Daí a importância da retórica, do modo de narração escolhido para conseguir restituir
carne e forma, a figuras desaparecidas.
O enigma biográfico sobrevive à escrita biográfica
Bibliografia Específica - Perfil François Dosse
Dosse, François, Sousa, Gilson C.C.S, O desafio biográfico: escrever uma vida,
Brasil, Edusp, 2009
05/05/15 Pág. 64/72 g. Um Esboço de Cronologia da Biografia Antiguidade Clássica
Origem sec. V aC.
Grécia – transmissão de valores edificantes. Retrato de personagens
Roma – Plutarco Vidas Paralelas. O Herói e seu ideal. Valores celebrados em Roma:
Moderatio, civilitas e clementia.
Sec XII – vidas de santos que só se revelam tardiamente.
Sec XIII – Lenda Áurea de Tiago de Voragine
Sec XIV e XV - Escrita de vidas de Santos com a Hagiografia. Movimento de
individualização. As virtudes e o exemplo. Reforma Gregoriana.
Surge a Biografia Cavaleiresca.
Sec XVI – Afasta-se das hagiografias e biografias cavaleirescas. Volta a paixão pelas
biografias Antigas, segundo o modelo da antiguidade. A Honra.
Sec XVII – Época de Registo de vidas. Grande alteração nas hagiografias – leitura
critica. O Rei. Século das Luzes – O grande homem.
Sec XVIII – A Revolução Francesa. Herói como um personagem de uma narrativa.
Laicização. Relações sociais dos sujeitos. Biografia Anglo saxónica – os
detalhes. Nascimento da Autobiografia. A Prosopografia.
Sec XIX – Histórias de vida contadas com decoro, propriedade e contenção, sem
detalhes da vida privada. Biografias de amadores (populares) e historiadores
com criticas ao género. Biografia vista com reservas. Género de escrita
inferior. Domínio da Biografia Vitoriana. Evolucionismo. Romantismo. Os
grandes homens. Crise do Herói. Consciência Nacional. O Colectivo.
Profissionalização da História.
Sec XX – Não valoriza o Biográfico Realça até os falhanços dos sujeitos, relações
sexuais, recurso a psicanalistas. A importância do biógrafo como um escritor. A
Psicologia.
Décadas 1930 – 1940 – Os Annales. Influência de Freud. O cidadão cientista.
Década 1950 – A Fonte Oral. Publicação Colectiva.
Década 1960 - Alterações do Mercado editorial e mudança no movimento dos
Annales..
Década 1970 – Pierre Bordieu – critica da Biografia como historia de vida definida à
priori. Individuo apresentado unicamente no seu contexto. Biógrafo inclui
05/05/15 Pág. 65/72 sempre um elemento da autobiografia do seu autor. História das Mentalidades.
As Memórias. A influencia da Sociologia. Regresso da Prosopografia. Vida
dos Infames. Os Biografemas.
Década 1980 – Giovanni Levy - Biografia no centro da preocupação dos
Historiadores. Alteração Critica. Ruptura com o Estruturalismo. Biografia
Existencialista. Retorno do Sujeito. Redescoberta das virtudes da Biografia.
A Panteonização. Nova identidade cultural Europeia. Era da Testemunha.
Teses intencionalistas e Funcionalistas.
Década 1990- cuidado meticuloso na metodologia de pesquisa e na forma de abordar
uma vida. Explosão de publicação de Biografias. Historiadores já não
precisam de se justificar. O olhar sobre a Mulher.
1999 – Observatório da Biografia Histórica (Editions fayard)
2000 – Sociedade Francesa de Filosofia – Debate a Biografia dos Filósofos.
05/05/15 Pág. 66/72 4. Conclusão
O que aprendi com as leituras das duas obras ?
Aprendi a história da evolução da Biografia no contexto historiográfico, desde a sua
origem na Antiguidade Clássica e mais propriamente, a sua evolução desde o sec.
XVII ao sec. XX.
Com a leitura das duas obras depreendo, duas visões, uma da anglo saxónica, Barbara
Caine, mais bem “arrumadinha” e concisa, onde analisa a forma como a Biografia se
tornou um género popular e a sua predilecção pela História dos marginalizados e das
mulheres. Demonstra a vitalidade e importância da Biografia como um parceiro de
corpo inteiro com a História. Um género com tão grande sucesso, que se estende até
ao conceptual e o inanimado. Apresenta no entanto um glossário inútil e incompleto
na sua obra.
A obra de François Dosse mais densa, mais profunda, com uma visão muito
francófona e uma interessante análise editorial da evolução do género em França.
Desenvolve a análise deste mercado editorial, pelas sua colecções, editores, autores, a
sua tipologia e como este mercado respondeu aos diferentes públicos. Estudei a
edição Brasileira desta obra, que infelizmente, tem uma tradução deficiente e literal
do francês.
Para François Dosse, a Biografia permite a aproximação do singular para o geral, ela
é executada pelo escritor e existe sempre algo de ficcional na sua elaboração, ela é um
género híbrido entre a realidade e a ficção. Analisa historicamente as obras
Biográficas e dá-nos um panorama histórico da evolução do género no ocidente
europeu desde a Antiguidade Clássica, Idade Média e mais intensamente do sec XVII
ao sec XX. Acentua a diferença de estilos entre a forma de fazer Biografia Anglosaxónica nos seus detalhes e a maneira Francesa mais próxima da ficção. Segundo o
autor: Permite simbolicamente a uma sociedade situar-se, ao se dotar de uma
linguagem sobre o passado e ao Historiador – duplo sentido de honrar os mortos e de
participar de sua eliminação do cenário dos vivos.
Das duas obras, denoto a multiplicidade ao longo do tempo de inúmeros subgéneros
de Biografias, relacionados em parte com as escolas historiográficas, com as modas
do tempo, com a filosofia ou a ciência dominante, que vêem detalhadas no glossário
de François Dosse que elaborei.
A Relação entre Biografia e História é sempre um tema pertinente, com a sua origem
diferenciada, a sua evolução como géneros diferentes, a sua relação complicada e
conflituosa e a sua absorção pela História a partir dos anos 80 do século XX.
Este afastamento e aproximação da Biografia à História, e sua captura pelo
Historiadores do género, a partir dos anos 1980, com certeza também, ditada por
motivos económicos, dado o enorme sucesso editorial deste género.
05/05/15 Pág. 67/72 Mas denota-se ainda, uma certa atitude de reserva, dos Historiadores em Portugal,
talvez um tique do passado, de este não ser um género suficientemente hermético e
académico, para ter aquele interesse que pretendem. Talvez também pela tendência de
uma visão errada do género biográfico como uma História “não-problematizante”.
Verifiquei o esforço de vários historiadores, em classificar o género biográfico
nomeadamente o de François Dosse (Idade Heróica, Modal e Hermenêutica), que pela
leitura atenta se verifica, que não surte grande efeito, dada a complexidade do tema e
suas sucessivas mutações ao longo do tempo, optando todos conscientemente ou não,
por acabar numa classificação temporal cronológica.
Destaco nas ideias de Virgínia Wolf algo novo e interessante (Nova Biografia) e
como Historiadores e Biógrafos, Ian Kershaw e Joachim Fest, dos quais li várias das
suas obras, com gosto e muito interesse.
Como antevejo hoje, a elaboração de uma Biografia ?
As Fontes Primárias – Essencial o acesso a documentos, papéis, livros, artigos,
manuscritos, fotografias, vídeos, entrevistas na comunicação social, testemunhos
escritos e a utilização da história Oral para a recolha de testemunhos de colegas,
amigos, que tiveram durante determinado período da vida, uma relação determinante
com o sujeito. Também será necessário incorporar as notas autobiográficas que o
sujeito tenha deixado.
Conhecimento do Sujeito – os laços de amizade ou de família, podem constituir um
problema acrescido ao biógrafo na sua necessária independência e isenção na análise
do sujeito. O risco da relação que se constrói entre o Biógrafo e o sujeito, na
elaboração de uma Biografia existe sempre e tem de ser comedido e controlado.
A Autenticidade – É uma necessidade essencial de tentar atingir, sendo impossível
de a concretizar de forma absoluta. O chamado pacto com a verdade, o pacto
biográfico.
Estilo Literário – A elaboração de uma biografia exige que seja escrita de forma
legível, agradável, com uma componente literária e até de um pedaço de ficção,
impossível de fugir, que relate as experiencias vividas pelo sujeito com a maior
possível aproximação ao que poderemos tentar chamar de realidade (da reconstituição
possível do passado e das condicionantes do sujeito).
Enquadramento – Necessário o devido enquadramento, social, politico e económico
e dos lugares, do tempo em que o sujeito se inseriu, para se tornar mais inteligível ao
leitor o ambiente da época. Uma certa aproximação à Prosopografia, mas temperada.
Objectivo – Retrato do Sujeito enquadrado na época em que viveu, realçando o
diferente, o interessante, o excepcional e também as suas falhas. Divulgar, no fundo,
como dizia Augusto Celestino da Costa, a Vida de uma pessoa como “a história de
uma experiencia”. No meu caso, no sentido de captar para a Ciência e para a sua
05/05/15 Pág. 68/72 prática, pela sua divulgação aos mais jovens, para o cidadão-centista. Mas nunca de
uma forma hagiográfica e sim como uma espécie de “lente sobre o passado”.
Vida e/ou Obra – Relativamente a esta complexa questão, penso que será necessário
abordar a obra realizada e a vida, nomeadamente o tratamento da vida privada, o
quotidiano, gostos, influencias, posições politicas, filosóficas, a sua biblioteca, os
livros que o moldaram. Pela análise da obra realizada, podemos tentar encontrar nos
textos, as ideias chave, que o sujeito prosseguiu ou tentou atingir e as posições que
defendeu e as suas transformações ao longo do tempo. Evidente que para pessoas já
maduras, o acaso existe mesmo e tem sempre um papel importante na evolução das
personagens retratadas.
As impossibilidades – Impossível de conseguir retratar a história completa de uma
vida. A vida do sujeito será inevitavelmente analisada com os olhos do biógrafo, pelo
que, inevitavelmente será sempre diferente.
Uma biografia nunca estará acabada, nunca será definitiva e nada desta matéria é
científico. Será sempre preciso ter algo interessante a contar, para uma Biografia ter
leitores. Será também sempre uma fonte para estudos posteriores.
Penso que um personagem proeminente, não é só um produto da sua época, sendo
proeminente, é porque se destacou dos demais. Perceber o porquê, o como e quais as
contribuições é o mais interessante.
Para o problema da organização de uma biografia e ser inteligível para o leitor,
inevitavelmente será, globalmente, de ordem cronológica, deixemo-nos de invenções
falhadas.
A Biografia, um género sempre indefinido, como nós..
05/05/15 Pág. 69/72 5. Bibliografia Geral
Bibliografia Principal
Dosse, François, Sousa, Gilson C.C.S, O desafio biográfico: escrever uma vida,
Brasil, Edusp, 2009.
Caine, Barbara, Biography and History (Theory and History), Palgrave Macmillan,
2010.
Bibliografia Específica - Perfil François Dosse
Roiz, Diogo da Silva, A biografia na história, a história na biografia, Universidade
Estadual do Mato Grosso do Sul – Brasil, resenha: DOSSE, François. O desafio
biográfico: escrever uma vida. São Paulo: Edusp, 2009.
Website, Wikipedia, François Dosse, 13_05_2013.
Lorenzetti, Fernanda Lorandi, UFGD Docente de História do Serviço Social da
Indústria do Paraná, Brasil - DOSSE, François. O Desafio Biográfico: escrever uma
vida.
Solano, Alexandre Francisco, A Biografia Desafiada: Os Contornos De Uma Vida
Por François Dosse, Revista de Estudos CulturaisUniversidade Federal de
Uberlândia, vol 7, Ano VII, nº2, 2010
Website, BiblioFrança O Portal do Livro Francês, François Dosse, 13_05_2013.
Ferreira, Marieta de Moraes, Entrevista a François Dosse, Revista Brasileira de
História, Rev. Bras. Hist. vol.32 no.64 São Paulo Dec. 2012,
Bibliografia Específica - Perfil Barbara Caine
Barbara Caine of Monash University reviews Living History: Essays on History and
Biography, edited by Susan Magarey and Kerrie Round. (Unley, South Australia:
Australian Humanities Press;; 2005, pp. 170. Pg. 24-1 24-2.
Web site, http://sydney.edu.au/arts/history/staff/profiles/caine.shtml, 13_05_2013,
University of Sidney, perfil Professor Barbara Caine.
Bibliografia sobre Biografias
Consultas não seleccionadas
Hamilton, Nigel, Biography: A Brief Story, Harvard University Press, 2009, ebook
Google.
Goodley Dan, Rebecca Lawthom, Peter Clough, Michele Moore, Researching Life
Stories: Method, Theory and Analysis in a Biographical Age, Routledge.
05/05/15 Pág. 70/72 Schwartz, Ted, The Complete Guide to Writing Biographies, Writer's Digest Books,
1990, digitalizado - Universidade de Indiana, 2008
Osborne, Brian D., Writing Biography & Autobiography, A & C Black, 2004
Taylor, Ina, Writing Biographies: And Getting Published, McGraw-Hill, 2000
Garraty, John Arthur, The Nature of Biography, Volume 14 History &
Historiography, Garland, 1985
Lomask, Milton, The Biographer's Craft/Practical Advice on Gathering, Writing,
Shaping and Polishing Biographical Material, Harpercollins, 1987
Lee, Sir Sidney, Principles of Biography: The Leslie Stephen Lecture Delivered in the
Senate House, Cambridge, on 13 May 1911, General Books, 2010
Sherman, Jackie, Writing your autobiography, Emerald Publishing, 2011
Gawthorpe, Anne, Write Your Life Story - And Get it Published: Teach Yourself,
Teach yourself, 2010
Consultas Seleccionadas
Greene, Mott T., Writing Scientific Biography, Journal of the History of Biology
Vol. 40, No. 4 (Dec., 2007), pp. 727-759, Publisher: Springer, Article Stable URL:
http://www.jstor.org/stable/29737517
Lee, Hermione, Biography: A very short introduction, Oxford University Press, 2009
Angier, Carole & Clien, Sally, The Arvon Book of Life Writing Biography,
Autobiography and Memoir, Methuen Drama, 2010
Recomendações Professor José Neves
Caine, Barbara, Biography and History (Theory and History), Palgrave Macmillan,
2010
Dosse, François, Sousa, Gilson C.C.S, O desafio biográfico: escrever uma vida,
Brasil, Edusp, 2009
Ferreira, Marieta de Morais & Amado, Janaína, Usos & abusos da história oral, FGV
Editora, Brasil, 1996 in Cap XIII – Bourdieu a ilusão Biográfica
Bourdieu, Pierre, L´illusion biographique. Ates da la Recherche em Sciences Sociales
(62/63):69-72, Juin 1986
Bibliografia de Apoio
Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Academia das Ciências de Lisboa,
Verbo, 2 Volumes, 2001
05/05/15 Pág. 71/72 Eco, Umberto, Como se faz uma tese em Ciências Sociais, Lisboa, Presença, 1991
Cullen, Jim, Essaying the past - how to read, write, and think about history, WileyBlackwell, 2012 ( recomendo para os Estudantes de História )
Frada, João José Cúcio, Guia Prático para Elaboração e Apresentação de Trabalhos
Científicos, Cosmos, 1993
05/05/15 Pág. 72/72 

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